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S2H68S 1.904 Sire Brsse Temas oN VOLUME 4 ESTUDOS LITERARIOS Proparagso texto Som RSberto Miney DEDALUS - Acervo - FFLCH ISON 85 08 029195, “Todos os dnsitos reservados Eaitra Aten SA: —'fus Borbo Ge uape, 110 Ena. Telegraten "omivo’ = Sao Paulo Saree Trg nenrrnammmnaeees ee A Pree D Gilda 2 Antnis Candido Com nespecte ¢ afeto Mado [Sei A meméria de Sérgio AntOnio de Pédua Frederico Céu, inferno Passa pasaa trbe vazes, fo ultimo que flee ‘tem mulher e fines ‘que néo pode sustentar! bu, inferno, bu, inferno. (Canton ron quantal ane quan ‘ae snow 08 48.) Chuva e seca Sem dvida, o capital nfo tem pétcia,e€ esta uma das suas vantagen univerais que 0 faze tip tivo irradiante, Mas otrabano que ele explora tem mie, tm pa, tem mulher ¢ hos, tem lingua e costumes, tem misca ere. Tem una fisionomia humana que dura enquanto pode, E como pode, jt due asta situapto de raiz€ sempre a de faa c dependencin. “Grail Ramos véo migrantenordestino sob as ee cies da neesidade. a nasraedo, que se quer objtv, dao. ssa dos mesos de vida rehirada na moda Vide ‘A linguagem de Fabiano c dos seus € da por impotent, lacunos, truncada a esfora do seu iagindrod-seemn feta los de sonho com desejon Geum femposnslior, espe dof is Sees com abo © mora nivel, de ode anll ido sea expulsa pelo dono do gado nem bem inde a io pi xu F nde a estagho Narrar a necessidade & perfazer a forma do ciclo. Entre a consciéncia narradora, que sustém a histéria, ea matéria nar- rivel, sertaneja, opera um pensamento desencantado, que fi- ggura 0 cotidiano do pobre em um ritmo pendular: da chuva & seca, da folga & caréncia, do bem-estar & depressao, voltando sempre do tikimo estado ao primeiro. © péndulo, dizia Simone Weil, ¢« mais atroz das figuras. Ela pensava na condi¢do do operirio que trabalhut ex riimos de produgio acelerados até o limite da fadiga extrema’. ‘Os tempos do lavrador e do vaqueiro si necessariamen- ‘te mais argos, o que di a sua angiistia ou & sua esperanga um. ‘andamento subjeivo mais arrastado e capaz de preencher 0 fu- turo com vagarosas fantasias (O paraiso possivel dos reirantes de Vidas secas espera-se ‘noe metee que se seguem Ae Aguas com 0 vigo novo do pasto. Mas, vindo iregulares as chuvas, 0s tempos Sazonais fcam dis- pares: ninguém pode prever exafamente quando comeyam nem quando acabam., or isso, @ expressio verbal desse paraiso, que hd de vir um dia, se faz no condicional, modo da dependéncia no regi- ‘me do discurso indireto: A cating ressuscitaria, a semente do godo voltara ao cur- ral, ele, Fabiano, seria 0 vaguelro daquelafazenda morta. Cho- Calhos de badales de ass animariam a solidaa. Os meninos. {fordos, vermelhos, brinariam no chiquero as cabres. Sinha Vitoria vestina sols de ramagens visosas. As vacas povoariam ‘ curral.E a catinga fcaria toda verde. De um lado, arma-se uma titica de aproximagio com a mente do sertanejo, pois sto os desejos de Fabiano que se pro- jetam aqui. Mas, de outro, o modo condicional ow potenci (eno o simples futuro do presente) registra a divida com que 8 visto do narrador vai trabalhando o pensamento do vaqu 10. Ressusciaria, voltaria, fcaria...O perto se faz longe. Pro- ‘ximidade em relagdo ao tema e distancia do foco narrativo em relagdo & consciéncia da personagem combinam-se para enfor- ‘mat o realismo critico de Graciliano. Sone Well A condo opr otra der ere pres, Rode an e Heat eto te Tne Tt “Ba cating fcria toda verde.” Ese, 0 imaginéio, que se enais lena epesadament no solo do serio. Seus limes So 0 eoperade © 0 possva Sonar com mats é ddr, como “‘doidira”, teraimen te, parece a Fabiano acama que Sinha Vitoria sont ter non fat o seu velhn jira; mals dodeira ainda franca bac Paavras ifs, ko estranbo queem horas de confetsada nat luguise Fabian se permite as mesmo, ssiaho, enfezamento do narrador com palavras que ndo remetem a cosas eatosVearss A pala, ‘ra esrita, por exemplo, sob cuj limiar se exprimem Fabiano € 08 sau, para o sertanej causa de angustiee de opressio E a cfra misteriosarabiscada na caderneta do palo, s8o aquelas letras taxaivas ques impoena hora do acrto ds ore, {8 com o cabra. Ou aqueles livros pateicamente ints do eu ‘Tomas da bolandeira, que, com todo o seu mundo de papel, nfo resist & pentria da sca, Lembro o que diz Paulo Honéro, em Sao Bernardo, e Luts da Silva, em Angistia, sobre o carder safado das palavres pe antes e das estrias iterrias que se exbem nas vitrinas como 4s prositutas na rua. A palavra ecita softe um processo ue the movem a economia e a moral da pobreza, Volto ao narrador. Este olha de cima, da Historia bras- cra j conhecids, o destino do seu vaqueiro Sir de um cto, sug ameter apenas ra «rar ar gidade srande do Su, onde, fara chuva ou Taga So, press de mao-de-obra barata " Juz do ciclo maior do capita, que atri o pobre d sr {0 cidade, as imagens finas de Fabiano aparecem como ‘os da impoténcia de quem nfo percebeu a marcha dS Propria historia ea fatalidade que a constitu, Mas o narredor a conhece e pode enunci ls, Aivaro Lins observou que Graciliano nfo vive a angistia apenas no seu fazer-se, mas tambem de fora: O seu trebalho tende a defini-se como 0 de “historiador da angista"™ * Avro Lins, Joe! dete, 2. ke, Ri e Jaco, xt Ohm, 1983 ; } Angistia ¢ expectativa sio parentes. O historiador, que std de alam modo frente dos acontecimentas, v8 as clapas do processo. O sonho do vaqueiro e at fantasias que ele proje- ‘ano seu Eldorado do Sul se dizem primeiro no discurso men- tal de Fabiano e depois na interpretaeao que hes dé o narrador ‘ouincicute: As polavras de Sinha Vitsriaencantavam-no. Iriam para dante, icancariam uma tra desconhecida. Fabian etave con. {ete ¢acreditava nessa ferra, porque nBo sabia como el era rem onde era /erfo nosso. ‘Depols de enunciar @ crenga da personagem, Graciliano aponta a sua cause: Repeta dociimente as palavra que Sinha Vitéria murmi ‘ava porque tinkaconfiancsnela,E andavam para sul, met- dos aquele sonho x] ‘Que vam fazer? Retardavam-se, lemeross. Chegaria urna terra desconhecida ecivlizada, fe ‘ariam presos nla Eo serio continuaria @ mandar gene para 1, Oseriéo mandara pare a cidade homens fortes, bros, co ‘mo Fabiano, Sinha Vitéria os dois meninos. © sonho, decifrado como ilusto, acorda na historia meri- diana do novo proletariado erevela a sua esséncia de cativeiro: chegariam a uma terra cvilizada, mas fcariam presos nela O naqueiro e 0 autor Vidas seas & um romance escrito por volta de 1937, quando f migraedo Interna comepa a tomar vulto, Do Nordeste pare Sio Paulo, principalmente. Graciliano olha atentamente para © homem explorado, simpatiza com ele, mas nBo parece enten- der na sua fala e nos seus devaneios algo mais do que a voz da inconsciénca, ‘exempiostalver bastem para seguir a direslo do seu thar, Fabiano precisava curar a bicheira da novitha, mas, nlo ‘encontrando o animal no pasto, curou-o “no rasto”, rezando sobre as suas pisadas na area. O narrador desereve 0 ato mac fico e comenta: *Cumprida a obrigagio, Fabiano levantou-se ‘om a conscincia tranquila e marchou para casa”, corte é nitido. De um lado, a mente do vaqueiro, que se contenta com formas da medicina vicéra; de outro, a mente do escritor, que timbra em manter 0 seu lugar, pois sabe que ‘cultura do pobre nao é a sua. O intervalo entre ambas & lar 20, mas nfo é vazio. O autor traz consigo um saber que a sua ‘concepedo critica da sociedade no vé por que recalcar. Dai Ihe vem a possihilidade de emitir juizos sobre o comporiaments do vayueiro, juizos que serlam invidveis, por exemplo, na pers- pectiva de Guimaraes Rosa, cujo trato com as fontes sertanc- 4Ja8 se faz no plano da identificagdo e da empat Fabiano, voltando da sua operacio de cura, percorre 0 areal que beira o rio: a cabera inclinada, a espinha curva, os bbragos a se agitarem para a direitae para a esquerda. Graclia- ‘no anota 0s gestos © os avalia e interpreta: -Esses movimentos eram inte, mas 0 vaqueiro, o pai do vaqueiro, 0 av6 e outros antepastades mais antigos haviemse scostumaco a percorerveredas,afastando 0 mato com as macs. Es flhos jd comepavam a reproduir 0 gesio hereditéio. Historiador da angistia, Graciliano também procura ‘compreendé-Ia camo o faria um peneador determinista cm busca ddas causas que presidem as agbes dos homens, ge Gomtudo, 0 que dé alcancerevolucionrio sua visio, que ppoderia passar por ilustrada e progressista apenas, ¢a descon- fianga alerta que alimenta também em relagao ao discurso do ‘civilizado”. Sea voz do iletrado & pobre e partida, ado letra- do é oca, se nao perigose. _ Oolhar critica, aceticamente despregado da sua maria prima, néo favorece nem a linguagem do dominado, cuja ea- soca (atribua) descreve, nem ainguagem dos donsinants, que denuncia. Graciliano avanga outro passo, ainda. A cultura formali- zada em uma teia de enganos nao da saida para o vaqueiro. ‘Admirava as palavras compridase difces da gente da cidade, lentava reproduciralgumas, em vdo, mas sabia que elas eram initels,e talvez perigosas. Penso na forga deste mas sabia, para onde convergem a5 razbes da personagem ¢ critica histrica do narrador. E uma ‘erteza compartilhada, é uma verdade politica que ambos con- uistaram. O vaqueiro Fabiano sabia, como eu, 0 escritor in- conformado, tambem se Ha momentos em que Fabiano intui a prépria situagdo € ‘consegue dizé-Ia com o laconismo de certos predicados brus- 0s. “Fabiano, voce é um homem, exclamou em vor alta.” Mas, Jogo depois, “)pensando bem, ele ndo era um homem: era ape” ‘nas um cabra ocupado em guardar as coisas dos outros”. E olhou em torno, com receio de que, fora 0s meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudents. Corrigiu-a, murmuran. do: — Vocé ¢ um bicho, Fabiano”. Pergunto agora: de quem é o comentério — “pensando bem, ele ndo era um homem? Da personagem? Do narrador? Graciliano recolhe aqui a palavra e a verdade do seu vaqueiro e reforca-as com o aval do narrador que tudo sabe. ‘Assim, o que parece faltar na hora da empatia (por fran- co respeito as diferencas existenciais) resgata-se no acorde da simpatia intelectual. ( historiador $6 se encontra & vontade com a mente do pobre no nivel de um saber que é, anal, a consciéncia comum. AAqueles que perceberam o carter incontorndvel de classe da so- ciedade onde vivem. O menino e 0 inferno Comparo dois capitulos seguidos de Vidas secas: “O me- nino mais novo” e “O menino mais velho”. Sdo passagens que ‘arram a frustragdo da crianga perante 0 universo do adulto nas condigdes precisas da vida sertancj ‘ ‘A desventura do menino mais novo foi querer imitar 0 pai nas artes da montaria. Saltou no lombo de um bode que o ar- remessou violentamente ao chilo. Mas oscu consolo era imagi- nar 0 futuro como satisfaeao dos desejos do presente: quando crescesse, subiria em cavalo brabo como Fabiano e voaria na ccatinga como pé-de-vento. A felicidade é um quando, é um se, {que a imaginacdo realiza num relance. Tal como o pai, que re- zava sobre o rasto das reses para curar as bicheiras, o pequeno ‘std imerso na crenga de um mundo invisivel que guarda rel ‘bes diretas com o cotidiano. Ele “‘enxergava viventes no céu, Considerava-se protegido, convencia-se de que forgas misterio sas iam amparé-lo. Boiaria no ar, como um periquito”. ‘Quanto ao desastre do menino mais velho, se nfo foi maior que 0 do pequeno, com certeza nfo docu menos. Ele apenas Insistiu com a mde para saber como era o inferno. # quando Sinha Vitéria falou vagamente em um lugar cheio de fogueiras, espetos quentes, o menino perguntou-lhe: “A senhora viu?”” A mie, por toda resposta, aplicou-lhe um cocorote; © mening foi esconder-se no meio das catingueiras, &beira da lagoa vazia. ‘Se ma primeira passagem a condigdo da infancia era tra. balhada como um tecido de sonhos e desejos impotentes para alcangar as proezas do adulto, na segunda, a relapao inverte- ‘6. A crianca que pergunta, a crianga qué enige da mae a inter~ Dretacdo do simbolo (0 que é inferno”), supera, na verdace, 0 limites da gente grande. Fabiano e Sinha Vitoria, prensados entre o menino e o muro da prépria inconseiéneia, eagem com um silencio evasivo e,afinal,iritados pelo espinhe da interpe lagdo, desafogam-se com a agressio fisica ‘A suvializacao da crianga sertaneja édolorosa tanto na hora, de imitar como na hora de pergunar. © menino mais novo acalenta imagens que nascem do seu enlevo pelo pa: o seu mal vem da desproporsao entre a fants Sia eos préprios rewusos de crianga. O menino mais veho move. se no rumo de outro horizonte. Ele que ir aléms dos signs ops. £05, vividos cegamente pelos pais, quer ver de perto'e tocar 0 iagindrio do adulto (“A senhora viu?”); mas dessa zona tur. vaesagrada brota, de repente, a violéncia. Porque a violéacia 0 sentido latente da sua teia de interagdo com 0s pais. E ou {ros passos da novela, “Mudanca’", “Cadeia ¢ "0 soldado amarclo™, mostram que para o mesmo sentido ameacador apon. tam as relap6es da familia com a sociedade nordestina, E claro que o signo a ser decifrado por Sinha Vitéria po- deria ter sido outro, ¢ no a palavra inferno. O que interessa ‘ao narrador é fixar 0 instante do curto-crcuito, 0 processo da incomunieasio, a conversa truncada na origem, o didloge fa. ppossivel; em suma, a barbérie que pulsa na assimetria de aul to e crianga, de forte e fraco, ¢ que estd prestes a explodir a ualquer hora. Mas como o texto de Graciliano se produz em lum regime de consciente economia, néo esperdicando simbo- Jos ao acaso, importa a escolha do signo motivado. F exata. ‘mente a palavra inferno que acaba funcionando como analogon de toda a relacao intersubjetiva de base, E 0 contexto que res onderd, na sua totalidade, & pergunta: o que ¢ inferno? Infernal ¢ ndo poder perguntar o que ¢infemo. Infernal de chofre e sem defesa, ao arbitrio que 36 0 mais forte pode exercer. “Deu-se aquilo porque Sinha Vitéria nao ‘conversou um instante com o menino mais velho," ‘A pergunta, que pareceu tio atrevida a Sinha Vitéra, afinal rnada continha de insolente. Para o menino mals Velho. todos 0s lugares do mundo deviam ser felizes, pois a estacao era a ‘das éguas , supBe o narrador, a crianca devaneia com as ima~ gens do equi ¢ agora. Graciliano insinua a vigéncia de uma ho- ‘mologia entre o vaivém do clima sertanejo e 0 cardter bipolar ddo seu estado afetvo. Ou chuva, ou seca. Ou fio imido (0 “in- vyerno"), ou o calor sem tréguas. Cada um com as suas conota- Bes existenciais préprias. Em Inflncia, confessaria: Merguthei numa comprida mand de inverno, O ajude ‘apajado,& ropa Verde, amarelaevermelha, & caminkos exe. ‘os mudados em riachos, flearam-me na elma. Depois velo @ seca. Arvores pelavanse,bichos morreram, 0 sol cresceu, be- ‘bu as dguas,e ventos mornos espalharam na terra queimada uma peeiracinzenta, Othande-me por dentro, percebo com des gosto a segunda paisagem. Devastaéo, calcinogdo. Nesta vida lenia sintoome cougido entre duas situopbes contraditéras — ‘uma ionge nolt, um dla imenso e enervante,favordvel & mo- ddorra. Frio e calor, revas dencas claridades dfuscantes (Maha), Recorto a fr “Olhando-me por dentro, pereebo com desgosto a segun- a paisagem”. (Ora, o tempo central da novela é0 da primeira paisagem, 44 égua, 0 verde, 0 inverno. Quanto ao verio sem cleméncia, ‘yem narrado como um pesadelo que ocupa o comeso e 0 fim dda série. Entre um e outro, a famiia vive um momento de fol- 1B. Mas o que é apenas um fugaz intervalo para o adulto preso ‘entre 0 passado ¢ 0 futuro, parece ao menino um eterno e di ‘no presente: “Naquele tempo o mundo era ruim. Mas depois se con- sertara, para bem dizer as coisas ruins néo tinham existido,”” (Ou: ‘todos os lugares conhecidos eram bons: o chiqueiro das cabras, o curral, o barreiro, 0 patio, o bebedouro — mundo ‘onde existiam seres reais, a familia do vaqueiroe os bichos da fazenda”. Até mesmo os esparos distantes, a serrae suas vere- as secretas, recebem uma aura de encanto: “e ai fervilhava ‘uma populacdo de pedras vivas e plantas que procediam como gente. Esses mundos viviam em paz, as vezes desapareciam as frontcras, habitantes dos dois lados éntendiam-se perfetamente © auxiliavam-se”, E até 0 bichos mortos na estiagem e 08 sei- os que jazem no vau dos leitos mudavam de figura virandy entes vives que se escondiam nas moitas eno morro azul ¢ remoto. Se agora o tempo esté bom, se a catinga ressuscitou, se ‘sede jd ndo mata homens e bezerros, entdo a palavra inferno nilo pode significar um fogo de penas sem fim, Trama de sons ‘nunca ouvida, “um nome tio bonito” e ‘esquisto", traria em alguina cuisa de Delo e misterioso como of outros sons que omenino babuciava ecoandoo berro da bois, oruido dos ven tos, o ranger dos galhos na catinga, Era isto que ele queria de inha Vitoria, que a palavra virasse coisa, E esperava da mis que ela fizesse 0 inferno transformar-se. Mas, embora o tempo se faca t4o benigno que até 0 nome do inferno pode dizer um lugar feliz, a relagdo com a violencia «da mic desencadeia magoa e recusa, No descanso entre as fu {aspel setto fora, o mundo sabre a crlanea como um cba, fas otrato com a brutalidade do adulto expulsa-a desse pari. 50. 0 signo infermo, desde que attavewou v eitculo near da ‘gpressio, regrediu ao seu sentido comum de pesadelo infinio, Porque Sinha Vitéria ndo conversara com ele, ‘mas tentare convencé-lo dando-Ihe um cocorote, ¢ isto Ihe parecia um absurdo”. sare, DB Bete=pello desse desequilibrio (0 tempo & bom, mas “o inferno sfo es oulsus"), o menino $0 consegue sit pela buses tacteante de alguma forma de comunicagao, E o momento de escobrir 0 outro ser ensatada da cata, a cachorra Baleia, © didlogo entre esas criatras relegaias 20 grat mais baixc ‘de uma pesada hierarquia de posiobes ser feito de gestos e olha. es — sinais de corpos que se ocam na fraternidade ultima dos absolutamente despojados. ‘A cachorra Baleia acompanhou 9 aula ora diel” O narradorpersegue as forma dese ‘entendimento silencioso. Para o co tudo comera pelo faro: & Jevantando o focinho que Baleia se orienta a caca'do comps. nheito; © av sentir o vento moro que sopra da lagoa, ¢ para ai que se dirige, certa de encontré-to. Depois, como deixar-Ihe clara a sua solidariedade? Balanga a cauda, salta em rocia, pc 4a. © pequeno chama-a junto a si e poe-se a contar baixinho ‘sua historia, ¢ ¢ a vez de Gracliano lembrar que 0 seu voca. bur era to restrito quanto o do papagaio sacrifieado nos tempos da seca. Mas o que vale sio as exclamaptes, 0: geston, 48 respostas da cadelinha com a cauda e a lingua, provas de lum assentimento amigo. © contacto do menino com Baleia refaz por um étimo 0 ‘estado de graca que toda a famlia parece viver nesse entreato Saipan hc as chavas a proteysm, “O mexino beljon-ihe fo focinho imido, embalou-a. A alma dele pos-se a fazer voltas fem redor da serra azulada e dos bancos de macambira, Para entender a perspectiva do narrador, ¢ necessirio se- gulede perio o aprofundamenta que a texto da A situaedo son treta, aliés nada simples, do menino mais velho, Entre ele © Baleia firma-se um acordo técito ecarinhoso que, no calor do corpo, o redime da secura fria onde fora parar a sua conversa com a mie. Afagando a cachorra, o menino liberta a alma da angistia que a sufoca edeixa-a voar, mais uma vez, para aque- Je paraiso de seres mutantes que se abrigam na montana lon- ‘gingua, Entao 0 céu existe, de novo. 'No Amago da condicio humilhada e ofendida, os que a partilham transmutam em fantasia compensadora as caréncias do cotidiano. © mening sonha com a serra que se confunde com © céu estrelado. A cachorra sonha com um osso grande cheio de tutano. E o narradorjé observara com todas as letras: “Es- ‘ta imagem consoladora nio a deixava”. Entretanto, logo se esvai ese efeito quase-onirico de sen- ‘ido: a fantasia padece um duro confronto com a carairreduti- vel do real. © menino nao mora naquele morro onde se tocam ‘céu ca terra; ele estd acuado a beira de uma lagoa vazia de ‘nde vé pela janela da cozinha o birote empinado de Sinha Vi {6ria. A serra fica muito longe, tanto que de li parece vir o bri tho das estrelas: ‘como era possivel haverestrelas na Terra?” —estranha 0 meaino, Basta um segundo de volta a rede interpessoal, impiedo- 3; basta um olhar para a vidraga em que se recoria 0 perfil ‘sudo da mae, eo inferno se reinventa como um lugar possvel: stniristeceu. Talvec Sinha Vtbradisesse a verdade. One Jero devia estar che de jararaca e susuaranas, a pessoas ‘que moravant Id recebiam cocorotes, puxdes de orelhas e pan ‘das com bainhas de faca. © trangado de sonho, desejo e realidade (que viria a ser ‘8 substincia de tantas histérias sertanejas de Guimaries Rose) ‘no alcanga aqui modos de sobreviver. Mesmo mudando de lv- far, o menino nfo se desvencilha da presenga da mae: “Repe- tiu que ndo havia acontecido nada e tentou pensar nas estrelas ‘que se acendiam na serra. In cstavam apagadas”. Do inferno ao céu por um atalho da cultura popular No mate, mesmo, da mesmioe, ‘sempre vam a novidac (G Bose, uae-tea) Sonhava o cego que via, ‘ugarws-oomuns pelo Uemncade Anténin Delo, en 1083) ‘A Imaginacdo consola,é bem verdade, mas brevemente, ols falaz, Para o pobre, que vive preto nas cadias da priv: 80, 3 € perigoso ouvir as palavras dos said, €tambden a ‘isa cir nas magias da supersico ow embalar-se em sonhos de um futuro salva A cenga parece viver 0 eeu na tere, tas oadulto no deve sepu-a. A educagdo seranea, tl co ‘mo Gracliano amostra em Jn/dnia¢em Vida rea, no po. de prescindr do inferno, pols € um aprendizado brutal de que {preci ene: o outro, aNatrea, 0 aco. Octane deve frmar-sc com as les da gravidade, eis de dterminasio na {ural social que cortam as asas& fantasia econsangem aca. te-a prepararse para softer o ciclo imperiovo da icaer, A cave do realism eritco de Gracilano Ramos enconra- se analsando 0 seu dstanciamento:onarrador couhees por den. tro as restigbes eos entraves da vida risticanordestin, tanto aque sabe dar as flgassmbolicas dos retranteso Seu verdad To nome de iusérias consolasdes. Um confronto com a perspectva de Guimaries Rosa que se apreende em alguns de seus contosbrves, talvez acre mez thor, pelo contrste, a medingto idcoloica de Cractiano Ramon, Einstrutivolembrar que onarrador de Primeirasetérias também configura situaoes de nosesidade, A maiora das suns ens vive entre as malhas apertadas de uma economia de sobrevivéncia. O esparo comum a essas histrias & também ‘um universo de pobreza; a figura de seres lesados, criancas doen- tes, animais indefesos, mulheres e homens loucos s6 faz levar ‘essa atmosfera até os confins da indigéncia ‘Quanto & condigao econdmica dos viventes, nfo ha, por- tanto, diferencas de peso entre o Agreste nordestino de Graci- iano ¢0 mundo mineiro de Guimaries Roca. As palsagens sorto is, mes rate sempre do context scl do vague, do ‘agregadio, do pequenositiante o mais das vezes isolado, ou ‘morador de algum vilarejo perdido, algum daqueles “omerci- ‘nhos” espalhados no meio das Gerais. Nas duas regides estd0 [presentes os tragos fundamentais da cultura ristica brasileira. ‘No é, portanto, o valor documenta, o testemunko regionals. {a, que separa Graciliano de Rosa: ambos foram observadores ‘agudos de tipos, ambientes esituagoes arcaico-populares e em ambos se colhe vasta matéria para uma reconstituigao da so- ciedade rural br Para que a interpretardo diferencial avance & preciso ca- sminhar aiéo centro vivo wus textos de um e de outro: enfren- tar o problema crucial que € a determinacto das perspectivas ‘emostrar como estas desempenham o seu papel ativo de “fo ‘mas simbélicas”, de acordo com as hipéteses fecundas que Er- win Panofsky aplicou as aries plasticas da . Graciliano Ramos, ao falar de Sagarana (lvro que cle co- ‘heceu ainda inédito), em um artigo de 1944, foi o primeiro ‘ acusar uma tendéncia forte no estilo de Guimardes Rosa; ten- déncia que, na verdade, revela meridianamente as distAncias que fstremam um narrador do outro. Dizia Graciiano: “Este do- Toroso interesse de surpreender a realidade nos mais leves por- Imenores induz o autor a certa dissipagdo naturalista"™. E pouco provavel que, 2quela altura, Graciliano estivesse Adotando, ao pé da letra, a distingao lukacsiana entre “natu- ralismo” ¢ “realismo", mas, mesmo sem conhec®-4a, a sua cr- tica passava por ela. © termo dissipagdo, que ele usa par ‘qualificar a eserita de Sagarana, tem a ver com a maneira de Ervin Panay, Le prospetine come forma sinboe alt rit ed. asco ‘Flippin, ano, Feta 1961 A eto oil le € ce 004 4 Gractan Ramos, Cone de ior, Aida Sets, 16 mao 184, Rep ‘ead em Lin ota, sn Ho144/ gs! lum prosador virtuosista que se dé de corpo e alma as sensagties do mundo ¢ as impressoes das suas criaturas. Assim fazendo, espalha-se a si mesmo pelo reino dos sercs ¢ dos signos, Perdendo-se gostosamente no miltiplo sem pretcuder alcanoor uma visada unitériae eritica do real. A exuberdncia harroca de Guimaries Rosa ¢ © seu apa- rente dispersar-se na floresta das imagens e dos sons indusem 4 suspeita de que ele teria evitado a perspectiva classica, cue ‘Edo centro e do alto as determinagSes centrais da matéria nar ada. O escrtor teria preferido por-se &escuta das vores sing lares que saem da boca dos viventes sertanejos, tomando-as Ror inspiradas, belas e verdadeiras em si mesmas, ¢ Ono Sus i, ome ssl lcs ue re Fas © vs Seo qunds’ al ek uns va eo gues be evi Do, a ‘as oem n,n sab de far, su se fr elon”, "es ‘een to, aos mio eng”, “amine, am 0", "pe ‘Sabedoria que “a sua alma era agradavel a Deus; por isso Ele © apressou a tiré-la do meio das inigidades”” (Sab. 4,14). A visto do narrador posta-se francamente no ingulo de ‘onde Ihe seja possivel caprar a passagem do estado de falta a0 de plenitude. A partir desse momento, a ordem inverte-se, a oferta do bem ¢ gratuita e dispensa até mesmo a formullacin do pedido. No episSdlo da cura de sua mae, Nhinhinha antectpa ‘se a rogos. Em “‘As margens da alegria”, esté dito: “E as coi, sas vinham docemente de repente, seguindo harmonia prévia, benfazeja, em movimentos concordantes: as satisfagBes antes dda consciéncia das necessidades”. Em ‘'Soroco” e sm ‘A menina de 4” vejo que o salto do negativo ao ser opera-se mediante o poder da voz, que nic £ apenas expresso mas também poiesis: o canto, na primeira hist6ria; a fala produtora do real, na segunda. A vor como automanifestar-se do pathos, mediagdo tao dircta e premente ‘que até suporta o paradoxo de ser chamada de imediata, Nem sempre, porém. a transigio dura apenas um diimo, Ela pode fazer-se longa, dando margem a que se constitus 6 motivo da ‘ravessia, caro a Guimardes Rosa e a toda a religio. sidade arcaico-popular. © conto “‘Seqiiéncia”, por exemplo, relata uma viagem dificultosa de acesso & felicidade. ‘Trata-se da histéria de dois viajores, mas a rota é uma sé: 4 vaca pitanga, rumo da sua queréncia; ¢ o filho do seo Rigé. tio, que a persegue. O conto avanca sob o signo do obstdcuto, A rés ¢ 0 mogo tém de dissimular um ao sutra a corrida que fazem pelo “‘empatoso" do mundo. Para a vaca vermelha tu. do so provagdes que the barram a volta & fazenda materna, Para 0 rapaz, é questao de honra vencer as manhas do animal € trazé-lo de novo aos pastos de onde fugira A analise psicoldgica, centrada nos motives, apontando 4 “saudade”” da vaquinha’e 0 “brio” do rapaz, no esgota @ iqueza da situagdo existencial que penetra a ambos. Um olhar fenomenolégico descobre o que cada um é para o outro, ¢ 0 ‘que 0 mundo é para 0s dois. © mundo ¢ 0 incomegaddo, o.em. ‘Patoso, 0 desnorte, o necessério, qualidades que incidem n0 ca Féter cstranho, dificil, exterior & alma, dos mil acidentes ¢ estorves do caminho a percorrer. No meio da travessia, pergunta-se o rapaz: Por que tinha assim tentado? Triste em torno. So as en- ‘costes euardando o florr des vores esfothadas: seu roxo-excuro Ocean teers rem sea fe feaece mi, rh ce es na ave Be ceca en cectero are pra Nec, ie ls om ates ae rn cee ie Nene, eae ee ee mi enn tere Powe erase mete one ¢ ordenado”. Quem elegeu a busca nfo pode recusar riéncia do campeador o mundo se dé como vasto, fo. soorepssnte a Sapo et concn era, se sentido (“o absurdo ar”), enfim, serid, palavra de ori- tnisieriosa que alguns queien atar a deserido. O percurso ‘moco traz em si todas as surpresas ¢ vicissitudes que des- ‘rte sugere; sabia que coisa era o tempo, ainvoluntara aven- “ura”. A viagem parece, nas voltas da travessia, um destor- Imamenio, nas acabatdimantada de sgnifcaro, quando, che tgado a0 destino, o rapaz reconhece no amor a forga que, de inkio, movi fuga. Simeneo princrociade, gue ¢ fac angi, 0 fimo, em que se leana plenitude a eomunho, exit um Inexo interno, mas secreto, de conaturalidade, Na aparéncia lum hiato vazio, porque os sujeitos do processo no o véem du- Tante a travessia. Guiado pelo instinto da vaca e pelo seu gosto lidico de campeador, o rapaz percorre um “‘eampo sem fisio- ‘omia”, exterior a0 seu sr; mas na exata medida em que o cru- 2a, cle va congustando oouzo lado do prépro destino: aque isu esd comero we refit nsoios a vaca ert, pois ela ‘‘seguia certa: por amor, nao por acaso”. (Okino episdioderfaa rot iter. Quando chega& fazenda, o perseguidor vé uma roda de quatro mogas ¢ com- Breede, num relace, que a segunda Ihe estava desde sempre Aestinada: “Aquilo mudava o acontecida. Da vaca, ele a cla sua’. Suas duas almas se transformavam? E tudo A sazdo do ser. No mundo nem ha parvoices: o mel do maravi- Thoso, vindo a tai horas, de est6rias,o ane! dos maravilhados Amavam.s. E a vace-vitia, em seus ondes, por seus pastos ‘A seaiéncia fora cega; 0 jovem, obcego (neologismo feliz gue abrevia “obeecado"); mas de onde menos se espera, dal E.aue vem. O camiaho da liberdade & heraclitianamente 0 oat Iminho da necessidade, O desnorte dé no norte. Nao porque 9 puro nio-senso seja em si racional, mas porque o mundo, {asin mundo desconhecido, é palmithado por um ser que bas. 25 da vida impelem os homens e os animais a correr por un ‘campo aleatério ¢ desalentador; nesse espaco de risco movem, ‘© tanto os retirantes de Graciliano quanto os moradores de Gu. ‘mardes Rosa. Mas 0 narrador mineiro se compraz em habiiey ‘.momento grato em que a privacdo se satisfaz e as portas do ‘Céu se entreabrem para 0 pobre, 0 doente, 0 bicho, o lows, O contador de historias quer estar junto com a mente do sera. ‘ejo na hora mesma em que a felicidade ganha um rosto, Oo. satia dizer que énesse tempo vivo, nessa passagem t20 desejada, ‘Que se constitu’ o foca narrative de suas histories Uma expressio universalizante como e tudo dsazdo do ser, ue pontua ontologicamente o encontro de rapaz com s ann {ta faz pensar que o narrador cré em uma harmonia preestabe. Ikeida. O que se chama de acaso seria apenas o véu que ocala leis maiores, providenciais. E tudo quanto aparece como le ‘lo, luz imagindria, sonho insubsistente ou intervalo fugaz da fantasia, na vida sem futuro de Fabiano ¢ dos seus, € tonnage como telos realizavel entre ox seres mais despossuldos dessa, Primeiras estérias, desde que se ponham em ago as pottacies indestrutiveis do desejo, Um derradeiro exemplo, o conto ‘“Substancia’. A hists- ta de Maria Exita carrega determinagdes pesadas de enfermi. lade, abandono, servidio. A mae fugira; 0 pai, leproso. SEchara-se no lazareto; os irmios, assassinos, largaram-se pelo sertdo. **Porque, contra a menos feliz, a morte sarapintare de Breto portas ¢ portais.” Recolhida por misericérdia a fazendia de Sionésio, deram-Ihe a tarefa mais ingrata de todas: part com a mio barras duras de polvilho, que cega os olhos do tia, balhador com seus revérberos peneirantes ;A transformacio da mandioca em polvilho ¢ a forca mo- {riz das imagens do texto: “Sim, na roga.o polvitho se fas colon alva: mais que o algodio, a garga, a roupa na corda’” ‘A pureza extrema da polpa batida esta, desde a origem, associaca & crueldade com que ofusca a joven Maria Exit & a castiga, que atormenta dat ser quaificado eealvssimo® ehorrve?, “impacive”alvart je spoliho”, Ao meso tempo, a castdade srt ia mog ¢rigorosarente manda pelo temor&lepra que tae pele coo Obra do ara nexicaveimento reaguardo eo peg. Males que escse fecha- sempre o evento rondando ss strutras By sconce que opatrao os apalzona pea ga, Maria Se slate es ors po suportar, machucados, tanto valesse olhar para 0 céu © oe ; we engin ase ee ea etna fees soueaiarselew eins Bef eae senee re iia po aie Sea es sare a alice ae olen Se ‘seira junto com Maria Exita. O branco é sempre fb sage domével, ardente, solar. Mas a conotagio de incl re feesioncins, Spi svete se serene ore saree Bie cetacmc cme cwes etek sata ae aa onde n sua causa rea, que €a paix do moo, Sito, mas cern te Betis ms! eoptaeet ae, ‘ise Stes ae Tes goatee estate ne Cupuccnte es de fazer polvilho de sol a sol. O éxtase dos amantes a TTido sob as espécies de um estado de grasa. O mesmo pol Bey Se imtnslinpins totem ne Sates echoes ace Genius tn kia stoma rons Sore ferpecs ciently meme se srlirs aire soed care paste ae ficio serve de rito propiciatério @ redengao final. Suspende-se a cadeia dos fatos ¢ dos tempos necessitios, ‘Que parecia solidssima na rotina da fazenda e da sua produgao; ‘Sionésio e Maria Exita — a meios olhos, perente o ref air, 0 todo branco. Acontecia 0 néo-fato, 0 ndo-teniys, Som, ‘io em sua imaginacdo. $6 0 um-eoutra, wm em-sjunios, 6 viver em ponto sem parar, coragomente: pensamenio, pense, ‘mor. Alvor. Avancavam, parados, dentro da lz, como se fos. (Os dbices topados pelo campeador no encalgo da rés, 01 8s lides do corpo feminino dobrado sobre o polvilho balizam ‘98 caminhos da necessidade. Tomados em si mesmos, si0 aci_ dentes estranhos & vontade do vaqueiro ou da menina sucee dda. Significam a resistencia que o mundo impoe, de fora, 40 sujeito, Chega-se a um ponto em que 0 obstdculo se torna su Berior&s foreas do homemy; entdo, até o ar parece absurdo, No tanto, aquilo que em Graciliano Ramos se firmava como um antagonismo pétreo entre o sertdo hostile o sertanejo host ‘ado, recebe das mos de Guimaraes Rosa um tratamento ani ‘mista pelo qual a prdpria fisionomia da necessidade esterior (a travessia empatosa, a ardua tarefa) vira meio de cumprit & nevessidade interior, que é 0 desejo de felicidade. Entre 0 peso da matéria, natural ou social, e a graga da comunhao enfimm alcangada, néo haveria, a bem dizer, um salto magico, mes um ‘movimento que sai das entranhas da criatura querengosa, pa evente ou compadecida: Nhinhinha, Soroco, as duas loucas, 4 vaquinha pitanga, Maria Exita. E também verdade que esse impulso para 0 Céu pode frustrar-se, o que acontece, como pio cotidiano, na obra de Graciliano Ramos, que aprendeu da sua gente antes os desen- ‘anos certos da vida que as incertas esperancas na fortuna, Perspectivas: Graciliano Ramos, do céu desejado para 0 inferno real; Guimaries Rosa, o caminho inverso, Cau inferno.

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