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ies Abele énoque amazonica INNATE Ana Maria Daou { A Belle Epoque Amazonica Segunda edigao Jorge Zehar Editor | Bio de Janeiro Copyright © 2000, Ane Mais Daou Todor dis wand ‘reproduc nio-sutorcaa dows paisa, "ovoda ow em pare, cona ago Ss eopyege (Le 5.38) 2000 Diets par ens cig contdoe coms Foes Zar Eds Lida for Méates 51 seo 203i 44 Rio de Jono, 8) tes) 20.0226 foe G1) 325128, ‘eran be Capa Carol Sb Seago Cumpante ‘scsi da capa: Bangoeteem Mans 1905. Galegio Lyga Segal Vinee da ao: Hucape de Deer Composigtoceadaice: TopTenos Edges Gufs Lida. inp: Cromosee Gr © Edora Read: 2000 CtP-Bal. Canlopsto-nefone Since Neconl do aloes de iB oow, Ava Maia aap A le Epmgue amas / Ara Ma Daou — Rio de Jing Zar Ed 2000 Th Deseubinde Beh aca igri ISBN 5571105359) 1. Amazonas = Conde ect ~ She X1% 2. nad" Conder conte» Sees XD 3. Ans ona ~ Ure scone = See XDC 4 Cad = Use ¢ erumes~ Solo DE. lie (Goce sci) — As Sonar ea ~ Slo D6. tes (Cena ss) ne Hii Seo XD Til T See (cD 981.15, 9.616 bua. Sumario Intvodusio 7 t O vapor é preciso 12 A belle épcque amazdnica come produto do progresso 16 i © Para, emporio comercial dda grande bacia amazénica 24 Manaus a surpreendente Pats das selvas, 33 Ea vida “era social” 39 Poder e fascinio da dpera 50 Banquetes ebailes 55 | A vida alegre cegada a cerveja 58 Consumidores ¢ fregueses 60 Consideragées finais. 63 Gronolegia 70 Referencias efontes 72 Sugesées de leitura 75 Sobre a autora 77 Mussragies (ere p.48-49) Créditos dos ilustragées 1, Banguete. Acervo Coronel Benevenurto de Souza Ma- sgalldes. Colesao Lygia Segall 2. Panorama de Manaus. Forogeafia de A. Fianna. Album do Amazonas, Governo do Estado do Amazonas, 1902, 3. Avenida Eduardo Ribeiro. Fotografia de A. Fidanza, Alloam do Amazonas. Governo do Estado do Ammonas, 1902. 4. Cena urbana de Belém. Album do Pani. Governo do Extado do Pari, 1908. 5. Porwo de Belém. Album do Pard. Governo do Estado do Pars, 1908, 6. Teatro Amazonas. Fotografia de A. Fdanza, Album do Amazone. Governo do Estado do Amazons, 1902. 7. Teatto da Paz, Belém, Pars Introdugao ‘As histérias aqui reunidas oferecem ao leitor um conjunto de episédios das sociedades amazonense € paraense ocorridos entre os anos 1880 ¢ 1910, periodo correlato Aquele que se convencionou cha- ‘mar de belle époque. Em diferentes pontos do glo- bo, a crenca na prosperidade, no progeesso mate- rial © na possibilidade de que os “males sociais pudessem ser equacionados tecnicamente coroou ‘08 ideais de liberalismo que marcaram todo 0 sé- culo xt. A “bela época” ¢ expressio da euforia e do triunfo da sociedade burguesa no momengo em que se notabilizavam as conquistas materiais e tec- nolégicas, se ampliacari as rédet-de comercializa- gio e foram incorporadas 2 dinimica da economia internacional vastas éreas do globo antes isoladas. Nossas histérias da belle époque amazénica contemplam temas expressivos do significado da riqueza da borracha (ou seringa) e da euforia social dai advinda nas sociedades paraense e amazonense, ue usa oxo embora eu procure mostrar que muitas das trans- formagées que caracterizam o periodo sio ancerio- res ao boom deste produto. Aqui se entrelagam os rios da grande bacia do Amazonas, as expectativas das elites do Par e do Amazonas — identificadas com os ideais liberais e com a creng2 no progresso ¢ orgulhosas da prédiga natureza amaz6nica — 1s interesses de europeus ¢ americanos, preocupa- dos em garantir © acesso a um bem de producio priorieétio para as mais sofisticadas indistrias da 4época e também em viabilizar 0 escoamento de vas- tos estoques de bens industrais. final do Segundo Reinado ¢ as décadas ini- ciais da implantagdo do regime republicano no Brasil compoem o pano de fundo. Sob varios as- pectos, esses anos promoveram as bases das socie- dades identificadas com a belle époque amazénica, quando as elites do Para e do Amazonas — favo- recidas pela crescente aplicagao da borracha na in- diistria automobilistica— ganham visibilidade na- ional ¢ internacional. Consagtou-se, entio, parte de suas expectativas quanto a implantagio de sinais ¢ instrumentos de civiliag2o € progresso para 0 engrandecimento de suas provincias. A aproximacio entre as sociedades paracnse ¢ amazonense nao € imediata, Além da significativa distancia geogréfica, temporalidades ‘sue too arabwicn as circunserevem. Assim, no Amazonas, a elite se cesforgou em anular os 1.600km que separavam a capital, Manaus, do porto do Atlantico, Belém, porta de entrada para o grande vale amazinico. A rivalidade, acitrada no periodo de maiot dinamis- mo da economia gomifera, bem se expressa nas medidas de cariter fiscal que, em 1900, tornaram obrigatério o embarque da borracha pelo porto de Manaus, para que af permanecessem os impostos sobre a exportacio, Além disso, hé descontinuidades entre o Pard 0 Amazonas do ponto de vista das origens sociais dos membros da elite ¢ de sua composigao. No Paré, a elite tradicional era composta por proprie- trios de terras, 0s pecuaristas, e por grandes co- -merciantes, sobretudo os de origem portuguesa, de quem também descendiam muitos dos Funciond- rigs puiblicos e cuja permanénela no Grio-Park re- montava ao século XVil. No Amazonas, inexistiam familias tradicionalmente ligadas & terra, pois se cratava de uma elice de formagio recente, predo- minando os segmentos urbanos, de comerciantes e profissionais liberas. HG, no entanto, pontos de aproximagio que nos permitem falar numa belle époque amazénica, uma 4rea que inclui todo'o Pard € avanga até o +9. territério do atual estado do Acre. Desde periodo colonial, a Amazdnia foi alvo de medidas especi- ficas por parte da metrépole portuguesa: disto € cexpressivo, para a regio, 0 projeto ifumi Marqués de Pombal, que no século XVill promoveu. reformas de cunho econ6mico, politico ¢adminis- srativo para tirara regio da estagnagio econdmica, conjugada 2 um instrumento legal de intervengio sobre os povos indigenas: a lei do Diretério. Tais iniciativas, bastante anteriores ao perfodo aqui tra- ista do tado, mantém-se como importante referéncia para ‘o entendimento de aspectos fandamentais da iden- sidade das sociedades que af se consolidaram, Os anseios liberais das elites amazénicas ante- cedem 0 chamado boom da economia gomiferas mas foi 0 do final do século x0X que Facultow a paraenses € amazonenses 2 aproximagio ¢ 0 contato sistemati- o.com o fluxo da economia internacional. A partir de entio, eles usufruiram — projetando-se como consumidores — do conforto material que carac- terizou a belle époque. [Na apresentagao que se segue, 0 imperativo das 4guas se impée, dando passagem a diversas dimen- sbes da belle époque amazdnica. A navegacao a va- por, percebida e esperada pelas elites como pro- smismo da economia internacional +10 ‘aus enon aazoncn motora universal do progresso ¢ do engrandeci mento de suas provincias, 60 ponto de partida. O vapor leva as novidades as capita, cidades que, na Amazénia, assumem redobrado valor como locus dda atividade civilizatéria, Em Belém ¢ em Manaus, as elites se esforgaram por impor, pela reformas urbanas, os sinais do conforto material e do pro- gresso facilicados pelos negécjos da borracha. rumo das dguas e 0 vapor favoreceram, igualmente, 2 intemnalieacio das redes do meicado internacio- nal € 0 acesso aos rec6ndicos seringais, cémbém. pontos de chegada de navios, embarcagdes meno- tes e mercadorias. As informagées selecionadas nos permitirao re- flecir sobre 0 modo como as elites amazdnicas se inseriram na dinamica do mercado mundial € como viveram a belle époque. Por meio da leitura de periddicos ¢ documentos de época, foi possivel recuperar 0 ponto de vista dos agentes locais, a perspectiva daqueles que viabilizaram a economia gomffera, especialmente nas capitais modernizadas — cenérios favoraveis & invengio de tradigoes © mitos sobre um periodo de excessos, embalado pela Iirica, regrado pela ordem republicana, esti- mulado pelo cosmopolitismo ¢ confiante no pro- ress. 0 vapor é preciso ‘Aré meados do século XIX, a étea interior da pro- cia do Grao-Para (especialmente a que veio a constituir, em 1850, a provincia do Amazonas) permaneceu relativamente isolada de outeas pastes do pais € de outros paises. © acesso era limitado tanto pelas dificuldades técnicas, como pela polt- tica imperial, escritiva & livee navegacio. Entre os anos de 1850 ¢ 1870, medidas do governo central alteraram este quadro de isolamento e de auséncia de iniciativas em relagio 20 vale do rio Amazonas, destacando-se a constituigéo de uma nova unidade administrativa, a introducio da navegasio a vapor na bacia do Amazonas e a abertura do rio principal a embarcagdes de todos os paises. Essa incorpora- fo da regio amazinica ao conjunto do Império relaciona-se com agbes empreendidas pela Coroa no sentido da consolidagio da unidade mondrqui- cae do reconhecimento do territério, No conjunto de privilégios concedidos 20 Ba- ao de Maud, em decreto promulgado em agosto de 1852, estava incluido 0 monopélio da navega- fo a vapor no rio Amazonas por meio da Com- panhia de Navegacio e Comércio do Amazonas, ‘que passou, posteriormente, a operar em conjunto ‘com a Amazon Steam Navigation Company Limi- 2 neue true auzbucs ted, fundada em Londres. Essa inovasio tecnolé- gica — 0 navio a vapor — encurtaré distancias « favorecerd néo s6 a citculagao de pessoas e merca- dorias como, sobretudo, a conexio com o exterior, sendo importante para 0 escoamento da produgio cextrativista regional, em parte consumida nos met ‘cados de Manaus e Belém, em parte exportada para a Europa, Assim como as vias férreas, que em ou- tuos patses e provincias tiveram cariter subsidiério ¢ complementar aos corredores comerciais, a na- vegasdo a vapor na Amazénia cumpriu inegavel- mente este papel Juntamente com a navegacio a vapor, a aber- ura do rio Amazonas & navegacio internacional serd assunto central das negociagées que o Império do Brasil manteve com representantes estrangeiros dos intetesses dos Estados Unidos, da Inglaterra e dda Franga, Estes faciam pressio no sentido de que © governo brasileiro concedesse © livre acesso a imensa bacia, reivindicando uma postura do go- verno brasileiro consoante a0 expansionismo da economia internacional. Essa disputa era objeto de tenses entre segmentos das elites politicas nacio- fais, Por um lado, havia os que advogavam a livre navegagio como promotora do povoamento, das twocas comerciais ¢ da melhoria da navegecdo na regido. Na conttamo dos liberais, estavam os que 23s uses 060) se colocavam favorveis & argumentagio do Impe- rador de que se mantivesse fechada 2 navegacéo no Alto-Amazonas enquanto nao fossem consolida- dos na regido interesses brasileiros capazes de con- trabalancar os estrangeitos, José Coelho da Gama e Abreu — 0 barto de Marajé, ilustre politico paraense, estudioso do Pard € do Amazonas —, favorével & abertura da bacia Ameazbnica, se opés, indignado, 20 argumento do governo americano de critica 4 politica externa bra sileira, “oposta aos interessesliberais das nagies ci vilizadas ¢ amantes do progresso”. Os ameticanos entendiam que “navegar livremente 0 Amazonas, era um direito quase natural, igual ao que cinham, de navegar 0 Oceano”, Natural ou nao, 0 faco € que finalmente, em 7 de setembro de 1867, passa 2 vigorar 0 decrero que abriu os rios Amazonas, Tocantins, Tapajés e Madeira & navegacio,mercan- te universal, © evento foi efusivamente comemo- rado pelas sociedades paraense e amazonense. A abertura dos portos 20 comércio universal nfo resultou na intensificagéo imediata do fluxo de navios. Foram a navegacio a vapor e a rapidez, das comunicagdes daf advinda que faciliraram a chegada de géneros € bens de consumo aos portos amazbnicos, promovendo a multiplicacio de pe- quenos miicleos de povoacio ao longo dos trajetos “ue Ast oaud auaztaca dos navios, especialmente no Paré, Bata 0 bato de Marajé, um nocivel beneficio promovido pela navegacio foi a “melhoria dos costumes”; era sur- preendente, comentava, 2 quantidade de pessoas ‘que deixavam o Amazonas ¢ o Pari para viajar pela Europa eo niimero daqueles que, vindos do Velho Continence, visravam o norte do Brasil. Para o ba- Fo, era gragas & navegacio que numerosas criangas nnascidas na Amazdnia eram educidas no Rio de Janeiro, oa Franga, em Portugal, na Alemanha ¢ nna Inglaterra. Os periddicos de Manaus e de Belém sempre anunciavam a chegada ou a partida de fi- hos das familias de renome para os estudos “fora” Nas duas iltimas décadas do século xix, essas conexses intensificam-se, possibilicando 2 incor- poragao da Amazénia como parte do crescente ‘mercado internacional. O volume de exportagio da borracha comega a tomar destaque no conjunto das exportagies da regio. Ao dinamismo promo- vido pela economia gomifera a partir dos anos 1880, correspondeu a chegada de pessoas, capitais ¢ mercadorias, 0 que facultou para as elites da Amazénia uma situagéo de riqueza e prosperidade Ainicas. A descentralizagio administrativa promo- vida pela instauragio da repiblica deixava para os governos dos estados as receitas advindas da expor- tagio, de modo que, no Paré ¢ no Amazonas, a “18+ cexportagio da borracha gerava uma fase de grande prosperidade das finangas estauais A regularidade das idas ¢ vindas de navios de rmiltiplas bandeiras veio garantir grande parte do abastecimento das duas capitais, favorecendo a im- plantagio de um tipo de gosto ¢ de consumo que valorizava 0 que vinha de fora ¢ enfatizava todos 0s sinais que promovessem uma aproximagao com. as capitais européias, paradigmsticas do progresso ¢ da civilizagio. Os efeitos da encrada do vapor se fizeram notar na ampliagio da tonelagem € na ra- pidez da florilha em relacio as embarcagées tradi- cionais; na dinamizacio das pequenas inchistrias de construgio naval; ¢ na abereura de rios mais pré- ximos as cabeceiras do Amazonas. Onde era farta a ocorténcia das seringueiras, intensificava-se o fla- xo de mercadorias € 0 coméacio fluvial. Cada novo setingal cra também um novo ponto de vendas de bens de consumo. Abelle époque amazinica como produto do progresso E indiscutivel o lugar que 0 Brasil assume no con- junto de transformagées que ento ampliavam sig- nificativamente as éreas do planeta sob influéncia ue eae aac dominio das economias industrais & das crengas € valores a estas correlatas. Antes mesmo da pre~ senga de produtos industriais, dos bens de consu- ‘mo europeus ¢ americanos no cotidiano de socie- dades geograficamente distantes dos centros de produgao, os valores tributérias do credo liberal encontravam adeptos ¢ vieram a formar as bases da aceitagio para que as expansbes européia e ame- ricana encontrassem ambiente particularmente fa- vordvel Essa encrada triunfal teve expressio particular ‘no Brasil, num momento em que se atrelavam 3s transformag6es advindas da dinimica da sociedade liberal em expansio 0 projeto republicano — que, 10 Brasil, expressard a redengio da sicuagio colo- nial ea consoante implantacio de uma nova ordem de progresso. Disso sio exemplares as transforma 6es pelas quais viria a passar a sociedade da antiga Corte do Impétio, 0 Rio de Janeiro, que teria no tragado da cidade, nas formas de sociabilidade da elite € nos efeitos sobre as clases trabalhadoras ex- pressGes dessas mudancas. No encanto, as transfor- ‘magées urbanisticas ocorridas, jf mos anos 1890, nas capitais das distances provincias do Pars e do ‘Amazonas anteciparane estimularam 0 que viria a.acontecer, no inicio do século, na capiral da Re- publica. A atuacio das elites, movidas por expec- a tativas progressistas ¢ estimuladas pelo dinamismo da economia, alteraram de forma marcante a si ‘uagio da Amazénia brasileira. Nos fins do século XIX € inicio do XX, este imenso dominio passaria a dispor de estreita vineulagio com as economias industriais, interessadas na ampliagao de seus mer- cados para 4reas do globo até entéo mantidas em relativo isolamento da dinamica das trocas inter nacionais. Quanto a isso, é certo, a incorporacéo da borracha como matéria-prima de novas indis- trias, advindas da expansio da economia indus- trial, no final do século xix, — em estreta vincu- lagzo com 0 desenvolvimento de novas técnicas aliadas & incorporagio de novas fontes de energia € materiais — seré responsével pela notavel visibi- lidade que teve a Amazénia durante a chamada bel- le époque. ‘A borracha, cientificamente denominada He- ea brasiliensis, & era conhecida dos eutopeus des- de o século XVitl, quando La Condamine (1736) descreveu sua aplicagio pelos nativos da Amazdnia para diversos fins, como na fabricasao de diversos tutenstlios de uso cotidiano, como sapatos e garta- fas, ou no revestimento de tecidos. Desde entao, © produto singulatizou-se pela qualidade de im- permeabilizagao © pela inestimével elasticidade. Para que a aplicagio industrial da boreacha viesse 18. ABEL Erocue aazOnic a ocorrer, foram necessarias, no entanto, investi- gages e pesquisas que, finalmente, permitiram tomar o produto mais estavel, nao-vulnerével, por exemplo, as alteragbes da temperatura ambiente. Seu uso foi ampliado a partir da vulcanizagio, ra- ramento com enxofie € calor feito por Goodyear (1839), que promovia maior durabilidade das qua- lidades elisticas do ldtex. Por toda a segunda me- tade do século, ampliou-se cada ver mais 0 uso da borracha. Na Exposigo Universal de 1876, em Paris, a borracha foi exibida como produto incorporado pela técnica, como macéria-prima de pneus em vei- culos movidos 2 cavalo. Antes mesmo da ampla vulgarizagio do auromével no inicio do século Xx, © uso de luvas de borracha foi uma importante conttibuigio para a assepsia médica. Preservatives sem costuras longitudinais se difundirar na Ingla- terra vitoriana, facilitando o controle da natalidade € da transmissio de doengas venéreas. Bernard Shaw referiu-se a tal protecao de borracha como a maior invenséo do século xix. ‘Ainda em meados do século, a borcacha jé ocu- pava a pauta de exportacio como um entre os nu- ‘merosos produtos extrafdos da fauna e flora ama- zbnicas, De acordo com:sua pureza € densidade, era classificada em trés tipos: a sernamby, de qua- s19- lidade inferior; 2 entrefina: a Pard extra fina, vam- bbém chamada fina ou Para fine, categoria utlizada nas cotagées internactonais para o melhor latex da Amazonia. crescimento gradativo do volume e do valor da produgio da seringa foi criticado por diferentes administradores e politicos do Par e do Amazo- nas, pois roubava bragos 2s aividades tradicionais Em seus comentarios se revela 0 desconforto pro- movido pela “febte” da seringa — que implicou a reduc de outrasatividades produtivas (por exemn- plo a agricultura, a criagao, 2 pesca e 0 proprio extrativismo) ¢, igualmente, da comercializagio de productos por elas gerados, como peles e gorduras de animais, seivas e dleos vegetais, ervas medic nis, peixe seco, castanha-do-Pard ¢ cacau. As crlticas, no entanto, pouco interferiram nos acontecimentos, ¢ por toda a Amazénia as ativida- des ligadas & extragio e & comercializagio da bor- racha se impuserama, mobilizando um enorme nie mero de pessoas e vasto capital. Alterou-se a mor- fologia social, a0 se deslocarem para a Amazénia trabalhadores que, rio acima, ajudariam a format novos seringuis. Fstrangeizos ali se fixaram, sobre- tudo nas duas capitais, sendo em grande parte os responséveis pela volumosa importagio de bens de consumo ¢ pela exportagio da borracha — estando 20. ‘eu rogue stn envolvidos, inclusive, na vinda, pata as capitais, do Tirex coagulado, ow seja, as bolas de borracha que cram embarcadas para o uso industrial. A bortacha foi, sem divids, um macerial do progresso, participando da produgio dos mais mo- dernos bens industriais, expressivos dos avangos da técnica ¢ do dominio da natureza pelo homem. Foi também o vefculo do progresso material das lites amazénicas, proporcionando-thes uma inser- sfo particular na dinimica das trocas materiais € simbélicas. Foi a economia da borracha que facul- tou as elites das duas provincias (a do Amazonas € a do Grio-Pard) uma aproximacio social e cul- tural com a Europa, jé de muito cultivada; orgu- Thavam-se da riqueza promovida pela floresta — 0 tex da seringueira, este “dom da natureza”, entio monopolizado pela produgéo amazdnica que os conecrava, afinal, com 0 que havia de mais expres- sivo das conquistas do século xix. Era um salto qualitativo para aqueles que, hé pouco mais de trés décadas, queixavam-se do isolamenco e clamavam pelo comércio entre os povos. O litex constava da confeccio dos produtos mais expressivos da inventividade humana. Ele aagtegava uma série de caracteristicas que o tornava umn produto de particular importancia para a pro- ducio industrial ¢ para muitas das formas de con- sate sumo que passariam a ocupar um lugar de destaque ‘como exptessio de “civilizacio “e “progresso”. Para as elites amazénicas, redobrava-se 0 valor do sen- timento de compartilhar dos acontecimentos ¢ pe- culiaridades de uma época marcada pela crenga de {que 0 progeesso material possibilitaria & humani- dade resolver todos os problemas com razao e bom O texto de William Irvinsabaixo transctito, pu blicado em uma revista americana em 1907, foi cra- duzido © inserido no Album do Pané, uma publica- ‘20 do governo estadual de 1908, Naquele momen- 0 08 pregos da borracha amazdnica ji comegavam a baixat, pressionados pela entrada da producéo asidtica no mercado internacional. A exaltagio do artigo ¢ significativa por sintetizar uma idéia cara & lite da borracha: a de sua participagéo na constru- sao da “vida dos povos civilizados”. Poderiamos, a rigos, prescindir de vestimentas © de calgados impermedveis; mas, se nao tivéssernos mais borracha, serlamos obrigados a renunciar a freios pelo ar comprimido, ¢ a vida dos viajantes de extcadas de ferro ficaria exposta a excessivos perigos. O desaparecimento dessa maravilhosa substincia seria ainda muito desastroso para a in- iiseria das bicicleas e dos automéveis.. Enfim, me tus roa aati esse duplo desastre nada seria comparativamente & perturbagio universal, que transtornaria as mais cessenciais condigbes de existéncia dos povos civi- lizados, ¢ as comunicagbes cléricas ficariam de- finitivamente interrompidas sobre toda a super- ficie do globo. Nao haveria mais despachos pelo fio aéreo ou pelo cabo submarino, néo terfamos mais luz eldrica, nem mais transmissbes a grande discincia da forga produsida pelas eachoeiras, se 4 substincia isolance por exceléncia que permitis- ses cortenteseléttcas. viesse a desaparecer com pletamente, ou pelo menos cesssse de ser produ- ida em assaz grande quantidade para que a ine iistria possa compricla por pregos razodveis .. As avaliagbes sobre as perspectivas da exporea- fo eas possibilidades de quebra do monopélio, muito embora fizessem parte do repert6rio dos vé~ rios agentes comerciais de nacionalidades diversas ‘que percorreram o interior, consideraram as van- tagens da produgio amazénica, € no chegaram a alterar os rumos do processo que promoveu. 0 Amazonas, o Paré ¢ seus representantes nacional e internacionalmente. Afinal, entre 1898 ¢ 1900, 2 borracha foi responsivel por 25,7% dos valores das exportagoes brasileiras, sendo superada apenas pelo café (52,79). 123. Na primeira década do século XX a Amazinia perdeu 0 monopélio da produgio da borracha Este é assunto para um outro livro, mas é impor- ante destacar o episédio do traslado da Hevea bra- siliensis em 1876, quando sementes enviadas de Santarém chegaram ao Jardim Botanico de Kew, Inglaterra, onde a seringa foi cuidadosamente es- tudada e aclimatada para o cultivo no Sudeste asié- tico. © resultado deste exercicio de racionalizasio foi a quebra do monopétio amazdnico da produ- sf0 de borracha, uma vez que esta regio nao lo- grou 0 mesmo éxito no controle técnico da pro- ducio. A consequéncia foi o répido declinio das exportages amaz6nicas, anunciando o fir de nos- sa belle époque equatorial 0 Para, emporio comercial da grande bacia amazénica AAs cidades foram, em todos os patses, os cenérios mais espetaculares da belle époque. Intervengées turbanfsticas modernizaram ou renovaram suas fei- bes, expressando 2 realizagio dos anseios e do de- sejo das elites em se mostrarem progressistas ¢ afi- znadas com 0 gosto europeu. No Brasil, a renovacio das cidades, 0 afastamento das classes pobres dos, ome ge roe nazar limites urbanos, a implantagio de uma estética que rompe com os padroes coloniais e o cosmopolitis- ‘mo sfo parte de um vocabulétio comum is cidades progressistas transformadas pelo urbanismo técai- co, pelas medidas higienizadoras ¢ pelas muitas medidas de controle social; a modernizagio da ci- dade do Rio de Janeiro é, a esse tespeito, emble- mética. Embora estas iniciativas também tenham se feito presentes na Amazdnia, & preciso ressaltar a especificidade de sua consolidagao nas duas ca- pitais, Belém e Manaus — de historias tradigoes ‘muito distintas, ainda que igualmente favorecidas pela economia da borracha. Santa Maria de Belém do Grao Paré foi fun- dada no século XVII como uma cidade-fortalera, ‘uma das iniciativas do império porcugués que savam & defesa da regiso setentrional da colbnia, objeto de sucessivas dispuras entre franceses, ho. landeses ¢ espanhéis. Quando, em meados do sé culo Xvi, 0 sdbio La Condamine desceu 0 Ama- zonas, reconheceu no Pars uma cidade com “ruas bem alinhadas, casas risonhas, magnificas igrejas”. Em 1751, com a chegada do novo governador, ‘Mendonga Furtado — irmao do marqués de Pom- bal, imbufdo do projeto iluminista de restaurar a Amazbnia —, a cidade ascendeu a capital da uni- dade administrativa agora denominada do Grio 225+ ard ¢ Maranhéo, diretamente ligada a Lisboa & destacada do Brasil Neste momento, chegam & cidade vitios car- t6grafos e engenheiros, um corpo de profisionais ¢ téenicos que atuaria nas comissoes de demarca 40 do tertitrio amar6nico. © faro de Belém ter se tornado 2 capital ¢ expressivo da eficcia pre- tendida em selagao aos conttoles do tertitério ama- zénico ¢ do lugar que 0 aspecto urbano assumia no projet pombalino. Muicos dos técnicos per- ‘maneceram no Pard ¢ estabeleceram descendéncia, ampliando as bases da elite paraense. A cidade ga- rnhou novos contornos ¢ foi objeto de investimen- tos para a regularizacio dos espagos piiblicos ¢ a implantagio de espagos e instituigées sinalizadoras do poder, refazendo-se, na capital do Grio-Pard, © urbanismo monumental da capital do reino. O naturalista Alexandre Rodrigues Festeira, em sew Viagens filsifice, apresenta minuciosas vistas aqua- reladas € o plano geral da Cidade do Paré, 0 qual, mesmo em sua expansio durante o século XIX, manteve 0 padto proposto pelo urbanismo por- tugués. Em 1859, a cidade, com seus 25.000 habitan- tes, causou boa impressio a0 estudioso Avé-Lalle- ment, a quem chamou a atengio 0 magnifico pa- licio do presidente, por ele considerado um dos +26. ae ave aunzinca melhores edificios do Brasil — numa cidade onde registrou haver “ruas de bom aspecto, casas dist tas, igrejas vetustas, um antigo convento”, como lemos em seu No rio Amazonas —, muito embora nada the suberaisse 0 ar antigo ¢ portugués. Nela, tudo parecia velho! Causavam-Ihe espécie as ma- neiras de trajar dos homens ¢ mulheres no Pari: vvestiam-se pela titima moda francesa, com caudas € anguinhas, fraques ¢ cartolas. Nas casas de fa- milia havia sempre um piano, ¢ bandas marciais tocavam hinos patridticos; estas marcas do que Avé-Lallement chamou de “europeizagio” accn- tuar-se-iam nas décadas seguintes, com 2 amplia- ‘io do mimero dos que a elas tiveram acesso. Pou- cos anos apés a estada de Avé-Lallement na cidade, Hasting, um major americano responsével pela vinda de confederados ameticanos para o Pars, foi ‘mais favordvel em suas observagGes: a0 passar por Belém, impressionou-se com a imponéncia da dade, suas longas avenidas arborizadas com man- gueiras frondosas, numerosas pracas piiblicas ilu- ninagio a gis. Na tiltima década do século xtx, a cidade, aos olhos dos paraenses, ainda deixava a desejas, na ‘medida em que, sob muitos aspectos, mantinham- se os t1agos do utbanismo colonial reconhecidos por seus visicantes, Na “era dos engenheiros”, quan- on do a borracha tornava palpavel o progresso, 0 Pars se modernizou. Jovens paraenses — engenheiros, militares de ideologia positivista —, articulados «em redes nacionais de relagao com seus coleges de formaséo estabelecidos na capital da Repiiblica, promoveram ou respaldaram as alteragées que im- primiriam 3 cidade os sinais da nova ordem do pro- Pm obra de 1895, 0 bario de Marj descrevia em minticias as mudangas que transformaram Be- lem na tiltima década do século xtx, propiciando, a partir de entio, uma alteragao positiva da “pros- peridade publica”, a “purificagao de nossos costu- mes" © 0 aperfeigoamento dos espfritos. Sua opi- nigo encerra as observagies do historiador e do po- litico cuja atuagio na Intendéncia Municipal de Belém, logo apés a inscauragio da Republica, cer- tamente favoreceu as transformagées a que sc re fere. Com orgulho, enfatiza as inovagoes promo- vidas pelas tltimas administragées do periodo re- publicano, financiadas por uma “lisonjeira” eco- nomia em que os impostos advindos da exportagio, permaneciam na esfera da administragio estadual ‘© 0s oriundos da importacio eram da esfera da ad- ministracio federal. Ampliaram-se as ofertas deen- sino, superando-se com isso 0 petfodo em que a instrugdo piiblica era tio insuficiente que “obriga- +28. ee EroQUE AMABONCA ‘yas pais a mandarem os filhos para o estrangeiro”. Sein diividla, 0 barao se referia 20s filos das fami lias dos segmentos mais abastados, os pecuaristas do Paré ou aqueles oriundos da crescente classe media, sedentos de educagio formal como parte fandamencal de suas trajetérias em busca de posi- so ¢ prestigio social, Foi 0 caso da maioria dos fillios da elite de Manaus, onde faltavam as marcas de distingZo advindas da riqueza da terra No fim de 1894, o Paré (leia-se Belém) era uma ‘dade com érea igual a Madci, cortada por amplas avenidas ¢ grandes estradas direcionadas para os ‘novos baitros que recebiam as familias em proceso de clevagao social. Pragas ajardinadas, edificios da administragio publica, varias escolas, hospitais, asilos e cadeia compunham as instituigées de con- tole ¢ reprodugao social. Completavam o conjun- to urbano, com seus servigos ¢ numerosas ativida- des, os estabelecimentos industrias, casas bancé- tias ¢ firmas seguradoras, ¢ ainda as companhias de servigos urbanos: celégrafos,telefonia,linhas de bonde e estrada de ferro. As quase 100.000 pessoas que viviam em Belém dispunham ainda de insti- tuigdes culturais © recreativas, religiosas ¢ laicas. Nas docas do Pard chegavam duas companbias in- glesas, fazendo de dez em dez dias a navegacio para Lisboa, Havre, Liverpool, Antuérpia, Nova York, +29. Maranhio, Cearé, Pernambuco ¢ Manaus, além da navegagio costeira até 0 Maranho e da linha in- glesa com vapores semanais do Rio a Pernambuco, Pardé e Nova York, ‘A transformagio radical pela qual Belém passou cestendeu-se ainda por toda 2 primeira década do século XX, de modo que a renovagéo urbana con- cietizada pelos engenheiros republicanos € 0 cos- ‘mopolitismo facilitado pela intensificagdo da ex- portacio promoveram, pelo menos entre os paraen- ses, a sensagio de que Belém era uma das melhores cidades do Brasil. Era indiscutivel 2 prosperidade visivel nas ruas, na monumentalidade das avenidas, a cuforia reeratada na agenda dos acontecimentos, culturais e sociais, conforme registravam os jornais Como resultado da expansio da economia da borracha ¢ do crescimento geral das finangas do estado, a elite de fazendeiros, comerciantes, pro- fissionais liberais e grandes scringalistas passou a viver na capital. As medidas modetnizadoras ¢ a reforma urbana impuseram cestrigées as camadas ‘mais populares, © centro histérico foi mantido em. sua escala ¢ tragado do perfodo colonial, e am- pliou-se o perlmerro da cidade em ditesdo ao porto — afinal, a parte da cidade que melhor expressava, co dinamismo econdmico e as atividades de impor- taco e exportagao que garantiam a riqueza da mu- nicipalidade. 130+ eu roast mazoM Em 1907, Belém contava com 192.230 habi- tantes. No porto do Pard, o termémerto da vice- jante economia, o vaivém de pessoas ¢ mercadotias, era grande: das 36.026 pessoas que entraram no estado naquele ano, quase 11.600 permaneceram nna capital, absorvidas pelas atividades comerciais € pelos estabelecimentos industrais. embelezamento da cidade resultava de alte- rag6es urbanisticas © arquitetOnicas estimuladas pot uma legislagio que procurava modernizat os ‘espagos piiblicos ¢ dotar de certas caracteristicas as construgées, imprimindo, nas fachadas dos pré- dios, clegancia estétca, graciosidade e uma tacio- nalidade condizente com as necessidades de ven- tilagao € higiene exigidas pelo clima. Antonio Le- ‘mos, intendence de Belém, em relatério de 1905, comentava, desgostoso, o desequilibrio estético de parte dos edificios, sugerindo sua demolicSo ¢ in- centivando 0 apuro arquiteténico nas novas edifi- cages, O apelo reve ressoniincia, as restrigées se impuseram e, de fato, no cenério urbano de Belém © Manaus do inicio do século, consagraram-se as fachadas que expressavam a incorporagio de novas técnicas, dos principios de higiene ¢ das normas cestéticas. Novos materiais de construgo chegavam da Itilia, de Portugal e da Franga, de onde vinham sat também muitos dos profissionais que cuidatam de cexccutar as alteragGes de estilo. E importante considerar a dimensio moral das ‘ransformagées urbanas, no sentido de impor re- gras de conduta e habitos de higiene e racionalizar 10 uso dos espagos puiblicos. O cédigo de posturas previa multas para os que jogassem aguas utilizadas, © quaisquer tipo de dejetos nas ruas, € 08 jornais anunciavam o horério em que passariam 0s carros de coleta do lixo, a ser posteriormente incinerado. “Apesar das medidas, em 1893 0 célera produ- ziu muitas vitimas em Belém; na primeira década do século xx, Belém ¢ Manaus eram grandes focos de febres palustres, especialmente a maléria, que dizimavam sobretudo os estrangeitos, desprovidos de imunidade. Para solucionar o problema — que difamava a cidade ¢ amedrontava seus moradores, —, 0 governo promoveu uma campanha de erra- dicagao do impaludismo, solicitando os servigos de Osvaldo Cruz entre 1910 e 1911, Contudo, jd no préprio inicio do século xx, quando os postais eram uma das expressées mais vivas da sociabili- dade brasileira, entre as imagens que circulavam nos cartées, exibindo os sinais do novo € da mo- dernidade, nfo falravam as vistas coloridas de Ma- naus ¢ Belém — como aquelas encontradas pelo socidlogo Gilberto Freyre em feiras de Lisboa. sae ets freoue nwadiea ‘Manaus, a surpreendente Paris das selvas A continuidade histérica entre a povoasio de For- taleza de Sao José do Rio Negro, fundada no século XVIll, €a capital da provincia do Amazonas nfo é imediata, caso se busque na povoacio 0 caréter ut- bano, a permanéncia dos prédios ou dos sinais das instituigées do Império portugués e, depois, do Império brasileiro. Nesse aspecto, a diferenga entre Belém ¢ Manaus € acentuada. Nio ¢ inusitado 0 fato de que, mais do que Belém, Manaus seja con- siderada a “capital” da borracha, pois foi na ocasiéo do boom deste produto que a cidade ganhou visi- bilidade, projetando-se internacionalmente como uma cidade moderna, dotada de sofisticados meios de transporte e comunicacéo. ‘Como vila ou cidade, Manaus teve seu nome submetido & alternncia de dois critérios: 0 da lo- calizagdo geogrifica na Barra do Rio Negro eo que privilegiava a referencia & ocupacéo da drea por in- digenas, entre eles os Manads. Com a criagéo da provincia do Amazonas em 1852, a cidade da Barra do Rio Negro tornou-se sua capital ¢, em 1856, a Assembléia Legislativa provincial sancionow a lei que mudava © nome para Manaus. O fato foi mo- tivo de comemoracio para a populasio, pois, como tegistrou o periddico Estrela do Amazonas, sae sa uaa e6ou cem setembro de 1856, “todos acham o nome Ma- rnads mais nosso, mais significativo”, A escolha pri- vilegiava mais a referéncia aos grupos indigenas ‘que ali viviam — Barés, Passés, Banibas e Manaés (Sendo esta iltima a tribo sobre a qual a dominagio, portuguesa havia sido mais contundente) — que a pouco linear histéria politica ¢ administrativa da provincia ¢ da cidade que seria sua capital, Era marcante a precariedade das ruas estrcitas entrecortadas por igarapés, a simplicidade do ca- sario ea exclusividade do pequeno comércio. A -morfologia social era marcada pelo cardter disperso da populagio, que permanecia boa parte do ano pelas matas, dedicada as atividades de colera, caca « pesca. Todas essas caractetisticas sf0 temas recor- rentes nos registros dos viajantes que por ali pas- saram até a década de 1880. O crescimento da po- pulacao da capital, notavel no fim dos anos 80 (quando a cidade tinha 38.720 habitantes), nao alterou, do ponto de vista da implantagao urbana, uma atitude diante da natureza menos de inter- vengio do que de adequagao — pela falta de re- ‘cursos ou de iniciativas. Manaus ndo era de modo algum objeto de admiracio por parte da elite que ali vivia, que falava da cidade como uma “aldeia” esonhava com um espago urbano em tudo distante do que ela evocava de mais forte: a presenga im- 236s te oe aunzOMc pertinence da natureza por toda parte. As vésperas da proclamagio da Repiblica, a cidade permanecia acanhada, constrangida espacialmente pelo rio, para onde estava voltada Entre 1892 ¢ 1896, durante a administragio do jovem matanhense Eduardo Ribeiro, um enge- nheiro militar, Manaus foi transformada. Foram introduzidos mecanismos legais que visavam a pro- mover um melhor controle do espago urbano ¢ a nortear a ocupacéo de novas éreas, garantindo as- sim 03 rumos da expansio urbana. Reduziu-se a indiscriminagao quanto ao que era comum as casas de “brancos” ¢ “fuscos", a luz do que propunha o novo cédigo, evidenciando-se as diferengas so- ais, Go mais visiveis na dilkima década do século XIX, © Cédigo Municipal de Manaus, de 1893, for- nce as indicagées de uma cidade pensada como “modema”. Ele nao é apenas um instrumento de agdo sobre o espago; € também um artificio para a consecugdo de uma nova sociedade. Por um lado, restringia posturas ¢ habitos indesejéveiss por ou- tro, estimulava aticudes mais apropriadas 2 uma “cidade sonhada” e adequada a0 “progresso” € & ordem pretendidos. Os novos bairros previstos eram inteiramente distintos da implantagéo anterior, pautada numa 235. ligagio tradicional com o rio. Ruas largas em tra- «ado eto significavam, o mais das vezes, uma ati- tude de acéo sobre a natureza, submetendo 20s tra- balhos de canalizagio as Aguas dos igarapés que di- vidiam a antiga cidade. O novo modelo urbanis- tico adotado cra baseado num tragado em forma de tabulciro de xadrez, ¢ as obras, a partir dai, f- zetam com que colinas fossem aplainadas, 0s iga- rapés, aterrados, ¢ as tuas avangassem em direcko 2 mata. A cidade passou a ter dois patamares: um voltado pata o tio ¢ outro que dele se distanciava, incorporando as éreas de mata ao quadriculado do novo tracado. O eixo principal, inicialmente de- nominado Avenida do Palécio, quando inaugura- do cm 1901, recebeu posteriormente 0 nome de Eduardo Ribeiro, numa homenagem péstuma. ‘Chamado pelos moradores da cidade simplesmen- te de “Avenida”, indicava o centro simbélico da nova cidade entio concebida. A Manaus modernizads atendia particular- mente aos interesses da burguesia e da elite “tra- dicional”, vinculada as atividades administrativas ¢ buroctéticas. Foram implantados vitios servigos urbanos: redes de esgoto, iluminagao clétrica, pax vimentagao das ruas, citculagao de bondes e 0 sis- tema de celégrafo subfluvial, que garancia a comu- +36. nicagio da capical com os principais centros mun- diais de negociagio da borracha ‘Muitos dos que foram para o Amazonas na dé- cada final do século XIX € no inicio do século xx —estrangeirosligados & exportacio e & importagio ‘ou funcionaios das firmas prestadoras de servicos urbanos ¢ de navega¢io, ¢, em menor mimero, profissionaisliberais — passaram a viver nos novos bairros, nos quais as ruas seguiam o tragado geo- métrico previsto na carta, livte da trania dos iga- rapése de aspecto mais salubre que o antigo centro, Mesmo a construcéo das casas refletia um estilo de vida distinto, com uma nitida separacio entre os locais de moradia ¢ os de trabalho, valorizando-se as esidéncias situadas em amplos terrenos ou ché- caras. No estilo das casas e na disposigao dos jar- dins ¢ pomares, expressava-se a diversidade das ori- gens dos que ali passaram a viver: ingleses, ameri- canos, libaneses e, também, exportadores dé bor- racha, médicos brasileiros. A regularidade ou 0 onto em comum entre todos esses recém-chega- dos advinha tanto de sua posicéo de estrangeiros ‘quanto de seu comportamento mais marcadamen- te individualista, o que se expressava nos modelos familiares e nas trajetdrias dos filhos, comparat- vamente ao que predominava entre as familias jé “a cestabelecidas. Formava-se um conjunto ruidoso e cosmopolita. Das iniciativas promovidas por Eduardo Ribei- ro depreendem-se as bases de uma significativa al- teragio das representagbes e expectativas em rela- so 4 cidade, considerando-se 0 que fora, por exemplo, a cidade provincial: cla no & mais o locus onde se constituird a elite, onde se implantarao os sinais embleméticos do Império. A elite j& conso- lidada apropria-se agora da cidade que conquistou como lugar privilegiado de consagragio da distin- fo, seja pelo consumo de bens ¢ servicos sofisti- cados, seja pelo contato e interagio com os nego- ciantes da borracha e muitos viajantes que deram seu carter cosmopolita, ou ainda por ser este mais, € mais o lugar privilegiado do investimento sim- bélico de individuos que se articulam como geupo. ‘A cidade conquistada enunciava a efetiva viabili- dade de civilizago em to remota paragem: ho- mens “civilizados” vivendo numa cidade suberaida, a selva circundante, embelezada e favorecida pelas benesses do consumo da engenharia urbana de- senvolvida por europeus € norte-americanos. A in- tervengio urbana promoven, aos olhos dos que ali viam, a superagio de um atraso histérico, Gragas homogeneidade no estilo, nas funsées ou nos uusos que tiveram os novos espacos, adveio uma 238. nu roa enzo representacao de ample e inequivoca aceitacao para os amazonenses sobre a “Manaus antiga”. Este € 0 cendtio urbano da “Belle époque manauara”, por vvezes denominado de “Manaus moderna”, As condicbes particulares em que se realizou a belle époque na Amazénia apontam para um pe- rfodo em que cidades como Manaus ¢ Belém da- vam provas evidentes de bem estar, prosperidade ec conforto doméstico. O crescimento das duas ca- pitais € sem diivida emblemético do progresso ¢ da acto controladora do empreendimento civiliza- dor sobre a floresta, como sugeriam ou espelhavam 0 suntuosos edificios-monumento, os jardins pui- blicos, as avenidas ¢ 0 casario renovado. Ances dis- s0, apesar das expectativas em relagZo ao uso das riquezas da floresta ou & possibilidade de explora~ ‘0 agricola da Amaz6nia, nada houve comparivel, a efervescéncia social, & excitagao, que a economia da borracha promoveu, expondo de forma inédita, nacional ¢ internacionalmente, as sociedades ama- abnicas. Ea vida “era social” “Na Manaus antiga, a vida era social.” © comen- tério € de uma senhora amazonense nascida em 239. 1900, cuja familia ¢ vivéncia dividiam-se enere Porcugal € 0 Amazonas, e que teve parte de sua educacio recebida na Europa. Ele sintetiza a efer- vvescéncia da sociabilidade na pequena Manaus da virada do século, renovada pelo affuxo de pessoas capitais, exatamente quando as reformas urbanas possibilitaram a transformagio da “aldeia” em uma “cidade moderna”. Na Manaus modemnizada, ain- tensidade das interagdes, dos encontios socias, das oportunidades de exibicio publica, intensificaram- se, permitindo que se tecessem ¢ consolidassem no- vas relag6es, promovendo uma base de experién- cias comuns a individuos e familias que ali revita- lizavam as redes de sociabilidade e reforgavam sua identidade social. A imagem de “vida social” € uma boa apreen- so do que foi o convivio entre parentes, vizinhos amigos ¢ entre os estrangeiros na cidade de Ma- naus da primeira década do século XX. As novas, formas de sociabilidade ligam-se a uma notével, ampliagio das esferas de contato social, de exibigio publica, ¢ aos novos modos de interago que mat caram a vide “mundana” de cidades como Manaus € Belém no final do século XIX e inicio do xx. As transformagoes no espago fisico que remo- delaram as duas cidades foram cortelatas 8 ampliae 540 dos espagos sociais, no sentido da intensifica- +40. eu roe auazonca ‘fo € transformagbes dos usos tradicionais de es- feras de sociabilidade. Norabilizam-se, ainda, pela ‘emergéncia de novos lugares puiblicos ou pela pu- blicizagéo de dominios da vida social de um modo inédito. Surgem novas formas de associacio, por vvezes distanciadas das manciras mais tradicionais de solidariedade. B no dinamismo da vida social, na multiplicagio das interagées sociais, que a belle poque amazénica parece ter sido mais espetacular. ‘As pragas — agora reformadas, com novos jat- ins — exibiam um sofisticado mobiliério urbano «em ferto fundido: bancos e coretos, que acolhiam uum seleto piblico nas tardes em que as bandas mu- nicipais se apresentavam. Assim, 20 calendétio das festas e das procissées; aos arraiais e boi-bumbés: as opiparas merendas realizadas nas “rocinhas” em que outrora se festejavam os aniversétios; aos san- {0s juninos; ou mesmo 20s acontecimentos evicos, se superpSem os encontros promovidos por novas sociedades que acolhiam muitos dos novatos na- quelas cidades. ReuniGes dangantes passaram a dar brilho © animagio as soirée das ricas capitais, rea- lizadas em sal6es de sociedades como o clube Eu- terpe € o Ateneu Comercial, ambos de Belém. Agremiagies e entidades as mais diversas jé eram numerosas na peniiltima década do século XIX, ¢, fosse em Manaus, fosse em Belém, incluiam a. associagdes partidétias, lojas magBnicas, clubes de diferentes procedéncias nacionais, sociedades mu- sicais agremiagdes ciemtifieas. A Associagao Co- mercial do Amazonas ganhava destaque como no- tvel instituigdo de elite, néo s6 congregando bra- sileiros ¢ estrangeiros em torno dos interesses co- muns relatives & exportagio © & importagio, mas também promovendo tertilias ¢ saraus Em Manaus, a complexificagio das atividades turbanas; a clara definigio de uma 4rea comercial correlata & ampliagio de areas residenciais; eos no- vos bairros previstos no eédigo municipal contri- bbutram para que fossem afastadas do perimetro ur- bano atividades que evocassem 0 contato ¢ 0 des- frute da natureza, tocando & cidade sobreuudo a realizagao dos negécios ¢ dos prazeres “mundanos” uw estreitamente associados 20 consumo cultural: 0s bailes, as cervejarias e 0 teatro. Nas Seas distantes do centro comescial ¢ fvieo ctiaram-se, portanto, locais em que se gestou uma nova sociabilidade, inclusive com a imposigio de certos constrangimentos em relagZo a0 que fora até hha pouco uma atividade “publica”, como os ba- nhos de rio, Nao se pode dizer que este Fosse um trago particular de Manaus; mesmo assim, por in- dicar uma alteragao mais abrangente no uso dos espagos tradicionais — no caso, os igarapés —, esta Ade resttigdo € exemplar da relagao com o tempo e com © trabalho nos habiros dos moradores da cidade, ‘bem como da introdugao de cestos comportamen- tos consoantes com asalteragbes do final do séeulo, espelhadas no tragado urbano. A separagio entre ‘reas de trabalho ¢ arcas de lazer, de dedicagio a0s esportes ¢ de desfrute da nacureza, ser sem divie da, uma novidade advinda de um estilo de vida mais marcadamente urbano que ali se implantava, Esse novo estilo caracterizava-se menos pelo aden- samento € pela intensificagao dos fluxos de trans- porte ou pela excessiva concentragio de pessoas do ‘que por ser expressivo de uma cerca “civilidade” & dos novos distanciamentos ¢ aproximag6es neces- sitios & sociedade cosmopolita de entio. A adesio a pritica esportiva, as regatase 2s cor- ridas de cavalo expressava também a comunhao de valores identificados com as cidades mais “civili- zadas”, incluindo-se certamente © Rio de Janeiro €2 mais proxima Belém, onde as atividades no Joc- key Clube Paraense ¢ as touradas no Coliseu jé cram, digamos, “tradicionais". Os jornais de 1893 conclamavam o puiblico para a reinauguracéo do prédio, indicando pregos diferenciados para os ca- marotes com sombra que abrigavam do sol equa~ torial os de pele mais sensivel. Para amenizar 0 ri- gor do vero amazénico, os jornais divulgavam | | | teceitas para um novo habito de consumo: 0 sor- Em Manaus, os eventos esportivos eram quase sempre promovidos pelos estrangeitos em seus do- ‘inios particulares — os clubes sociais ¢esportivos —, de modo que o esporte patece ter se constitu do igualmence em “Lingua franca” entre estrangei- 10s € brasileitos. Os igarapés deixaram de ser ape- nas caminhos do trafego entre as partes da cidade, tornando-se, em seus trechos nao canalizados, pro- picios & pratica dos esportes nauticos. A canalizagio dos igatapés ¢ a ampliagio do abastecimento domiciliar de agua, expressées da “cidade moderna”, fizeram-se acompanhar de mais e mais constrangimentos em relagio & exposicso publica do corpo, de modo que os banhos de rio acabaram circunsctitos a espagos especificos, con- ‘cebidos agora para descanso e divertimento. Entre os estrangeiros que viviam em Manaus, fundaram- se clubes: © Bosque Club dos ingleses, 0 Rudder Clube dos alemaes, os clubes porcugueses. Para os brasileiros, mantiveram-se os “banhos", mas com as caracteristicas de “clubes familiares”. Novas for- mas de lazer surgiam, sendo freqlientes as referén- cias, nos jornais, a saidas de lanchas em “viagens de recreio” Em Belém, a possibilidade de exposi¢éo do corpo € do desfrute das dguas ainda era mais faci- sabe eu rogue azo litadas a vida ao ar livre nao se sestringia as “roci- tahas", chécaras ou sitios situados nas redondezas da cidade e 20s banhos fluviais, ¢ 0s novos meios de locomogio favoreciam a ida As praias ocednicas, como o balneério do Mosquciro. Entre 0s anos 1890 ¢ 1900, havia clubes para tudo © para todos em Manaus, 0 que se manteve por toda a primeira década do século xx, como significativa estracégia de inceragio social. Os clu. bes “étnicos” favoreceram a construgio de identi- dade entre individuos que, embora oriundos de ‘um mesmo pals, no necessariamente tinham vin- culos anteriores entre si, 0 que € pertinence sobre- tudo no caso de ingleses, franceses e alemécs. Tais clubes promoveram a construgio de experiéncias compartilhadas sob novos registros, quando se te- iam conexdes para além do ambito restrito das insticuigdes mais tradicionais, como a familia, Em 1904 o “escol da delirosa e endinheirada Capital da Borracha”, como afirmou Genesino Braga em seu livro Assim nascen o ideal, fundou ‘um novo clube social. O nome — Ideal Clube — & sugestivo das pretensdes de seus sécios ¢ talvez do que fosse a ‘Vida ideal” vislumbrada por aquele grupo social, Entre os “idealinos” havia brasilciros — politicos, profissionais liberais e aqueles ligados 20 comércio da borracha. al Nos jornais, chama a atencao o reconhecimen- to da necessidade de “diversbes”, 0 que sinaliza para a emergéncia de um tipo de sociabilidade mais segmentada. Reivindicadas pelos cronistas, sensi veis observadores da vida social, as diversoes e os eventos ptibicos eram objeco de atengio dos dife- rentes administradores, governadores e prefeitos, preocupados em promover distragbes e grandes, acontecimentos que favorecessem a vida piiblica e a convivéncia “ordeira” nos espagos da cidade — renovada canto urbanistica quanto demografica- mente, visto que 2 grande maioria dos habitantes ‘eram recém-chegados 20 Amazonas. A vida da cidade tomou as ruas. As calgadas dda avenida eram ocupadas com mesinhas, “como nna Franca” e tal qual faziaa elite carioca no apogeu de sua belle époque. carnaval de rua, promovido pela municipa- lidade, tomou ares de grande espetaculo. No inicio da década de 1900, o superintendente de Manaus mandou vir da Europa a decotacio dos carros ale- géricos que ocuparam a avenida. Foi uma oportu- nidade para a exibigio da elite neste grande cenério da cidade, o espago aberto por onde passava 0 cor- sodo *Clube dos Terriveis”, que comandava 0 Car- naval, promovendo 0 “entrudo” e os “assustados” ‘ou realizando bailes nos corctos das pracas ¢ das 246+ ‘peu rooue amaze avenidas, para adultos ¢ criangas. Do cortejo par- ticipava a elite, os mesmos fieqilentadores do Tea to Amazonas em noites de gala, num cenétio des- contrafdo mas nao menos esfuaiante, haja vista as baralhas de confete ¢ de flores que tinham como alvo os cattos alegéricos ¢ seus personagens. Nos anos 1900, abriram-se as casas de Familia para encontros, palestras e misica, bailese ertilias literdsias, Palacetes © amplas mansGes expressavam © conforto e bem-estar atribuidos 20 period; no- ticiavam o patriménio da elite, sua adesio a0 con- forto ¢ ao gosto pelas novidades. Juntamente com as mobilias renovadas, nas residéncias urbanas ins- talavam-se novos aparclhos que, “pres0s 20 eto, tinham pas que moviam 0 ar e promoviam um agradével frescos”, tal como anunciou o jornal A Provincia do Amazonas. O ventilador adentrou ca- sas ¢ ambientes piblicos, amenizando 0 calor dos trdpicos e espantando os insetos. Além disso, afas- ‘ava temporariamente o forte odor do létex coa- gulado pela defumagio; era o cheiro das pelas, as bolas de bortacha que, para serem exportadas, pas- savam necessariamente pela capital, onde eram aberras¢ fiscalizadas, impregnando, assim, as Areas centrais de Manaus. Na década de 1910, eram notiveis ainda a ex- citagdo ¢ as numerosas atividades que se apresen- sate tavam para os que viviam na outra “capital da bor racha”. Em Belém, a vida também “era social”, muito embora 0 cosmopolitismo, os lubes écni- cos, presentes na programacdo amazonense, no fosse ali tio exacerbado. Em Manaus, os encontros sociais parecem ter sido notadamente marcados pela necessidade de ceconhecimento miituo e de afirmagao de identidade, o que é menos visivel na documentagio elativa a Belém. Na capital do antigo Grio-Pard, uma elite ¢s- tabelecida desde os tempos coloniais convivia com novos segmentos usbanos, promorores do comér- cio e das muitas atividades econémicas que ani- mavam 0 “maior empério comercial do vale ama- zbnico”. A oferta de diversbes ¢ entretenimento era farva. Em 1900, 0 peribdico A Provincia do Pard publicou, na coluna “Belém aos Domingos”, minu- ciosa programagio relativa ao dia 16 de setembro, Nas atividades dominicais inclufam-se muitos dos mo- tivos de orgulho dos politicos envaidecidos de suas iniciativas, as quais conjugavam 0 embelezamento, 2 racionalizagio da oferta dos servigos piblicos ¢ a consagrasao das instituigSes que, em Belém, dis- trafam e educavam os visicances. Depreende-se da programagio uma sociedade pautada nu 2 tigo- rosa ordem, na qual, no espaco urbano, tudo pa- recia funcionar como previsto. Aqueles que pudes- 48. 4 ambiente, incluindo as bandeias penduradas nas vores, G30 0 tom ofl ecvico 8 casio 2. Panorama de Manaus a pattir do Teatro Amazonas. A grea volta 4. Cena urbana de Belém, 0 Telegrapho Nacional garatia a comunicago para 0 porto demonstra o lugar central que o ro tnha para a cidade ‘om 05 prinipas centro mundiis de negociago da borracha, 5. Oporto de Belém, termémeto da veeonte econamis parsense, nter= 2. A avenide Eduardo Ribeiro, em Manaus eva 0 nome do governador rediava a troca de bens de consumo © eulturas entre 3 Amazbnia € 8 ‘esporsvel pla reurbanizacio da ade nos medes do "modernidde, Europa 6 €7, 0 Teatro Amatonas (Manaus) ¢ 0 Teatro da Paz (Belém) ‘bjetivagdo dos anseos de cvizaga0 por parte des sociedades amazonensee paracnse ste onus azn sem se manifestat contrariamente aos padrées pro- postos estavam inteiramente constrangidos a de- rerminados espagos ¢ a uma temporalidade parti- cular. O governo havia mandado construir, nos ar- rabaldes da cidade, instalagbes apropriadas para presos e doentes mentais, seduzindo-se assim a vi sibilidade destes segmentos destoantes na cidade reordenada e asseptizada do inicio do século. A vi- sitagio e a ida a estas instituigées tornavam-se um acontecimento particular, para 0 qual era impres- cindivel o uso dos transportes como os bondes, que substicufcam a viagio publica por tracio animal, Assim, para os segmentos mais bem sicuados da sociedade parsense, a programagio oferecia ativi- dades para todo o dia, da manha até & noite. As atividades tinham inicio com a missa das 7 horas, qual seguiam-se eventos promovidos pelas muitas instituig6es leigas e cientificas, incluindo-se as vi- sitas aos presos de Séo José ¢ aos diversos cemité- trios da cidades programas culturais, como a ida ao Teatro da Paz ou ao Museu Paraense Gocldis 0 con- vivio nos cafés-restaurantes de Belém; citcos ¢ tou- radas; e ainda concertos, dangas ¢ espeticulos. To- das as opg6es eram facilitadas pela nova urbaniza- ‘fo, pela iluminagéo elétrica ¢ também pela im- plementada rede de transportes cujos horérios ca +49 0 wt oxo denciavam 0 dia-a-dia da cidade, fazendo emergir ‘uma temporalidade particular. Poder e fascinio da épera © cendrio da belle époque tem nas cidades seu fu- ga mais expressivo; nelas, alguns espacos etam ne- cessérios para que as benesses do progresso fossem. plenamente desfrutadas pelos individuos e familias de melhor posigao social. Por excmplo, dispor de um teatro, ou melhor ainda, de uma casa de épera, era objeto de concorréncia entre cidades. A com- paragio cra um tecurso recorrente para as elites amazdnicas em seu esforgo de valorizasao dos as- pectos urbanos que promoviam uma equiparacao 4 Capital Federal ou uma aproximacio inédita de Lisboa ¢ Paris, cidades com as quais. muitos dos que viviam no Paté ¢ no Amazonas mantinham estreita relagio, No tepert6rio sobre a bela época na Amazénia, so comuns as referéncias as casas de épera e aos espetdculos ali encenados. Filhas diletas da idéia de progresso que caracteriza 0 expansionismo eco- némico, institucional e cultural burgués do século XOX, as casas de épera sfo um de seus sinais con- sagrados. Eram os templos profanos, quando per- +50 A oeUs Eroaue eo diam lugar os palicios ¢ as igrejas; expresses de uma outra ordem social e de uma hierarquizacio da sociedade avessa 20 triunfo das classes médias. © Brasil ndo escaparia deste fendmeno; aqui, foi freqtiente 0 esforco de alguns individuos ou dos governos para a construgao de espagos laicos com fins educativos e enobrecedores do espirito. Coneebido na década de 1860, quando foi lan- gada sua pedra fundamental, o Teatro da Paz, em Belém, foi inaugurado somente em 1878. Na dé cada seguinte, 0 edificio foi reformado ¢ teinau- gurado, incorporando nesta ocasio detalhes arqui- fetOnicos que resgataram sua monumentalidads, ¢ ainda os trabalhos de pintores italianos na decora- fo interna. Em 1881, este teatro iniciou sua pti- meira temporada lirica. (O Teatro Amazonas, em Manaus, na opinigo do historiador inglés Eric Hobsbawm, uma “cate- dal caracteristica de cultura burguesa”. Tal descr ‘sa0 pode ser reforcada por duas peculiaridades do Teatro: sua localizagio, em meio a exuberante flo- resta equatorial; ¢ sua singular e multicolorida ci- pula, Nela superpoem-se simbolos relativos & or- dem republicana e & imagem de progresso que tor- nam inevitével a associagao do edificio aos espacos oficiais, aos rituais politicos. Ela sugere ainda uma “cropicalizacio” ou uma transposigao especial da ae imagem republicana, estampada em alegotia de proporcées gigantescas Supostamente escolhida por um membro da clite na Exposigdo Universal de 1889, em Pats, a ciipula representa muito bem a mobilizagéo do es- col amazoneiise em relacZo 20 Teatro — incluindo 6s aspectos priticos da obra. Nesse sentido, o Tea- ‘£0 Amazonas incorporou as marcas de seu tempo, a vicissitudes da demorada construgfo € a8 idios- sincrasias da elite e dos politicos; ele também apro- xima estes individuos dos valores que gatantiram a disseminagéo das formas burgucsas de diverti- mento € ostentagio, promovendo-os como paladi- nos dos novos habitos e idéias ociden ais surgidos 1no Cairo, no México ou no Brasil ‘Além da funcio especifica como sala de apre- sentagies, 0 Teatro Amazonas constituiu-se como lugar emblemético da elite, o que 0 distancia do ‘Teatro da Paz, Ele foi o grande salio da “alta s0- iedade”, agregando aqueles que em outros mo- rmentos estavam dispersos em seus clubes, suas ati- vidades profissionais, nas associag6es marcadas pot iceresses comercais, por origem étnica ou por al- gum esporee, O destino do Teatro era a épera. E com este significado que ele aparece no verbete sobre Ma- naus da Enciclapédia Brisénica, provavel fonte de +82 ‘um dos mais consagrados mitos a respeito da “casa de Gpera” e da associacéo entre “a selva e a livica” 6 de que 0 famoso tenor italiano Enrico Caruso (1878-1921) teria ali se apresentado na noice da inauguraglo, 31 de dezembro de 1896, Na verda- de, como mostra a programagio da casa de espe- téculo, Caruso nao cantou em Manaus; no dia da inauguragdo assistiu-se @ uma seleta de artistas lo- cais, e somente em 7 de janeiro do ano, seguinte estreou a Companhia Lirica Italiana, com a pera La Gioconda, de Ponchielli. De dificil aceitagao por parte do puiblico, nao foram muitos os espetéculos Iricos vistos nos pal- cos destes dois teatros; predominavam outras ma- nifestagées artistcas: operetas, zarzuelas e, poste- riormente, também os especiculos “mecinicos”, como 0 cinematégrafo, De qualquer mancira, néo hd duivida de que se inaugurou uma nova fase nos espeticulos 2 que o paiblico da cidade tinha acesso. Ainda que, inicialmente, a qualidade musical dos espeticulos deixasse a desejar — segundo o bario de Marajé, a populacio “nem fazia idéia do grau de beleza ¢ do encanto ... que se pode achar na boa execugo ou no fragmento de uma épera” —, ainda assim a lirica adquiria um lugar. Seguindo a tendéncia ¢ os padrées internacionais, a épera constituia-se como simbolo do gosto mais refina- +53 do; freqlientar a temporada lca era uma das for- mas de distincio da elce. ritual da ida a0 teatro oferecia & elite uma oportunidade de reconhecer a si mesma e aos com- portamentos condizentes com as alteracées por que a cidade e a sociedade passavam. Os fieqiien- tadores do teatro, 20 conferirem os gestos e trajes de cada um, nutriam a fantasia de civilizasio, de comunhio dos beneficios desta modernidade. O comportamento esperado no teatro expressava-se nna movimencagio da platéia pelo espaco do prédio {inclusive nos terragos laterais), no uso dos servicos do “botequim” e na demonstracio de satisfacio. Neste aspecto, as mulheres tinham um papel im- portance rigidamente controlado. Se, tradicional- mente, um dos locais de aparecimento piiblico das mulheres era a missa de domingo, o teatro foi a “escola de costumes” da qual participaram as fa- tilias, mas onde eram observados os individuos, ¢ especialmente as mulheres Na Amazénia, 0 gosto pelo be! canto foi esti- mulado pela economia da borracha. Além dos ficios, o fluxo de navios ¢ 0 dinheiro da exporeasio deram subsidios a0 “desejo da lirica”, fazendo ali chegarem as companhias estrangeiras que ocupa- ram os palcos do Teatro da Paz.e, depois, do Teatro Amazonas. O apoio dos governos dos dois estados foi significative para que as companbias liicas € artistas desembarcassem no Paré e no Amazonas. A segunda Companhia Italiana a se apresentar no “Teatro da Paz wouxe coma convidado especial Car- los Gomes, que, a convite do jovem governador Lauto Sodeé, veio a se fixar em Belém, favorecendo a consagracio e a popularizagio dos espeticulos I ricos na Amazénia Banquetes ¢ bailes Mais recorrentes que os espetéculos, banquetes bailes eram, como eles, “rituals de civilizagao” das sociedades amazonense e parzense — visando tam- bém & manutengo ou ao reforgo do prestigio da sua elite, que se colocava altura de seus parceiros nos grandes negécios da borracha. Eram rituals de reconhecimento da elite, de estabelecimento de compromissos politicos, de reafiemacao de relagies sociais ¢ de demonstragio “entre iguais” do refi- namento €, no caso dos banquets, da polidez & mesa. Estas lautas refeig6es davam-se em cendtios va~ iados. Em Manaus, 0 préprio Teatro Amazonas por algumas vezes abrigou comemoragées promo- vidas pela cite, bem como recepgdes de caréteroff- 2855 cial. Por exemplo: em 1902, a Alemanha entrava com sua frota na bacia amazdnica, O Cruzador Folke fatia 0 escudo da navegagio do alto Amazo- nas, a fim de que a Hamburg-Amerika-Linie pro- longasse seus servigos até o Peru. Para registrar 0 acontecimento, a coldnia alema radicada em Ma- naus recepcionou a sociedade amazonense em ce- riménia que ocupou o salio nobre do Teatro. A recepeio oferecida pelos alemaes foi um evento de expressio internacional em que o Teatro Ama- zonas teve lugar central; selava a satisfigéo meitua de alemaes ¢ amazonenses em potenciaizar as tto- cas comerciais ¢ a proximidade, atualizando duas das antigas expectativas da elite amazonense: 0 ¢0- ércio exterior e a presenga de europeus no Ama- Por outro lado, um bosque sombreado de Ma- naus onde, significativamente, predominavam as setingueiras foi o cenério para outro suntuoso ban- ‘quete. Bandeiras de vatios patses, penduradas nos troncos das érvores, nfo s6 enfeitaram o ambiente € circunscreveram o espago do evento como deram ‘6 mesmo tom oficial e civico que tinham os ban- quetes ocortidos no Teatro. Da mesma forma, em Belém, em 1904, 0 governador ofezeceu 20s inten- dentes escaduais um banguete que teve lugar no 88+ ‘ue toe secon pitoresco Bosque Municipal, envio recém-inaugu- rado. Nestes bales e banquetes, era comum também ‘que fossem dadas jéias, como lembranca da ocasiéo € sinal da riqueza € do consumo conspicuo belle Epoque. A esposa do advogado e coronel da Policia Militar Benevenuto de Souza Magalies, que em meados de 1905 sain com a Familia em diregi0 a0 Amazonas, guardou entre as recordagées da viagem do 56 forografias do banquete de que participa- ram, mas também dois berloques de ouro que re- ccebeu como lembranga de um baile. A ostentacao da riqueza nas sociedades amaz6- nicas do inicio do século XX certamente transbor- ava para além dos teattos ¢ salées, ganhando as ras, Joias eram um tipo de riqueza “mével”, por- tdtil e de facil reconversio, algo condizenve com 0 ethos € a posigao na sociedade de muitos dos co- merciantes ligados 3 exportagio ¢ submetidos as incertezas das variag0es de precos. Para muitos de- Jes nao havia sido possivel a formagio de um pa- ttiménio mais sélido, ou por escolha, ou pelo cur- to espago de tempo decorrido desde sua chegada. A dimensio de ostentagdo da riqueza coaduna-se com a teptesentacio mais vulgarizada da “lite da borracha” em seu excesso de consumo tanto de bens de luxo quanto de iguarias. 87. A vida alegre regada a cerveja ‘A cerveja € 0 chope servidos gelados em bares € confeitarias de Belém ¢ Manaus também anuncia- yam novas formas de convivio social € um outro conforto: 0 gelo.e as cfimarasfrigorificas,altamente vyalorizadas no calor dos trépicos, que contribulam para o desfruce de géneros alimencicios e sabores importados disponiveis nas cidades amazdnicas, como em “qualquer das grandes capitais do mundo”. ‘Nas duas capicais amazbnicas as fibricas de cer vveja marcaram a paisagem urbana. Em 1907 0 con- sumo de cerveja no Pari chegou a mais de 2 mi- thoes de litros. A cerveja fornecida pela Fabrica Pa- raense “era de fato tio boa como a cerveja de Mu- nich” e fornecia mais da metade do que era ento consumido no Para. Em muitas lembrangas sobre "Manaus antiga”, a fabrica é uma referencia cons- tante. A Cervejaria Miranda Corréa, inaugurada em 1909, em estilo art nouveau, contribuia para fa “vida alegre da cidade", abastecendo Manaus com a famosa cerveja XPTO, refrigerantes ¢ gelo. A cervejaria também realizava bailes inesquectveis para a alta sociedade. O chope € a cerveja animavam a sociabilidade asculina, quando 20 final do dia se reuniam nos es roa aarontcn lubes ou nos bares os recebedores da borracha, fiscais de Alfindega, representantes das firmas se- sguradoras ¢ das companhias de navegagio, respon- ‘sAveis pela sada da contrapartida amaz6nica na to- nelagem dos navios que cortavam 0 Atlético em ditegio & Europa, aos Estados Unidos ou ainda para o Rio de Janeiro. Refrescados pelo chope ge- ado ow pela cerveja, realizavam os iltimos acertos nos negécios, atentos & cotagio da borracha. Co- ‘memoravam também a chegada de mais um navio inglés carregado de mercadorias ou avaliavam, os ais intelectualizados, o caso Dreyfus, que tanto ocupava as piginas dos periddicos franceses quanto era traduzido publicado no Amazonas, um dos principais jornais de Manaus — mais uma vez pro- ‘movendo, agora em outra dimensio, a sonhada proximidade com 2 Europa. A cerveja ¢ 4s novida- des ¢ habitos que a vida na cidade “moderna” pro- punha — “bebidas de todas as qualidades, chopes de fiigorifico, aleméo e paraense, charutos ¢ cigar- 10s", como anunciavam, em Manaus, as paredes do bar High Life — mesclavam-se sabores da tra- digdo amazdnica, como as farinhas d'égua, seca € de tapioca, os ovos de tartaruga € 0 acai. ‘A cerveja, bebida de baixa concentragio alcos- lica, estd ligada aos prazeres, as necessidades © & tolerincia da burguesia citadina, no chegando 20s +59. seringais nas mesmas proporgées 0 alcool consu- mido pelos trabathadores da borracha advinha de bebidas mais Fortes ¢ adocicadas. Entre as bebidas listadas num registro de 1902 sobre a origem ¢ os produtos vendidos nos barracées de seringais, pre- dominavam as de origem nacional — a cachaga (em grande quantidade, contabilizada em bartis e gattafves), 05 licores de frutas (abacaxi, jenipapo, caju), 0 conhaque, 0 vermute e a genebra (vindos de Pernambuco) —, seguindo-se outras bebidas, produtos em grande maioria franceses. Os provéveis consumidores destas bebidas mais fortes eram, no contexto urbano, os trabalha- dores de estiva, que delas se serviam no intervalo das arividades de carregamento dos navios, gaiolas © motores, do traslado dos passageiros e da pesa- gem ¢ conferéncia da borracha a ser embarcada. Consumidores e frequeses ‘Tanto em Belém como em Manaus, nas cltimas décadas do século xix no inicio do xx, encon- travam-se, sem diivida, os consumidores a quem. 0 comércio internacional e a riqueza advinda da exportagio da borracha facultavam o acesso a bens +60 ‘be aye maROAIA ‘08 mais diversos e sofisticados. Nos antincios vei- culados nos periédicos de Belém, as vésperas da festado citio de Nazar, senhoras ¢ senhoritas eram conclamadas a, entre outras vantagens, escolherar- tigos da tlkima moda parisiense ou provar confei- 10s anceses, as pastilhas que promoviam curas mi- lagrosas, tudo chegado pelo ilkimo vapor. A oferta das numerosas redes.de servico; os portos moder- nizados em substituigéo aos antigos trapiches; e a constincia da chegada esaida de navios para o Bra- sil e exterior sempre carregados de novidades pro- moviam a satisfagéo ¢ os anseios daqueles que po- diam gastar em conforto e prazer — algo que nesta época era t8o imperioso quanto ganhar, de acordo com Hobsbawm. Mas & preciso deixar as cidades de Belém ou Manaus — pontos capitais das trocas comerciais, cidades da riqueaa visivel, do consumo conspicuo — para chegar a um outro ponto extremo da ampla rede de distribuigéo de produtos promovida pelos negécios da borracha: os barracdes de seringas, in- crustados junto as margens dos varios rios por onde hhouvesse se estabelecido a empresa seringalista, O fendmeno se expressava também no comércio flu- vial através dos chamados regat6es, que garantiram a ampliagio das redes de distribuigéo de mercado- rias no periodo de maior dinamismo da economia sete gomifera. Aspectos de um mesmo fenémeno, 08 Se- Fingais participavam do amplo mundo dos negécios fo apenas por fornecerem borracha, mas por se- rem regulamente abastecidos com géneros alimen- ticios, bens de consumo e os poucos instrumentos de trabalho utilizados pelo seringucitos. ‘A pattit da década de 1870, expulsos pela gran- de seca e atraidos pelas possibilidades vislumbradas com a borracha, cerca de 130 mil cearenses che- garam ao Amazonas. Nas teas de produsio de borracha, trabalhavam como seringuciros, os ho- mens que extrafam o litex ¢ 0 entregavam a um dererminado patrao, © dono do seringal ou o seu preposto. Como fregueses do seringal, “do tinham direito a pegat em dinheiro”: mediante a entrega, do “produto” — a borracha —, retiravam nos bar- races a3 mercadorias necessirias & subsisténcia € 20 trabalho, configurando-se uma situagio de sub- missio a0 pattio € um quadto de crescente endi- vidamenco pelos trabalhadores. Nos termos de Eu- clides da Cunha, em Um paraiso perdido, os serin- gueitos “crabalhavam para escravizar-se”. Os seringais ¢ seus trabalhadores eram expres- so canto da ampliagio das bases geogréficas da economia européia do final do século X0x, quanto da ampliagio genetalizada do consumo que a eco- nomia industrial da belle époque engendrou, 62+ tus rogue saat Como fregueses, garantiam, nos reconditos serin- gais amazénicos, o significative aumento do con- sumo de bens produzidos pelas indistrias euro- péias ¢ americanas, As variadas origens dos produ- ts disponiveis nos barracdes (cujo abastecimento «ra feito através dos chamados aviadores) noticia 6 pluralismo da economia industrial ou a divers dade do modo como se davam as diferentes p sengas estrangeiras no contexto amazdnico da belle époque. Todos estes aspectos distanciavam-se do ided- rio liberal que, naquela mesma ocasiao, no proces- so da consolidacio da Republica no Brasil, preten- dia a implantacio de uma nova ordem que facul- tava‘ consolidacio da sociedade burguesa, bascada ro trabalho livre assalariado, Consideragies finais Por toda a belle époque, os jornais de Belém e Ma- aus noticiavam com insisténcia e riqueza de de- tathes a chegada, pelo porto de Belém, de novissi- mos artigos do exterior. O desembarque animava também o desembarcadouro de Manaus — cujo porto flutuante, com moderna tecnologia inglesa, foi inaugurado em 1903. +635 © movimento dos navios, 0 volume dos negé- ios contabilizado na tonelagem de borracha ex- portada ¢ na receita arrecadada: todos estes aspec- tos expressavam a lisonjeira economia dos estados, orgulhosos dos investimentos realizados nas cida- des — e sem o recurso a empréstimos! Uma das, formas mais notiveis de objetivacio da riqueza pe- las elites que viveram a belle époque no Pari ¢ no ‘Amazonas — enriquecidas com 0 comércio da bor- tacha — se expressava na aquisigio de embarcasbes, dos mais diferentes calados. As gaiolas, os vapores © demais embarcagbes ocupam boa parte da ico- nografia do periodo, cujos dlbuns exibem as “ma- tinhas” ou as embarcagbes isoladas — em muitos casos fabticadas na Inglaterra —, ou mesmo a so- fisticada decoracao interior. Qs anos 1910 marearam internacionalmente o final da belle époque € expressaram a dissolucio da organizagio econdmica do século xix — do que, certamente, a Amazbnia nio estaria isolada. © movimento dos portos — que, em outros mo- mentos, expressou o dinamismo e a pujanga da economia da belle Epoque —, era sintomitico das alteragoes vividas nas capicais g no interior. Em 1915, o espeticulo da partida dos navios era des- ctito com pesar em artigo publicado pela revista da Associagio Comercial do Amazonas: um éxodo, +64. a us cae aztec cocasiéo em que o roadway apinhava-se de gente que deixava'o Amazonas nos vapores, indo para 0 exterior e para o sul do pais. Os navios que faziam © percurso para o intetior seguiam vazios de pas- sageiros € mercadorias. Desde 0 final dos anos 1910, o comércio avia~ dor ressentia-se da desvalorizacéo do produto no ‘mercado internacional; em 1907, 0 governador do Pard, Augusto Montenegro, como porta-vor da “comunidade amazénica”, enviou ao presidente ‘Affonso Penna contundente telegrama, no qual considerava as condigbes do mercado da borracha. Referia-se & queda nos pregos ¢ sugeria a interven gio do governo federal por meio da criagio de agéncias do Banco do Brasil em Belém e Manaus, as quais atuariam como reguladoras do mercado da seringa. Argumentava que, 20 defender © co- méicio amaz6nico, 0 governo brasileiro, além de amparar o segundo género de exportagao nacional, amparava também interesses do tesouto federal, ‘que percebia direitos sobre a borracha extralda no Acre. Fosse no Pari, fosse no Amazonas, revistas es- pecializadas mantinham a praca informada quanto aos sinais de alteragées no mercado internacional da borracha. Em 1908, a producio asistica de bor- racha atingiu um volume inédito, crescendo em 165+ ritmo acelerado a partir de entio, Antes da I Guer~ ra, a borracha asistica comercializada superou a amazénica, e os pregos da Paré fina — insubsti- sufvel quanto as suas qualidades para a fabricacso de pneus — despencaram. Diante deste quadto, a Amazbnia perdia seu lugar privilegiado como pro- dutora de borracha silvestre, Em 1911, representantes do Amazonas ¢ do Pard chegaram a um acordo com 0 objetivo de es- tabilizar os pregos através da formago de estoques. ‘No ano seguinte, 0 governo brasileiro, atendendo as solicitagoes dos representantes dos dois estados, aprovou 6 projeto de Defesa Econdmica da Bor- racha. A iniciativa que visava a racionalizar ¢ dis ciplinar a produglo inclufa recursos em estagées cexperimentais, contratagio de cientistas estrange ros, criagdo de infracestrutura de estradas e cuida- dos com os imigrantes. Para as elites locais, a ini- ciativa velo com atraso; como as demais ag6es em- preendidas, nao influiria no mercado internacional da borracha. Em 1916, 0 governo liquidou com 0s empreendimentos no setor. ‘Além das medidas ligadas a0 mundo dos ne- g6cios, outras iniciativas tiveram lugar. A idéia de implantar uma instituigéo que promovesse 0 afas- tamento das “especulagies puramente egoisticas, de nacureza metcantil” resultou na fundagio — = 66+ ‘nu one anata pioneira no pais — da Universidade Livre de Ma- rads, em 191 Isto se fer gracas is subscrigBes rau- nicipais (incluindo-se 0 entio Departamento do ‘Acte), aos donativos feitos pelos lentes € 20 auxilio de particulares, como os “proprietdrios de serin- ais”, criticos quanto & excessiva énfase dada is ati- vidades comerciais Ao encertar estas historias da belle époque, © anficeatto das cidades é o bastante para recuperar a multiplicidade de siruag6es sociais que a “crise” engendtou. Os efeitos da “decadéncia da borra- cha” podem ser percebidos de diferentes formas, destacando-se as temporalidades distintas existen- tes entre os fatos econémicos ¢ as estruturas inter- nalizadas, os estilos de vida e as concepgées de mundo. Reduzir as transformagies ocorridas na ‘Amazénia & “crise da borracha”, tal como enten- dida e natrada pela hist6ria do capital, do volume € do valor das exportagées, significa perder de vista uma série de permanéncias caudatérias das posi- s6es particulares dos diferentes agentes sociais que promoveram 0 amplo “acontecimento da borra- cha", A “crise” da borracha foi vivida de diversas ‘maneitas por diferentes familias ¢ individuos, em conformidade com a capacidade de mudanga e adaptagio as novas ciccunstancias. +67 a waa o500 Nas cidades de Belém ¢ Manaus, os resultados mais imediatos foram sentidos sobretudo pelos segments ligados & exportacio. Grande ntimero dos estrangeizos responsdveis pelas grandes firmas de exportagio deixou a Amazénia com a “crise” As histérias de vida de amazonenses ¢ paraenses, especialmente aquelas contadas pelos filhos de ex- portadores, seringalistas, negociantes da borracha € profissionais liberais, estao pontuadas pela bre~ vidade do “tempo da borracha”. Em muitos casos, apenas os filhos mais velhos se beneficiaram com a vida na Europa, para onde haviam ido estudar ou passear, ‘Com o passar dos anos, parte das elites se dis- tanciou do Paré ¢ do Amazonas. Quando jf no ‘era mais 6 tempo de ir para Paris, de permanecer em Lisboa ou de viver na “Manaus moderna”, a mudanca para o Rio de Janeiro e a fixacio em um dos prestigiosos bairros da entio capital federal fo- ram um recurso legitimo de manutengio do pres- tigio ¢ de consagragio de um estilo de vida. Quanto ao Teatro Amazonas, no dia 7 de se- tembro de 1911 era anunciado 0 “Grandioso Fes- tival Litero-Musieal’, organizado pelo jovem vio- loncelista brasileiro Heitor Villa-Lobos; 0 progea- ma era ofetecido pelo Governador do Estado 20 ‘Congresso Estadual. Os novos eventos atendiam a comemoragées de ordem mais restrita,distantes do glamour da mitica "casa de épera” durante a belle Epoque. O historiador Pierre Nora, a0 tratar dos mo- ‘numentos na histéria das nagbes, afirma que eles io “lugares de meméria”, realgando o seu papel decisive na emergéncia ¢ configuragio de uma “meméria nacional”, na medida em que so ex- pressio das intengdes, por parte de politicos ¢ in- telectusis, de dar continuidade e determinados as- pectos do passado. Assim, o Teatro veio a ser néo s6 objetivagao das expectarivas e um emblema da elite, mas também um edificio impregnado de re- feréncias ao passado , finalmente, um lugar de meméria. -68- Cronologia 1616 Fundacio de Santa Maria de Belém, no Pars. 1669 Fundacio do forte de Sio José do Rio Negro, sual Manaus, 1743. Registro ¢ descrigio dos usos dz borracha entre ‘5 nativos por La Condamine. 1781 Criagio do Estado do Grio-Pard e Maranhio, tendo por capital, Belém. 1850 Criagio da provincia do Amazonas, desmem- brada da provincia do Grio-Pass 1852 Instalagio da provincia do Amazonas; organi- zagao da Companhia de Navegacio do Amazonas pelo visconde de Maus, 1853 A Barra do Rio Negro passa a ser denominada de cidade de Manaus, 1867 Aberrura da bacia do Amazonas navegasio in- ternacional. 1869 Tnicio da construgio do Teatro da Paz, em Be- Am. 1876 Inauguragio do Teatro da Pas; safda de semen- tes da borracha para o Jardim Botinico de Kew, na Inglaterra 10. 1877 Inicio da migragio de nordestinos para os se- Fingais, 1809 Proclamagio de Repubblica. 1893-95 Reformas ¢ melhorias urbanas: construgio da “Manaus moderna’. 1896 Inauguragéo do Teatro Amazonas, em 31 de de- rembro, 1897-1911 Reformas e novos servigos urbanos ¢ em belezamento de Belém. produgio de borracha silvestre; decréscimo nos pregos pela entrada da produgio asiética, ns Referéncias e fontes + O contetido deste livro, bem como as fontes nas quais cle se baseia, encontra-se mais detalhada- mente desenvolvido em minha tese de doutora- mento, O teatro, a cidade eo ‘paix das seringueiras’ _priticas ¢ representasies de sociedade amazanense na vinada do séewlo xi%x% apresentada em 1998 20 Programa de Pés-Graduacéo em Antcopologia Social do Museu Nacional/UFR), encontrével na biblioteca da universidade. Destaco, a seguit, as referencias mais relevantes para a selecdo aqui apresentada, + A obra do historiador Eric Hobsbawm a que me refiro com insistfncia é A era dos impérios (Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992). + A fonte para os dados sobre a populagio do Paré do Amazonas € 0 Anuério estattstico do Brasil, 1908-1912, vol.!, Territério e populagéo, publicado pelo IBGE. Em niimeros absolutes, podem ser con- templados no quadro abaixo: ms ‘cus from ancien Populacde do Brasil, Paré ¢ Amazonas (1872, 1890, 1900 1910) ver [16s fisoo rai ‘aromas [57610 [479i8 249766 | 358685 Manaus _|28334 {20720 _|so300 __|eoia Pars [avsasy | saeass | essase |7enees seem _|ers97 {soos {26500 | 000 Bras [0.2061 rasssais [rvaiases [matanT? ‘+ As informagées sobre Belém foram retiradas principalmente das seguintes Fontes: no que se re~ fete A décade de 1890, de periddicos do Paré (em especial A Provincia do Pard) ¢ de As regides ama- inicas: estudos chorographicos dos estados do Gram Pant e Amazonas (Lisboa, Imprensa de Libanio da Silva, 1895), de autoria de José Coelho da Gama «Abreu, o bardo de Marajé; no tocante primeira década do século XX, do Album do Part ~ oito an- ios de governo, publicado sob os auspicios do go- verno do Para (Paris, Chaponer, 1908). E também deste livro que provém os dados sobre 0 volume de metcadoria comercializado e a quantidade de cerveja consumida. + Os dados sobre a exportagio de bortacha café constam do trabalho de.Boris Fausto Histiria do Brasil (Sao Paulo, Edusp, 1996) one ‘+ O material compilado sobre os espeticulos do Teatro Amazonas ¢ a ocorséncia de banquetes ¢ bailes neste edificio foram coletados em Provincia do Amazonas, O Boato Teatral, Amazonas e Thea- sro, periddicss amazonenses do perfodo. + Os comentitios de Gilberto Freyre sobre Ma- naus e Belém, bem como sobre os cartes postais encontrados em Lisboa (p.32) acham-se em sua obra Ordem ¢ progres, (Rio de Jancito, Record, 1990). + As referencias sobre a belle époque no Rio de Janeiro baseiam-se em J. Needell, Belle époque tro- ppical: sociedade e cultura de elite no Rio de Jancira na virada do século (Sao Paulo, Companhia das Le- tras, 1993) € em Sidney Chathoub, Trabalho, lar «e boteguim. O cotidiano dos trabathadores no Rio de Janeiro da belle épogue (Sto Paulo, Brasiliense, 1986). + Os dados sobre 2 universidade livre de Manaus constam dos Archivos da Universidade de Mandos, vol.4, n3, jul-dez. 1914. Edicio facsimilada da Revista da Escola Universitéria Livre de Mandos (Manaus, Universidade do Amazonas, Associagio Comercial do Amazonas, 1989). THe Sugestées de leitura * Sobre a belle époque no Brasil, sugivo a leitara de Histbria da vida privada no Brasil vol.4 (Sio Paulo, Companhia das Letras, 1998), onde se in- «lui o trabalho de Nelson Schapocnick "Cartées- postais, dlbuns de familia € {cones da intimidade”, com muitas referéncias 2 Manaus e Belém. Para o caso do Rio de Janeiro, destaco os trabalhos de J. Needell, A belle-épogue tropical: sociedade e euleura de elite no Rio de Janeiro na virada do século (Sio Paulo, Companhia das Letras, 1993)3 e Sidney Chalhoub, Trabalho, lar e boteguim. O cotidiano os srabelhadares no Rio de Janciro da belle Epoque (S20 Paulo, Brasiliense, 1986). Para uma compa- ago com a belle époque catioca, sugiro ainda o trabalho de Nicolau Seveenko Literatina como mir sido, tensies cocais ecvse cultural na Primeira Repti- blica (Sao Paulo, Brasiliense, 1983). + Sobre a histéria econémica da borracha no pe- rfodo em questio, ¢ importante a leitura de A bor- racha na Amazinia: expansio e decadéncia. 1850- 1920 (Sao Paulo, Hucitec/Edusp, 1993), da his- +18. toriadora americana Bérbara Weinstein, que, rece comparagies relevantes entre o Pari ¢0 Amazonas, + Para os interessados no urbanismo colonial ¢ nas cidades da Amazénia setecentista, um livro suges- tivo & 0 de Renata Malcher Araijo, As cidader de Amazhnia no séeulo xvitt. Belém, Macapd e Maza- ‘29, (Lisboa, Faup, 1998). + A respeito do Teatto Amazonas, a referencia obti- gatéria é o trabalho em trés volumes de Mario Ypi- ranga Monteiro, O teatro Amazonas, publicado pelo governo do Estado do Amazonas em 1966. Uma comparagio entre 0 Teatro Amazonas ¢0 Tea tro da Paz pode ser vista em Jussara Derenji, Teatros da Amazénia (Belém, Prefeitura de Belém, Funda- 0 Cultural do Municipio, 1996). + Para saber mais sobre a vida nos seringais, ver 105 relacérios de Buclides da Cunha de reconheci- mento da regido do Alto Purus, por ele visitada em 1904. Incluldos em Um pansiso perdido (Rio de Janeiro, José Olympio, 1986). + Mais informagées sobre Manaus entre 1890 ¢ 1920 podem ser obtidas através da leitura de Ed- nia Dias, Manaus 1890-1920: A iusto do Fausto. (Manaus, Vales, 1998). +16 Sobre a autora Nasci em Manaus, em 1955, Era a “Manaus anti- 2”, pontuada pelos emblemas da época da borra- cha ¢ cujo tragado se mantinha fiel 20 que fora ptojetado na belle époque. Desde o inicio dos anos 1970 moro no Rio de Janeiro. Inicici minha vida universicéria na PUC, onde esrucdei geografia, ¢ sou estre ¢ doutora em antropologia pelo Museu Na- cional/urs). Em minha dissertacio de mestrado es- tudei os camponeses do sertio do tio Séo Francis- £0; no doutorado, “terornei” & Amazbnia, 20 to- mar como objeto de investigagao a cidade de Ma- nnaus, sua elite € 0 Teatro Amazonas na virada do século xixxx. Acualmente leciono no Departa- mento de Geografia € no Programa de Pés-Gra- duagio em Geografia da UFR}. Tenho artigos pu- blicados em periddicos especializadas e organizo 2 publicagao de minha tese. “me

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