Este documento discute vários casos hipotéticos relacionados ao cumprimento e não cumprimento de obrigações contratuais. Fornece soluções detalhadas para cada caso, aplicando os princípios da teoria geral do cumprimento estabelecidos no Código Civil Português.
Este documento discute vários casos hipotéticos relacionados ao cumprimento e não cumprimento de obrigações contratuais. Fornece soluções detalhadas para cada caso, aplicando os princípios da teoria geral do cumprimento estabelecidos no Código Civil Português.
Este documento discute vários casos hipotéticos relacionados ao cumprimento e não cumprimento de obrigações contratuais. Fornece soluções detalhadas para cada caso, aplicando os princípios da teoria geral do cumprimento estabelecidos no Código Civil Português.
1. Abel, devedor capaz, cumpriu uma obrigao existente para com
Raul, entregando-lhe um objeto pertencente a Serafim. Quer Abel, quer Raul desconheciam que o objeto pertencia a Serafim. Pode haver impugnao do cumprimento? SOLUO: Estando Raul de boa f (ser suficiente o mero desconhecimento ou ser de valorar uma eventual culpa nesse desconhecimento?), pode haver impugnao e pedido de novo cumprimento cumulado com uma indemnizao pelos danos sofridos pelo credor (art. 765,1 do CC). J Abel, mesmo de boa f, s poder impugnar o cumprimento, tendo possibilidade de cumprir com coisa sua (n 2 do art. 765). 2. Supondo que Abel devia uma coisa fungvel, a obrigao foi, contra a sua vontade, cumprida por Csar. Poderia Raul recusar receb-la sem entrar em mora? SOLUO: Como regra, os terceiros podem cumprir obrigaes fungveis e os credores, no aceitando o cumprimento, incorrem em mora. igualmente certo que, mesmo com a oposio de Abel, Raul podia receber a prestao. Mas, no caso, como houve oposio do devedor, tambm pode recus-la sem mora, se pensarmos que Csar no um terceiro que, cumprindo, v ficar legalmente sub-rogado nos direitos de Raul (arts. 768). 3. Suponha que Raul estava ausente, tendo o objeto sido entregue a Pedro, seu vizinho. Ter Abel de cumprir novamente? SOLUO: Em princpio, Abel devia prestar ao credor capaz. Fazendo a prestao a um terceiro, o mais certo Pedro estar a receber como gestor de negcios de Raul. Para que o cumprimento seja liberatrio, , contudo, necessrio que Raul ratifique o sucedido (art. 770 b)). 4. Francisco, fabricante de sapatos na cidade do Porto, vendeu a Tom 6 pares de sapatos de homem (n 42), de um modelo especial, ficando estipulado como lugar do cumprimento do vendedor a sua fbrica. Onde deve Tom pagar o preo? No havendo estipulao, onde deveriam ser entregues os sapatos? Sendo o preo pago posteriormente entrega, pode Tom cumprir no lugar do surgimento
da obrigao? De que modo deve cumprir Francisco, caso tenha que
enviar (dvida de mero envio) para Faro 100 pares de sandlias de certo modelo? E no caso de ter que enviar, por via terrestre e para um comerciante alemo, 10.000 pares de sapatos, figurando no contrato o Incoterm 2010 EXW Ex Works? SOLUO: Como se trata de uma compra e venda, Tom deve pagar o preo no lugar da entrega dos sapatos (art. 885,1). No havendo estipulao, os sapatos deveriam ser entregues na fbrica de Francisco (como estamos perante coisas genricas limitadas, h que aplicar o art. 773, 2 e 1). Na terceira hiptese, por aplicao do n 2 do art. 885 o preo deve ser pago no lugar do domiclio que o credor tiver ao tempo do cumprimento ( partida trata-se de domiclio profissional coincidente com a sede da empresa). Francisco deve entregar os 100 pares de sapatos a um transportador, cumprindo, no lugar onde se situa a empresa de transportes, a sua obrigao de envio simples (cfr. o art. 797). Quanto ltima questo, o termo utilizado significa na fbrica, ou seja, o vendedor cumpre colocando os sapatos disposio do comprador nas suas instalaes, no tendo, at, que contratar, por conta do comprador, um transportador. O risco transfere-se ou com a entrega ou a partir do termo da data estipulada para o seu carregamento. 5. Num mesmo documento, Antnio, dono de uma loja de produtos agrcolas, vinculou-se perante Francisco ao (i) emprstimo de uma motosserra, logo que chegasse de frias, a (ii) entregar-lhe, em certa data, adubo para o seu relvado e (iii), logo que pudesse, a entregarlhe 20 bolbos de roseiras brancas. Identifique, na primeira hiptese, o momento em que se torna exigvel o cumprimento da obrigao, diga, na segunda, se foi estabelecido um prazo essencial absolutamente fixo e, na terceira, o que acontece caso Antnio falea repentinamente sem ter cumprido. SOLUO: No primeiro caso existe uma obrigao com prazo incerto. Como, em princpio, a chegada de frias do conhecimento exclusivo de Antnio, no parece necessria a interpelao por parte de Francisco. No sendo vizinhos, corresponde ao princpio da boa f que Antnio, regressando de frias, cumpra. No segundo caso, trata-se de uma obrigao com prazo certo, parecendo, pela natureza da prestao, estarmos perante um prazo essencial relativo, ou seja, Francisco poder continuar interessado em receber o adubo mesmo aps o decurso do prazo. J seria um prazo essencial absoluto se Antnio soubesse que, no entregando naquele dia, j no poderia ser feito o tratamento do relvado. No ltimo caso, estamos perante uma obrigao cum potuerit (art. 778,1), o que significa que Francisco poder exigir o cumprimento dos herdeiros de Antnio. 6. Em 1 de fevereiro de 2011, Artur emprestou gratuitamente a Jlio 1.200. Ficou acordado que o reembolso seria processado em trs prestaes anuais de 400 e que a primeira seria efetuada em 1 de
fevereiro de 2012. Para garantia do reembolso, Jlio prestou uma
garantia hipotecria. Em meados de 2011, um incndio fortuito destri praticamente o imvel hipotecado. Nessa altura, chegam ao conhecimento de Artur rumores sobre uma possvel insolvncia de Jlio. O que deve fazer Artur? SOLUO: Como a perda da garantia foi devida a razes fortuitas e no a culpa do devedor, Artur, nos termos do art. 701,1, deve pedir uma substituio da hipoteca ou o cumprimento imediato, caso o devedor no possa substituir a garantia. As notcias sobre uma possvel insolvncia de Jlio no conduzem perda do benefcio do prazo, embora possam conduzir aplicao do art. 619 (arresto). Caso Jlio no viesse a pagar a primeira prestao, poderia Artur invocar o art. 781, exigindo, por interpelao, o cumprimento dessa prestao e das duas vincendas (com juros de mora desde esse momento e em caso de no pagamento). 7. O comerciante Antnio, entre junho de 2007 e dezembro de 2008 forneceu raes para gado bovino a Berto, dono de uma explorao agrcola de subsistncia. Em janeiro de 2011, Antnio intentou uma ao de cobrana da dvida respeitante aquisio das raes. Berto invoca a prescrio, alegando o cumprimento da dvida. Quid juris? SOLUO: Ver jurisprudncia acrdo da RP, de 8-7-2010.
CASOS PARA RESOLVER EM AULA
1. Joaquim, amigo de Pedro, emprestou-lhe a ttulo gratuito a quantia de
15 000 para que Pedro resolvesse certa dificuldade financeira. Ficou combinado que Pedro pagaria quando pudesse. Entretanto, o pai de Pedro, que se inteirou da crise financeira do filho, entregou a Joaquim a quantia em dvida, tendo, todavia, Joaquim recusado receb-la por conhecer a oposio firme de Pedro a receber ajuda financeira do pai. a Classifique quanto ao tempo do cumprimento a obrigao assumida por Pedro. b Diga se a recusa de Joaquim seria legtima. 2. Anselmo, advogado, prestou servios de consulta jurdica a Bonifcio (em Janeiro e Maio de 2010). Tendo Anselmo demandado Bonifcio para pagar em Janeiro de 2013, Bonifcio alega que j pagou, mas sem exibir qualquer prova de cumprimento. Anselmo insiste que o nus da prova do cumprimento impende sobre Bonifcio. 3. Jos Alberto devia 10.000 a Csar Manuel, tendo ficado convencionado que o pagamento do emprstimo teria lugar em 1 de agosto deste ano e que, em caso de mora, o devedor teria de pagar determinados juros. Em meados de Julho, Csar Manuel causou, com imprudncia, danos a Jos Alberto, avaliados num valor idntico ao da dvida. Face ao sucedido, Jos Alberto no pagou. Contudo, em meados de Agosto, decidiu pagar o que devia, mas Csar Manuel no recebeu o dinheiro, dizendo que a dvida estava compensada. Quid iuris? 4. Suponha agora que a dvida do caso anterior estava relacionada com uma empreitada, o seu pagamento foi divido em 10 mensalidades de 1.000 e Jos Alberto s pagou as duas primeiras. O credor no sabe o que fazer. Diga qual a alternativa ao dispor de Csar Manuel. Qual o prazo de prescrio do crdito correspondente s mensalidades no cumpridas? 5. Suponha ainda que, antes do incio do pagamento, os dois contraentes combinaram por telefone substituir a dvida por um emprstimo de 8.000, pagvel em dois prazos diferentes. Quid iuris