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Por Kuniyuki,
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Capítulo I
Não existia.
Movia-se pelas estreitas ruas observando as sombras. Não possuía uma, afinal, não
possuía forma.
Observava pessoas com seus apetrechos tecnológicos. Possuídas por suas imagens,
curvas e sons. Não importava, afinal, não possuía posses. Possuído por posses? Jamais! Não
possuía nada, não era possuído por nada. Uma não existência vagando no mar de existência.
Não vêem o que não existe, não viam sua não existência.
Ria-se como uma criança do mundo. Mas que mundo era esse?! Tantos “existentes”
que levam a vida como se não existissem suas próprias existências! Inúteis! Ignóbeis!
Gargalhava silenciosamente dos nomeados existentes. Uma gargalhada que não possuía som.
Não possuía sorriso.
Capítulo II
“O que há com eles?” Perguntava-se o garoto que não existia. Observava agora
curiosamente o que faziam uns com os outros. Observava violência, mentiras, olhares, tudo. E
ficava cada vez mais intrigado com a estupidez daquela corja de idiotas. Estúpidos! Sim, nada
mais do que estúpidos! Sentia pena dos existentes. Sentia pena da existência por comportar
existentes tão tolos que pareciam sequer existir. O que era uma ofensa para um não existente
tão existente em relação aos existentes que desde que abriu os olhos via “existirem” naquele
mundo repugnante.
Uma raça social sem sua maior característica: a sociabilidade. Ria-se por dentro cada
vez mais e disparava silenciosas e disformes ofensas aos existentes.
Ouvia os sons insanos desferidos por eles e por seus apetrechos. Uma festa sonora
intensa para alguém que estava descobrindo um novo mundo, por mais que o desprezasse.
Cada metro percorrido era mais um brinquedo em seu parque de diversões urbano,
em seu zoológico humano. Observava uns estampados junto a números em papéis distribuídos
pelas ruas e outros discursando em tom de promessa. Ria-se da mentira imperceptível aos
tolos e de sua estupidez e falta de sustentabilidade.
Orgulhava-se cada vez mais por não ser parte daqueles inúteis fúteis. Idolatravam
coisas, ilusões e outros como se fossem superiores a tudo. Não entendia tamanha ignorância;
Não. Não via porque deseja ser parte daquilo tudo. Era o que menos desejava!
Capítulo III
Perguntava-se o que ainda faltava para ver naquele mundo.
E havia começado a pensar: “Se o destino dos existentes após a morte é a não-
existência, seria meu destino a existência? Teria eu já existido?”
Então, viu uma luz. Um brilho. Um olhar. Pela primeira vez, um olhar. Encarava o
pedaço de nada onde o garoto que não existia se encontrava como se pudesse ver. E ele a
encarava como se pudesse ser visto.
Que olhos eram aqueles que refletiam a alma da existência e da não existência em
uma harmonia profunda?
Capítulo IV
Então, se deu conta de sua solidão. Havia passado tempos rindo da estupidez
humana, mas nunca havia percebido sua própria ausência de significado. Por que
estava ali? Por que estava sozinho?
“Por que aqueles olhos haviam me tocado? Por que aquela alma havia me
mudado?” Pensava consigo mesmo.
Não sabia o que estava sentindo. Não sabia o que estava acontecendo. Não
sabia quem era. Não possuía nome.
A solidão tomava conta se seu não existente peito, de sua não existente alma.
De sua não existente consciência. Uma consciência que não possuía consciência. Não
era nada. Não era tudo. Não existia. Nada possuía. Uma incógnita para o mundo. Uma
incógnita para si. Uma luz. Uma sombra. Um nada. Tudo? Jamais. Nada.
Sentia dor. A única que podia sentir. Apenas ele podia sentir. Ninguém mais.
Nunca mais. Ouvia sussurros em sua não existente realidade. Ouvia vozes em sua
inexistente alma.
Observava cada vez mais a criatura. Pequena. Olhar puro. Diferente. Frágil mas
forte. Sentido. Motivo.
Destino.
Não.
Deseja um destino.
Almejava sorte.
Procurava morte.
Capítulo V
Nunca.
Nada.
Jamais.
Aqueles olhos,
Aqueles sonhos,
Aquela alma,
Aquele sorriso,
Nunca.
Jamais.
Nunca esqueceria.
Nunca abandonaria.
Apenas algo.
Apenas o desconhecido.
Apenas vida.
Apenas tudo.
Apenas nada.
Apenas...
Apenas...
Capítulo VI
Apenas observava. Nada mais podia fazer. Nada mais poderia querer.
Apenas observava.
Agora, nada.
Um corpo? Posses?
Daria tudo para desvendar o mistério daqueles olhos. Daria tudo pra
desvendar seu próprio mistério.
Levantou seu olhar aos céus. Viu nuvens. Viu o azul infinito. Viu a si mesmo.
Solitário, sem forma. Uma nuvem despercebida. Sentia-se estúpido. Tão pouco para
trazer sofrimento. A verdade é que nunca experimentara o sofrimento. Nunca
experimentara nada. Apenas a si mesmo.
Aquele dia, a pura garota chorou. Uma única lágrima. Uma lágrima fria,
dolorosa que secou em seu rosto com seu próprio calor.
A existência do amor.
A existência da dor.
Ao amor se fundiu.
E, suas últimas palavras, tomado pelo amor foram gravadas pelo frio da
lágrima escorrida pelo rosto de sua “amada”.
“O que faz alguém existir? Não tenho nome. Não tenho descrição. Apenas é.
Apenas foi. Apenas será. Apenas nisso irei me transformar. Agora, afinal, ironicamente,
mais do que nunca, mais do que muitos, eu existo.”
Escrito por Kuniyuki
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Tão breve quanto começou, assim termina a breve saga do garoto que não
existia. Tão turbulenta quanto a própria inexistência, tão simples quanto o próprio
nada. Assim acaba, rapidamente, de forma simples, a história do garoto que não
existia. Uma história que fugiu do padrão de minha primeira e que buscou acima de
tudo a simplicidade e curta duração. Provavelmente, esse final deixará um gostinho de
"que bela porcaria", mas, desde o começo, foi essa minha atenção... Afinal, a não
existência real e a inexistência abstrata de muitos, o que é, senão uma "bela porcaria?"
Obrigado por tudo e até a próxima!