0 évaluation0% ont trouvé ce document utile (0 vote)
335 vues3 pages
O documento discute a obra "Sociologia da sexualidade" de Michel Bozon. A obra divide-se em três partes que abordam a construção social da sexualidade ao longo da história, as transformações nas relações entre homens e mulheres, e a teoria dos "scripts sexuais" que influenciam o desejo e prazer. A resenha elogia a discussão dos scripts sexuais, mas critica a falta de avanço na teoria sobre o tema.
O documento discute a obra "Sociologia da sexualidade" de Michel Bozon. A obra divide-se em três partes que abordam a construção social da sexualidade ao longo da história, as transformações nas relações entre homens e mulheres, e a teoria dos "scripts sexuais" que influenciam o desejo e prazer. A resenha elogia a discussão dos scripts sexuais, mas critica a falta de avanço na teoria sobre o tema.
O documento discute a obra "Sociologia da sexualidade" de Michel Bozon. A obra divide-se em três partes que abordam a construção social da sexualidade ao longo da história, as transformações nas relações entre homens e mulheres, e a teoria dos "scripts sexuais" que influenciam o desejo e prazer. A resenha elogia a discussão dos scripts sexuais, mas critica a falta de avanço na teoria sobre o tema.
textos dirigidos ao grande pblico quanto nos textos inspiradores, elaborados
pelos tcnicos ligados ao Banco Mundial. E provoca a necessidade de retomarmos o processo educativo como espao de luta, em um momento em que tal racionalidade se reveste de movimentos discursivos silenciadores e de intensa campanha ideolgica a favor do refluxo da conscincia poltica marcante na literatura pedaggica produzida na dcada de 1980. Ao contrrio do que quer fazer crer o discurso da reforma do ensino mdio, ratificamos na leitura do texto, especialmente na primeira e segunda partes, a percepo de que os elementos que contribuem para a competitividade de um pas so, antes de tudo, de ordem macroeconmica e de poltica internacional. O papel que se espera da comunidade cientfica, de cuja ao esta obra representa substancial parte, , como faz o texto, a reafirmao do compromisso com a crtica consistente e com a ao transformadora. Aparecida de Ftima Tiradentes dos Santos Pesquisadora em educao profissional na Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio da Fundao Osvaldo Cruz (FIOCRUZ) e docente no Programa de Ps-Graduao em Ensino de Biocincias e Sade, tambm da FIOCRUZ Ana Jlia Calazans Duarte Pesquisadora da Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio da FIOCRUZ e mestranda no Programa de Ps-Graduao em Ensino de Biocincias e Sade, tambm da FIOCRUZ Valdemar Ferreira da Silva Professor da Faculdade de Filosofia de Campo Grande (RJ). Mestrando no Programa de Ps-Graduao em Ensino de Biocincias e Sade, da FIOCRUZ
182
BOZON, Michel. Sociologia da
sexualidade. Rio de Janeiro: FGV, 2004, 172p.
Michel Bozon tido como um
dos maiores pesquisadores sobre sexualidade dentro do campo das cincias sociais. Como socilogo, realizou enquetes de grande escala sobre o comportamento sexual na Frana e mantm uma relao bastante prxima de pesquisadores no Brasil, como Maria Luiza Heilborn, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Esta obra recentemente traduzida traz como questo central a problemtica da inexistncia de uma sociologia da sexualidade. Esse problema j foi discutido por outros autores, como Carole Vance (1995), em texto j publicado no Brasil. Bozon promove, ainda, uma discusso sobre uma dmarche sociolgica do fenmeno da sexualidade. A perspectiva desse autor de uma construo social da sexualidade, que uma das vertentes de explicao que Vance aborda em seu texto. Para Bozon, o ser humano no se relaciona sexualmente sem dar sentido aos seus atos, e estes so construdos culturalmente. Com isso, expe o carter de mutabilidade cultural, histrica e social da sexualidade. Segundo o autor, a sociologia da sexualidade deve ser uma forma de compreenso das representaes da sexualidade. A obra ora analisada dividida em trs partes, que necessariamente no so complementares, mas que apresentam importantes pontos de interesse para a sociologia e outras reas do conhecimento. Pelo fato de existir uma certa autonomia entre as suas trs partes, o livro demonstra ser mais um apanhado sobre aspectos importantes da sexualidade do que uma obra que realmente avana na teoria sobre o assunto. Na primeira parte do livro, que se intitula Transformaes da sexualidade
e emergncia da subjetividade moderna,
Bozon aborda as transformaes ocorridas na sexualidade atravs da histria. Afirma que o surgimento, no sculo XIX, da cincia que passou a estudar a sexualidade mudou o rumo das relaes com o corpo e o prazer. Nesse ponto o autor cita Foucault e as contribuies trazidas por ele na Histria da sexualidade (1999), principalmente o volume I, A vontade de saber. Bozon levanta, nessa parte de sua obra, uma das suas teses sobre a sexualidade no mundo ocidental, que a da individualizao. Dialoga com Bourdieu, citando seus estudos antropolgicos sobre o lugar do homem dentro da relao sexual, assim como importantes pesquisadoras antroplogas francesas, citando principalmente Franoise Heritier e sua tese sobre a classificao dualista que justifica as diferenas entre homens e mulheres. As discusses voltam-se principalmente para o lugar que homens e mulheres ocupam dentro das relaes sexuais atravs dos sculos e como isso ir se configurar como um contrato entre os gneros dentro do casamento monogmico cristo. uma reviso interessante, mas, como j foi assinalado, trata de temas que foram abordados em outras obras editadas no Brasil, como as de autoria de Foucault (1999) e Vainfas (1986). No segundo captulo, o autor segue a descrio da longa caminhada de homens e mulheres at a configurao do amor conjugal. Talvez uma das principais contribuies dessa parte da obra seja descrever a dicotomia que passou a ocorrer, no Ocidente, entre amor-sentimento e amor-sexo. Essa temtica e sua contribuio para as pesquisas em AIDS foram bem descritas por Apostolidis (1993), que demonstrou que a preveno da AIDS est atrelada s pessoas que esto envolvidas em relacionamentos sexuais no possuidores de afeto, diferentes daqueles que, quando esto em uma relao amorosa,
Maio /Jun /Jul /Ago 2005 No 29
Resenhas
desconsideram o risco de transmisso
do HIV em suas relaes sexuais. Como pode-se perceber, uma discusso bastante importante para o campo da sade coletiva. Nesse captulo, Bozon afirma que as pessoas possuem um repertrio de significaes da interao sexual que faz com que se comportem de uma determinada forma ou no. Para isso, discorre sobre as mudanas de comportamento e relacionamentos sexuais ocorridos com o passar da idade. Problematiza tambm o quanto as diferenas sexuais podem estar atreladas a situaes de envelhecimento ou juventude das pessoas. O autor revela que o envelhecimento relaciona-se com as etapas ou estgios dentro do relacionamento conjugal, defendendo, dessa forma, a existncia de processos pelos quais todas as pessoas que estabelecem relaes de conjugalidade passam. Ele defende que esses passos acontecem com as pessoas independentemente da idade e da quantidade de relacionamentos conjugais que estabelecem em sua vida. Essas fases so iniciadas com uma vida sexual intensa, at culminar com o nascimento dos filhos, o que faz a atividade sexual diminuir de proporo. Sobre a nova formulao das relaes entre homens e mulheres dentro da sexualidade contempornea, Bozon segue a linha iniciada por Giddens (1993) na obra A transformao da intimidade, que anuncia as modificaes ocorridas na sexualidade de homens e mulheres na sociedade moderna. Nesse estudo, o autor enfatiza o importante papel dos movimentos feministas, coisa que Giddens no faz, ressaltando o quanto esse movimento foi importante para as transformaes dos comportamentos tanto de heterossexuais quanto de homossexuais. No livro de Giddens, as transformaes sociais parecem ter ocorrido sem um ator social especfico, ou, pior, determinada mais pelos homens do que pelas prprias mulheres.
Revista Brasileira de Educao
Bozon, ao final dessa parte, indica quanto os comportamentos sexuais
so influenciados pelos cenrios culturais que organizam as prticas relacionadas sexualidade. Cita, por exemplo, o caso da prostituio no Cear, ressaltando como complexo o fenmeno da prostituio nesse estado, assim como em outros, no devendo ser visto apenas como uma relao comercial. H vrios desdobramentos que ocorrem posteriormente relao comercial, que pode, muitas vezes, se transformar at mesmo em casamento. Por exemplo, as mulheres que se prostituem valorizam os estrangeiros como caracteristicamente melhores que seus compatriotas do sexo oposto. Elas procuram os estrangeiros valorizando seus atributos positivos e considerando os brasileiros violentos e machistas. H, muitas vezes, uma supervalorizao dos clientes estrangeiros, e no incomum relacionamento afetivo no-comercial entre cliente e profissional. A ltima parte da obra talvez seja a mais interessante, pois aborda a forma como se constituem o desejo e o prazer, por meio da teoria dos sexuals scripts com a qual o autor vem trabalhando. Bozon descreve o quanto a sexualidade se faz atravs de procedimentos rituais e de representaes que indicam o que as pessoas fazem, fizeram ou iro fazer, assim dando sentido s suas aes. Nesse ponto, notria a contribuio terica de Gagnon e Simon, na obra Sexual conducts: the social sources of human sexuality, publicada em 1973 e ainda no traduzida para o portugus. Bozon fornece uma boa compreenso da discusso sobre os sexuals scripts, relacionando a importncia dos aspectos das seqncias de eventos na vida do sujeito, e de uma interiorizao de modos de funcionamento de instituies que influenciam os relacionamentos sexuais das pessoas. Essa teoria relaciona, dentro de uma perspectiva
dinmica, o cenrio cultural onde se encontram, histrica e culturalmente, os
valores sexuais dos sujeitos. A teoria dos sexuals scripts divide-se em trs nveis: o primeiro, dos cenrios culturais, que trata dos aspectos simblicos produzidos pela cultura; o segundo, chamado de interpsquico, aborda, de uma forma bem prtica, como ocorrem os relacionamentos das pessoas dentro de uma determinada situao especfica; e o nvel intrapsquico que remete aos elementos simblicos que se organizam em esquemas cognitivos estruturados, que tero a forma de seqncia de narrativas, de planos e de fantasmas1 sexuais. Os nveis coordenam a vida mental e o comportamento sexual, e operam no reconhecimento das situaes sexuais e dos estados de excitao corporal. A importncia dos sexuals scripts a possibilidade que ela oferece para que se possa entender como uma ao ocorre dentro de um conjunto de possibilidades sociais. O autor defende que a conduta sexual no est associada a uma preocupao sanitria preventiva, mas a uma preocupao que individualizada e privada em cada pessoa. Assim, a sua obra apresenta uma boa leitura sobre a sexualidade, principalmente sobre os sexuals scripts, mas ao mesmo tempo uma recapitulao de outros autores que ressaltam como a categoria gnero tem se constitudo fundamental para repensar a discusso sobre constituio da sexualidade para as pessoas e grupos. Referncias bibliogrficas APOSTOLIDIS, Themis, (1993). Pratiques sexualles versus pratiques
Bozon relata a idia de fantasma
para ressaltar situaes recorrentes que nos
provocam reaes emocionadas no passado, presente ou futuro.
183
Resenhas
amoreuses fragments sur la
GAGNON, John, SIMON, Wiliam,
redescobre a sexualidade: um
division socio-culturelle du
(1973). Sexual conduct: the social
comentrio terico. Physis: Revista
comportament sexuel. Socits:
sources of human sexuality. Chicago:
de Sade Pblica, Rio de Janeiro,
Revue des sciences humaines et
Aldine.
UERJ, v. 5, n 1, p. 7-31.
sociales, Paris, Mas Son, n 39,
p. 39-46. FOUCAULT, Michel, (1999). Histria da sexualidade: a vontade de saber. 13 ed. Rio de Janeiro: Graal. Traduo de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J.A. Guilhon Albuquerque.
184
GIDDENS, Anthony, (1993). A transformao da intimidade: sexualidade,
amor e erotismo nas sociedades. 2 ed. So Paulo: UNESP. VAINFAS, Ronaldo, (1986). Sexo, amor e desejo no Ocidente cristo. So Paulo: tica. VANCE, Carole, (1995). A antropologia
Leandro Castro Oltramari
Professor da Universidade do Vale do Itaja (UNIVALI) e da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL); doutorando na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: leandro@cfh.ufsc.br