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J Edgar Morin PARA ONDE VAL O MUNDO? et nn AT Dados Internacionais de Catalogacio na Publicacéo (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ‘Tradugdo de Francisco Moris Morin, Edgar, 19 ara onde vai o mundo? / Edgar Morin ;traducio de Francisco Moris. — Petrépolis, RJ: Vozes, 2010. ‘Teal original: Ox va le mond? Bibliogratn ISBN 978-85-326-3957-0 1. Cvilizagio — 1950- 2. Mudanga social 3. Sociologia do conhecimento I. Titulo, (10501 DD -306.42 y EDITORA - - vOzeS {nies para cailog sistem: ——— 1. Sociologia do conecimento 30642 Pavpols © 1981, Edgar Morin ] © 2007, Editions de THerne ‘Tieulo original francés: Oi vale monde? (© testo Oi fe monde? € um extrato de Pour sir du XX’ sie, Pats Fernand Nathan, 1981, cap. 3. ‘Est tradugio em portugués foi publiada por intcrmédio da Agencia Literdria Piere Aster & Associés Direitos de publicagio em lingua portuguesa ~ Brasil 2010, Eitora Vozes Led, Rua Frei Luis, 100 25689-N Petrépolis, RJ : Internet: htp://ww.vozes.com.br Price, 7 Brasil 1 Para onde vai o mundo?, 1 “Tovlos os dito esrvads, Nenhuma pate desta bra . poder ser reproduzida ou transmit por qealquer forma ou 2 Oacasalamento das baleias, 55, uasguer mos (ltnico os mecitico, ncn ftoeopa © grvacio) ou arquvada em qualquer sista ou banco de dos sem permisdoeserta da Editors Diretor editorial Frei Antinio Moser Editores ‘Ana Paula Santos Matos ‘José Maria da Silva Lidio Peres Marae Loraine Oleniki Secretirio exeentivo ‘Joao Batista Krench aioragi: Elaine Mayor Projet eric e capa: Ceca Loos ISBN 978-85-326.3957-0 (edigio brasileira) ISBN 978.2-0200-6904-6 (edicio francesa) Etude conforme o novo acordo ortagrtico, Este livo foi compostoe impresso pela Editora Vozes Lida INDICE PREFACIO Hoje a batatha se trava no terreno do espirito. Edgar Morin Edgar Morin poderiater-se contentado com sua genial dade e por ter deixado & posteridade — 8s ciéncias sociais ~ alguns ensaios brilhantes sobre temas inesperados: a morte, as estrelas ou o rumor". Estas obras teriam sido suficientes para garantir 0 renome de um pesquisador ordinariamente inventivo. Mas qual é0 ordinsrio de um destruidor de ideias repeti- as, mais “acometido de uma resistencia quase biol6gica do spirit”? Sem o respaldo de qualquer dos titulos que geral- mente coroam uma carreira universitiria, no ocaso de uma ‘guerra na qual foi um fiancoatirador, Edgar Morin construi na solidi, pacientemente, uma obra original, uma das mais consistentes de nossa époea, que faz da complesidade urn pro~ blema fundamental e um novo paradigma [As representagbestradicionais do homem ajudaram a des- pedacé-to, a fragmenti-to, privando-o de sua riqueza multi 4. Lome eta mort (1951); Les stars (1957); La rumour Oréans 1968). 7 ‘mensional (sua identidade ¢ 20 mesmo tempo biolbgica, psi- col6gica social). Trata-se agora c urgentemiente de costurar, de articular aquilo que a ciéncias humana e as ciénciasclis- sicas haviam dlispetsado. Empresa consideravel que mobiliza todos os saberes dispontveise exigeo aparecimento de novas formas de pensar! Claude Lévi-Strauss dizia que o objetivo da cigncias humanas nio € revelar 0 homem, mas dissolvé- lo, Edgar Morin, a0 contrario, busca devolver-Ihe vida ¢ car- nc, a0 recolocé-lo no interior da grande saga do mundo. (Oser humano deve ser enriquecdo de todas as tas contra digdes. O pensamento deve ser “dialbgico”, capaz de deixar fluir os contrérios, que se complementam e se combatem. E. © que ensinava, naqueles idos, Hericlito: “Viver de morte ¢ morrer de vida". O homem nio ¢ apenas homo “sapiens” (en= quanto sabe ¢ sabe que sabe), ‘faber” (fabricador) ot “oecono- tmicus” (calculadot ¢ movido éxclusivamente pelo interesse pessoal), concepcdes estas que nao deixam de ser redutivas (e narcisicamente valorativas), que colocam o ser humano de escanteio, isto ¢, isolam-no de tudo. Ele éigualmente indis- solutamente “demens” enquanto invent, imagina ou mata) ¢ “dens” (enquanto se diverte, se exalta, se desyasta). E umnovo hamanismoque se perfil poderfamos cs- silficilo de tigico, desde que nesta expressio englobemos tudo aquilo que resstea qualquer reconeliagio ow etimisno beato, Um humanismo revisitado, “regenerado”, que nia é mais a jusificago antropocéntriea de uma divinlagio do hhomem, que seria destinado a conquistar a Terra (por mcio do programa suicida da Modermidade: “Sejamos mestres ¢ dominadores da natureza"), Mas um humanismo plancttio, que comporta uma conscentizaio da “Terra Paria” conve conmumidade de destino, de origem e de perdi, Isso conduvira Edgar Morin a preconizar uma espécie de evangelho da perdicio: j que estamos perdidos (no gigantes- co universo), fadados ao softimento © & morte, devemos ser 8 irmos. Uma fiaternidade que € muito mais do que uma soli- dariedade: ela é a chave do préximo milénio para a imple- mentacio de uma verdadeira politica de civilizagio. Francois L’Yvonnet PARA ONDE VAI O MUNDO? A interdependéncia passadopresente/futuro Aprospectiva dos anos sessenta afirmava que o passado era arquiconhecido, que o presente era evidentemente conhecido, {ue oalicerce de nossas sociedades era estavel, ¢ que, sobre es- tes fimdamentos assegurados, 0 faturo se forjaria no e pelo de- senvolvimento das tendéncias dominantes da economia, da ‘técnica ¢ da ciéncia, Dessa forma, © pensamento tecnoburo- critico acreditava que podia prevero futuro, Ele acreditava, in- clusive, em seu otimismo frig, que o século XT iria coiher (6s frutos maduros do progresso da humanidade. Mas, na realidade, os prospectivistas construfram tm fit tuiro imaginisio a partir de um presente abstrato. Um pseudo- presente untado de horménios lhes substitu o futuro. Os instrumentos toscos, mutilados, mutiladores que lhes serviam para perceber e conceber 0 real, tornou-os cegos nio somente quanto ao imprevisivel, mas também 20 previsivel. Nao resis- to a0 prazer de citar o perito dos peritos, Robert Gibrat, presi- dente das Sociedades Estaisticas da Franca: *Nestes dltimos vinte anos, os peritos regularmente se equivocaram”, © que aqui ainda, e sobretudo, & necessitio, para conce- ber oviraser historico, ¢ substituir por uma concepcio com- plexa a reinante concepcio simplista. A concepcio simplista acredita que passado e presente sio conhecidos, que os fato- res de evolugio sio conhecidlos, que a causalidade € linear, ¢, por conseguinte, que o futuro pode ser predito. "1 passado —> — presente ——> fauro (conhecide) _(conhecido) (conhectve: pré-dizivel) De fato, sempre existe um jogo retroativo entre presente passado, no qual nao somente o passado contribu para 0 conhecimento do presente, o que é evidente, mas igualmente no qual as experigncias do presente contribuem para 0 co- nhecimento do passado e, por meio disso, transformam-no. passado, presente © passado é construdo a partir do presente, que selecio- nna aquilo que, a seus olhos, € hist6rico, isto é, precisamente aquilo que, no passado, desenvolveu-se para produzir o pre~ sente, Aretrospectiva fiz desta forma e sem cessar—com toda seguranga a prospectiva: 0 historiador que tata dos anos 1787-1788 prevé com perspicécia aquilo que, nos aconteci- rmentos daqueles anos, prepara a explosio ulterior (evidente- mente totalmente ignorada pelos atores ¢ testemunhas da- quele periodo pré-revolucionirio). Assim, o passado adquire set sentido partir do olhar posterior que The dé o sentido da historia, Daf uma racionalizagio incessante e inconsciente que encobre os acasos sob as necessidades, transforina o im Previsto em provavel, e enterra 0 possivel hao realizado sob a Inevitabilidade do ocorrido, Como, além disso, o presente se ‘modifica as experiéncias se sucedem, é um novo enfogue, em cada novo presente, que modifica 0 passado, como bem o vvimos no caso da Revolugio Francesa, nio somente sem ces- sar reescrita no século XIX, porém mais do que nunca rees- rita no século XX por meio das experiéncias do socialismo (aurés), do bolchevismo (Mathiez), do stalinismo (Sobou!), do libertarismo (Guerin), da destalinizagio (EurevRichet) 2. Nés conhecemas petetamento as datas e 0 desenrolar dos acontec ‘mentos da Revolugao Francesa, Maso eentido eo eto Jas agdes delay 4a da revlugto ainda ao controveros. Sar que ottror salou a Rep bica? Sera que Robospiae e Sainthist ao batorem moderadamente, as ‘enfurecidos,slaparam as bases da evolugo, preparande sein querer Ther midore Bonaparte? Efotes e convaefolos se entelagam Por ol lado, os 2 Assim, pois, descobrimos uma brecha no passado, 20 qual ccorresponde tuma brecha no presente: o conhecimento do presen te requero conhecimento do passado que, por sua vez, requer o cone ‘mento do presente Por outro lado, esobretudo, a maior ilusio € crermos co- nhecer o presente 56 porque vivemos nele. Todo o esforgo deste livro, em certo sentido, concenta-se na dificuldade de configurar rosto do presente (Ora,o futuro nasce do presente. Isto significa dizer que a primeira dificuldade de pensar o futuro & a dificuldade de jpensar o presente. A cegueira sobre o presente nos torn, ipso Jato, ccgos cm relacio ao futuro. Assim, depois de 1950, era ‘evidente que colocassemos nossa economia na dependéncia do petréleo, 0 qual dependia de nagSes sempre menos de pendentes do Ocidente, o qual acabou vitalmente dependen- te daqueles que antes estavam sob sta dependéncia. O im= pressionante € que, exceto algumas vozes (Louis Armand), iss0 passou despercebido e exchsido das previsoes da época. A ‘petspectiva sobre o presente é, pois, imprescindivel para qual- ‘quer prospectiva No entanto, nao bastaria pensar corretamente o presente para ser capaz de prever o futuro. Com certeza, 0 estado do ‘mundo presente carrega consigo, potencialmente, as situa «ies do mundo futuro, Mas cle contém embrides microscé- pcos, que se desenvolverio, e que sio ainda im 208 inossos olhos. Por outro lado, embora dependentes das con- digdes pree indo, pois, jé no presente, as inova~ g6es, invengées, criagées vindouras no podem ser concebi- das antes de sua aparicio (sio somente as consequiéncias das criagBevinvengGes atuais que podem ser eventwalmente ima- sginadas), Esta parte decisiva do Futuro, portanto, ainda nao to- {enémenos mal eucdados, como o jacobsne, so requestonados (Cochin, Foret} nos recolocam novasnterogagSes.. xistem ragdades deni do Saberhistrice male segue. Este, como qualgue saber lento, &, apesar de suas coragies © verticages, sem cesar quesionado coma apaigso de roves documentos, ou, ma ainda, com 0 neve Oba dedicado 20s docu ‘mentos antiges 13 ru forma noms do petent.O furo,anes que che- Be cuk Game ocenem te Seoasee ee cron: Tort adm comueel contentions eet impenir Atdon gees con oe eee selegio no burburinho das acbes, iteragbes, Fetroagdes que epee pipeeone bee et operadores do futuro. Ea uz do futuro tornando-se presente ieee nee eee ne Eastidores, dean dx ma dens dan sotien, eases wahdaete eos care Asim, poi, o concent do present & necesiio parsoconhccinentodo future oqualenecninoparsoce nhecimento do presente. Deste fato decorre que conhecimento do pasado e do presente tem lacunas, como 0 60 conhecimento do futuro, € que tais conhecimentos sio interdependentes: 0 conheci- ‘mento do pasado esti subordinado a0 presente, cujo conhe- cimento esté subordinado ao futuro. Precisamos abandonar, pois, um esquema simplificador aparentemente evidente: passada presente fauro pela concepio complexa: passado ee presente “>> faturo cs ‘Uma concepgio como essa, excluidas as incertezas que «la suscita no aparentemente assegurado ~o passado eo pre~ sente ~, parece anular toda tentativa de prever o futuro. De foto, ela desvela a nulidade das prospectivas ¢ futurologias 4 que pretendiam ancorar-se nosalicerces do presente. Ela cer~ tamente nos obriga a renunciar toda visio segura do futuro, mas teria sido uma loucura acreditar que uma prospectiva puidesse ser substituida, com a mesma garantia, pela pregagio dos profetas ou astrdlogos. Ela nos envidaa um grande edifi- cil esforgo: aquele de fazer comunicar-se entre si nosso pas- sado, nosso presente € nosso futuro, de modo que eles se transformem em fundamentos de uma cadeia geradora de conhecimentos mais licidos sobre o presente e sobre as pro- {jogdes suficientemente incertas do futuro. Para tanto, temos um instrumento de ligagio, que € 0 co- to dos prineipios daquilo que fxz passar do passado ie, ¢ do presente a0 futuro, ou seja, possufmos os princfpios que permitem imaginar a evolugio da historia. ‘Aevolugio nao obedece nem 3s leis nem aos determin ‘mos prepotentes. Nao é mecinica nem linear. Nela nao exi te um fator dominante que permanentemente comanda a cvo- lugio, O futuro seria facilmente predizivel se a evolucio de- pendesse de um fator predominante e de uma causalidade i near. Precisamos, a0 contri, partir da inépcia de toda pre dicio findada numa concepeio evolutiva tao simplista, A rea~ lidade social é multidimensional; ela comporta os fatores ge- ogrificos, econémicos,técnicos, politicos, ideol6gicos.. Num dado momento, alguns destes ftores podem ser dominantes, mas existe rotatividade no dominio. A dialética nao caminha sobre os pés nem sobre a cabeca; ela gira, pois €antes de tudo Jjogo de inter-retro-agbes, ito 6, elo em perpétuo movimento. este fato decorre que tudo aquilo que é evolutivo ol ddece a um principio multicausal A causalidade € uma mulki- catsalidade na qual nio somente as inter-retro-agOes se com binam e se combatem entre si, mas também na qual todo processo aut6nome prosiuz sua causilidade prépria, sempre Sofrendo as determinagies exteriores, isto 6, comporta uma atuto-exo-causalidade complexa. Ao mesmo tempo, n6s 0 vi- 15 mos alhures (La Méthode, 1, p.257-271 e Ip. 81-83), as ages se desviam de seu curso, derivam, invertem seu sentido, pro- vvocam reagées e contra-ages que as submergem. Daf os efei- tos-bumerangue, onde o golpe nao golpeia o inimigo, mas 0 antor, € 0s efeitos “perversos", cujos burburinhos jé estamos percebendo, Enfim, as inv novagdes, criagoes téenicas, cule raise ideolégicas surgem e modificam a evolucio, isto &, re~ volucionam-na ¢ fazem a partir desse momento evoluir os Princfpios da evolucio, As inovagev/criagdes produzem transgressies que po- dem ampliar-se ¢ potencializar-se em tendéneias, que tanto podem infiltrar-se na tendéncia dominante e modificar sua orientagio quanto substitui-la. Dessa forma, uma evaluicao, quer seja biolégica, sociol6gica ou politica, nunca é frontal nem regular. A historia nio se projeta massivamente como 0 volume de um rio. Ela germina de forma marginal, desenvol- ve-se de mancira transgressiva, segundo o esquema abaixo: inovacio—t transgressio—+ tendéncia—p nova norma ou ortodoxia AA puassagem para a transgressio 6,20 mesmo tempo, uma bifurcagio da qual pode nascer um cisma, e onde se desen- volver formas novas (cismo-morfogéneses). As oposicies podem gerar conflitos. As novas tendéncias se desenvolvem a0 destruir antigas estrururas, culturas einstituigées. © capi- talismo, por exemplo, nfo nasceu frontalmente do desenvol- -vimento das forgas produtivas do mundo feuidal. Como 0 de~ ‘monstrou Baechiler, cle inicialmente apareceu como parasita na sociedade feudal na qual se auto-cco-desenvolveu, cor- rompendo ¢ decompondo esta sociedade. Assim sendo, o jogo do vir a ser € de uma prodigiosa complexidade. A hist6ria inova, deriva, desorganiza-se. Ela muda de tilho, descarrila-se: a contracorrente suscitada por 16 ‘uma corrente se mescla coma corrente, ¢ 0 descarrilador tor na-sea corrente. A evolucio & deriva, transgressio, criagio; 6 ‘eita de rupturas, perturbacoes, crises. O desenvolvimento da indiistria fez-se nio sobre o solo da civilizagio precedente, ‘mas ao revirar de ponta-cabeca a sociedade tradicional, de portando em massa os camponeses dos faubourgs, destruindo 6s lagos e as solidariedades sob a relacio monetiria, arruinan- do as culturas milenares. Além do mais, existem sucessdes critica, “crsicas” ¢ in certas nas quais a hist6ria hesita, seja pelo influxo de forcas Contrarias que temporariamente se anuilam ente si, seja em ‘momentos de bifiareagées onde se operam cleigdes, abrem-se stucessies,seja nas bifurcages que geralmente se apresentam rnos premtincios de um futuro aventureito. A partir desse mo~ ‘mento, basta uma fraquissima inflexto inicial, qualquer pe- queno deslocamento, uma eventualidade, uma de quer, para que todo o curso seja desviado. Ho} athistoria carrega em seus flancos uma carga explosiva mortal € poderia explodir em pleno voo. Assim, no jogo de redemoinhos das inovagées/transgres~ soes/tendéncias/contratendéncias/cismogenes/morfogéneses/ conflitoy‘crises/reviravoltas, que € o jogo do vir ser, sem ces sar se produzem desvios ¢realinhamentos dos processos, per _mutagio dos fins transformando-se em meios e meios trans formando-se em fins, transformagio dos produtos principais ‘em subprodutos ¢ vice-versa. Desse modo, a poluicéo, sub- produto da industrializacio, pode vir a ser seu produto prin- Cipal. Os beneficios vitais da reducio da mortalidade infanel podem desencadear os perigos mortais de um “apagio” de- mogrifico...E, tudo isso, novamente, pode softer uma revi- ravolta, comtanto que se corrija ou se melhore a técnica, que se multiplique a produgio dos nutrientes e que se melhore sua '3, Faubourg ¢ umtermo arcic francés que pode se aproximar de nossa x bressdo portuguesa subirto, Sua forma mass antiga & Forsbour, dervada {0 latin for, ora de" Os faubourgs 880 corsderados os precursores dos ‘suburbs europeus (NT) 7 partilha, Assim, nenhum fator pode ser considerado como duravelmente estivel, constante, isolivel na averiguacio con creta do vira ser c, deste fato, nada pode ser predito categori= ‘amente; tudo deve ser conjecturado condicionalmente. Por todas as razSes anteriormente indicadas, a evolugio injo segue em absoluto 0 processo que parece proviivel num, determinado presente. Este tiltimo nio conhece a inovagio ue ainda nao aconteceu; nio conhece os embrises micros COpicos que accleradamente ainda vio se desenvolver; nio sabetia prever os efeitos das incontiveis inter-retro-agies que constituem a verdadeira eausalidade complexa; enfim, no percebe a inversdes de sentido e as permutagées de fina~ lidades que ainda mareario os processes futuros. A partir esse momento, o farturo pertence mais ao improvivel do que ao provivel, sobretudo se a evolugéo continua de forma tio acelerada © miitipla como aquela que nosso século co- hece. De fato, 0 passado mio se cansa de nos indicar que a evolucio € evolugio somente quando ela nio seguiut 0 pro- cesso provivel. Os firturdlogos da era secundéria, vindos de além galaxia observar a Terra, nio teriam predito que os enormes dinossauros hiperencouracados reinando entio em nosso planeta teriam desaparecido alguns minutos césmicos depois de seu triunfo, para ceder sew lugar aos peqenos ma- ifferos desarmados. Eles nao teriam podido supor que no universo vegetal constituido por modestos habitats verdes re- Pentinamente pudessem desabrochar exuberantes flores mul- ticores. Da mesma forma, a aventura do homo sapiens teria sido imprevisivel einconcebive! 20 futur6logo retornado a0 nosso planeta fxécem mil anos. E que, hi menos de quinze mil anos, 40 contemplar uma digspora humana de pequenos grupos de ‘agadores e coletores seminémades, sem Estado, sem cidade, sem agricultura, este visitante tivesse podido prever o surgi= mento do Estado, da cidade, do império, Isto significa dizer que um principio irredutivel afeta 0 fturo, Mais ainda: 0 pequeno orificio através do qual vemos 18 © futuro enche de incerteza o presente, sobre o qual certa~ mente no saberfamos determinar o(5) sentido(s), atingir 0 passado, afetando toda a aventura humana (que, se culminar ‘num aniquilamento at6mico, transformar-se-ia num fracas so absoluto) (O reconhecimento de tal incerteza nao nos deve fazer re- ‘nunciar somente 3s previsdes simpl6rias e débeis que deram, Fama aos institutos de futurologia dos anos de 1960. Ele deve nos trazer a incerteza como resposta as nossas atuais certezas Ele deve igualmente nos levara enfrentar a grande dificulda- de central: pensar nosso presente, isto é, os movimentos de nosso mundo atual (O grande progresso trazido pela década de 1970 tem sido ‘oreconhecimento da incerteza, Este € primeiro sentido que ‘encerra o termo “crise”: 0 aparecimento da incerteza lé onde tudo parecia seguro, regrado, regulado e, portant, predic vel. Os economista e socidlogos “bungueses” dos anos 1960 acreditavam que a sociedade “industrial”, depois “pés-indus~ trial”, repousava em alicerces seguros, que estivamos pratica- ‘mente no fim da hist6ria, no momento quase derradciro da coroagio da “sociedade ideal”, aquela que traz paz, seguranga e bem-estar a todos os seus dependentes, e que o futuro, em stuma, nlo seria senao a continuacio de tm presente afetado por uma taxa de crescimento estivel (nosso simpitico socié~ logo do “lazer” sequer diagnosticou uma “taxa de crescimen= to cultural”!). Do outro lado, o marxismo oficial garantia que a revolugio fundamental estava assegurada Ii onde reinava 0 regime stalinista, identificado com o “socialismo real”. Ora, hoje comecamos a compreender que nao é somente 0 Oci- dente que entrou numa crise econdmica e cultural, mas que osalicerces de ambas as sociedades estio a deriva, fendem-se, eque oplaneta esté em transes vulcanicos e “em via de desen- volvimento”, Entrevemos que nenhuma estrela rege o fatu- ro, que este esta mais aberto do que nunca aos sécutlos prece- dentes, jé que doravante cle comporta, a0 mesmo tempo, a possibilidade de aniquilamento da humanidade ¢ aquela de 19 ‘um progresso decisivo da humanidade, ¢, entre estas duas possibilidades extremas, todas as combinacoes, todas as mes- clagens, todas as justaposigbes de progresses € regressbes slo possiveis Precisamos, pois, considerar o entrelagamento entre pas- sado/presente/futuro, tendo presente o sentido das comple- xidades préprias da evolucio historica, Prever, a partir deste momento, é explorar o sentido das turbuléncias do presente. Hinao se trata mais de querer controlar o futuro, Trata-se de velar, espreitar na e com a incerteza. Como trabalhar com esta incerteza? Interrogando o século anterior. O século das crises - O século em crise ‘Olhemos para o século XX, mas com um olhar binocu- lar. Supondo que um olho do espirito nao veja senso o aspec- to continuo, ¢ 0 outro senao o descontinuo, deparamo-nos com tantas dificuldades para ligar estes dois aspectos quantas, sio as dificuldades de compreender que um fenmeno mi- crofisico possa ser simultaneamente onda e stomo. Assim, como primeiro olho vemos 0 continuum progres sivo, aparentemente linear, dos desenvolvimentos cientii- co-técnicos, econdmicos, industriais, consumistas, cviiza- trios; € € exatamente esta a visio que reina nas concepgé sociolégicas tecnoburocritics. ‘Mas, abramos o segundo olho: este vislumbra um século vulcanizado pelas duas maiores guerras da historia da huma- nnidade, ambas mundiais. Estas guerras no apenas massacra- ram e exterminaram poptlagoes inteiras; nao sio apenas res- saca de barbirie oriunda do coragio mesmo da civilizacio, deflagradas pelas nagdes mais evolufdas do universo, notada- ‘mente pela pitria da poesia, da mtisica eda filosofia; elas tra- ‘zem também tremendas crises sociais, rupeuras no vir a ser do mundo, abortos dos processos de emancipagio. 20 Aguerra de 1914-1918 nao somente engendrou o comu- nismo de aparetho, no qual se transformou o bolchevismo de guerra civil cestrangeira, posteriormente seguido pelo fascis- ‘mo italiano e, apés quinze anos de crises ¢ convulsdes, pelo nazismo, que, por sta vez, gestou a Segunda Guerra Mun- dial, A guerra de 1914-1918 destruiu algo possve: suprimiu outra evolucio representada pelos nomes de Jaurés Liebk- echt; ¢ sio os dejetos pruridos desta historia destrufda que infectaram e infestaram o século XX. Este século bifircou-se em 1914, depois em 1917. Nao podemos saber para onde ele poderia ter ido, mas podemos pensar que poderia ter comado outro rumo. A hist6ria humana talvez tenha eapotado, abor- tado entre 1914 ¢ 1918, ¢ nfo 0 sabemos ainda, jé que as con sequéncias dessa catistrofe ainda nio se realizaram completa- mente. Sendo assim, eis duas vias para compreender © século XX: uma de progresso do desenvolvimento ¢ de aparente ra~

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