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A consciência científica e a consciência histórica são recursos cada vez
mais complexos.
• Consciência e descendência : ter um lar é um espaço interior no mundo, um
centro organizador do mundo como mundo econômico sem perder-se no
mundo. O lar é a orientação da economia. A auto-asseguração econômica
está ligada à auto-asseguração na intimidade. A consciência apoiada e
estimulada por esta condição familiar e de descendência pode iluminar
economicamente para a extensão da interioridade e da subjetividade além
da morte.
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• Consciência para a ação e a propriedade : a consciência na pro-tensão do
projeto econômico, transforma o corpo de hipóstase fruitiva e acolhedora em
hipóstase ativa, atuante, “corpo adverbial”, modalização da ação, do verbo.
Finalmente, a glória da ação e da transformação é a “habitação”. Habitar, de
habere, é ter. Afirmar-se ativamente como ser é possível sobre o ter, sobre
a manipulação até a apropriação. O fascínio da riqueza, da posse, da
propriedade, éo fascínio de ser, vontade e volúpia de ser transformado em
volúpia de ter. A consciência que surge economicamente está assentada
sobre a inocência ou ingenuidade da apropriação. Se outra luz não surgir,
esta consciência persevera como companheira da apropriação sem
perguntas e sem justificativas que ultrapassem o projeto econômico. Pode
ser ainda pré-moral mas pode tornar-se imoral e assassina. A economia
pode perseverar como “egonomia”.
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do raio de sua intencionalidade. A realidade entrega à consciência torna-se
dado ; compreender é fruto da manipulação da visão. A intencionalidade é
constitutiva. Um instrumento necessário para o império do saber é a
representação que é nada em si-mesma (como o dinheiro) mas é capaz de
conter tudo o que é. Saber e riqueza se confundem. A consciência
intencional - crítica, teórica - pode ser uma consciência econômica,
capitalista, que busca sua libertação e identidade às expensas de toda
alteridade.
• A ânsia de identidade na consciência crítica : gozar, habitar, ter, saber e
poder: esses são os verbos da ontologia no círculo da identidade. São
relações “analógicas” de transcendência que não transcendem os
tentáculos da identificação.
• A esquizofrenia interna da consciência crítica e autocrítica : a consciência
crítica surge na desconfiança de si, é também desconfiança da própria
consciência, do próprio saber e não só da própria prática. Além de doadora
de sentido - da luz -, ela se torna também um dado ao sentido - à luz. A
condição desta novidade é a reflexão da consciência sobre si e não só
sobre atos e fatos. A consciência pode se ver como objeto de si. A
consciência é ingênua quando não se dá conta de suas intencionalidades
nem sempre explícitas e claras, anteriores à consciência crítica.
• A tentação do endeusamento pela consciência : Eu como origem e princípio
é também universal, subjetividade que contém todo o real. É o único
indubitável, único “certo” porque no silêncio do mundo e da alteridade
responde a si-mesmo. O eu puro é ideal em duplo sentido (interioridade e
finalidade) mas pretende ser real também em duplo sentido : único e tudo.
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3. A linguagem, o tempo : o desenrolar-se da ontologia até a
claustração de toda palavra na estrutura linguística do “dizer”
absorvido num “dito” acabado retira da consciência toda originalidade
para interpretar a palavra como recitação.
Loucura, neste caso, é total lucidez : a consciência está sobrecarregada de
ser, totalmente presente e desperta, vigiando sem parar, mas vigiando
nenhum objeto.
• A consciência entre ser e evadir-se : A identidade não é uma inofensiva
relação consigo mas o acorrentamento a si, é necessidade de se ocupar de
si. Algumas evasões são possíveis como a des-solidificação do prazer que
liquidifica a solidez da hipóstase endurecida no presente. A última evasão
possível é a suspendão da consciência no sono. Mas o sono, quando não é
restauração do justo que trabalhou, termina no meio da tempestade de
Jonas, e no dever de se reassumir no ponto mesmo em que se suspendeu a
luta.
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A BONDADE E A RESPONSABILIDADE DA CONSCIÊNCIA
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da humildade, súplica de justiça e oferta de paz. O sujeito da consciência
envergonhada é o outro. É vergonha como categoria revolucionária. É
sintoma da presença da alteridade. A consciência de si se surpreende
inevitavelmente no seio de uma consciência moral. Esta não se ajunta
àquela, mas é seu modo elementar. A consciência moral é uma “re-posição”
da consciência no seu “justo” lugar. A consciência moral não é identificação
en fundamentação, é uma relação criatural entre separados e ab-solutos : o
ab-soluto da interioridade e o ab-soluto da alteridade.
• O desejo do outro antes da consciência : na origem da relação ao outro não
está a consciência, nem moral. Está a inocência e a inquietude exilante do
desejo do outro, mais sensibilidade e vulnerabilidade do que consciência.
Este é o momento positivo da ruptura e da conversão ao outro, que não
deixa o questionamento se encerrar negativamente no círculo da identidade.
O sujeito do desejo é o outro. Mesmo na autosatisfação da riqueza e do
saber, o desejo é promessa e segredo diante do qual a abundância é
miséria e o saber é ignorância. O outro nãopromete satisfação, mas expõe-
se, toca e fala como promessa de bondade. Ser bom, maravilha que
transcende ser rico, ser culto, ser feliz. É aspiração pura e gratuita. A
bondade não se dá à consciência se não como “dever” para com o outro.
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e no discurso ao outro que toda pergunta é sensata e todo desvelamento
tem um sentido, uma orientação na relação. O mundo se conserva na
objetividade com dom que se recebe e que se doa. A luz da razão é lucidez
iluminada pela luz que brilha na palavra do outro. O fundamento da razão
como da verdade é a bondade.
• Razão, liberdade e bondade são unção da bondade. A bondade é
ainvestitura do ser que, sem bondade, se dobraria em egoísmo : “a bondade
consiste em se pôr no ser de tal modo que o outro conte com isso mais do
que eu”. A consciência é a luz que pervade a vontade, a liberdade e a razão
iluminando-as e sustentando-as para o serviço, protegendo-as de si
mesmas.