Vous êtes sur la page 1sur 416
Universidade do Porto Faculdade de Psicologia e de Ciéncias da Educacao Os Caminhos da Esquizofrenia Dissertagao de candidatura ao grau de Doutor, elaborada sob orientacao do Professor Doutor Candido da Agra e co-orientagao do Professor Doutor Anténio Femandes da Fonseca Carlos Manuel Moreira Mota Cardoso 2000 Gam baja! los muss orientadans, Profasseres Candids Shgra e Strtinis Famandes de Fanseos, pelo incentioe ¢ pole vivacitads de estinule. he mes anize, Profasor Foto Mergues Titzaira, pale generic gpoissieniffn o mora los mans conpanhires de viagam pel” Ch Baminhes da Figaicefonia > dos guai, ¢ om heat tpafis deta tle Sts man mai, Douter Poa Sage de Fpasede Bint, om quam sprondia as Soo dnt le max amiga, Doator Bamarde Tatetire Coal, ple olidarindade ree S cos gus de alguna fara, colahararam nati ingam, a minha prt Indice Geral 4.4 OeNoMA 1.2. Derinigko Do oBsecTO DE ESTUDO. : 41.3. FUNDAMENTOS DA INVESTIOAGO veers 4.4 MARGENS 00 PERCURSO.. 1.5 PERSPECTVA TEORCA.. 4.6 MeTonoLocia DE NvEsTIGACKO.. 1.7 Breve EXPLICAGKO SOBRE 0 ESGUEMA GERAL DA TES. 2. ENQUADRAMENTO TEORI 2.1 Fuupamentagio FLOSORCA senna 2.1.4 PERSPECTIVAFLOSORICA 4 21.2 OENGLOBANTE” NAFILOSOFIA DE JASPERS exon 16 21.8 PeRcEP¢Ao Dos LNATES. 19 2144 OHoMEMEO MUNDO VWENCIAL 20 2415 VERE eOsTR. ses 2A 2.18 ESSENCIA EDUSTENCIA 2.2 RO ENCONTRO DA PERSONALIDADE (CATEOORIAS EXITENCIAI) won 2.2.1. DoINDIMIDUO A PESSOA (ESTRUTURA DA EXISTENCIA) 2.2.2. TEORIAS DA PERSONALIDADE,..essnsnsn 37 22.8 OCAMPO VIVENGIAL orn 58 2.24 ESTRUTURAEDINAMICADA PERSONALDADE... os 12.3. PERGONALIOADE COMO ESTRUTURA. QUEDA PSICOTICA nn 2.3.1. NORMALE ANORMAL, INTROOUGAO AO PROBLEMA, 2.3.2. ABOROAGEM HISTORICA AO CONCEITO DE NORNALIOADE. 2.3.3. 0 NORMALEO PATOLOGICO. 2.34 COMO SE INTEGRA ALUZDA LEITURA EXISTENCIAL © ANORMAL, OUESVO, OPATOLOGICO? 2. AENCONTRO DA NORMA - DO NORMAL AO ANORMAL... 341 ALOOICA A REALIDADE INTER-HUMANA COMUM. indie Gerat 3.2 A PERSONALIDADE ANORMAL 3.2.1 Agsquzorana, 3.3. A“ANORMALIDADE” COMO SOFRMENTO.. 33.1 O soFRMENTO. 33.2. © ADOECER COMO UMA FORMA 0 ANORUAL (ANTROPOLOGIADO SOFRIMENTO) x: 88 34 0 ANORMAL DA PSICOLOGIA EA PSICOLOGIA DO ANORMAL (KARL JASPERS) csc 90 3.5. APSICOPATOLOGIA CARTESIANA (KURT SCHNEIDER). 4, AESQUZOFRENIA COMO “ANALISADOR “DO ADOECER PSIQUICO 4A REFLEXAO SOBRE CONCEITO DE "ANALIGADOR” nese 42. EXTENSAO 00 CONCEITO DE “ANALISADOR” AO OBJECTO ESQUIZOFRENIA, 4.2.1. AQUESTAO 00 CONCEMO we es 42.2. AREAS DOS SABERES FILTRADAS PELO"ANALISADOR’ ee 104 42.2.4. Perspectiva antropolipic cutural 101 Arie médica. Hipsorates.. 101 ‘Acsuizotenla no context de etopsius, Lapin. 102 42.2.2 Perspectva Misti mses sn sone 108, logo da loucura, Erasmo. ne 108, ‘Histéria da lovoura, Michel Foucaut. _ seven 104 42.2.3 Perspectivabiolégica. ne 105: os humores & heredtaredad pn 105; [No tompo em que esquizotrona era ainda a “deméncia prococs”. 106 42.24 Perspectiva psicoligica — 107 ‘Sigmund Freud en _ 107 Car Gustav Jung. 107 Harry Stack Sul ese — 108 Sivano Asie se svn, 108 42.2.5 Perspective sistémica os 108 Bateson © 0 grupo de Palo A. 109 Cando nga. Adyscomunie;to com base da 8... 110 42.3. 0 oauecTO (EsGUIZOFRENA) FILTRADO PELO“ANALISADOR" snes MY 42.4. OANALIGADOR” NA NOSOGRAFIA. DA DEMENCIA PRECOCE A ESQUIZOFRENA. ro 42.4.1. Evolugdo histrica do conceto de esquzotrenia. Mt 42.4.2 Defnigho pratica de esquizofrenia, 113 Indice Gort 42.4.3. Aesquizotrenia nas diversas c688iC36688 on nsnnnnennn 113 42.4.4 Abusca da verdade. snne 14 42.5. OBSERVATORO DO MUNDO ESCUZOFRENICO. os sn 1S 42.8 0 CRUZAMENTO DOSCAMNHOS, FALAA ESQUZOFRENA ov 137 43. AO.ENCONTRO 00S SINTOMAS E DO DIAGNOSTIC wn 144 43.1. COMPREENDER E EXPLUCAR AESQUZOFRENA on : ve 43.2. 0 PROCESSO ESGUZOFRENCO EM SI MESNO. 7 a2 43.2.1 Quala natureza do processo esquzotténico ? ~ 142 4.3.22 Qualo transtomo fundamental. - 143 4.32.3 A desorganizagio da funcionalidade vivencial. - 16 433. SINTOMAS BASICOS, - 148 4.34 FORUAS CUNICAS. 146 4.3.4.1. Esquzotreria simples. : ve AB 43.42 Esquzotrenia heboténica sar 43.4.3 Esquizofrenia paranoide var 43.44 Esquzofreniacatstnica vr 43.48 Paranoia 43.46 Paratrenia, 43.4.7 Forma esquizo- afectva, 434.8 Formas residuals 4.3.4.9 Evolugéo da esquizoftenia. {44 “08 ouN08" TRANSLECIDOS DA ESQUZOFREMA.. 4.441 A CONTINUDADE.E SENT. 442. OMUNDODELRANTE, - 443 OFLURDODELIRO. 443.1 Nota prévia 4432. O dolrar na fenomenologia de Jaspers. 44:3 Percepgso delrante. 44.34 Conviogio delrante 44.3.8 Andlice estutural e fonomenolégica do deli. 165 4438 Andlise topologic do campo vivencal delrante. 168 443,7 Adestlagio do delito. 7 4438 Adqueda do edfici dalante.“Aut6psia dos restos" 7 4:46 AQUESTAODAFORMAE CONTENOO. 178 4.5 ExiSTENCIA NORMAL E ESQUIZOFRENICA.. 179 Indice Gort 45.1. O DISCURSO ESUEZOFRENICO NA ROTA DA EXISTENCIA conn TD 452. QUAL AACHEGA.DA CLINICA PARA © ESCLARECIMENTO DESTA QUESTAO? creer 182 5 ESTUDO EMPiRICO, sass 87 5.4. O RECURSO AS HISTORIAS DE VIDA EAS HISTORIAS CLINCAS, sone OT 5.2. BREVE COMENTARIO SOBRE 0 TRABALHO EwtPinico 187 5.30 QUEVAISER ANALIGADO & QUESTOEs DE MErODO. 6:4 A.CONSTITUCKO DA AMOSTRA sone wn 183 6.2. Crrrtmos DEINCLUSAO ED€ EXCLUSAO.. vn 185 16.2.1. ANALISE FENOMENOLOGICA DE HISTORIAS DE VIDA TIPIGAS QUE ILUSTRAM OS CRITERIOS DE INCLUSIO EDE EXCLUSO, : ee 198 ALFREDO. 198 CARLOS. ssn 207 CAMILO... sn sens 223 ANTONIO : 230 MIGUEL... se AY RICARDO 24 6.2.2. EXIRACTOS DEHSTORIAS CLINICAS NAS QUAIS A EXPERIENCIA DELIRANTE, OUA [EXPEREENCIAAPOFANTICA, QUANDO EXISTE, POE NAO CORRESPONDER AO ADOECER ESQUIZOFRENCO. o o 254 EXEMPLO DE UMA PSICOSE ORGANICA sn 28 EXEMPLO DE UMA PSICOSE TOXIC. . 287 EXEMPLO DE UMA PSICOSE EPILEPTICA...csnno 260 6.2.3. EXTRACTOS DEHISTORIAS CLINICAS, COMO EXEMPLOS TIIOOS DAS DIFERENTES FORMAS (DE ADOECER ESGUZOFRENICO SELECCIONADAS NA AMOSTRA. een 262 EXEMPLO DE UMA FORMA PSEUDO.NEUROTICA 282 EXEMPLO DE UMA FORMA AFECTIVA... = 270 EXEMPLO DE UMA FORMA ALUCINATORIO-DELIRANTE, 215 [BREVE REFLEXAO SOBRE AS HISTORIAS RELATADAS. aT 3 RACIONAL € METODO DE ANALISE 00 MATERIAL CLINI, 278 8.3.1. ANMUSE FENOMENOLOGIOA os 219 Indice Gera Construgo de documentos fenomenotégicos através da andiiso das histone clnices...260 6.3.2. ANMLISE CATECORIL on : 300 6.4. PROCEDMENTOS RELATIVOS A ANALISE DO MATERIAL CINCO enn 301 6.4.1 EM'TERMOS DA IDADE DE APARECIMENTO DOS PRIMEROS EINTONAS. 302 6.4.2. EM TERMOSDA ESTRUTURADO DERI. 303 6.4.3. EMTERWOSDA EVOWUOKO 7 308 6.44 EM TERMOSDA PERSONALIOADE. ' 305 6.45. EN TERMOSDA PESQUISA DE UM ALGO" ESPECIFICAMENTE ESQUZOFRENICO 308 7 RESULTADOS. TA AMOSTRA.. 7.2. IOADE DE INcIO DOS PRIMEIROS SINTOMAS. 7.2.1 IDADE DE INICIO DOS SINTONAS POSITIVOS. 308 7.2.2. IDADE DE INICIO DOS SINTONAS NEGATIVOS. 310 7.3 PERSONALIDADE, att TA BISTPO sess 313 17.8. DIAGNOSTICO NICIAL TENDO POR BASE A CLASSIFICAGAO CLASSICA 314 7.6 DIAGNSTICO WICIAL SEGUNDO A CLASSIFICAGAO DINAMICO ESTRUTURAL nnn 318 7.7. DixGNOsTiCo ACTUAL (ULTIMA OBSERVAGAO), SEGUNDO A CLASSIFCAGLO CLASSICA.. DiAcNOsTiCo ACTUAL (ULTIMA OBSERVAGAO) SEGUNDO A CLASSIFICAGAO DINAMICO- 16 7.9 A.QUESTAO DO PRIMARIO NA PSICOPATOLOGIAE NA FENOMENOLOGIA. 7.9.1. FENOMENOLOGIA TOPOLOGICA COLHIDA NO INGIO BK DOENGA, 7.9.2 PSICOPATOLOGIA PRIMARIA COLHIDA NO INICIO BA DOENCA, 740 Co-MoraiLioADé — 7.41 ANALISE DA AGREGAGKO DE VARIAVEIS EM CONJUNTOS SIKOROMATICOS ne 326 7.42 ANALISE DA ORGANZAGAO HIERARQUICA DOS SINTOMAS DENTRO DE CADA GRUPO 334 7.43. CORRELAGOES ENTRE CARACTERISTICAS ESTRUTURAISE CLNCAS 7.44 Sines 8 piscussi DOS RESULTADOS. 8.4. O GRUPO De DoENTES ESTUDADO.. ANALISE GLOBAL DOS VARIOS PARAMETROS CLINCOS.. Indice Gera 182.1. DATADEINCIO 008 PRIMEIROS SINTOMAS EM FUNHO DA IDADE. sn BAD 82.2 OS PRMEIROS SITOWAS. CARACTERISTICAS CLINCAS o 344 8.2.3 A PERSONALIDADE PRE-MORBIOA soon 347 82.4 AEvoUGho. —— 351 82.8 APROCURADUM “ALGO” ESPECIFICAMENTE ESOUZOFRENICO 354 oa 92 93 94 95 (QS CAMINHOS ENCONTRADOS... FORMAS NUCLEARES (GESTALTICAS). FORWAS AFECTVAS, = 374 FORMAS ALUCINATORIO-DELIRANTES. 373 FORMAS REACTIVAS (REACGOES E DESENVOLVIMENTOS) 374 FORMAS TOXCAS, SINTOMATICAS, EPILEPTICAS E ORGANICAS, se 578 24 122 ELementos Esrationcos.... FORMULARIO DA BASE DE DADOS.... Figura 1- Topoleis do campo vivencal Figura 2- Marcos hitrlos do estudo da exquzatona Figura 3~ Demencia precoce Figura 4~ Kraepoin Bleler~ Prncipas dlrengas. - Figura 5 - Eugen Bleuler~A patologia do piclégco.THada sintomata... Figura 6K, Schneider, A pecologla do patil. Ordenagéo dos sito. Figura -«Metagénese>.. Figura 8 - Lope ior. Andie doe sintomas do order. Figura 8 ~O delto de acordo com as cferenos condgbes evolutvas. Figura 10 Organodinamismo de Hend Ey. Figura 14 — Personalidad deirante de Hen Ey. Figura 12-0 autismo na esquzorenia, De Blur a Hens EY... Figura 13 — Perepectva dinmico-evolutva 6e Klaus Conrad, Figura 14 Estrutragso do campo vivencia.. Figura 15 ~0 mundo esquicotréico de Conrad. Fgura 16~ Apotana. Gaus das vivencias Figura 17 ~A perspectva evehtvo-etrutural de Femandes da Fonseca, Figura 18- Obseratirio da esquzotonia. Figura 19 — Arqueologia dos saberes psiguiatcos, Figure 20~A natureza do processo esquzotrénio Figura 21 — Transtomo fundamental esquiztrénico. Figura 22 Sintomas primais e scundiros. Figura 28 ~ Sintomas postives e negatvos. Figura 24~ Formas cinias. Figura 25 - Evolicéo da esquzoenia, Figura 28 - Relapées de sentido em psicopatologa Usa de Figuras 412 416 47 418 421 v2 124 125 128 128 sar 430 420 492 134 438 137 140 1a 143 145 148 148 149 184 sta de Figucas Figura 27 - Total do 210 doontos (102 homens 6 108 mulheres). Figura 28-Racional da andse do material cic, Figura 29 ~ A verter somata epeiqulca, Figura 30 ~ Distribuigso dos doentes por sexo. Figura 31 ~ dade de aparecimento dos pimelos sintomas. Figura 32-dede de aparecimento dos pimeios sintomes postvos.. Figura 32 - Idade de aparecmento dos primeiossintomas negatvos. Figura 34 ~ Distriburdo des personalidades pela amosta, Figura 35 — Distribuigde dos bibtpos pela amostra, Figura 96 ~ diagndstio hill baseado na classificacéo désscs. Figura 37-0 dagnéstico inal baseado na cassficagto dintico-estutral Figura 38-0 dlagnéstco actual baseado na classieagio clisica, Figura 39-0 diagnéstco actual baseado na classficagto dnéico-estrtral Figura 40 ~ Distibugdo de algunas doancas somaticas pala amosta Figura 41 ~ Adigio 20 dlezole a0 tabaco @ a relagdo deste aime com as doengas respiratvas. Figura 42- Movimento final dos lusts encontrados. Dedugées clinica correspondentes. Figura 43 - Relag6es encontradas entre as dversas personalidades e os diferentes tipos de esquzofrenia, tendo por base a classicacéo dindmico-estrutural. Figura 44 -Relagées encontradas entteo tipo de inicio da enfermidade ¢ os diferentes tpos de esquizottenia, tendo por base a cassiicagdo dinanico- cetrutural. Figura 45 - Relagdes encontradas entre as formas incial e actual da esquizotreia, tendo por base a classfcacso dindmico-estrtural Figura 46 ~ Distibuigdo das 3 amostras segundo a idade. Figura 47 — Relagdo entre o tipo de inicio da psicose 0 tipo de deft, Figura 48 A decomposi¢do do pensamento delrante 199 28 288 308 308 308 an 313 su sts 316 37 318 24 325 331 334 1395 396 sa 383 260 sta se Figure Figura 49 - Os caminhos da esquizotrenia, sone TO sta de Tabelar Tabela 1 ~ Distbuiso pela amostra dos dversos sintomas com base na fenomenoioga topotégica. o 32 ‘Tabole 2 ~ Distribuiso pela amestra dos diverss sintomas primatios na ico da enfermidade.. . 322 Tabeta 9 ~ Doengas Sométcas. Percertagem na popula gerale na mast, 325 ‘Tabela 4 —-Dependéncias de Slco0l tabaco na populagéogerale na amostra 328 ‘Tabela§ ~ Fenomenclogia Topolgica: Andie factorial eandlise de componentes principals. 27 ‘Tabela 6 ~ PsicopatoloniaPrimsria Ini: Andis facto e andlse de componentes Princo se 328 ‘Tabela 7 — Matic de coretagées (Fenomenclogia Topolica. 32 ‘Tobela 8 -Matrz de corelagSes (Psicopatologi primar). 332 ‘Tabela 8 - Dos componertes principals acs clusters, Formas cnicas 346 ‘Tabela 10- A evolugdo na forma de inicio Pseudo-Neurtca. 352 ‘Tabela 14 ~A evolugdo na forma de inicio feat, a 352 Tabela 12 -A forma de inicio na esquzofrenia alucinatério-delrante. 353 Introdugao (ap. 1-ntroduso 1 Introdugéo 44. Ocnigma ‘A razao de ser deste trabalho reside na circun incia de a esquizotrenia ser uma doenca cuja incidéncia se mantém constants ao longo dos séculos (0,5 2 1%) ¢ que, em grande parte, evolui para a cronicidade (Kraepelin - dementia precoce). O ‘seu aparecimento frequente na juventude, o facto de atravessar, sem grandes oscilagSes na sua incidéncia, praticamente todas as socledades, independentemente das racas, etnias, culturas niveis sécio-econémicos, os enormes custos socials que acarreta bem como 0 espesso manto de interrogagses etiopatogénicas que continua 2 amortalhar a inlimidade da doenga, justiicam todas as investigagSes a seu respeito, 1.2. Definigdo do objecto de estudo © problema da esquizofrenia parece consttuir hoje em dia a questo mais ‘grave da patologia mental de carécter evolutive; excluem-se, obviamente, os cestados deficitarios © as degenerescéncias neurofisiolégicas. © esciarecimento deste problema s6 poderd, certamente, ser alngido, ndo s6 a partir dum conhecimento cientifice-linico das formas inicials da esquizofrenia, mas também dum estudo, to rigoroso quanto possivel, do evoluir da doenca, particularmente nos planos psico-isico, psico-biologico e psico-socil Historicamente, a definigdio do concelto de doenca esquizotrénica, tem-se orientado por teses discursivas, centradas em estudos de cardcter essenciaimente Psicopatolégico, estudos cujo vector fundamental assenta na evolueéo da doenca, andlise das formas clinicas, ¢, muito particularments, das formas incals do adoecer esquizofrénico. (© Gikimo trabalho cientifico com notoriedade internacional que, em relagao as formas iniciais da esquizofrenia, se mostrou til no estabelecimento de regras, semiolégicas, destinadas a0 diagnéstico precoce da doenca, data de ha mais de ap. + etroto ‘tinta anos ¢ deve-se ao investigador portugués Antonio Femandes da Fonseca. 0 facto de ter sido portugués um dos mais interessantes trabalhos nesta area nas titimas décadss, a necessidade cada vez mais premente do diagnéstico precoce (por raz6es fundamentalmente terapéuticas) e 0 interesse (essencialmente clinico) fem decifrar © (ou 0s) caminhos da esquizofrenia, acenderam em nés a luz da curiosidade cientiica e fomeceram-nos o estimulo para encetar uma investigagao que visasse o esclarecimento possivel destas questées. 1.3. Fundamentos da investigagao onsiderando que os avancos terapéuticos dos ultimos 20 anos, particularmente no campo da psicofarmacologia, provocaram, necessariamente, acentuadas metamorfoses, néo 86 nos tradicionals quadros clinicos, mas, muito particularmente, nas formas iniciais do adoecer esquizofténico; considerando, ainda, que assistimos hoje a novas formas clinicas, provavelmente relacionadas com 0 fenémeno da toxicodependéncia, propomos: Reinvestigar algum do material clinico, porventura ainda existente, que servi cde base ao estudo do Prof. Fernandes da Fonseca, e, confronti-to com nevos casos, no sentido de vorifcarmos, ainda hoje, a validade das conclusbes entio tradas. Em relago as psicoses téxicas, sintométicas, epilépticas e organicas (particularmente aquelas que evoluem com um perfil esquizofreniforme), tentar investigar © ponto de ruptura, isto é, avallar a possivel acgao dos factores patogénicos na mobilizagso de eventuais factores constitucionals, endégenos, psicolégions ou outros. 14 Margens do percurso Privlegiaremos como método de trabalho essencialmente a observacao clinica, ‘A anélise e a interpretagio de todo 0 material clinico recolhido, seré orientada por caminhos eclécticas de investigagso, mas sempre balizados por dois tipos de critérios: cientifico naturais por um lado @ clinico fenomenolégicos pelo outro. (ap. 1 = rrodueso 1.8 Perspectiva teérica ‘Seremos flels & nossa formagio @ seguiremos a linha fenomenolégico- estrutural, numa perspectiva antropologico-esistencial. Palmilharemos os caminhos dda esquizofrenia guiados preferencialmente pela biissola interpretatva da psicologia topoiégica. A bibliografia mais citada assentard nos mestres da escola alems, Karl Jaspers, Kurt Schneider © Klaus Conrad. Honrarei igualmente, no plano bibliogréfico, os mmestres ibérieos Lopez lbor, Barahona Fernandes, Fernandes da Fonseca, Manuel de Azevedo Fernandes e Henrique Gomes de Araujo. 1.6 Metodologia de investigacso Para além dos dados apontados, que aconselham mais estudos neste sector da salide mental, existe a circunstincia do seu diagnéstico precoce se: difcil, a ponto do proprio DSM IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders — Fourth Edition)’ considerar que s6 se pode fazer um diagnéstico seguro de esquizofrenia ‘apés 6 meses de evolugdo da doengs. No entanto, exactamente durante os 6 meses iniciais que as terapéuticas intervencionistas poderdo ter acgao eficaz, no sentido da preservacio da personalidade, porque 6 meses de evolupdo sem tratamento, conduz, quase sempre, & deterioragao e degradacto de personalidade. Considerando estes aspectos, pareceu-nos que o ponto fulcral em que devemos atacar a investigagao neste campo, assonta no estudo da personalidade e na analise do eclodirinicial da doenga. Até hoje, os trabalhos mais proveltoses neste sentido foram, em nossa opinido, os trabalhos de Klaus Conrad e de Femandes da Fonseca, mas, tals trabalhos, apesar de interessantes e proficuos, néo foram inteiramente coincidentes nos seus resultados. Conrad concluiu por uma organizarao homogénea do delirio nas formas iniciale da esquizofrenia, enquanto que Femandes da Fonseca concluiu por uma organizagao heterogénea, embora, na maioria dos casos a que cchamou esquizofrenia pseudo-neurética, haja também uma evolugao homogénea na * Dowty (19); Oagneatc and Stati! Mant of Mental Disorders Fouth Eton Aratican Pcie ‘Avoca » Manu’ Ge Gagnésicn# slattta Sos partubagies manals~ Chel Eres, & Eas, Usboa. Pp. 220-204 ap. 1 not organizagao delrante. Porém, em quase 50% das formas iniciais de esquizotrenia 0 dolitio organiza-se, segundo o autor portugués, através de outros caminhos psicopatolégicos. Parece-nos ento que a orientacao a seguir, no sentido de aciarar sta problemética, sera a do estudo das formas inicias do adoscer esquizofrénico, segundo eixos mais esclarecedores. E, assim, entendemos que, para além dos eixos utlizados por Fernandes da Fonseca na sua perspectiva dinamico-estrutual, em que foram considerados a data de inicio dos primeiros sintomas e as caracteristicas linicas desses mesmos sintomas, haverd que tomar em linha de conta o tipo de personalidade prévia e as formas de evolugao ao fim de 6 meses. 4.7 Breve explicago sobre o esquema geral da tese © longo julgamento clinico que as perturbacées mentais tém sofrico ao longo da historia das neuro-ciéncias, jusifica uma abordagem ecéctca e abrangente, tio ampla quanto possivel, de tipo multcisciplinar. E se devera ser assim em quase todos os grupos nosogréficos que se relacionam com 0 comportamento humano, deveré ser muito mais assim naquele ‘grupo @ que ainda chamamos esquizofrenia (ou esquizofrenias), do qual apenas suspeitamos uma causalidade somatica (somatosis)e hipotéticas patogenias que se presumem emergir de transtomos biodindmices varios, como sejam, a “reducao do potencial energetico™, a “hipotonia da consciéncia’ intensional ou 0 “vazio dinamico". © “telaxamento do arco Nao admira, portante, que © concelto de esquizofrenia tena estado ermanentemente sujeto @ acertos diversos, de acordo com os avancos cientiticos, ue, infelizmente, se tém resumido a aspectos particulares, quase sempre ancorados a0 sector terapéutico (biolégico e psicofarmacolégice), com indiscutiveis repercussées positivas no campo do diagnéstico. Para ilustrarmos as dificuldades conceptuais nesta rea clinica dos * conrad, Kas (1969): La Experi niente tral Ahab, Mico, P68 3 Nagar A Volo, atedo de Patt, 9, Sat SA, Moai, Pe. 1 ‘Cowad, icon 2p 152 | Fernandes, Mono, Fundemnts da Pag Actua, 5 Paz Mortaho, Mei, Py, 520 Sap. 1 ltr transtomos mentai, transcrevemos, na integra, o que nos diz 0 DSM IV* a respeito do diagnéstico da esquizofrenia: “As caracteristicas essencials da Esquizotrenia so um conjunto de sinais sintomas caracteristicos (tanto positives como negatives) que estiveram presentes ‘uma importante parte do tempo durante um periodo de um més (ou um periodo mai ccurto no caso de um tratamento bem sucedido), com alguns sinais de perturbagso persistindo durante pelo menos seis meses (Critério A e C). Estes sinais e sintomas festdo associados a uma marcada disfungao social ou ocupacional (Critério B). A alteragao nao 6 devida a Perturbago Esquizo-afectiva ou a uma Perturbagao do Humor com Caracteristicas Psicéticas @ néo é devida a efeitos fisiclégicos directos: de uma substincia ou estado fisico geral (Critérios De E). Em sujeitos com 0 iagnéstico prévio de Perturbagto Autstica (ou outra Perturbagao Global do Desenvolvimento), o diagnéstico adicional de Esquizofrenia, esté apenas garantido ‘se as idelas delirantes dominantes ou alucinagées estiverem presentes pelo menos durante um més (Critsio F). Os sintomas caracteristicos de Esquizefrenia envolver lum conjunto de disfungées cognitivas e emocionais que incluem percepcao, ensamento indutivo, linguagem e comunicapao, comportamento, afecto, fuéncia e produgo do pensamento e discurso, capacidade hedénica, vontade, comportamento © atengao. Nenhum sintoma isolado 6 patognoménico de Esquizotre pessoais, do individuo e que provém de transmissao hereditéria, constituindo verdadeira heranca racial ou étnica de recordacdes e comportamentos, considerados tipicos numa comunidade, as vezes mesmo assumindo uma certa transculturalidade e até uuniversalidade. Segundo Jung, 0 que se herda no sdo as idelas em si (do Inconsciente colectivo), mas sim potencialidade para a experiéncia dessas mesmas ldeias. Os arquétipos sao justamente estas protoideias universais que frequentemente contém uma grande carga emocional. Para ele © comportamento ‘humano é condicionado, néo somente pela sua historia individual (causalidade), mas também pelas suas aspiragdes (teleologia) e projectos"*. Da mesma forma que divide © inconsciente em pessoal e colectivo, também encara a personalidade de dois modos. A personelidade pablica, a “Persona’ corresponde & méscara usada pelo Individuo face as solictagbes e tradicbes socials, isto 6, corresponde & adopeao uma postura compativel com aquilo que a sociedade espera do sujeito; a personalidad privada corresponde aquilo que existe escondido por detrés da mascara social, Se 0 ego se identifica excessivamente com a persone, 0 sujlto torna-se, de certa forma, prisioneiro das exigéncias socials, assumindo um comportamento superficial, culdando mais das aparéncias do que dos sentimentos * al cat, Lec, Gardner, Caml, Jt (200, Op. at, Pp 888, (Cap. 2- Enquadramento tetico ‘genuinos. Definiu 0 self como o ponto central da personalidade, zo redor do qual todos 0s outros sistemas se organizam®. ‘Tal como referimos em relagao ao modelo psicanaliico, também, @ nosso ver, a teoria analiica de Jung, néo se alusta a0 estudo © compreenstio do delio esquizofrénico. Trata-se, contudo, dum modelo dtl para a compreensao e ajuda de ‘alguns quadros reactivos ou induzides, nos quais. plano tematico, sao preponderantes. alterages do pensamento, no Mas ha um ponto, nesta teoria, do qual nos servimos na andlise da Personalidade dos individuos que compuseram a nossa amostra. Foi a questéo da extroversio e introversao. Dols termos que caracterizam dois tpos de alitude face realidade e face a0 mundo subjective interior. Correspondem, no fundo, a dois ‘aspectos disposicionais do ser humano. O individuo extrovertido esta sempre voltado para 0 objecto, entendendo-se por objecto tudo aquilo que se situe no campo da confrontaeao com 0 sujet. Geralmente esta atitude facta a submissio do sujelto 35 regras exteriores, curvando-se o homem perante elas, som as questionar rminimamente, abrindo-se facilmente a novas relagdes e a mudancas mais ou menos signficativas do meio ambiente. Pelo contrério, 0 introvertide privilegia a relago ‘consigo proprio, mostra um individuo pouco submisso aos valores exteriores, pouco ‘isponivel para se Inclinar perante as exigéncias do meio ambiente, paticularmente fom rolagio &s suas mudancas e transformagées. Dal a postura reservada, ‘meditativa, centrada no proprio eu, esquiva face aos objectes, defensiva e frequentemente pautada por um ambiente interior colorido de desconfianca. ‘Ougamos 0 proprio Jung: “A introversio caracteriza-se por uma tenso geral, uma fungao primaria intensiva e uma fungSo secundaria de duragio corespondente. A extroversio caracteriza-se por um relaxamento geral, uma fungao priméria fraca e uma fungdo secundaria de correspondente brevidade"". Ora, alguns destes tragos de personalidade, particularmente no grupo Introvertido, so muito frequentes em certos tipos de individuos que compéem a personalidad esquizoide, os quais, algumas vezes, acabam por adoecer de £ va Cahn, Linen, Gane. Campbell (2000: Op. Pa, 0 chr, (1588) Lee Types pojehobues. eal de Universe, Gener, Pe 258, (cap. 2 Enquadrament teico cesquizofrenia, Daf o interesse que encontrémos em conjugar, na nossa Investigacao, este critério junguiano com outros, no obstante o registo diferente que tecricamente 08 suporta, Teorias culturalistas de Adler, From @ Sullivan Contrariamente a Freud, que desenvolve toda a sua teoria, particularmente no ‘campo das neuroses, ao redor do problema da sexualidade e do principio energetico que a alimenta (libido), Adler acha que © comportamento neurttico nac deve ser associado & regressao da personalidade a estédios arcaicos ou infantis, nas sim a ois tipos de movimento: busca do prazer a partir da parte sa da personalidade e procura de outros fins, tidos como superiores, a partir da parte neurstica © nidcleo fundamental da neurose gira & volta da inseguranca e do sentimento e inferioridade a que aquela esté associada. Escreve o proprio Adler, a propésito do “complexo de inferioridade’: “sentimento ameacador de insegurama e de Inferioridade, sentimento esse que dé origem ao deseo irreprimivel de encontrar um ‘fm susceptivel de tomar a vida suportével, assegurando-the uma direceao, fonte de ccalma e de seguranga™®, Esta postura conceptual, conhecida como — psicologia individual - pSe em causa a dindmica causal peicanalitica’ dinamica finalsta (a vida humana 6 sempre orientada por um fim que se vai formando a partir da Infancia, resultando das impresses recolhidas pela crianga em contacto com 0 mundo exterior, particularmente pais ¢ ambiente cultural Trata-se duma “concepeao evolucionista do organismo humano como um todo, com uma teoria de compensagao pela psique, da fraqueza fisica’®”. No fundo, tata-se de cenfatizar 0 papel dos mecanismos de compensacao, postos em marcha pela psique, para se centrar na ‘a partir da fraqueza fisica. ‘Alguns neo-freudianos como E. Fromm" e Sulivan®, impressionando-se com 1s descobertas no campo da etnologia, da antropologia e da psicologiatranscultural, 2 at, A (194) Le Temperament Neveu. Pays, Pats, Po 77 Colt bert: Opt Pa. ‘ Bogot Em: Geet A (8: Biden, Pg 4. 5 Gat Abert Pg 8, teen Pp 5 Gap, 2 Enqusdramento tesico ‘especialmente levada a cabo em povos muito primitivos, desenvolveram uma teoria ha qual, sem por em causa o fundo basico da psicandlise, valorizaram muito mais @ influéncia que 0 melo ambiente tem no desenvolvimento da personelidade do que 2 prépria libido, Fromm! enfatiza aquilo a que ole chama a contradigao bésica do hhomem, ou seja @ sua condigao de animal (ente da natureza como todas as coisas) © ‘a sua condicéo de humano (detentor e gestor da sua propria liberdade). Como animal o homem tem necessidades fisiolégicas imperativas para a sua sobrevivénca, ‘Como humano possui auto-consciéncia, razdo e imaginagao, factores que o tornam ‘nico na natureza, A compreensao do psiquismo humano assenta na andlise desta ‘aparente contradigao (homem e animal) e no estudo das necessidades espectficas ‘que resultam das condigées da existéncia humana, Tais necessidades (‘elaclonamento, transcendéncia, seguranca, identidade, e orientagéo), assumem-se ‘como valores implantados no homem através da evolucdo e marcam of horizontes que continuamente © mobilizam no sentido da sua realizagao pessoal e social. Neste sentido, a personalidade desenvolve-se de acordo com as oportunidades que ‘a sociedade Ihe oferece Hany Sullivan, criador da teoria inferpessoal da psiquiatria®, relere a personalidade como uma entidade hipotética, impossivel de ser isolada das situagdes interpessoais. Assim, nao faz sentido entender 0 homem desde @ mais tenra infancia desligado da sua condigao de elemento de um determinado mundo social. Acha mesmo, que, 0 que & emblematico no homem e exclusive del produto das interacg6es sociais. No plano estitamente estrutural, Sulivan aconsetha fa que a unidade de estudo da personalidade se centre na situagao interpessoal do individuo e no na pessoa, pois personalidade 6 uma entidade como acima se disse, puramente hipotética. A sua estrutura organizativa compde-se de ocorréncias Interpessoais e nao intrapsiquicas. Considerando © nosso entendimento etiopatogénico do adoecer esquizotténico, assumimos algumas dificuldades em colocar estas teorias ao servigo da nossa Hat, Cav, Undzy, Gardner, Caml, John (2000-0. Pa 182. setts, Pa 82 den P87 a (Cop.2 -Enquadramerto tevico Investigagdo. Porém, como aliés escrevemos a propésito da psicanalise, também estes modelos tedricos encontramos inimeros pontos de ajuda, nao sé no plano Interpretativo da temética vivencial (mesmo delirante) dalouns quatros, mas sSbretudo, na caracterizagao de algumas personalidades, designadamente as ‘chamadas inseguras de si proprias e na valotizagao da acgo dos factores culturais, sociais e iterpessoals dos nossos doentes. Teorias comportamentais Em oposigao ao subjecvismo que anlmava a maior parte das teorias da personalidade e servindo-se dos avangos no campo da fisiologia das teorias estimulo = resposta e das novas achegas psicofsiologicas que as experiéncias de Ivan Paviov Introduziram, alguns autores (John Watson®, Clark Hull”, Edward Thorndike) desenvolveram uma teoria, de raiz mais objectiva, passivel de ser usada ppragmaticamente, quer no terreno da compreensao da vida psicoligica, através da ~andlise do comportamento, quer no terreno do diagnéstico, quer ainda no campo das terapeuticas. Tals teorias polarizam-se essencialmente ao redor daquilo a que se chama personalidade pablica®, entendida esta como a parte observavel do comportamento, resultante da relagto do sujeito com as caracteristicas do meio ambiente, particularmente ao nivel da resposta desse mesmo meio, através de beneficios ou ppunig6es que o individuo val recolhendo, de acordo com as respectivas situacoes. ‘Trata-se duma teoria de mals fécil manejo que as anteriores, rigorosa ro método, usando fitérios objectives, porque observavels a partir dos comportamentos, passivels de serem traduzidos em leis. Sobretudo as teorias psicedinémicas apareciam, aos olhos dos investigadores e dos terapeutas, carregadas de subjectivismo, sempre difcl de avaliare, sobretudo de codificar clentiicamente, por forma a ter uma aplicabiidade consequente e universal. Mais tarde, estas teorias ‘a, catia, Lndsy, Gardner, Cpt, Joh (200: Op. at, P32 then: Be 32 ‘ibn a. 32 iden Pa Gap. 2- Enqiadrament tesco {foram progressivamente sendo enriquecidas com acrescentos e preocupagées de ordem social”, valorizando-se, sobretudo, a dialéctica que nascia da relacdo entre a hereditariedade, a socializagdo © os fenémenos afectivos relacionados com a rmotivagae. No campo especiico do nosso trabalho, estido da esquzotenia, muito paricularmente do deliio esquzoénico e, tendo em conta a profunda intrioridade e subjecvidede dos chamados sintomas priméros, tas terias reveamse, a nosso ver, de utlidade imide, Porém, alguns aspecios, relacionados com 0 comportamento aprendido ao longo da doenga, por interacgao da personalidad ja desorganizada ou em vas disso, algumas técicas de indole compotamental podem revelar-se tteis, quer na compreenséo temética do delio secundéti, quer na sua Posterior manipulacao psicoterapéutica. TTeorias constitucionalistas Desde ha muitos anos que existe a crenca da relacao entre o farmato do corpo © © coloripo psicolégico da pessoa. De entre todos 0s teéricos que se debrugaram sobre estas questées escolhemos dois para melhor sustentar 0 nosso discurso, Kretechmer” © Sheldon’, Em geral acsita‘se a relagdo entre a hereditariedade e as ccaractersticasfisicas, abrindo esta constatacao portas para a aceitardo das relagdes também existentes entre a genética © as carteristcas psicolégicas. Allés 0 povo, na ‘sua alta sabedoria, enquadra esta evidéncia no seguinte dito popula: “fiho de peixe sabe nadar’ Com Emest Kretschmer, a psicologia consfitucional, particularmente no campo linico, atinglu 0 seu ponto mais alto. Estudou cuidadosamente o formato do corpo dos seus doentes, tentando estabelecer lels que fossem faclimente aplicavels na clinica, compondo tipos biotipol6gicos aos quais corresponderia quase sempre uma certa maneira de adoecer e, portanto, uma certa enfermidade. Classificou ento os bidtioos em quatro grandes categories: asténico (isco linear e frag, corpo alongado, Cen, tndey, Garra,Camgbet Joba 2000: Op. ct, Pa. 104. ‘Patt Pf Day (1085) Opa, Pp 350. igen, Po ee @ (cap. 2 -Enquatrameto eco ombros estretes, palidez, massa muscular escassa); allético (fisico musculado e Vigoroso, grande desenvolvimento do esqueleto, ombros salientes © térax avantajado); plcnico (desenvolvimento periférico pronunciado das cavidades do corpo, designadamente da cabeca e ventre; pernas curtas grossas, massa gorda ‘abundante, pescogo curto, face larga); mais tarde fol acrescentado um quarto tipo a que se chamou displistico cujas referéncias biotipolégicas assentam fundamentalmente na desproporcionalidade, face & média das pessoas, das diferentes partes do corpo. Relacionando estes tipos com as doengas psiquistricas lassicas do campo psicético, encontrou uma indiscutivel afinidade de alguns bi6tipos com certas doengas; assim, a esquizofrenia aparecia muito relacionada com © bidtipo asténico, a psicose maniaco-depressiva com o bidtipo picnico e a epilepsia com bidtipo atlético, Curioso recordar, que, para Kretschmer, havia uma espécie de continuidade entre os estados psicétioas © 0 comportamento normal. Deste modo, definiu um estado préximo da esquizofrenia @ que chamou esquizoide e um estado ainda integrado no campo do normal a que chamou esquizotimico. Haveria uma espécie de gradacao entre estes estados que se estenderia da saide até a doenca (© mesmo aconteceria com a personalidade cicioide, muito préxima da psicose maniaco-depressiva, e, o estado ciclotimico; este ainda normal, mas com tracos orientadores duma possivel futura queda psicética na doenca afectiva. ‘Sheldon, sustenta que os determinantes biolégicos e genéticos desempenham uum papel fundamental, néo 6 na evolugdo do individuo, mas também na organizagéo da personalidade, concretamente na vertentefisica (fenotipa). Existria entio uma estrutura biolégica (morfogenetipo), que suportaria © fisico (Ienctipo), e que desempenharia importante papel no futuro comportamento do individuo e no desenvolvimento fisico. Assim, © somatotipo mais no representaria do que uma tentativa para, Indirectamente, avaliar 0 morfogenotipo, servindo-se, evidentemente, a andlise da vertente fisica Estas caractersticas, de raiz morfolégica, descritas por estes e outtos autores que seguiram orientagses semelhantes, s8o profusamente ampliadas com as ccaracteristicas de natureza psiquica, que, quase sempre, estao ligadas eo desenho fisico (ap. 2 Enquadramento teri No nosso estudo servimo-nos amplamente destas teorias para a elaboracdo duma escala biotipolégica, que acoplémos ao instrument informtico, da qual , tenha pouco ou nada a ver com o espaco vital (aperias (P), assim como Lewin, Kurt, (2000), En Hal, Cavin, Lindy. Garner, Campbell John: Op. it, P38. (03p.2 -Enquadramentoteérico ‘a pessoa é funedo do meio P = f (M). Embora a pessoa néo faga parte do melo psiquico a barreira que limita ambos é permedvel e permite portanto estas infuéncias funcionais. Também o mundo externo ao espaco vital o pode modifica e este ter por sia vez uma influéncia decisiva naquele, nas tals circunstincias especificas que referimos @ a que Lewin chama ecologia psicol6gica (factos ndo psicoldgicos podem Influenciar @ determinar factos psicolégicos). Aliés, 0 invélucro externo, nao se assemelha a uma barreira rigida, impeditiva de contactos com o espago vital, mas sim a uma membrana porosa, a qual se deixa atravessar por fenémenos néo psicolégicos, que, todavia, no comunicam directamente com a pessoa, pois, para tanto, terdo de atravessar 0 espago psicolégico. © contrétlo também verdadelro, Isto 6, a pessoa sé pode comunicar com o mundo fisico através do espago psicolégico, pols antes de tudo 0 facto a comunicar deveré existir no. me Psicol6gico. ‘A pessoa néo & uma entidade homogénea. Dentro dela 6 possivel encontrar ‘segmentos funcionais diversos, embora em estreltarelaco uns com os oultos. A sua cesirulura pode ser concebida esquematicamente, segundo Lewin, por dois circulos coneéintricos, o mais externo representando a zona perceptivo-motora (P-M) © o mais interno representando o espago intra-pessoal (-P). Da andlise deste esquema se infere que 86 através da zona P-M a regio Intra-pessoal comunica ccm © meio psicolégico. Também a regio intra-pessoal pode esquematicamente ser ‘compartimentada em regides mais periféricas, espagos funcionais que comunicam directamente com a zona P-M e, regiées mais inteiores abrigadas da relacao directa com os esparos perifericos da pessoa. ‘Também 0 meio psiquico néo tem uma estrutura homogénea. Se a tivesse, todos os factos nele contides, teriam uma influncia igual sobre a pessoa ¢ esta, teria fentéo uma liberdade total de movimento, 0 que, evidentemente, ndo acontece. Contudo, a segmentacdo desta regio é, ndo s6 variével em fungio do momento no ual se processa o facto psiquico, mas também em fungao do préprio facto em si ‘Assim, a andlise estrutural da pessoa requer 0 conhecimento num determinado momento do estado de diferenciacdo da pessoa ¢ do meio psicolégico no qual ela desenvolve o comportamento. TED BIBLIOTECA = Cap. 2 Enquadrement eco [As fronteiras que limitam as diferentes regies so ent8o relativamente pormedves € 0 conjunto de tudo quanto existe no espaco vital consttul um sistema do regives inter-igadas entre si. Esta conexéo entre duas regiées, geralmente crionta-s0 por eitros relacionados com a ditancia, com a resisténda dae frontoiras ‘com a maior ou menor fuitez das regides intermédias. Um sujeito pode passar duma regido psicoligica a outa, sem cue ito implique ecessariamente um movimento fisco; a este fenémeno chamou Lewin locomocao; por exemple a colugdo dum problema mals ndo é do que uma locemogao intelectual AA ligazao entre as regi6es no interior do sujeto chamou c mesmo autor comunicagio. Os acontecimentes cortespondem & locomogdo comunicagao entre regides, © mesmo 6 dizer, correspondem & interacrao entre factos, uma vez que as regives S80, no fundo, os continentes dos factos psicolécicos existentes, tentendendo-se por facto 0 objecto observvel ou aquilo que pode se inferido @ partir do objecto observivel © elemento desencadeador do movimento psiquico (motor ou intelectual) no terior da pessoa & a necessidade. Esta pode consistir num estado fisilgico como sede, num qualquer desejo (posse dum objecto por exemplo), numa qualquer intengao de concretizar algo. Quando, na minha consciéneia, surge uma qualquer necessidade, esta provoca um aumento de tensao (subida de energia) no segmento ccorrespondente a necessidade, Uma das caracteristicas dos sistemas tensionais, por {orga das barreiras permedveis que os segmentam, é a tendéncia a igualizagao das tensdes nas diversas regides. A este movimento de homogeneizaga0 enorgética chama-se proceso. © proceso engloba qualquer acto psiquico, como seja, por cexemplo, do pensar a0 actuar, do motivar ao sentir. No meio psiquico existem os mais diversos valores ou valéncias, cada uma dlas ocupando uma regio do meio psicolégico, sempre relacionada, positiva ou nnegativamente, com uma das regiées interiores da pessoa. Imaginemos por exempio alguém que tem uma atitude f6bica em relagdo aos répteis; um campo com vvegetagdo alta que @ pessoa tem de atravessar, constitui uma veléncia negativa Passa entao a exercer-se uma forra sobre a pessoa, forca essa a que Lewin chama vector. A partir daqui surgem a locomeggo e @ comunicagso somo meios do (cap. 2-Enquairamerto terico restabelecer o estado de equillbrio provocado pelo nascimento de uma necessidade. Neste sentido, ¢ sempre possivel, mediante a organizagéo esquemitica das regides, das valéncias e dos vectores, representar a pessoa relacionada dinamicamente com ©'seu campo vivencal (© esquema” que se representa na Figura 1, reproduz a topologia do campo vivencial¢ as forgas que relacionam o individuo com o seu meio. Em todas as histérias de vida que adiante analisaremos, faremos uma Interpretagao do acontecer psicético @ luz da fenomenologia e da psisologla da forma, ‘Ao longo de toda a nossa investigacdo, tentémos penetrar profundamente no mundo esquizofrénice com uma viséo global e convergente, ora escalpelizando a

Vous aimerez peut-être aussi