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Carta de discussão sobre a atual situação das manifestações culturais no carnaval do Recife

É sabido que os diversos eventos que ocorrem durante o carnaval de Recife atraem turistas 
do mundo todo e movimentam consideravelmente a economia da cidade1. Contribuem também para 
reafirmar a imagem de uma região muito rica em sua cultura. Esta imagem é capaz de cativar as 
demais regiões do país, uma vez que Pernambuco tem o privilégio de colecionar uma  grande 
variedade  de  símbolos  e   referências  da   manifestação  da   cultura  popular,  exclusiva  da  região. 
Grande   parte   dessas   manifestações   provém   de   comunidades   que   cultivam   características 
particulares,  e   através  da   manutenção  da   tradição,  dão   continuidade  às   atividades  ligadas  ao 
carnaval.
No entanto, as agremiações que trabalham durante o ano todo, sem mencionar a dedicação 
projetada ao longo dos anos de existência de cada tradição, vêm encontrando diversas injustiças e 
obstáculos durante o período de carnaval. A intenção é protestar e indicar os fatores negativos que 
incomodam   seus   representantes,   seus   participantes,   seus   admiradores,   bem   como   seus 
incentivadores.
Luciana Azevedo, com seu comentário sobre o projeto Carnaval de Todos, “(...) uma de 
nossas preocupações era fazer com que a cultura do chão se encontrasse com a do palco (...) ”2,  nos 
faz pensar sobre a incapacidade da comissão organizadora em seguir esta preocupação. Enquanto 
atrações de palco com celebridades da música acumulam um aparato muito maior de produção e até 
mesmo prestígio, a cultura local ainda enfrenta necessidades básicas.
A famosa abertura de carnaval com Naná Vasconcelos é um evento que chama muito a 
atenção do público, muito embora coloque as nações em uma situação de coadjuvantes em relação 
ao prestígio depositado ao próprio Naná e aos seus convidados3. A tão falada musicalidade do 
maracatu acaba sendo prejudicada. Tanto pelo fato de o próprio condutor do espetáculo não ter 
nenhuma  ligação  com   o   maracatu  ­   nem  participativa,  nem  religiosa   ­   como  pelo   fato  de  os 
convidados também não terem relação estreita com esta manifestação. Estes fatores acabam por 
fazer com que a união musical dos mesmos torne­se confusa e pobre, mesmo que sejam feitos 
ensaios antes da abertura em si. Um melhor planejamento deste evento, mais coeso com a tradição, 
valorizaria às características particulares da manifestação.
Quanto ao desfile do concurso entre agremiações, podemos observar alguns problemas. As 
condições estruturais vêm deixando muito a desejar. A passarela é muito precária. Sua estrutura 
não comporta o público de maneira correta. A proximidade na qual as pessoas se posicionam na 
arquibancada, em relação aos passistas, complica tanto a segurança, como o desempenho do desfile 
como um todo. Qualquer um que quiser pular da arquibancada, tocar um passista ou mesmo jogar 

1 Segundo a presidente da Fundação de Cultura de Pernambuco (Fundarpe), Luciana Azevedo, em 2008, 
cerca de 700 mil turistas circularam pelo estado e movimentaram R$ 315 milhões de reais. Publicado na página 04 
do caderno “Cidades” do Jornal do Commercio, em 8 de fevereiro de 2008.
2 “Pernambuco não conhece Pernambuco. Uma de nossas preocupações era fazer com que a cultura do chão 
se encontrasse com a do palco. Certamente repetiremos esse modelo”. Publicado na página 04 do caderno “Cidades” 
do Jornal do Commercio, em 8 de fevereiro de 2008.
3 Em 2008 os convidados foram Marisa Monte, Elza Soares e Lia de Itamaracá.
objetos, tem total facilidade para tal (como já foi observado no desfile deste ano). Considerando 
ainda a relação de rivalidade que muitas vezes existe entre algumas agremiações, tais fatores abrem 
portas para o acontecimento de confusões completamente desnecessárias ao momento do desfile. 
O evento da passarela ainda enfrenta problemas como a falta de divulgação (nota­se que a 
formação do público da arquibancada é composta em sua maioria pelos próprios integrantes das 
comunidades) e a falta de estrutura e planejamento para que haja transmissão pela TV.
Já em relação ao julgamento, encontramos os maiores motivos para indignações. A falta de 
clareza e a má formação da comissão julgadora incomoda muito quem é julgado (neste ano teve 
confusão no Pátio de São Pedro4). Enquanto o público não tem como acompanhar nada do que 
acontece dentro da casa 8, de onde a contagem de pontos é feita, apenas alguns representantes das 
agremiações e federações podem acompanhar o processo. 
Outra questão é o fato da comissão certas vezes passar por cima dos próprios critérios de 
julgamento sem explicar os motivos dessa decisão. Exemplo disso foi o resultado do concurso entre 
os maracatus de baque virado, no qual foram anunciados dois primeiros lugares. Qual foi o critério 
de desempate, ou melhor, a falta dele, para que divulgassem tal resultado?
Há vários motivos para indagarmos sobre questões como influência da política, e com ela o 
surgimento da corrupção e falta de seriedade, em todo o processo de realização do carnaval.

4  Notícia publicada na página 04 do caderno “Cidades” do Jornal do Commercio, em 8 de fevereiro de 
2008.
Texto de autoria de  Adriana Beltrame, estudante universitária, residente na cidade de Curitiba, 
Paraná, turista admiradora do carnaval de Recife, com colaboração de André Marinho, estudante 
universitário, residente na cidade de Recife.

Contato: adrianabeltra@gmail.com

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