Vous êtes sur la page 1sur 17
Revista BrasiLeina DE ANALISE D0 COMPORTAMENTC / BRAZILIAN JOURNAL OF BeHavion ANALYSIS, 2005, VOL I N*. 2, 149-165 A ANALISE DE FENOMENOS SOCIAIS: ESBOGANDO UMA PROPOSTA PARA A IDENTIFICAGAO DE CONTINGENCIAS ENTRELAGADAS E METACONTIGENCIAS ¢ ANALYSIS OF SOCIAL PHENOMENA: IDENTIFYING INTERLOCKING CONTINGENCIES AND METACONTINGENCIES Maria AMALIA PIE ABI3 ANDERY* Niza MICHELETTO ‘TerEZA MARIA Dz AZEVEDO Pirgs SéR107 PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATGLICA DE SAO PAULO, BRASIL RESUMO Discuce-se neste artigo alguns dos aspectos que devem ser considerades para que a anilise do comportamento possa efetivamente assumir o estudo de fendmenas sociais como parte de seu objeto de estuda. Duas posstveis Unidades de antlise — contingtncias enteclagadas ¢ metacontingéncias - envolvidas no estudo estes fendmenos s80 aprescntadas. Sio também apresentadas as caracteristicas especiais dos fendmenos sociais destacando-se: (a) aquelas gue constituem 9 ambiente social, sefa como estimulos antccedentes, seja como canseqiiencias, (b) as elemcatos constitutivos das contingéncias entrelagadas e (c) 0 comportamento verbal relacionado a tais contingéncias. Finalmente, sio abordadas diferentes alternativas metodoldgicas para 0 extudo dos fendmenos sociais, Patrumas-chave: fendmeno social, cultura, prética cultural, comportamento social, contingéncias entrelagadas, metacontingéncias. ABSTRACT This paper discusses some aspects which should be taken into account in the study of socia! phenomena from a behavior analytic perspective. Two units of analysis which might be involved in social phenomena — interlocking contingencies of reinforcement and metacontingencies - are described. The special features of social phenomena are also described and discussed, with an emphasis on: (a) che social environment as antecedent stimuli and as consequences; (b) che elements which constitute interlocking contingencies; and (c) the verbal bchavior involved in such interlocking contingencies of reinforcement. Distinct methodological alternatives which mighcbe appropriate forthe study of social phenomena ftom 2 behavioral analytic petspecie ate aio britly described. Rey words: social phenomena, interlocking contingencies, metacontingency, social behavior, cultural practice, Uma simples consulta a dois dos primei- qualquer diivida sobre a incluséo de fendme- ros livros sobre conceitos bésicosem andlisedo nos sociais entre os fendmenos que sia vistos comportamento (Keller & Schoenfeld, 1950, come legitimos objetos de estudo da anilise ¢ Skinner, 1953) seria suficiente para eliminar do comporramento. Entretanto, se isto nio 1 Correspondéncis pars Masia Amalia Pic Abit Andry, Rua Aaa Alvet de Lima Neto, 15 CEP 04981-060, Sio fuula, SP FAX: 3670-8386, snmaerprep br 2 Bolsisa CNPq processo n0, 30503022002.7 3 Bolsisa CNPq pracesso n0, 305032/2002-0 149 IDENTIFICAGAO DE CONTINGENCIAS fosse suficiente, hd uma afirmagio de Skinner (1953) bastante contundente sobre esta inchi- sao: “Propor uma mudanga em uma prética cultural, fazer tal mudanca e aceité-la sio par- tes de nosso objeco de estudo” (p.427). Na verdade, a preocupagio dos analistas do comportamento com 0 estudo de fenéme- nos sociais nao s6 nao ¢ uma novidade (ver, por exemplo, Ulrich, Stachnik & Mabry, 1966, Burguess ¢ Bushell, 1969, € Kunkel, 1970), ela vem se expandindo de forma que jé estabe- lecemos, hoje, uma literacura de referencia so- bre diferentes aspectos envolvidos na andlise de tais fendmenos (por exemplo, Ishaq, 1991s Lamal, 1991, 1997; Guerin, 19945 Mattaini & Thyer, 1996). O PROBLEMA DA UNIDADE DE ANALISE Entretanto, 0 reconhecimento dos fe- némenos sociais como objeto de estudo da andlise do comportamento nao é suficiente para que cais fendmenos sejam adequadarmen- te abordados dentro desta perspectiva. ‘Te- remos de enfrentar (colocar e resolver) um conjunto de problemas para que possamos efetivamente fazer com que a anilise do com- portamento possa contribuir para a compre- ensio dos fendmenos sociais. Um problema do qual, com certeza, nio poderemos fugir é © que se relaciona com a delimitagao da uni- dade de andlise com a qual devemos traba- thar ao tratar de fendmenos sociais, O pro- blema da unidade de andlise poderia ser as- sim formulado: a mesma unidade de anilise que tem sido utilizada para a descrigio de comportamentos operantes — a triplice con- cingéncia - deve ser mantida quando se trata do estudo de fendmenos sociais? ENTRELAGADAS E METACONTIGENCIAS O problema da unidade de anilise se co- loca aqui porque a expressao ‘fendmeno soci- al’ €um rétulo aplicado a um enorme nuime- ro de fendmenos que abarcam desde aquilo que tem sido chamado de ‘comportamento social’ até aquilo que tem sido chamado de ‘prdtica culcural’, Comportamento social foi definide por Skinner, j4 em 1953, como “o comportamento de duas ou mais pessoas, uma em relagio 4 ou- tra ou, [dessas pessoas] em conjunto, em rela go a. um ambiente comum” (p. 297). Pierce (1991), comentando esta definicao, apresenta dois exemplos que ilustram a abrangéncia dos comportamentos que seriam chamados de com- portamento social: “comportamento sexual & social porque os parceiros respondem ‘um em relacao ao outro’ e cooperagio é social porque duas ou mais pessoas precisam coordenar suas respostas em relagdo a um ‘ambiente comum’ “(p.14), Como destaca Guerin (1994), po- demos falar em comportamento social quando uma outra pessoa estiver envolvida em qual- quer um dos erés elementos de uma contin- géncia de reforgamento {estimulos anteceden- tes, respostas, ou estimulos subseqiientes) ou, como ele prefere, quando estivermos diante de contingéncias com “propriedades sociais”, ou seja, diante de “quaisquer contingéncias em que uma outra pessoa estiver envolvida, seja como um estimule contextual, como um determinance de conseqiiéncias, ou como par- te do préprio comportamento (do grupo)” (p.79). Jéuma prdtica cultural “envolve a repeti- ao de comportamento operante andlogo entre individuos de uma dada geragio € entre gera- bes de individuos” (Glenn, 1991, p.60); as- 150 M.A.P.A. ANDERY ET AL. sim, “quando relagées comportamentais que definem parte do contetido do repertério de um organismo sio replicadas nos repectérios de outras pessoas, em um sistema sociocultural, ©. comportamento replicado é chamado de uma pratica cultural.” (Glenn & Malagodi, 1991, p5). Tal como no caso de comportamento so- cial, a expressio ‘pratica cultural’ também j4 é encontrada em Ciéncia ¢ Comportamento Hue mano (1953, por exemplo, pp. 418, 419, 424, 425), quando Skinner introduz em sua andlise os aspectos culturais; em especial quando ele aborda tépicos que mais tarde (1981) sero parte integrante do modelo causal de selesio porconseqiiéncias: Virnos que, em certosaspectos, oreforcamento operante se assemelha i selegio natural da teoria da evolugio, Assim como caracterfsticas genéti- eas que surgem como mutagbes séo selecionadas ou descartadas por suas conseqiiéncias, também rnovas formas de comportamento sio selecionadas ou descartadas pelo reforgamento. Hé, ainda, um cerceita tipo de selec que se aplica 8s prai- casculturais, Um grupo adota uma dada priti- ca—um costume, um uso, um mecanismo de controle— soja plangjadamente ou por meio de algum evento que, no que diz respeito a seu efei- to sobre o grupo, pade ser completamente aci- dental. Como earacceristica do ambiente social, esta priica modifica o comportamento dos mem= bros do grupo. (p.430) © que chama a atencSo, no trecho cita- do, é que, quando falamos em préticas cultu- rais, as conseqiiéncias agem sobre o grupo ¢ no mais, como no caso da selegéo de compor- tamentos operantes, sobre 0 operante; em ou- tras palavras, no estamos mais lidando com as celagdes selecionadoras entre resposta suas con- seqiigncias, mas sim estamos lidando com “o eleito sobre o grupo”, efeito este produzido pelo conjunto de comportamentos dos membros do grupo. Este aspecto ¢ destacado por Skinner quando ele mais formalmente apresenta o mo- delo de selegio por conseqiiéncias; segundo Skinner (1981), o proceso que descreve a evo- lusio de culturas ‘omega, presumivelmente, no nivel do indivi duo. Uma mancira melhor de fazer uma ferra- menta, cultivar um alimento, ou ensinar uma ‘crianga é reforgada por sua conseqiéncia —res- pectivamente, a ferramenta, o alimento, ou 0 aprendiz acl. Uma culcura evolui quando pri- ticas que se originam desta maneira concribuem para osucesso do grupo praticante na solugao de seus problemas. Eo feito sobre o grupo, nio as cias teforcadoras para os membros in- dividuais, que € responsével pela evolugio da cultura. (p.502) conseqti Este aspecto rambém tem sido destacado por analistas do comportamento que vém se dedicando ao estudo deste terceiro nivel de se~ legio do comportamento. Glenn ¢ Malagodi (1991), por exemplo, afiemam que: ‘Uma consegiiéncia comportamental écontingen- se datividadede um organismo singular eselecio- nao comportamento daquele individuo apenas. ‘Um produto cultural éuma mudanga no ambi- ente que resulta do comportamenco-agregado nas continggneiascomportamentaisentrelagadas... As mudangas roambiente produzidas pelo compor- tamento agregado .. podem, entio, Funcionat (seja imediatamente, seja mais tarde, seja de maneira sgtadual) para fortaleocr ou enfraquecer as contin- géncias enteclagidas. (p-9} Parece, assim, que estamos, no caso das préticas culturais, diante de um fenémeno que 151 WDENTIFICAGAO DE CONTINGENCIAS ENTRELAGADAS E METACONTIGENCIAS tem sua origem ne comportamento individu- al, mas que, ao ganhar sua particularidade, nao mais pode ser descrito no ambito de sua oti- gem. Como afirmam Glenn e Malagodi (1991) fendmenos culturais s80 construtdos por fend- menos comportamentais, 0 que nao quer dizer que possam ser reduzidos aos fenémenos comportamentais (assim como fendmenos comporiamentais nfo podem ser reduzidos a eventos fisicoguimicos). (p. 6) E exatamente a possibilidade da configu- tagao de um fenémeno que nio se limita as contingéncias que descrevem comportamentos operantes (quaisquer que sejam eles) de um individuo que coloca o probléma da unidade de andlis aparentemente, quando lidamos com praticas culturais, a contingéncia de reforgamento nao permite mais a descrigao de todas as possiveis relagées envolvidas, jd que as relagGes que descrevem o efeito sobre o grupo no estéo af contidas. Este problema se coloca quando estamos diante de préticas culturais com um determinado nével de complexidade, ou seja, se estivermos diante de uma pratica cultural que produz um produto agregado. Mais uma vez recorrendo a Glenn (1988, 1991), talvez possamos imaginar praticas cul- tursis de diferentes niveis de complexidade, desde prdticas que envolveriam a simples imi- taco (¢, que, portanto, poderiam ser descritas apenas com o conceito de comportamento so- cial) até as envolvidas, por exemplo, na organi- zagio do trabalho (e que s6 seriam compleca- mente descritas se pudéssemos identificar os produtos agregados por elas produzidos). Como sugere Glenn (1991), “a diferenga cviti- ca entre as protoculturas humanas de outros primatas ¢ as culturas humanas parece ser a complexidade das relagées comportamentais entrelagadas nas cultutas humnanas” (p.60). [sto sugete que a descrigao de fendmenos sociais pode envolver diferentes unidades de andlise. Contingéncias entrelagadas como unidade de andlise Quando tratamos de comportamento so- cial, 0 recurso & continggncia de reforgamento como unidade de andlise continua sendo pos- sivel ¢, talvez, heurfstico, desde que se consi- dere a necessidade de descrevermos, pelo me- nos, duas contingéncias, pois, ao lidarmos com comportamento social, estamos j4 lidando com a interagao de, no minimo, duas continggnci- as, Em outras palavras, 0 comportamento so- cial envolve o que chamamos de contingéncias entrelagadas (interlocking contingencies) (Skinner, 1953, Glenn, 1991, Glenn & Malagodi, 1991). Segundo Glenn (1991): ‘Os mesmos processos comportamentais que le- vam a tantos universas comportamentais quantos sfo 0s individuos que se comportam, também resulcam em vastas redes de inter-relagdes entre 08 repertérios comportamentais deindividuos humanos. Estes so 0s clementos de unidades culturais. Eles foram rotulados de ‘contingénei- as entrelagadas’ para chamar a atengio para o duplo papel que © comportamento de cada pes- soa desempenha nos processos sociais 0 papel de agio eo papel deambiente camportamental paraa ago de outros. (p. 56) A Figura | é uma tentativa de represen- tar as conringéncias entrelagadas que devem estar envolvidas na imitac&o, quando as respos- tas de um individuo (A € B) evocam respostas em outro individuo (B eC}, ocupando o lugar de estimulos antecedentes nas contingéncias que descrevem o comportamento de Be C. Os comportamentos de B e de C podem ser classi- ficados como compattamentos socials 152 M A PA. ANDERY ET AL, Figura Un epresemagio de omtngincns enucigclas qu descnser initeae Na Figura 1, supusemos que 0 fato das respostas de um individuo evocarem respostas em outro revelariam uma fungi discriminativa do estimulo. E importante notar, como sali- enta Michael (1980), que sé podemos fazer esta suposigao se, entre outras coisas, houver uma hist6ria de reforcamento diferencial na qua! as respostas de B eC, diante dos estimulos ante- cedentes (que, neste caso, so as respostas de A ¢B, respectivamente), tenham sido reforgadas, enquanto que as mesmas respostas nfo foram reforgadas em outtas situages de estimulo. (Este comentirio vale pata as figuras que se se- guem). Podemos imaginar outras possibilidades de entcelagamento de continggncias. Podemos, por exemplo, imaginar uma situagdo na qual “cada indivicluo tem algo a oferecer de maneira a reforgar 0 outro ¢, uma ver estabelecido, interedmbio, se mantém? (Skinner, 1953, p-310). Podemos ressakar que, neste exem- plo, o entrelagamento das contingéncias ocor- re de forma tal que ele mesmo se reproduz. A Figura 2 € uma tentativa de representar estas contingéncias entrelagadas. Podemos ainda imaginar um exemplo de contingéncias entrelagadas no qual Figura 2. Uma soprevncagie de contiagénciaseatrlacadas que desereverm uma sircaste de roca secfptoce ‘grupo pode manipular varisveis especiais para manter tendéncias para que os individuos se comportem de manciras que resultem no reforgamento de outtos. (...) Muitosimportan- tes sistemas cntrclagados de comportamnentto so- cial néo poderiam se manter sem estas préticas convencionais” (Skinner, 1953, p-310). A Figura 3 é uma tentativa de ilustrar tais entrelagamentos de contingéncias. Diferencemente do que ocorre nos dois primeiros casos, neste caso as contingéncias enttelagadas s40 mantidas porque outras con- tingéncias em vigor fornecem suporte pata 0 entrelagamento das contingéncias por meio da manutengdo do comportamento de pelo me- nos alguns dos participantes. A descrigao des- te entrelagamento, entio, jd nos conduz para além das préprias contingéncias entrelagadas, © que sugere que, se jé nao estamos diante de uma metacontingéncia (o que exigiria a iden- tificagao de um produto agregado), certamen- te estamos diante de uma situagio de transigio para outro nivel de andlise. Metacontingéncias como unidade de andlise Quando tratamos de préticas culturais, parte de nossa descrigdo poder ter como uni- dade de andlise a contingéncia de reforgamento, 153 IDENTIFICAGAG DE CONTINGENCIAS ENTRELACADAS & METACONTIGENCIAS contingéncias de “suporte” outro individuo grupo agéncia Figura 3. Um represencagto de concingancss entecloradas que exigem j& que, como afirma Glenn (1988), uma pra- tica cultural é “um conjunto de contingénci- as de reforgamento entrelagadas nas quais 0 comportamento ¢ os _ produtos comportamentais de cada participante fun: onam como eventos ambientais com os quais © comportamento de outros individuos interage” (p.167). Entretanto, como a pré- pria Glenn (1991) ressalta: ‘A maior parce das priticas culeurais em um ele- mento adicional: elas envelvem dois ou mais in- dividuos eujas interagées produzem conseqli¢n- cias paracada um deles individualmente ¢,além disso, cujo vomportamento conjunto produ um. produto agregade que pode ou ndo ter um efei- co comportamental. Quando uma pritica cul- cural envolve tais contingéncias comportamentais entrelagadas e produrosagregados associadas, estd estabelecide o cendrio para uma complexidade crescente no nivel de andlise cultural, {p. 60) Para dar conta deste “nivel de andlise cul- tural”, Glenn (1988, 1991) propSe o conceito de metacontingéncias: “metacontingéncia é a unidade de anflise que engloba uma prdtica S?-R+S° ‘comingencia de suporte para sua manutensio, culcural, em todas as suas variages, ¢ 0 produ- ro agregado de todas.as variagées atuais" (Glenn, 1988, p. 168). A Figura 4 € uma tentativa de represen- tar uma metacontingéncia. Como esté indicado na Figura 4 pela flecha que retorna as contingéncias entrelacadas, estaremos diante de uma metacontingéncia se, de algum modo, 0 pro duro agregado — que é dependente destas contingéncias entrelacadas - retroagir sobre elas, selecionando-as. Além disso, é impor- tante salientar que 0 conjunto das contin- géncias entrelacadas, caso. das metacontingéncias, est4 delimitado, na no gura, para sugerir que estas contingéncias constituem uma unidade e que é sobre esta unidade que retroage 0 produto agregado. Estas caracterfsticas so relevantes quando tra- tamos de mectacontingéncias, como afirmam Matcaini e Thyer (1996), “Sigrid Glenn metacontingéncia para descrever as depen- déncias entre uma prética cultural e seus produtos agregados para o grupo” (p.16). uma vez que, introduziu o termo 154 M.A. PA. ANDERY ET AL, Figura 4. Uma copretentagta de metacontngéncia. ‘CARACTERISTICAS ESPECIAIS DOS FENOMENOS: socials A anilise de fenémenos sociais nao exi- gird do analista do comporeamento um novo conjunto ou corpo de princ{pios ou um novo modelo causal; no entanto, exigira o reconhe- cimento de que estes fendmenos tém algumas propriedades especiais. Para Guerin (1992), ainda que a distingio entre princfpios ¢ pro- priedades possa parecer irrelevante, ela é ne- cesséria para que a andlise do comportamento contribua para a compreensio dos fenémenos sociais. Ainda que a contingéncia de teforgamento seja o principio bésico para a anilise do comportamento social, trata-se de idencificar, no caso da andlise de fendmenos sociais, as propriedades especiais destas con- tingéncias (Guerin, 1992). As proptiedades especiais das contingén- Gias socials que destacamos a seguir foram identificadas a partir do tratamento que Skinnet deu ao tema, jd em 1953. Caracteristicas especiais do ambiente social Identificar as caracteristicas do ambiente social calvez seja uma das grandes conttibui- ‘ses que a andlise do comportamento possa tra- zer para a compreensao do homem, em especi- al no que se refere aos determinantes de seu comportamento. J em um texto dos anos 40, encontramos um desafio para a realizacio des- ta contribuigio, quando, referindo-se & deter- minagio do comportamento humano, Skinner (1947/1999) afirmou: A constituigao genética do individua e sua his- séria pessoal até o momento desempenham uina parte nesta determinagio. Além disso, 0 contro- le permanece no ambiente. Mais que isto, as forgas mais importantes estio no ambiente social que é construide pelo homem (man-made). © comportamento humano est4, portanto, cm grande parte sob controle humano. (p. 345) Falar do ambiente que concrola compor- tamento humano &, assim, principalmente e quase que exclusivamente falar de um ambien- te sacial, ou melhor, de estimulos sociais (se- jam estes estimulos controladores anteceden- tes ou subseqiientes ao responder). Como afit- mam Keller e Schoenfeld (1950): Os cstfinulos sociais nfo diferem de outros est!- mulosem suas dimens6es, Em vez disto, a dife- renga é uma diferenga de origem, Eles se origi- am de outros organismos, de seus comporta- ‘mentos, ou dos producos de seus comportamen- tos. Além disso, estimulos sociais néo diferem dos estimulos de origem inanimada em relacio as suas fungies; eles agem como eliciadores, reforcadores, discriminativos e assim por diante. Avida social surge porque estimulos sociais pas- sam a exercer estas fungées. (p. 352-353) Eventos que podem ter a fungio de reforga social. Quando, em uma contingéncia, um even- to tem supostamente a fungao de reforgo para a resposta de um individuo’e néo podemos descrevé-lo “sem fazer referéncia a outro orga- nismo” (Skinner, 1953, p. 298), chamamos este estimulo reforgador de um reforgador so- cial. Como o proprio Skinner ressalta, em al- 155 IDENTIFICAGAO DE CONTINGENCIAS ENTRELAGADAS 2 METACONTIGENCIAS guns casos “a outra pessoa participa mera- mente como objeto... mas usualmente 0 reforgamento social é ura questo de medi- acho pessoal.” (pp.298, 299) O fato de que os reforcadores sociais envolvem, em grande parte, a mediagao acaba trazendo como im- plicagio trés outras propriedades para o pro- cesso de reforgamento. A primeira delas ¢ que exatamente porque é mediado por outra pessoa, no caso do reforgamento social, 0 re- forco dificilmente independe da ocorréncia da resposta reforcada. ‘A segunda caracterfstica do processo é que “o reforcamento social varia de momento a momento, dependendo da condigio do agence reforgador” (Skinner 1953, p. 299). Isto quer, dizer que respostas de uma mesma classe nem sempre produvirao as mesmas alteragées ambientais ¢ que tais alteracSes niio dependem exclusivamente da emissao destas respostas, jé que “dependem também da condigio do agen- te reforcador”. Segundo Skinner (1953), duas propriedades do comportamento social — sua extensio e flexibilidade—seriam resultado desta caracteristica do reforgamento social. Uma terceira caracteristica do reforgamento social que é conseqiiéncia dos reforcadores sociais mediados, destacada por Skinner, é que “as contingéncias estabelecidas por meio de um sistema de reforgamento so- cial podem mudar lentamente” (Skinner 1953, p. 299). Sao as condigées do agente reforcador que, mais uma vez, determinam 0 riemo da mudanga da contingéncia ¢, mais que isto, deve ser enfatizado que as condigées do agente reforgador, por seu turno, sio pro- duzidas, entre outras coisas. pelas respostas que vém sendo mantidas por tais contingén- cias. Qu seja, do comportamento promovi- do pelas contingéncias sociais que se originam as novas condigdes de exigéncia do agente reforgador, 0 que, por sua vez, conduz. 4 mu danga, por parte deste agente, das exigéncias estabelecidas para reforgamento. Finalmenee, a quarta caracteristica do pto- cesso de reforgamento mantido por reforgo so- cial, destacada por Skinner (1953), ¢ que ¢in- timamente ligada @ anterior, € que o agente reforgador ajusta 0 esquema de reforcamento as caracteristicas da resposta reforcada de uma forma que “ratamente ocorre na natureza inorganica” (Skinner, 1953, p.301). © que marca todas estas caracteristicas & © que Skinner chama de sensibilidade ¢ com- plexidade do agente reforgador em compara- g40.com o ambiente nao social, isto é 0 ambi- ente social pode reagir diferencialmente, de ma- neiras mais sutis, as respostas por cle selecionadas. Esta mesma caracteristica pode acarretar problemas: Mas, um siscema reforgador que afetado desta maneira pode conter efeitos inerentes que le- yam a comporiamento instavel. Isco pode expli- car porque contingéncias reforcadoras da socie- dade causam comportamento indesejavel mais freqiientemente do que as contingéncias apa- rencemente compardveis na natureza inanima- da. (Skinner, 1953, p. 301) Estirnulos antecedentes sociais. Quando em uma contingénciao estimu- Jo antecedente ¢ social, © desafio que se coloca para o analista do comportamento é um desa- fio de ordem metodolégica. Como Skinner (1953) afirmou, “um estimulo social, como qualquer outro escimulo, torna-se importante no controle do comportamento por causa das contingéncias de que ele participa” (Skinner, pp- 301, 302). Deste ponto de vista, estimu- los antecedentes sociais, como estimulos ndo 156 M. A.D A. ANDERY ET AL sociais, adquirem fungdes comportamentais pelos mesmos processos. No entanto, no caso dos estimulos sociais, a dificuldade esté em identificat, nestes estimulos, as dimensGes ¢ pro- priedades de controle que so relevantes, uma vez que elas nao podem ser descritas pelas “pro- priedades fisicas” destes estimulos. Isco acon- tece porque as contingéncias de reforgo que tornatn tais estimulos comportamentalmente significatives “sio decerminadas pela cultura e por uma histéria particular? (Skinner, 1953, p. 302). O que quer dizer que estimulos sociais sio imporzantes porque os reforgadores sociais cam os quais estao sor:elacionadas sio importantes... Estimiulos so- ciais sdo importantes para aqueles para quem reforgamento social € importante. (Skinner, 1953, pp. 302, 303). E dal que decorre, possivelmente, a difi- culdade que temos em compreender como em nossa vida cotidiana nao temos grandes pro- blemas pata identificar respostas que chamari- amos de bom-humor, simpatia, ou amizade, enquanto que como cientistas teriamos muitos problemas para definir cais respostas. Esta disparidade € exatamente reflexo da origem cultural destes estimulos. Como afirma Skinner (1953), a respeito do nosso sucesso na identificagao, no cotidiano, destes estimulo: Niio significa que existam aspectos do compor- tamento que sio to independentes do compor- tamento do observadar como sio as formas geo- métricas, como os quadrados, cireuios e tiingu- los. Ele fo homem comum] esté observando um. evento objetivo 0 comportamento de um or ganismo; nfo hd aqui diivida em relagio an status fisico, mas apenas em relagio ao significado dos termos classificatérios. As propriedades geomé- iticas da ‘amabilidade' ou ‘agressividade’ depen- dem da cultura, mudam com a cultura e variam com 4 experiéncia individual em uma dada cul- cura. (p. 302) A dificuldade de descrigao dos estimu- los sociais (ainda que nao signifique que tais estimulos tenham propriedades de dimen- sio diferente daquela dos fenémenos que constituem contingéncias nao sociais) certa- mente coloca um desafio para o analista do comportamento ¢ nos obriga a descobrir pro- cedimentos que nos permitam descrever tais classes de estimulos. Da origem social dos est(mulos decorre mais um aspecto relevante para a compreensio : na interagao entre dois individuos, pequenas mudangas nas respostas de fendmenos sociai de um dos individuos — que muitas vezes pare- cem triviais, simples sutis - as quais operam como estimulos antecedentes para as respostas do outro podem ter efeitos significativos e po- derosos sobre estas respostas. Skinner (1953) recorre aos poderosos efeitos que tem 0 conta- to visual para exemplificar este aspecto. Elementos que constituem contingéncias encrelagadas Tendo reconhecido as peculiaridades do ambiente social, um momento importante da anilise de um fendmeno social é a identificagao dos elementos qué delimitam tais contingénci- as; a0 fazer isto estaremos necessariamente iden- tificando os participantes, os elementos do am- biente social ¢ os clementos do ambiente nko social que participam das contingéncias. Se considerarmos os exernplos dados por Skinner (1953), identificamos pelo menos qua- tro possibilidades de entrelagamento de con- tinggncias. Numa primeira possibilidade, em que dois individuos participa, apenas uma das contingéncias envolve o que pode ser cha- mado de comportamento social, isto ¢, apenas 157 IDENTIFICAGA@ DE CONTINGENCIAS ENTRELAGADAS E METACONTIGENCIAS um dos individuos se comporta sob controle do comportamento do outro. O exemplo dado por Skinner é de um predador (B) seguindo uma presa (A). No caso, 0 comportamento da presa (A) esté sob controle de estimulos nio sociais (por exemplo, sua toca), jd as respostas do predador (B) estao sob controle das respos- tas da presa (por exemplo, afastar-se do preda- dor). As conseqiéncias selecionadoras do com- portamento de B sao individuais, ou seja, afe- tam apenas o comportamento de B. Numa situagio parecida, podemos estar diante de uma segunda possibilidade de en- trelacamento de contingéncias. Se o predador (B) estiver perseguindo a presa ¢ a presa (A) estiver fugindo do predador, entéo, as respos- tas de cada um dos participantes estardo sob controle das respostas do outro, Neste caso, ambos os comportamentos (de A ¢ B) podem ser classificados come comportamento social. Eas conseqtiéncias selecionadoras das respos- tas de Ae B sio aqui também peculiares ¢ in- dividuais, 0 que quer dizer que elas so especi- ficas a cada uma das contingéncias entrelagadas. Uma terceira possibilidade de contingén- cia entrelagada amplia os elementos constitu- intes das contingéncias, pois 0 comportamen- to de cada um dos pasticipantes fica sob con- trole tanto das respostas do outro como de as- pectos do ambiente nao social. O exemplo que Skinner refere é o de dois ou mais individuos puxando uma corda que sé é movida pelo es- forgo conjunto. Neste caso, as respostas de Ae B sio coordenadas ¢, para tanto, devem estar sob controle das respostas de puxar a corda (de Be de A) edo deslocamento da corda. Aqui, as conseqiiéncias que selecionam o comporta- mento de cada um dependem do comporta- mento conjunto dos individuos (elas nao exis- éncias entrelacadas) e, tiriam sem as conseq neste caso, as conseqiiéncias selecionadoras do comportamento de cada um dos participantes sio as mesmas (0 movimento da corda). Finalmente, uma quarta possibilidade de contingéncia entrelagada envalve dois ou mais individuos que se comportam sob con- role do responder uns dos outros, mas as contingéncias que descrevem os comporta- mentos de cada um deles séo diferentes. Entre os exemplos dados por Skinner, desta- camos o de um par dangando ‘As conseqGéncias reforgadoras— posicivas ¢ ne- gativas — dependem de uma contingéncia du- pla: (1) os dangarinos devem excoutar certas se- qUéncias de passos, em certas diregies, em rela~ Go a0 espace disponivel e (2) 0 comportamento de um deve ser temporalmente organizado, de modo a corresponder ao comportamento do ou- tro, Esta contingéncia dupla normalmente € dividida entre os dangatinos, O lider estabclece 0 padrio e responde ao espago dispontvel, 0 se- guidor é controlado pelos movimentos do lider ce responde adequadamente pata satisfazer a se- gunda contingéncia. (p. 305) Note que, neste exemplo, a contingén- cia que descreve 0 comportamento do “lider” (A) € diferente da contingéncia que descreve © comportamento do “seguidor” (B): no pri- meito caso, a contingéncia envolve, come es- timulos antecedentes, elementos do ambien- te nao social (como o espago disponivel) € 0 comportamento do “seguidor”; j4 a contin- géncia que descreve o comportamento do “se- guidor” envolve como estimulo antecedente apenas as respostas do “Ifder”. As conseqiién- cias selecionadoras dos comportamentos de A ¢ B aqui séo individuais - B segue A sem tto- pesos eA lidera B sem problemas. Além dis- so, podemos supor que esta interagdo produz 158 M.A. DA ANDERY ET AL ainda um outro efeito, que chamamos de con- junto, que pode ter papel selecionador sobre as respostas de A ¢ B — ambos dangam de for- ma harmoniosa. © Quadro I sintetiza as quatro possibili- dades aqui apresentadas. Ao descrevermos os elementos que cons- tiruem continggncias entrelacadas, uma vez que continuames tratando de comportamento operante, necessariamente deveremos identifi- car as conseqiiéncias selecionadoras do respon- der de cada individuo. Estas conseqiiéncias podem consticuir a contingéncia que descreve © comportamento de um individuo particular envolvido na contingéncia entrelagada e, neste caso, como indicado no Quadro 1, elas foram chamadas de individuais. Este révulo foi utili- zado para distingui-las de uma conseqiiéncia que tem ao mesmo tempo papel selecionador sobre as respostas de cada participant, isto é, de uma mesma conseqiéncia que constitui as diferentes contingéncias entrelagadas; caso em que foram chamadas de conseqiiéncias conjun- tas. Como o Quadro 1 sugere, contingéncias entrelagadas apenas em alguns casos envolvem © que chamamos de conseqiiéncias conjuntas. E, nestes casos, estas conseqiténcias podem ser idénticas as individuais, ou podem ser outras e diferentes daquelas conseqiiéncias. Como deve ter ficado claro, 0 terme conse- qiiéncia indica a produgio de uma mudanga ambiental que depende da emissio de uma dada resposta. No caso das conseqiiéncias que partici- pam de contingéncias entrelagadas, ento, as con- seqiiéncias mantém esta caracter{stica; podemos assim dizer que elas dependem do entrelagamen- to das contingéncias. “Todavia, hé um outro as- pecto em relagio as conseqiiéncias envolvidas em contingéntias entrelacadas que merece destaque: o entrelagamento das contingéncias aurnenta a magnitude das conseqiiéncias. Skinner (1953) cessalta este aspecto 20 afirmar que: Se ésempreo individuo que se comporta, noen- tanto, é0 grupo que temo maior efeito reforgador. Juntando-se a um grupo, o individuo aumenta seu poder para adquirie reforgamento.... As con seqiitncias reforgadoras geradas pelo grupo Facit- mente excedema soma de conseqiigncias que po- deriam ser obtidas pelos membros agindo separa- damente. Q efeito reforgador total éenormemente aumentade. (p. 312) Ao discutirmos a questio da unidade de andlise envolvida no estudo dos fendme- Quadro 1. Elementos constituintes de algumas contingéncias entrelagadas. Bxemples de conting2ncias Pareicipances Estimulos antecedentet Conseqatncias 1. predador persegue Respostas de A 2. predador persegue e piesa foge Respostas de B Resposcas de A 3. homens punam cords “Aspectos do ambiente nga social Respostas de B Individual=Conjunta lespastas d 4. par danga Aspectos do ambience no social Resposeas de B Individuals Conjunca Respostas de A. 189 IDENTIFICAGAO DE CONTINGENCIAS nos sociais, sugerimos a possibilidade de duas diferentes unidades de andlise: as contingén- cias entrelagadas e as metacontingéncias. Esta distingao tem implicagdes quando se trata de identificar as conseqiiéncias envol- vidas nas contingéncias entrelagadas. No caso de metacontingéncias, além de todas as con- seqiiéncias que participam de cada uma das contingéncias entrelagadas, hé ainda mais uma conseqiiéncia, que foi chamada de pro- duto agregado. Se © fendmeno social anali- sado envolver metacontingéncias, sera neces- sdrio, entao, identificar este produto agrega- do tendo em vista seu papel selecionador em relagdo ao entrelagamento das contingéncias envolvidas. Como no caso das contingéncias entrelagadas que envolvem distincos tipos de conseqiiéncias, metacontingéncias parecem envolver diferences tipos de produtos agre- gados, Como Glenn salientou jd em 1988, em certos casos, metacontingéncias envolvem produtos agregados que sao rcambém as con- seqiiéncias selecionadoras dos comportamen- das contingéncias entrelagadas. Em outros casos, no entanto tos constitutivos (c estes parecem ser 0 mais comum nas soci- edades chamadas de complexas), os produ- tos agregados o diferentes das conseqiién- cias selecionadoras dos comportamentos in- dividuais. Mais ainda, o produto agregado pode ou ndo afetar todos os participantes das contingéncias entrelagadas. Tudo isto torna muito dificil idencifi- car tais produros e Glenn e Malagodi, j4 em 1991, reconheciam que a tentativa de anali- sar fenémenos sociais que envolvem metacontingéncias exigiria do analista do comportamento procedimentos nao usuais em sua area, Neste artigo, os autores fazem ENTRELAGADAS E METACONTIGENCIAS uma distingo contedde comportamental e processo comportamental, entre afirmando: “o contetido do comportamente humano pode ser genericamente caracteri- zado como aquilo que as pessoas fazem e di- zem.... Afirmagées de relagées sujeitas a lets podem ser consideradas descrigao de proces Em resumo, comportamentais descrevem processos e expli- cam contetides” (Glenn & Malagodi, 1991, pp. 2, 3). Esta distingao é estendida a and- lise de fenémenos sociais e segundo eles “a tarefa de formular principios gerais que des- crevem processos culturais pode ser mais di- ficil que no dom{nio comportamencal” (p.4). Estas dificuldades envolver a complexidade da unidade de anilise, a escala temporal de sos principios muitos dos fendmenos sociais ¢ a dificulda- de de estabelecer situagées de estudo andlo- gas ks utilizadas para o estudo do comporta- mento individual. Como conseqiiéncia, os autores sugerem que, pelo menos de infcio, oestudo dos fendmenos sociais, com vistas formulagéo dos principios que o governam, precisard “se ‘basear muito mais forcemente num amplo conhecimento existente sobre contetidos culturais” (p.4). Do nosso ponte de vista, o que estes autores estéo sugerinde & a necessidade dos analistas do comporta- mento se debrugarem sobre a cultura bus- cando identificar 0 que os individuos fazem edizem e que é tido como caracteristico da- quela cultura. Partindo desta descri¢o qua- se narrativa poderiamos hipotetizar relagdes de dependéncia entre as acdes ¢ os ambien- tes selecionadores, Este poderia ser 0 pri- meiro passa para a identificagao de metacontingéncias. Comportamento verbal relacionado as con- tingdncias entrelacadas 160 M. A. BA. ANDERY ET AL, Muico freqiientemente a andlise de con- tingéncias entrelacadas, como indicado na Fi- gura 3, envolverd a descrigio das aqui chama- das contingéncias de suporte. Em um caso es- pecial, ¢ extremamente relevance (¢ bastante comum), tais contingéncias envolver compor- tamento verbal. Como ressalta Skinner (1981), comportamento verbal foi crucial para a emer- géncia do cerceiro nivel de selegio por conse- . As sim, nao deve causar espanto que a descrisio giiéncias - a selegéo das praticas culeurai de fendmenos sociais muito provavelmente exi- jaa descrigio de comportamento verbal envol- vido na selegio € manutengio destas priticas. Como afirma Glenn (1991): © comportamento verbal de cada pessoa serve como parte do.ambiente compontamental daoutra ¢ isto claramence produz oportunidades para que coningencias sociais complexas tragam um niime~ ro cada vez: maiorde dimensies do mundo (social endo social) para os ambicntes comportamentais dos individuos participantes. (p.59) Mais que isto, ao distinguir as culturas humanas das chamadas protoculturas huma- nas (ou nao), Glenn destaca 0 papel do com- portamento verbal como elemento chave para que tenha emergido a complexidade que ¢ ti- tT ‘contingéncias verbals ‘de “auporte” D: E S°-R-s* Figura 5. Representugie de contingtnelss eurrslagadas que exigem coningéacias verbuie de suporce pica das priticas culeurais, ou melhor, das con- Cingéncias entrelagadas que caracterizam as cul- turas humanas. Nas suas palavras: “a cola que foi necessdtia para manter tais relagées entrelacadas foi 0 comportamento verbal” (Glenn, 1991, p.60). A Figura 5 é uma tentativa de representar a patticipagao de contingéncias verbais no su- porte das contingéncias entrelagadas. Hd entre ela ea Figura 3 uma diferenga que € importante de ser destacada. Quando as contingéncias de suporte sia verbais, as respostas verbais podem promover outras contingéncias por meio do que tem sido chamado de comportamento governa- do por regras (Skin ret, 1969), ou, mais recen- temente, de compo tamento governado verbal- mente (Catania, 1999). O que é relevante aqui € que o comportamento verbal pode evocar pela primeira vez a emisso de outro comportamen- to (antes mesmo que este seja consequenciado). Assim, contingéncias verbais de suporte am- pliam em muito a extensio de controle social sobre 0 comporcamento, E assim, também, dificilmente um analista do comportamento poderd estudar fenémenas sociais sem domi- naro conhecimento — tedrico ¢ empirico —s0- bre comportamento verbal. Os CONTEXTOS DE ESTUDO DOS FENOMENOS socials © analista do comportamento interes- sado no estudo dos fendmenos sociais, entao, rem meio caminho andado: sabe que estes so leg(timos como objetos de estudo de seu in- teresse ¢ tem & sua disposicao ferramencas conceituais para iniciar o tratamenco destes fenémenos. No entanto, este analista do com- portamento precisara ainda tomar decisdes a respeito das situagées apropriadas para o ¢s- cudo de tais fenémenos. 161 IDENTIFICAGAO DE CONTINGENCIAS ENTRELAGADAS E METACONTIGENCIAS Este aspecto — 0 de situagdes adequa- das para estudo dos fendmenos sociais— cem sido também abordado por varios analistas do comportamento. Lamal (1991), por exemplo, aponta as dificuldades de medida e de delineamento envolvidos no estude de fendmenos sociais, pois os analistas do com- portamento nfo desenvolveram, ainda, pro- cedimentos para realizar andlises que envol- vem o comportamento de muitas pessoas. Se- gundo ele, a andlise do comportamento quan- do aplicada a tais fen@menos, deverd traba- Thar com o que cle chama de “experimentos naturais” (p. 8) e nao, como esta até entdo habituada, com experimentos dé laboraté- Dois estudos de Kunkel (1985, 1986) ilusteam muito bem como tais “experimen- tos naturais” poderiam ser realizados. No primeiro estudo, Kunkel (1985) analisa um conjunto de atividades que ocorreram em Veneza, entre 1650 € 1800, com relagio a educagio musical de meninas érfas; ele coma a participacao das meninas nas atividades en- volvidas nesta educagio e todo o suporte ne- cessério para que estas atividades ocorressem como a varidvel manipulada ¢ analisa os efei- tos disso sobre mudangas na vida dessas me- ninas quando comparada & vida de meninas que nao tinham tal eportunidade. No se- gundo estudo, Kunkel (1986) analisa os efei- tos de mudangas introduzidas, a partir de 1952, em uma fazenda no Peru, a fazenda Vicos, quando ela foi objeto de um progra- ma de pesquisas conduzido por um socidlo- go (Holmberg). Fica claro, nos dois casos, a necessidade de recorrer a tipos de dados (re- gistros oficiais, relatos histéricos, relatos de pesquisa produzides com outros objetivos) com os quais o analista do comportamento nao esté habituado ¢, mais do que isso, a necessidade de identificar, nas histérias j4 ocorridas, situagées que possam ser vistas como situages experimentais. Como ressalta Kunkel (1986), esta decisao metodoldgica envolver4 uma op¢a prego da andlise experimental do comporta- mento humano em ambientes naturiis pode ser uum menor grau de controle de varidveis [quan- do comparado ao da situagio de laboratéria), enquanco que os beneficios, que se otiginam de um acompanhamento das varidveis estendido + no tempo, sio rarefas experimentais com signifi- cado maior e manipulagies mais efetivas. Esses beneficios valem a pena promevern sucesso para fucuso da andlise experimental do comporta- mento humano. (p. 465) Pierce (1991) tambéin abordou 2 ques- tao das situagées para o estudo dos fenémenos sociais; tal como os autores jé citados, ele parte da constatagao de que os analistas do compor- tamento precisam ampliar os métodos aos quais, recorrem para que este estudo seja produtivo. Indo nesta direcao, Pierce (1991) destaca trés possibilidades Métodos aceitdveis ineluem: (1) téenicas obscrvacionais que descrevem o comportamen to das pessoas organizado em termos de setting events, estfmulos discriminativos especificos ¢ conseqiiéncias funcionais: (2) estudos quase-ex- perimentais que centam isolaras varidveis causais de ums pritica social particular, ¢ (3) andlise ex- perimental do comportamentaem pequenos gru- pos. (p. 20) Evidentemente, a identificagio das dife- rentes propostas jé existentes e sua comparagao mereceriam um estudo especial; entretanto, a leieura, ainda que assisctemdtica, de artigos que apresentam tais propostas metodolégicas de artigos que analisam fendmenos sociais sugere 162 M.A. PA. ANDERY ET AL. que temos a nossa disposicao quatro alternativas metodolégicas que tém sido bem sucedidas no estudo de fenémenos sociais. A primeira delas no deve ser novidade para os analistas do comportatnento; em mais de uma opartunidade, Skinner (1957¢ 1974, por exemplo) propée a interpretagao come um caminho legitimo para a compreensio do com- portamento. Segundo Skinner (1974): ‘Como em outras ciéncias, freqiienterente no temosa informagio necessdria para predigdo ¢ controle e devemos nas satisfazer com a inter- Pretagio, mas as nossas interpretagées terio 0 apoio da predicio ¢ do contrale que foram pos- siveis em ourras condigées. (p. 176) ‘Temos, em virias publicagies de analis- tas do comportamento, exemplos de andlise de fendmenos sociais que recorreram a interpreta- 40; podem ser citados o estudo de Ellis (1991) sobre o sistema penitencidrio dos EUA ¢ 0 ¢s- tudo de Laitinen e Rakos (1997) sobre a micia € seus efeicos sobre 0 comportamento indivi- dual, destacando, como exemplo, as noticias sobre o Iraque, tal como divulgadas na midia impressa e falada dos EUA, ¢ seus efeitos sobre a opiniie publica com relagao & invasio do Traque pelos EUA, em 1991. Outra alternativa metodolégica jé foi aqui mencionada, séo os chamados “experimentos Kunkel (1986), um de seus defen- sores, afirma: fnaturais” Armaioria dos estudos de longa duragio foram descrisées... Ainda assim, 0 progresso da psicolo- gia depende do poder ¢ da efieécia do paradigma experimental... A melhor solugio para o duplo problema do laboratdrio cdo tempo €o experi mento natural. (pp. 52,53) Umma terceica alternativa so os chamados “experimentos de campo”. Muitas das pesqui- sas que chamamos de pesquisa aplicada em and- lise do comportamento podem ser incluidas como exemplos desta alternativa. Um exem- plo bastante significative é encontrado no tra- balho de Cohen e Filipczak (1971) realizado em um reformatério para jovens condenados pela justiga, em Washington Finalmente, uma alternativa que deve merecer especial atengio ¢ esforco € o desen- volvimento de situagSes experimentais que sio andlogos a fendmenos sociais. Uma afirmagio de Skinner, feita em 1973, é reveladora da importancia desta alternativa: Quando 0 fendmenos estio fora doalcance no tempo ou espago, ou quando cles io muito gran- des ou pequenos para serem diretamente mani- pulidos, precisamos falar deles com uma descri- 30 das condiges relevantes que nfo é comple- ta. © que foi aprendide em condig&es mais fas vordveis é, entio, de valor inestimvel. {p.261) De fato, parece que temos muito a ga- nhar em termos de nossa compreensie das varidveis de controle de fenédmenos sociais complexos com tentativas de desenvolver and- logos experimentais de tais fenSmenos. Um exemplo instigante desta estratégia € a des- ctigado do programa de pesquisas, intitulado Projeto Columban, desenvolvido por Epstein, Carr, Lanza ¢ Skinner (Epstein, 1981), no qual os autores cinham por objetivo demons: trar experimentalmente — com pombos - as variaveis envolvidas na constituigio de fend- menos por exemplo, autoconsciéncia, comunicagae simbélica, como, mentira e produgio de pistas para o préprio responder - tradicionalmente descritos 4 maneira cognitivista. 163 IDENTIFICAGAO DE. CONTINGENCIAS ENTRELAGADAS E METACONTIGENCIAS REFERENCIAS Burguess, R. L., & Bushell, D. (1969). Behavioral Sociology: The experimental analysis of octal pracess. New Yark, NY: Columbia University Press. Catania, A.C. (1999). Aprendizagem: Comportamento. Enguagem e cognigho, Porto Alegre: ArMed. Coben, H.L., & Filiperak, J. (1971). A new learning enviroment. San Francisco, CA; Jossey-Bass. Ellis, J. (1991). Contingencies and meracontigencies in correctional settings. Em P, A. Lama! (Ed). Behavioral analysis of ociesies and culsural practices, ‘New York, NV: Hemisphere Epstein, R. (1981) preliminary look at the Columban Simulation Project. The Behavior Analyst, 4, 43-55. Glenn, S. S. (1988). metacontingencies: Toward a synthesis of bchavior On pigeons and people: A Contingencies and analysis and cultural materialism. The Bebavior Analyst, 11, 161-179. Glenn, S. S. (1991). metacontingencies: Relations among behavioral, Contingencies and cultural and biological evolucion. Em PA. Lamal (Ed). Behavioral analysis of societies and culreral practices. New York, NY: Hemisphere. Glenn, 5. $., & Malagodi, EF (991). Process and contentin behavioral and cultucal phenomena Behavior and Social Issues, J, 1-14. Guerin, B. (1992). Social behavior as discriminative stintulus and consequence in social Anthropology. The Behavior Analyst, 15, 31-41. Guerin, B. (1994), Analyzing social bebavior: Bebavior analysisand the social siencer. Reno, NV: Context Press, Isahq, W. (1991). Heoman bebavior in today world. New York, NY: Praeger Keller, F.5., & Schoenfeld, W. N. (1950). Principles of Pychology. New York, NY: Appleton-Century-Crofis Kunkel, JH. (1970). Society and economical growth: A bebavional perspective of social change. New York, NY Oxford University Press. Kunkel, J. H. (1985). Vivaldi in Venice: An historical rest of psychological propositions. The Prychological Record, 35, 445-457. Kunkel, J. H. (1986). The Vico's project: A cross cultu- ral cest of psychological propositions. The Prychological Record, 36, 451-466, Laitinen, R. E., & Rakes, R. (1997). Corporate control of midiaand propaganda: A behavioral analysis. Em PA Lamal (Ed). Culsural contingencies: Bebavior analytic perspective on cultural practices. Westport, CO: Prager Lamal, B'A.(1991). Behavioral analysis of societies and cadtural practices. New York, NY: Hemisphere. Lamal, PA. (1997). Culsteral contingencies: Bebavior analytic perspective on cuttural practices, Westport, CO: Praeger. Malagodi, E. F.(1986). On radicalizing behaviorism: A call for cultural analysis. The Behavior Analyst, 9, 1 17. Mattaini, M. A., & Thyer, B. A. (1996). Finding solutions to social problenis, Washingcon, DC: Ametican Psychological Association, . Michael, J. (1980), The discriminative stimulus or 5°, The Behavior Analyst, 3, 47-49. Pierce, WD. (1991). Culture and society: The role of behavior analysis, Em PA. Lamal (Ed.). Bebavional analysis of tocieties and cultural practices. New Yor's, NY: Hemisphere Skinner, B.E (1947/1999). Current trends in Experi- mental Psychology. Em B. F Skinner. Crmdative record. Acton, MA: Copley Publishing Group. Skinner, B, F (1953). Science and burn behavior. New York, NY: Macmillan. Skinner, B. F.(1957). Verbal behavior. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall Skinner, B.E. (1969), Convingencies of reinfarcement: A theoretical analysis. New York, NY: Appleton Century-Crofts. Skinner, B. E1973). Answers for my critics. Em H. Wheeler (Ed.), Beyond the punitive society: San 164 M.A. LA. ANDERY ET AL. Francisco, CA: Freeman. Science, 213, 504-504. Skinner, B. FE. (1974). Abour behaviorism. New York, — Ulrich, R., Stachnik, T. S., & Mabry, J. (1966). Controf NY: Alfred Knopf. aofbuman behavior. Volume I. Glenview, IL: Scott, Skinnes, B. F (1981). Selection by consequences. Poresmanand Company, 165

Vous aimerez peut-être aussi