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Aldo Bizzocchi
** Permanncias **
Mas as equaes ser/ter = permanncia e estar/estar com = impermanncia no esto livres de contradies, contra-exemplos e casos espinhosos, que demandam a investigao do nvel cognitivo hiperprofundo
da linguagem para ser explicados. Um amigo meu, professor de portugus para estrangeiros, certa vez me
relatou que, ao explicar em aula a diferena semntica entre ser e estar, um aluno americano lhe perguntou: se ser definitivo e estar passageiro, por que se diz ele est morto em vez de ele morto, j
que a morte definitiva e irreversvel? Essa pergunta, aparentemente ingnua, desnuda toda a problemtica que subjaz ao uso desses dois verbos supostamente inofensivos.
Afinal, se nossa idade muda todos os anos, por que dizemos ora ela tem 30 anos ora ela est com 30
anos? E por que
meu filho ainda jovem, mas meu av (ou est) muito velho? E por que o portugus pergunta onde (ou fica) a igreja?, revelando a estaticidade de um prdio, ao passo que, na mesma
situao, o espanhol indaga dnde est la iglesia?
A bem da verdade, muitos desses usos so estereotipados e, portanto, no obedecem a uma lgica resistente a toda prova. So idiossincrasias que todas as lnguas apresentam. () Mas h casos que podem,
sim, ser explicados luz do nosso conhecimento sobre a cognio humana.
No exemplo estar vivo/morto, o uso de estar em lugar de ser se justifica em termos pragmticos: sabemos que uma pessoa viva tende a permanecer viva at que algo provoque sua morte, bem como sabemos
que, embora a morte seja um evento certo (alis, o nico evento certo da existncia humana), a probabilidade de morrermos antes de ficarmos velhos relativamente pequena; por isso, a vida vista como estado
permanente quando se diz naquele tempo, a minha av ainda era viva.