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João Ruivo (www.rvj.

pt/ruivo)

A escola e o lixo
Nenhum sistema educativo, nenhuma escola, nenhum educador se pode alimentar do
fracasso, pese embora grande parte das “modas” pedagógicas da última metade do
século passado terem perpassado as escolas, todas elas deixando marcas e resultados
nem sempre em conformidade com os esperados pelos que profissionalmente se
envolveram nesses movimentos que se reclamavam da inovação e da renovação
pedagógica. Referimos, por exemplo, o trabalho de projecto, os centros de interesse, o
trabalho de grupo, a planificação por objectivos, a investigação-acção, as práticas
reflexivas…
Neste arranque do século XXI, arriscávamos a dizer que podemos detectar um novo
modismo que apaixona escolas e educadores e a que os governos se colam por
modernidade irrecusável: apontamos, concretamente, para o movimento de
implementação das tecnologias da informação e da comunicação nos currículos
escolares.
No final do século passado, os educadores debateram, detalhadamente, o papel
educativo da TV na escola e junto das crianças. Após largos anos de expectativas
positivas, o desencanto instalou-se e os menos cépticos não têm qualquer receio de
afirmar que a televisão é, hoje, apenas um transmissor de lixo mediático que nos entra
pela casa dentro.
Porém, as centenas de horas que os nossos jovens despendem em frente de um
computador, ora para partilhar jogos, ora para navegar na Net, ora para comunicar
através das redes sociais, podem também resultar num lamentável desperdício, se não
forem aproveitadas como aprendizagens significativas, desde logo dentro da escola e
dirigidas pelos educadores.
Para que isso ocorra é necessário que os nossos professores manipulem as TIC como
qualquer outro instrumento de apoio pedagógico e as escolas estejam equipadas para
responder a mais este desafio da sociedade da informação e da comunicação.
Porém, como temos vindo a referir, muitos dos nossos educadores não têm qualquer
formação para dominar estas novas tecnologias e, muitos outros, fizeram aprendizagens
auto-didactas. A generalidade dos pais permite o acesso indiscriminado à Net
(curiosamente, já não tanto à TV) porque não sabem, nem imaginam o lixo que por lá
circula.
Muitas das nossas escolas só têm um computador para todos os alunos. Mas quase
exigem que cada aluno tenha em casa um computador para o serviço da escola.
Realizam-se testes de informática de “fato e gravata”, em que os alunos são convidados
a descrever, por escrito, o que é um rato e um monitor. Solicitam-se trabalhos de casa
com net-consulta, sem que se verifique das condições que cada aluno tem para os
realizar, apenas porque fica bem a utilização de mais esta modernice pedagógica.
Inúmeros empresários e gestores da administração pública reconhecem que a introdução
descontrolada das TIC levou a uma inicial quebra de produtividade nas empresas e na
administração pública, dado que alguns trabalhadores desperdiçavam um significativo
número de horas no Messenger, nos Blogues e nos E-mails, no Facebook, na Farmville
e derivados.
Em muitos destes organismos, públicos e privados, a situação só foi superada após a
introdução de mecanismos de controlo, restrição de muitos endereços nos servidores e
aturada supervisão no local de trabalho.
E o que se passa na escola e em casa? O que aprendem os jovens quando estão a
navegar entre o net-lixo e o web-desperdício? Reconhecemos que as TIC encurtam o
mundo. Mas se a globalização for apenas este lixo e este desperdício, então vale a pena
reler os argumentos daqueles que preferem a localização.
Não vale é a pena continuar a iludir ou a ignorar estas questões. O educador não pode,
nem deve, ser castrador e impedir o acesso ao saber rápido e quase infinito,
proporcionado pelas novas tecnologias. As TIC e a informação global por elas
proporcionada são os principais argumentos de defesa da aprendizagem permanente e
da formação ao longo da vida. As TIC podem, ainda, prolongar e projectar a escola para
comunidades virtuais, ligando um sem número de pessoas num pensar colectivo e
flexível, melhorando e aumentando o saber individual e universal. Chegará mesmo o dia
em que, tal como se lançam empresas em mercados virtuais, será possível que se criem
escolas virtuais, com campos digitais e o aprender ao alcance do bolso.
Mas é necessário que toda esta evolução seja acompanhada de um saber pedagógico,
para que não nos defrontemos com mais uma oportunidade perdida.
A tribo da escola já está a mudar e não é mais possível que os educadores permaneçam
na mesma.

João Ruivo
ruivo@ipcb.pt

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