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ANATRELLA, Tony, Vie psychique et vie spirituelle: une distinction nécessaire pour mieux
unir, em DUMONT, Jean-Noël (org), Vie spirituelle et psychologie, colloque interdisciplinaire,
Lyon, Le Collège Supérieur, 2003
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Ibid., p. 73. A tradução é nossa.
A vida espiritual do crente é o espaço onde se desenvolve a vida
sobrenatural em resposta ao chamado evangélico e ao dom da graça. É assim
a expressão da presença de Deus no homem a partir dos objetos da fé e da
operacionalização dos valores evangélicos na realidade do mundo. Ela se
expressa a partir de formas de espiritualidade diferentes, mas não poderia ser
confundida com a vida da inteligência. O homem realiza-se abrindo-se para a
vida de Deus. A graça sustenta a vida espiritual e permite seu
desenvolvimento. A vida espiritual envolve e inspira a pessoa, no seu ser e nas
suas condutas: é portanto fonte de libertação e favorece o amadurecimento de
cada um. No diálogo interior com Deus, é possível de trabalhar na reflexão e na
oração para remanejar as representações de si mesmo e de Deus.
Privilegiando somente o aspecto psíquico, corre se o risco de chegar
a uma redução do sujeito unicamente às próprias percepções mentais. Assim,
a verdade subjetiva, mais precisamente o que o sujeito ressente, assume maior
importância do que as verdades objetivas, quer dizer realidades e dimensões
que não dependem do sujeito. O sujeito tornando-se rei, objeto e fim de tudo, e
desligado de sua dimensão comunitária e espiritual, acha mais facilmente no
discurso psicológico como explicar suas condutas e seus tormentos,
negligenciando de interrogar-se sobre si mesmo e de avaliar moralmente seus
atos. O psicologismo exagerado pode criar uma “espiritualidade leiga” fundada
na busca da confiança em si. O bem estar acaba substituindo a felicidade.
Se a vida espiritual interage evidentemente com a vida psíquica, ela
não é redutível a essa última. Ela acrescenta uma dimensão a partir da qual o
individuo vai viver e elaborar sua existência. Isso implica uma relação pessoal
com Deus e uma inteligência da fé, quer dizer do seu conteúdo racional.
Traduz-se por ritos e uma moral para orientar os próprios atos. A experiência
cristã vai oferecer um sistema simbólico a partir do qual a vida psíquica poderá
operacionalizar-se através e além das tarefas internas. Isso não significa
querer evangelizar o inconsciente que constitui um dado de base da vida
psíquica e que não é modificável. A estrutura que favorece a unidade da
personalidade corresponde ao Eu do sujeito. É ele que precisará trabalhar em
cima do controle e da expressão, entre outras coisas, da sua vida pulsional. Se
o inconsciente estiver na base da economia da vida psíquica, cabe ao Eu de
integrar suas várias manifestações.