O documento discute conceitos-chave da antropologia cultural como cultura, diferenças culturais e etnocentrismo. Apresenta definições de cultura como um sistema de símbolos e significados aprendidos socialmente que variam entre grupos e moldam o comportamento humano. Também discute que as diferenças culturais não são determinadas biologicamente, mas sim pelo processo de socialização em cada sociedade.
O documento discute conceitos-chave da antropologia cultural como cultura, diferenças culturais e etnocentrismo. Apresenta definições de cultura como um sistema de símbolos e significados aprendidos socialmente que variam entre grupos e moldam o comportamento humano. Também discute que as diferenças culturais não são determinadas biologicamente, mas sim pelo processo de socialização em cada sociedade.
O documento discute conceitos-chave da antropologia cultural como cultura, diferenças culturais e etnocentrismo. Apresenta definições de cultura como um sistema de símbolos e significados aprendidos socialmente que variam entre grupos e moldam o comportamento humano. Também discute que as diferenças culturais não são determinadas biologicamente, mas sim pelo processo de socialização em cada sociedade.
20142: CAH586 - ARTE E PATRIMNIO Docentes: Suzane Pinho Discente: Fagner dos Santos Fernandes
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropolgico. 22. ed. Rio de
Janeiro: Zahar, 2008.
A natureza dos homens a mesma, so os seus hbitos que os mantm
separados. (p. 10). (Confcio); Desde a Antiguidade, foram comuns as tentativas de explicar as diferenas de comportamento entre os homens, a partir das variaes dos ambientes fsicos. (p. 13); Qualquer um dos leitores que quiser constatar [...] a existncia dessas diferenas no necessita retornar ao passado [...] Basta comparar os costumes de nossos contemporneos que vivem no chamado mundo civilizado. [...] [...] basta verificar que em algumas regies do Norte do Brasil a gravidez considera da como uma enfermidade, e o ato de parir denominado "descansar". Esta mesma palavra utilizada, no Sul do pas, para se referir morte (fula no descansou, isto , morreu). Ainda entre ns, existe uma diversidade de interdies alimentares que consideram perigoso o consumo conjunto de certos alimentos que isoladamente so inofensivos, como a manga com o leite etc. (p. 14-16); So velas e persistentes as teorias que atribuem capacidades especficas i natas a "raas" ou a outros grupos humanos. Muita gente ainda acredita que os nrdicos so mais inteligentes do que os negros; que os alemes tm mais habilidade para a mecnica; que os judeus so avarentos e negociantes; que os norte-americanos so empreendedores e interesseiros; que os portugueses so muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses so trabalhadores, traioeiros e cruis; que os ciganos so nmades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguia dos negros, a imprevidncia dos ndios e a luxria dos portugueses. (p. 17); [...] se transportarmos para o Brasil, logo aps o seu nascimento, uma criana sueca e a colocarmos sob os cuida dos de uma famlia sertaneja, ela crescer como
tal e no se diferenciar mentalmente e m nada de seu ir mos de criao. Ou
ainda, se retirarmos uma criana xinguana de seu meio e a educarmos como filha de uma famlia de alta classe mdia de Ipanema, o mesmo acontecer: ela ter as mesmas oportunidades de desenvolvi mento que os seus novos irmos. (p. 17-18); [...] o comportamento dos indivduos depende de um aprendizado, de um processo que chamamos de endoculturao. Um menino e uma menina agem diferentemente no em funo de seus hormnios, mas em decorrncia de uma educao diferenciada. (p. 19-20); As diferenas existentes entre os homens, portanto, no podem ser explicadas em termos das limitaes que lhes so impostas pelo seu aparato biolgico o u pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espcie humana foi a de rom per com suas prprias limitaes: um animal frgil, provido de insignificante fora fsica, dominou toda a natureza e se transformou no mais temvel dos predadores. Sem asas, dominou os ares; se m guelras ou membranas prprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o nico que possui cultura. (p. 24); Possui dor de um tesouro de signos que tem a faculdade de multiplicar infinitamente, o homem capaz de assegurar a reteno de suas ideias eruditas, comunic-las para outros homens e transmiti-las para os seus descendentes como uma herana sempre crescente. (Jacques Turgot) (p. 26-27); Em 1871, Tylor definiu cultura como sendo todo o comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmisso gentica, como diramos hoje. Em 1917, Kroeber acabou de romper todos os laos entre o cultural e o biolgico, postulando a supremacia do primeiro em detrimento do segundo [...]. (p. 28); [...] o homem o nico ser possuidor de cultura. (p. 28); A unidade da espcie humana, por mais paradoxal que possa parecer tal afirmao, no pode ser explicada seno em termos de sua diversidade cultural.. (p. 34); So as investigaes histricas reafirma Boas o que convm para descobrir a origem deste ou daquele trao cultural e para interpretar a maneira pela qual toma lugar num dado conjunto sociocultural. (p. 36); No se pode ignorar que o homem, membro proeminente da ordem dos primatas, depende muito de se u equipamento biolgico. Para se manter vivo, independente do sistema cultural ao qual pertena, ele te m que satisfazer um nmero determinado de funes vitais, como a alimentao, o sono, a respirao, a atividade sexual etc. Mas, embora estas funes seja m comuns a toda humanidade, a maneira de satisfaz-las varia de uma cultura para outra. E esta grande variedade na operao ele um nmero to pequeno ele funes que faz com que o homem seja considera do u m ser predominantemente cultural. (p. 37-38);
O homem, como parte do reino animal, participa do grande processo evolutivo em
que muitas espcies sucumbiram e s deixaram alguns poucos vestgios fsseis. As espcies remanescentes obtiveram esta condio porque foram capazes de superar uma furiosa com petio e suportar modificaes climticas radicais que perturbaram enormemente as condies mesolgicas como u m todo. (p. 38); A espcie humana sobre viveu. E, no entanto, o fez com um equipamento fsico muito pobre. Incapaz de correr como um antlope; sem a fora de um tigre; sem a acuidade visual de um lince ou as dimenses de u m elefante; mas, ao contrrio de todos eles, dotada de um instrumental extraorgnico de adaptao, que ampliou a fora de seus braos, a sua velocidade, a sua acuidade visual e auditiva etc. E o mais importante, tais modificaes ocorreram sem nenhuma (ou quase nenhuma) modificao anatmica. (p. 38-39); O homem o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experincia adquiridas pelas numerosas geraes que o antecederam. A manipulao adequada e criativa desse patrimnio cultural permite as inovaes e as invenes. Estas no so, pois, o produto da ao isolada de um gnio, mas o resultado do esforo de toda uma comunidade. (p. 45); [...] toda a experincia de um indivduo transmitida aos demais, criando assim um interminvel processo de acumulao. (p. 52); Claude Lvi-Strauss, o mais destacado antroplogo francs, considera que a cultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra, a primeira norma. (p. 54); Leslie White, antroplogo norte-americano contemporneo, considera que a passagem do estado animal para o humano ocorreu quando o crebro do homem foi capaz de gerar smbolos. (p. 55); A cultura desenvolveu-se, pois, simultaneamente com o prprio equipamento biolgico e , por isso mesmo, compreendida como uma das caractersticas da espcie, ao lado do bipedismo e de um adequado volume cerebral. (p. 58); Assim, para W. Goodenough, cultura u m sistema de conheci mento: "consiste e m tudo aquilo que algum tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitvel dentro de sua sociedade. (p. 61); Para isto, a cultura deve ser considerada "no um complexo de comportamentos concretos mas um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instrues (que os tcnicos de computadores chamam programa) para governar o comportamento". Assim, para Geertz, todos os homens so geneticamente aptos para receber um programa, e este programa o que chamamos de cultura. (p. 62);
"Cultura um sistema de smbolos e significados. Compreende categorias ou
unidades e regras sobre relaes e modos de comportamento. O status epistemolgico das unidades ou coisas culturais no depende da sua observabilidade: mesmo fantasmas e pessoas mortas pode m ser categorias culturais". (David Schneider) (p. 63); Ruth Benedict escreveu [...] que a cultura como uma lente atravs da qual o homem v o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, tm vises desencontradas das coisas. (p. 67); A nossa herana cultural, desenvolvida atravs de inmeras geraes, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relao ao comportamento daqueles que agem fora dos padres aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante. (p. 67); O modo de ver o mundo, as apreciaes de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as post uras corporais so assim produtos de uma herana cultural, ou seja, o resultado da operao de uma determinada cultura. (p. 68); O etnocentrismo, de fato, um fenmeno universal. com u m a crena de que a prpria sociedade o centro da humanidade, ou mesmo a sua nica expresso. As autodenominaes de diferentes grupos refletem este ponto de vista. (p. 73); Dentro de uma mesma sociedade, a diviso ocorre sob a forma de parentes e noparentes. Os primeiros so melhores por definio e recebe m u m trata mento diferenciado. A projeo desta dicotomia para o plano extra grupal resulta nas manifestaes nacionalistas ou formas mais extremadas de xenofobia.. (p. 73); O ponto fundamental de referncia no a humanidade, mas o grupo. Da a reao, ou pelo menos a estranheza, em relao aos estrangeiros. A chegada de um estranho em determinadas comunidades pode ser considera da como a quebra da ordem social o u sobre natural. (p. 73); O costume de discriminar os que so diferentes, porque pertencem a outro grupo, pode ser encontrado mesmo dentro de uma sociedade [...] Comportamentos etnocntricos resultam tambm em apreciaes negativas dos padres culturais de povos diferentes. Prticas de outros sistemas culturais so catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais. (p. 74); a cultura interfere na satisfao das necessidades fisiolgicas bsicas (p. 75); Em lugar da superestima dos valores de sua prpria sociedade, numa dada situao de crise os membros de uma cultura abandonam a crena nesses valores e, consequentemente, perde m a motivao que os mantm uni dos e vivos.. (p. 75);
Os africanos removi dos violentamente de seu continente (ou seja, de seu
ecossistema e de seu contexto cultural) e transportados como escravos para uiva terra estranha habitada por pessoas de fenotipia, costumes e lnguas diferentes, perdiam toda a motivao de continuar vivos. Muitos foram os suicdios praticados, e outros acabavam sendo mortos pelo mal que foi de nominado de banzo. Traduzi do como saudade, o banzo de fato uma forma de morte decorrente da apatia. Foi, tambm, a apatia que dizimou parte da populao Kaingang de So Paulo, quando teve o seu territrio invadi do pelos construtores da Estrada de Ferro Noroeste. Ao perceberem que os seus recursos tecnolgicos, e mesmo os seus seres sobrenaturais, era m impotentes diante do poder da sociedade branca, estes ndios perdera m a crena em sua sociedade. Muitos abandonaram a tribo, outros simplesmente esperaram pela morte que no tardou. (p. 75-76); A participao do indivduo em sua cultura sem prelimitada; nenhuma pessoa capaz de participar de todos os ele mentos de sua cultura. Este fato to ver dadeiro nas sociedades complexas com um alto grau de especializao, quanto nas simples, onde a especializao refere-se apenas s determinadas pelas diferenas de sexo e de ida de.. (p. 80); bvio que a participao de um indivduo em sua cultura depende de sua idade. Mas necessrio saber que esta afirmao permite dois tipos de explicaes: uma de ordem cronolgica e outra estritamente cultural [...] uma criana no est apta para exercer certas atividades prprias de adultos, da mesma forma que um velho j no capaz de realizar algumas tarefas. (p. 81); Todo sistema cultural tem a sua prpria lgica e no passa de u m ato primrio de etnocentrismo tentar transferir a lgica de um sistema para outro. (p. 87); A coerncia de um hbito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence (p. 87); entender a lgica de um sistema cultural depende da com preenso das categorias constitudas pelo mesmo. Como categorias entendermos, como Maus, "esses princpios de juzos e raciocnios constantemente presentes na linguagem, sem que estejam necessariamente explcitas, elas existem ordinariamente, sobretudo sob a forma de hbitos diretrizes da conscincia, elas prprias inconscientes (p. 93); Podemos [...] afirmar que existem dois tipos de mudana cultural: uma que interna, resultante da dinmica do prprio sistema cultural, e uma segunda que resultado do contato de um sistema cultural com um outro. [...] No primeiro caso, mudana pode ser lenta, quase impercebvel para o observador que no tenha suporte de bons da dos diacrnicos [...] O segundo caso [...] pode ser mais rpido brusco (p. 96);
o a o e
praticamente impossvel imaginar a existncia de um sistema cultural que seja
afetado a penas pela mudana interna. Isto somente seria possvel no caso, quase absurdo, de u m povo total mente isolado dos de mais. Por isto, a mudana proveniente de causas externas mereceu sempre uma grande ateno por parte dos antroplogos (p. 96); O tempo constitui um elemento importante na anlise de uma cultura (p. 97); cada sistema cultural est sempre em mudana. Entender esta dinmica importante para atenuar o choque entre as geraes e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que fundamental para a humanidade a compreenso das diferenas entre povos de culturas diferentes, necessrio saber entender as diferenas que ocorrem dentro do mesmo sistema. Este o nico procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este constante e admirvel mundo novo do porvir (p. 101);