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10 INVEJA E GRATIDAO (1957) Nota Explicativa da Comissao Editorial Inglesa Este € 0 Gltimo dos trabalhos teéricos de maior envergadura de Melanie Klein. An- tes de seu aparecimento, a inveja era esporadicamente reconhecida por psicanalistas como uma emogao importante, mas apenas em situacGes de privacdo, e somente uma de suas formas, a inveja do penis, havia sido estudada pormenorizadamente, As re- feréncias anteriores da propria Melanie Klein & inveja comecam com sua descrigdo do profundo efeito da inveja sobre o desenvolvimento de Erna, um de seus primei- Tos casos, relatado em um artigo nao publicado, apresentado na Primeira Conferén- cia de Psicanalistas Alemfes em 1924 e que se tornou a base do terceiro capftulo de The Psycho-Analysis of Children, Entrementes, registrou a inveja como um fator importante; ela lista suas referéncias passadas em uma nota de rodapé & pAgina 201, esquecendo-se contudo de sua prépria antecipacao do presente trabalho em “‘Algu- mas Conclusées Te6ricas Relativas & Vida Emocional do Bebé” (1952), onde diz: “A inveja parece ser inerente A voracidade oral... 2 inveja (em alternancia com sentimentos de amor e gratificac&o) é primeiramente dirigida ao seio nutridor. ..” (pag. 103). Nesta monografia Melanie Klein mapeia uma érea extensa da qual apenas um. pequeno setor havia sido conhecido antes. Ela postula que a inveja e a gratidao sto sentimentos opostos ¢ interagentes, normalmente operantes desde 0 nascimento, e que o primeiro objeto da inveja, bem como da gratidfo, & 0 seio nutridor, Descreve a influéncia da inveja e da gratiddo nas relagbes de objeto mais arcaicas e estuda 0 funcionamento da inveja nfo apenas em situagdes de privagio, como também em situagdes de gratificagao onde ela interfere na gratid4o normal, S40 estudados os efeitos da inveja, em particular da inveja inconsciente, sobre a formaco do caréter, incluindo ~¢ estas s4o da maior importancia ~ a natureza das defesas erigidas contra a inveja, A técnica de analisar os processos de cisfo & também discutida; isso cons- titui um suplemento importante 2 discussdo em “Notas sobre Alguns Mecanismos Esquiz6ides”. Melanie Klein examina também a inveja anormalmente acentuada, Em “Notas sobre Alguns Mecanismos Esquiz6ides”, embora tenha registrado diversas anorma- lidades do funcionamento arcaico, por exemplo, a introjegdo de objetos fragmenta- dos pelo édio, 0 uso excessivo de mecanismos de ciséo e a persisténcia de estados — 205 — eve emt porMeHO 2 Lomnagite pore exquice parandade per eeu enn yi ponte al No pres he, cha ek 1700p inveja excessi i; desereve, cn coulusito oriunda de um frac mbém a esteuturat normal da po > dle Pdipo que dat resulta, Postula também que 0 seio nutti- dlor & pereebido pelo bebé como uma fonte de criatividade e descreve os efeitos da- nosos da inveja indevida sobre a capacidade de criatividade. Do principio ao fim, seus argumentos tanto te6ricos quanto clinicos sio ilustrados com material clinico, 0 que € de particular interesse na medida que mostra como ela trabalhava nesse tiltimo perfodo. Este trabalho langa nova luz sobre a reagSo terapéutica negativa, estudada co- mo efeito da inveja. Melanie Klein considera que, embora a inveja possa em alguma medida ser analisada, ela estabelece um limite para 0 éxito analitico, Esse fato, por- tanto, coloca uma restrigfo final ao grande otimismo de seus artigos iniciais dos anos vinte, so na cisfio © mostra a importine’ », Delineia io de~ edo comy —206— 10 INVEJA E GRATIDAO! (1957) HA muitos anos venho me interessando pelas fontes mais arcaicas de dusts atitudes que sempre nos foram familiares: a inveja e a gratidaio, Cheguci A conclusio de que a inveja é um fator muito poderoso no solapamento «| rafzes dos sentimentos de amor e de gratidao, pois ela afeta a relagio 1 antiga de todas, a relacéo com a mae. A importincia fundamental dessa relagdo para toda a vida emocional do indiv{duo tem sido substanciada cm varios trabalhos psicanaliticos; e penso que, ao investigar mais profund: mente um fator especffico que pode ser muito perturbador nesse estigiv inicial, eu acrescentei algo de significativo aos meus achados referentes ao desenvolvimento infantil e & formagao da personalidade. Considero que a inveja € uma expressio sédico-oral ¢ s&dico-anal de impulsos destrutivos, em atividade desde 0 comeso da vida, e que tem ba se constitucional. Essas conclusées tém certos elementos importantes cm comum com a obra de Karl Abraham, apesar de implicar algumas diferen- gas com relagao a ela, Abraham achava que a inveja € uma caracteristic oral, mas — e 6 aqui que minhas concepcées diferem das dele — presumi: que inveja e hostilidade operassem num perfodo ulterior, 0 qual, de acor- do com suas hipsteses, constitufa um segundo estagio, 0 s4dico-oral Abraham nfo falou em gratidao, mas descreveu a generosidade como uma caracterfstica oral. Ele considerava os elementos anais como um compo- nente importante da inveja ¢ enfatizou a derivagao desses elementos a partir dos impulsos sfdico-orais. Um outro ponto fundamental de concordancia com Abraham € sua suposigéo de um elemento constitucional na intensidade dos impulsos orais, que ele vinculou a etiologia da enfermidade manfaco-depressiva, Sobretudo, tanto a obra de Abraham quanto a minha puseram em re- levo, mais plena e profundamente, a importancia dos impulsos destrutivos " Quero expressar minha profunda gratidio & minha amiga Lola Brook, que me ajudou ao longo da preparacio deste livro [/nveja e Gratidéo], bem como de muitos de meus escritos. Ela teny uma rara compreensio de minha obra ¢ ajudou-me, em todas as etapas, com formulagées ¢ crf- ticas 20 contetido, Meus agradecimentos séo também devidos ao Dr. Elliott Jaques, que fey. intimeras e valiosas sugestdes enquanto o livro estava ainda manuscrito e ajudou-me no trabalho de revisio das provas. Sou agradecida a Miss Judith Fay, que teve grande cuidado na feitura do indice. 207, pment ot the Libro, Viewed a the 1 LYSE, Abrabany nto mcenetonon ss Han sana 1 Tietory ob the Deve Tighe ot Mental Dy dle Fiend sobre as pulsoes de vider © de mort a qq npulsos destrutives © Inport embora Beyer! The Pleasure Principle tivesse sido publi », Abraham inyestigou as raizes dos pos, Km seu re livie, pore aplicou essa compreensiio & ctiologia das perturbagées mentais de um mo- «lo mais espectfico do que até entio fora feito. Embora ele nao tenha feito uso do conceito de Freud das pulses de vida e de morte, parece-me que seu trabalho clfnico, particularmente a anélise dos primeiros pacientes manfaco-depressivos que foram analisados, baseava-se em algum insight que © estava conduzindo nessa diregdo. Presumo que a morte prematura de Abraham impediu-o de se dar conta de todas as implicagdes de seus préprios achados e da essencial conexdo destes com a descoberta, por Freud, das duas pulsdes. Neste momento da publicago de Inveja e Gratiddo, trés décadas apés 0 falecimento de Abraham, é para mim motivo de grande satisfagio que minha obra tenha contribufdo para 0 crescente reconhecimento da plena significagao das descobertas de Abraham. Pretendo aqui fazer algumas sugestées adicionais relativas ao perfodo mais arcaico da vida emocional do bebé e, também, chegar a algumas conclusées sobre a vida adulta e a satide mental. E inerente as descobertas de Freud que a investigacio do passado do paciente, de sua infancia, e de seu inconsciente, € uma precondigio para compreensio de sua persona- lidade adulta. Freud descobriu 0 complexo de Edipo no adulto e, de tal material, reconstruiu nao apenas pormenores do complexo de Edipo, mas também sua cronologia. Os achados de Abraham ampliaram considera- velmente essa abordagem, que se tornou caracterfstica do método psica- nalitico. Devemos também lembrar que, segundo Freud, a parte consciente da mente desenvolve-se a partir do inconsciente. Portanto, ao remontar & primeira infancia o material que primeiramente encontrei na andlise de criangas pequenas, e subseqiientemente na de adultos, segui um procedi- mento hoje familiar & psicandlise. A observagao de criangas pequenas lo- g0 confirmou os achados de Freud. Acredito que algumas das conclusées a que cheguei, com refer€ncia a um estdgio bem anterior, os primeiros anos de vida podem, até certo ponto, ser confirmadas pela observacio. O direito — ¢ de fato, a necessidade — de reconstruir pormenores e dados a respeito dos estdgios mais iniciais a partir do material que nos € apresen- tado pelos pacientes descrito por Freud, de modo muito convincente, na seguinte passagem. — 208 - H ' Ht Op rere ite cymes de comtiaangc ce complete can todos os. apes ter naltsG) trabalho de constareae at sae sa prefer. de recomstrngan, csscmictha se em puainde parte aca por un anquedloge, de u Emorada que foi destrutda e sepultaad cdilicio antigo, Os dois processes sii, na verdade, idénticos, a nae pelo fato de que o analist trabalha em melhores condigées © ten Asana disposigao mais material para auxili4-lo, uma vez que aquilo com que tla » € algo destrufdo, ¢ sim algo que ainda est vivo —¢ talver, por uma outra razdo. Mas, assim como o arquedélogo constréi as | do edificio a partir das fundagées que permaneceram de pé, determinsi © ntimero € posigao das colunas pelas depressdes no solo e reconstiit + pinturas e decoragées murais segundo os restos encontrados nas ru assim também o analista procede quando extrai suas inferéncias dos fis: mentos de lembrangas, das associacées e do comportamento do sujei anélise. Ambos possucm um direito incontestavel de reconstruir por nw1 da suplementagao e combinagdo dos vestigios remanescentes. Ambo além disso, esto sujeitos a muitas das mesmas dificuldades ¢ fontes «de c1 ro. (.. .) O analista, como dissemos, trabalha em condigées mais favorit veis que 0 arquedlogo, pois tem A sua disposicio material que nfo pork ter equivalente em escavagées, tal como a repetigao de reagdes que dat da infancia e tudo que € indicado pela transferéncia em conex4o com ei sas repetigGes. (. . .) Todo o essencial est preservado; mesmo coisas « parecem completamente esquecidas esto presentes, de alguma mancira « em algum lugar, havendo sido simplesmente sepultadas ¢ tomadas inaces siveis ao sujeito, Na verdade, como sabemos, pode-se duvidar que alguin: estrutura ps{quica possa realmente ser vitima de destruico total. Depencl apenas da técnica analftica 0 termos sucesso em trazer completamente luz o que se acha escondido.”” A experiéncia tem me cnsinado que a complexidade da personalidaule plenamente desenvolvida s6 pode ser entendida se obtivermos insight sw bre a mente do bebé ¢ acompanharmos 0 scu desenvolvimento na vid subseqiiente, Isso equivale a dizer que a anélise percorre 0 caminho que vai da vida adulta a infancia e, através de estagios intermediarios, retor A vida adulta, num movimento recorrente, para a frente © para trés, de acordo com a situagao transferencial predominante, Ao longo de todo o meu trabalho, tenho atribufdo importancia fun damental & primeira relagio de objeto do bebé — a relagéo com 0 seio ma terno e com a mie — e cheguei & conclusao de que se esse objeto origin’ rio, que € introjetado, fica enraizado no ego em relativa seguranga, ? “Constructions in Analysis” (1937). — 209 — assentada a base para um desenvolvimento s: contribuem para essa ligacdo. Sob 0 predominio dos impulsos orais, 0 scio € instintivamente sentido como sendo a fonte de nutric&o c, portanto, num sentido mais profundo, da prépria vida. Essa proximidade fisica ¢ mental com o seio gratificador em certa medida restaura, se tudo corre bem, a perdida unidade pré-natal com a mie e o sentimento de seguranca que a acompanha. Isso depende em grande parte da capacidade do bebé de in- vestir suficientemente 0 seio ou seu representante simbédlico, a mamadeira; dessa mancira, a mae € transformada em um objeto amado. Pode bem ser que o ter sido parte da mae no estado pré-natal contribua para o senti- mento inato do bebé de que existe fora dele algo que Ihe dard tudo que necessita e deseja. O seio bom é tomado para dentro ¢ torna-se parte do ego, e o bebé, que antes estava dentro da mae, tem agora a mae dentro de si. © estado pré-natal indubitavelmente implica um sentimento de unida- de e seguranca, mas o quanto esse estado esté livre de perturbacées de- pende necessariamente das condigdes psicolégicas ¢ fisicas da mie, e, possivelmente, até mesmo de certos fatores, nio investigados até o pre- sente momento, no bebé ainda nao nascido. Poderfamos, portanto, consi- derar 0 anseio universal pelo estado pré-natal como sendo também, em parte, uma expressfio da necessidade premente de idealizagio. Se investi- gamos esse anscio A luz da idealizacio, encontramos que uma de suas fontes € a forte ansicdade persecut6ria suscitada pelo nascimento. Pode- rfamos especular que essa primeira forma de ansiedade possivelmente abrange as experiéncias desagradéveis do bebé ainda no nascido, as quais, juntamente com o sentimento de seguranga no witero, prenunciam a relago dupla com a mie: 0 seio bom e 0 seio mau, As circunstancias externas desempenham um papel vital na relagio inicial com 0 seio. Se © nascimento foi diffcil, ¢ se, particularmente, re- sulta em complicagées como falta de oxigénio, hd uma perturbagio na adaptagio a0 mundo externo e a relacio com 0 seio inicia-se sob condi- goes de grande desvantagem. Em tais casos, a capacidade do bebé de ex- perimentar novas fontes de gratificacio € prejudicada e, em conseqiiéncia, ele nfo pode internalizar suficientemente um objeto originério realmente bom. Além disso, se a crianga € ou nao adequadamente alimentada e cer- cada de cuidados maternais, se a mae frui plenamente ou nao os cuidados com a crianga, ou se cla é ansiosa e tem dificuldades psicolégicas com a amamentagdio — todos esses fatores influenciam a capacidade do bebé de aceitar 0 leite com prazer e de intenalizar 0 seio bom. Um elemento de frustracio por parte do seio esta fadado a entrar na relagdo mais inicial do bebé com o seio, porque até mesmo uma situagio feliz, de amamentagio nao pode substituir completamente a unidade pré- natal com a me. Além disso, 0 anseio do bebé por um seio inexaurivel ¢ -210- Fpromenca per obter ce fe cevrdene tr donor a. meat enmauratcke na amucdaale Abita « Hate AeMtO dO self © de obyete ps pulsos destiutives siio fatores fundamentit sua mic. Isso porque scus des piercer che anniey relagdio imetal do bebe « jos implicam querer que © sein, 6 « guida a mie, fizessem desaparecer esses impulsos destrutives © a «dor «he ansiedade persecutéria. Concomitantemente a experiéncias felizes, ressentimentos ine vi reforcam © conflito inato entre 0 amor ¢ o ddio, isto é, basicamente cuts as pulsGes de vida ¢ de morte, o que resulta no sentimento de que erate um um scio bom ¢ um scio mau. Conseqiientemente, a vida emocional si caracteriza-se por uma sensagao de perda e recupcragéo do ohjcle bum Ao falar de um conflito inato entre amor e ddio, deixo implicito qu: pacidade tanto para amor quanto para impulsos destrutivos & ale veates Ponto, constitucional, embora varie individualmente em intensidide « im teraja desde o inicio, com as condicées externas. Tenho repetidamente proposto a hipétese de que o objeto bom ory nario, 0 seio materno, forma o micleo do ego e€ contribui de made vital para o seu crescimento, e tenho freqiientemente descrito como o blu sente que concretamente internaliza o seio € 0 leite que este da. JA cs também em sua mente uma conexiio indefinida entre o seio € outras parte © aspectos da mie. __ Nao presumiria que, para ele, o seio seja simplesmente um objeto 11 sico. A totalidade de seus desejos instintivos e de suas fantasias incon cientes imbui o seio de qualidades que vio muito além da nutricho cst que ele propicia.? Vemos na andlise de nossos pacientes que 0 seio em seu aspector hun € 0 protétipo da “bondade” materna, de paciéncia e generosidade inex: riveis, bem como de criatividade, Sf essas fantasias e necessidades put sionais que de tal modo enriquecem 0 objeto originério que ele perma como a base da esperanga, da confianga ¢ da crenca no bom, Este trabalho trata de um aspecto especifico das mais arcaicas wl: g6es de objeto © processos de internalizagao, que tem raizes na oraliach * Tudo isso & sentido pelo bebé de um modo muito mais primitive do que 0 que a linguagei jute expressar. Quando essas emor6es ¢ fantasias pré-verbais sfo revividas na situagao translevc cial, aparecem como ““lembrangas em sentimento”, como eu as chamatia, ¢ sfo reconsirulity + Postas em palavras com o auxflio do analista. Da mesma maneira, temos que utilizar puivtir quando estamos reconstruindo e descrevendo outros fenémenos que pertencem 20s estfion ciais do desenvolvimento. De fato, nfo podemos traduzir a linguagem do inconsciente jy ‘consciéncia sem emprestar-Ihe palavras do nosso domfnio consciente, area veka capa as diliculd Refiro-me aos cleitos da inveja sobte 6 descnvel vis gratidéo e de felicidade. A inveja contribui p em construir seu objeto bom, pois ele sente que a gratificagiin de q privado foi guardada, para uso préprio, pelo seio que o frustrou.* Deve-se fazer uma distingao entre inveja, citime e voracidade. A in- veja € 0 sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfruta algo dc sejével — sendo o impulso invejoso o de tirar este algo ou de estragi-lo. Além disso, a inveja pressupée a relagSo do individuo com uma s6 pessoa € remonta A mais arcaica e exclusiva relagéo com a mae. O citime € ba- seado na inveja, mas envolve uma relacdo com, pelo menos, duas pessoas; diz respeito principalmente ao amor que o individuo sente como Ihe sendo devido e que Ihe foi tirado, ou est4 em perigo de sé-lo, por seu rival. Na concepgaio corriqueira de citime, um homem ou uma mulher se sente pri vado, por outrem, da pessoa amada. A voracidade é uma dnsia impetuosa e insacifivel, que excede aquilo que © sujeito necessita e 0 que o objeto € capaz.e est disposto a dar. A nfvel inconsciente, a voracidade visa, primariamente, escavar completa- mente, sugar até deixar seco e devorar 0 seio; ou seja, seu objetivo é a introjecdo destrutiva, ao passo que a inveja procura nfo apenas despojar dessa maneira, mas também depositar maldade, primordialmente excre- mentos maus ¢ partes més do self, dentro da mae, acima de tudo dentro do seu seio, a fim de estragé-la e destruf-la. No sentido mais profundo, isso significa destruir a criatividade da mie, Esse processo, que deriva de im- pulsos sddico-uretrais e s4dico-anais, foi por mim definido em outro arti- go* como um aspecto destrutivo da identificagaéo projetiva, comegando desde 0 infcio da vida*. Uma diferenga essencial entre voracidade e inve- 2 toi “ Numa série de trabalhos meus, The Psycho-Analysis of Children, “Farly Stages of the Oedipus Complex”, e em ““A Vida Emocional do Bebé”, referi-me 2 inveja surgindo de fontes sfdico- orais, sSdico-uretrais e sfidico-anais, durante os estfgios mais iniciais do complexo de Edi; erelacionei-a a0 desejo de estragar os bens da mf, particularmente o penis do pai, o qual, na fantasia da crianca, a mfe contém, J4em meu artigo * ‘An Obssessional Neurosis in a Six-Year- Old Girl”, apresentado em 1924, mas nio publicado até aparecer em The Psycho-Analysis of Children, a inveja ligada a ataques sfdico-orais, sfdico-uretrais e sfdico-anais ao corpo da mie desempenhava papel proemninente, Entretanto, nfo havia relacionado especificamente essa in- Veja ao desejo de tirar e estragar 0s seios da mie, embora houvesse chegado muito perto dessas conclusées. No meu artigo * Sobre a IdentificacSo” (1955) examinei a inveja como um fator ‘muito importante na identificacio projetiva. J4 em The Psycho-Analysis of Children sugeri que nfo apenas tendéncias sfdico-orais, como também sédico-uretrais ¢ sddico-anais, esto em fun- cionamento em bebés muito pequenos. “Notas sobre alguns Mecanismos Esquizdides””. Dr, Elliott Jaques chamou minha atencfo para a raiz etimoldgica de “inveja”” no latim “invi- di’”, que provém do verbo “tinvideo” —olhar atravessado, olhar maldosamente ou com despei- to, lancar mau-olhado, invejar ou relutar mesquinhamente em dar ou reconhecer o que & do ou- tro. Um uso antigo pode ser encontrado nuina expresso de Cicero, cuja traducto é “‘causar in- fortinio pelo mau-othado”. Isso confirma a diferenciag30 que fiz entre inveja e voracidade, pela @nfase dada ao carter projetivo da inveja, -212- De seabeceton ane abotene Ue oon he punde oe Shorter Ovord Dictionary, nite pruatbies pessoa fomiou, ou sek estd sendo dado, 0 “be que por dirette pertens + “bom” basicamente cone a0 i © seio bom, a mae, uma pessoa amada, que outra pessoa com 0 English Synonyms, de Crabb, “(. ..) 0 citime teme perder 0+ possui; a inveja sofre ao ver outro possuir o que ela quer para si (+ © invejoso passa mal A vista da fruigdo, Sente-se 2 vontade apenas infortnio dos outros. Assim, todos os esforgos para satisfazer um inve so sao infrutfferos”. O citime, segundo Crabb, € “uma paixio nolic v1 igndbil, de acordo com o objeto. No primeiro caso, € emulacao pelo medo, No segundo, é voracidade estimulada pelo medo. A inve yi « sempre uma paix4o vil, arrastando consigo as piores paix6es”” lividuo. Nesse contexto, cu interpret tirou, De aconde, A atitude geral para com 0 citime difere da que se tem para com veja. Na realidade, em certos paises (particularmente a Franga), 0 assis: nato induzido pelo citime acarreta sentenga menos severa. A ra: essa disting4o encontra-se no sentimento universal de que 0 assassi um rival pode subentender amor pela pessoa infiel. Isso significa, no termos discutidos acima, que existe amor pelo “bom” e que 0 objeto ama do nao € danificado ¢ estragado como o seria pela inveja. Otelo de Shakespeare, em seu citime, destr6i o objeto que ams c «: so, em minha opiniao, & caracterfstico do que Crabb descreve como a “iy. n6bil paixdo do citime”, ou seja, a voracidade estimulada pelo medo. Una referéncia significativa ao citime como qualidade inerente A mente ap: na mesma peca: “But jealous souls will not be answer’d so; They are not ever jealous for the cause, But jealous for they are jealous; tis a monster Begot upon itself, born on itself””*. Poder-se-ia dizer que a pessoa muito invejosa é insacidvel, que nunca pode ser satisfeita porque sua inveja brota de dentro e, portanto, sempre encontra um objeto sobre 0 qual focalizar-se. Isso mostra também a c« xdo fntima entre citime, voracidade e inveja. * “Mas os ciumentos nio atendem a isso; Nao precisam de causa para o citime: Tem citime, nada mais. O citime 6 monstro Que se gera em si mesmo e de si nasce””. Othello”, A II, 4. Tr. de Carlos Alberto Nunes, Ed. Melhoramentos, 3366, pay. 1.1 wT) —213- Shakespeare Men sciipre parece diferonc sar mnvege de ertine oO ver vers septimtes;, le Olelo, mostane plonamente at siymiticay inveja no “ON beware my Lord of jealousy; 1 is the green-eyed monster which doth mock The meat it feeds on’. . * Vazem-nos lembrar a expressfio “morder a mao que alimenta”, quase na de morder, destruir e estragar o seio. auf Meu trabalho ensinou-me que 0 primeiro objeto a ser invejado é 0 svio nutridor’, pois 0 bebé sente que o sci possui tudo o que ele deseja que tem um fluxo ilimitado de leite e amor que guarda para sua prépria gratificagao, Esse sentimento soma-se a seu ressentimento e ddio, e o re- sultado € uma relagao perturbada com a mie. Se a inveja € excessiva, in- dica, em minha concepgdo, que tracos parandides ¢ esquizéides so anor- malmente intensos e que tal bebé pode ser considerado como doente. Ao longo deste capitulo, falo da inveja priméria do seio materno, Es- sa inveja deve ser diferenciada de suas formas subseqiientes (inerentes, na menina, ao desejo de tomar o lugar da mie, e, no menino, a posigéio femi- nina), nas quais a inveja nao mais se focaliza no seio, e sim na mae que recebe 0 pénis do pai, que tem bebés dentro dela, que dé a luz esses be- bés, e que € capaz de amamenté-los. Tenho freqiientemente descrito os ataques s&dicos ao seio materno como sendo determinados por impulsos destrutivos. Quero acrescentar aqui que a inveja confere um fmpeto especial a esses ataques. Isso signifi- ca que quando escrevi sobre a escavagao voraz do seio e do corpo da mae, sobre a destruigao de seus bebés, bem como sobre a deposicao de excrementos maus dentro da mie‘, j4 deixava entrever 0 que posterior- mente vim a reconhecer como o estrago do objeto, por inveja. * “Acautelai-vos, Senhor, do citime, E.um monstro de olhos verdes que zomba Do alimento de que vive” Comet, ATL, 3. Tr. de Carlos Alberto Nunes. Ed, Melhoramentos, 3366, pég. 85.) 7 Joan Riviere, em seu artigo “Jealousy as a Mechanism of Defence” (1932), reportou a inveja nas mulheres ao desejo infantil de despojar a mée de seus seios ¢ estragé-los. De acordo com seus achados, o cidime tem suas rafzes nessa inveja primfria, Scu artigo contém interessante material ilustrativo desses pontos de vista. "Cf. meu livro The Psycho-Analysis of Children, onde esses conceitos desempenham wm papel importante em varias conexdes. —214— fore qe este nacmiente do bebe at Henaren desea, Lorna se Compreenstvel cor me seo bebe © madequadkimente amamentaule ¢ edo bebe parecem ser que, quando © scie © priya, este porque rear sé para si o Ieile, 0 amor ¢ os cuidados associados ao sr bom. Ele odeia ¢ inveja aquilo que s lente. quinho © mialeve te scr 0 Scio ni E talvez mais compreensfvel que 0 seio satisfatério seja tambn in vejado. A prépria facilidade com que vem o leite origina também inveya pois, embora o bebé se sinta gratificado, essa facilidade fica pareccude um dom inatingfvel. Encontramos essa inveja primitiva revivida na situacio transferencial Por exemplo: 0 analista acabou de dar uma interpretagdo que trouxe alivie ao paciente e que produziu uma mudanga de estado de 4nimo, de desesp To para esperanga € confianga. Com certos pacientes, ou com o mesnixy paciente em outros momentos, essa interpretagao proveitosa pode loyw tomar-se alvo de uma critica destrutiva. Ela, entio, nfo € mais sentida como algo bom que ele tenha tecebido e vivenciado como enriquecimen to. Sua critica pode ater-se a pontos de menor import&ncia; a interpretacine deveria ter sido dada antes; foi longa demais ¢ perturbou as associagix do paciente; ou foi muito curta, isso quer dizer que ele no foi suficicn temente compreendido. O paciente invejoso reluta em atribuir sucesso ao trabalho do analista; e, se ele sente que 0 analista e 0 auxilio que este Ili est4 dando ficaram estragados € desvalorizados por sua critica invejos: nao poderé introjet4-lo suficientemente como um objeto bom, nem acci suas interpretagdes com convicgao real ¢ assimilé-las. A convicgo verits deira, como vemos freqiientemente em pacientes menos invejosos, implic:: gratid&o por uma d&diva recebida. O paciente invejoso também pode sen tir que € indigno de beneficiar-se pela andlise, devido A culpa pela des valorizacao do auxflio dado. Nao & preciso dizer que nossos pacientes nos criticam por uma var dade de razdes, &s vezes justificadamente. Mas a necessidade que tem um paciente de desvalorizar 0 trabalho analitico que experimentou como pro veitoso € expressao de inveja. Na transferéncia, descobrimos as raizes «it inveja se as situagdes emocionais que encontramos em est4gios anterior forem retracadas até 0 est4gio primério. A critica destrutiva € particu mente evidente em pacientes parandides que se comprazem no prazer sf dico de desmerecer 0 trabalho do analista, ainda que este Ihes tenha pro porcionado certo alfvio. Nesses pacientes, a critica invejosa € bastante aberta; noutros, pode desempenhar um papel igualmente importante, mas permanece niio-expressa e até mesmo inconsciente. Em minha exper —215- Jos est) bunben 1ebicronacde: Vemos qu dividas © Incertezas sobre oO. valor dat anatase ome O que acontece & que a parte hostil © invejosa de seu self é ex- candida pelo p: nfemente ao analista outros: aspectos que sente como mais accitiveis. Contudo, as partes excindidas tnt luce encialmente o curso da anélise, a qual, em tltima instén- cia, s6 pode ser eficaz se conseguir integragao ¢ se lidar com o todo da personalidade. Outros pacientes tormam-se confusos para evitar serem cri- fics, Essa confuso nao é apenas uma defesa, mas também expresstio de incerteza quanto ao fato de o analista ainda permanecer como uma figura boa, ou terem, o analista e 0 auxflio que est4 dando, se tornado maus em decorréncia da critica hostil do paciente. Eu remontaria essa incerteza aos sentimentos de confusdo que sfo uma das conseqiiéncias da perturbagéo da relaco mais arcaica com o seio materno. O bebé que, devido & inten- sidade de mecanismos parandides e esquiz6ides e ao fmpeto da inveja, no consegue bem-sucedidamente dividir e manter separados 0 amor € © édio e, portanto, 0 objeto bom do objeto mau, est4 sujeito a sentir-se confuso entre o que € bom ¢ 0 que € mau em outros contextos. Desse modo, a inveja e as defesas contra ela desempenham um pa- pel importante na reacio terapéutica negativa, além dos fatores desco- bertos por Freud ¢ mais amplamente desenvolvidos por Joan Riviere’. Pois a inveja e as atitudes a que dé origem interferem na construgéo gra- dual de um objeto bom na situagao transferencial. Se, no estégio mais ini- cial, 0 bom alimento ¢ 0 objeto bom originatio nao puderam ser accitos € assimilados, isso se repete na transferéncia e 0 curso da andlise € prejudi- cado. No contexto do material analitico € possivel reconstruir, pela elabora- fio de situacées anteriores, os sentimentos do paciente, quando bebé, pa- ra com 0 scio materno. Por exemplo, 0 bebé pode ter um ressentimento de que 0 Ieite chega muito rfpido ou muito devagar"’; ou de que nao Ihe te- nham dado o seio quando mais ansiava por ele e, assim, quando Ihe € ofe- recido, nao 0 quer mais, Volta-lhe as costas ¢, em vez dele, chupa seus préprios dedos. Quando aceita o scio, pode no mamar o bastante ou a mamada ficar perturbada. Alguns bebés tém claramente grande dificulda- de em superar esses ressentimentos. J& outros superam logo tais senti- mentos, ainda que scjam baseados em frustrag6es reais; tomam 0 seio ¢ a ale, © ele apresenta const “A Contribution to the Analysis of the Negative Therapeutic Reaction” (1936); também Freud, The Ego and the Id. 1° © bebé pode de fato ter recebido muito pouco Ieite, nao té-lo recebido na ocasifio em que mais 0 desejava, ou nio té-Io obtido do jeito certo; por exemplo, o leite pode ter vindo lento ou r& pido demais. A maneira pela qual 0 bebé foi segurado, se confortavelmente ou nio, a atitude da mie para com a amamentagio, seu prazer ou ansiedade a respeito dela, se foi dado o scio ou a mamadeira, todos esses fatores 50 de grande importancia em cada caso, —216- Anan chee pebeae te nate Hci me teade say BV amatie le pac nenten pte, oa Foc raternide, basin fondo sen alienate ate.bitorianent: evidentes dass salted ctever evel ss havin oseindido seu ressentimente, © Guo, 6 qtte esses: senfimentos. sito, nig obstinte, parte do. des mento de seu cardter, Esses processos se tornam bastante claros nas «iio transterencial. O desejo original de agradar a ni mado, bem como a necessidade urgente de ser protegido das conseqticn 3 de seus préprios impulsos destrutivos, podem ser encontr: andlise, como subjacentes & cooperacdo, naqueles pacientes cuja inveja Sdio foram excindidos mas que fazem parte de sua reagdo terapéut gativa. Tenho freqtientemente me referido ao desejo do bebé pelo scio inc xaurfvel © sempre-presente. Mas, como foi sugerido anteriormente, nao ¢ apenas alimento que ele deseja; quer também ser libertado dos impulsw destrutivos e da ansiedade persecut6ria. Esse sentimento de que a mic ¢ onipotente e de que compete a ela evitar toda dor e males provindos «le fontes internas ¢ externas € também encontrado na andlise de adultos. lit diria, de passagem, que as modificagdes muito favordveis, que se deri nos tltimos anos, na amamentagdo das criangas, em contraste com 0 modo bastante rfgido de alimentar segundo hordrios regulares, no podem evit: inteiramente as dificuldades do bebé, porque a mae nao pode elimin: impulsos destrutivos ¢ a ansiedade persecutéria dele. HA um outro ponto it ser considerado. Uma atitude demasiadamente ansiosa por parte da mix: que, sempre que o bebé chora, imediatamente Ihe oferece alimento, nav ajuda o bebé. Ele sente a ansiedade da mie ¢ isso aumenta a sua pr6p Encontrei também, em adultos, ressentimento por nao Ihes ter sido permit tido chorar bastante e que, por isso, perderam a possibilidade de expressia ansiedade e pesar (e assim obter alfvio), de modo que nem os impulsos agressivos nem as ansiedades depressivas puderam, suficientemente, cn contrar um escoadouro. FE interessante 0 fato de Abraham mencionar, en tre os fatores que esto na base da enfermidade manfaco-depressiva, tanto a frustragio excessiva quanto a indulgéncia em demasia'’. Pois a frust sao, se nao excessiva, € também um estimulo & adaptagdo ao mundo ex terno e ao desenvolvimento do sentido de realidade, De fato, uma cert quantidade de frustragéo, seguida por gratificagio, pode dar ao bebé i sensagao de ter sido capaz de lidar com sua ansiedade. Verifiquei tambéin que os desejos nao satisfeitos do bebé — que so em certa medida impos sfveis de serem realizados ~ contribuem como fator importante para sts sublimagées e atividades criadoras. A auséncia de conflito no bebé, se é ic, © ANSCIO Por ss aw 't «<4 Short History of the Development of the Libido” (1924). -217- auto, privat tort de qque fal extade hypotetica pudense ple Fator no: lortilecimento, petsonatidade © de un unpe Wade de superé-lo) © uni cleniente de secu cpo. Pois 0 contlito (ea nece fundamental na criatividade Da asserciio de gue a inveja estraga o objeto bom originario ¢ dé fm peto adicional aos ataques s4dicos a0 seio, surgem outras conclusées. O sci assim atacado perde seu valor, torna-se mau por ter sido mordido & cnyenenado por urina ¢ fezes. A inveja excessiva aumenta a intensidade desses ataques ¢ sua duragéo, tornando assim mais dificil para o bebé a recuperagao do objeto bom perdido. Ataques s&dicos ao seio, quando me- nos determinados por inveja, passam mais rapidamente e, assim, na mente do bebé, nao destroem to intensa e duradouramente a qualidade boa do objeto; 0 seio que retorna ¢ pode ser frufdo € sentido como uma evidéncia de que nao est danificado e de que ainda € bom'*. O fato de a inveja estragar a capacidade de fruicio explica, até certo ponto, por que a inveja € t4o persistente"”. Pois 6 a fruicdo e a gratidéo que ela suscita que mitigam os impulsos destrutivos, a inveja e a voraci- dade. Considerando de um outro Angulo: a voracidade, a inveja ¢ a ansic- dade persecutéria, que sao interligadas, intensificam-se inevitavelmente umas as outras. O sentimento de dano causado pela inveja, a grande an- siedade que disso se origina e a incerteza resultante quanto & “bondade”” do objeto tém o efeito de aumentar a voracidade e os impulsos destruti- vos. Sempre que 0 objeto € sentido como, afinal de contas, bom, cle € ainda mais vorazmente descjado e tomado para dentro. Isso também é pertinente ao alimento. Na anilise verificamos que, quando um paciente est com grandes diividas sobre seu objeto e, portanto, também sobre o valor da anillise ¢ do analista, ele pode agarrar-se a qualquer interpretaco que alivie sua ansiedade ¢ tender a prolongar a sesso, por desejar tomar para dentro tanto quanto possfvel daquilo que, no momento, sente ser bom. (Certas pessoas tém tanto medo de sua voracidade que fazem espe- cial questo de sair na hora.) Diividas sobre a posse do objeto bom ¢ a correspondente incerteza sobre os préprios sentimentos bons também contribuem para identifica- g6es vorazes ¢ indiscriminadas; tais pessoas so facilmente influencidveis porque ndo podem confiar em seu préprio julgamento. * As observagées de bebés nos mostram algo dessas atitudes inconscientes subjacentes. Como disse acima, certos bebés que estiveram gritando de raiva mostram-se inteiramente felizes loro apés comegarem 2 mamar. Iss0 significa que temporariamente perderam, mas recuperaram, seu objeto bom, Noutros, 0 ressentimento ¢ a ansiedade persistentes, ainda que momentanea~ ‘mente diminufdos pela zmamentacio, podem ser depreendidos por observadores cuidadosos. " E claro que a privacao, a amamentacio insatisfatéria ¢ circunstncias desfavordveis intensifi- cam inveja por perturbarem a gratificacio plena, ¢ um cfrculo vicioso € criado. —218- apsac adhe He statiekie tent acnnte caanann ba Cone unt objeto bomec pode suportar, scny feat prot wont eanntl ye aud estes tempouinios de inveja, ddio © ressemtimento que stars: nie esto amadas ¢ recebem bons cuidados maternos. Assim, cnn eriamgans «y quando esses estados negatives sio transitér do a cada vez. Esse € um fator essencial para estabelecé-lo ¢ pai as bases da estabilidade e de um ego forte. No curso do desenvolvimento a relago com o seio materno toma-se a base para a dedicacao a pessu valores © causas e, assim, € absorvida uma certa parte do amor que 1 inicialmente sentido pelo objeto originario. 5, 0 objeto bom & recupena Um dos principais derivados da capacidade de amar € 0 sentimento de gratidaio. A gratidao € essencial A construcdo da relaco com 0 objeto bon: © € também o fundamento da apreciago do que h4 de bom nos outros « em si mesmo. A gratidao tem suas rafzes nas emogées atitudes que s gem no estégio mais inicial da infancia, quando para o bebé a mic ¢ o tinico e exclusivo objeto. Referi-me a essa primeira ligagdo" como a hase para todas as relages subseqiientes com uma pessoa amada, Embor:i relagio de exclusividade com a mie varie individualmente em duracio © intensidade, acredito que, até certo ponto, ela exista na maioria das pes soas. Em que medida permanece livre de perturbagdes, depende parc mente das circunstiincias externas. Mas os fatores internos que a fund: mentam ~ acima de tudo a capacidade de amar — parecem ser inatos. Os impulsos destrutivos, especialmente uma forte inveja, podem num estégio inicial pertuidar essa ligacio especial com a mie. Se a inveja do seio nt tridor € forte, a gratificagao plena sofre interferéncia porque, como jf des- crevi, € caracterfstico da inveja despojar 0 objeto daquilo que ele possui c estragé-lo. © bebé s6 pode sentir satisfagio completa se a capacidade de amar ¢ suficientemente desenvolvida; e € a satisfacao que forma a base da grati dio. Freud descreveu o éxtase do bebé na amamentagao como o protétipo da gratificagio sexual"*. A meu ver, essas experiéncias constituem nao apenas a base da gratificagao sexual mas também de toda felicidade sub- seqiiente, ¢ tomam possfvel o sentimento de unidade com outra pessoa; unidade significa ser plenamente compreendido, o que € essencial para toda relagao amorosa ou amizade felizes. Em condicGes as mais favoré- yeis, tal compreensio nao necessita de palavras para expressé-la, 0 que demonstra sua derivago da intimidade mais inicial com a mae, no estagiv ‘A Vida Emocional do Bebé” (1952), '! Three Essays on the Theory of Sexuality, —219- Gishatorie: Datoren arate pant une desenvelye contribuen pac essa liy 6 instintivamente sentido como sendo a fonte de mutts sentido mais profundo, da propria vida. Essa proximidade fisica © mental com 0 seio gratificador em certa medida restaura, se tudo corre bem, perdida unidade pré-natal com a mie ¢ 0 sentimento de seguranga que a acompanha. Isso depende em grande parte da capacidade do bebé de in- vestir suficientemente 0 seio ou seu representante simbélico, a mamadeira; dessa maneira, a mie é transformada em um objeto amado, Pode bem ser que © ter sido parte da mie no estado pré-natal contribua para o senti- mento inato do bebé de que existe fora dele algo que Ihe dard tudo que necesita e deseja. O seio bom é tomado para dentro e torna-se parte do ego, € 0 bebé, que antes estava dentro da mie, tem agora a mae dentro de si. Jpulsos ornts, @ se10 iio, Sob o predomfnie dos Ye, portato, nuUBL O estado pré-natal indubitavelmente implica um sentimento de unida- de e seguranga, mas o quanto esse estado esta livre de perturbag6es de- pende necessariamente das condig6es psicolégicas ¢ ffsicas da mae, c, possivelmente, até mesmo de certos fatores, nio investigados até 0 pre- sente momento, no bebé ainda nao nascido. Poderfamos, portanto, consi- derar 0 anseio universal pelo estado pré-natal como sendo também, em parte, uma expresso da necessidade premente de idealizagao. Se investi- gamos esse anscio A luz da idealizac&o, encontramos que uma de suas fontes € a forte ansicdade persecutéria suscitada pelo nascimento. Pode- rfamos especular que essa primeira forma de ansiedade possivelmente abrange as experiéncias desagradéveis do bebé ainda nao nascido, as quais, juntamente com o sentimento de seguranga no vitero, prenunciam a relago dupla coma mie: 0 seio bom ¢ 0 seio mau. ‘As circunstincias externas desempenham um papel vital na relagao inicial com © scio. Se o nascimento foi dificil, e se, particularmente, re- sulta em complicagdes como falta de oxigénio, h& uma perturbaco na adaptacéio ao mundo externo ¢ a relagio com 0 seio inicia-se sob condi- c6es de grande desvantagem. Em tais casos, a capacidade do bebé de ex- perimentar novas fontes de gratificagdo € prejudicada e, em conseqiiéncia, ele nao pode internalizar suficientemente um objeto origindrio realmente bom. Além disso, se a crianga € ou nao adequadamente alimentada e cer cada de cuidados maternais, se a mac frui plenamente ou no os cuidados com a crianca, ou se cla é ansiosa e tem dificuldades psicolégicas com a amamentagio ~ todos esses fatores influenciam a capacidade do bebé de aceitar 0 leite com prazer e de internalizar 0 seio bom. ‘Um elemento de frustragao por parte do seio esté fadado a entrar na relagdo mais inicial do bebé com o seio, porque até mesmo uma situaco feliz de amamentag&o néo pode substituir completamente a unidade pré- natal com a mae. Além disso, 0 anseio do bebé por um seio inexaurfvel —210— pepe pone ants ta absolutann fe apenas de enna cae ie ps alanis nites Palen ges Habu Per. tieane non Cubiytos nae. nite Inentalye ate conaratde na iiicdade A lube ent dle vidoe ale aga de aniquilamento do. sel) © do objeto peo pulsos destrutives so fitores fundaments tora do bebe co Js nat relagaio mplicam querer qu guida a mie, fizessem desaparecer esses impulsos destrutives: « ansiedade persecut6ria. sua unig, Isso porque scus desejos 20 stio, 6 cna Concomitantemente a experiéncias felizes, ressentimentos incvitaye r reforgam © conflito inato entre o amor e o Gdio, isto é, basi as pulsdes de vida ¢ de morte, o que resulta no sentimento de que exit um seio bom e um seio mau, Conseqiientemente, a vida emocionl ate. a caracteriza-se por uma sensacSo de perda e recuperagao do objeto boar Ao falar de um conflito inato entre amor ¢ 6dio, deixo implicit te aca pacidade tanto para amor quanto para impulsos destrutivos @, te «cite ponto, constitucional, embora varie individualmente em intensicade © 1 teraja desde o inicio, com as condicées externas. Tenho repetidamente proposto a hipétese de que 0 objeto bom ony nfrio, 0 seio materno, forma o micleo do ego e contribui de modo vit para © scu crescimento, ¢ tenho freqiientemente descrito como 0 belx sente que concretamente internaliza 0 seio e o leite que este dé. 1M cs também em sua mente uma conexdo indefinida entre 0 seio ¢ outris antes. © aspectos da mie __ Nao presumiria que, para cle, o seio seja simplesmente um objeto 11 sico. A totalidade de seus desejos instintivos e de suas fantasias incor cientes imbui o seio de qualidades que vao muito além da nutricio + que ele propicia.’ Vemos na andlise de nossos pacientes que 0 seio em seu aspecto hon € 0 protétipo da ‘‘bondade” materna, de paciéncia e generosidade in riveis, bem como de criatividade. Sao essas fantasias e necessidades jul sionais que de tal modo entiquecem o objeto origindrio que ele permance« como a base da esperanga, da confianga ¢ da crenga no bom. xc Este trabalho trata de um aspecto especffico das mais arcaicas rela goes de objeto e processos de internalizagao, que tem rafzes na oralidade * Tudo isso é sentido pelo bebé de um modo muito mais primitivo do que o que a linguagesn juwle expressar. Quando essas emocGes ¢ fantasias pré-verbais sto revividas na situacao transfercu cial, aparecem como ‘“lembrancas em sentimento”, como eu as chamaria, ¢ s&0 reconstrutd postas em palavras com o auxflio do analista. Da mesma maneira, temos que utilizar patavii quando estamos reconstruindo e descrevendo outros fendmenos que pertencem 20s estéios int ciais do desenvolvimento. De fato, nfo podemos traduzir 2 linguagem do inconsciente jar consciéncia sem emprestar-Ihe palavres do nosso dominio consciente. -211- +o desenvol virnenty da capacsbade de Refiro-me aos cleitos da inve gratidao ¢ de felicidade, A inveja contribui para: em construir seu objeto bom, pois ele sente que a grati privado foi guardada, para uso préprio, pelo seio que o frustrou." Deve-se fazer uma distingo entre inveja, citime e voracidade. A in- veja € 0 sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfruta algo de~ sejvel — sendo o impulso invejoso o de tirar este algo ou de estragi-lo. Além disso, a inveja pressupée a relacdo do indivfduo com uma sé pessoa e remonta @ mais arcaica e exclusiva relagdéo com a mac. O citime € ba- seado na inveja, mas envolve uma relacéo com, pelo menos, duas pessoas; diz respeito principalmente ao amor que o individuo sente como Ihe sendo devido e que Ihe foi tirado, ou est4 em perigo de sé-lo, por seu rival. Na concepgao corriqueira de citime, um homem ou uma mulher se sente pri- vado, por outrem, da pessoa amada. A voracidade é uma Ansia impetuosa e insacidvel, que excede aquilo que 0 sujeito necessita e 0 que o objeto & capaz e esté disposto a dar. A nfvel inconsciente, a voracidade visa, primariamente, escavar completa- mente, sugar até deixar seco e devorar 0 seio; ou seja, seu objetivo € a introjegiio destrutiva, ao passo que a inveja procura no apenas despojar dessa maneira, mas também depositar maldade, primordialmente excre- mentos maus ¢ partes mas do self, dentro da mie, acima de tudo dentro do seu seio, a fim de estragd-la e destruf-la. No sentido mais profundo, isso significa destruir a criatividade da mae. Esse processo, que deriva de im- pulsos s4dico-uretrais e s4dico-anais, foi por mim definido em outro arti go* como um aspecto destrutivo da identificagdo projetiva, comegando desde 0 infcio da vida‘. Uma diferenga essencial entre voracidade e inve- $ diliculdades do bebe ago de que fot “ Numa série de trabalhos meus, The Psycho-Analysis of Chiklren, “Barly Stages of the Oedipus Complex”, ¢ em “A Vida Emocional do Bebé”, referi-me A inveja surgindo de fontes sfidico- onais, sfdico-uretrais ¢ sfdico-anais, durante os est{gios mais iniciais do complexo de Edipo, € relacionei-a ao desojo de estragar 0s bens da mie, particularmente 0 pénis do pai, o qual, na fantasia da crianca, a me contém, J4.em meu artigo * ‘An Obssessional Neurosis in a Six-Year- Old Gitl”, apresentado em 1924, mas nfo publicado até aparecer em The Psycho-Analysis of Children, a inveja Vigada a ataques sfdico-orais, s4dico-uretrais e sfdico-anais a0 corpo da mie desempenhava papel proeminente, Entretanto, niio havia relacionado especificamente essa in- ‘Veja a0 desejo de tirar ¢ estragar os seios da mie, embora houvesse chegado muito perto dessas, conclusées. No meu artigo * Sobre a Identificacio" (1955) examinei a inveja como um fator muito importante na identificaco projetiva. 14em The Psycho-Analysis of Children sugeri que ‘fo apenas tendéncias sfdico-orais, como também sidico-uretrais ¢ sfdico-anais, esto em fun- cionamento em beb$s muito pequenos. 5 “Notas sobre alguns Mecanismos Esquiz6ides”, © Dr. Elliott Jaques chamou minha atencio para a raiz. etimolégica de “‘inveja”* no latim “invi dia’”, que provém do verbo “invideo” —olhar atravessado, olhar maldosamente ou com despei- to, lancar mau-olhado, invejar ou relutar mesquinhamente em dar ou reconhecer o que € do ou- tro. Um uso antigo pode ser encontrado numa expressio de Cicero, cuja traducdo & “causar in- forténio pelo mau-othado”. Isso confirma a diferenciacio que fiz entre inveja e voracidade, pela Gnfase dada ao carter projetivo da inveja, ~212- fe eon ay jo Shorter Osford Dictionary, oa sayrantie ae cyt chae: 4 sendlo dado, o bom’ qu por dicate peut », Nesse contexto, cu interpretaria o “bon” mente Come oa amada, que outta pessoa com 0 English Synonyms, de Crabb, “(...) 0 citime tome perder o «4 possui; a inveja sofre ao ver outro possuir o que ela quer para st «> © invejoso passa mal & vista da fruicao. Sente-se A vontade apenas como infortinio dos outros. Assim, todos os esforgos para satisfaer um so so infrutiferos””. O citime, segundo Crabb, & “uma paixdo nolie on igndbil, de acordo com o objeto. No primeiro caso, € emulagao ayn sda pelo medo. No segundo, € voracidade estimulada pelo medo. A inve ya « sempre uma paixo vil, arrastando consigo as piores paixdes””. © scio bom, a mac, uma pess FOU, De Acordes veo A atitude geral para com 0 citime difere da que se tem para com a+ veja. Na realidade, em certos paises (particularmente a Franca), 0 nato induzido pelo citime acarreta sentenca menos severa. A razio | essa distingfo encontra-se no sentimento universal de que 0 assas um rival pode subentender amor pela pessoa infiel. Isso signitic\, termos discutidos acima, que existe amor pelo “bom” € que 0 objeto: do nfo € danificado ¢ estragado como o seria pela inveja., © Otelo de Shakespeare, em seu citime, destréi o objeto que an ¢ 1 so, em minha opinido, é caracterfstico do que Crabb descreve como i “1 n6bil paixao do citime”’, ou seja, a voracidade estimulada pelo med (! referéncia significativa ao citime como qualidade inerente & mente aparece na mesma peca: “But jealous souls will not be answer’ d so; They are not ever jealous for the cause, But jealous for they are jealous; ’tis a monster Begot upon itself, born on itself””*. Poder-se-ia dizer que a pessoa muito invejosa € insaciével, que nui 0 pode ser satisfeita porque sua inveja brota de dentro e, portanto, scimpr encontra um objeto sobre o qual focalizar-se. Isso mostra também a cou x4o fntima entre citime, voracidade ¢ inveja. * “Mas os ciumentos nfo atendem a isso; Nao precisam de causa para o ciime: ‘Tem cidime, nada mais. O citime & monstro Que se gera em si mesmo e de si nasce””. a A IIL, 4, Tr, de Carlos Alberto Nunes, Ed, Melhoramentos, 3366, pay. 104.) LT.) cae Shabepeat nome scmpre parece dilerene an mvepa de cuine, on ver hun plemimente a syuntieagae da inve ja no. “Oh beware my Lord of jealousy; 11 is the green-eyed monster which doth mock The meat it feeds on’. . Vaycntnos lembrar a expressdo “morder a mao que alimenta”, quase inonima de morder, destruir e estragar o seio. IL Meu trabalho ensinou-me que 0 primeiro objeto a ser invejado é 0 scio nutridor’, pois o bebé sente que o seio possui tudo 0 que ele deseja e «uc tem um fluxo ilimitado de Ieite ¢ amor que guarda para sua propria gratificagao, Esse sentimento soma-se a seu ressentimento e ddio, e o re~ sultado € uma relag’o perturbada com a mie. Se a inveja & excessiva, in- dica, em minha concepgio, que tragos paranéides ¢ esquizéides so anor malmente intensos e que tal bebé pode ser considerado como doente. Ao longo deste capitulo, falo da inveja primaria do seio matemno, Es- inveja deve ser diferenciada de suas formas subseqiientes (inerentes, na menina, ao desejo de tomar o lugar da mic, e, no menino, a posicao femi- nina), nas quais a inveja nao mais se focaliza no seio, ¢ sim na mie que recebe 0 pénis do pai, que tem bebés dentro dela, que dé & luz esses be- bés, e que € capaz de amamenté-los, Tenho freqiientemente descrito os ataques s&dicos ao seio materno como sendo determinados por impulsos destrutivos. Quero acrescentar aqui que a inveja confere um fmpeto especial a esses ataques. Isso signifi- ca que quando escrevi sobre a escavagio voraz do seio e do corpo da mie, sobre a destruigéo de seus bebés, bem como sobre a deposiciio de excrementos maus dentro da mac", j deixava entrever o que posterior mente vim a reconhecer como o estrago do objeto, por inveja * “Acautelai-vos, Senhor, do citime, E um monstro de olhos verdes que zomba Do alimento «le que vive” Othello”, A TIT, 3, Tr. de Carlos Alberto Nuncs, Ed, Methoramentos, 3366, pag. 85.) W.7) 7 Joan Riviere, em seu artigo “Jealousy as a Mechanism of Defence” (1932), reportou a inveja nas mulheres 20 desejo infantil de despojar a mée de seus seis ¢ estragé-los. De acordo com seus achados, 0 citime tem suas rafzes nessa inveja priméria, Seu artigo contém interessante material ilustrativo desses pontos de vista. "Cf, meu livro The Psycho-Analysis of Children, onde esses conceitos desempenham um papel importante em vérias conexdes. —214— qo set maior descyo, fora se Comprcenavel conie .tam imestne seo bebe & inadequadamente say ado, Os sent Atos le bebe parece ser que, quamdo 0 sei © privat, este se tor porque vets s6 para si o leite, © amor ¢ os cuidados associados ao sc bom, Lile odeia e inveja aquilo que sente ser o scio mesquinho © malevo, lente. talvez mais compreensfvel que 0 seio satisfatério scja também in vejado. A propria facilidade com que vem o leite origina também pois, embora o bebé se sinta gratificado, essa facilidade fica parecendy. um dom inatingfvel ve js Encontramos essa inveja primitiva revivida na situagdo transferencial Por exemplo: 0 analista acabou de dar uma interpretagao que trouxe alfvie ao paciente ¢ que produziu uma mudanga de estado de Animo, de desespe ro para esperanca e confianga. Com certos pacientes, ou com 0 mesin paciente em outros momentos, essa interpretagdo proveitosa pode logo tornar-se alvo de uma critica destrutiva. Ela, entéo, nao € mais sentida como algo bom que ele tenha recebido e vivenciado como enriquecimen to. Sua crftica pode ater-se a pontos de menor importéncia; a interpreta deveria ter sido dada antes; foi longa demais ¢ perturbou as associacées do paciente; ou foi muito curta, e isso quer dizer que ele nao foi suficien: temente compreendido, O paciente invejoso reluta em atribuir sucesso ae trabalho do analista; e, se ele sente que o analista e 0 auxflio que este Ihe est4 dando ficaram estragados e desvalorizados por sua critica invejosa, nao poder4 introjet4-lo suficientemente como um objeto bom, nem aceitar suas interpretag6es com convicgao real e assimilé-las, A convicgdo verda deira, como vemos freqiientemente em pacientes menos invejosos, implica gratiddo por uma dédiva recebida. O paciente invejoso também pode sen- tir que € indigno de beneficiar-se pela andlise, devido & culpa pela des- valorizagdo do auxflio dado. Nao € preciso dizer que nossos pacientes nos criticam por uma varic- dade de razées, As vezes justificadamente. Mas a necessidade que tem um paciente de desvalorizar 0 trabalho analitico que experimentou como pro- veitoso & expressiio de inveja. Na transferéncia, descobrimos as raizes da inveja se as situagdes emocionais que encontramos em estagios anteriores forem retragadas até 0 est4gio primério. A critica destrutiva € particular- mente evidente em pacientes parandides que se comprazem no prazer si- dico de desmerecer 0 trabalho do analista, ainda que este Ihes tenha pro- porcionado certo alfvio. Nesses pacientes, a critica invejosa € bastante aberta; noutros, pode desempenhar um papel igualmente importante, mas permanece niio-expressa ¢ até mesmo inconsciente. Em minha experién- —215— Vonyega Vener que sans divides © incestezas sobre 0 valor dat tanto QO que acontcce © que a parte hostil © invejosa de seu self 6 ex euntida pelo paciente, © cle aprescnta constantemente ao analista outros: eclos que Senle Come mais accitiveis, Contudo, as partes excindidas tnfluenciam essencialmente © curso da anélise, a qual, em tiltima instin- cra, 86 pode ser eficaz se conseguir integragdo e se lidar com o todo da personatidade, Outros pacientes tornam-se confusos para evitar serem crf sa confusio no. € apenas uma defesa, mas também expressdo de incerteza quanto ao fato de o analista ainda permanecer como uma figura boa, ou terem, o analista e © auxflio que esté dando, se tornado maus em decorréncia da critica hostil do paciente. Eu remontaria essa incerteza aos sentimentos de confuséio que so uma das conseqiiéncias da perturbagao da relagéo mais arcaica com o seio materno. O bebé que, devido a inten- idade de mecanismos parandides e esquizdides e ao {mpeto da inveja, nao consegue bem-sucedidamente dividir e manter separados 0 amor e © Odio e, portanto, 0 objeto bom do objeto mau, esta sujeito a sentir-se confuso entre 0 que € bom e 0 que € mau em outros contextos. Desse modo, a inveja ¢ as defesas contra ela desempenham um pa- pel importante na reag%o terapéutica negativa, além dos fatores desco- bertos por Freud ¢ mais amplamente desenvolvidos por Joan Riviere? Pois a inveja ¢ as atitudes a que da origem interferem na construgao gra- dual de um objeto bom na situagao transferencial. Se, no estégio mais ini- cial, 0 bom alimento ¢ 0 objeto bom originario nao puderam ser aceitos e assimilados, isso se repete na transferéncia © 0 curso da andlise é prejudi- cado, No contexto do material analitico € possfvel reconstruir, pela elabora- go de situagdes anteriores, os sentimentos do paciente, quando bebé, pa- ra. com 0 seio materno, Por exemplo, o bebé pode ter um ressentimento de que 0 leite chega muito répido ou muito devagar'®; ou de que nao the te- nham dado 0 seio quando mais ansiava por ele e, assim, quando The € ofe- recido, nao 0 quer mais. Volta-Ihe as costas e, em vez dele, chupa seus proprios dedos. Quando aceita 0 scio, pode ndo mamar o bastante ou a mamada ficar perturbada. Alguns bebés tém claramente grande dificulda- de em superar esses ressentimentos. JA outros superam logo tais senti- mentos, ainda que scjam bascados em frustragées reais; tomam 0 seio e a feos **A Contribution to the Analysis of the Negative Therapeutic Reaction” (1936); também Freud, The Ego and the ld. *° © Bebé pode de fato ter recebido muito pouco leite, nao té-lo recebido na ocasifio em que mais © desejava, ou no t8-lo obtido do jeito certo; por exemplo, o leite pode ter vindo lento ou ré= pido demais. A maneira pela qual o bebé foi segurado, se confortavelmente ou no, a atitude da mie para com a amamentacio, seu prazer ou ansiedade a respeito dela, se foi dado 0 seio ou amamadeica, todos esses fatores sio de grande importancia em cada caso, —216— (ota patoonale, the fomado sen alimentos catedatoriment: punto Ty a Hae hci testa ans evudentes dais atitudes: que ccaber de de Hever foveha que eles havin excuubide secu sessentimento, anyept 6 6dta, 6 qe esses SeMtiMEntos sao, mio obstante, parte do desenvolvt mento de seu caréler, Esses processos se tornan baste ckires nar sit Gio transterencial, O desejo original de agi °, amado, bem como a necessidade urgente de ser protegido das conseqiicn 5 de seus préprios impulsos destrutivos, podem ser encontrados andlise, como subjacentes & cooperagdo, naqueles pacientes cuja imveja ¢ 6dio foram excindidos mas que fazem parte de sua reacAo terapéutica nc gativa. Tenho freqiicntemente me referido ao desejo do bebé pelo seio inc xaurfvel ¢ sempre-presente. Mas, como foi sugerido anteriormente, nao ¢ apenas alimento que ele deseja; quer também ser libertado dos impulses destrutivos e da ansiedade persecut6ria, Esse sentimento de que a mae ¢ onipotente ¢ de que compete a ela evitar toda dor ¢ males provindos Ue fontes internas e externas € também encontrado na andlise de adultos. Lu diria, de passagem, que as modificagdes muito favordveis, que se deram nos tiltimos anos, na amamentagdo das criancas, em contraste com 0 modo bastante rigido de alimentar segundo hordrios regulares, nfo podem evitar inteiramente as dificuldades do bebé, porque a mie nao pode eliminar os impulsos destrutivos e a ansiedade persecutéria dele. H4 um outro ponto a ser considerado. Uma atitude demasiadamente ansiosa por parte da mac que, sempre que o bebé chora, imediatamente Ihe oferece alimento, nado ajuda o bebé. Ele sente a ansiedade da mae e isso aumenta a sua pr6pria Encontrei também, em adultos, ressentimento por nao Ihes ter sido permi- tido chorar bastante € que, por isso, perderam a possibilidade de expressar ansiedade ¢ pesar (¢ assim obter alfvio), de modo que nem os impulsos agressivos nem as ansiedades depressivas puderam, suficientemente, en- contrar um escoadouro. F interessante 0 fato de Abraham mencionar, en- tre os fatores que esto na base da enformidade manfaco-depressiva, tanto a frustragSo excessiva quanto a indulgéncia em demasia"’. Pois a frustra- cio, se no excessiva, € também um estimulo A adaptaciio ao mundo ex- terno € ao desenvolvimento do sentido de realidade. De fato, uma certa quantidade de frustracio, seguida por gratificagio, pode dar ao bebé a sensaco de ter sido capaz de lidar com sua ansiedade. Verifiquei também que os desejos no satisfeitos do bebé — que so em certa medida impos- sveis de serem realizados — contribuem como fator importante para suas sublimagées ¢ atividades criadoras. A auséncia de conflito no bebé, se é © anseie por scr ci 11 «4 Short History of the Development of the Libido” (1924), -217- fie Gil estado bapotehicg pudense scr mimyinaude, priya to nade ensue ¢ : jonalidade de uni ampottante Gilor ao bortalecimente, dade de superdloy & um elemento Ito (ad wt crEividatde, tle se epe Pois 0 fancmental Da assergiio de que & inveja estraga © objeto bom origindvio © dé fur peto adicional aos ataques sédicos ao sci, surgem outras conchusées. O scio assim atacado perde seu valor, torna-se mau por ter sido mordido c envencnado por urina e fezes. A inveja excessiva aumenta a intensidade desses ataques © sua duragdo, tornando assim mais diffcil para o bebé a recuperagio do objeto bom perdido. Ataques s&dicos ao seio, quando me- nos determinados por inveja, passam mais rapidamente e, assim, na mente do bebé, nado destroem téo intensa e duradouramente a qualidade boa do objeto; 0 seio que retorna e pode ser frufdo € sentido como uma evidéncia de que nao esta danificado e de que ainda € bom". O fato de a inveja estragar a capacidade de fruigdo explica, até certo ponto, por que a inveja € tao persistente'”. Pois € a fruigdo e a gratiddo que ela suscita que mitigam os impulsos destrutivos, a inveja e a voraci- dade, Considerando de um outro Angulo: a voracidade, a inveja e a ansie- dade persecutéria, que so interligadas, intensificam-se inevitavelmente umas as outras. O sentimento de dano causado pela inveja, a grande an- siedade que disso se origina e a incerteza resultante quanto A “‘bondade” do objeto tém o efeito de aumentar a voracidade © os impulsos destruti- vos. Sempre que 0 objeto € sentido como, afinal de contas, bom, ele é ainda mais vorazmente desejado e tomado para dentro. Isso também & pertinente ao alimento. Na andlise verificamos que, quando um paciente est com grandes diividas sobre seu objeto ¢, portanto, também sobre o valor da anilise ¢ do analista, ele pode agarrar-se a qualquer interpretagao que alivie sua ansicdade ¢ tender a prolongar a sesso, por desejar tomar para dentro tanto quanto possfvel daquilo que, no momento, sente ser bom. (Certas pessoas tém tanto medo de sua voracidade que fazem espe- cial questio de sair na hora.) Diividas sobre a posse do objeto bom ¢ a correspondente incerteza sobre os préprios sentimentos bons também contribuem para identifica- ges vorazes ¢ indiscriminadas; tais pessoas sao facilmente influenciéveis porque nao podem confiar em seu proprio julgamento. *? As observacées de bebés nos mostram algo dessas atitudes inconscientes subjacentes. Como disse acima, certos bebés que estiveram gritando de raiva mostram-se inteiramente felizes logo ap6s comecarem a mamar. Isso significa que temporariamente perderam, mas recuperaram, seu objeto bom, Noutros, 0 ressentimento a ansiedade persistentes, ainda que momentanea- mente diminufdos pela amamentacao, podem ser depreendidos por observadores cuidadosos. 1 Ei claro que a privacio, a amamentacio insatisfat6ria e circunstincias desfavoréveis intensi cam a inveja por perturbarem a gratificago plena, ¢ um cfreulo vicioso é criado. —218- apa ale Sentiun eeun (un abyete bons tte rine conn anne font fapacbik dh nero pratidto ten: una tebacae: profundbanente ensaeatda Cone iieebp te boro pode suportar, secur fear profandamente dante estados temporivios de inveja, Gio © ressentimente que surpen esa nL crlangas queso amadas © reeebem boas cuidados: maternos, Ass «quando esses estados negativos sao transit6rios, 0 objeto bom & recupert lo a cada vez. Esse € um fator essencial para estabelecé-lo ¢ para asseu as bases da estabilidade e de um ego forte. No curso do desenvolvvit a relagdo com o seio materno toma-se a base para a dedicagdo a pesso valores © causas ¢, assim, € absorvida uma certa parte do amor que ct inicialmente sentido pelo objeto originério. Um dos principais derivados da capacidade de amar € 0 sentiment «k gratidao. A gratidao € essencial A construgao da relagdo com 0 objeto bom ¢ € também o fundamento da apreciago do que hd de bom nos outros « em si mesmo. A gratidéo tem suas raizes nas emogées € atitudes que su gem no estgio mais inicial da infancia, quando para 0 bebé a mae ¢ « nico ¢ exclusivo objeto. Referi-me a essa primeira ligagdo! como a para todas as relagées subseqiientes com uma pessoa amada, Embor:i : relagio de exclusividade com a mie varie individualmente em duracé © intensidade, acredito que, até certo ponto, cla exista na maioria das pes: soas. Fm que medida permanece livre de perturbagées, depende parc mente das circunstancias externas. Mas os fatores internos que a funda. mentam — acima de tudo a capacidade de amar — parecem ser inatos. Os impulsos destrutivos, especialmente uma forte inveja, podem num estégio inicial pertusoar essa ligacdo especial com a mie. Se a inveja do seio nu- tridor € forte, a gratificacio plena sofre interferéncia porque, como jé des- crevi, € caracterfstico da inveja despojar 0 objeto daquilo que cle possui c estragé-lo. © bebé s6 pode sentir satisfagio completa sea capacidade de amar suficientemente desenvolvida; € a satisfagio que forma a base da grati- dao, Freud descreveu o éxtase do bebé na amamentacao como 0 protétipo da gratificagao sexual'’, A meu ver, essas experiéncias constituem nao apenas a base da gratificagéo sexual mas também de toda felicidade sub- seqiicnte, ¢ tomam possfvel 0 sentimento de unidade com outra pessoa; tal unidade significa scr plenamente compreendido, 0 que € essencial para (oda relag%o amorosa ou amizade felizes. Em condigées as mais favor veis, tal compreen necesita de palavras para expressé-la, 0 que demonstra sua derivaciio da intimidade mais inicial com a mie, no estigio ase "A Vida Emocional do el '° Three Essays on the Theor (1952), of Sexuality, ~219- pre verbal A capacilade de fin plenamente a prineia reba cone te de cliversiys Lontes: scio forma a base para sentir praver proven Se hé experiéneia freqiiente de ser alimentado sen que a satistagao, seja perturbada, a introjecdo do scio bom se dé com relativa seguranga Uma gratificacio plena ao seio significa que o bebé sente ter recebido do objeto amado uma dadiva especial que ele deseja guardar, Essa € a bi da gratiddo, A gratiddo est4 intimamente ligada & confianca em figuras boas. Isso inclui, em primeiro lugar, a capacidade de aceitar ¢ assimilar 0 objeto originério amado (nao apenas como fonte de alimento) sem que a voracidade e a inveja interfiram demais, pois a internalizacio voraz per- turba a relacio com o objeto. O individuo sente estar controlando, exau- rindo e, portanto, danificando o objeto, ao passo que, numa boa relacio com © objeto interno e externo, predomina o desejo de preserv4-lo e pou- p&lo. Descrevi, em outro contexto'’, 0 processo subjacente & crenga no seio bom como sendo decorrente da capacidade do bebé em investir libi- dinalmente 0 primeiro objeto externo, Desse modo se estabelece um ob- jeto bom!” que ama ¢ protege o self ¢ € amado ¢ protegido pelo self. Essa € a base da confianca em sua prépria “bondade” Quanto mais freqiientemente é sentida e plenamente aceita a expe- riéncia de gratificagao proporcionada pelo scio, mais freqiientemente so sentidas a satisfacdo e a gratidao e, por conseguinte, 0 desejo de retribuir © prazer, Essa experiéncia recorrente toma possfvel a gratid’o a nivel mais profundo e desempenha papel importante na capacidade de fazer re~ paragiio, ¢ cm todas as sublimag6es. Por meio dos processos de projecao e introjegio, ¢ através da distribuigao da riqueza interna e sua reintrojecio, ha um enriquecimento ¢ aprofundamento do ego. Desse modo, a posse de um objeto interno que ajuda é repetidamente restabelecida ¢ a gratidéo pode se manifestar plenamente. A gratidao est4 intimamente ligada & generosidade. A riqueza interna deriva de ter 0 objeto bom sido assimilado de maneira tal que o individuo se torna capaz de compartilhar com outros os dons do objeto. Isso toma possfvel introjetar um mundo externo mais amistoso, a que se segue umn sentimento de maior riqueza, Mesmo o fato de a generosidade ser fre- giintemente pouco reconhecida nao solapa necessariamente a capacidade de dar. Em contraste, nas pessoas em que esse sentimento de riqueza © forca internas nao se acha suficientemente estabelecido, acessos de gene- rosidade so muitas vezes seguidos por uma necessidade exagerada de re- conhecimento ¢ gratid4o ¢, conseqiientemente, por ansiedades persecut6- rias de haverem sido empobrecidas ¢ roubadas 1° “Sobre a Observacio do Comportamento de Bebés” (1952). "Cf, também 0 conceito de “‘seio ilusério” de Donald Winnicott e sua concepgao de que, no ‘comeco, 0s objetos so criados pelo seff(“*Psychoses and Child Care”, 1953), —220- Von pe tet HE a Capen ited de ate tay Hab comping on volapace de scuvetoimente da peat EL raver Conte portmentos, me AMO de toler, os pecados, pe Aro objeto bout que st Concepgio & consistente com a descrita por Chaucer om The Parsons Tale*: “6 certo que a inveja € 0 pior pecado que exede, porque todos os outros so pecados apenas contra uma sé virtude, en valiosa para cle © que cra stu de iim que aumentaya suas diividas. ‘Vambém compreendeu que © edificio interessante, no qual 1 ria de viver, representava a analista, Por outro lado, sentia que cu, analisé-lo, o tinha tomado sob minhas asas € o estava protegendo de seu conflitos e ansiedades. As dtividas e acusag6es contra mim, no soul eram usadas como desvalorizacio e relacionavam-se n&o apenas con am veja, mas também com seu desanimo face 4 inveja e com seus sentinient de culpa por sua ingratidao. Houve uma outra interpretagdio desse sonho, a qual foi também con firmada por outras subseqiientes, ¢ que foi baseada no fato de que, 1: +1 tuagéio analitica, eu representava freqiientemente o pai, rapidamente sando a representar a mie, e 4s vezes representava ambos simullanca mente. Essa interpretagao foi que a acusagao contra o pai, por té-lo leviule na diregdo contraria, estava ligada a sua antiga atracio homossexual jul pai. "Durante a andlise, comprovara-se que essa atracdo estava lipala intensos sentimentos de culpa, pois foi-me possfvel mostrar ao pacient que a inveja e o 6dio de sua mae e do scio desta, fortemente excindidle:,, tinham contribufdo para ele se voltar para o pai, e que seus desejos ho mossexuais eram sentidos como sendo uma alianga hostil contra a mac. ‘\ acusag&o de que o pai o levara na diregéio contraria estava ligada com « sentimento geral, que freqiientemente encontramos nos pacientes, de qt ele tinha sido seduzido para o homossexualismo. Aqui nds temos a proj ¢&o dos préprios desejos do indivfduo no progenitor. A anflise de seu sentimento de culpa teve vdrios efeitos; ele sentir um amor mais profundo por seus pais; também se deu conta — e estes dor: fatos estdo intimamente ligados — de que tinha havido um elemento com pulsivo em sua necessidade de fazer reparaco. Uma identificagdo exape rada com © objeto danificado em fantasia — originalmente a mae — (inhi prejudicado sua capacidade de fruir plenamente, ¢ portanto, em certa mu dida, empobrecera sua vida. Tornou-se claro que mesmo em sua relaciws mais inicial com sua mie, embora nfo houvesse nenhuma razo para «lu vidarmos de que ele tivesse sido feliz na amamentagao, ele nao tinha capaz. de desfrut4-la completamente, por causa de seu medo de exaurir lesar o seio. Por outro lado, a interferéncia em sua fruigéo deu ense ressentimento € aumentou seus sentimentos de perseguicao. Esse é um ~ 245 — exemplo do processo, yue cu descrevi num capitulo anterior, pelo nos estdgios mais iniciais de desenvolvimento, a culpa —¢ culpa quanto A inveja destrutiva da mae ¢ da analista — é passfvel de trans: formar-se em perseguigdo. Suas capacidades de fruicao e de gratidao cm um nfvel profundo aumentaram através da andlise da inveja priméria e da correspondente diminuicfo das ansiedades depressiva e persecutéria. particular a Mencionarei agora o caso de um outro paciente, no qual uma tendéncia a depressio era também acompanhada de uma necessidade compulsiva de reparagio; sua ambigdo, rivalidade e inveja, que coexistiam com varios outros tragos de bom caréter, tinham sido gradualmente analisadas. Nao obstante, s6 depois de alguns anos** foi que o paciente vivenciou plena- mente, por estarem muito excindidos, a inveja do seio ¢ de sua criativida- de e 0 desejo de estragé-lo. No infcio de sua andlise, teve um sonho que descreveu como “ridfculo”: ele estava fumando seu cachimbo, que estava cheio de artigos meus que haviam sido arrancados de um de meus livros. Inicialmente expressou grande surpresa com relagao a isso, porque “nao se fumam artigos impressos’’. Interpretei que isso era apenas uma caracte- rfstica menor do sonho; o principal significado era que ele tinha rasgado meu trabalho € 0 estava destruindo, Eu também mostrei que a destruigéio de meus artigos era de natureza s4dico-anal, implicita no fumé-los. Ele havia negado esses ataques agressivos — pois, associada A forca de seus processos de ciséo, tinha uma grande capacidade de negagio. Outro as- pecto desse sonho foi que emergiram sentimentos persecutérios em rela- Go & andlise. Ele havia se ressentido de interpretag6es anteriores e as ha~ via sentido como algo que tinha que “pér no seu cachimbo e fumar”. A andlise de seu sonho ajudou © paciente a reconhecer seus impulsos des- trutivos contra a analista, e também que esses tinham sido estimulados por uma situagdo de citimes que havia surgido no dia anterior, situagio que girava em torno do sentimento de que uma outra pessoa era mais valoriza- da por mim do que ele. Mas o insight obtido nao levou a uma compreen- sio de sua inveja da analista, embora isso tivesse sido interpretado para ele. Nao tenho diivida, contudo, de que isso tenha facilitado o apareci- mento de material em que impulsos destrutivos e inveja tornaram-se gra- dativamente mais claros. Em um est4gio ulterior de sua andlise, um clfmax foi aleangado quan- do todos esses sentimentos em relagdo a analista calaram fundo no pa- 3° A experiéncia mostrou-me que, quando o analista fica plenamente convencido da importancia de um novo aspecto da vida emocional, ele se torna capaz. de interpret4-lo mais cedo na andli- se. Dando-Ihe assim suficiente énfase, sempre que o material o permita, ele pode propiciar que © paciente se conscientize de tais processos muito mais cedo e, assim, a eficiéncia da anflise pode ser aumentada. 246 WO pcos ne hid me rane de pe estav: Associou 0 objéto semiciret fida suai potGncia. Nesse s star fazendo bom uso de sua andlise ¢ por scus impulses: des 6 para comigo. Em sua depresso, sentiu que eu no podia ser prc vada; ¢ havia muitos elos com ansiedades semelhantes, em parte até «+ cientes, de que ele néo tinha sido capaz de proteger sua mc quant pai estava longe, durante a guerra e subseqiientemente. Seu sentiment culpa em relagéio & sua mie e a mim jé havia sido, a essa altura, exter mente analisado, Recentemente, porém, ele viera a sentir mais especil mente gue era a sua inveja que me destrufa, Seus sentimentos de culpa ¢ infelicidade eram ainda maiores porque, em uma parte de sua mente, era grato a analista. A frase “isso me mantinha em movimento” suy como a anflise era essencial para ele, e que ela era uma precondiciie | sua poténcia em seu sentido mais amplo, ou seja, para o sucesso dc tel as suas aspiragées. A tomada de consciéncia de sua inveja e édio de mim veio-Ihe cou! um chogue e foi seguida por forte depressZo e um sentimento de desval. Acredito que essa espécie de choque, que jé relatei em varios casos, & 1 sultado de um passo importante na restauracio da cisdo entre partes: te self, assim, uma etapa de progresso na integracio do ego. Uma conscientizagio ainda mais plena de sua ambigdo e inveja sc deu numa sess&o subseqiiente ao segundo sonho. Ele falou do conheciment que tinha de suas limitagdes e, como ele disse, ndo esperava que vies «1 cobrir de gléria a si mesmo e 2 sua profissdo, Nesse momento, ait: a influéncia do sonho, entendeu que esse modo de expressar-se mostiavs a forga de sua ambicdio e sua comparacio invejosa comigo. Depois dle sentimento inicial de surpresa, esse relacionamento veio com pleua « viegio. coindo, qual cle est bs pedagos, ¢ crite ye deregio do pe VI Tenho freqiientemente descrito minha abordagem da ansiedade come um ponto focal de minha técrica, Contudo, desde 0 infcio, as ansicdacle Em inglés this kept me going & uma expressio mais coloquial ¢ mais precisa, sem cortenprn dente em portugués. Tende mais para um sentido de algo que sustentava o paciente, Ihe dav forga. (N.T.) O47 = conti clas. Como aecanaler nao podem ser enfrentadas sem as dete num capitulo anterior, a primeira e principal (ungio do ezo & lidar cou ansiedade. Penso mesmo ser provavel que a ansiedade primordial, engen- drada pela ameaga interna da pulsio de morte, possa ser a explicagio Ue ser 0 €go posto em atividade a partir do nascimento. O ego est4 constan- temente protegendo-se da dor ¢ da tensio que a ansiedade faz surgir c, portanto, faz uso de defesas desde o infcio da vida pés-natal. Mantenho h4 anos a concepgdo de que a maior ou menor capacidade de tolerar a an- siedade € um fator constitucional que influencia fortemente o desenvolvi- mento de defesas. Se sua capacidade de agiientar a ansiedade € inadequa- da, 0 ego pode voltar regressivamente a usar defesas mais primitivas ou mesmo ser levado ao uso excessivo de defesas préprias a seu estégio. Como resultado, a ansiedade persecutéria e os métodos de lidar com ela podem ser tao fortes que, subseqiientemente, a elaborag’io da posi¢ao de- pressiva seja prejudicada. Em alguns casos, particularmente do tipo psi- cético, somos confrontados desde 0 infcio com defesas de natureza tao manifestamente impenetréveis que, por algzum tempo, pode parecer impos- sfvel analisé-las. Enumerarei agora algumas das defesas contra a inveja, que tenho en- contrado no decorrer de meu trabalho. Algumas das defesas mais primiti- vas, j& muitas vezes descritas, tais como a onipoténcia, a negacao e a ci- sfio, so reforcadas pela inveja. Em um capftulo anterior, sugeri que a idealizagdo serve nfo apenas como uma defesa contra a perseguigio mas também contra inveja. Nos bebés, se a ciséo normal entre 0 objeto bom ¢ 0 mau nao for inicialmente bem-sucedida, esse fracasso, ligado & inveja excessiva, resulta freqiientemente em cisao entre um objeto originé- rio onipotentemente idealizado e um objeto originério muito mau. A ex- cessiva exaltagio do objeto e de seus dons € uma tentativa de diminuir a inveja. Contudo, se a inveja é muito forte, é provavel que, mais cedo ou mais tarde, ela se volte contra 0 objeto origindrio idealizado e contra ou- tras pessoas que venham a representé-lo ao longo do desenvolvimento. Como foi sugerido anteriormente, quando a cisio normal fundamental entre 0 amor € 0 dio, e entre 0 objeto bom e o mau, nao é bem-sucedida, pode surgir confusao entre o bom e 0 mau objetos**. Acredito ser essa a base de toda confuséo — quer em estados confusionais graves, quer em formas mais brandas tais como a indecisao ~, a saber, uma dificuldade de chegar a conclusées e uma perturbac&o na capacidade de pensar clara- mente. Porém a confusaéo é também usada defensivamente: isso pode ser visto em todos os nfveis de desenvolvimento. Tanto a perseguigéo quanto a culpa por estragar ¢ atacar por inveja © objeto primério so, até certo 5° Cf, Rosenfeld, “Notes on the Psychopathology of Confusional States in Chronic Schizophre- nias” (1950), — 248 — + centcabale Fru enipinal es bone ou auc oS tates tu Mesane enn pe thas te a pico. pelo objeto, a tdentilieacaie com cle eo ter 1 pes dhe pelo dane causade crtatividade sao fatores: impor euldade car elaborate a posigio depressiva O fusir da mite para outras pessoas adwiradas © idealizadas a (ue evitar scutimentos hostis para com aquele mais importante objeto inve pute (e portanto odiado), © seio, torna-se um meio de preservar 0 scie, 6 qu significa também preservar a mie‘. Tenho constantemente assi: € da maior importancia 0 modo como € feita a passagem do priv jeto para o segundo (0 pai). Se a inveja e 0 dio s4o predominantes, ca emogées sio transferidas, em certo grau, para o pai ou para os ir mais tarde para outras pessoas, e daf por diante 0 mecanismo de | cassa. Em conexdo com 0 reptidio ao objeto origindrio, h4 uma dispersiy de sentimento para com ele, a qual pode levar & promiscuidade num c ulterior do desenvolvimento. A ampliagdo das relagdes de objetos ni 1 fancia € um processo normal. Na medida em que o relacionamento « novos objetos substitui, em parte, o amor pela mie, ¢ nfo € predoninan temente_uma fuga do édio por cla, os novos objetos podem ajudar « uma compensagao para 0 inevitével sentimento de perda do objeto prinw+ ro e singular — uma perda que surge com a posigio depressiva. O amore gratiddo so, entdo, em graus varidveis, preservados nas novas rel:u, embora essas emogdes fiquem, em alguma medida, distanciadas dos cn timentos para com a mae. Contudo, se a dispersio de emogées & wad predominantemente como uma defesa contra a inveja e 0 6dio, tais nao constituem uma base para relagdes de objeto estéveis, porque sit in fluenciadas pela persistente hostilidade para com o primeiro objeto. Muitas vezes, a defesa contra a inveja toma a forma de desvatorius ¢G0 Go objeto, Eu tenho sugerido que o estragar e 0 desvalorizar sii rentes & inveja. O objeto que foi desvalorizado nao precisa mais set inv jado. Isso logo se estende ao objeto idealizado, que € desvaloriziute « desse modo, nao mais idealizado. O quao rapidamente essa idealizin, desmorona vai depender da forca da inveja. Mas em todos os nfveis «lh desenvolvimento recorre-se & desvalorizacao e & ingratidéo como detest contra a inveja e, em algumas pessoas, elas permanecem como caracte! ticas de suas relagdes de objeto. Tenho me referido a pacientes que, 1 situago transferencial, depois de terem sido inegavelmente ajudados jy ro aby *° CE, "A Vida Emocional do Bebé”, — 249 uma interpretagao, critica: WE que nada de bom sobre dela ne (inal Para dar um exemplo: um paciente, que durante um sessiio anal tica havi chegado a uma solucio satisfat6ria de um problema externo, comegou sessiio seguinte dizendo que estava muito aborrecido comigo: no dia ante- rior, eu havia despertado nele uma grande ansiedade ao fazé-lo enc: esse problema especffico. Viu-se também que ele se sentia acusado e des- valorizado por mim porque, até que o problema tivesse sido analisado, a solug&o ndo havia ocorrido a ele. Foi somente depois de reconsiderar a questiio que ele reconheceu que a andlise havia, na verdade, sido ttil. Uma defesa propria a tipos mais depressivos ¢ a desvalorizagao do self. Algumas pessoas podem ser incapazes de desenvolver seus dons e de us4-los com sucesso. Em outros casos essa atitude surge apenas em certas ocasides, sempre que haja perigo de rivalidade com uma figura importan- te. Desvalorizando seus préprios dons, elas tanto negam a inveja como punem-se por ela. Contudo, pode ser visto em andlise que a desvaloriza- cho do self incita novamente a inveja do analista, que € sentido como su= perior, particularmente porque o paciente desvalorizou-se intensamente. Privar a si mesmo de sucesso tem, € claro, muitos determinantes, e isso se aplica a todas as atitudes a que estou me referindo"'. Mas uma das rafzes mais profundas que encontrei para essa defesa foi a culpa c a infelicidade por ndo ter sido capaz de preservar 0 objeto bom devido a inveja. As pes- soas que estabeleceram seu objeto bom de modo um tanto precdrio sofrem pela ansiedade de que ele venha a ser estragado e perdido devido a senti- mentos invejosos ¢ competitivos ¢, assim, tém que evitar sucesso e com- petigao. Uma outra defesa contra a inveja esté intimamente associada A vora- cidade, Ao internalizar 0 seio téo vorazmente que na mente do bebé o seio se torna inteiramente posse sua e por ele controlado, 0 bebé sente que tudo de bom que ele atribui ao seio ser dele préprio. Isso € usado para contrabalangar a inveja. E a prépria voracidade com que essa internaliza- gio € efetuada que contém o germe do fracasso. Como eu disse antes, um objeto bom que € bem estabelecido, e por conseguinte assimilado, nfo apenas ama 0 sujeito como € amado por ele. Acredito que isso seja carac- terfstico da relagao com um objeto bom, mas nao se aplica, ou somente num grau mfnimo, a um objeto idealizado, Devido a possessividade pode- rosa e violenta, 0 objeto bom € sentido como transformando-se num per- seguidor destrufdo, e as conseqiiéncias da inveja nao sao suficientemente impedidas. Em contraste, quando se tem tolerdncia em relagao a uma pes- soa amada, essa tolerancia é também projetada em outros, que, assim, tor- nam-se figuras amistosas. “1 Cf. Frend, “Some Character-Types Mt with in Psycho- Analytic Work” (1915). —250- fee vertenede hee asetena sae e fades metoda dere drat ase a mave pee sentec aicdade poucout aque dion inyejon Lar @ objeto interne mye jose rl provém, en outa raze pels qual ¢ igo depressiva, O desejo de tor ejosas outras: pe obre clas des soas, particularmente as pessoas amadas, ¢ de triun culpa © medo de danificé-las. A ansiedade suscitada prejudica a truisae «las préprias posses ¢ mais uma vez aumenta a inveja. H4 uma outra defesa, no rara, 0 abafamento de sentimentos de unws © a correspondente intensificacdo do édio, porque isso € menos olor do que suportar a culpa que surge da combinacao de amor, Sdio ¢ inves. Isso pode nao se expressar como 6dio mas tomar a forma de indit Uma defesa afim € a de retirar-se do contato com as pessoas. A neve dade de independéncia que, como sabemos, € um fenémeno norn senvolvimento, pode ser reforgada a fim de evitar gratidfio ou culpa pela ingratidao e inveja. Na anflise, verificamos que, inconscientemente, cs independéncia €, de fato, bastante esptiria: 0 indivfduo permanece depen dente de seu objeto interno. Herbert Rosenfeld’? descreveu um método especffico de lidar com a situagdo, no qual partes excindidas da personalidade se juntam, incl as partes mais invejosas e destrutivas, e ocorrem passos em diregao a in tegracéio. Ele mostrou que 0 acting out € usado a fim de evitar que a cisiio se desfaca; a meu ver 0 acting out, na medida em que € usado para evils a integragdo, torna-se uma defesa contra as ansiedades despertadas pe aceitacdo da parte invejosa do self. Nao descrevi de modo algum todas as defesas contra a inveja, pois sua variedade € infinita. Elas estéo intimamente associadas as defe: contra os impulsos destrutivos ¢ as ansiedades persecutéria e depressiv: Seu éxito depende de muitos fatores externos e internos. Como foi mem cionado, quando a inveja € forte, e por conseguinte provavel seu reapare cimento em todas as relagées de objeto, as defesas contra ela parecem scr precfrias; as defesas contra os impulsos destrutivos néo dominados pela inveja parecem ser muito mais eficazes, embora possam implicar inibigdes ¢ limitagdes da personalidade. Quando predominam tracos esquizdides e parandides, as defe: contra a inveja nio podem ser bem-sucedidas, pois os ataques ao sujcito Jevam a um sentimento aumentado de perseguicio, com 0 qual ele s6 poe lidar por meio de ataques renovados, ou seja, reforgando os impulsos alo de ive 4? «An Investigation of the Need of Neurotic and Psychotic Patients to Act out during Analysis” (1955). -251- destrutivos. Desse modo € estabelecido uni cfrento victose a capacidade de contrabalangar a inveja. Isso se relere particukanmente tc: sos de esquizofrénicos e explica, até certo ponto, as dificuldades qu interpdem & sua cura". © resultado 6 mais favordvel quando existe, em certa medida, uma relagio com um objeto bom, pois isso também significa que a posigdo de~ pressiva foi parcialmente elaborada. A experiéncia de depressdo e culpa implica 0 desejo de poupar o objeto amado e de restringir a inveja. As defesas que enumerei, ¢ muitas outras, fazem parte da reagdo tera péutica negativa porque sfo um obstéculo poderoso & capacidade de in- ternalizar 0 que o analista tem a dar. Referi-me anteriormente a algumas das formas que toma a inveja ao analista. Quando o paciente € capaz de experimentar gratidao — e isso significa que em tais momentos ele est4 menos invejoso — ele esté numa posigo muito melhor para se beneficiar com a anélise e para consolidar os ganhos j4 adquiridos. Em outras pala- vras, quanto mais os tragos depressivos predominarem sobre os tragos es~ quiz6ides e parandides, melhores so as perspectivas de cura. A nsia por fazer reparacdo e a necessidade de ajudar 0 objeto inve- jado sfo também meios muito importantes de contrabalangar a inveja. Em Wltima instancia, isso pressupée contrabalancar os impulsos destrutivos pela mobilizagao de sentimentos de amor. Tendo me referido vérias vezes & confusdo, pode ser ditil resumir alguns dos mais importantes estados de confusio tal como normalmente surgem em diferentes est4gios de desenvolvimento e em vrias conexdes. Tenho freqiientemente assinalado“* que, desde o infcio da vida p6s-natal, desejos libidinais e agressivos, de natureza anal, uretral (¢ mesmo genital), esto em atividade — embora sob o dom{nio da oralidade —, ¢ que dentro de poucos meses a relagéo com objetos parciais vem a ser concomitante & relagdio com pessoas totais. J& examinei aqueles fatores — principalmente fortes tragos esquizo-pa- randides e inveja excessiva — que desde o infcio obscurecem a disting3o entre 0 seio bom e o seio mau, e prejudicam a ciséo bem-sucedida; nessas condigées, a confusio no bebé é reforgada. Acredito ser essencial repor- tar, na andlise, todos os estados de confusio em nossos pacientes, mesmo ‘0s mais graves em esquizofrénicos, a essa inabilidade inicial em distinguir entre 0 bom e 0 mau objeto origindrio, apesar de precisarmos considerar “3 Alguns de meus colegas que analisam casos de esquizofrenia disseram-me que a énfase que eles esto agora dando & inveja como um fator destrutivo e que causa estragos mostra-se como de grande importancia tanto na compreensfo como no tratamento desses pacientes, “4 Cf. The Psycho-Analysis of Children, capitulo VILL. —252- fanben es fe ent Onis pee canten as aiapatbay Hh trate’ fom dade periceutoner, 44 tow par a importincia da contustie entre os pais, resultant da Iparceimento pela inves, da figura des pais combinados, Rekwcionci o 0 da genitalidade 2 fuga ¢ indo aunt aumento da pret omalidade, le confusdo entre tendéncias ¢ fantasias orais, anais ¢ genitais Outros fatorcs que contribuem, bem no comego, para a confuse ¢ estados mentais de perplexidade, so as identificagées projetiva ¢ intioj: tiva, porque clas podem, temporariamente, ter 0 efeito de obscureeet distingdo entre o self e os objetos, e entre mundo interno e mundo exter no. Tal confusao interfere no reconhecimento da realidade psfqu qual contribui para a compreensdo e para a percepgiio realfstica da re: dade externa. A desconfianga e o medo de internalizar o alimento psfqui co remontam & desconfianga daquilo que 0 scio invejado e estragado ole recera. Se, primordialmente, o alimento bom € confundido com © niu, posteriormente a habilidade para pensar claramente e para desenvolve padrdes de valores € prejudicada. Todas essas perturbagdes, que em nha concepciio esto também ligadas 4 defesa contra a ansiedade e a cul pa, € que sio despertadas pelo dio e pela inveja, expressam-se em inibr ges do aprendizado e do desenvolvimento do intelecto. Nao estou levan do em conta aqui os outros varios fatores que contribuem para tais «lilt culdades. Os estados de confusio que resumi brevemente, para os quais conti buem 0 intenso conflito entre tendéncias destrutivas (6dio) e integrador: (amor), so até certo ponto normais. E com a crescente integragao ¢ : vés da elaboracio bem-sucedida da posigio depressiva, 0 que inclui w maior clarificago da realidade interna, que a percepgéio do mundo exter no torna-se mais realista — um resultado que esté normalmente em curse na segunda metade do primeiro ano ¢ infcio do segundo ano*’. Essas mut dangas estio essencialmente ligadas a uma diminuigéo da identificayaw projetiva, a qual parte das ansiedades © mecanismos esquizo-paranéides. Vil Vou agora tentar uma breve descri¢ao das dificuldades que caracters zam 0 progresso durante uma andlise. S6 depois de um trabalho longo ¢ “5 Sugeri (cf. meus artigos de 1952) que, no segundo ano de vida, mecanismos obsessivos pass para primeiro plano e que a organizacao do ego ocorre sob o predomfnio de impulsos ¢ fanta sias anais, peaee anes aaboriose & que se torn: frente a hiver hace a mve pe Primaria ¢ ao édio. Lmbora sentimentos ¢ miliares @ maioria das pessoas, suas implicagées cas, vivenciadas na situagdo transferencial, so extremamente dolorosis ¢, por isso, diffceis de serem aceitas pelo paciente. A resisténcia que © tramos, em pacientes de ambos os sexos, ao analisar seus citimes ¢ hosti lidade edipianos, apesar de muito forte, nfo € tio intensa quanto aquela que encontramos ao analisar a inveja e 0 édio ao seio. Ajudar um paciente a atravessar esses profundos conflitos ¢ sofrimentos € a maneira mais efi- ciente de promover sua estabilidade e integragdo, porque o torna capaz, através da transferéncia, de estabelecer mais seguramente seu objeto bom e seu amor por ele, e de ganhar alguma confianca em si mesmo. E desne- cessério dizer que a andlise dessa relagéio mais arcaica envolve a investi- gagdo de suas relagées ulteriores, € possibilita o analista a compreender mais plenamente a personalidade adulta do paciente. No decurso da andlise nés temos que estar preparados para encontrar flutuag6es entre melhoras ¢ retrocessos. Isso pode aparecer de varios mo- dos. Por exemplo, o paciente sentiu gratidéo e apreciagao pela capacidade do analista. Essa mesma capacidade, causa de admiragéio, logo dé lugar A inveja; a inveja pode ser contrabalancada pelo orgulho em ter um bom analista, Se o orgulho incita a possessividade, pode haver uma revives- céncia da voracidade infantil, que poderia ser expressa nos seguintes ter- mos: eu tenho tudo que quero; tenho a mamfe boa toda s6 para mim, Tal atitude voraz e controladora capaz de estragar a relagio com o objeto bom e dé origem a culpa, que logo pode levar a outra defesa, por exem- plo: nao quero ferir a analista-mie, prefiro abster-me de aceitar suas d4di- vas. Nessa situagiio, a culpa arcaica em relagao A rejeigao do leite ¢ do amor oferecidos pela mie € revivida porque a ajuda do analista nio é aceita. O paciente também vivencia culpa porque est4 privando-se (a parte boa do seu self) de ajuda e melhora, e reprova-se por colocar uma carga grande demais no analista ao n&o cooperar suficientemente; desse modo, sente que est4 explorando o analista. Tais atitudes alternam-se com a an- siedade persecut6ria de ser roubado de suas ‘defesas e emogées, de seus pensamentos e de todos os seus ideais. Em estados de grande ansiedade, parece ndo existir na mente do paciente outra alternativa que a de que ele esteja roubando ou sendo roubado. Como sugeri, as defesas continuam operantes mesmo quando mais in- sight se faz presente. Cada passo em direcfio a integragio, e a correspon- dente mobilizago de ansiedade, pode fazer com que defesas primitivas aparegam com maior forga, € mesmo que aparegam defesas novas. Nés também devemos prever que a inveja primAria reaparecerd freqiientemente €, assim, somos defrontados com repetidas flutuagées na situagio emocio- nal. Por exemplo, quando o paciente se sente desprezfvel e, portanto, in- posstvel¢ yam La mpetigio © inves s profundas © sauce con ~254— spate fade bite, sida do pacicnte de I © unt dos aspectos: da reagéio terapeuti nagio h4 muitas outras dificuldades, algumas das quais mencic ra, Sempre que um paciente faz progressos na integragdo, isto é, quando a rte invejosa da personalidade, que odeia c & odiada, aproxima-se 1 das outras partes do self, devemos estar preparados para verificar que :u siedades intensas podem vir para primeiro plano e aumentar a descontian ga que ele tem de seus impulsos amorosos. O abafamento do amor, «uc descrevi como uma defesa manfaca durante a posig&o depressiva, tem si rafzes no perigo que advém da ameaca dos impulsos destrutivos e da i siedade persecutéria. Num adulto, depender de uma pessoa amada revive © desamparo do bebé ¢ € sentido como humilhante. Mas h4 mais do que desamparo infantil nessa questio: a crianga pode ser excessivamente dc pendente de sua mie, se a ansiedade de que seus impulsos destrutivos transformem a me num objeto danificado ou persecutério for grande de mais; e essa dependéncia excessiva pode ser revivida na situagdo transl rencial. A ansiedade de que, em se dando lugar ao amor, a voracidade ve- nha a destruir o objeto € outra causa de abafamento dos impulsos amor sos. HA também o medo de que o amor conduza a responsabilidade exces siva e que 0 objeto faca exigéncias demais. O conhecimento inconsciente de que 0 6dio e os impulsos destrutivos esto em atividades pode fazer com que 0 paciente sinta-se mais sincero ao néo admitir amor, seja para si mesmo seja para outros. Uma vez que nenhuma ansiedade pode surgir sem que 0 ego use to- das as defesas que possa produzir, os processos de cistio desempenham um papel importante como métodos contra a experiéncia de ansiedade persecut6ria depressiva. Quando nés interpretamos tais processos de ci- sfio, 0 paciente torna-se mais consciente de uma parte de si mesmo, que 0 aterroriza porque a sente como a representante dos impulsos destrutivos. Com pacientes nos quais os processos arcaicos de ciséo (sempre ligados tracos esquiz6ides e parandides) sio menos dominantes, a repressdo de impulsos € mais forte e, portanto, 0 quadro clfnico é diferente. Em outras palayras, nés estamos lidando entéio com o tipo mais neurético de pacien- te, que conseguiu, em alguma medida, superar a cisiio arcaica e no qual a repress&o tornou-se a principal defesa contra perturbages emocionais. Outra dificuldade a obstruir a andlise por longos perfodos € a tenaci- dade com que © paciente se apega a uma forte transferéncia positiva; isso A mea: partes de sua nc hhece Come prove que on ob a mesma denon arei ape ~255— oh aMe Cero ponte, enypsinador, port jobre oO ddio © a inv; que cskio Excindidos. Te caacte aantcmiente evitadas ¢ de os clemen cdades orais: screm entiio ce as an: tos genitais estarem em primeiro plano. Procurei mostrar, em varios contextos, que os impulsos destrutivos, expressdo da pulsdo de morte, sao sentidos primeiramente como sendo di rigidos contra 0 ego. Defrontando-se com eles, mesmo que gradualmente, © paciente sente-se exposto A destrui¢Zo enquanto est4 no processo de aceitar e integrar esses impulsos como aspectos de si mesmo. Em outras palavras, como resultado da integragao, o paciente em certos perfodos en- frenta varios grandes perigos: seu ego pode ser avassalado; a parte ideal de seu self pode ser perdida quando a existéncia da parte excindida, des- trutiva e odiada de sua personalidade € reconhecida; 0 analista pode tor- nar-se hostil € retaliar, em funcio dos impulsos destrutivos do paciente, que nao mais estdo reprimidos, tornando-se assim também uma figura su- peregéica perigosa; © analista, na medida em que representa um objeto bom, € ameagado de destruigao. O perigo para o analista, 0 que contribui para a forte resist€ncia que encontramos quando tentamos desfazer a ciséo © promover passos no sentido da integragao, torna-se compreensfvel se nos lembrarmos de que © bebé sente seu objeto origindrio como sendo a fonte do “bom” e da vida e, portanto, insubstitufvel. Sua ansiedade de que o tenha destrufdo é causa de dificuldades emocionais importantes participa proeminentemente nos conflitos que surgem na posig&o depres- siva. O sentimento de culpa resultante da tomada de consciéncia da inveja destrutiva pode levar temporariamente a uma inibigio das capacidades do paciente. Encontramos uma situagdo muito diferente quando, como uma defesa contra a integragao, as fantasias onipotentes e mesmo megalomanfacas au- mentam. Fsta pode ser uma etapa critica porque 0 paciente pode, como re- figio, reforcar suas projec6es e atitudes hostis. Assim, ele se considera su- perior ao analista, a quem acusa de nio valoriz4-lo devidamente ¢ a quem, desse modo, encontra alguma justificativa para odiar. Ele se atribui o mé- rito por tudo até entio conseguido na andlise. Voltando & situagéo arcaica: quando bebé, o paciente pode ter tido fantasias de ser mais poderoso do que seus pais e mesmo de ter, por assim dizer, criado a mae, ou té-la pari- do, e de que 0 seio materno Ihe pertencia. Conseqiientemente, seria a mae quem 0 teria despojado do seio ¢ nao o paciente quem a teria despojado dele. A projegdo, a onipoténcia ¢ a perseguigdo acham-se entZio em seu auge. Algumas dessas fantasias esto em atividade sempre que sejam muito fortes os sentimentos relativos a prioridade em trabalhos cientfficos ou de outro tipo. H4 outros fatores que podem igualmente suscitar a Ansia por prioridade, tais como a ambigio proveniente de varias fontes, e parti- cularmente © sentimento de culpa, basicamente ligado & inveja e destrui- Beeeeeeee pte decoby te penne cle ca cubes equ: ater an dificuldades que € constitucic - Mas € e% os em diregiio A integragao; pois, se a no. visio em sua personalidade surgisse repentinamente, 0 paciente teri grandes dificuldades em lidar com ela*®. Quando 0 paciente toma con: ci€ncia de seus impulsos invejosos ¢ destrutivos, ele os sente tao n rigosos quanto mais fortemente tenham sido excindidos. Em andlise vemos caminhar lenta € gradativamente em diregdo ao doloroso insight 1 ferente As divis6es do self do paciente. Isso significa que os lados dest tivos so repetidamente excindidos e recuperados, até que se efetive um: maior integracéio. Como resultado, 0 sentimento de responsabilidade to na-se mais forte, e a culpa e a depressio so mais plenamente viv das, Quando isso acontece, o ego é fortalecido, a onipoténcia dos impul sos destrutivos fica diminufda juntamente com a inveja, e € liberada aca pacidade de amor e gratidio que estivera abafada no decurso dos proces: sos de cisdo. Portanto, os aspectos excindidos tornam-se gradualmente mais aceitaveis e 0 paciente é cada vez mais capaz de reprimir impulsos destrutivos em relago aos objetos amados em vez de cindir 0 self. Isso implica também a diminuig&o da projegao no analista, a qual o transfor em uma figura perigosa retaliadora, ¢ para o analista, por sua vez, fica mais f4cil ajudar 0 paciente em direco a uma maior integragao. Isso equi- vale a dizer que a reacio terapéutica negativa est4 perdendo sua forga. Analisar processos de cis4o e 0 édio e a inveja subjacentes, tanto na transferéncia positiva quanto na negativa, exige muito do analista e do paciente. Uma conseqiiéncia dessa dificuldade € a tendéncia de alguns analistas a reforcar a transferéncia positiva e a evitar a transferéncia ne- gativa, e a tentar fortalecer sentimentos de amor assumindo o papel do objeto bom que o paciente nao fora capaz de estabelecer firmemente,no passado. Esse procedimento difere essencialmente da técnica que, ao ajtt- dar o paciente a conseguir uma melhor integracio do seu self, visa un mitigagio do édio pelo amor. Minhas observacGes mostraram-me que «1s técnicas baseadas em reasseguramento raramente sio bem-sucedidas; cm “ Pode ser que uma pessoa que cometa inesperadamente um crime ou tenha um surto psicdtico tenha subitamente se dado conta de partes perigosas excindidas de seu seif. Conhecem-s¢ casos de pessoas que procuram ser presas a fim de se impedirem de cometer um assassinato. —257— iO sio duradouros, [La de Late ¢ MENLO, aU especial, seus resultados ni ‘soas uma arraigada necessidade de reassegur lagdo mais arcaica com a mie. O bebé tem a expectativa de ¢ atenda ndo apenas em todas as suas necessidades, mas também ansciat por sinais de seu amor sempre que experimenta ansiedade. Esse anscio por reasseguramento € um fator vital na situac’o analftica, e nés nao devemos subestimar sua importdncia em nossos pacientes, tanto adultos como criangas. Descobrimos que embora seu propésito consciente, ¢ muitas ve- zes inconsciente, € ser analisado, 0 paciente nunca abandona completa- mente seu forte desejo de receber provas de amor e apreciagao do analis- ta, ¢ de assim ser reassegurado. Mesmo a cooperagao do paciente, que fa- culta a andlise de camadas profundas da mente, de impulsos destrutivos e de ansiedades persecutérias, pode até certo ponto ser influenciada pela necessidade premente de satisfazer 0 analista e de ser amado por ele. O analista que for ciente disso analisard as rafzes infantis de tais desejos; do contrrio, em identificago com seu paciente, a necessidade arcaica de reasseguramento pode influenciar intensamente sua contratransferéncia e, conseqiientemente, sua técnica. Essa identificagao pode também facil- mente levar o analista A tentagiio de assumir o lugar da mie ¢ a ceder A necessidade premente de aliviar imediatamente as ansiedades de seu filho (0 paciente). Uma das dificuldades em promover passos em direcio a integracdo surge quando o paciente diz: “‘Posso entender 0 que esté me dizendo mas no o sinto.” Estamos cientes de que estamos nos referindo a uma parte da personalidade que, para todos os efeitos, nao € suficientemente acessf- vel na ocasifio quer ao paciente quer ao analista, Nossas tentativas de aju- dar 0 paciente a integrar s6 s4o convincentes se podemos mostrar a ele, tanto no material presente como no passado, como e por que ele estd re- petidamente excindindo partes de seu self. Tal evidéncia € também fre- qiientemente fornecida por um sonho antecedente a sesso e pode ser de- preendida do contexto total da situacdo analftica. Se uma interpretagao de cisfo € suficientemente fundamentada no modo que descrevi, ela pode ser confirmada na sessfio seguinte, quando o paciente traz um trecho de um sonho ou mais algum material. O resultado cumulativo de tais interpreta- Ges possibilita gradualmente o paciente a progredir no sentido da inte- gragio e do insight. ‘A ansiedade que impede a integragio tem que ser plenamente com- preendida ¢ interpretada na situagao transferencial. Eu assinalei anterior mente a ameaca, tanto para o self como para o analista, que surge na mente do paciente se partes excindidas do self sio recuperadas na andlise. ‘Ao lidar com essa ansiedade, nao se devem subestimar os impulsos amo- rosos quando eles podem ser detectados no material. Pois so eles que, em iltima instdncia, possibilitam ao paciente mitigar seu Sdio e inveja. —258— fotpe ba te dae tec bop reas Sc mnapas rep libs. t petsonabnl Larne nte ood ea mye} or de Late hon ana a is, habilitade © paciente a dar alums: passe seuntucles« SomCHtE aps. tn tetbalho Etboroso, cuntalese + Me por parte do analista que podemos esperar unt mtepracae {avel no paciente. Hustrare’ agora essa Case da andlise com dois sonhos. undo paciente a que me referi, num estagio ulterior de st quando de v4rios modos tinham ocorrido uma maior inte progresso, relatou 0 seguinte sonho, que mostra as flutuagées no: sos de integragiio, causadas pela dor dos sentimentos depressivos. He. tava em um apartamento no andar de cima e “X”, um amigo de un annype do paciente, 0 estava chamando da rua, propondo que fossem can! juntos. O paciente no se juntou a “X” porque um cachorro proto que ha via no apartamento poderia sair e ser atropelado. Ele afagou 0 caclw Quando olhou pela janela, verificou que “X” tinha “‘recuado”’. Algumas das associagGes relacionaram o apartamento com o meu ec 6 cachorro preto com 0 meu gato preto, que ele descreveu como “cla” © paciente nunca tinha gostado de “X””, que era um antigo colega de escola Descreveu-o como melffluo ¢ insincero; “X” também freqtientemente | dia dinheiro emprestado (embora ele o devolvesse mais tarde), ¢ 0 bavi de maneira tal que sugeria que tinha todo o direito de pedir tais tavern No entanto, “X”’ veio a ser muito bom em sua profissao. paciente reconheceu que “um amigo de seu amigo” era um asp te dele, mesmo. A esséncia de minhas interpretages foi que ele che yan. perto de tomar consciéncia de uma parte desagradével e assu: sua personalidade; o perigo para o cachorro-gato, a analista, era de qu ela seria atropelada (isto é, ferida) por “X”’. “X”” convidando-o para caminhada simbolizava um passo na diregiio da integragéio. Nesse pont. um elemento de esperanga entrou no sonho através da associagio «le «us “*X"", a despeito de seus defeitos, viera a ser bom em sua profissav 1 também uma caracterfstica de progresso 0 fato de que o aspecto del mesmo do qual chegara mais perto no sonho néo era tio destrutive neu to invejoso quanto em material prévio. ‘A preocupacdo do paciente com a seguranga do cachorro-galo expt mia o desejo de proteger a analista contra suas tendéncias hostis ¢ vor representadas por “X”, ¢ levava a uma ampliagdo temporfria da cisiio qu: ja havia sido parcialmente sanada. Contudo,. quando “X”, a parte reycitar da dele mesmo, “‘recuava”, isso mostrava que no havia desaparccitlo «hk vez € que © processo de integragdo estaya apenas temporariamente p —259- iemle na ocasizie Ginha © bado. O estado de espfrito do pa pressivas; a culpa em relagdo A analista c o desejo de preservé proeminentes. Nesse contexto, 0 medo da integracdo era causado pelo sentimento de que a analista devia ser protegida dos impulsos reprimidos, vorazes e perigosos, do paciente. Eu nfo tinha diivida de que ele ainda estava excindindo uma parte de sua personalidade, mas a repressdo dos impulsos vorazes ¢ destrutivos havia se tornado mais visfvel. A interpre- taco, portanto, tinha que lidar tanto com a cisfo como com a repressao. O primeiro paciente mencionado anteriormente, numa etapa ulterior de sua anélise, trouxe um sonho que mostrava passos bastante mais avan- gados no sentido da integragéo. Ele sonhou que tinha um irmao delin- qiiente, o qual havia cometido um grave crime. Fora recebido numa casa e matara os moradores e os roubara. O paciente ficou profundamente per- turbado por isso, mas sentiu que precisava ser leal a seu irmao ¢ salvé-lo. Eles fugiram juntos e, a seguir, estavam num barco. Nesse ponto o pa- ciente fez uma associagdo com Os Miserdveis de Victor Hugo, ¢ mencio- nou Javert, que havia perseguido um inocente durante toda a sua vida, € até mesmo o seguira pelos esgotos de Paris, onde ele havia se escondido. Mas Javert acabou cometendo suicfdio porque reconheceu que havia con- sumido toda a sua vida em uma diregdo errénea. O paciente prosseguiu entéo com seu relato do sonho, Seu irméo e ele foram presos por um policial que o olhou bondosamente, e assim 0 pa- ciente teve a esperanga de que, afinal, nao seria executado; parecia deixar seu irmao entregue a pr6pria sorte. © paciente se deu conta imediatamente de que 0 irmao delingiiente era parte dele mesmo. Havia recentemente usado a expressio “delin- qiiente” referindo-se a questées de pouca importancia em sua propria conduta. Lembraremos aqui também que, num sonho anterior, ele havia se referido a um menino delingiicnte com quem nao podia lidar. O passo em diregdo & integragao a que estou me referindo foi mostra- do quando o paciente assume responsabilidade pelo irmo delingiiente e por estar com ele ‘no mesmo barco”’. Interpretei o crime de assassinato ¢ roubo das pessoas que 0 haviam bondosamente acolhido como sendo seus ataques fantasiados & analista, e referi-me-me a sua ansiedade, tantas ve- zes expressa, de que seu desejo voraz de tirar de mim tanto quanto possf- vel pudesse danificar-me. Relacionei isso com a sua culpa arcaica em re- Jago a sua mae. O policial bondoso representava a analista que nao o jul- garia severamente,e que o ajudaria a livrar-se de sua parte m4. Assinalei, além disso, que no processo de integragao havia reaparecido 0 uso de ci- sio, tanto do self como do objeto. Isso ficou ilustrado por a analista figu- rar em um papel duplo: como policial bondoso e como Javert perseguidor, © qual no fim suicidou-se, e em quem a “‘maldade”’ do paciente havia sido projetada. Embora 0 paciente tivesse compreendido sua responsabilidade ~ 260 — Pedy parte Cd Muangite nite de cane pcr canatidaede be obec ated sdf Boae pon vat APE OO opete come qi con pore pide cymiticacane as protinde sans ade ane test Nace mh por BVA, pols O pacieme sentia cue so) Come at parte mit de foi uma ds a parte a niquilar naquele momento. poke qual ele recorte » conto poficial contra ino, a qual dese jay: Freud, desde 0 infcio, admitiu que algumas variagdes individu: senvolvimento sao devidas a fatores constitucionais: por exemplo, om “Character and Anal Erotism’ (1908), ele expressou a concepciio ile «yn um erotismo anal acentuado € constitucional em muitas pessoas". Abi. ham descobriu um elemento inato na forga dos impulsos orais que rela 1 nou com a etiologia da enfermidade manfaco-depressiva. Ele lisse i “... 0 que € realmente constitucional e herdado é uma acentua siva do erotismo oral, do mesmo modo que em certas famflias 0 anal parece ser um fator preponderante j& desde © comego’*# Sugeri anteriormente que a voracidade, 0 6dio ¢ as ansiedades: pss cutérias em relag&o ao objeto origindrio, o seio da mie, tém uni | inata. Nesse trabalho acrescentei que também a inveja, como expr poderosa de impulsos s4dico-orais e s&dico-anais, € constitucional. Ax va riagGes na intensidade desses fatores constitucionais so, em minha con cepcio, ligadas & preponderncia de uma ou outra das puls6es na firs das pulses de vida e de morte postulada por Freud. Eu acredito que i uma correlagio entre a preponderancia de uma ou outra dessas pulsies © «1 forca ou fraqueza do ego. Tenho freqtientemente me referido & forcast ego face As ansiedades com as quais tem que lidar como um fator consti tucional. Dificuldades em suportar ansiedade, tensao ¢ frustracio siiv pressio de um ego que, desde o infcio da vida pés-natal, € fraco em pro porco aos intensos impulsos destrutivos ¢ sentimentos persecutérios vivencia, Essas fortes ansiedades, impostas a um ego fraco, conduzem i um uso excessivo de defesas, tais como a negacio, ciséo € onipottucs que, em certa medida, s4o sempre caracterfsticas do desenvolvimento 1n inicial. De acordo com minha tese, eu acrescentaria que um ego constitu cionalmente forte ‘nfo se torna presa fAcil da inveja, e & mais capi «k fio exces fotisnne "A partir dessas indicacées n6s inferimos que o significado erotégeno da zona anal estf inten 4a Sificado na constitui¢io sexual inata dessas pessoas. “*A Short History of the Development of the Libido” (1924). —261- efetuar a ciséo entre bom e mau, que suponho scr estabelecimento do objeto bom. O ego 6, entio, menos sujeito Aqueles processos de cisdo que levam a fragmentaciio e que fazem parte de carac- terfsticas esquizo-parandides acentuadas. ‘Um outro fator que, desde 0 inicio, influencia © desenvolvimento é a diversidade de experiéncias externas pelas quais 0 bebé passa, Isso expli- ca, em certa medida, o desenvolvimento de suas ansiedades arcaicas, que seriam particularmente grandes em um bebé que teve um nascimento diff cil ¢ amamentacio insatisfatéria. No entanto, 0 montante de minhas ob- servagées convenceu-me de que o impacto dessas experiéncias externas € proporcional & forga constitucional dos impulsos destrutivos inatos e das ansiedades parandides decorrentes. Muitos bebés no tiveram experiéncias muito desfavordveis e, ainda assim, tém sérias dificuldades com a ama- mentagiio e com o sono, e nés podemos ver neles todos os sinais de gran- de ansiedade, os quais as circunstancias externas nao explicam suficien- temente. E também sabido que alguns bebés so expostos a grandes privagdes e circunstancias desfavordveis e, ainda assim, n&o desenvolvem ansieda- des excessivgs, 0 que sugeriria que seus tragos parandides ¢ invejosos néo sio predominantes; isso € freqiientemente confirmado por sua histéria ul- terior. . Em meu trabalho analftico tenho tido muitas oportunidades de repor- tar a origem da formagiio do caréter a variagdes nos fatores inatos, H4 muito mais a ser aprendido a respeito das influéncias pré-natais; mas, mesmo um maior conhecimento a respeito delas no diminuiria a impor- tancia dos elementos inatos na determinagao da forga do ego e das mogées pulsionais. A existéncia dos fatores inatos, referidos acima, aponta para as limi- tages da terapia psicanalftica. Fmbora eu perceba isso plenamente, minha experiéncia ensinou-me que, nfo obstante, nés podemos produzir mudan- cas fundamentais e positivas em varios casos, mesmo com uma base cons- titucional desfavoravel. na precondty, CONCLUSAO Por muitos anos, a inveja do seio nutridor como um fator que au- menta a intensidade dos ataques ao objeto originério tem sido parte de minhas andlises. No entanto, s6 mais recentemente € que tenho dado uma énfase particular A qualidade de destruigdo e estrago da inveja, na medida em que ela interfere na construgao de uma relacio segura com 0 objeto bom interno e externo, solapa o sentimento de gratiddo e, de muitas ma- neiras, obscurece a distincfo entre bom e mau. Em todos os casos que descrevi, a relacéo com o analista como um objeto interno foi de importancia fundamental. Verifiquei que isso era — 262 — mea He Obpete mere IVE pose © mate cohorts Ba sou tabatbo, sane chee sits atvidates, Quando ico objeto bone © sentale con sega alrehigae Como objeto bom ext serian Pettuttacae Me perturba, Wa inveja desempeuhia um papel procmincnte —, ngio apenas 1 interfer , como també unt detcrioragio do carater. A prevaléncia de objetos internos perc: ute rios reforga impulsos destrutivos, ao passo que, se o objeto bon e-tver hem estabelecido, a identificagio com ele fortalece a cay os impulsos construtivos e a gratidfo. Isso se coaduna com a bypeite ss ayo apresentei no infcio deste trabalho: se 0 objeto bom esté prot enraizado, perturbagdes temporérias podem ser suport tados os alicerces da satide mental, da formagio do c: vimento bem-sucedido do ego. Descrevi, em outros contextos, a importancia do objeto perce ute internalizado mais arcaico — 0 seio retaliativo, devorador ¢ vencnose 1 diria agora que a projegdo da inveja do bebé confere uma Ieigiio parti ti A sua ansiedade quanto a perseguigao interna, tanto originéria conw ult rior. O “superego invejoso” € sentido como perturbando © aniquilande todas as tentativas de reparar e de criar. E também sentido como favcnde exigéncias constantes e exorbitantes A gratiddo do individuo: Pois 4 pet seguigéo acrescentam-se os sentimentos de culpa de que os objetos inter nos persecutétios sfo resultantes dos préprios impulsos invejosos ¢ des trutivos que estragaram primariamente 0 objeto bom. A necessicule «le punig&o, que encontra satisfagio no aumento da desvalorizagio do sel. leva a um cfrculo vicioso. Como sabemos, © objetivo tiltimo da psicandlise € a integragiio da personalidade do paciente. A conclusio de Freud de que “onde cr: ul, ego sera” € um indicador nessa diregdo. Os processos de cisio sury nos est4gios mais iniciais de desenvolvimento. Se sao excessivos, favcm parte integrante de graves tracos parandides e esquizdides que podem sc1 a base da esquizofrenia. No desenvolvimento normal, essas tendéncias quiz6ides e paranéides (posigao esquizo-paranéide) sio, em grande pint superadas durante o perfodo que é caracterizado pela posigio depressiva e a integrag&o desenvolve-se com éxito. Os passos importantes em ( A integracao, surgidos durante esse perfodo, preparam 0 ego para sia cn pacidade de operar a repress4o, a qual, acredito, funcionard cada vey 1 no segundo ano de vida. Em “A Vida Emocional do Bebé”, sugeri que a crianga pequena ¢ capaz de usar a repressdo para lidar com dificuldades emocionais se, 1 Ws enbaboler« 4 nc ad Cat pa, interna sol — 263 — ny sido poderose sssos de cistio iio houver estiigios iniciais, os proc mais e, portanto, tenha sido possfvel uma consolidagiie das | cientes ¢ inconscientes da mente. Nos estgios mai 1 cis tros mecanismos de defesa sfo sempre predominantes. J4 em Inhibition, Symptoms and Anxiety, Freud havia sugerido que pode haver métodos de defesa anteriores A repress%o. No presente trabalho nao tratei da impor- tancia vital da repressdo para o desenvolvimento normal, porque o efeito da inveja priméria e sua conexio fntima com os processos de ciséo foram meu tema principal. Com relagao & técnica, procurei mostrar que um progresso na integra- do pode ser conseguido analisando-se repetidas vezes as ansiedades e de- fesas vinculadas 4 inveja ¢ 20s impulsos destrutivos. Sempre estive con- vencida da importancia da descoberta de Freud de que a “elaboragio” € uma das tarefas principais do procedimento analftico, e minha experiéncia em lidar com os processos de cisio ¢ em fazé-los remontar & sua origem tornou essa conviccio ainda mais forte. Quanto mais profundas e mais complexas forem as dificuldades que estivermos analisando, maior seré a resisténcia que teremos probabilidade de encontrar, ¢ isso tem relacao com a necessidade de dar uma importancia adequada & “‘elaboragio”. Essa necessidade surge particularmente com relagao A inveja do ob- jeto primario. Os pacientes podem reconhecer sua inveja, citimes ¢ atitu- des competitivas em relacdo a outras pessoas, e até mesmo o desejo de danificar suas faculdades, mas 0 que pode conduzir & diminuigao da cisao dentro do self € somente a perseveranga do analista em analisar esses sen- timentos hostis na transferéncia, possibilitando desse modo ao paciente revivé-los em sua relagéio mais arcaica. Minha experiéncia mostrou-me que quando falha a andlise desses im- pulsos, fantasias © emogées fundamentais, isso € parcialmente devido a que a dor ¢ a ansiedade depressiva, tornadas manifestas, sobrepujam em algumas pessoas 0 desejo de verdade e, em tiltima andlise, 0 desejo de ser ajudado. Acredito que a cooperagiio de um paciente tem que ser baseada numa forte determinagao de descobrir a verdade a respeito de si proprio, para que ele venha a aceitar e assimilar as interpretagdes do analista rela- cionadas com essas camadas mais arcaicas da mente. Pois essas interpre- tag6es, se suficientemente profundas, mobilizam uma parte do self que € sentida como inimiga do ego bem como do objeto amado, e que fora, portanto, excindida e aniquilada. Verifiquei que as ansiedades despertadas pelas interpretagdes de Sdio e inveja em relagio ao objeto originario eo sentimento de ser perseguido pelo analista cujo trabalho suscita essas emocées so mais dolorosos do que qualquer outro material que interpre- tamos. Essas dificuldades esto particularmente presentes em pacientes com fortes ansiedades parandides e mecanismos esquizGides, pois eles séo iniciai. —264— Saneaestadh pe ettaehe ye tae an eMlatte de noscay « fo estou pres pO psicdtice manifesto, Com: os quais O sucesso & limitade, ou pode sae pode ser levada a esse afvel de profundidade, veja eo medo da inveja diminuem, levando a uma maior con forgas construtivas © reparadoras, em realidade na capacidade de ami. resultado € também uma maior tolerdincia com as préprias limitag como melhores relagGes de objeto ¢ uma percepgao mais clara ds 1 de interna e externa. O insight ganho no processo de integragdo torna possfvel ao pacicntc no decurso da anélise, reconhecer que existem partes de seu self jw cialmente perigosas. Mas quando o amor pode ser suficientemente rcunuly ao 6dio e A inveja que estavam excindidos, essas emogdes tornam-se (ole raveis e diminuem porque so mitigadas pelo amor. Os varios contetides de ansiedade mencionados anteriormente também decrescem, tal como o perigo de ser dominado por uma parte destrutiva e excindida do self. l'ss« perigo parece ser maior na medida em que, como uma conseqiiér excessiva onipoténcia arcaica, o dano feito em fantasia parece irrevoy; vel, A ansiedade de que os sentimentos hostis destruam os objetos amacdos diminui quando esses sentimentos tornam-se mais conhecidos e sao inte grados na personalidade. A dor que o paciente sente durante a andlixe também decresce gradualmente devido 4s melhoras ligadas aos progressox na integragao, tais como recuperar alguma iniciativa, tornar-se capay, ck tomar decis6es de que previamente se sentia incapaz e, em geral, us: seus dotes mais livremente. Isso est4 ligado a um decréscimo na inibi de sua capacidade de reparar. Sua capacidade de fruic&o aumenta de vi trios modos, e a esperanca reaparece, embora possa ainda alternar-se com depressfio. Tenho observado que a criatividade cresce em proporcéo 2 ca pacidade de estabelecer mais seguramente 0 objeto bom, sendo isso, 10s casos bem-sucedidos, o resultado da andlise da inveja e destrutividade. Assim como as repetidas experiéncias felizes de ser nutrido e amato s4o instrumentais, na infancia, para 0 estabelecimento seguro do objctu bom, também durante uma anélise experiéncias repetidas da eficéci: verdade das interpretagdes dadas levam a que 0 analista — e retrospecti vamente 0 objeto originario — sejam erigidos como figuras boas. Todas essas mudangas correspondem a um enriquecimento da perso nalidade. Junto com o dio, a inveja e a destrutividade, outras importante partes do self que haviam sido perdidas s4o recuperadas no decursw « anélise. H4 também um alfvio considerdvel em sentir-se como uma pessoi manne — 265 — puto self, Cem ter an sen mndo cma petal bin mento do esquize mais inteira, cm ganhar controle sobre 0 pt mento mais profundo de seguranga em re “Alguns Mecanismos Esquizéides”, sugeti que 0 solr frénico, devido a seus sentimentos de estar cindido em fragmentos, ¢ muito intenso. Esse sofrimento € substimado porque suas ansiedades apa recem sob forma diferente daquela do neurético. Mesmo quando niio es tamos lidando com psicéticos, mas sim analisando pessoas cuja integragio foi perturbada e que se sentem inseguras tanto em relagéo a si mesmas como a outros, ansiedades semelhantes so vivenciadas e s4o aliviadas quando uma integraco mais plena € conseguida. A meu ver, uma integra- cdo completa ¢ permanente nunca 6 possfvel; isso porque, sob pressio de fontes externas ou internas, até mesmo pessoas bem integradas podem ser levadas a processos de ciséo mais intensos, embora isso possa ser uma fa- se passageira. No trabalho “Sobre a Identificagdo’’, mostrei como é importante para o desenvolvimento da satide mental e da personalidade que nao haja pre- domfnio da fragmentagdo nos procesos arcaicos de cisdo. Escrevi entao: “QO sentimento de conter um mamilo e um seio ndo-danificados — embora co-existindo com fantasias de um seio devorado e, portanto, em pedagos — faz com que a cisio ¢ a projecio nao sejam predominantemente relacio- nadas a partes fragmentadas da personalidade ¢ sim a partes mais cocsas do self. Isso implica que 0 ego nfo é exposto a um enfraquecimento fatal por dispersio e, por essa razdio, € mais capaz de desfazer repetidamente a cisio e de conseguir integracao e sfntese em sua relagdo com objetos”””?. Acredito que essa capacidade de recuperar as partes excindidas da personalidade seja uma precondi¢do para o desenvolvimento normal. Isso pressup6e que a cisao € até certo ponto superada durante a posig&o de- pressiva e que seu lugar seja tomado gradualmente pela repressao de im- pulsos ¢ fantasias. A anélise do caréter sempe foi uma parte importante e muito diffeil da terapia analitica®, Acredito que € fazendo remontar certos aspectos da formagao do caréter aos processos arcaicos por mim descritos que, em certo ntimero de casos, podemos efetuar mudangas de grande alcance no carter ¢ na personalidade, Podemos considerar por um outro Angulo os aspectos de técnica que procurei transmitir aqui. Desde 0 infcio, todas as emogées ligam-se ao * Php. 17: °° As contribuiges mais fundamentais a esse t6pico foram feitas por Freud, Jones e Abraham, CE, por exemplo Freud, “*Character and Anal Erotism"” (1908), Jones, “tate and Anal-Ero- tisma in the Obssessional Neuroses” (1913) e “‘Anal-Erotic Character ‘Traits (1918), ¢ Abra~ ham, “Contributions to the Theory of the Anal Character” (1921), “*The Influence of Oral Erotism on Character Formation” (1924), e “Character Formation on the Genital Level of the Libido Development” (1925). — 266 — aware abipeter Sa oe unapanbooe ahe trite nance pee a anraeeladke pana HEMeN(e CH Un objeto persccutonte, 1 HEIL McHMO as pralficacdes teats pollens c+ . Levande a a que tenho freqiientemente me referido como “lembr sentimento”. Ao longo dessa revivescéncia, torna-se possivel a0 desenvolver uma atitude diferente para com suas frustrages arcaicas. Niw hf diivida de que, se o bebé foi de fato exposto a condigées muito dest. voraveis, 0 retrospectivo estabelecimento de um objeto bom nao potle es fazer as mAs experiéncias iniciais. Contudo, a introje¢ao do analista con um objeto bom, se nao est baseada em idealizacio, tem em certa medula © efeito de prover um objeto bom interno, 14 onde ele estava fi Além disso, 0 enfraquecimento das projeges, e portanto a aqui maior tolerancia, ligada a um menor ressentimento, torna possfvel ao pa ciente encontrar alguns aspectos do passado e reviver lembrancas ag.:ul‘i veis, mesmo, quando a situacfo inicial foi muito desfavordvel. O meio pelo qual isso € conseguido € a anélise da transferéncia negativa e positi va, que nos remete As relagdes de objeto mais arcaicas. Tudo isso se tora possfvel porque a integracao resultante da andlise reforga 0 ego, que cr fraco no infcio da vida. E segundo essa linha que a anélise de psicéticw pode também ser bem-sucedida. O ego mais integrado torna-se capa. le vivenciar culpa e sentimentos de responsabilidade, 08 quais fora incay./ de enfrentar na infancia; a sfntese do objeto se faz, havendo portanto wi mitigagio do 6dio pelo amor, ¢ a voracidade e a inveja, corolérios de: impulsos destrutivos, perdem em poder. Para expressar de outro modo, a ansiedade persecutéria e os mee nismos esquizdides diminuem, ¢ 0 paciente pode elaborar a posigdo «lk pressiva. Quando ele supera, até certo ponto, sua incapacidade inicial dle estabelecer um bom objeto, a inveja diminui e sua capacidade de fruiciv gratidio aumenta passo a passo. Essas mudangas estendem-se a muitos aspectos da personalidade do paciente e vo desde a vida emocional mais arcaica até as experiéncias ¢ relagGes adultas. Eu acredito que & na andlise dos efeitos das perturbagées arcaicas no desenvolvimento em seu todo que reside nossa maior esperanga de ajudar nossos pacientes. — 267 -

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