Vous êtes sur la page 1sur 20
Bakhtin, Foucault, Pécheux Maria do Rosério Gregolin A lhistnis de una eidacia é ua conjuste ndefinidamente mével de esemuies, defasagens, concidéacas, que se estabelecem e se desfizem, (Michel Foucault As palawas¢ a esa) ENTORNOS DA HISTORIA Excansées, defasagens, coincidéncias: tais so, segundo Foucault, os entomos da histésia agindo sobre o desenvolvimento das teosias. Apanhar alguns dos fics que entrelagam esses entomes, iniciar uma discussio sobre nossas “hesangas ¢ fliagdes” no campo da andlise do discusso (4D) praticada atualmente no Brasil so os objetives deste aitigo. Pormeio de uma revisitagio a alguns momentos da constituiso dessa disciplina, centrada pasticula mente nas propostas de Péchews, Bakhtin ¢ Foucault, procuro caminhar em ditegio & histésia da constmsio conceitual que intedliga o discusso, 0 sujeito ¢ a sociedade, Esse movimento ¢ motivado pela tentativa de rebater algumas idias muito frequentes hoje em dia, como, por exemplo, as que BAKHITIN:ourrosconcsitor-chave afimam que: a) tudo ¢ 4D eb) a AD carece de identidade teovica. Na base dessas afitmagées esta ano considesacio dos lugares ocupados por cestos autores ¢ suas fomnulagées, das diferencas teGsicas e metodolégicas e, con- seqientemente, da existéncia de diferentes projetos no intesior de um grande campo do sabes, hoje denominado “AD” ‘Ao mesmo tempo, ao pensar sobre “nossas herancas ¢ filiages”, abse-se a possibilidade de discutir a citculagio de cestos slogans como “a aD pecheutiana s6 trabalha com o ideologico” ou “Foucault nada tem a ver com discusso”, ou, ainda, a redusio de um pensador como Bakhtin a um punhado de conceitos como “género”, “dialogismo”, etc, desligados do contexto histésico e politico em que foram prochzidos, Enfim, na base de minha argumentagio esta a interogagio: como enst- merar esses nomes de autores sem transformé-los em fetiches tedvicas? Ov, em. coutras palavias: como fugis do apagamento da dimensio histésica da aD ¢ enxesgar a contuibuisio de cada um deles num certo momento da constmu- gio de um grande projeto tedsico que atravessou o século xx ¢ se estende até os nossos dias? ‘Tenho, portanto, o objetivo de iniciar uma discussio necessétia, atual- mente, para o campo da aD no Brasil, atravessado pelo apagamento da sin- gulatidade das posigées, posicionando-me contra a homogeneizacio que, nas palaveas de Coustine! “amalgama, neutraliza e toma indistinguivel sob ‘uma etiqueta consensival posigdes teésicas contsacktétias”. Mais do que nunca, é necessasio resgatar as fundacSes tedsicas dos projetos desses diferentes autores, as exigincias tedsicas dos seus textos fundadores pasa, a pastic des- se movimento, problematizar a propsia nocio de “heranga”, isto é, lancar aos analistas de discusso o desafio de nos perguntatmes: “como esses auto- 2s foram ¢ esto send lidos, intespsetados ¢ postos em fincionamento em. trabalhos atuais no Brasil?” LUGARES DE AUTORIA Proponho enxesgat dngares de avtoria na histosia dos desenvolvimentes da AD, a patti dos chilogos teduicos que Péchewx trava com os pensamentos de Bakhtin ¢ Foucault. Desse ponto de vista, a0 pensar as propostas desses auto- 34 Bakirin FousulePecheux MARIA DO ROSARIOGREGOLIN 125 no intesior do projeto tedsico pecheutiano, é possivel visualizar diferentes momentos da histétia epistemologica da aD. Assim, esses trés Michels (com suas singulasidades) tomam seu sentido no intetior do projeto de constitui- gio — desde o final dos anos 1960, na Franga — de uma andlise do discuss que adotou, num primeiro momento, o dscusso politico como objeto privi- legiado. Essa tentativa — totalmente identificada com omanismo e apsican- lise — fez da Linghistica uma referéncia metodolégica essencial. Postanto, os dilogos entre Pécheux, Foucault e Bakhtin envolveram difesentes respostas & asticulagio entre teosias linghisticas, teosias do sujeito e teosias da histosia e da sociedade. Observando os dstanciamentos ¢ as apronimagdes entre essas diferentes foomulagées, pesceberemos que 0 solo epistemolégico da aD foi fettilizado pela intespretagio que cada um desses autores fez daquilo que ‘Pécheux chamou de “triplice alianga”, em tomo de Saussuse, Manx e Freud. A énfase, as aptoximacées ¢ os dstanciamentos em selagio a essa triad deter sminaram a axquitetura das propostas. ‘Domesmo modo, é preciso considesarque, enquanto Péchewx e Foucault viveram intensamente as lutas politicas da Franca entre 1960-1980, Bakhtin prochsiu sua obsa tedtica em outso tempo ¢ espago, e, por isso, ele patticipa da AD como um “outro”, uma leitura, uma intespretacio. Nesse sentido, a leitura que Pécheux faz de Bakhtin ¢ detesminada por vasias distincias: par ticipando da “psimeisa recepsio” de Bakhtin na Franca, no final dos anos 1960, como todos os que o leram naquele momento, Péchews tinha uma ‘vaga referincia sobse aquele tedsico musso de quem se trachzia Mavacsmo filasefia da linguagem ¢ Problemas da postica de Dastoiéiski, obras escuitas na Unio Sovietica do final dos anos 1920° Como sabemos, a obra de Bakhtin ¢ muito ampla ¢ divessificada e ainda hoje nfo totalmente conhecida. ‘Nas décadas de 1960-1970, momento da psimeisa recepcio de Bakhtin na Europa, as obsas traduzidas incidem sobre problemas da literatura, ratio pela qual ele sera uma refeséncia fundamental para os estudiosos de Teosia Literésia. Segundo Brait,* Marxismo e filosofia da linguagem, obsa de grande intesesse para os estudes lingtiisticos, datada de 1929 e teacuzida no final da década de 1960, na verdade terd realmente sepercussio na década de 1980, quando aparece como uma forma de incorporar aos es- tudos linghisticos uma concepsio de linguagem diferente da Linguistica pés-saussureana, na medida em que incluia a histésia e o sujeito. Assim, 35 BAKHITIN:ourrosconcsitor-chave Bakhtin, nesse primeito momento de sua leitura no Ocidente, teve um impacto muito mais forte sobre os estudos literétios do que sobte os estu- dos linghisticos. Hoje, livros de Bakhtin como Problemas da pottica de Dostoiéiski e A obra de Francois Rabelais e a eultuva popular na Idade Me dia e no Renascimenta, mesmo tendo a literatura como objeto principal, € tomadb por lingiistas como fonte para a teflexio sobse génera, polifonia, cronotopo, carnavalizagio, formas de incorporagéo do outro & linguagers, definigéo do “outro” bakhtiniano, vozes, etc Essas distincias temposais e espaciais explicam, em cesta medida, as secusas expressas por Pécheux em telasio a Bakhtin. Da mesma fouma, as transformagées tedticas € politicas ocostidas entre os anos 1960-1980 en- custatio essas distincias ¢ levasio 0 projeto pecheutiano a incomporar pro- postas bakhtinianas. Essa incosporagio visa através dos trabalhos de J AuthierRevuz e trard para a aD a idéia de heterogeneidade, incicando uma via para a andlise das telagdes entre 0 fio do disauso (inteadscussc) ¢ 0 interdiscusso, na andlise das méo-coincidéncias do diger® © projeto pecheutiano de ap se delineia inicialmente em uma época de secusas. Fortemente assentada nas teses althussesianas, entre 1969 ¢ 1975, a obra de Pécheuxestabelece um didlogo conflitucso com Foucault e Bakhtin A pattir de 1976, deslocando-se de posigées dogmiticas (tanto politicas quanto teésicas), Pécheux faz a critica das propostas da “primeisa época’, semodela o edificio tedtico ¢ se aproxima desses autores, incosporando con- taibuigées que absem diversas pesspectivas pata a andlise de discusses Assim, o que Pécheux chamou de “tels épocas da ap” revela os emba- tes, as reconstmgées, as setificagdes opesadas na constituigio do campo tedtico em tomo da atticulagio entre a lingua, o sujeito ¢ a sociedade, No decorer das trés epocas, essa atticulacio sera construida a pastic das refle- xdes de Althusser as quais Pécheux acrescenta apostes de Foucault ¢ de Bakhtin. Um percusso feito de lutas, combates, escansdes. Afinal, nada é mais estranho 20 pensamento desses autores do que aidéia de um desenvol- vimento continuo, teleclégico do saber cientifico, que atingisia sua pleni- tude num certo momento, Ao contxisio, esse didlogo do pensamento de Pécheux com os outros Micheis se da sob a forma da descontinuidade, do emaranhado de descontinuidades que afasta qualquer possibilidade tanto da lineasidade quanto da idéia de um projeto unificados do saber 36 Bakirin FousulePecheux MARIA DO ROSARIOGREGOLIN GRANDES RECUSAS: DIVERGENCIAS ENTRE PECHEUX E BAKHTIN No intesior do grupo de Michel Pécheux, as discusses sobre as propos- tas de Bakhtin ocorseram em meados dos anos 1970, ¢ ele foi visto, pela maiosia dos integrantes, como um pensador que trazia grande contsibuigio acs estudos de andlise do discusso na medida em que asua translingiistica secuperava a dimensio histésica, social e cultural da linguagem. Michel Pécheux, no entanto, nfo concorda com Bakhtin em dois pontos enuciais: a) a ctitica bakhtiniana ao “objetivismo abstrato” de Saussure e b) a inser gio bakhtiniana em concepgées “manxistas” que, pata Pécheux, pertencem, 20 “Sociologismo” e ao “humanismo teésico” Porisso, diante daquilo que era até entio conhecido das propostas de Bakhtin, as discordincias psincipais de Pécheux envolvem seus diferentes, posicionamentos em face da teotia linguistica e de uma teosia do social ¢ da historia” Duas LEITURAS DE SAUSSURE ‘Tanto Pécheux quanto Bakhtin retomam a Saussure a fim de discuti- sem 0 objeto da Lingtiistica estrutusal (a /ange, como sistema abstrato, formal) e proporem um novo objeto — o discusso. Mas esse retomo se dé de mancita diferente nos dois autores, 0 que provoca a discordincia de ‘Pécheux com a leitura de Bakhtin. Novamente, sio cuas leituras que se dio em momentos histésicos diferentes ¢ por isso produzem diferentes efeitos de sentido. Em toda a obsa de Pécheux, a seflexio sobre a selagio entse a Linghis- tica fandada por Saussure ¢ ateosia do discusso é essencial. Para ele, Saussuse mostrou a complexidade da lingua, entendendo-a, a0 mesmo tempo, como instituigéo social e como sistema de signos. Pécheus’ ¢ Gadet procuram evi- denciar que a Linguistica pés-saussuseana obscurecen a idéia do “valor” centralizouse na separacio radical entre lingua e fala e que isso a) levou a Linghistica a abandonar o estudo da Semintica e b) absiu a porta para o formalismo e o subjetivismo (j4 que a parole é pensada como individual ¢, por isso, 0 objeto da Lingtiistica deve sex a Jonge, pensada como sistema 7 BAKHITIN:ourrosconcsitor-chave abstrato e coletive). Essa leitura, segundo Pécheux, deixou na sombea a grande inovasio de Saussuse, a descobesta do veal da lingua—o fato de que (© equivoco ¢ um fato estrutusa? e, por isso, contém a possibilidade da metifora, dos deslizamentos, dos jogos de palavras (0 jogo nas segtas eo jogo com as regras). Visto dessa maneisa, o sistema contém a tegulacio ¢ a ctiatividade e toma possivel, simultaneamente, a “felicidade da simetsia e 0 diama da abertura de cada palaves? ! Esse fato incontomavel far com que a fronteisa que separa o linghistico ¢ o discussivo seja constantemente secolocada em causa em toda pritica discussiva, pois as “sistematicidades” mio existem sob a forma de um bloco homogéneo de segeas organizadas a maneisa de uma maquina légica Acatando aidéia de que nas propostas saussuseanas apresenta-se e854 com- plexidade do objeto “lingua” — e que, postanto, nfo ha um corte entre a Jangue ¢ o discusso — Pécheux nfo concorda com as cxiticas formuladas por Bakhtin /Voloshinov ao “objetivismo abstsato” de Saussure. Esse é o psimeizo ponto de sua recusa as teses bakhtinianas: ele entende que hé um esto de avaliagio em Marccismo e filasofia da linguagent™ ¢ ccloca-se do lado dos traba- hos do Ciao Lingistico de Mascou (puincipalmente de Jakobson) ¢ dos foumalistas. Evidentemente, nfo podemos nos esquecer de que, diferente- mente de Bakhtin —que tomou contato com as idéias do Curso de Lingitstica Geral logo apés sua publicacio, no inicio dos anos 1920, ¢ se opée 4 leitura que os “formalistas” fazem de Saussuse"? — Pécheux, nos anos 1970, faz uma leitura de Saussure ja fimdamentada nos trabalhos de Godel! sobte as fontes, manusctitas do Curso de Linguistica Geral e de Staxobinsky"* sobre os estudos saussureanos dos anagramas. Assim, antes de atsibuir a “eitura conssta de Saussuse” a Pécheux ou a Bakhtin, ¢ mais prudente que perguntemos: no estatio eles falando de dois diferentes “Saussuses”? Com base na tese de que houve uma leitusa equivocada de Saussure, ‘Pécheux afitma que Bakhtin “tende a anular a dimensio psépsia da lingua ‘opondo ao Sistema abstrato de formas lingtisticas’ o ‘fenémeno social da interagio verbal, realizada através da enunciagio ¢ dos enunciadores’, ele conduz 4 fusio da Linghistica em uma vasta semiclogia”* Pécheux enten- de que Saussure deve ser considerado como o inaugurador da ciéncia da inguagem e, porisso, em tomo de suas propostas devem continuar aserem gestadas as grandes questées da andlise do discusso: a possibilidade de pen- 38 Bakirin FousulePecheux MARIA DO ROSARIOGREGOLIN sar os jogos da/na lingua (2 “felicidade da simetsia/o drama da abestusa”), a producio da singulaidade do sujeito na lingua, assim como a atticulaio entre a lingua, a ideclogia e o inconsciente ‘DUAS LEITURAS MARXISTAS O segundo pélo de esiticas de Pécheux em relagio a Bakhtin diz sespeito fs suas diferentes maneisas de pensar a asticulacio entse o discusso, o sujeito « osocial apartir do mansismo. A posigo fortemente althussesiana dos traba- Ihos de Pécheux — de 1969 a 1975 —leva-o a tecusar o que chama de “Sociclogismo” de Bakhtin, entendido como o “amincio de umasociclinghistica smatesiaista apoiada numa psicclogia social herdada de Plekhanov”, que encontsa suas gasantias numa psico-sociclogia ca comunicagio vesbal. Se- gundo Pécheuss na base das propostas bakhtinianas esta a ideologia da Vida, 0 Jumanismo teorice,7 que entendem a producio do discusso como fruto da cisio individuo/sociedade ¢ o inscrevem na esfera das relacdes intesindividuais¥ Assim, o segundo ponto teético findamental, em tomo do qual se assentam as cuticas de Péchewx a Bakhtin, é o modelo bakhtiniano da intesindividualidade, que se fundamenta na idéia de intesagio sociocomunicativa, Pasa Péchewx, a prochigio do sentido no pode ser pensa- dana esfera das relacSes intesindividuais, do mesmo modo, ela nfo pode ser tomada em selagées sociais pensadas como énfermgéo entre grupos humancs. Essa tecusa a Bakhtin expressa uma ctise no intesior da “andlise do discusso francesa”, uma divisio entre aqueles que Pécheux classifica como Iingiiistas marccistas ¢ aqueles rotulados como os sociologistas. Ha, nessa divisio, uma luta teésica determinada pelas diferentes posigdes dos inte- lectuais franceses, nos anos 1970, no intesior do Pastido Comunista Fran- cés. Aliando-se a vestente dos lingiistas marxistas, Pécheux critica os “Sociologistas” que desenvolvem uma “sociolingtiistica materialista” centrada nas idéias de intesagio ¢ dialogismo —o grande alvo de sua ctiti- casio as posicgdes expressas, por exemplo, por Mascellesi e Gardin Pasa ‘Pécheux, essa sociolinghistica é “um lugar de secobsimento da politica pela psicclogia”, em que se desdobram sem pesceber as “evidéncias” do sujeito individual e coletivo, da comunicagio intessubjetiva” Marxista 39 BAKHITIN:ourrosconcsitor-chave filiado as teses althussesianas, Pécheux nfo podesia concordat com as te- ses de Bakhtin que atticulam o signo ideclégico, 20 mesmo tempo, como arena das lutas sociais ¢ expresso intima ¢ pessoal de individuos inteslocutores. Essa discussio sobse as divisées entre as intespretagdes, maxiistas entremeava-se com a politica, ¢ os althussesianos travavam, naquele momento de crise do marxismo, uma batalha teésico-politica contra o que denominavam de “teformismo” # Insesido nessa verdadeita guerra — que detesminava aos grupos de inte~ lectuais daquele momento que se pesguntassem: “o que é ser manxista em Linghistica?” — Péchewx propée que, a pastic do matesialismo histético, & preciso “mudar de tetteno” a fim de lutar contra o empisismo (desembarz- arse da problemitica subjetivista centrada no indivichic) ¢ contra o for malismo (ao entender a lingua como uma maquina légica e sem extesior — ‘uma “lingua de marcianos”). Isso implicava a introcugio de novos objets tomados em selasio a0 “novo tesreno tedsico”. As divergéncias funcamentais do grupo pecheutiano no que diz respei- to a Bakhtin era, cestamente, essa selago com 0 maniismo, ja que, apesar de nfo concordatem com aleitura que ele faz de Saususte, tanto para Péchew quanto pata Bakhtin, chas idéias findamentais assentam seus projetos de andlise do discusso: a) a lingua é um sistema e, postanto, tem uma organi- ‘zagio que ja prevé a possibilidade dos deslizamentos; b) a lingua é uma instituigdo social. Esse catiter sistémico ¢ social da linguagem é a base a pastic da qual sex pensada a heterogeneidade dos processos discussivos. A lingua é entendida como condigio de possibilidade do discusso e a questio a set sespondida é: se a lingua é o lugar matesial onde se realizam os efeitos de sentido, de que é feita sua matesialidade? Nos iltimos textos de Pécheuss, desde 1980, a problemstica do “teal da lingua” aliada ao problema do “teal da historia” seté uma intesrogacio constante. Eo gmpo pecheutiano en- contrasé nas formulag6es bakhtinianas respostas para entenderem essa smatesialidade discussiva na andlise da “heterogeneidade enunciativa’” 40 Bakirin FousulePecheux MARIA DO ROSARIOGREGOLIN PECHEUX, FOUCAULT: VOZES ENTREMEADAS Pata o desenvolvimento da obra de Pécheux, Foucault foi sempre um adversatio estimulante. Desde as primeisas fommulagées da aD pecheutiana encontram-se idéias desivadas da argueolagia do saber foucaultiana como 0 conceito centeal de formagio disowrsiva, Foucault desenvolve exsano¢io como um dispositivo metodolégico para a andlise arqueclégica dos discussos, dai a sua definigio: [No caso emu que se puder descueves ents wm certo asieneco de enuciados, semueliaute sistema de disper io e, ne caso em que ente os abjetos, os Spos de enuscneo, os conceitos, as escolhas tasnitens se pudes defic wana megulasidade (aana oxdem, conte es, posigdes © fancionsmentor, wansfoumagSes) daemos, por convengio, que se tata de wna fragt dicrsia [.)." Ao deslocar esse conceito para sua proposta de anilise do discusso, ‘Pécheux da a ela uma intespretagio que fortalece os aspectos linghisticos e ainsere dentro das proposigées althussetianas sobre o “primado da huta de classes”. O desenvolvimento desse conceito nuclear da aD mostra os confli- tos ¢ as secusas de Pécheux em relacio a Foucault, na sua seticéncia em atubuiclhe a autosia e o empséstimo™ Novamente, as criticas em relagio a Foucault ligam-se 4 teosia lingiiistica e a interpretagio das teses manustas. Com selagio A teosia linghistica, Pécheux é categésico em afismar que Foucault promove a elisto da lingua e, postanto, nem coloca em causa se ha alguma leitura saussureana sustentando o projeto foucaultiano de andlise do discusso, Se essa no é a preocupagio central de Foucault — a ponto de cle terestabelecido como “sua” fyplice alianga os nomes de Nietzsche, Freud, ‘Masco conceito de “enunciado”, fartamente discutido em A argueologia do saber, nio deixa chividas de que ele estd muito proximo da Semiclogia, ptincipalmente a basthesiana Foucault define enmciado em selagio a lin ‘gua, entendendo-a como um sistema de possibilidades de constmugées, enunciativas. No entanto, pata a andlise asqueclégica nio interessa esse campo de vistualidades das formas linghisticas. Pastindo da idéia de que “nfo basta qualquer sealizagio matesial de elementos lingtisticos, ou qual- quer emergéncia de signos no tempo e no espaco, para que um emunciado apatega e passe a existir”,* Foucault mostra que o que toma uma frase, 41 BAKHITIN:ourrosconcsitor-chave uma proposigio, um ato de fala em um enunciado é justamente a fiungdo enunciativa 0 fato de ele sex produzido por um sujeito, em um lugar institucional, detesminado por segras sécio-histosicas que definem ¢ possi- bilitam que ele seja enunciado, ‘Toda a discussio sobse 0 conceito de enunciado é frita, em A argueolo- ‘gia do saber, a fin de precisar que 0 objeto da desctigio axqueclogica nio “9 emunciado atémico — com seu efeito de sentido, sua osigem, seus limites ¢ sua individualidade”, mas “o campo de exescicio da funcio enunciativa e as condigdes segundo as quais ela faz apatecerem unidades diversas (que podem sex mas no necessasiamente, de ordem gramatical ou légica)” * exescicio da fingdo enunciativa, suas condicées, suas segras de con- trole, o campo em que elase sealiza estio no centro das seflexdes de Foucault, na medida em que entre o enunciado e o que ele enuncia néo ha apenas selagio gramatical, logica ou seméntica; ha uma selagio que envolve os sujeitos, que passa pela Histésia, que envolve a préptia matesialidade do enunciado, E dessa pemspectiva que ele pode afismar |e] gortaia de mostar que os “dseussoe", tis como podemot cele, tas come podeanos Helos sob a fouma de texte, alo sf0 come se podeta experay umn poco « sinpes entecnsamento de ois ¢ de pilav: trama obscuea da cois, eadeia manifesta, ‘isivl « coloida das palavens;gostatia de mosteac que 0 deus asia é uaa esueta supesfice de conta, ov de confconte, ene vou weldade © a Lingha, © ineamento entee tan lxico ¢ uma expesiéncia; gostasa de mostas, por meio de exemnples precios, qe, aalzando os peéptios dzcwsos, vimos se desfinezem ot 0% apazentemente tio Fortes ents as palieas€ 1 coitas,¢ dest cvese um conjunto de mgs, propsias da peitin dseusiva Essas age defnenn ao a existncia amd de wana ueldade, aio 0 veo ceuénice de um vocabulisio, as 0 regime dos objetos. “As pale suas © 2 colts” & 0 tile —sésio — de uo prablemaé o silo — ikdnico — do twabalho que Ihe modifien 1 fouma, Ihe desl ot dados seve, final de cons, una tsfiinteinmente difeen- ta, que consists om no mis wate o& dzcntsos come signos e- mentor significaes que semetean a couteidos om a epiesent- Bes), mas coma pra gnu Sirram sium anamente os nae de (i flan, Coszavente 05 Azcntsos sa fetes de signos;anas 0 gue fase é mae que waza ees signcs paca desig coitus, E esse 42 Bakirin FousulePecheux MARIA DO ROSARIOGREGOLIN vais que os towns itedonives i agua © 20 ato da fila, E exe “mae” que é pci fine apastcex e que é putciso decir: Quanto a selag#o com o mastismo, a pattir do desenvolvimento da _genealogia do poder,” as divergtncias tomam-se acitradas, pois Foucault dis- cosda fundamentalmente das teses centrais de Althusser os aparelhos ideo- légicos, a centralidade do poder de Estado, a intespelacio ideclégica, o assujeitamento, a luta de classes, etc. Nesse sentido, conforme Pécheux — devido as transfoumagées politicas postetiores a 1978 -, se afasta das posi- Ges althussesianas dogmaticas, seus pensamentos se apsoximam A teosia foucaultiana da microfisica do poder e das esisténcias vem de encontro as teses althussesianas, motivo pelo qual ele ¢ acusado pelo grupo pecheutiano de praticar um “mantismo paralelo” Foucault afima que o poder nio é unitasio e global, mas se constitui de formas dispates, hetero _gineas, em constante transformagio. Entendendo o poder como uma pri tica social constituida histosicamente, 2s andlises da genealogia do poder foucaultiana sealizaram um importante deslocamento em relacio & idéia dos “aparelhos ideolégicos de Estado”, pois propéem que nfo ha uma rela. gio diteta entre poder e Estado (considerado como um aparelho centsal ¢ exclusivo de podes), mas que ele se manifesta em uma atticulagio de pode- ses locais, especificos, citcunscsitos a uma pequena area de acio (“institui- 80”). Os micropoderes sio formas de exescicio do poder diferentes do Enstado, a ele atticulados de maneisas vasiadas e que sio indspensiveis sua sustentagio e atuagio eficaz, Foucault situa sua anilise no nivel em que 0 poder intervém matesialmente e atinge os individucs — na coneretude de seus compos —e penetra no seu coticiano, Analisando os podeses moleculares, que se telacionam com detetminados sabetes —sobse o ctiminoso, asexua- lidade, a doenga, a loucusa, ete. = sua anilise concebe o poder nfo como uma dominagio global e centralizada que se plusaliza, difunde e repescute homogeneamente nos divessos setores da vida social, mas como tendo uma existéncia propsia ¢ formas especificas. Essa concepsio coloca, para os althussesiancs, dois grandes problemas, fundamentalmente politicos ¢ teé- sicos. Politicamente, se o podernio tem um centro, asua tomada pela dasse dominada ¢ a modificagio dos aparelhos de Estado nfo sio suficientes pata fazer desapasecer ou transformay, em suas caractesisticas fundamentais, a 43 BAKHITIN:ourrosconcsitor-chave sede de podeses que impesa em uma sociedade, Por negar a idéia de “tevo- Iugio” que podesia transformar o poder de Estado (¢ de seus aparelhs), os althusserianos acusario Foucault de “teformista’” Teosicamente, aidéia de microfisica do poder faz com que as nosées de “aparelhos ideolégicos” e de “luta de classes” (centsais nas propostas althusserianas) petcam seu valor heusistico: como os podeses nfo esto si- tuados em nenhum ponto especifico da estrutura social, se eles funcionam como uma tede de dspositivos sem um extesior possivel, limites ou fron- teisas, pata Foucault nio existe, de um lado, aqueles que tém poder (“classe dominante”), ¢, de outro, os que estio dele alijado (“classe dominada”). Os micropoderes se disseminam por toda a estrutusa social. Do mesmo modo, a sesisténcia nfo tem um ponto fixo, mas pontos méveis, transitésios que também se distribuem por toda estrutusa social, ¢ ha, no intetior das pro- ptias “classes”, miceolutas pelo poder Além disso, Foucault nfo selaciona o saber ¢ 0 poder disstamente com a economia (a infra-esteutusa), como no marxismo clissico. Compreendido como matesialidade, como pritica, como acontecimento, o saber esta intimamente telacionado com os podeses. De~ conte disso que Foucault nfo faz distingio enter cigncia e ideclogia Ele evita, explicitamente, empregar o termo “ideclogia”, por ser muito casrega- do de significados, o que nio denota, entretanto, que ele no mobilize a idéia de dvta pelo poder Situando a ideclogia como histésia do saber, Foucault afasta a idéia de neutralidade objetiva da cigncia e da ideclogia como “filsa consciéncia” ‘Todo conhecimento (cientifico ou ideclégico) s6 pode existir a pastir de condigées politicas — condigées que detesminam a possibilidade de forma ho tanto do sujeito quanto dos dominios de saber Todo saber ¢ politico; aio posque gerado pelo Estado, mas porque tem sua génese nas selagdes de poder Saber e poder se implicam mutuamente. © poder quer gesis con- trolar aumentar a produtividade dos cospos (objetivo econémico ¢ politi- co). Pasa conseguir essa gestio e controle, ctiaram-se as sociedades dlscipli- nates, por meio da organizagio do espaco e do controle do tempo. A vig- Tancia é um dos seus psincipais instrumentos de controle, pois ao mesmo tempo em que exerce um podes, produ um saber Em suas illtimas obras (A histiria da seoualidade, psincipalmente no seu volume 1, A vontade de saber), Foucault formula a existéncia de outras formas de poder além da 44 Bakirin FousulePecheux MARIA DO ROSARIOGREGOLIN disciplinaridade: analisando a sexualidade, vé que o seu contsole também é exercido por um Biopoder, cujos dispositives envolvem a “Segurans2”, a “cegulagio”, etc ™ Decotte dessas idéias a andlise de que o poder é produtor da ilusio de individnalidade. O individuo é uma produgio do poder e do saber (0 hos- picio produz o louco como doente mental, pessonagem incividualizado a paitir da instausacio de relagées disciplinares de podes). O poder discipli- nat nio destsi o indivicno; a0 contritio, o fabsica e, porisso, 0 individuo ¢ um dos mais importantes efeitos do poder Pensando 0 “Sujeito” como essa fabsicay , sealizada, historicamente, pelas priticas discussivas, é no entrecmizamento entre discusso, sociedade & hhistésia que poderemos observas as muchngas nos saberes ¢ sua consequen- te asticulagdo com os podeses. Pata Foucault, osujeito é o resultado de uma fabsicacio que se da por intesmédio de dispositivos e suas técnicas. Postan- to, se 0 objetivo fundamental de Foucault & produgir uma histovia das dife- rentes modos de subjetivagio do ser humano na nossa ailtura e, se essahistéxia é constituida pelo discusso, a selapo entre linguagem, histétia e sociedade estana base de suas reflexdes. Usando as palavras de Foucault, pasa analisar os diferentes modos de subjetivagio é preciso determinar e descrever “a ptolifesagio dos acontecimentos através dos quais, gragas ao quais e contra os quais se formaram as nogdes, os conceitos, os fepo/ que atravessam ¢ constituem os objetos ¢ engendsam os discussos que falam sobre eles.” Assim, em vez de considesar 0 discusso como uma sétie de acontecimentos homogéneos (as fosmulagdes indivicuais), Foucault distingue, na psopsia densidade discussiva, divessos planos de acontecimentos possiveis (plano da emergincia dos enunciados; do apatecimento dos cbjetos; dos tipos de enunciagio; dos conceitos, das escolhas estratégicas, da desivagio de novas segras, da substituisfo de uma formacio discussiva por outsa, ete) Péceux, BaxtrTi, FOUCAULT: CONVERGENCIAS A pattic de 1978, Pécheuxcinicia um pesioclo de autocuiticas que ira deslocs lo, teética e politicamente, das posigdes dogmaticas da “primeita época”. Es- ‘a8 etificagées atingem pontos centeais das posiges teéxicas e polticas (como 45 BAKHTIN:ourrosconcsitorchave anexo 4 edicio inglesa de Semantica e disanso, publicada em 1978, cujo titulo é “So ha causa daquilo que filha’), dos pressupostos e procedimentos da ap (como em “Létsange mistoir de Panalyse du discous”),” 1981); do massismo ( Disanso: estrutura om acontecinrento?) > A dscussio da asticula- gio enter dscusso ¢ historia tomase proeminente, trazendo com ela uma ampla sefoumulagio que integra a nogio bakhtiniana de heterogeneidade e que resulta, entre outtos deslocamentos: 46 4) nadiscussio sobse as relagdes ente amatesialidade discussiva eo interdiscusso, comaleitusa fita por Authies Revue dae propostas de Bakhtin e a fommlacio dos conceitos de hereragonaidade mastrada ¢ constiniva, b)no encontio com histosiadores (Robin, Guilhaumou, Coustine), que traz a rediscussio da relagio entre discusso ¢ histésia a pastic da leitusa das propostas de Foucault e a incosporacio das nodes de “acontecimento”, “aequive”, “priticas discussivas”, etc; 6) mo papel decisivo da leitura de Bakhtin ¢ de Michel de Cesteu pata que a ap incosposasse aquilo que Péchewsx chama de registro do ordinaiio do sentido: “Coloca-se cada ver mais anecessidade de entender esse discusso —namaior patte das vezes silencioso — da usgéncia s voltas com os mecanismos de sobrevivéncia: trata-se, pata além da leiura dos Grandes Textos, de se por nna escuta das cisculagSes cotidianas, tomadas no osdinasio do sentido”. A. transfoamagio no objeto de estudos da ap traz novas questées ao deslocar se dos discussos escsitos-legitimos-oficiais pasa o registro dos dilogos, séplicas, natsativas,histésias, provésbios, afosismos, etc Como em Bakhtin, encontra-se em De Cestean,” em sua seflexio sobse a escaita da histésia, a pirocupacio com a altesidade, com a palavra do outro —o patois durante a Revolucio Francesa, 0 possuido, o estrangeiso, o mistico — e as formas utilizadas pelos sujeitos para se apsopsiarem dos cédigos e lugares que Ihe sio impostos ou parasubvesterem as regeas a fim de comporemnovas foxmss (s invengies do cotidiand), Essas seflexées, em cuja base esté um didlogo com as idéias da arguegenealogia de Foucauit,” traz para aap aproblemitica da tensio entre os podeses e as sesisténcias ¢ a critica de Péchews, em seu Xitimo texto, is teses althussesianas: vse cazitr vlan do magitua do otdinsio do sentido exeapon completamente i inmigfe do movimento exmumeita, que 0 fe- chow totalmente inferno daideologia dominast edo eapisene ain, rosea Pecheu MARA DO ROSARIO GREGOLIN puitce, considerados como ponto-cego, ugar de pura sepeodugto do sentido A tevisio tedsico-metodologica, que aproxima a aD pecheutiana de Foucault, Bakhtin e De Cesteau, leva a andlise do real da lingua e do real da Aistovia, integrados na produgio “em espisal” de reconfiguacdes do corpus. Sio explicitadas, nos textos posteriores a 1978, a tematizacdo da heterogeneidade, a idia da alteridade (“presenca do dscusso do outro como discusso de um outro e/ou discusso do Outro”), as selagdes entre intradisarso « interdiscurso (no “Gio do discusso”, vestigios da memésia discussiva), ete HERANCAS, FILLAGOES. A discussio das recusas ¢ das aproximagdes entre 0 projeto da ap pecheutiana e os projetos de Bakhtin e Foucault, apenas esbocada neste texto, nfo propée, evidentemente, que seja possivel decidir “quem estava com a 12230”, pomque as verdades cientificas so relativas. A prdpsia verda- de, conforme afisma Foucault, é uma construc histésica. Trata-se de en- tender essas “vontades de verdade” produtidas em cesto contexto histético, sob a agio ¢ a detetminaséo da Historia. E nesse sentido que podemos compreender as singulasidades das propostas desses autores, suas divergén- cias ¢ convergéncias. Ao mesmo tempo, a compreensio dessas singulatidades pode pesmitic que se comece a enfientar alguns efeitos provocades pela homogeneizagio — encontsada com freqiiéncia em trabalhos bsasileitos que afismam filiarse 4 “anilise do dscussc” — das propostas desses autoses: a)em selagio A ciseulagio das idéias de Bakhtin, promove-se uma “desmasiizacio” de suas fosmulagdes ¢ a xedugio de suas propostas a conceitos operatosios desligados das motivacdes filoséficas que os engendsaram. Essa “deemaniizagio” (que é, findamentalmente, uma “des-histosicizagio”) acaba produzindo como efeito o apagamento das, polémicas estabelecidas entre Bakhtin e outsos “marxistas” (como os althussesianos ¢ foucaultianos); bb)em selagio a0 desenvolvimento, no Brasil, da ap desivada de Péchewx, 2 distincia temporal e espacial provoca alguns efeitos intespretativos, BAKHITIN:ourrosconcsitor-chave + amsior paste dos textos produsidos na Franga a pastir de 1975 ainda no foram suficientemente discutidos, ¢, por isso, mantém-se fortemente a vinculago com as teses altinussesianas (“ideologia’; “sujeito assujeitado”, etc) e a: caiticas a Bakhtin e a Foucault no que sespeita a relacio com Saussure ¢ com 0 “markismo”; + do mesmo modo, a cisculagio dos textos de Péchewx, no Brasil, nio acompanha a cronologia de sua produso em francés e isso leva 4 mistusa de conceitos estabelecidos em diferentes “épocas” (muitos conceitos foucaultianos so incosporados sem que se altesem outros, de base altimussesiana, como, por exemplo, a convivéncia pacifica entre diferentes concepsdes de “histOsia’e “sujeito” conjugando “asquivo” e “fosmasujeito”; “acontecimento”, “psiticas discussivas” e “intespelacio ideolégica’); + apagando as polémicas (tedsicas e politics), apagam-se as setificagSes (que 0 propsio Péchews sealizou em seu projeto; assim, ao mesmo tempo, ha uma “des-althussesianizagéo” por meio da incosporasio de conceitos dos outsos autores ¢ a seproducio das secusas a esses mesmos autoses Sera hoje a ocasiio — quando nos voltamos pata os intimeros trabalhos brasileizos que enumeram (como refeténcias-fetiches tedticas), Péchews, Foucault e Bakhtin — de retomasmos a fala de Pécheust™ de que ¢ chegado 0 momento de comegar a partir os espelhos? Notas "J.J. Conttine, “A estranha memésia da anilse do disuse", em F Indusky ¢ M. C. Leandso- ‘Feunita (org), Michel Pécherw e a anise do dseusso: nana elagio de snca seabac Sio Cadlos, ‘Clara, 2005, Maldidies esceeve: “Foi em 1968, em wm artigo intindade ‘Le mot le dalogue le comast, que ‘Julia Keisteva itrodusin Baki aa Franga, Essa prises ecepeo conceane ersencilaente i lieeatac, 20 tesne da semidtca lacie e dos peitios significantes aniluphs. Os linguists ‘puderam les no 2° 12 de Langeys (pmparade por Roland Bates, 1968), wan artigo de Baka ‘hamado O eatuaciade so comance’. Net ator 1980 comaga wa seguade pesiodo de descobesta de Baklvin, murada pel eubipheagio das wadugSes dos estadose a generalzagio das wferés- cia em todos ot campos, notadamente aa Laighétion Um pandilogizme pusce, entio, se ‘etal; no qual comutes ae mais divs ve apcopsiam dele” (D. Maldidieg “(Ra)lue Michel Péchews jouw’, em M. Péchews, Linguismde du dseous, Pass, Cendses, 1990) Se hoje pensamos em um “Cirulo de Babli’, no momento da psimeisasecepeo dz obea aa ‘Fraga encouteamos wna espéci de “volaiaagio” da autoia Voloshinov/Bakliia. Isto significa ‘que a pripsa conetinupio do ingar de anton de Ballin foi vena constrgio postesioc 20 mo- sweat da leituea qu dale se fe2 na Encopa not anos 1970. 48, Bakirin FousulePecheux MARIA DO ROSARIOGREGOLIN “B. Brag “O dacs sb » olde Bakhtin MR Gangol'e RL, Bacon (og), Anse do deco: studader do wentid, So Cals, Clan, 2001 * Acompaniac esses ems ene 6 woes exge, também, que se compre» dinensio ign ds suufesmagies stn « poles qu dewaminow a nmcspeio bawca dese peopto ma Fann sa metde doy anes 1980 Est wageade enveie © desapurcnento ese «de ookos gies pesados fancses ent 19751505, “A. Pécheos, “Anis do dscns ts époes” xn F GadereT Hack, Pocus ane ston ‘ea do dseuse: wna intodngio 3 obi de Michel Pécs, Campinas, Uneunp, 1995 A leinea bakitninna de Far peovrelneate ainda nfo xa conhecda, ji que a tadvgie do ‘tide de Vloshov/Bakitin sob © Fandsone (1927) 5 fx pba em feeds, em 1962 M, Péchews, Analpe antsutigue du dacons, Pass, Ditod 1959; M. Pécs oa, “La séountign ets coupam sateainae: Ingo, langage, dscouse’, em Langages 24, Pac, Lamour, 197; M.Péshew,"Lémange azo de Tape dv dou, em Lingige 6, Pats, Lacoste, 1981 CE F Gales eM Pichews, A lingua sting: dscuso ms hati da ingen Campin, Ponte, 208-0 espige do vloréo de am sete caps de vubuesio eh qn, no deen, qulguc cosa pode sex mpanentda por qualquer et” ME Pichwux“Sobut 2 desconstrogio dv wai inguin”, em Lingua ¢Tastsaestos Lingascos @/5), Campin, Unssep, 1998 °\Gadete Pécs op cit) agunentam qo eseapow x Ballin inno fundamental d Smstae Ge que “slagua ale podeaa ser pessadncompletanente se else se intpoase apesbiiade fe poe” © maslagitien propos po Baki ncospoca ma lnguagen os items soca que hava side ssxxdeado pels ings por-sosvnai,[] vn der modes palin gis Bak Fuse. Sksngie¢ dee gue os lngustestadam ange 1 pase qu ee est peeocpads com xeom- nnewpio” (Clk e M: Helqct Mital Bk, Sio Pal, Fespeeuvn, 198,» 237) R Goda Les sores mntces da Conc de guaigne get, Génet, Un Gina, 1957 % J Seebinsy As palawas seb a galmen: os agra de Fesdinand de Saas, io Pl, Pempectivy, 1974 SD. Males 0p. \GaddtePéchews, opi © Essacaen me “inmsmo wits” de Blin tex come base 2 tees sein soba os ap Thos idealigeos ee sspiament, qo peopéem un sit stead pl eclogite plo inex cee sojet gue ¢ font om oxgrn do dane, qu sepeod 0 jd, ojo pt onside A scusa 10 “hates” Findaneutse, porte, a propta dew moss Ao ‘bts ge €aideologa gue pls» sian eon gion or ox ao, o gp os humanist a Flag don os 197, eeron wes het por seme "wost” °F Gades eM. Pichon, 0p ct J.B, Masel eB. Garda, Inmodigfo i socolagiien, Labos, Artes, 1975 D. Malis op. ct “HL vkios twats de chao nos quais se pode le ests batas witio-pelitins, come, pot texemglo, M Péches, Remoater de Fevenit i Spaeza, em Llnguettde dv dacouse, Pa, ends, 1990; M. Pishwss Hina vapor Langit fra do lagen e da socilogeen®, tem Esctzos 3, Camps, Labvatbe Nees, 198 49 BAKHTIN:ourrosconcsitorchave = Foncaly, A aeguelagia do sabes, Ri de Jamiz, Foune Univsitics,1986, p43, * Anogie de fesmapio dscusiva punce, pola pimeia wi, em. Péchewy et, "La sémastiqne ‘clreonpuar srosucanne Lng, langage, acon”, em Langage 24, Pa, Lazo, 1971, faust o uu “hs elisaes do mancimd” “Apennde-no sob um grande nineto de ‘ropes cond augue ques denomana‘s elses de assim, pspomes pe Fem {Fe desloge, asin deus, comport, necssaiament, come wn de sts components, hms ov mas foumogies dseusion ited, que detcmanam age que se pode « se dew Aloe Geulada sob a fouma dena aengy, den seam, de um pats, de tuna posi, Ae um perpoama et) pure de uma pone dada em uma coajuntea dda: o ponte esenei, gue que ao se wat somente daaataza dos passe empungnds, ma tbr ( sobeetee) 42s conruoyies sas qua esas pana se combinam, an medida em que ela deen 2 signieapn que esis panos niguiem: come ads eames anteiosneste, © pales 0 fhm de entado de acordo com a pougies stents por agues que empuepam, podese ‘paca eto sparen ‘dam de sete’ a0 pustunm de tuna fermagie dscasiin xu fun” (Md Péchec eta “Lasémasnqu etlaconpua surusanoe-Ingo, ngage, dacs, fm Langage, 24 Pass, Lazowse, 197 7p. 1023) = Foneal, opt, p58 “Idem, p 122 deen, pp. 556 Tse de diese eettosdevenwsbides no inicio dos anos 1970 « que foram sides pose utente em naar: Foneae Vg e pie Meta da oléncia ns pus, People, Voss, 1967, Fosemly Miewafsis do podes, Rio de Janes, Gaal 1979 = Pan dss mais demorda seb ests conavors sages, wee M. R. Gatgoa, Fovemie Pickers ante do doen, Didogos« Dols, Sie Cader, Claas, 2004 Essa polis com Fovemk esti eplein no tert “Rementns de Fon Spins’, prods aide em 1977 publends em Pécheus, Linguine ds dacous: Texts chess purD Maldidis, Pate, Conds, 1990 “J Revel, Fovem:coneitsesencas,Sfo Caos, Cla, 205. * Rosen "O sito ¢o pode’ om P Rabiaowe H. Day, Mel Font es tsiina ‘lovécn pan den do eseoensoe« da heanendoe, Ri de Jai, Feese Uses, 195 “Mi Pécheos “Vitage ani de Fata da cous” mm Langage 6, Pas, Lazoer, 198 ° M, Petes, Discus, extn on sconteciment, Capa, Posts, 199, “Ness ide tte de Péhers odes ec “Come todo os sabes de spina wiendaehome- ines o dope de bse da utopia dftea maistafvcnp jute todo, em nome dx ‘Splecia. [-] Mio ve pods dnc gues eceistien prods» nq, em que» scion reds © Gubg, nen oe o ae-pesitosne pueda aserwdie humana Ne entats, 2eapet fhe jtfeaders dase steams Hlsefces¢ neontstie? Gichem ep ct, 9.6) J, Authise Revs, Hémogineit monte ot hitiogensits constiuton lessens pou we approche de Fate dis le dacons, nP 25, 1982, pp. 91-181 “A mule dhs prodoges erin prorina 1.0 tabi dos estaos & Fovemi qu, desde © ‘cin dos ans 1970, eon intend em etudat © gue ele chao de “hstxn dor homens nfames” (Foucault, Eu, Piewe Riviéee, que degolei minha mie, minha iemi e men mio, Rio Ge neo, Gena 1977 Foal, “A ads dos hoon safes em Les caus chi 29) Naodogie mise do dossd Pane Rent (p29, Fovemiteplex “Cane qu o que nos 50 Bakirin FousulePecheux MARIA DO ROSARIOGREGOLIN fxou esse sabaho[] ¢ qu se tata dem dss, it de wm acoteimento em oan do que propose do guavaecim vse cour dscusos de ecg fom, enanzgie« angio ‘estes do sd pas, odo peocundor |} do sade & pvvincn eo de Esqul or dor {Medes com seu petit ese cua Pot fi o do wsussine. Todos film ou puncem fl da ‘ness coo ~ pelo menos @ 20 acontcimento do dn 3 de jonho que se sfeaem todos ess Aecnser bs todos ee, «ex a hetecogensade,no Foun esha abet sn 3, ‘sma ft sigue confnsto, ana eligSo de pode nna baths de dsc ss te diewsor” M. de Cer, A seat da Hiss, Ri de ani, Fosse Univesitis, 2002;M. de Cer, ‘Ainvwapie de cotiine tomes 1 Petopeo, Vo, 1594 Dacwinde o fndamentos de se mitade aquegenigce de mile dos dscuses, ssi s sxpuia Fovemie "O dict nino, « dzcuso condins, tod ers fl emagndy, eo ‘hs pea isto on afta pelo enpe, 0qoe dem os loses ax profndeze ds wis [i steuos [.] ue foi to sess cones, essa lnguigem stan +6 empo tawitacn © broaads, qu amas spssow ov late da tied lic, da atimigio dt ees, € tssalinguigem goe me inaessa cada ws mai” oven, Da acqeclogi dinstcn em MB Gia Moma (on), Foven estan podersaber Dass ¢ Escaoy n, Rio & nets, Fomase Usswetsin 2003) Péchewt op cit Segue oauog est “é um dos pontosSaos da mln athssesiana soba os uve desu pumezasmleages a 0 ma Panga” ©'M, Pécheuw, “Létange maroc de analyse du discous”, ern Langages 61, Pas, Lamousse, 1981 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Avniurs Revi] Hétecogéneité monde ethétirogeneité constinnive-dlement pour tune approche de Faun dans le dco. o-'25, pp. 91-151 Baxi, M. Wotncnnox) Mansions ¢fleafa de linguagor problems fundaeentis do méto- do sccislégica aa cducia ds lnguagem, Sio Prnlo: Hucie, 1986, Problemas de pata de Destine. Ri de Jaoeize: Fouase Universi, 1981 Brary B.O duouero sob o olhac de Bakhtin, Ia: Gurcorin, M. Re Basonss, RL, (0tge). Andie 4h disown: xs satsiadades do sentido, Sio Carlos: lata, 2001, Cums, Ke Horguisr, M Mita Babli. Sfo Paulo: Pesspectva, 1998 Conta, M. de. A soste da Hesina Ri de Janeic: Fosense Usivessitsin, 2002 A invengis de coniiona. Toasos 14 0, Peteépala: Vores, 1994, (Coontisr J.J. A estanha meménia da muilse do dieu, In: Ivoc nny, Fe Leanmto-Femssn, MC. (0m. Mice! Pithaw ¢ a andlse de dunrar wna wlagio de asses scabae Sie Catlor ‘Clara, 2005, Fovcavrs, M. As palawas ¢as sas wana acgueclogia ds eincias umuanas. Sfo Paulo: Motins Fontes, 2000, LA. anpueslegia de saber Rio de Jaizo: Forense Universiti, 1986 Da acqueclopia i dinstiea Ta Mors, M. B. da (0xg). Fina esetigi, podetsabes, Dinos ¢ Escutor x. Rio de Janeico: Forense Univeriia, 2003 BAKHTIN:ourrosconcsitor-chave Ex Piore Bint, gue dele minha mit, nba sna ¢ man snes, Ria de Jaseico: Gea, 1977 Vigiar «puna. Wistoxin da viléncia nas poses, Pets ole: Voses, 1987 Hisiria da usualidade 1: x-outade de saber Rio de Janeito: Geil, 1988. ‘A.vida dos honens anfmns, Les cabies dr chemin 29, 1977 Micrfica de poder Ri de Jassizo: Gena, 1979. (© snypito © 0 poder In: Risse, Pe Drives, H, Michel Fancandr wana tejetéria ‘lovéfie para sia do extrotualzme © da hermenduties, Rio de Jawice: Fouease Unioetsit- i, 1995, Groes, Fe Pious, M.A lagua mating 0 Uisewso aa hstésia da lingustien, Campinas Postes, 2004 Goon, R Les woes mawuontes dv Cavs de liagaisigne ginerale Géneve: Un. Géneve, 1957, Garcoun, MR FawadtePidbace na aude de does: logos duees. io C los: Cladus, 2004 Moupinus, D. ellie Michel Pécheux ajouclui Ia: Picnus, M. Lingualinde dv dscns Pasi: Cents, 1990. Muscsauss, J.B e Ganon, B. bavediyd @ aaabingisnca Lisbox Astes, 1975. Pius, M. Auahue apovanige i dns. Pass: Dunod, 1969 et al La sémantigue et a coupuse saussusianne: langue, langage, dscous. Leyes 24 Pus: Laxovsee, 1971 Remontons de Fovemle i Spinozs In: Ltnguaemde dv divers Pais: Cendses, 1990. Hi wana via paa a lngiiticn fata do logiisao « do sociologieme? Bums 5. Campin Tabeusbe /Nudees, 1988 Lémange micro de Panale du dzcows. Langage G1. Pats: Lizowse, 1981 Sobue a desconstrgio das tosis lngticss. Lingvas ¢ Dnsonumetes Lengisias (4/5) Campinas: Unie amp, 1998, Anilee do dieu: ts épocxs Lu: Gans, Fe Hoc, T Par sana andlse aamética de “Heorre: wena aeodugio i obta de Michel Péchew. Campinas: Unieastp, 1995. Dison, exmara 91 acntecmente, Casapias: Pontes, 1999, Linginde dr denne Texts chosis pac D. Maldidiae Pais: Cendsts, 1990, Runs, J. Fowande conceitesessencias. Sfo Caslos: Clans, 2008 Srasoansiy, J As palewas aD as palaoras os asageaes de Fesdiaand de Sanssue. Sio Prue: Pespeetvn, 1974 52

Vous aimerez peut-être aussi