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Carlos Roberto Vieira Araijo Historia do Pensamento Econdmico Uma Abordagem Introdutoria el EDITORA ATLAS S.A. cory cancelneiro Nébias, 1384 (Campos Elisios) '01203-904 Sao Paulo (SP) . al: (0-11) 221-9144 (PABX) SAO PAULO wwwatlasnet.com.br 1 EDITORA ATLAS S.A. — 1995 naturais, que a riqueza s6 podia crescer e, crescendo, beneficiaria a todos. Sua visio do mundo era a visio de um otimista, QUESTOES PARA REVISAO AA atenta leitura do texto permite responder 8s questdes sequintes: 1. Quem fol Francis Hutcheson e qual sua influéncia sobre Adam Smith? 2. Que influéncla tiveram os fisiocratas. sobre Smith? 3. Gite. alguns fatos que contribuiram pera o grande sucesso da principal obra de Smith 4. Que fatores sio responsavels pelo crescimento economico, segundo Smith? '5. Que fatores impedem a dissolugfo da sociedade, composta por agentes eco- nomicos movides pelo egoismo? ‘SUGESTOES DE LEITURA SMITH, Adam. A riqueza das nagdes. Colego Os Economistas. Sio Paulo, Abril Cultural, 1983. 2 volumes. imeiro volume traz uma étima introducdo que deve ser lid pequerse chamades, nas marge das piginas so texto pinclpal, fam a leltura, SMITH, Adam. A riqueza das nagdes. Lisboa, Fundagéo Calouste Gulben- Kian, 1980. 2 vols. 0 preléclo @ a introdugdo do editor esclarecem alguns pontos oa Fistor’ da obra, HEILBRONER, R. L. Introduco a histéria das idéias econ6micas. Rio de Janeiro, Zahar, 1981. \Ver a parte referente @ Adam Smith, que 6 uma das mais interessan tes. As facil A Escola Classica 4.1 DAVID RICARDO (1772-1823) ‘Adam Smith no foi capaz de fornecer uma teoria razoével da dis- tribuigdo do excedente entre as diversas classes sociais. Esta tarefa caberd a David Ricardo que, numa linguagem concisa e menos colorida que a de seu predecessor, serd 0 responsével pela formalizagio de muitos conceitos econémicos. A influéncia de Ricardo foi enorme. O proprio Keynes dird que Ricardo dominou a Inglaterra tao completamente como a Santa Inqui- sigdo dominou a Espanha.’ E considerado 0 maior dos economistas clés sicos 4.1.1, Dados biogréficos do era filho de um judeu que, vindo da Holanda, se estabelecera como corretor de valores na bolsa de Londres. Aos 14 anos, jé trabalhave nna bolsa com 0 pai. Mas, aos 21 anos, desentendeu-se com ele por ter desposado uma “quaker” ¢ abragado o cristianismo. Continuou na bolsa onde fez fortuna, pois possuia qualidades excepcionais para os negécios. ‘As 42 anos de idade jé possuia uma fortuna calculada entre 500 mil © tum milhdo e 600 mil libras.’ Com esta fortuna, pode retirarse dos neg6- ymente a seus estudos de economia. Tinha uma poderosa ¢ analitica. Nao recebeu instrucéo étondmica formal. dos economistas clissicos nunca freqiientara as cadeiras de uma universidade. Seu grande conhecimento econémico ele o conseguiu através de leituras © de reflexéo. Em 1799 leu A riqueza das nacdes € ficou pro- fundamente impressionado com o livro de Smith. Parece que data desta Fp fst tol aaero Koyan este rte fede squla lnhagom de oonsacres cue a flares te oa naalioies sem acetga 9 lee’ Sy" er MelanoNen, Ro ‘Spe ps 33 34 eu interesse intelectual pela economia. Mas esperou aida uns dez pos seu interes imprint. publiagio, em forma de carta no Mor an08 Bionicle, Publicou vérios trabalhos importantes, Em 1817 saiu pela win Gmavet sua obra méxime Principios de economia politica ¢ de tibu- prising gta epoca era famoso © suas idéias tiveram boa acofhids, ‘Ricardo interessou-se muito pelos problemas de sua época. Este int resse leva.o em 1819 & Camara dos Comuns, onde teve destacada influén- Sevembora néo gostasse de discursar. Conta-se que Ricardo sentia grande Gificuldade em redigir. Ele propri ificuldade em cartas @ migos. James Mill grande economista com quem Ricardo mantinha re- Tages de amizade, instava para que ele publicasse suas idéias e reflexdes. Ricardo era grande amigo de Thomas Robert Malthus, embora estes dois economistas discordassem em quase tudo. A discordancia no plano das idéias nunca afetou amizade entre eles. ‘A obra ricardiana exerceu enorme influéncia sobre todas as correntes econémicas posteriores. Marx e os socialistas encontrardo no seu estudo de istribuigdo do produto entre as classes um ponto de partida para o desen- Yolvimento de novas teorias. Alfred Marshall © a corrente neocléssica tneontraréo na sua teotia da renda da terra e na visio coerente da eco- rnomia, como ciéncia regida por leis naturais, a inspiragdo germinal dos Conceitos marginalistas e do tratamento modelistico em economia. Agora jé temos condigdes de apresentar uma visio esquemética das cescolas econdmi reantilistas Fisiocratas Malthus Ricardo ' Marshall Marx { T + i Keynes FERS Mt ot do Jobe Snare Mi soto ¢ economia da encola clissicy 2% BRL as Gaiecfeaar ls Carian Marge, rum osbabe minwogrfado pela Fenacio Gato Varpex EAEBP, BP. Ricardo © Malthus tém raizes intelectuais em Adam Smith. Diferen ciamse porque Malthus néo aceita a “ei de Say” (Iése lei de Sé) ¢ Ri- cardo sim. Este problema seré tratado, mais tarde, ao falarmos de Keynes edo problema da demanda efetiva Marx ¢ Marshall defendem pontos de vista diametralmente opostos no encaminhamento das questGes econémicas, mas ambos de inspiragio rica Giana. A riqueza de um pensamento esté justamente nesta capacidade de abrir novos horizontes intelectuais. Neste ponto, o pensamento de Ricardo foi fecundo. Em 1833, com pouco mais de 50 anos ¢ deixando uma bagagem res- peitével, morre Ricardo, rico, respeitado © famoso. 4.1.2. Wdéias importantes A — Teoria do Valor jcardo voltar-se-A para o problema do valor, ao tentar interpreter @ inflagao que ocorria na Inglaterra e a0 envolverse nas_discuss6es sobre 6 prego das mercadorias. J4 mencionamos seu artigo no Morning Chronicle. ‘Aigumas de suas sugestdes foram adotadas pelo Banco da Inglaterra © so- freram eriticas. Ao tentar aprofundar este assunto e responder as criticas, Ricardo defronta-se com o problema do valor. Para ele, 0 valor de uma mereadoria € determinado pela quantidade de trabalho nela incorporada. ‘Ou seja, o valor € dado pelo seu custo em trabalho (teoria do valor-tra- balho). Este custo no é calculado apenas pelo trabalho imediato, mas tam- bém pelo trabalho mediato. Se uma mercedotia for produzida pelo empre- go de uma maquina e um trabalhador, entram no célculo do valor da mer- tadoria nao s6 0 custo em trabalho do trabalhador (custo imediato), mas também 0 custo do trabalho incorporado & méquina (custo mediato). Nao se pode esquecer que a méquina foi construida com 0 dispéndio de certa quantidade de trabalho. Portanto, atrés do pteso da metcadoria esta 0 Valor, ates do valor esto os custos de producao e atrés dos custos de pro- dusa0 estd 0 trabalho humano porque todo custo pode, em itima anélise ser decomposto em sua expressdo mais simples que € 0 trabalho humano. Nio escapava aos clissicos que a utilidade tinha cétto peso na deter- ‘minagio dos precos. Mas esta importincia era relativa. Ela fazia os pregos ‘oscilarem em torno de determinado patamar, mas nao explicava o nivel deste patamar. Por que um carro custa $ 10,000 ¢ um saco de batatas custa $20 mesmo quando as proporgdes entre oferta e procura para estes dois, hhens s10 as mesmas? © prego nfo pode ser explicado unicamente por um elemento subjetivo. A oferta e a procura explicam as oscilagées dos pregos fem toro de determinado patamar, no os preges. 35 36 [Alguns neoclissicos mais atentos, como, por exemplo, Marshall, per- ceberam este problema e consideraram os custos de producdo como inte- Grantes do valor. Mas os custos de produgdo no sfo 0 dltimo elo da cor- Fente. Eles podem ainda ser decompostos em trabalho. O trabalho ¢ o ele- mento mais simples, e irredutivel a qualquer outro. Na determinacao do prego deve haver um elemento objetivo que s6 pode ser o trabalho humano Ricardo percebeu que sua lei tinha excegies. © prego de certos obje- tos raros como, por exemplo, obras de arte e vinhos Tinos néo era deter. inado pelo seu custo em trabalho. Mas a excecao nio invalidava a lei geral. Afirma ele que o custo em trabalho s6 explica 0 valor quando se trata ‘de bens que “a industria humana pode reproduzir de maneira prati- camente ilimitada”. Nao devemos esquecer-nos de que as leis econémicas tm de captar a esséucia dos fendmenos e nio a aparéncia. E certo que hd Indmeras causas que explicam a oscilagao dos precos e que seré Tigo rosamente impossivel (mesmo na era dos computadores) explicélas ou aponté-las todas. Mas deve existir uma lei que dé coeréncia e unidade @ todo 0 resto e que tenha grande poder explicativo. A teoria do valor-ra- balho tem este papel no modelo ricardiano, Tanto para Ricardo como para Smith, toda mercadoria tinha dois pr g0s: 0 preco natural, equivalente a0 valor € o preco de mercado que osci lava em torno do valor, conforme a oferta e a procura. As mil causas que determinam as oscilagées dos pregos de mercado néo os afastam muito (de modo geral) do valor Henri Denis* recorre a um artificio para explicar a formago do prego natural em Ricardo. Designa por p,0preco de A, por q40 custo em tra- balho de A e por gm 0 custo em trabalho da moeda (para se cunhar uma moeda hé dispéndio'de trabalho). © prego de A seri entao: % Gm ms Suponha que 0 custo em trabalho de se produzir uma moeda seja de $ 10 € 0 custo em trabalho de produzir um livro seja de $ 100,000. O reso do livro seré: a4 100000 = $ 10000 10 ENTS, Hone, Hina do ponsament eeonimice, Lsbee, Uvios Hormone, 1974. 358 [A teorin do valcr-ttabalho de Ricardo seré retomada e aperfeicoada por Marx. Os neoclissicos a abandonaram nao por ser ela simplista (como alegam), mas por trazer problemas delicados para a economia. Veremos, depois, que 0 campo de estudo da economia neocléssica € mais restrito ‘que 0 da economia clfssica. Nele ndo hé lugar para as classes sociais. “A grande preocupacio de Ricardo, no seu capitulo consagrado a0 valor, € mostrar que os movimentos dos pregos dependem das variagées dos produtos no das flutuagdes dos salérios.”* E essencial que se enten- da isto, para se compreender sua teoria da repartigéo que abordaremos agora. B — Teoria da repartigio No preféicio de sua principal obra, Ricardo diz que o problema cen- tral da Economia Politica € explicar as leis que regulam a reparticio do produto nacional entre as diversas classes sociais. Mas, no fundo, o-pro- blema que ele persegue € 0 mesmo de Smith: o estudo do cresciniento eco- némico. Acontece que a composigao de classes foi considerada por ele co- mo um fator téo cordicionante do crescimento econdmico que tal cresci- ‘mento nio poderia ser explicado se ndo se partisse do estudo de como 0 produto social se distribui entre as classes. Desse ponto de vista, ele s6 poderé elucidar 0 crescimento explicando @ reparticio do produto entre as varias classes. A parte do produto nacional que cabe 0s latifundisrios depende das diferentes condigées em que se dé a produgio agricola. Esta parte tende a subir porque, com o crescimento da populasio, terras cada vex. menos férteis teréo de ser incorporadas a estrutura de produgdo. Ve- jamos como funciona sua teoria da renda da terra. A partir deste esquema, fentenderemos seu modelo completo. Para o leitor de hoje, talvez seja itil uum esclarecimento. No esquema ricardiano hé trés classes sociais: latifun- difria, capitalista e cperdria. Os latifundiérios ou proprietérios de terra geralmente no a cultivam, E o capitalista que se dedica & producdo e para isso aluga a terra do latifundidrio e contrata operérios para cultivéta Feito este esclarecimento, voltemos @ nosso assunto*principal. Vamos tomar um exemplo do proprio Ricardo. Para demonstrar seu modelo de formacio da renda (renda é a parte do produto que vai para o latifundig- rio) ele nos apresenta um novo pais onde a terra é livre € onde s6 a me- Ihor terra é cultivada porque a populacao ainda ndo é suficientemente gran- de para pressionar os recursos naturais. Nestas circunstancias, ndo se paga DENI, Hea Op. ap. 10 37 , renda, Veja o esquema abaixo onde 0 retingulo indica uma porsio de terra TERS de produzir uma tonelada de trigo com certa quantidade fixa de car oe Mapital. © retangulo pode significar também 0 custo de se pro- dduzir uma tonclada de trigo. Custo de produséo de 1 tonelada de trigo A £ evidente que © prego desta tonelada de trigo deverd, pelo menos, cobrir os custos de produgo. Caso contrério, néo valeré a pena plantar trigo para vender. Suponhamos, agora, que a populagio aumente ¢ que novas tertas me- nos férteis sejam incorporadas & estrutura produtiva. O prego do trigo de- verd subir, para cobrir os custos do cultivo, em terras menos férteis. Para se produzir a mesma tonelada de trigo, teremos que utilizar mais capital ce mais trabalho, Os custos de produgao sobem ao se cultivar a gleba B de segunda qualidade (que Ricardo chama de terra 2). Renda custo de producéo de 1 tonclada do trige ra a |e E evidente que, agora, 0 prego do trigo seré maior. © valor de troca da produgio deveré ser regulado pelo custo de produgao nas circunstéincias ‘menos favoréveis. No nosso caso, 0 prego minimo de uma tonelada de trigo deverd cobrir os custos de produgao na gleba B. Isto porque a competis intercapitalista levard os lucros a se equalizarers. Com o aparecimento da terra de segunda qualidade, surge a renda na terra de primeira qualidade. A renda é a diferenca entre 0 produto obtido pelo emprego de duas quan- tidades iguais de capital e trabalho ou, se quiserem, é 0 saldo que vai para as mios dos proprietérios das terras mais férteis. A situagdo, aqui, € a seguinte: o capitalista da terra A produz a um custo mais baixo que o da terra B, mas vende seu produto a um prego que, pelo menos, cobre os custos de cultivo na terra B (no na terra A). O saldo, contudo, néo fica com ele. Este saldo terminaré nas mos do proprietétio de quem ele alugou © terreno porque estas terras férleis, agora, sfo escassas ¢ estio sob com- petigéo. Se o capitalista X ndo arrendar, outro a arrendaré ¢ pagaré por la até a diferenga entre os custos de produggo de Ae de B A renda é 1 diferenga dos custos de produgdo nos dois tipos de terra. Mas a coisa nfo péra af, Se a populagdo crescer e pressionar por mais alimentos, novas glebas terdo de ser cultivadas, a terra de segunda quali- Gade comesaré a gerar renda, ¢ assim sucessivamente. Observe o diagrama abaixo: Prego minimo det tonelade de trigo = custo de producéo da tonelada na terra O. {A terra D nfo proporciona renda, mas esta aparece nas terras A, B € C, como mostra o diagrama, Deste modo, & medida em que as terras cultivadas vo estendendo-se, a porcao do produto que vai para as mios dos Iatifundiérios aumenta. Ricardo nao considera o prego da terra como custo de produgio. Se voc# entendeu os passos anteriores, poderé compreender, ‘agora, sua afirmacéo de que “‘o trigo nao é caro porque se page renda, antes pagase renda porque 0 trigo € caro...” AAlguns autores, pouco atentos a situagio da Inglaterra na época, fo- ram levados a dizer que Ricardo faz aqui um exerciio de abstraao, onde, fccitas determinadas. premissas ¢ escolhida determinada varidvel, a con- Clusio se impoe. Esse esforgo de abstracio (que & inegével em toda a obra de Ricardo) Schumpeter chamou de “vicio ricardiano”? B verdade que om Ricardo a economia deixa de ser empirica e tornasg abstrata e austera, como diz Spiegel. Mas o encarecimento do prego do trigo na Inglaterra Ga poca era real e 0 estudo de Ricardo ndo fazia mais que refletir a rea Tidade, Sua teoria era bastante realista, como mostra 0 quadro seguinte: SRG orci et wt i,t at wri So ete canis Ds a Ah et ‘etio“ae' boclisaicos tun. com 9 ceteris paras, revolvem todos 08 problemas és scones 39 ‘Média dos pregos por década entre 1770 @ 1813 s770:1779 45 shillings 1780-1789 Bee od 1790-1789 558.0194 1800-1800 mse 2d 1810-1813 108 8.e 2d © prego real do trigo mais que duplicou em 40 anos? Ora, isto trazia problemas para a economia. O trigo era o principal componente da dieta do trabalhador ¢ seu peso era grande no custo de vida. Aumentar 0 preco do trigo era empurrar os salérios para cima. Por outro lado, com terras cada vex menos férteis, tinha-se de aumentar a quantidade de’ trabalho (e, portanto, a massa de salérios) para se colher a mesma quantidade de trigo. Acrescentese a isto que 0s proprietérios de terra ainda detinham o poder politico e, com isto, impediam a importacio de cereais, fato que poderia baratear 0s salérios. © temor dos latifundiarios era que, com o fim das guerras napolednicas, o trigo chegasse abundante e barato a Inglaterra, o ue prejudicaria seus interesses. Por isso m “lei dos cereais”. Esta lei 6 cairé muito mais tarde, quando a burguesia tiver conseguido © poder politico. Em 1815 a luta estava quente no Parlamento. A teoria ricardiana da renda da tetra € 0 reflexo de tudo isto. Nao nasceu de um sonho, mas do embate politico que se travava no momento, e do qual Ri- cardo foi um dos protagonistas. Ele percebe 0 conflito de interesses entre as classes ¢ toma partido em favor dos capitalistas contra os latifundisrios, porque, em sua teoria, o motor do ctescimento econdmico é o lucro (exce- dente disponivel para investimento) que tendia a diminuir se o cultivo de terras cada vez menos férteis se ampliasse. Para entender isto, vamos es- tudar como ele considera 0 crescimento econémico. 4.1.3. Teoria da evolugao econémica A — Salérios, tueros e investimentos J& sabemos que para Ricardo os componentes do prego minimo (que deve igualarse 0s custos de produsao) so os salfrios e o Iucro natural, ‘ou sea, aquela remuneragio minima sem a qual 0 empresério nao iniciard © negécio. Estes dois componentes nfo se comportam da mesma maneira, sony NG OM roo Cie A Ri, Witt de dean cence. Pe, Abs el. © lucro € um residuo, Determinado o salério, 0 que sobra € 0 lucro. O salério, por sua vez, divide-se em salério natural e saldrio de mercado. Sa liério natural € aquele que permite a aquisiggo de uma cesta minima de bens que possibilite os operdrios subsistirem sem aumento nem diminuigdo, Nao se trata de subsisténcia fisica apenas. Este minimo depende do grau de civilizagéo da sociedade. Por exemplo, se 0 trabalho exigir gesto com instrugdo, este tipo de gasto fard parte do minimo de subsisténcia, Consi derado 0 minimo desta maneira, Ricardo pode explicar 0 aumento secular do salério real sem sbandonar sua definigéo de que o salério natural € aquele qué proporciona 0 minimo para os operitios sobreviverem. Salério de mercado € 0 saléro determinado pela oferta ¢ procura de trabalhadores. Este saldrio giraré em torno do salério natural, mas poderé ser maior ou menor do que este, dependendo da oferta e da procura de trabalhadores. Se a mao-de-obra for abundante, o saldrio tender4 a diminuir. Se for es cassa, tender a aumentar. Ura, com o cultivo de terras cada vez menos ferteis, sobe 0 prego do trigo. Subindo o prego do trigo, sobe 0 saldrio natural e, portanto, ciminui 0 lucro. J4 vimos que, com a incorporagio de terras inferiores, surge um saldo, que vai para as méos dos latifundiéri Os capitalistas, ‘ocupados vom o cultivo nestas terras, nio se_beneficiam com isto, Ao amplisrem o cultivo em direcio a terras de qualidade infe- rior, so obrigados « aplicar mais trabalho para obter 0 mesmo produto. Resultado: queda dos lucros. Por outro lado, Ricardo accita a teoria da populagio de Malthus, segundo a qual « populagéo aumenta quando os salérios aumentam e diminui quando os salérios diminuem. Sendo assim, © saldrio de mercado estaré sempre préximo do salério natural (minimo de subsisténcia). Por que isto? Porque, se 0s salérios subirem, a populacdo aumentaré e teremos abundancia de trabalhadores. A abundéncia de tra- balhadores provocaré queda dos salérios de mercado. Quando os salétios cstiverem muito baixos, a situagio se inverterd, ‘Teremos diminuico da populacio e escasser de trabalhadores. Isto levaré a um aumento dos salérios, e assim sucessivamente. Mas se 05 salétios nao se afastam muito do nivel de subsisténcia ¢ os luctos nao crescem, antes diminuem com cultivo de terras menos férteis, quem se beneficia’ com 0 aumento do pro- duto? $6 pode ser a classe dos proprietérios de terra. Ora, o crescimento econdmico s6 € possivel com o investimento e o investimento é parte do lucro aplicado na produgio. Investir é a fungdo do capitalista. Se 0 lu cro diminuir, o investimento também diminuiré. Se a taxa de luero tender f zero, como tenderi se se verificarem todas as hipSteses ricardianas, a economia tenderé para o estado estaciondrio, ou seja, para um estado no qual a populagdo € estivel ¢ a renda per capita € constante. No estado estacionario, a econcmia nfo cresce nem diminui. Embora a teoria rica diana aponte para este estado, Ricardo acha que ele poderé ser retardado se se adotarem certas medidas, como aplicagéo de melhores técnicas de cultivo e importacio de cereais. A importagio de cereais baratearia o cus- to do trabalho. Pare mostrar cientificamente como o livre comércio favo- rece 0s diversos paises e. portanto, favoreceria também a Inglaterra, caso fosse adotado, Ricardo desenvolve um teoria (ou um principio) que se a 42 tomaré célebre, em economia, com o nome de teoria das vantagens com- parativas. Apoiado nesta teoria, ele seré um decidido defensor do livre- Parabismo que tantos beneficios traré & Inglaterra, alguns anos mais tarde, Cam este instrumental, ele terd argumentos fortes contra a “Tei dos cereais” a favor da livre importagao de gras. 4.1.4 Teoria das vantagens comparativas A teoria das vantagens comparativas € um avango em relasio & teoria das vaniagens absolutas de Adam Smith. Este tltimo mostrara que o livre comércio seria benéfico para as diversas nagdes, Se as nagdes se especia- Jizarem na produgéo daquilo para 0 qual esto mais aparelhadas ¢, em seguida, trocarem produgdo excedente entre si, todas sero bencficiadas. Por exemplo, se for mais barato produzir ché no Ceilao do que nos Estados Unidos e mais barato produzir trigo nos Estados Unidos do que no Ceili, estes dois paises deverdo dedicar-se & produgao do que Ihes for mais barato e trocar o excedente. Os Estados Unidos comprariam cha do Ceilio e este sitimo pais compraria trigo dos Estados Unidos. Isto € ébvio. Até ai o progresso nao foi grande. Trata-se de uma aplicagio evidente do principio da divisso do trabalho. Ricardo d& um passo além. Mostra que mesmo no caso de um pais ser superior a0 outro na produsio de dois bens, ainda assim o comércio entre eles € compensador. Vejamos como ele de- senvolve este raciocinio, Primeiro vamos fazer uma analogia e, em seguida, Tancar mo, de um exemplo do proprio Ricardo. Suponha que voce seja tradutor e financista e que seu trabalho na érea financeira exija a traduclo de determinadas revistas especializadas. Para simplificar, vamos supor que Voce gaste, em média, 8 horas para traduzir 20 péginas e, ganhe com isto $ 10 (dez unidades monetérias) e que ganhe $ 20 por 8 horas de consul- foria financeira. F evidente que vocé preferité dedicar-se totalmente & consultoria e contratar o individuo B para fazer as tradugdes, mesmo que Sete tradutor coja menos eficiente do que vocé. Vocé é mais eficiente que B em financas e em traducio, mas em termos monetérios € mais eficiente em financas do que em tradusio. Ricardo apresenta um exemplo anélogo. Para produzir certa quan- tidade de vinho, por unidade de tempo, Portugal ocupa 80 homens e para produzir certa quantidade de tecido, na mesma unidade de tempo, ocupa $0 homens. Para produzir estas mesmas quantidades de vinho e tecido, por tunidade de tempo, a Inglaterra ocupa 120 e 100 homens respectivamente, Esquematicamente’ temos: vinho _tecido Portugal 80 0 Portugal tem vantagem absoluta tanto em vinho quanto em tecido, ‘mas tem vantagen: relativa em vinho, ou seja, € mais eficiente na produsso de vinho. Ele ganharé ocupando todos seus homens na produgio de vinho ‘¢ trocando 0 vinho excedente pelo tecido excedente da Inglaterra, que g2- ‘nharé mais especializando-se em s6 produzir tecidos. Os paises devem es- pecializar-se naquilo que séo mais capazes de produzir, mesmo que um eles seja mais eficiente do que o outro na produgéo de todos os bens. Este tipo de argumentagdo (correta se considerarmos as economias co- mo estéticas) foi uma poderasa arma nas mios dos adeptos do livrecam- pismo. A Inglaterra tornou-se senhora do mundo apoiada na defesa intran- sigente do comércio livre. ‘Alguns anos atrés, jé no nosso século, os estudos de Raul Prebish ¢ da CEPAL, sobre a deterioragao das relagées de troca entre paises desen- volvidos e subdesenvolvidos, mostraram que a argumentagio ricardiana continha supostos irrealistas. Os fatos levantavam-se contra a arguments. a0 de Ricardo apoiada nas vantagens relativas. Onde estaria a falha de ‘ima argumentagdo to convincente? No fato de se considerar o mundo econdmico de maneira estética. Voltando & nossa primeira analogia: € de todo evidente que o financista deva dedicar-se totalmente & consultoria ¢ deixar as tradugées para o tradutor, mas este dltimo néo precisa perma necer eternamente tradutor. Que lei o impede de progredir? Se as con- digdes so tais que o financista sempre estaré lucrando mais que 0 tra- dutor, por que este dltimo ndo se torna financista? ‘Uma das forgas que impede esta transformacdo é 2 argumentagio ideo- légica. ela que langa mao dos argumentos ricardianos sobre livre comér- cio para justificar a atual divisio internacional do trabalho. Voltamos facentuar que a argumentago de Ricardo sobre vantagens relativas per- feitamente vélida e convincente dentro de um marco referencial estitico, Mas nao hé nenhuma lei dizendo que este referencial deva ser estético, QUESTOES PARA NEVIGAO tura atenta do texto dé condicées para que se responda as questoes 1. Explique @ teoria do valor de Ricardo. Imediato © mediato? 2. Autildade marginal Jé era conhecida dos cléssicos. Por que néo a utillzram ‘como teoria do valor? 3. Mostre a diferenga entre preco natural e preco de mercado 4. Qual 0 principal problema da Economia Politica pata Ricardo? Deservolva ‘um pouco mais sua resposta e procure mostrar a relagdo entre 8 distribuicso 0 crescimento econémico em Ricardo. 5. Explique a teoria da renda da terra de Ricardo, 8. Qual o papel do lucro na teoria de Ricardo? (© que queremos dizer com trabalho 43 8? Como explica que os salétios tendem cla? mar que os selérios tendem a se manter iemar que howe um aumento secular dos eal os? Como @ teoria de Ricardo explica isto? 9. Exponha a teoria das vantagens comparativas de. Ricardo. 10, Explique como a deterloragdo dos termos de troca entre paises dosenvolvi- dos © subdessnvolvidos abala a argumentacdo icardiana a favor do livre ‘comércio. Em que circunsténcias a argumentagéo 6 valida? Em que circuns- ‘incias perde a validade? 7. Como Ricardo considera f@ permanecer no nivel do. sub SUGESTOES DE LEITURA RICARDO, David. Principios de economia politica e de tributagdo. Lisboa, Fundacéo Calouste Gulbenkian, 1978. A mesma obra encontra-se na colegéo Os Economistas, da Abril Cul- tural. A vantagem desta cltima é apresentagio & obra feita polo pro- fessor Paul Singer. Tratase de uma apresentacdo primorosa que toca fem todas 0s pontos eseenciais, No fim da apresentagao, ha uma curta bibliografia, ‘A obra de Ricardo € seca e dificil, mas de leitura indispensével NAPOLEONI, Claudio. Smith, Ricardo, Marx. Rio de Janeiro, Graal, 1978. - Escola Classica 5.1 THOMAS MALTHUS (1766-1834) 5.1.1 Dados biog Malthus foi contemporineo de Ricardo. Viveu numa época particul mente turbulenta sob o aspecto econémico e politico (Revolucdo Industrial na Inglaterra, Revolusdo Francesa, guerras napoleénicas). Todos estes acon- tecimentos que agitaram a Europa de seu tempo tém repercussdes em sua obra Malthus era filho de um advogado de posigGo social destacada, amigo de Rousseau e de Hume e que acolhia as idéias otimistas de William Godwin de Condorcet sobre 0 progresso dos povos € da sociedade. Godwin, poeta ¢ fildsofo politico, chegara a ocupar © cargo de mi- nistro, mas, chocado com as enormes injustigas da sociedade de seu tempo, tomna-se um radical. Apontava como barreiras ao progresso propriedade privada, as desigualdades econémicas ¢ politicas a presenca do Estado. Foi um dos primeiros tedricos do anarquismo. Condorcet foi grande defensor das idéias iniciais da Revoluggo Fran- esa ¢ do sufrégio universal para homens e mulheres. A luta pelo poder, no seio da revolucdo, termina por levé-lo & morte. Malthus estudou em Cambridge. Ingressou depoi na carreira ecle- sifstica como ministro anglicano, Em 1805 foi nomeado professor de His- ria e Economia Politica no East India College, onde permanece até 0 fim da vida. Em 1798 publica o livro que © tornaré famoso, Ensaio sobre © principio da populagdo (An essay on the principle of population). Este livro nasce das conversas que mantém com seu pai sobre as idéias de Godwin e de Condorcet e expressa discordincia total com relagio a estas, idéias. Para os autores mencionados, a causa dos males que afligem a hhumanidade esté nas instituigées, Para eliminé-la seria preciso reformar ou 45 EDITORA ATLAS S.A. co Gonselheiro Nébias, 1384 (Carnpos Elisios) 01203-904 Sao Paulo (SP) Tel.: (0-11) 221-9144 (PABX) www.atlasnet.com.br Carlos Roberto Vieira Aratjo Hist6ria do Pensamento Econdmico Uma Abordagem Introdutéria SAO PAULO EDITORA ATLAS S.A. — 1995 (c) 1986 by EDITORA ATLAS S.A. Rua Conselheiro Nébias, 1384 (Campos Elfsios) Caixa Postal 7186 — Tel: (011) 221.9144 (PABX) 01203 Sio Paulo (SP) 4. ed, 1986; 9*tragem ISBN 85-224.0148.9 Impresto no Brasil/Printed in Brazil Dep6sit leg! ns Bibliotee Nacional, conforme Decreton® 1.825, de 20 dezembrode 1807. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS -€ proibida @ eproducéo total ou parcial, de qualquer orma ou por qualquer meio. A violacao dos dieos de autor (ein? 8.610/98) 6 cme estabelecido pelo artigo 184 do Codigo Penal Diagramagio Pavel Gerencer Capa Paulo Ferreira Leite Dados de Catalogagio na Publicagio (CIP) Internacional (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ‘Aradjo, Carlos Roberto Viei ‘AGBBh —Histéria do pensamento econdmico : uma abordagem in: trodutétia / Carlos Roberto Vieira Aratjo. ~ - Sio Paulo : Atlas, 1988. Bibliogr ISBN 85-224.0148.9 1, Economia 2, Economia — Histéria |. Titulo. cDD-330.08 96-0539 -330.1 Indices para catdlogo sistent Sistemas @ teoria 330.1 3. Pensamento econémico : Histéria 330,09 4. Teorias econdmicas 330.1 (Céd.: 0407 55 072 - Sumario Prefacio, 11 1 CIENCIA E IDEOLOGIA, 13 Questées para revisio, 19 Sugestdes de leitura, 20 2 A ESCOLA CLASSICA, 21 Questdes para revisio, 25 Sugesties de leitura, 26 3 A ESCOLA CLASSICA, 27 3.1. Adam Smith (1723-1790), 27 3.1.1. Idéies importantes, 29 Questées para revisio, 32 Sugestées de leitura, 32 4 A ESCOLA CLASSICA, 33 4.1, David Ricarco (1772-1823), 33 4.1.1 Dados biogréficos, 33 4.1.2. Ldéias importantes, 35 A — Teoria do valor, 35 B — Teoria da repartigao, 37 QUESTOES PARA REVISAO ‘A leiture atenta do texto permite responder &s questdes seguintes: Que liv torna Malthus famoso @ contra as idélas de que autores ele argu- Imenta neste livro?. Fale um pouco sobre cada um destes autores, sobre suas Tdelas e as de Malthus. ‘or que 0 Principles of political economy de Malthus néo teve boa acolhida na Spoca? 3. Que problema importante Malthus levanta no Principles © como 0 resolve? 4. Quais as posigdes de Malthus e de Ricardo com relacio aos latifundiérios? Faga um paralelo entre essas_duas posigbes mostrando a argumentagao de cada autor © quais ae conseqUéncias Politicas de cada uma delas, 5. Qual a posigdo de Malthus ¢ de Ricardo com relagdo & importago de trigo? ‘no papel que as classes socials desempenham na teoria de cada um ‘e mostre como a politica que defendiam ora consequéncia desta teoria, SUGESTOES DE LEITURA MALTHUS, Thomas. Princfpios de economia politica e Ensaio sobre a po- ‘pulagao. So Paulo, Abril Cultural, 1985. Estes dols livros de Malthus aparecem num mesmo volume da co- legé0 Os Economistas, da Abril Cultural. BARBER, William. Histdria do pensamento econdmico. Rio de Janeiro, Zahar, 1979. seoftte 0 aoroventa Malthus como um dos dssdentes do setema cléssico. KEYNES, John M. Essays on biography. London, Macmillan, 1972. Ler_s parte referonte @ Malthue. Nao 6 um livre fécil de sor’ encon- trado. ‘Sua importincla no caso esté no fato de Keynes, 0 grande eco- homista deste século, reconhecer um de seus precursores. O Pensamento de - Karl Marx 6.1 KARL MARX (1818-1883) 6.1.1 Observacées preliminares Nao vamos falar aqui de uma escola marxista porque, na realidade, existem varias escolas marxistas. As leituras da obra de Marx sio tao di- versas que & quase impossivel chegar a um consenso sobre certos aspectos dessa obra, Por outro lado, o pensamento marxiano' é rico, miltiplo ¢ variado e nao se deixa sistematizar com facilidade. Por isso apresentare- mos, aqui, apenas alguns conceitos econémicos fundamentais. Os limites deste livro nao nos permite ir mais longe ressaltar também que, em muitos circulos do. mundo capitalista, as idéias de Marx so pouco conhecidas. Geralmente sio apre sentadas & mancira de caricatura. A caricatura deforma, exagera 0s tragos mais salientes da fisionomia de uma pessoa ou de uma obra € com isso cria uma atmosfera ridicula ou irreal. A ideologia faz 0 mesmo com as ttopias, ot seja, com aqueles sistemas de idéias que se contrapdem & cor- rente principal. "Nao é dificil entender que muitas idéias atribufdas a Marx Sio apenas caricaturas das idéias de Marx. Um minimo de honestidade Cientifica exige que no as aceitemos como tal. Vamos fazer um esforco para entendé-las melhor. 6.1.2 Dados biograficos 5 Marx nasceu em Tréves, na Renania, regigo sul da Alemanha, per- tencente, entdo, & Prissia. Sua familia era judia, mas convertera-se a0 pro- testantismo, ’ pai, Heinrich Marx, era um advogado bem-sucedido, forte- mente influenciado’ pelo pensamento liberal francés e que sabia de cor 0 seu Voltaire ¢ 0 seu Rousseau. A regido onde nascera Marx era limitrofe sonora 2 Rel to ‘Sansa fare, "cooheca@sipmagao de Mars" an" se rotert-© sigur 49 da Franga e, naturalmente, recebia influéncia das idéias da Revolugio Fran- Marx era um espitito generoso € inquieto. Desde a adolescéncia preo- cupava-se com a escolha de uma carreira e dizia que existiam dois critérios, para a escotha de uma profissio: o bem da humanidade e a realizagdo pes- soal? Aos 17 anos ingressou na universidade de Bonn para estudar Direito. © estudo do Direito nao Ihe satisfez. Um ano depois transfere-se universidade de Berlim, onde passa a interessar-se também por Filosofia © Histéria. Aos 23 anos consegue seu titulo de doutor em Filosofia com uma tese sobre Demécrito e Epicuro* defendida na universidade de Jena. Em Berlim, é fortemente influenciedo pelas idéias de Hegel. Marx preten- dia um lugar como professor universttario, mas, devido a suas idéias pouco ortodoxas, ndo consegue satisfazer este desejo. Passa, entio, a0 jornalis- mo e, em 1842, jé € redator-chefe da Gazeta Renana, jornal de orientagéo liberal que entrava em freqiientes atritos com a censura prussiana. O jor- nal foi fechado, e Marx, impossibilitado de trabalhar, vai para Paris. A passagem pela Gazeta Renana, contudo, seré de importancia decisiva em sua vida. Ai entrara em contato com os problemas de economia, percebera 05 conflitos sociais gerados por interesses econdmicos e tivera que se pro- nunciar sobre as idéias socialistas que chegavam da Franca. Como ignorava economia politica e socialismo e nao era espirito superficial, resolve estudar a fundo estes assuntos. O desejo de conhecer 0 socialismo e a economia, conjugado com presses de ordem politica, leva-o primeiro a Paris e fic nnalmente a Londres, apés breve passagem pela Bélgica. Jé se tornou lugar- -comum afirmar que a obra de Marx € 0 ponto de convergéncia do que havia de mais significativo na filosofia alema, no socialismo francés e na economia politica inglesa. Na realidade, estas trés vertentes do saber encon- tram-se em sua obra que, por isso mesmo, é uma obra globalizante, dife- rente das obras estritamente técnicas como as que conhecemos hoje, no campo da economia, Esquematicamente temos: Socialismo ‘rar Economia politica Filosofia alemd Taglesa eget Kart Mae icardo) Ee AUREL. Maxintan, Kat Mars. Eel ce biogapie cull ‘3 Bo Tildsstos rages, Titulo de tese: 9 diferenga no flosotis da nature ee @iewo, As, Ubeaive Mt de Oemserto © JA situamos Marx na sucesso das escolas econémicas, mas nfo custa repetir 0 diagrama: Mercanitas | [ Fisicrtas ss | ‘Marshall ee Keynes © pensamento de Marx é, portanto, original nao pelos temas aborda- dos (ja estudados por vérias escolas), mas pela maneira como ele os sin- tetizou, Ao deixar a Alemanha, apés 0 fechamento da Gazeta Renana, ditige-se 2 Paris. Af entra em contato mais estreito com os movimentos socialistas da época. Mas nio permanece muito tempo nesta cidade, pois é expulso da Franga a pedido do governo pr mas fixa-se di com pequenas interrupgies. A Inglaterra era, entio, 0 laboratdri pitalismo nascente e seré para ele um posto de observacao pri Em nenhum outro luger do mundo ele teria as condjgdes que teve na Inglaterra para entender a mecénica do capitalismo. Marx teve vida pobre ¢ atribulada. Aos 25 anos casa-se com Jenny Yon Westphalen, filha de um bardo bem situado no governo prussiano. ‘Apés 0 casamento, recete a oferta de um cargo no governo, a qual recusa. Jenny foilhe uma companheira fiel apesar de terem sofrido perseguigdes, miséria e a perda premetura de varios filhos. Marx passava longas horas ‘no museu britinico, lendo e estudando as ramificagées da economia polit ca. Escrevia periodicamente para o New York Tribune e recebia ajuda 51 ande amigo Friedrich Engels. © jornalismo e a ajuda im para o seu sustento. Ao terminar sua principal obra ‘numa espécie de desabafo: financeira de seu gr do amigo contrib © capital, escreve a um a “Enquanto fui capaz de trabalhar, uset cada instant de minha vida na busca’ do'aeabamento de minha obra, d qual sacifiquel sade, feicdade © Famiia.” Espero. que esta afirmasdo nfo proveque comentirics, Pouco me {Riports a subedora dos homens que se divem |=——4 horas > 8 horas Trabalho necssdrio Trabalho excedunte © valor que excede 0 valor da forga de trabalho e que vai para as mos do capitalista, Marx denomina mais-valia. A mais-valia é, portanto, aquele valor que 0 trabalhador cria além do valor de sua forsa de trabalho. Se considerarmos a extensio da jornada de trabalho como sendo de oito horas, no nosso exemplo, ele trabalhou quatro para sie quatto para 0 ca- pitalista. No entanto, o que o capitalista lhe pagou foi exatamente o valor de sua forga de trabalho. Note, nao the pagou o trabalho (que foi de oito horas), mas o valor de sua forga de trabalho que € de quatro horas. Repetimos aqui a afirmacéo de Megnad Desai: “ao fim de cada pro- cesso produtivo, 0 trabalhador se reproduz a si mesmo e o capitalista acumula riqueza, Essa assimetria de resultados deve-se a assimetria das relagies de classe”*. 7.2 MAIS-VALIA ABSOLUTA E MAIS-VALIA RELATIVA © capitalista poderé conseguir trabalho extra de dois modos, ou pro- Tongando a jornada de trabalho ou diminuindo 0 tempo de trabalho ne- cessirio. No primeiro caso, temos a mais-valia absoluta. Mais-valia abso- luta é, portanto, a mais-valia que se obtém pelo protongamento da jornada de trabalho. Suponha que a jornada de trabalho seja de oito horas, didas em quatro horas de trabalho necessério © quatro de trabalho extra. Se 0 capitalista conseguir aumentar a jornada de trabalho em duas horas (pasando de 8 para dez horas), ele estaré aumentando o trabalho extra € obtendo assim uma mais-valia'absoluta. Esquematicamente, temos: 3 DEBAL, Megnad. Op. cit. p. 3. 4 horas ] +4 horas —__— 4 horas _~| Trabalho extra Mas suponhamos cue ele nao consiga prolongar a jomada de trabalho devido & legislacao, & resisténcia dos operérios ou por outro motivo qual- quer. Ainda assim ele poder conseguir trabalho extra, reduzindo 0, tempo de trabalho necessério. A mais-valia relativa é a mais'valia que se obtém mediante a diminuigéo do tempo de trabalho necessério. No Capitulo 10 do primeiro volume de O capital, hé uma exposigao clara ¢ didatica do que € mais-valia relativa e de como consegui-la, Vamos seguir 0 raciocinio de Marx. Suponhamos que a jornada de trabalho seja representada: pelo seg- mento de reta que vai de aac. a—______b —______ Suponhamos ainda que a jornada de trabalho seja de dez horas, re- partidas em oito horas de trabalho necessério e duas horas de trabalho ex- cedente. O segmento a — b representa 0 tempo de trabalho necessdrio (cito horas) € 6 — c 0 tempo de trabalho extra (duas horas). A jornada de trabalho nao pode ultrapassar dez horas, ou seja, os extremos a e c nfo podem ser deslocados. A alternativa para se obter trabalho extra & des- locar 0 ponto para 5’. Suponhamos que este deslocamento represente duas horas. b ‘A jomnada de trabalho permaneceu a mesma, mas a diviséo do tempo entre trabalho necessério ¢ trabalho excedente se alterou. Antes do des- ocamento de b para 6’, o tempo de trabalho extra representava 20% (2/10) da jornada. Apés 0 deslocamento, passa a representar 40% (4/10). O tempo de trabalho necessério diminuiu de duas horas, passando de vito para seis horas. Isto significa que o trabalhador deixou de gastar oito horas para produzir 0 seu sustento, passando a gastar seis horas. Ora, isto no se faz. por um passe dz magica. S6 é possivel mediarite verdadeita revo- uso nos processos produtivos. Nas palavras do préprio Mat “Mas quando se trata de produit maiswvalia tomando excedente 0 ta- batho necessério... € mister que se transformem as condigbes técnicas focisis do. processo de trabalho (..-) a fim de aumentar a forga produtiva {do trabalho. $8 assim, pode cair 6 valor da foiya de trabalho. reduzirse a parte do dia de trabalho necesséria para reduzir este valor." Ver © capital. Rio de Janeiro, Civilzaeto EA. vs 1, 680. 10, p. 962 63

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