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Copyright @ Paulus 2007 Direso editorial Claudiano Avelina das Santos Coordenasae editorial Valdir José de Castro Produgio edit AGWM Artes Graficas Imagem da capa SXC Impressiio e acabamento PAULUS Dados Internacionais de Catalogacao na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Santeella, Lucia Linguagens liquidas na era da mobilidade / Lucia Santaella. ~ S40 Paulo : Paulus, 2007. — Comunicacdo Bibliografia. ISBN 976-85-349-2765-9 1, Comunicagao e tecnologia 2, Cultura pés-moderna 3. inclusdo social 4 Midias digitais 5. Pés-madernidade 6 Semidtica | Titulo. tl Série 07-5743 CDD-306.4014 indices para catalogo sistematico: 1. Cullura : Semidtica : Saciologia 306.4014 2, Semidtica da cultura : Sociologia 396.4014 2 edicdo, 2011 PAULUS - 2007, Rua Francisco Cruz, 229 04117-091 — Sao Paulo (Brasil) Tel.: (11) 5087-3700 — Fax: (11) 5579-3627 www. paulus.cam, br editorial@paulus.com.br ISBN 978-85-349-2765-9 11 TO IMPRESSO A HIPERMIDIA Uma wove maneiva de peniar a compietagia digitad como uma enorme aceleracde de varias téenicat manuais que jd existiam, Lev Manowich definiggo comum de “texto” € aquela que 0 toma como uma cadeia mais longa ou mais breve de signos linguis cos com suas regras combinatérias, A semiética expandiu enormemente o sentido da palavea “texto” para abranger, além da linguagem verbal, a pintura, pegas ou fragmenctos musicais, si- nais de trdfego, cidades, vestimencas ecc, Sem desmerecer a im- portancia que essa expansio do termo pode ter para os estudos semidticos, neste trabalho limitarei o sentido de “texto” & sua definigZo mais comum: uma sequéncia relativamente coesa € coe- rence de signos linguisticos, Sem minimizar cambém a complexi- dacle das teorias existentes sobre texto € textualidade, a limitagio da detinigio acima se justifica diante dos objetivos que norteiam este trabalho, a saber: colocar esse sentido de texco em uma pers- pectiva histérica, desde o aparecimento do livro, seu mais Leal veiculador, aré o adventa das tecnologias digitais ¢ da linguagem que lhes é propria, a hipermidia. conic 5Q LINGUAGENS LIQUIDAS NA ERA OA MOBILIDADE 286 E nordério que o conceito de cexto vem pussando por transfor- magées profundas desde que as tecnologias digitais entraram em uae A integragio do texto, das imagens dos mais diversos tipos, fixus e em movimento, ¢ do som, miisica ¢ rufdo, em uma nova linguagem hibrida, mestiga, complexa, que € chamada de “hi- permidia”, trouxe mudangas para o modo como entendiamos niio sé o texto, mas também a imagem € o som. A ideia que pretendo desenvolver neste capitulo é a de que as transformagées no mundo da linguagem a que estamos assis- tindo atualmence nao foram repentinas. O terreno para o advencto da hipermidia ¢ da misrura entre linguagens, que nela se pro- cessa veio sendo preparado gradativamente, especialmente desde o surgimento da fotografia ¢ de jornalismo, 1. DA SOBERANIA DO LIVRO A ERA DA IMAGEM Depois da invencao de Gurenberg, durante pelo menos qua- tro séculos, a cultura do livro e do texto impresso reinou sobe- rana, Escendendo-se do século XV ao XIX, essa foi a era das letras, na qual o texco escrito dominou come produtor e difusor do saber e da cultura, © livro impresso, feito de registros facil- mente duplicdveis ¢ transmissiveis, transformou a informagao em objeto transportdvel, rompendo com os mistérios do conhe- cimento reservado a poucos privilegiados, erudicos religiasos e nobres, ¢ expandindo a capacidade de leitura. A partir disso, a vida social, politica ¢ cultural nunca mais seria a mesma. Suas implicacdes foram decalhadamente estuda- das no livro que McLuhan (1971) chamou de Gatdéxia de Guten- berg. Algumas dessas implicagées foram sintetizadas por Bene- dike (1991, pp. 15-16): a. a democratizacao crescenre dos meios de produgiio ¢ dis- seminagio de ideias; DO TEXTO IMPRESSO A HIPERM DIA b. ocrescimento exponencial de um corpo de conhecimentos cientificos e das mais diversas pracicas culturais, literdrias e artisticas, c. a distribuigia desse corpo de conhecimento por varios lo- cais gracas & cepraduribilidade do registro escrito, impedin- do o controle centralizado sobre ele: Embora os liveos pudessem estar em varios lugares ao mes~ mo tempo, e isso cenha, de faco, significado um grande avango em telagao ao seu passado pré-Gutenberg, para um outro meio, o jornal, paralelo ao Livro, a transmissiio da noticia de um lugar para ourro sofria a limitagéo do cempo de transporte. Nenhuma informacao podia ser fresca depois de algumas semanas. A in- vencio do telégrafo veio cobrir essa deficiéncia, Junto com o telégrafo, com seu potencial para a transmissio da informagio a distincia, a invengio da fotografia, com seu poder documental, leveu a explosio do jornal, uma explosdo que foi exponenciada pela passagem da prensa manual para a prensa mecdnica. O telégrafo fez do jornal uma rede global de correspon- dences cujos nés partiam de jornais metropolitanos, A conexio encre esses nds, nos quais a informagao era coletada e dissemina- da, era o siscema telegrafico internacional, enquanta a conexdo com os leitores era dada pelo jornal digrio cujas noticias nao tinham mais que vinte ¢ quacro horas. O texto que, no livro, era via de regra mantido na sua nacureza monossemiscica, no jornal comegau a adquirir propriedades inter- semidcicas presentes na diagramagio, na variagio de tamanho forma dos tipos grificos, nas relagdes indissocidveis entre texto ¢ ima- gem, propriedades estas que, com o tempo, foram ganlando inten- sidade no préprio jornal, assim como nas revistas € nos antincios publicitarios, Nesses ambientes, longe da pureza e exclusividade que o livro da & eserira, o cexto foi se tornando semioricamente promiscuo, quer dizer, seus sentidos 36 se consubstanciam na mis- tura ¢ complementaridade com outros processos signicos. 287 ceunig cdo LINGUAGENS LIQUIDAS N4 ERA DA MOBILIDADE 288 Além disso, o jornal, um hibrido entre verbo e imagem, cada vez mais sensorialmente atraente e apelativo, foi ferindo a hege- monia do livro como meio de produgio ¢ transmissao da culcu- ra, uma petda de exclusividade, de resto, que o advento de no- vos meios de comunicacao, depois do jornal e da fotografia, iria tornar progressiva ¢ irreversivel. Entrecanto, ao mesmo tempo, a mecanizagio da impressio também possibilicou a produgao em massa de livros, pois a escrita foi ficando cada vez mais ma- quinal, reprodutivel. Além disso, os livros estratificaram-se em. ofertas para todos os nfveis de repertério dos receptores, desde os mais altos até os mais baixos, o que acabou por converter 0 livra em um meio também acessivel ds massas. Em um processo de contaminagées ¢ trocas, como é comum ocorrer na coexisténcia de diferentes midias e linguagens, a aparéncia do texto impresso no livro foi sofrendo modificagées sob influéncia dos espages de respiracdo visual que a diagramagao jornalfstica configura, quer dizer, a mancha do texto impresso no livro foi se tornando cada vez mais arejada, com espacgos em. branco para divisées de tépicos, capitulos, subcapftulos, absor- vendo algo da escrucura em mosaico do jornal. Vale lembrar, ademais, que a perda da hegemonia do livro niio significa que qualquer midia possa substiruf-lo. Se puclesse, o liveo jé ceria desaparecido. Justamente porque nao pode, os livros continuaram nao s6 a existir, mas a se mulciplicar. Na tealidade, quando surge um nove meio de comunicagao, ele nao substicui o anterior ou os anteriores, mas provoca uma refuncio- nalizagZo no papel cultural que era desempenhado pelos meios precedentes. Via de regra, um periodo inicial de impacto é se- guido por uma readaptagio gradativa até que um novo desenho de funges se instale. O que a explosie do jornal germinou foram as sementes da cul- cura de massas que cresceu ainda mais com o desenvolvimento do cinema, poderosa excensio da fotografia. A forga dle atragao das imagens, intensamente explorada pela publicicade, foi cres- centemente povoando as paisagens urbanas com cenas visuais DO TEXTO IMPRESSO A HIPERM: sedutoras nas capas de revistas, nos ovfdsors que alimentam de- sejos incuravelmente insarisfeitos € prazeres efémeros em socie- dades reguladas pela estetizagio do cotidiano, espetacularizagao e ldgica do consumo frenético. Esses meios industrial-mecinicos de produgao de linguagem e de comunicacao, entretanto, nfo seriam capazes de competir com a grande cevolugao massiva que chegaria com os meios ele- troeletrénicos e suas redes de transmissdo éroadrast: o radio ea televiséo, Conforme foi enfacizado por McLuhan, ambos, canco o rddio quanto a celevisio, trouxeram de volta algo jd prenun- ciado pelo cinema: padrées semiécticos da comunicacio oral nos didlogos e falas, 0 que significou forte golpe na jd ferida hege- monia da culcura do texto impresso. Além disso, enquanto jornais e revistas sio vendidos ea ses- sao de cinema € paga pelo espectador, o que, até certo ponto, ajuda a sobrevivéncia desses meios, 0 radio ¢ a celevisiio subsistem t8o-s6 ¢ apenas da venda dos intervalos de tempo da programa- gio para a publicidade, o que dilatou sobremaneira a arena paca a circulagao de imagens por trds das quais se oculta o fetichismo das mercadotias, Dessa rede cada vez mais densa de signos visuais resultou a chamada “era da imagem”, que ja teve inicio desde a invengio da forografia, incensificando-se crescentemente no decorrer do século XX, como cinema, TV, video, holografia e imagens com- putacionais, Nesse contexto, a escrita cantinuou seu curso, mas perdeu certamente a sua dominancia sobre a cultura, passando a conviver com a imagem, existindo ou de modo paralelo & ima- gem, como nos livros sem ilustragdes, nos quais o texto impres- so continuou dominando toda a cena, ou de moda complemen- tar & imagem, como no jornal, nas revistas, na publicidade ¢ nos livees ilustrados. Em virtude disso, pode-se dizer que o século XX foi o século da coexisténcia, da convivéncia ¢ também das mis- turas da escrita com a imagem. E costume chamar esse século de “era da imagem” potque a escrita, que havia sido hegeménica desce a invengao de Gutenberg, camo ja vimos, foi perdendo 289 tS LINGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE 290 cada vez mais sua exclusividade a partir de meados do século XIX. Além disso, as imagens sao muico evidentes, oferecem-se @ superficie do olhar, estao em todos os lugares, amplificam-se nos espacos urbanos, interpelam insiscentemente nossa percepgao. Apesar disso, é preciso lembrar que, embora 0 texto escrito tenha, de fato, perdido sua hegemonia, a quantidade de textos que se produziu no século XX é assombrosa, Porcanto, mes- mo que a expressio “era da imagem” seja adequada para carac- terizar o século XX, a inflagdo textual também é uma marca distintiva desse século, 2, MISTURAS ENTRE MIDIAS E LINGUAGENS A partir do momento mesmo em que a cultura de massas estava em seu climax, por volta dos anes 1960, comegaram gra- dacivamente a aparecer e se multiplicar dispositivos ¢ aparelhos destinados a atuar como virus que imperceptivelmente iam mi- nando a légica de funcionamento da cultura de massas: 0 con- trole remoco, o videocassete, os jogos elecrGnicos, a televisio a ias & escolha € ao cabo etc.; enfim, meios de camunicacao prop consumo individualizados, em oposigio ao consumo massivo. Ao mesmo tempo foram se intensificando cada vez mais os ca- samentos ¢ misturas entre linguagens e meios, constitutivos de densas redes entre médias, inaugurando o que venho chamando de “cultura das midias", cultura da multiplicagio mididtica que nasce dos hibridos encontriveis, por exemplo, nos suplementos revistas literdrias ¢ culturais, no ra- culturais dos jornais, na diojornal, telejornal. A multiplicidade e hibridizagio mididtica colocou a cultura em estado de fermentagio e inflacionou o espago por ela ocupado na sociedade. Segundo Kellner (2001, p. 29), a cultura passou a desempenhar um papel cada vez mais importante em todos os setores da sociedade, com miltiplas fungdes em campos que vio do econémico ao social. DO TEXTO IMPRESSO.A HIPERMIDIA Na economia, as sedutaras farmas culturais modelam a deman- da dos consumidores, produzem necessidades € moldam um eu-mercadoria com valores consurmistas. Na esfera politica, as imagens da midia tem produzido uma nova espécie de politica de frases de impacto descontextualizadas, 0 que Ihe confere pa- sigao central na vida politica. Em nossas interagdes saciais, as imagens produzidas para a massa orientam nossa apresentacaa do eu na vida diaria, nossa maneira de nos relacionar com os outros e a criago de nossos valores-e objetivos sociais. Foi justamente esse processo inflaciondrio da cultura sebre a vida social, com a necessdria fragmentacao de discursos © jogos de linguagem faculcada pela mulciplicagao de midias, que deu origem, na virada dos anos 1970 a 1980, aos debates sobre a pés-modernidade. Assim camo durante a explosiio da culrura de massas, nos anos 1960, a pop avt tomou a dianteira na apropria- gio irénica dessa culeura, foi cambém nas artes que o pés-mo- derno se manifestou de forma lucida e ludicamente critica. Enquanto isso jd estavam germinando as noyas tecnologias do computador destinadas a mudar drasticamente os processos jd efervescentes da culcura, Antes disso, nos anos 1980, surgiu uma tecnologia proto-hipermidia e procointernet, o videotexto, importante para a andlise dos destinos do texto (ver Sanraella, 1996b, pp. 135-141; Plaza, 1987). O sistema videotexto era composte pelo hibridismo de erés meios que, nele, uniram-se pela primeira vez: o monitor da celevisio, o telefone e o compu- tador, No monitor encontrava-se seu meio de edigao, em que os designers produziam a informago a ser transmitida, e seu meio de recepgio, pois era também no monitor ou terminal domésti- co que o usudrio recebia a informagio. O computador funciona- va como meio de armazenamento dos dados e centro de irradia- giao das informagdes. © celefone era o meio de transmissao, Os fornecedores de informagao para a cenrral de dados eram os mais diferenciados, cobrindo uma ampla gama de informagées ¢ servi- Gas ao usudrio, tais como hordcios de meios de transporte € de 291 Otto LINGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE 292 enrrerenimencos em Curso ¢ bases de dados, como as de Tribunal de Justiga ete. © videotexto envolvia, portanto, a transmissio de informa- cdo para a casa dos usudrios, que deveriam selecionar o que que- fiam ver, pagande uma pequena quantia pela informacio — € nisso se encontrava a sua natureza protoinrernet, Esse meio hi- brido, até hé bem pouco tempo, fez grande sucesso na Franga. No Brasil, chegou a ser implantado pela Telesp, mas depois de algum tempo os investimentos foram abandonados. Nos Estados Unidos, nem chegou a sair do projeto. Segundo Logan (1999, p, 333), isso se deu porque havia pouco contexto para a infor- magiio que era fornecida ¢ porque o monitor de video de baixa resolugao ¢ escaneamento lento nao permicia a leituca de uma quantidade razodvel de dados. O facto de a informagao poder ser atualizada constantemente nao era suficiente para suplancar suas deficiéncias, Entretanto, nfo € apenas a precdria antecipagéo da internet emburida no videotexto que me fez trazé-lo a lembranga neste capitulo, mas sua antecipagdéo também das misturas de lingua- gens, incluindo nessa mistura de modo privilegiado o texto es- crito, 6 que se consricui em uma das marcas registradas da hi- permidia. De fato, a linguagem do videotexto era a um 36 tempo escrita, desenho, diagramacao, pagina, quadro, animagio e sequéncia, Ora, conforme ja explicitado acima, desde a invengao da fo- tografia, o texto impresso foi sendo crescentemence relegado para o segundo plano da cultura, incapaz de competir com a onipresenga assoberbante das imagens. Além disso, os mais po- derosos meios de massa — rddio e celevisia, e mesmo o cinema — incorporam a oralidade da linguagem, o que levou a crer, por um bom tempo, que nao haveria lugar para o texto escrito nas telas eletrénicas. Conforme afirmei hd alguns anos (Santaella, 199Gb, p. 138), © texco escrito parecia o grande ceserdado, como se os meios de comunicacdo de massa estivessem, por fim, vingando-se da hegemonia por ele exercida séculos a fio. Bis, portanco, a grande reviravolta instaurada pelo videotexto, que seria, mais tarde, intensificada pelos PCs com seus editores de textos e, logo depois, pela hipermidia em CD-ROM e internet: 0 texto escrito saltou do papel impresso para o sistema alfanu- mérico das celas eletrénicas. E aqui comega uma nova histéria do texte, a de sua absorgao na hipermidia e sua consequence transmutagio de sélido em liquide, de fixo em escorregadio, instdvel, volatil. 3. AS CARTOGRAFIAS LIQUIDAS DA HIPERMIDIA Todas as hibridizagGes ow intersemioses de linguagens, jd pre- sentes no jornal, nas revistas, no cinema, especialmente na televi- so, dada sua natureza altamente hibrida, capaz de deglucir cani- balisticamente os outros meios, e também presentes no videorexto, sao apenas epifendmenos quando comparadas a grande hibridi- tida pela digitalizagaoe pela linguagem hipermidid- zacio per! tica por ela introduzida com seus processos de comunicagao in- teiramente novos, interativos e dialdgices. Para comegar, o computador, meio de producdo, armazena- mento, distribuigio e recepgio de hipermidias, como nos diz Scolari (2004, p, 66), € uma metamidia, nao apenas porque pos- sui elevaca capacidade de re-mediar as midias precedentes, no sentido de re-mediagdo e re-midiacio (Bolter e Grusin, 2000), mas também porque vai além dessas midias, pois se coloca em um lugar privilegiado a partir do qual pode descrever essas oucras midias. Ao se teansformarem em metamidia, completa Scolari, as miquinas digitais perdem toda a conotagao de autonomia para se converterem em uma espécie de “esperanto ou lingua- gem tecnolégica universal”, De fato, a linguagem digital realiza a proeza de transcodi car quaisquer codigos, linguagens e sinais, sejam estes cextos imagens de todos os tipos, gréficos, sons e rufdos, processando- os computacionalmente e devolvendo-os aos nossos sentidos na DO TEXTO IMPRESSO A HIPERMIDIA 293 conus Ao LINGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE 294 sua forma original, 0 som como som, a escrita como escrita, a imagem como imagem. Entretanco, por ter a capacidade de co- locar todas as linguagens dentro de uma raiz comum, a lingua- gem digital permite — sua proeza maior — que essas linguagens se mistutem no ato mesmo de sua formagao, Criam-se, assim, sintaxes hibridas, miscigenadas. Sons, palavras ¢ imagens que, ances, 86 podiam coexistir passam a se coengendrar em estrutu- ras fluidas, cartografias liquidas paca a navegacao com as quais os usudrios aprendem a interagir, por meio de agées parcicipati- vas, como num jogo. Esse é0 principio da hipermidia, um prin- cipio que se instala no fmago da linguagem, Diferentemente da revolugio gucenberguiana, a hipermidia ndo incide apenas no modo como se produz e reproduz a escrita. Embora também envolva esse aspecto, a hipermidia vai muito além, Trata-se de uma nova maneira de se produzir o texto escri- ro na sua fusao com as outras linguagens, algo que transforma a escrita no seu 4mago, colocando em questio a natureza mesma da escrirura e dos seus potenciais. Em suma, “estamos habirancdo uma nova casa, pois a linguagem éa casa do ser, As estruturas digitais de criagio hibridas de textos, imagens, dudios, videos ¢ programagées tém possibilirada ac. de uma légica nunca antes explorada”, afirma Sérgio Bairon (no prelo). Nie sao poucas as consequéncias culeurais, cognitivas ¢ co- municacionais que isso traz para os modos de se produzir conheci- mento, arte e informagao em geral, trazendo para o foro dos deba- tes questes candentes que precisam ser exploradas, longe dos preconceitos, dos saudosismos ¢ das nostalgias, fo 4, © QUE SERA DO TEXTO IMPRESSO? A hipermidia pode ser brevemente definida como um siste- tna alinear, reticular de conexées (/inés) entre unidades de in- formagao (nds). As conexées nao sao fixas, mas abertas as marcas pessoais do estilo de interagio que o navegador impde a elas. As OO TEXTO IMPRESSO A HIPERMIDIA, unidades de informacgio podem aparecer sob a forma de textos, de imagens de quaisquer espécies, fotos, desenhos, gréficos, vi- deos e sons, também de varias espécies, que vio da musica ao rufde. Embora coda hipermidia realize uma verdadeira orques- tragdo de cédigos, linguagens ¢ rotas de navegagao, é substancial © papel desempenhado pelo texto em quaisquer hipermidias, can- to em suporce CD-ROM quanto nas redes. Alids, nfo obstance os avangos da WWW, o grosso da informaciio cransmitida pela rede se apresenta na forma de texto, Isso significa que o texto impres- so, cedo ou tarde, ird ser engolido pelo texto digital? Sobre isso, as argumentacdes que Logan, fisico ¢ educador, desenvolveu em 1999 continuam bastante atuais. Para ele, a impressio em papel ainda se sustenca e continuara se sustentan- do se virios facores niio se modificarem daqui para o futuro, Alias, as vendas de livros e de uma profusio de tipos de revistas continuam aumentando. E certo que a informagao que aparece impressa em quaisquer supertes, dos livros aos jornais, foi jun- tada, eserita, editada, diagramada ¢ impressa pela utilizagao de meios eletronicos, mas o suporte em papel ainda parece ser o mais adequado para a leicura de um texto. Apenas mensagens breves sfo confortavelinente lidas em telas de monitores. Quan- do textos muito longos sio enviados de um compurador a outro, via de regra, o leitor faz uma copia impressa do texto nao por questdes de arquivamento, mas certamente para poder ler com mais facilidace, Logan diz que a razdo disso encontra-se no fato de que ler idade natural, por textos em monitores de video nao é uma ati causa do modo como o cérebro processa a informagio em video. Ler € uma atividade executada pelo lébulo esquerdo do cérebro, enquanto ver forma¢io cadificada em um video é uma ativi- dade executada pelo Idbulo direito. Os impulsos de luz que compem © mosafco precisam ser rejuntados pelo lébulo direita para criar uma imagem. Ha, pois, um conflito em ler direra- mente de um monitor. Por isso, o livro em papel é por enquan- to um suporte imprescindfvel, de modo que a internet nao 295 OMI co UNGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE 296 substituiré o livro para a distribuigaa de material longo, mas sera a midia privilegiada para mensagens curtas em formato multimidia, O caso de artigos em revistas especializadas nio é 6 mesmo que © dos livros, pois, como arquives para informacio e conhecimento, as revistas foram superadas pelos meios eletrd- nicos €, com a internet, foram também superadas como meios de distribuigio, Quanto mais aumenta a largura das bandas, a internet vai em igual medida também aumentando seu potencial hipermididtico, convertendo-se cada vez mais em meio de transmissao paca dados multimidia interactives. Quando as bandas eram ainda estreitas ¢ a WWW nio havia dado inicio ao seu ceinado, o CD-ROM ser- viul tanto como meio de armazenamento quanta como um recurso de smise-en-scéne da interacividade. Com o aumento da largura das bandas, a internet apresenta maiores vantagens que o CD-ROM. Neste, a informagao fica comparativamente congelada e niio pode ser atualizada. Por isso mesmo, 0 CD-ROM € mais adequado para pacotes educativos ou de entretenimento produzidos ¢ distribuf- dos do mesmo modo que o sfo livros e CDs de musica e filmes, embora estes tiltimos também jd estejam circulando cada vez mais livremente pelas redes ¢ os iPods estejam engolindo voraz- mence os CDs de miisica. Um dos maiores especialiscas em hipermidia no Brasil, Sér- gio Bairon, cem defendide ideias bastance originais acerca dos potenciais abercos por essa nova linguagem, Em sew livra Co- ahecimento e bipermidia, a ser langado pela Edusc, o autor corajo- samente questiona tanto o consenso secular de que a “racionali- dade cientifica sé pode ser apresentada a partir da construcio légica de um texto” verbal quanto o divéreio também secular entre estética € conhecimento ciencifico. Tais questionamentos justificam-se porque a hipermidia, por sua prépria natureza, necessariamente nos desloca da exclusividade do texto verbal linear, assim como, para a sua constru¢ia, nos obriga a enfren- tar quest6es estéticas, pelo simples fato de que a linguagem digital nos arranca da inércia do repetfvel. DO TEXTO IMPRESSO A HIPERMIDIA Por isso mesmo, Bairon busca atualizar as interprecagies de cunho teérico-metodoldgico sobre os conceitos de estética, auto- tia € processes criacivos, reconduzindo-as para o ambito das tec- hologias digitais, tendo em mica celacionar esses canceitos com a pesquisa cientifica ¢ instaurar novas reflexdes sobre as interse- gGes contemporaneas da ciéncia com a arte, © alvo do autor encontra-se na abertura de horizontes para novos processos criativos de pesquisa e divulgaciio do conheci- mento em meio as tecnologias digitais de comunicagio. Acte- ditando que “o amadurecimento da utilizagio dos recursos digitais como estratégia de pesquisa e de producao de ambien- res necessita profundamente de uma andlise metatedrica para que varidveis e fungGes possam ser discutidas e, aré mesmo, avaliadas no meio acad@mico", Bairon categoriza suas discus- sdes em fundamentos filoséfico-teéricas, tedrico-metadolégi- cos, metodolégico-tedricos e récnico-merodolégicos. Proceden- do assim a uma releicura teérica do conhecimento cientifico, compativel com a promogao de mudangas institucionais, 0 au- tor busca incentivar e justificar o desenvolvimenco das com- peténcias necessdrias & criagio de ambientes digitais. Com isso, pretende que seu livro possa instrumentalizar as ins cSes para se insurgir contra a separagao enere manifestagées artisticas € cientificas, encre escrita, de um lado, e imagem/sam, de outro. Equilibrando com justeza a discussie dos conceitos com o seu tescemunhe metodolégico de expert na ctiagho de hipermidias, Bairon também dedica grande parte do liveo a leitura e interpre- tagao iluminadoras de hipermfdias brasileiras e alemas, Em meio a0 questionamento da oniporéncia da escrita mecodoldgica como © representante institucionalizado do saber da ciéncia, Bairon esrd lucidamente ciente de que o salto que propde “nao se situa simplesmente no dominio dos recursos cecnolégico-digitais ou, menos ainda, na exploragiio estético-vanguardista que movimen- tos artisticos sempre investigaram. © salto esta localizado na apropriagao desses recursos como investigagdo, come caminho 297 OMNES LUNGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE 298 possivel ao desenvolvimento do conhecimento cientifco", um tipo de conhecimento que encontra hoje todas as possibilidades 12 de hibridizar ciéncia e arce com a mesma fluidez com que as lin- Buagens se engendram mucuamente na hipermidia. O TEXTO EM AMBIENTES DE HIPERMIDIA Nos sem links sao livros. Adrian Miles esde a invengao da fotografia no século XLX, 0 mundo foi cada vez mais se povoando de imagens. As peliculas fotofilmicas, as publicidades de rua ¢ as impressas em jornais ¢ revistas € nas telas eletrénicas levaram a proliferacdo de imagens a tal extremo que a soberania do texco verbal escrito, a hegemonia do livro como meio de transmissio da cultura ¢ do saber, sustentadas desde a invengdo de Gutenberg, pareciam para sempre perdidas. Embora nao se possa negar que a quancidade de textos produzidos no século XX seja imensa, os meios de impres- silo nao podem competir com o plano espetacularizado das ima- gens. Por isso mesmo, para muitos, 0 século XX foi o século das imagens e da proeminéncia dos meios audiovisuais. Encreranto, nofinal doséculo XX, umanovidade surpreenden- te estava reservada para o texto escrito. Os processos de digita- Lizagdio do computador absorveram-no, provocando sua migragio para as telas das monitares. Ao ser absorvido para esse novo supor- te, O Lexto passou por transformagées, por verdadeira mudanga On ‘cao UNGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE © TEXTO EM AMBIENTES DE HIPERMIDIA 300 de narureza na forma do hipertexto, isto €, de vinculos nao Li- neares entre fragmentos textuais associativos, interligados por conexées conceituais (campos), indicativas (chaves), ou por metd- foras visuais ({cones) que remetem, ao clicar de um borao, de um percurso de leicura a outro, em qualquer ponte da informagao ou para diversas mensagens, em cascatas simultaneas e interconecta- das, Essa forma, hoje corriqueira gragas aos recursos computacio- nais, estava apenas ensaiada de modo rtimido e rudimentar nas gtandes enciclopédias ainda presas 4 pesada materialidade dos ausceros volumes em papel-biblia. Além disso, o hipertexto passou, hé alguns anos, a coabirar com os multimeios, misturas de sons, cufdos, imagens de todos os tipos, fixas e animadas, configurando os ambientes de hiper- midia. O que se tem af € uma linguagem inaugural em um novo tipo de meio ou ambience de informagio no qual ler, per- ceber, escrever, pensar ¢ sentir adquitem caracteristicas inédi- tas (Landow, 1994, p. 11). A escrita suméria tem cerca de cinco mil anos; a industrializagio da escrita pela tipografia eo Livro, quinhentos anos; a estocagem ¢ © tratamento eletrénico dos meios de comunicagio humana (imagens e sons), pouco mais de cinquenca anos, Quanto 4 digiralizagdo, essa linguagem universal que permite tratar rodos os tipos de informagio sob um mesmo principio, suas primeéiras aplicagées comerciais nao tém ainda duas décaclas (Rosnay, 1997, p. 92). A acelerada ex- pansio da hipermidia nos Gltimos anos permite prever o papel que ela deverd desempenhar na culcura emergente e fucura dos ambientes virtuais. O objetiva deste capitulo é apresentar o histérico de desen- volvimento do hipertexto, descrever suas caracteristicas © seu porencial, avaliar as transformagdes incroduzidas em relacio as tradicionais formas do texto escrito, apresentar alguns modelos de construgio informacional de hipertexto e as mudangas nos processos interativos de leitura e de cognicao que eles acarre- tam €, por fim, analisar seu comportamenco nos ambientes de hipermédia. 1. 0 PROCESSO DIGITAL O primeire passo para a compreensdo do hipertexto esta no processo digital. Este se constitui hoje em um novo senso comum. Na sua forma analégica, uma informagao (a maneira de uma onda sonora que se deslocasse no ar, de uma onda ele- tromagnética ou de um sinal elétrico) é uma grandeza fisica que varia e evolui no tempo de maneira continua. A digitali zagao consiste em dividir essa grandeza em pequenas fragées, mediante seu valor em intervalos regulares (para a mtisica de um compact disc, 40.000 vezes por segundo), Em seguida, € necessdrio quantificar esse valor, atribuinde-lhe um cédigo informatico sob forma bindria, isto é, ucilizando apenas dois nuimeros, 0 e 1 (sits da informagio). O sinal digital craduz-se assim por um fluxo de bits estocado em um disco /aser e agru- pado em pacotes, sendo suscetivel de ser tratado por qualquer computador, Por meio de digitalizagio, quaisquer fontes de informagio podem ser homogeneizadas em cadeias sequenciais de 0 e 1, Essas cadeias sido chamadas de Sits. Um dit nao tem cor, tama- nho ou peso e € capaz de viajar 4 velocidade da luz. Bo menor elemento atémico no DNA da informagio. E um estado: ligado ou desligado. Os éi#s sempre foram a particula subjacencte 4 compucagio digical, Além da universalizagio da linguagem, a digicalizagao possui pelo menos dais outros méricos: de um lado, a compressao de dados, fendmeno suplemenctar que permi- te, de maneira cada vez menos onerosa, estocar ¢ fazer circular uma enorme quancidade de informagio; de ourro, a indepen- déncia da informagao digital em relagdo ao meio de transporte. Sua qualidade permanece perfeita, seja ela transmitida por fio de telefone, onda de radio, sacélice de televisao, cabo etc, Foi a digitalizagio computacional que ofereceu o suporte perfeiro para a operacionalizagao do hipertexto. 301 Con 30 UNGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE O TEXTO EM AMBIENTES DE HIPERMIDIA 302 2, AS ORIGENS DO HIPERTEXTO De acordo com o minucioso histérico das arigens do hiper- texco e da hipermfdia, elaborado por Braga (no prelo), tomado como base para a sintese que serd apresentada a seguir, o ele- mento fundamental, capaz de caraccterizar a linguagem hiper- textual, ese no acesso 4 informagdo de maneira nao-linear. Tal acesso pressupée a nogio de hiperespago, cuja origem remonta ao conceito de espago hiperbélico, “ineroduzido em L704 e feutilizado no século XIX pelo matemarico F, Klein para de- monstrar um ramo da geomecria que trabalha com espagos multidimensionais”. Esse é justamence o tipo de espaco que apresenta forces analogias com "o espaco ocupado no mundo fisico pela meméria humana". As origens do hipertexto, na sua forma contemporanea em suporte computacional, estao ligadas a essa analogia com o funcionamenco da meméria e podem ser encontradas nos trabalhos dos precursores Paul Oclec, Vanne- var Bush, Douglas Engelbart ¢ Ted Nelson, Foram esses pes- quisadores que comegaram a desenvolver os primeiros supartes para a ideia de um arquitexto, quer dizer, “um meio de acesso 4 informagio através de vinculos associativos que unem um de- terminado assunto a outro sem a existéncia de hierarquia entre 08 tépicos”. Nos anos 1930, Paul Otlet e Henri La Fontaine fundaram em Bruxelas o Inscituco Internacional de Bibliografia, que ci- nha como base ideias que Otlec havia comecado a desenvolver no final do século XIX. A proposta do insticuto era gerar “uma nova perspectiva no processo de dacumentacao e acesso & infor- macao”. Visavam, assim, “A criag&io de um repertério bibliogra- fico universal, catalogando todas as obras de todos os tempos, de todos os pafses abrangende todos os dominios, separados por autores € por assunto”. Para isso, precisavam de um processo de classificagdo eficaz, que foi enconcrado no aperfeigoamento do método de classificagao decimal de Melvin Dewey. O universo das coisas é dividido em dez classes principais nu- meradas de 0 a 9 e cada um deles é subdividido em outras dez @ assim sucessivamente, tanto quanto a precisdo do assunto exija. O estudo de Otlet a classificagdo decimal atingiu tama- nha profundidade a ponto de tomnar-se uma linguagem numé- fica e receber a denominacao de Classificagaa Decimal Univer sal (C.D.U.), num estudo muito semelhante ao dos cinco pilares da informagae, enunciado por Richard Saul Wurman como o Uinice método de desenvolver o processo de arquitetura da in- farmagao (Braga, ibidem). A ideia organizadora ¢ classificadora de Paul Oclec era na reali- dade uma ideia unificadora capaz de tornar toda informagdo mun- dial acessivel em um mesmo local. Para que isso fosse alcancado, entrecanco, faltava um suporte mével. Por isso, Orlet buscou ma- terializar o hiperespago, embora nao fosse essa a denominagio em- pregada. Em seu livro-testamento, Tratads de documentagzo, 0 Livro sobre o divra, o autor descreveu uma estacao de trabalho que muito se assemelhava 4 mulcimidia no contexco do hipertexto, com refe- réncias claras ao que seria mais tarde a incerner: Aqui 4 mesa de trabalho no ha nenhum livro, no seu lugar ergue-se um ecra & bem 4 maa um telefane. Mais longe, em um edificio imenso, encontram-se todos os livros e todas as informagoes. Daqui fazemos aparecer, no ecrd, a pagina do |i- vo que se deve ler para conhecer a resposta colocada por te- lefone, Um ecré seria duplo, quadruplo e décuplo se se tratasse de multiplicar os textos e os documentos a confrontar simulta- neamente. Haveria um alto-falante se a visdo tivesse de ser auxiliada pela audicao (apud Braga, ibidem). Em 1945, alguns anos depois da fundagao do Institute In- ternacional de Bibliografia, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, o cientista americano Vannevar Bush buscou novas maneiras de aplicar tecnologias de informagéo emergentes em fins humanitarios. Suas formulagdes para isso apareceram em um 303 OWI cd0 LINGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILDADE 304 artigo intitulado “As we may think”, publicado no Adlawtic Journal, no qual o autor desenvolve a ideia de uma rede de conhecimente global, um dispositive chamado Memex (memory expander}, que ajudaria a humanidade na organizagio, documen- tagao ¢ recuperagao do cada vez maior volume de informagées. Bush percebeu que os sistemas de armazenamento da infor- macho sao arbitrérios, enquanto a meméria humana opera por associagdes. Para ele, importantes informagdes ao conhecimento humano estavam se tornando inacessiveis e ocultas em virtude da rigidez dos suportes que as sustentavam, Tragou assim um comtraste entre os suportes fixos ¢ 0 suporte mente, propondo um novo modelo de armazenamento e€ recuperacaio da informa- ¢io, no qual a informacdo é sempre acessada através de vinculos entre o$ temas no exate momento em que se faz necessdria, sem hierarquia entre os copicos, mas com a exatiddo de estar em um suporce fisicamence vidvel (Braga, ibidem). Desse modo, o Memex tinha por fungio suplementar a me- métia pessoal, Trata-se de um dispositive no qual uma pessoa arquiva todos os seus livros, discos e comunicagé um mecanismo que pode ser consulcado com velocidade e fle- s através de xibilidade, Para Bush, 05 usuarios do Memex eram os pionciros da informagao, fazendo buscas pelas bibliotecas e registros oficiais da nagdo, Com isso, o conhecimento universicdrio crescetia exponencialmente, a um ritmo assustador, ao criar cadeias de associagées “linkadas” para futuras geragées de pes- quisadores e estuciosos, O Memex nunca foi finalizado; no entanto, deixou a ideia de um sistema pessoal de extensio da meméria, que permitiria que seu usudrio pudesse selecionar e armazenar caminhos associativos. Esses caminhos poderiam vincular concetidos documentados € as prdprias notas de comentério do usuario, de uma maneira semelhan- te ao funcionamento da mente (Cotton e Olivier, 1997, p. 30). it infor- Embora o Memex cenha sido planejado para registrar ¢ exi macio com a hoje ultrapassada tecnologia do microfilme, a inven- gao de Bush (“hiperlinkar” e associar informagdes de maneira sequencial) formou a base do hipertexto, teemo que ainda iio existia e foi cunhade por Theodor Nelson, em 1974. O primeiro a tentar implementar computacionalmente as ideias de Bush, foi Engelbare, do Instituto de Pesquisa de Scan- ford, em 1963. Para ele, o computador é capaz de amplificar o repercério humano de habilidades, linguagem, merodelogia e treinamenco. Elementos fundamentais dos sistemas que criouw estavam na manipulagio de simbalos ¢ estrucuragéo mental, ambos fundamentais para o hiperctexco. Dez anos depois, em 1973, no Palo Alto Research Center (PARC) da Xerox, Califérnia, Alan Kay, um discfpulo de Van- nevar Bush, intreduziu a interface grafica do usuario (GUI) no primeiro computador pessoal do mundo (The Xerox Alto Compu- fer) ligado & primeira rede de area local (Ethernet). O Atto ja sintetizava muitos dos elementos cruciais daquilo que mais tar- de seria chamado de “hipermidia”, juncdo do hipertexto com a multimidia, esta formada pela justaposigao de cextos, sons € imagens das mais diversas ordens, Os elementos cruciais sio: a.a ilusiio de imergir o espectador em uma representagio gtifica da imagem; b. recursos grdficos, som e texco interativos; C. sistemas autorais que facilicam a criagéo de hipermfdia em um ambiente interative, conforme serio explicicados mais a frente, Dessa forma, segundo Braga (ibidem), a histéria do hiper- texto e da hipermidia é também a da tecnologia que possibili- tou criar um suporte com todas as caracterfsticas do hiperespago para o armazenamento ¢ a recuperagio de textos, Quando essa possibilidade se tornou realidade, em 1974, Ted Nelson criou 0 termo “hipertexto”, que define um arquirexto dentro de um espaco hiperbélico. Nelson argumentava que os leitores nao deveriam ser constrangidos pela eserutura do assunto ou pela estrututa de conhecimento do autor na construgiio do signifcado ‘O TEXTO EM AMBIENTES GE HIFERMICIA 305 Cah 30 UNGUAGENS LIGUIDAS NA ERA OA MOBILIDADE © TEXTO EM AMBIENTES DE HIPERMIDIA 306 informativo. A escrucura do conhecimenco de cada individuo é idiossincractica, de modo que cada qual deveria estrurutat a in- formagao de maneira que lhe faca sentido. Visiondrio, Nelson ainda sonha colocar toda a literatura do mundo on-fime em um sistema gigantesco de hipertexto, 3. TRACOS DEFINIDORES DO HIPERTEXTO. S8o muitos os cragos que definem o hipertexto, Para sinceci- zd-los, podemos enfatizar dois deles: sua alinearidade e a intera- cividade que propicia. 3.1, 0 carater nao-linear do hipertexto Em vez de um fluxo linear de texto, o hipertexto quebra essa linearidade em unidades ou médulos de informacao, consiscin- do em partes ou fragmentos de textos. Aestrutura do texto em madelas de extensao da memoria é ndo-linear, pais a sequéncia dos conteddas é decidida pelo usuario e nao mais pela arbitrariedade do autor de um livra, registrado no suporte impressa e obrigatoriamente linear. O usuario entra em um sistema de caautoria do material que é exposto a ele. Ainda que ele nao tenha o controle do conte- Uda interno, a maneira com que é definida a sequéncia dos tdpicos, interligando um contetido a outro em diferentes ordens, define e, por vezes, altera o proprio contexta (Bra- ga, ibidem). George Landow (1994) descreve as principais caracterfsticas da nao-linearidade: topologia, mulcilinearidade, rericularidade € manipulagao. Todas essas caracteristicas s6 podem existir se funcionarem em um suporte hiperespacial que ofereca acesso € mecanismos de insergdo de dados por parte do leitor/usudtio. 307 a. A copologia define-se como a manutengio do rodo inde~ pendente das acdes que o sistema possa sofrer, O fata de nao acessar um dos contetidos, que significa ignorar a sua exiscéncia, nao altera a compreensio do todo ao cér- mino da experiéncia. O hipertexco nao necessita que a sequéncia entre os médulos seja fixa, A nio-obrigatorie- dade de acesso a um contetido especifico garante a manu- rengio do sistema, Nos ¢ nexos associativos (/izks) siio os tijolos basicos da construgao do hipertexto, Os nds sio suas unidades basicas de informagao, Nés de informagio, também chamados de “molduras", consistem em geral naquilo que cabe em uma tela. “Ao ser acessado, 0 espago da pagina, que deve se fazer entender por si s6, compreende o espago entre o inicio da leitura ea préxima possibilidade de vincular documen- ros, ou seja,o préximo fie, b. Aqui entra a segunda caracrerisrica a ser analisada, a mul- tilinearidade, Esta representa uma situacio de exploracao e navegagio do hipertexto em que seguir ou conectar apresentam-se como opgbdes ao usudria. Conrinuar a lei- tura sem utilizar o /ivé ou clicar ¢ Conectar-se a continua- gdo daquela informagdo em outro contexco, ambos fazern sentido, Nesse caso, o médulo de informagao, que Landow chama de “lexia”, pode constituir também um espago en- tre dois /ivés. “Um fin& em uma lexia nao € apenas um vinculo, ¢ um tépico, pois carrega consigo toda uma quantidade de informagao para onde o usudrio sera enca- minhado e também faz sentido dencra de contexto onde estA sendo lido” (Braga, ibidem). Dado 0 carater descontinuo dos nés, os fines se consticuem no tijolo bisico da construgio hipereexcual, Um texto verbal arma-se em um todo coeso gragas aos conectores gramaricais. Um artigo se estrutura em pardgrafos de transi¢ao, t6picos e subtépicos, assim como um livro se Cong SQ UNGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE 308 organiza em capitulos, Do mesmo modo, o hipertexto também tem um sistema de conexdes que lhe € préprio. O propésico basico desse sistema € conectat um né a outro de acordo com algum desenho légico, seja este analdgico, arboreo, em rede, hierdrquico etc. Sao essas conexées, ge- ralmente ativadas através de um mouse, que permitem ao leitor mover-se pelo documento. Ha uma infinita variedade de conexées possiveis, entre as quais, a mais importance € aquela que liga um né a outro no interior do documento. Mas hd as conexdes que ligam o texto a nés ou ainda as conexGes lexicais que ligam regides de texto a nds, entre oucras. Transitando entre informa- ¢Ges modularizadas, reticuladas, as opcdes do caminho a seguir sdo de inteira responsabilidade do leitor, © hipertexto nao é feite para ser lido do comeco ao fim, mas sim através de buscas, descobertas ¢ escolhas. Esse percurso de descobertas, entretanto, nao cai do céu. Pelo contrario, para que ele seja possivel, deve estar suportado por uma estrutura que desenha um sistema multidimen- sional de conexées. A eserutura flexfvel ¢ 0 acesso nao-li- neat do hipertexto permicem buscas divergentes e cami- nhos miiltiplos no interior do documento. . A reticularidade cefere-se ao diagrama do hipertexta que se caracteriza como uma estrutura com o formato de uma rede, como pode ser visualizada no diagrama ao lado, ex- traido de Braga (ibidem). Numa tal estrurura, ndo existem inicio, meio e fim. A exploracio das lexias deixa o usudrio A vontade para ex- plorar apenas um ou varios médulos de informacao. Se- gundo Ted Nelson, isso permite aos leitores analisar o concetide de diferentes pontos de vista ¢ diferentes niveis de profundidade até encontrarem a perspectiva que dese- jam. B cambém uma maneira de nao se precisar escrever para um tipo especifico de leitor, mas escrever ¢ separar ‘© TEXTO EM AMBIENTES DE HIPERMIDIA, diferentes niveis de profundidade relacionados ao assun- to, Com isso, o leitor se aprofunda na medida desejada no contetido de seu interesse (ibidem), . A manipulagado resulea da nao-linearidade ¢ do hipercex- to. 56 € possivel acessar ou, ainda, so é possivel inseric dados se o usudrio puder de alguma forma manipular o suporte em que estd sende visualizacdo o hipercexto, pois conectar-se é ao mesmo tempo inserir, enviar um dado ao hipertexto de maneira que o fizé funciona como um elo de comunicagio entre o usudrio ¢ o hipertexto. O ideal é que o usudrio tenha a liberdade de “falar’ & medida que queita. Assim ocorre o processo interativo em que dois elementos falam, pensam ¢ ouvem (ibidem). 309 cormunig cao UNGUAGENS LIQUIDS NA ERA DA MOBILIDADE 310 3.2. A interatividade do hipertexto O hipertexto € eminentemente interativo. O leitor nado pode usd-lo de modo reativo ou passivo. Ao final de cada pégina ou tela, € preciso escolher para onde seguir. E 0 usuario que deter- mina que informacao deve ser vista, em que sequéncia e por quanco tempo. Quanto maior a interatividade, mais profunda serd a experiéncia de imersio do leitor, imersao que se expressa ha sua concentragdo, atengao ¢ compreensao da informacgia, O design da incerface é feito para incentivar a determinagao e to- mada de decisao por patte do usuario. Segundo Winck (1997, p. 4), nesse contexto, interacividade designa a capacidade do programa de hipermidia para reagic acs comandos do usudrio Diz respeito a qualidade semistica intrinseca as cecnologias que operacionalizam recursos de navegacgio, busca e atualizagao de informagées em um campo de referéncias multidirecionadas. Isso significa que a interacividade em um sistema informacio- nal da ao receptor alguma influéncia sobre o acesso & informa- cdo e um grau de controle sobre os resultados a serem obtidos (Feldman, 1995, p. 6). Hipertexto implica, sobretudo, enorme concencragao de in- formagao. Esta pode consistit em centenas e mesmo milhares de nés, com uma densa tede de nexos. Em um hiperespago, como a interface de um computador, a informacio esté armazenada vir- tualmenre e sd se materializa quando acessada pelo usuario. B como se ela, na sua dimensfo de interface grdfica de usuario, existisse em um Supotte que nao ocupa um lugar no espago. Assim, a tinica interface exiscente € aquela que aparece tempo- rariamente no monitor. Entretanto, a grande flexibilidade do aco de ler um hiper- texto — leitura em transite — pode se transformar em desorien- tagdo se o receptor nao for capaz de formar um mapa cognitive — mapeamento mental do desenho estructural do documento. Para a formagio desse mapa, contude, ele precisa encontrar pegadas que funcionem como sinalizagdes do derign do hipertexto. OTEXTO EM AMBIENTES DE HIPERMIDIA Por tris das intervencdes que o usuario realiza existe um de- \ign informacional que, de certa maneira, orienca 0 campo de pos- sibilidades que um hipertexto abre para o usudrio. Segundo Schlusselberg e Harward (1995, pp. 99-104), existem pelo me- nos trés niveis de design: conceitual, interativo ¢ visual, a, O design conceitual depende, antes de tudo, do programa de autoria que o designer utiliza para criat um hipercexto. No seu primeiro est4gio, o design conceitual envolve a es- pecificagao dos objetives, contetido ¢ metaforas. No segun- do, o design deve identificar as metiforas ou analogias que irda guiar o usudcio no seu processo ce navegacao. Nesse mesmo estagio cem-se o processo de divisdo do contetido em segmentos que mapeiam as metiforas cal como elas esto expressas na estrucura do ambiente de autoria, b. O design interative especifica como o usuirio afetard ¢ sera afetado pelo hipertexto e como sua interagio dard suporre as metdforas subjacentes. c. O design visual determina a aparéncia do hipercexto, vi- sando & manipulagio eficaz de elementos visuais para a comunicagéo da informacdo de modo claro ¢ atraente. Em correspondéncia com aquilo que Schlusselberg ¢ Harwaed chamam de “design”, Bettetini et al. (apud Scolari, 2004, pp. 203-207) chamam de “espagos do hipercexto”: espaco logico, espago atuado e espago visivel. a. Oespaco légico relaciona-se com a estructura da rede hiper- textual € as conexGes que uncm os textos que a compoem. b, © espaco atuado refere-se 4 proposta pragmitica da inte- ragao polisequencial dentro do hipertexto, Um tipo de inte- racdo da qual resulta um modo polifénico de ler que é decer- minado por um modo de fazer. 311 OMeCS0 LINGUAGENS LIQUIDAS NA ERA 0.4 MOBILIDADE 312 ¢. O espago visfvel é o espaco condensado de cédigos € lin- guagens diferentes que permitem ao usudrio o jogo de remes- sas metonimicas entre o particular e a estrucura geral, Evidentemente, o texto impresso em um livco também apre- senta um derign ou espago visfvel. O livro possui uma série de dispositivos paratextuais, como a numeragdo das péginas, o su- mario, o indice onomastico, a bibliografia, as notas de codapé etc., que orientam a atividade do leitor (Scolari, 2004, p, 209). Além disso, ha as margens e a mancha do texto na pigina. Esses dispo- sitivos ganham enorme riqueza semidtica quando o texto é im- presso em jornais e reviscas, dada a complementaridade do texto com as fotos, imagens, ciagramagdo da pagina e variagées de ti- pos grificos, Todos esses dispasirivos se constituem nas interfaces que sdo préprias do livro, do jornal e da revista. Ff curioso notar que deve ter sido o advento do hipertexta que nos tornou mais atentos a existéncia das interfaces visuais em quaisquer textos impressos. Conforme nos alerta Chartier (1996), depois de varias décadas de teorias puramente semanti- que tratavam o texto independentemente de seu suporce sico, os estudiosos das préticas culturais comegaram a conside- rar os efeitos de sentido gerados pelas formas materiais inerentes aos textos. Entretancto, em tempos de hipertexto, um mesmo texto, quando passa do suporte impresso para um suporte digital, ja nao é realmente o mesmo, pois os novos dispositivos formais modificam suas condigées de recepgao e de compreensio. Além de a interface visual ganhar novos atributos, esse detigy visual incorpora signos orientadores para a interatividade da qual se origina uma leitura polif6nica, para usarmas a expressiio cunha- da por Scolari (2004, p. 211), Embora os detigus ou espagos interativos e visuais sejam os mais evidences, o design conceitual ou espace légico € responsavel pela estrutura organizacional e cognitiva do hipertexeo, Por isso mesmo, esse design, que também pode ser chamado de “design da 0 TEXTO EM AMBIENTES DE HIPERMIDIA, 323 arquitetura informacional”, preocupa as pessoas envolyidas na produgdo de hiperrextos e hipermidias insrrucionais, Para guiar tal produgao, Jonassen (apud Shirk, 1995, pp. 85-86) fala em ipertextos. Para o modelos informacionais a serem aplicados aos aucor, hd dois tipos de modelo: o modelo desenvolvido dedutiva- mente e o desenvolvido indutivamente. O modelo dedutivo estrutura a informagio segundo um pro- cesso top-down que toma o contetido ou o conhecimento do espe- cialista coma ponto de parcida. Assim, o hipertexto replica o conhecimenco do especialista na sua propria estrutura, de modo que apresente um mapeamento do dominio do contetida. O modelo indutivo segue um processo batton-xp baseado na observagdo de como os usudrios navegam e assimilam informa- gdes dos hipertextos. Isso significa buscar os padrdes de acesso ¢ suas relagGes com as diferengas individuais a fim de usar essas informagSes como varidveis, Na mesma linha de preocupagio, a proposta de Wright e Lickorish (apud Shirk, 1995, pp. 87-89) busca evidenciar que as estrucuras discursivas inerentes ao conretido de um hipercex- to influenciam as opgdes de design em termos de selegio de con- teddo. As aucoras icdentificam quatro estrucuras discursivas que sao titeis para a producao de hipertextos instrucionais. a. Estruturas textuais com alta coesio, Sio estruturas que parcem de uma visao linear da cognigao e fazem uso de metéforas mentais andlogas aos livros. Nessas estrucuras o usudrio salta para informagées relacionadas, mas valea SeMpre para OS PONtos exatos em que comegou a procurar a informacio adicional, b. Escruturas cexcuais modulares. Consideram que a mente humana crabalha em blocos e sdo compostas principal- mente de médulos independentes de informagio, evi- denciande analogias com a enciclopédia ¢ empreganda metaforas de arquivo. As conexdes siio feicas de médulo a médulo, ‘onus cao UNGUAGENS LIQUID: 314 NA ERA DA MOBILIDADE c. Estruturas textuais hierdrquicas. Apresencam uma confi- guragae em cede ¢ encorajam o escabelecimento de rela- ges entre diferentes significados ¢ pedagos de informagio. As conexées numa tal esttucura sfo feitas de cima para baixe, ou vice-versa, em um ramo da hierarquia ou na passagem para um outro ramo. d. Estrucuras rextuais multitemdcicas, Apresentam grande variedade de opgies para organizar a informagio. Elas po- dem ser usadas para cruzar informagées verbais e visuais e pensadas como muleidimensionais, o que corresponde a metifora do livro eletrénico, As conexies sao criadas pelo prdéprio usuario no seu processo de navegagio para atender suas necessidades e inceresses. Se modos de identificar di- ferentes categorias de conexdes ou de perceber a informa- ¢ao de um ponco de vista particular nfo siio fornecidos acs usuarios, o resultado pode ser bastante confuso. Mas é esse tipo de estrutura que encoraja miiltiplas visdes cognitivas da informacao. As estrucuras textuais com alta coesio apresentam-se & ima- gem e semelhanga do texto impresso em um livro; Trata-se de uma organizagao linear que dé ao leitor a escolha de se mover para a frente ou para tras enquanco se dirige para um fim pres- crito. A maioria dos estudos sobre texto € textualidade tomam como base tanto esse tipo de estrutura quanto a estructura hie- rdrquica, esta baseada em tépicos ¢ subcépicos que enfatizam visGes de conjunto a partir das quais se caminha para informa- gGes cada vez mais especificas As estrucuras textuais modulares ¢ as mulcitemat! iS, por seu lado, so mais representativas do hipertexto. Embora nada impe- ¢a que um hiperctexto se estruture hiecarquicamente, as escrutu- tas modulares ¢ multitematicas é que sao capazes de fazer jus ao seu porencial multidimensional. E esse porencial que cem levado muitos estudiosos a comparar o funcionamento por meio de co- nexées associativas do hipertexto com a modo como o cérebra OTEXTO EM AMBIENTES DE HIPERMIDIA trabalha, isto é, um cipo de organizagio que mimetiza a escrucura da meméria, Evidentemente, esse funcionamento sé se petfaz porque o design l6gico de um hipertexto deve prever a margem de libercade incerativa do usudtio. O que deve haver, portanto, é um equilibrio entre os dispositivos de orientagao para a leitura € 0 porencial para as escolhas polisequenciais do leitor. E em virtude disso que o labicinto tem sido a mais habil entre todas as metdforas para descrever o hipertexto (ver Leto, 1999), pois, no labirinto, o prazer de se perder s6 pode ser intensificado. quando apoiado na expectativa persistente de que a promessa de um alvo a set atingido sera eventualmente cumprida. Ao considerar o hipertexto & luz do labirinto, Machado (1997b, pp. 149-151) apresenca trés cracos definidores do labi- rinto, extraidos de Rasenstichl (1988, pp. 252-253), que sao extensivamente também definidores do hipertexto: o convite & exploragiio, a exploragaio sem mapa e A vista desarmada ea ince- ligéncia astuciosa. a. Explorar o hipertexto significa encregar-se ao fascinio do percurso, tenctando esgotar toda a extensio de seus locais € voltar a pontos percorridos para se ter alguma seguranca. Para Machado (1997b, p. 150}, tal atividade assemetha-se ao préprio pensamento, pois “pensar é também percorrer um labirinto (de ideias, de memdrias, de criagdes da ima- ginagio ete.), é investigar exaustivamente e descobrir al- ternativas, € ainda explorarc as varias possibilidades ¢ exa- minar o problema de toclos os seus angulos”. b. A exploragio € sem mapa e 4 vista desarmada porque o labirinto nao permite prever a geometria dos lugares. Sem a visio global do labirineo, pois o todo é inaleanga- vel, torna-se necessdrio fazer cdlculos locais, de curco al- cance, para decidir o que fazer a seguir. c. Por fim, para conseguir progeedir no interior do labirinto sem cair mas armadilhas das infinitas ciccunvolugdes, o 315 CMU 9 LINGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE 316 viajanre precisa exercitar uma inteligéncia astuciosa, fa- zendo anotagées, calculando os seus passos Por tudo isso, nos sistemas cibernéticos o conceito de texto sofre mudangas substanciais. Embora um elemento textual pos- sa ainda ser isolado, sistemas baseados em computador sao pri- mordialmente interativos em vez de unidirecionais, abertos em vez de fixos, O didlogo, regulado e disseminado pela computa- (Ho digital, tira a énfase da autoria em favor de “mensagens em circuite” que tomam formas fixas, mas efervescentes e continua- mente varidveis. A conexio entre mensagem e substrato se per- de: as palavras em uma pagina impeessa sao fixas, um texco em um terminal é prontamente alrerdvel. O cexto dd a sensagao de ter side dirigido a nés. A mensagem em circuito é tanto dirigi- da quanto dirigivel por nés; 0 modo é fundamentalmente ince- tative ou dialégico (Nichols, 1996, p. 127). Isso ocorre porque um computador pode recuperar infor- magéio de qualquer parte de sua RAM (Random Access Memory) em menos de um milionésimo de segundo. Com um disco tigido, ele pode demorar um milésimo de segunda, A veloci- dade digital nos cega, diz Holtzman (1997, p. 169). Com tal tapidez de acesso, € tio facil saltar de uma pagina para outra quanco da primeira para a altima, de uma pégina de um do- cumento para ourra pigina de qualquer outro documento. Em menos do que um piscar de olhos pode-se salcar “de Pla tao para a salsicha”, como diz Umberto Eco. Qualquer coisa armazenada em forma digital pode ser acessada a qualquer tempo e em qualquer ordem. A nilo-linearidade é uma pro- ptiedade do mundo digital. Nele nao hd comeco, meio ou fim, Quando concebidas em forma digital, as ideias comam formas nio-lineares. A chave mestra para essas sintaxes da descontinuidade se chama “Aiferfiné", a conexfo entre dois pontos no espago digital, um coneector especial que aponta para outras informagdes disponiveis, e € o capacitador essen- cial do hipertexto. 0 TEXTO EM AMBIENTES DE HIPERMIDIA A partir da primeira metade dos anos 1990, quando nao ape- Jus texto, mas imagem, som e animages passaram a ser visua- lizados na tela do computador, todos eles acessdveis através de links, o hipertexto transmutou-se em hiperm{dia. Hoje, cada vez menos os hiperdocumentos estio constituidos apenas de cexto verbal, mas integrados em tecnologias que sao tapazes de produzir e disponibilizar som, fala, rufdo, graficos, desenhas, foros, videos etc. Essas informagies mulcimidia ram- hém constituem os nés, Assim, os nés de informagio podem apa- recer na forma de texto, graficos, sequéncias de videos ou de dludios, janelas ou de misturas entre eles. A ideia de né, por isso mesmo, nao é uma ideia de medida, mas modular, dependendo de sua funcionalidade no contexco maior de que faz parte. Um né pode ser um capitulo, uma secao, uma tabela, uma nota de roda- pé, uma coreografia imagécica, ou qualquer oucra subestrucura do documento. A combinagio de hipertexco com multimidias, multilinguagens, € que passou a ser chamada de hipermidia. A hipermidia é, portanto, uma extensio do hipertexro, Fla vai além da informagao escrita, permitindo acrescentar aos tex- tos no apenas os mais diversos grafismos (simbolos matemdti- cos, notagdes, diagramas, figuras), mas também todas as espé- cies de elementos audiovisuais (voz, musica, sons, imagens fixas e animadas). Em ambos os casos, o termo “hiper” se feporta A estrutura complexa alinear da informagio. 4. DO HIPERTEXTO A HIPERMIDIA Hipermidia significa “a integragdo sem sururas de dados, rextas, imagens de todas as espécies ¢ sons dentro de um tinico ambiente de informagao digital" (Feldman, 1995, p. 4). ‘Trata-se de conglo- meraclos de informagiio multimidia de acesso nao sequencial, nave- Haveis através de palavras-chave semi-aleatérias. Sio assim um pa- radigma para a construgio coletiva do sentido, novos guias para a compreensao individual ¢ grupal (Piscitelli, 2002, p. 26) SUE conc do LINGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE 318 A hipermidia s6 se cornou possivel porque, ao longo das al- timas décadas, o vocabuldrio bindrio foi muito expandido, para incluir bem mais do que apenas niimeros e mesmo letras. Dife- rences tipos de informagéo, como dudio e video, passaram a ser digitalizados, reduzindo-se também a uns € zeros (Negroponte, 1995, pp. 18-19). A compressao informatica e digital, como foi visto no tépico 1, baseia-se no fato de que um sinal conrém grande niimero de informagées intiteis ou redundantes. Pela ab- servagao dos # no cempo, no espage ou em ambos, pode-se remover as repetigées, comprimindo desse modo a forma basica do som e da imagem, até memo comprimindo ¢ descomprimindo, codificando e decodificanda mensagens em video. Essa miscura de dudio, video e dados € que recebeu o nome de “hipermidia’, pois nasce da jungao do hipertexto com a mulrimidia. Hipermi{- dia se refere, portanca, ao tracamento digital de todas as informa- goes (som, imagem, texco, programas informdticos) com a mesma linguagem universal, uma espécie de esperanto das maquinas. Tendo sua base na digitalizagio, foram dois os facores que Jevaram a emergéncia da hipermidia: a hibridizagao das tecno- logias e a convergéncia das midias. a. Warios setores tecnologicos e varias micdias anteriormente separadas convergiram para um tinico aparelho. Com a digitalizagiio da informagio, um fax, uma impressora a /aser, wma fococopiadora, uma secretaria eletednica, um Scanner, um computador podem convergir em uma tinica maquina. O sistema de leicura do seauner é utilizado pelo fax; o sistema de impressdo a /aser, pela impressora ou forocopiadora; o modem, pelo telefone. Os prognésticos das convergéncias no param ai. Através do acasalamento da informdtica com a televisio ¢ as telecomunicagdes, deverao aparecer sistemas hibridos em co-evolugao acelerada, entre os quais, a iminence jungao da televisio ¢ do computador em aparelhos méveis. 0 TEXTO EM AMBIENTES b, Antes da digicalizagio, os suportes eram incompativeis: papel para o texto, pelicula quimica para a forografia ou filme, Fira magnética para o som ou video. Atualmente, a transmissio da informago digital é independente do meio de transporte (fio do celefone, onda de radio, satéli- te de celevisio, cabo). Sua qualidade permanece perfeica, diferentemente do sinal analdégica que se degrada mais facilmente; além disso, sua estocagem € menos onerosa. Por isso mesmo, um dos aspectos mais significativos da evolugio digital foi o répido desenvolvimenco da multi- micdia, que produziu a convergéncia de varios campos mi- didricos tradicionais. Foram assim fundidas em um unico setor do todo digital as quatro formas principais da co- municacéo humana: o documento escrico (livros, periddi- cos clentificos, jornais, revistas); o audiovisual (televisao, video, cinema); as telecomunicagées (telefone, satélites, cabo); € a informatica (computadores ¢ programas infor- mAaticos). E esse processo que cem side referido através da expressdo “convergéncia das midias”. Se nas enciclopédias ¢ mesmo nos livros impressns s6 com mui- to esforco a imagem poderia se desprender da fungio subsididria de iluseradora das ideias, na hipermidia ela pode comparecer em sua plena poténcia, ainda mais amplificada pela animagio; movimento resultante da computacao na morfogénese das imagens que gesti- culam. Na hipermidia, fotos, desenhos, gréficos, sinais de transico interno, formas em multiluz-cor, texturas, sombras ¢ luzes ld estado para orquestrar sentidos. Palavra, texto, imagens fixas e animadas podem complemencar-se e intercambiar fungGes na trama de um tecido comum. Como se isso nfo bastasse, a hipermidia pode im- portar sons, vozes, musica, rufdos e videos. Tudo isso é ent&o or- questrado em ambientes 3D em cujas arquiteturas 0 receptor imer- ke em processos de busca propositada ou aventurosa. e ainda acencuar é o faco de que toda mistura de © que linguagens da multi e hipermidia esta inegavelmente fundada ERMIDIA, 319 COMbcJo LUNGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE 320 sobre crés grandes fontes basicas: a verbal, a visual e a sonora. Tanto é assim que os programas mulcimédia (softwares) Literal- mente programam as misturas de linguagem a partir dessas trés fonces primordiais: os signos audiveis (sons, mtisicas, rufdos), os signos imagéticos (todas as espécies de imagens fixas ¢ ani- madas) e os signos verbais (orais € escricos), Longe de ser apenas uma nova técnica, um novo meio para a transmissdo de contetidos preexisctentes, a hipermidia é, na realida- de, uma nova linguagem que nasce da criagio de hipersintaxes ca- pazes de refuncionalizar linguagens (textuais, sonoras, visuais) que antes s6 muito canheseramente poderiam estar juntas, combinan- do-as e retecendo-as em uma mesma malha multidimensional. Toda nova linguagem ttaz consigo novos modos de pensar, agir, sentir. Broranclo da convergéncia fenomenolégica de todas as lin- guagens, a hipermidia significa uma sincese inaudiea das matrizes da linguagem ¢ pensamento sonoro, visual e verbal, com todos os seus desdobramencos e misturas possiveis (ver Santaella, 200L). O que essas misturas acarretam € a cransformagao tanto daquilo que se costuma chamar de texto, quando se romam como base as estru- turas do texto impresso em livro, quanto daquilo que chamamos de “imagem”, pois, conforme nos alerca Parente (1993, p. 96), “a imagem, tornada meio de escrita ambigua, nao deve nunca mais ser vista como narural, distraidamente vista, mas deve ser, a partir de agora, atenciosamenre ida, analisada, comparada a seu contexto, como aprendemos a fazé-lo no campo da eserica”, 5. AHIPERMIDIA E 05 PROCESSOS DE NAVEGACAO NAS REDES No inicio, os sistemas hipermidia sé podiam ser armazenados no computador ou em um suporte externo, o CD-ROM, mas quando os sistemas multimicia em rede comecaram a se desenvol- ver, come na WWW, a internet adquiriua capacidade de fornecer interacividade hipermédia. Depois de colocados em formato digi- tal, quaisquer dados hibridos (texeuais, sonoros, visuais) podem © TEXTO EM AMBIENTES DE HIPERMIDIA ser sinctetizados em qualquer lugar e a qualquer tempo para pro- duzit produtos com idénticas cores e sons. Desse modo, os dados independem do lugar e cempo de sua emissdo original ou de uma destinagao determinada, pois so realizdveis a qualquer tempo e em qualquer espago. Sao telegrafiveis. O estabelecimento de conexdo celefénica entre terminais de memorias informatizadas ¢ 1 extensio das redes digitais de transmissio permitiu que esses signos hibridos, digicalizados, fluidos, reconfiguraveis 4 vontade, passassem a circular no novo espago de comunicagao das redes locais © mundiais que ampliam, a cada dia, um espago mundial no qual todo elemento de informagio encontra-se em contato virtual com todas e com cada um. De fato, aliada as telecomunicag6es (telefone, satélites, cabo) das redes eletrénicas, a tecnologia da informagio digital condu- viu 4 disseminagao explosiva da internet. Esta, na realidade, re- sulcou da associagio de dois conceitos basicos: o de servidores de informagio com o de hipertexto, © usudrio pode navegar de um texto de um servidor para qualquer outro, bastando para isso seguir alguns prococolos muito simples. Com a tecnologia atual, seja ela CD-ROM multimidia, seja DVD, WWW ou um mundo virtual, o usudrio dirige o ponteico do mouse e clica em uma conexéo iluminada. Uma referéncia informacional imediatamente aparece, Clica-se de um lugar ara ourro, em uma mirfade de caminhos, com o potencial de fastrear um vasto mundo de infermagées, Esse processo intera- tivo é chamado de “navegagao". A navegagao responce a nossas escolhas, A experiéncia de leitura ou de navegacao nio é prede- terminada, ela carrega uma dose de aventura. Portanco, suscentando e ligando a sintese de linguagens que cla permite, a hipermidia pressupde um desenho estrutural para a insercdo interariva do leitor imersive ou nayegador. No seu earicer movence, fluido, submecicdo as intervengées do usuario, as estruturas da hipermidia constituem-se em “arquirecuras li- quidas”, Essa expressio foi cunhada por Marcos Novak (1993) para se referic A modelizagao Iiquida da informagao, aos dados 321 CoM cao UNGUAGENS LIQUIDAS NA ERA DA MOBILIDADE 0 TEXTO EM! AMBIENTES DE HIPEAMIDIA 322 fluides, moventes e plasticos acessiveis ao usudrio 4 medida que este navega na hipermidia, interagindo com os nés e nexos de um roteiro multilinear, multissequencial, mulcissignico (palavras, imagens, textos, documentos, sons, ruidas, misicas, video) e€ labirfncico que o usuario, ele préprio, ajudou interativamente a construir, Ao escolher um percurso entre muitas possibilidades, o leitor estabelece sua co-participacao na produgao das mensa- gens, Tendo em vista essa co-participagio, no livco Navegar no ciberespaga — O perfil cognitive do leitor imersivo (Santaella, 2004b), com base numa pesquisa conceitual ¢ empirica, cheguei & carac- terizagao de trés perfis cognitivos ou estilos de navegagao para o leitor imersive, ou seja, esse nove tipo de leitor que navega de uma informagio a outra no espago virtual ou ciberespago: o na- vegador ou internauta errante, o internauca detetive eo inter- nauta previdente, a. © internauta errante é aquele que navega utilizando o ponteiro magnético do seu instinco para adivinhar, isto é, movimenta-s¢ orientado primordialmente pelas adivinha- gées. Estas sao inferéncias que situam o navegador dentro de uma légica que nao vai além do plausivel, pois a adivi- nhagao, tecnicamente chamada de “abducio", éa mais fra- gil das inferéneias. Embora seja frdgil, € dela que vem a capacidade humana para criar. Assim, 0 navegador errante enfrenta a sua tarefa como quem brinca, explorando alea- toriamente o campo de possibilidades aberro pela trama hipermididtica com o desprendimento tipico daqueles que nao temem o risco de ertar. Vio, assim, em um pro- cesso gradative, substicuindo a perplexidade pelo enten- dimento, isto é, pelo /wsight ainda vago, mas certeiro, de um determinado estado de coisas — no caso, o percurso da navegagao. Navegar cle maneita errance é ficar 4 deriva por causa da auséncia de um rumo predeterminado, o que significa que esse internauta nao traz consigo o suporte da memria, pois ele navega como quem percorre territérios 323 ainda desconhecidos e, por isso mesmo, surpreendentes. Sem o porto seguro da memoria ¢ das regras predetermi- nadas, suas rotas sio idiossincrdticas, turbulentas e, no mais das vezes, dispersivas e desorientadoras. Entretanto, o navegador errante sabe tirar disso um prazer muito pré- prio, tipico do dindi deambulante. . O internauta detective, por seu lado, € aquele que, orien- tado pelas inferéncias indutivas, segue, com muita disci- plina, as trilhas dos indices de que os ambientes hipermi- didticos esto povoados. Os resultados que alcanga resultam do emprego de uma légica do provavel, Como um experimentador ad hor, munido de uma memoria ope- rativa agueada, esse navegador se movimenta no campo do contingente. Suas estratégias de busca sf0 acionadas através de avangos, erros € autocorregdes. Seu percursa se caracteriza, portanto, como um precesso auco-organizati- vo préprio daquele que aprende com a experiéncia, Por meio desse aprendizado, 0 navegador detetive vai gradati- vamente transformando as

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