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CRITIQUE DE LA PENSÉE

SACRIFICIELLE

Bernard Lempert
MASSACRE E SACRIFÍCIO

• Massacres consensuais desenvolvem-se na sombra de uma


declaração geral de culpabilidade.
• Em nome de uma pretensa criminalidade potencial, assassina-se o
inocente
• Este inocente foi tratado intelectualmente e semanticamente como
portador de assassinato futuro
• Assim legitima-se uma violência que se apresenta como preventiva.
• Estes componentes encontram-se na violência sacrifical.
LÓGICA AMARGA DO SACRIFÍCIO

• Se a desumanidade divide-se entre o palco e a arquibancada, é


porque atores e espectadores possuem referências comuns.
• Estas referências têm a ver com o pensamento sacrifical.
• A diferença entre atores e espectadores:
– Os atores reivindicam o que fazem
– Os espectadores não querem reconhecer que sua presença é uma
forma de participação: permitindo o que eles condenam, poderiam
aparecer como os patrocinadores implícitos que teriam contratado, para
suas obras, a mais brutal das terceirizações.
SACRIFÍCIO E SIMBOLIZAÇÃO

• Todas as culturas perguntam: é possível realizar o sacrifício sem


sacrificar alguém? A fronteira encontra-se entre a representação
materializada que inclui a destruição de um corpo e o processo de
simbolização que permite uma superação radical do rito.
• A história mostra que o sacrifício embora tendo desenvolvido um
discurso metafísico conserva a cumplicidade com o jogo político e
talvez mascare uma poderosa tentativa de dominação.
• Existe uma também fronteira entre a representação materializada e
os processos de simbolização, quer dizer entre o sacrifício humano
efetivo e os processos de substituição simbólica que permitem não
destruir uma vida humana e abrem um novo espaço de
interioridade.
• Saindo de uma concepção do conhecimento segundo a qual a
observação não presta contas ao engajamento, a análise dos
sistemas de dominação só tem sentido se ela gera uma dinâmica
de contestação.
TEZCATLIPOCA

• Na cultura azteca, o jovem que sobe as escadas, sem escolta e


quebrando uma flauta a cada degrau, é o deus Tezcatlipoca; trata-
se de um auto-sacrifício divino porque o jovem não representa a
divindade: é a divindade.
• Arranca-se o coração de Tezcatlipoca porque ele o doa, como faz
todos os anos reatualizando o sacrifício primordial do qual o mito
faz memória.
• O sacrifício marca o apogeu de todo um trabalho semântico: há um
ano, o jovem, escolhido de preferência entre os prisioneiros de
guerra, é declarado não ser mais ele mesmo mas deus e é tratado
como tal.
• Não importa o que ele pensa mas como ele coopera segundo as
aparências tornando-se a nova identidade que ele foi convencido a
assumir: não se trata de representar um papel. Aliás ele sobe
sozinho as escadas!
• O ritual acaba sendo sua própria testemunha: confirma que o mito
tinha razão!
NA GRÉCIA ANTIGA
• O animal escolhido como vítima é conduzido para o altar; com água
esguichada e uma chuva de grãos ele mexe a cabeça de esquerda
para a direita, sinal de consentimento.
• O sacrifício diz que o boi concorda e que a vítima não vê nenhum
inconveniente a ser destruída: os sacrificadores podem imolá-la
tranqüilamente. Não têm nada a temer e não são culpados.
• O consentimento do animal dá para eles o suplemento de inocência
de que eles poderiam precisar. Proclama a vitória do rito e valida o
mito de origem. Este consentimento é a pedra angular da cerimonia.
• Não existe um gesto que não seja controlado pelo pensamento; não
existe uma palavra ritual que não seja sustentada por uma visão do
mundo. No decorrer de sua realização, o sacrifício desenvolve uma
teoria.
• A destruição que ele pratica, ele a teoriza para melhor inocentá-la.
O SACRIFÍCIO MESTRE DO DISCURSO
• O sacrifício é o elemento pelo qual o poder do discurso impõe à realidade
de dobrar-se a todas suas exigências.
• O sacrifício é meio usado pelo pensamento para estabelecer com a
realidade uma relação de dominação.
• Além do que ela figura explicitamente, a vítima é construída como uma
metáfora do conjunto da realidade.
• A dominação física que o sacrifício organiza sobre a vítima figura a
dominação ideológica que o pensamento sacrifical desenvolve sobre a
totalidade da assistência.
• O consentimento da vítima ocupa um lugar de destaque, pedra angular do
consenso que é a condição fundamental do poder ideológico do sacrifício.
• A palavra foi confiscada da vítima azteca: o mestre do discurso é
reconhecido pela sua vontade implacável de permanecer o único dono da
situação.
• A marca do pensamento sacrifical é apresentar sua coerência interna como
substituindo a consistência orgânica do ser vivo. Esta é a violência da
ideologia: pretender-se mais viva do que a própria vida.
A VÍTIMA...
• A destruição ritual equivale a uma fundação.
• A palavra que acompanha o processo não só justifica como produz
sentido: recompõe em tempo real um outro corpo pelo corpo teórico
do discurso.
• A vítima do sacrifício, as vezes, grita! Este grito é a expressão da
consistência orgânica que é rasgada. É a marca da recusa da
coerência retórica cuja violência ele denuncia.
• A harmonia do canto ou do discurso mantém a declaração segundo
a qual o mundo é colocado em ordem pelo rito que assegura sua
perenidade. O grito é um acidente de percurso que marca ao
máximo uma falta de preparo da vítima.
• A destruição ritualista considera como repreensível toda tentativa de
desestabilização por se tomar em consideração o sofrimento.
• Adormecer o sofrimento para manter a ilusão do consenso pode ser
o papel das drogas usadas para adormecer as vítimas.
O SACRIFICADOR

• Sua mão não treme: o preparo ideológico eliminou todo risco de


interferência emocional.
• O sacrificador permanece concentrado sobre os significados, os
raciocínios e as articulações retóricas.
• Sua mão acompanha o discurso e não deixa que outro conjunto de
referências atrapalhe.
• O sofrimento da vítima não lhe diz nada: algo foi destruído dentro
dele, em nome de um discurso sobre o mundo, para que ele possa
destruir o corpo de outra pessoa em nome do mesmo discurso.
• A ausência de tremedeira provém da destruição prévia de seu
próprio corpo emocional e esta mutilação interna projeta-se na
própria vítima.
• A reificação do corpo da vítima parece ser a conseqüência do
trabalho que a ideologia realizou, produzindo indiferença em
relação ao sofrimento humano.
O BODE EXPIATÓRIO: 3 ETAPAS

• Transferência do mal: instrumentalização. Por procedimentos de


cunho mágico, transfere-se uma patologia que afeta a comunidade
para um corpo estranho ou designado como tal, que se matava ou
expulsava.
• Transferência da culpa: papel a ser desempenhado. Se expulsava
a pessoa que se tinha designado como carregando a culpa. Um
progresso aconteceu: depois de um certo tempo, ele podia voltar.
Um ulterior desenvolvimento levou a passar do rito para o teatro.
• Transferência da culpabilidade: destruição do outro enquanto
outro e diferente. Ataca a natureza do outro. A violência de novo
está presente porque precisa destruir o culpado: não existe
substituição. A tendência é que a violência se especialize em
massacres em grande escala. Assim como o sacrifício tradicional
construía a vítima utilizada, assim a prática dos massacres constrói-
se sobre uma prévia construção ideológica.

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