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CLÍNQUER
Luciane Pimentel Costa Monteiro1
Fernando Benedicto Mainier2
Resumo: A queima de resíduos industriais nos fornos de clínquer tem sido tema de
discussão em âmbito nacional e internacional por estar relacionada às implicações no que
diz respeito às emissões atmosféricas e à qualidade do cimento produzido. As unidades de
cimento estão se confrontando com os problemas de sustentabilidade, ao terem que
garantir não somente os suprimentos de matérias-primas e insumos energéticos, como de
cumprir normas e padrões. Várias são as pressões tecnológicas para que se estude o
impacto ambiental de contaminantes desses resíduos na produção de cimentos com
especificação ambiental adequada. Sabe-se que os resíduos industriais são incinerados em
função de seu poder calorífico, mas, geralmente, aumentam sobremaneira o volume de
cinzas. Além disso, os metais contaminantes, presentes nos resíduos e, com baixo ponto de
ebulição, tendem a poluir o ar do entorno das fábricas, pois se transformam em vapor
durante o processo. O principal objetivo desse trabalho é alertar para a possibilidade de
contaminações, sejam de cimentos nacionais ou importados, provenientes das rotas de
fabricação, muitas das vezes desconhecidas, onde os combustíveis alternativos como os
pneus inservíveis, podem ser fontes permanentes não declaradas de contaminações
ambientais e do próprio cimento produzido.
Abstract: The industrial residues incineration on clincker furnaces has been discussed in
the entire world, because to the environmental problems caused on the atmosphere and the
quality of the produced cement. This promotes on a lot of sustainability problems in the
cement industries because they have to guarantee the raw and fuels as well as to obey the
environmental legislation. Some society segments hope the necessary study of the
environment impact of the contaminants residues in the cement production. The ash
volume increases with the residues incineration and the metals contaminants present in the
residues are a great source of environmental contaminations. The principal objective of this
paper is to alert to the contaminations possibilities related to the residues burned in the
clincker furnaces. One example is the used tires, which can be permanents sources of
environmental contaminations and of the own produced cement.
1
UFF - Departamento de engenharia Química e Petróleo, e-mail: lucianemonteiro@predialnet.com.br
2
UFF - Departamento de Engenharia Química e Petróleo, e-mail: mainier@nitnet.com.br
ENGEVISTA, v. 10, n. 1, p. 52-58, junho 2008 52
Um resíduo, extremamente
1. INTRODUÇÃO
cogitado para queima em fornos de
A construção civil e a fabricação clínquer, é o pneu inservível, como
de artefatos de cimento têm sido forma de solucionar os problemas
responsáveis pela produção nacional de ambientais que esses resíduos causam
cimento, atualmente, com mais de 35 por si só (ocupação exagerada de espaço
milhões de toneladas. físico para sua deposição, não se
Muitas plantas foram ampliadas e degeneram fácil e rapidamente, atraem
modernizadas, além de outras instaladas. larvas de insetos nocivos à saúde),
Isso gerou uma concentração de capital entretanto, sua queima libera para a
nas jazidas de calcário e fábricas de atmosfera SOx e CO2, além de outros
cimento, tornando relevante o peso dos componentes químicos provenientes de
proprietários e sócios estrangeiros dessas sua composição.
unidades. Acrescido a isso, houve a Mesmo assim, é sugerido o seu
modernização nos processos de emprego como uma alternativa para
fabricação empregados, redução de queima nos fornos das cimenteiras,
custos, principalmente, no que concerne visando suprir seu consumo energético.
ao combustível utilizado e, algum A tendência, é que as cimenteiras
investimento na redução da emissão de venham a se deparar cada vez mais com
particulados (pó), que é a poluição visual os problemas decorrentes das alterações
observada pela sociedade. ambientais originárias do processo de
Resíduos industriais de natureza produção, a partir da opção por
diversificada têm contribuído como renováveis, não renováveis e, de
fontes de substituição de combustível em resíduos industriais de outros processos.
fornos rotativos de produção de clínquer Assim, começam a enfrentar os
das unidades de fabricação de cimento, problemas decorrentes do potencial
visando uma recuperação de recursos ao tóxico e riscos ambientais de seus
invés de uma simples operação de processos na emissão de seus efluentes e,
destruição desses resíduos. também, na qualidade do cimento
Essa atividade pode ser produzido.
interessante no momento em que não A função dos órgãos
cause impactos ambientais, não afete as fiscalizadores é monitorar no sentido de
condições de segurança e saúde pública resguardar, esclarecer, aclarar e advertir
das populações vizinhas, não cause a população dos efeitos danosos dos
prejuízo aos equipamentos da unidade e materiais inadequados e, sobretudo,
finalmente não contamine o daqueles nocivos à saúde.
clínquer/cimento produzido.
Seja por parte do governo, ao
As unidades de cimento estão se assumir o monitoramento da observância
confrontando com os problemas de de prescrições legais e normas técnicas,
sustentabilidade, ao terem que garantir além de buscar o controle da propaganda
não somente os suprimentos de matérias- enganosa na mídia; sejam por parte dos
primas e insumos energéticos, como de engenheiros de processos industriais, ao
cumprir normas e padrões. abrir as portas desse compartimento da
Na visão crítica, as cimenteiras ciência e colocá-lo à disposição do
brasileiras ou estrangeiras, nem sempre público, via divulgação em eventos,
contemplam com abrangência os veículos de massa e publicações
problemas relacionados à tecnologia, aos científicas; seja por parte dos
trabalhadores da indústria do cimento, profissionais da área de saúde, ao
aos impactos ambientais decorrentes e, advertir sobre os problemas imputados
provavelmente, não sofrem fiscalização pelo desaviso; seja por parte de
técnico crítica permanente. educadores, ao ajudar não apenas na
socialização, mas na construção de um
ENGEVISTA, v. 10, n. 1, p. 52-58, junho 2008 53
conhecimento consumível no cotidiano, silício (SiO2), 3% de óxido de alumínio
fazendo do homem comum o fiscal de (Al2O3) e, quantidades menores de
sua própria defesa, cada vez mais, outros constituintes como o ferro, o
autônoma e livre de qualquer tutela enxofre e outros. A composição química
assistencialista do Estado. percentual, sob forma de óxidos, de um
O principal objetivo desse cimento pode ser apresentada na tabela
1, a seguir:
trabalho é alertar para a possibilidade de
contaminações, sejam de cimentos Tabela 1 – Composição química de um
nacionais ou importados, provenientes cimento
das rotas de fabricação, muitas das vezes
Composição química % massa
desconhecidas, onde os combustíveis
CaO 58,9 – 66,8
alternativos como os pneus inservíveis,
SiO2 19,0 – 24,2
podem ser fontes permanentes não
declaradas de contaminações ambientais Al2O3 3,9 – 7,3
e do próprio cimento produzido. Fe2O3 1,8 – 5,0
MgO 0,8 – 6,0
SO3 0,9 – 3,0
2. O CIMENTO PORTLAND
Em 1824, o construtor inglês As instalações utilizadas para
Joseph Aspdin calcinou pedras calcárias produção de clínquer, geralmente,
com argila, transformando-as em um pó baseiam-se na existência central de um
fino. Percebeu que obtinha uma mistura forno rotativo cilíndrico colocado em
que, após secar, tornava-se tão dura posição horizontal, porém, com uma
quanto às pedras empregadas nas ligeira inclinação onde circulam os gases
construções. A mistura foi então de aquecimento resultantes da queima de
patenteada no mesmo ano com o nome um combustível em contracorrente com
de cimento portland e, recebeu esse a matéria-prima para produção do
nome por apresentar propriedades clínquer, conforme mostra, a seguir, a
semelhantes às rochas da ilha britânica figura 1.
de Portland (BASÍLIO, 1983). É
Além disso, o forno de clínquer
constituído de um pó fino de tamanho
sofre uma baixa rotação empurrando a
aproximado de 50 µm, resultante de uma
matéria-prima que entra na parte mais
mistura formada pelo clínquer (96%) e,
elevada para a extremidade inferior, já
outras substâncias, tais como, o gesso
na forma de clínquer. Já o combustível
(4%) e escórias de silício, que
utilizado é fornecido e queimado na
dependendo das características desejadas
parte mais baixa e, em contracorrente
para o cimento, são adicionadas em
com a matéria-prima até a extremidade
certas quantidades.
oposta.
O cimento é um material de
Os fornos de clínquer são
propriedades adesivas, cerâmico que, em
revestidos com material refratário
contacto com a água, produz uma reação
compatível com a massa fluida do
exotérmica de cristalização de produtos
clínquer, visando minimizar a perda de
hidratados, ganhando assim, resistência
calor para o exterior, permitindo, assim,
mecânica (TAYLOR, 1992).
que a temperatura no interior do forno
O clínquer é produzido a partir da atinja temperaturas de até 2000 ºC
transformação térmica em fornos (TAYLOR, 1992).
giratórios a elevadas temperaturas, de
um material rochoso contendo,
normalmente, 80% de carbonato de
cálcio (CaCO3), 15% de dióxido de