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ARTIGO ARTICLE
Desabastecimento de medicamentos:
determinantes, conseqüências e gerenciamento
Abstract The present study analyzes drug short- Resumo O artigo analisa o desabastecimento de
age as a problem reaching beyond the logistic as- medicamentos como um problema que transcen-
pect of the health field and discusses its conse- de o aspecto logístico da área de saúde, discutin-
quences with respect to quality, safety and cost of do suas implicações para a qualidade, segurança
health care delivery. The pharmaceutical supply e custo da assistência. A cadeia de abastecimento
chain and the factors that determine the distri- farmacêutico e os fatores que interferem na ca-
bution and availability of drugs are discussed. The pilaridade da distribuição e na disponibilidade
contribution of the Pharmacy and Therapeutics do medicamento são discutidos. Ressalta a con-
Committee in preventing and managing drug tribuição da comissão de farmácia e terapêutica
shortage in health institutions is stressed and para a prevenção e gerenciamento do desabaste-
measures for drug shortage management are sug- cimento de medicamentos nos estabelecimentos
gested. Finally it is emphasized that drugs should de saúde. Sugestões de medidas para gestão do
be considered health products rather than con- desabastecimento de medicamentos são apresen-
sumer goods and as such be given a different treat- tadas. Enfatiza-se a necessidade do medicamen-
ment by the supply chain. to ser considerado pelos componentes da cadeia
Key words Logistics, Pharmaceutical market, logística um produto de saúde, com tratamento
Supply chain, Drug shortages diferenciado dos bens de consumo comuns.
Palavras-chave Logística, Mercado farmacêu-
tico, Cadeia de abastecimento, Desabastecimen-
1
Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, Núcleo
to de medicamentos
de Gestão do Sistema
Nacional de Notificação e
Investigação em Vigilância
Sanitária, Gerência de
Farmacovigilância. SEPN
515, Bloco B, Edifício
Ômega, 2º andar/sala 2,
Asa Norte. 70770-502
Brasília DF.
amreis@farmacia.ufmg.br.
2
Departamento de Farmácia
Social, Faculdade de
Farmácia da Universidade
Federal de Minas Gerais.
604
Reis, A. M. M. & Perini, E.
T
T T
T
Centrais de abastecimento
Centro de
farmacêutico do Sistema
distribuição das
Único de Saúde Nível Estadual
redes de farmácias
T
T particulares
T
Centrais de abastecimento
farmacêutico do Sistema Único T
de Saúde Nível Municipal
T
T T T T T T
T
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todas as instituições de saúde, pois depende do futuros para a instituição e facilitando a adesão
perfil assistencial, nível de atendimento e política dos prescritores aos critérios. Após a aprovação
de materiais do estabelecimento de saúde. da diretoria clínica, é essencial uma ampla divul-
. Análise do estoque - após a confirmação gação dos critérios em toda a organização.
do desabastecimento do medicamento, o esto- . Identificação de fornecedores alternativos
que deve ser verificado e a duração do mesmo - para evitar uma ruptura brusca do estoque do
estimada com base no consumo médio mensal. medicamento, fornecedores alternativos devem
2. Ações operacionais institucionais - são ser identificados no nível regional ou em outros
ações a serem implementadas com base no diag- estados. Os mesmos devem ser contatados para
nóstico da fase de avaliação, antes dos efeitos do verificar a disponibilidade do medicamento e
desabastecimento serem sentidos. São medidas obter informações sobre a venda e prazo de en-
necessárias nesta fase: trega. Os hospitais públicos podem ser mais atin-
. Identificação de alternativas - deve-se ini- gidos porque o respeito às normas de licitação
ciar um processo formal para identificar alterna- torna o processo, mesmo nas situações de emer-
tivas terapêuticas ou farmacêuticas para o medi- gência, mais lento que nas instituições privadas.
camento em falta no mercado. Este processo deve . Monitoramento do estoque - diante da
ser coordenado pela comissão de farmácia e tera- perspectiva de desabastecimento do mercado,
pêutica e aprovado pela diretoria clínica do hos- muitos fornecedores começam a sonegar o pro-
pital ou por órgãos e níveis de decisão equivalen- duto visando alcançar vantagens econômicas fu-
tes em instituições de saúde de outra natureza. turas. O mercado e o estoque de medicamentos
. Divulgação de informações - informações devem ser monitorados periodicamente, as aqui-
sobre o medicamento em falta, alternativas tera- sições devem ser planejadas para buscar um equi-
pêuticas disponíveis, protocolos terapêuticos líbrio entre a necessidade de prevenção de gastos
provisórios para tais alternativas e um plano de elevados em momentos de crise de abastecimen-
enfrentamento da crise devem ser amplamente to e de acúmulo de estoque em caso de aquisi-
divulgados. Essa divulgação é essencial para a ções antecipadas para enfrentamento das mes-
segurança do paciente e prevenção dos erros de mas. O monitoramento do mercado e a identifi-
medicação. A equipe da seção de dispensação deve cação da sonegação do produto muitas vezes são
estar bem esclarecida sobre as medidas do plano tarefas árduas em período de desabastecimento.
de ação para garantir orientação adequada à equi- A avaliação do risco de superestocar deve ser re-
pe médica e de enfermagem. alizada em termos de benefícios assistenciais e de
. Integração com unidades externas - se ne- impacto econômico, pois na maioria das vezes
cessário, é importante buscar integração com não se dispõe de informações sobre a previsão
outras instituições de saúde, hospitais ou siste- da duração da falta do medicamento. O impacto
mas de saúde, visando identificar medidas a se- no orçamento com a aquisição do medicamento
rem tomadas conjuntamente. A importância des- de novos fornecedores ou de medicamentos subs-
se processo de integração é exemplificada pelas titutos deve ser identificado, avaliado e informa-
ações integradas desenvolvidas na rede de hospi- do aos gestores do estabelecimento de saúde.
tais sentinelas durante a crise de desabastecimento 3. Ações externas - são ações importantes
de vancomicina, em 2003, destacando-se a divul- quando a governabilidade da instituição sobre o
gação de informações sobre fornecedores e a pres- problema é muito limitada, como nos casos de
são junto à indústria e à ANVISA para regulari- medicamentos sem alternativa terapêutica em re-
zar o fornecimento. lação à classe terapêutica ou apresentações far-
. Seleção de pacientes - os casos de desabas- macêuticas. Divulgação para associações de paci-
tecimento prolongado, especialmente quando as entes, conselhos de usuários ou órgãos de defesa
alternativas terapêuticas são escassas, requerem do consumidor é uma medida simples que visa
a definição de prioridades para a utilização do evitar transtornos aos estabelecimentos de saúde
medicamento. Os critérios devem ser elabora- com demandas judiciais devido à assistência com
dos pela comissão de farmácia e terapêutica com opções alternativas ou atrasos. Os critérios para
o auxílio dos coordenadores médicos dos prin- seleção da alternativa, quando disponíveis, e as
cipais serviços que prescrevem o medicamento. avaliações sobre sua segurança e efetividade de-
Em determinadas situações, pode ser necessário vem ser repassados a essas organizações.
uma consulta prévia ao comitê de ética para sub- . Intervenção de órgãos governamentais -
sidiar a definição das prioridades para prescri- os órgãos de vigilância sanitária de todos os ní-
ção dos medicamentos, evitando transtornos veis de governo devem interferir nos casos de de-
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Colaboradores
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