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Aplicacao da lei no tempo 1. Enquadramento geral 1. Emuenciado do problema As fontes do direito sao produzidas num de- terminado momento e as regras que elas contém entram em vigor num certo momento. Quando N ( lei nova) verifica- ocorte a vigéncia da ~se a revogacio da LA (= lei antiga) (cfr. art. 7.%, n° 2, do CC). A revogagao da LA pela LN per- mite assegurar a coeréncia do sistema juridico, porque ela evita que vigorem duas leis sobre a mesma matéria, mas nao resolve todos os pro- blemas relativos a lei aplicdvel, j4 que - como € quase inevitdvel — ha situagdes juridicas (S}, SJ, «+ $],) que se constitufram na vigencia da LA e que transitam para a vigéncia desta LN. Em esquema, o problema apresenta-se da se- guinte forma: 2, Exemplificagto casuistica O problema da aplicagao da lei no tempo pode ser esclarecido com alguns exemplos: (i) Accelebra com B um contrato de miituo de uma certa quantia monetéria através de mero acordo verbal; antes do cumprimento das obrigacdes, decorrentes do contrato, uma LN vem exigir a forma escrita para os contratos de mtituo relati- vos aquela quantia; (i) C celebra com D um con- trato de compra e venda de um automével; antes da execugao do contrato, uma LN vem regular diferentemente as relagdes entre os contraentes; (iii) Be F contrairam um casamento catélico; na altura da celebragao do casamento nao era ad- mitido o divércio, mas uma LN vem admitir 0 divércio, mesmo para os casais casados catoli- camente; (iv) G pratica um crime; depois disso, uma LN descriminaliza a conduta de G. 3. Prinetpios orientadores 3.1, Referéncias da LN 2) Os problemas relatives & aplicagao da lei no tempo decorrem da sucessao de leis para re- gular uma mesma realidade. De molde a facilitar aclareza nesta matéria, impde-se uma distingio entre duas possfveis referéncias da LN. ALN pode referir-se a factos juridicos, isto 6, a tealidades que ocorreram num determina- clo momento e num determinado lugar. Nestes factos juridicos, ha ainda que distinguir duas modalidades: (i) 0s factos instantaneos, ou seja, os factos de verificacdo instantanea; por exemplo: a cele- bragdo de um negécio juridico, a conduta que provoca o fogo, a morte de uma pessoa; (Gi) 0s factos duradouros (ou situagées de fac- to), isto 6, os factos que perduram no tempo; por exemplo: o tempo necessério para a aquisicho da propriedade por usucapido (eft. arts. 1294, 1295.2, n.° 1, 1298.° ¢ 1299.° do CO), 0s prazos de prescrigao (cfr, x. ¢, arts. 309.°¢ 310.° do CC), a doenga protongada que justitica a aposentacto do funcionario. }) ALN também pode referir-se a efeitos jus ridicos. Nestes efeitos, importa igualmente con- siderar duas modalidades: (3) 08 efeitos instantaneos, ou seja, as con sequéncias imediatas de factos juridicos; por exemplo: o efeito translativo do contrato de comprae venda (cfr. art. 879.°, alinea), doCO), 9s efeitos da morte (°) (ii) as situagdes juridicas, isto é, as conse- quéncias duradouras de factos jurfdicos; por exemplo: as relagdes patrimoniais entre os eGn- juges, a situagao de arrendatario ou de trabalha, dor, 0 diteito de propriedade. 43.2. Fundaneentos dos prinefpios Segundo Barista MacHapo (1927/1991), na resolugio dos problemas relativos & aplicagso da lei no tempo ha que escolher entre um "inte- resse na estabilidade” e um “interesse na adap- tagao” (). Sobre estes interesses conflituantes, afitma Barrista Mactiaoo 0 seguinte: “o interesse na estabilidade pode achar-se mais ou menos fortemente radicado: podem, designadamente, aparecer posi¢des jurfdicas particularmente merecedoras de tutela, como 0 seriam aquelas que certa doutrina qualifica de «direitos legitimamente adquiridos»” @); = “0 interesse na adaptacio pode ser mais ou ‘menos premente, ¢ tanto pode abranger o inte- esse de terceiros, 0 interesse da seguranca do comércio juridico, como um interesse ptiblico geral, a saber, um interesse geral da comuni- dade juridica (interesse na adaptacao as novas, realidades sociais) ou um interesse de politica legislativa (interesse na unidade e homogenei- dade do ordenamento, factores de seguranca € pressupostos da igualdade juridica). Nao é possivel ao legislador renunciar a tealizagio deste interesse, sob pena de protelar indefini- damente as reformas legislativas ou a vigéncia ©) Wienceen, Die jurstsche Sekunde dlr Konstruktonsjurisprudens, FS Brik Wolf, Frankfurt am Main, 1962, p. 421, refere-se 2 importancia do “segundo juridico", isto 6, do momento que separa uma situagto ju ridica de uma situagao posterior. ©) Barmisin Maciiano, Sobre a aplicaga no tempo do novo Coigo CiellCosos de aplicosdeimediatlCritérios funda 12’, Coimbra, 1968, p. 56. (6) Barre Maciado, Sobre a aplicngie no tempo do nove Cadigo Civil, pp. 56 © se, ur Legitimation efectiva da‘ 1as novas leis, com o consed} agravamento dos males soci aques dar remédio" (* 3.3, Enunc ido dos princtpios 4) A resalugao dos conflitos de leis no tempo orienta-se pelos princfpios da nao retroactividl: de da LN e da apticagao imediata da LN. Ano retroactividade da LN constitui um reflexo do interesse na estabilidade e é também uma garan- tia do Estado de Direito, dado que ela assegura que factos passados ¢ efeitos jé produzidos nao sao abrangidos pela LN. Fm concreto, esta ndo retroactividade da LN significa o seguinte: (a LN nao se aplica a factos passados (F, F,, .-., F,), isto €, a factos que ocorreram antes da entrada em vigor da LN: La———_— | LN —— BL By (Gi) a LN no se aplica a efeitos passados (E,, E, .... E,) isto & a efeitos que se produziram e se extinguiram durante a vigéncia da LA: LA—— E,E, | LN —- b) A aplicagdo imediata da LN reflecte o ifi- teresse na adaptagdo e constitui uma exigencia do Estado de Direito e do cardcter tendencial- mente abstracto e genérico das regtas jurfdicas, Desta aplicacao imediata da LN decortem qua tro consequéncias: (@) a LN aplica-se a todos os factos futuros (FF, «. B,) que venham a ocorrer na sua vi- gencia La——__——+ | LN — yinD0, Sobre a aplicagto no tempo do woe (ii) a LN aplica-se a todos os efeitos futuros , E,) que venham a produzie-s vigéneia: La— Ey Ey .uE, (iii) a LN aplica-se a todos os factos juridicos (B, B,,..., F,) quese tenham iniciado na vigéncia da LA eque ainda estejam em curso no inicio de incia da LN: FL Fy ou F, (iv) a LN aplica-se a todas as situagées juridi- cas (SJ, SI, ...,5J,) que se tenham constituido na vigéncia da LA e que nao se tenham extinguido antes da vigéncia da LN: LA——> | LN —— V Sy Ty ---r SI, Il. Direito transitério 1. Nogio O direito transitorio (ou direito intertempo- ral) resolve os problemas suscitados pelos con- flitos de leis no tempo. 2. Modatidades 2.1, Enunciado das modatidades O direito transitério pode ser material ou formal. O diteito transitério material fixa um regime especifico para determinados factos ou efeitos juridicos, isto 6, institui um regime que no coincide nem com o da LA, nem com o da LN. Encontram-se alguns exemplos de regras de direito transitério material nos arts. 6.° a 23.° do Din. 47344, de 25/11 /1966 (cujo art. L apro- vou o actual Cédigo Civil). O direito transitério, formal escothe, de entrea LAea LN, qual 6a lei aplicdvel a um certo facto ou a um determinado efeito juridico. Direito transitéria form O direito transitério formal comporta regi- mes especificos, um regime especial eum re- gime geral. Os regimes especificos do direito tzansitorio formal vigoram em alguns ramos do. direito, Assim, no direito penal, vale o principio da aplicagao retroactiva da LN que for mais £ vordvel ao agente (art. 29.°, n.° 4, 2 parte, da CRP; art. 2.°,n.° 4, do CP};no direito processual, vale a regra da aplicagio imediata da lei relati- va 8 forma dos actos (art. 142, n.° 1, do CPC) € dos requisitos da exequibilidade dos titulos executivos (cfr. art. 46.° do CPC; cfr. ac. do ST} de 18/2/1986, BMJ 354, p. 467; ac. do TRE de 22/6/1999, BM] 488, p. 421). O regime especial do direito transitério for- mal encontra-se estabelecido no art.297.° do CC, relativo a alteragao de prazos, e o regime geral do direito transitério formal consta dos arts. 12.° © 13° do CC. Este iltimo regime geral é também © regime legal supletivo, 2.3. Regras de conflitos O direito transitério formal escolhe se a lei aplicdvel ao facto ou ao efeito juridico é a LA ou a LN, Isto significa que o direito transitério formal € constitufdo por regras de conflitos, isto 6, por regras que determinam, através de uma escolha entre a LA e LN, qual a lei competente para regular um certo facto ou um certo efeito juridico, Como ja tinha sido intuido por Savicny (1779/1861), hé uma identidade entre os contfli- tos de leis no espago e no tempo: nos conflitos de leis no espago, as leis encontram-se “ao lado uma da outra” (neben einander) e, nos conflitos de leis no tempo, as leis surgem “uma apés a outra” (nach einander) (). AAs regras de conflitos destinadas a resolver 05 conflitos de leis no tempo tém uma estrutu- ra idéntica as regras de conflitos que procuram () Sasieny, Systems des heutige Ranschen Rechts VE, Belin, 1849, p. 369. solucionar os contlitos de eis no espaco, Em. concreto, essas regras de conflitos comportam, uma previsio, um operador dedntico e uma estatuigao: (i) a previsio contém dois elementos, 0 ob- jecto ¢ o elemento de conexao: (i) 0 abjecto de conexao define o campo de aplicacao da regra de conflitos, servindo-se, para isso, de um conceito- -qadro; no caso das regras de direito transitério,, este conceito-quadro é 0 facto ou 0 efeito juridi- co que se procura determinarse é regulado pela LA ou pela LN; (i) 0 elemento de conexao & 0 elemento utilizado peta regra de conflitos para estabelecer a conexaio com a LAou com aLN;no caso das regras de direito transitério, o elemento de conexdoéa ocorréncia do facto ou a produgao do efeito na vigencia da LA ou da LN; (i) 0 operador deéntico é um operador de comando, dado que as regras de conflitos defi- nem a regra que deve ser aplicada na resolugao, do conflito de leis no tempo (ili) a estatuigao éa determinagao da lei com- petonte para regular o facto ou 0 efeito jurtdico. IIL Solugées do conflito 1. Enunciado A resolugao de um conflito de leis no tempo pode ser obtida através da aplicagao imediata da LN, da sobrevigéncia da LA, da retroactividade da LN ou da retroconexdo da LN. 2. Esquematizagio 2.1. Aplicagao imediata da LN A aplicagao imediata da LN aos factos (F,, By --.» F,) @ aos efeitos juridicos (E, By... E,) que ocorrem ou se produzem apés a entrada em vigor da LN pode ser visualizada da seguinte forma LA LA- A aplicacao imediata da LN aos factos (F,, yn) que transitam do dominio de vigéncia da LA para o da LN pode ser esquematizada da se- F,, soo F,) € 208 efeitos juridicos ( guinte forma: +1 LN—— LA———— LA——— 2.2, Sobrevigéncia da LA A sobrevigéncia da LA, ou seja, a aplicagao da LA mesmo a factos (Fy Fy... F,) ea efeitos juridicos (E,, F, ....,E,) que transitam do domi nio da LA para o da LN pode ser representada no esquema seguinte: LA 4 Fy Fy oF 1LN—— 2.3. Retroactividade da LN A retroactividade da LN, ou seja, a aplicagao da LN a factos (F,, Fy a efeitos juridicos (E, Ey _ F,) que ocorreram ou _E,) que se produ- Ziram (ou se moditiearam ou seextinguiram) no dominio de vigéncia da LA pode ser visualizada nos esquemas seguintes 2.4. Retroconexdo da LN A retroconexdo da LN, ou seja, a utilizagio pela LN de factos (F,, Fy... F,) que ocorreram, durante a vigéncia da LA para a produgao de efeitos jurfdicos (By E,, .... B,) durante a vi- géncia da LN pode ser representada da seguin- te forma LA 3. Regime legal 3.1. Andlise geral ‘Tendo presente o disposto nos arts. 12.°¢ 13° do CC, as solugées possiveis distribuem-se da seguinte forma: a aplicagao imediata da LN en- contra-se prevista no art. 12.°, n.1, 12 parte, ¢ 2, 24 parte, do CC, neste iiltimo caso quando 0 contetido da situagao jurfdlica ndo for modelado. pelo respectivo facto constitutivo; a sobrevigén- cia da LA esté estabelecida no art. 12.%, n.°2, 1! parte, do CC; a retroactividade da LN encontra- “se prevista nos arts. 12%, n.° 1, 2." parte, ¢ 13.°, n# L, do CC; a retroconexao da LN esté prevista no art. 12.%,n.° 1, 12 parte, do CC, embora ape- nas de forma implicita. 3.2. Titulo constitution Do exposto resulta que ¢ importante deter- minar se a situagao juridica tem um contexicto que depende do seu facto constitutive ou se es- se contetido ¢ independente deste facto. Neste contexto, parece itil recorrer ao titulo que ests na base de qualquer situagao juridica, devendo, entao, admit duas hipateses, ‘Uma delaséaquelaem que o iftulonndo mode- laa situagao juridica, ou seja, em quea situacso juridica tem sempre o mesmo contetido, qual- quer que seja o titulo que aela esteja subjacente. Por exemplo: o contetido do direito de proprie- dade é sempre o mesmo, independentemente do titulo da sua aquisicao (que pode ser, nomeada- ‘mente, um contrato de comprae venda, um tes- tamento ou a usucapiao). Esta hipstese é a que est prev 22 parte, do CC. A outra hipstese € aquela em que o titulo modela a situagao juridica, isto é, em que o con- tetido da situagdo juridica varia de acordo com © respectivo titulo constitutivo, Por exemplo: 0 contetido, definido pelas partes, de um contrato de comodato ou de mtituo determina os corres- pondentes direitos e deveres, Esta hipétese 6 re- gulada pelo art, 12., n.° 2, 12 parte, do CC. 3.3. Orientagio metodolbgica O referido demonstra que a melhor maneira de interpretar o art. 12, n°2, do CC 6 conside- rar que hé uma alternatividade entre o que se dispde na primeira ¢ na segunda partes desse preceito. IV. Critérios supletivos gerais 1. Aplicagio imediata da LN 1. Factos jurtdicos O prinefpio da aplicagao imediata da LN a0 factos juridicos encontra-se expresso no art. 12.8, n° 1, L* parte, do CC, ao estabelecer que a lei 86 dispoe para o futuro. Este preceito sig- nifica que a LN regula quer os factos juridicos que ocorram apés a sua vigéncia, quer 0s factos duradouros que se iniciaram na vigencia da LA, e que se mantenham no momento do inicio de vigéncia da LN. Por exemplo: a lei que altera a lista das doengas prolongadas que permitem que o funciondrio requeira a sua aposentacao é de aplicagao imediata aqueles que se encontrem afectados por alguma dessas enfermidades. 1.2. Efeitas instantaneos Quando referida a efeitos juridicos instanta- neos, a aplicagao imediata da LN implica que 80 abrangidos pela LN os efeitos que se produzam (ou que se modifiquem ou se extingam) depois do seu inicio de vigéncia. A constituigdo de um efeito juridico pode decorrer da conjugacao de factos que ocorreram, na vigéncia da LA e de factos que se verificaram, na vigéncia da LN. Por exemplo: a atribuigio a alguém da qualidade de herdeiro testamenta- rio do de cuius pode resultar da elaboragio do testamento na vigencia da LA e da morte do de catius na vigencia da LN, Em hipsteses como a descrita verifica-se a formagao sucessiva de um efeito juridico, o que, todavia, no impede a aplicacao imediata da LN. Assim, por exemplo, aquele que tinha sido designado como herdeiro ‘em testamento elaborado na vigéncia da LA, & que deixa de o poder ser por imposigéio da LN que vigora no momento da abertura da suces- sao, perde aquela sua qualidade. 1.3. Situagdes juridicas ‘Aregra da aplicagao imediata da LN as situa- {gBes juridicas que se constitufram na vigéncia da LA e que transitam para o dominio da LN consta do art. 12.°, n.° 2, 2 parte, do CC. Para que se verifique a aplicagdo imediata da LN a essas situagoes juridicas, & necessério, como se estabelece naquele preceito, que a LN disponha directamente sobre o contetido de certas situa- Ges juridicas, abstraindo dos factos que thes deram origem, ou seja, abstraindo do seu titulo constitutive. Nesta hipstese, o titulo nao modela ‘© contetido da situagao juridica, pelo que nada obsta & aplicacdo imediata da LN. E, assim, pos- sivel elaborar o seguinte quadro: Titulo ndo modeiador LAsdefine LN: define conteiidox —_conteddoy LN paraaS} para aS} Podem ser referidos alguns exemplos de aplicagio imediata da LN que incide sobre o contetico de situagées juridicas, independente rente do titulo que Ihes esteja subjacente: (i) 0 Gireito dos familiares da vitima a uma pensdo vitalicia, como reparagdo do acidente de traba: Iho, surge com a morte do sinistrado, momento no qual se criou, ex lege, uma situagao juridica, de natureza duradoura, sem qualquer conexao directa com o facto que Ihe deu origemy assim, 6 imediatamente aplicavel a LN (ac. do ST] de 8/6/1994, BM] 438, p. 440); (ii) a LN sobre o re- gime da responsabilidade do empreiteiro pelos efeitos da obra perante do prédio (cfr, art. 1225.9, n.° 1, do CC) ime- diatamente aplicavel a favor destes adquirentes, (ac. do TRL de 30/4/1998, BM) 476, p. 477); (ii) a LN sobre o regime da transmissao do direito a0 arrendamento a quem viva em comum com © falecido arrendatario hé mais de um ano (fr. art. 1106.%, n° 1, alinea b), do CC) & de aplicagao imediata aos contratos de arrendamento subsis- tentes a data da sua entrada em vigor (cfi. ac. do TRC de 8/4/2003, C/ 2003/2, p. 34; ac. do ST] de 22/4/2004, CH/ST} 2004/2, p. 45); (iv) a denincia do contrato de arrendamento ¢ regu: ada pela lei vigente ao tempo em que é opera- daa declaragéo de dentincia do contrato (ac. do ‘TRP de 3/2/2004, C] 2004/1, p. 172); (v) a qua- lidade de titular de direito de preferéncia deve ferceiros adquirentes ser apreciada perante a lei vigente na altura da alienagao do prédio, pois que é nese momento que se constitui o direito de preferéncia (ac. do TRC de 16/2/1994, BM] 434, p. 693). 2. Sobrevigéncia da LA 2.1. Gemeratidades A sobrevigéncia da LA esté prevista no art. 12°, n.° 2, 1: parte, do CC: verifica-se a sobre- vigéncia da LA sempre que a LN se referir as condigdes de validade de um acto juridicoou a0 contetido de situagdes juridicas que nao possam abstrair do seu titulo constitutive. juridico produzido com base num titulo mode. lador anterior & sua vigéncia, Como, quando 0 titulo modela os eteitos, a regra éa sobreviggncia da LA (cfr. art. 12.°,n.°2, 14 parte, do CC), a pro- dugio de novos efeitos ou a extingao de efeitos jd produzidos s6 podem ser obtidas através da retroactividade da LN. Por exemplo: 0 contra- to celebrado pelas partes (F,) tinha produzido apenas um efeito juridico (E,); a LN que extrait uum outro efeito juridico (E,) do mesmo contrato (F,) 6 uma lei retroactiva 3.2. Admissibilidade da retronctividade O principio € 0 da nao retroactividade da LN (art. 12.%, n.° 1, 1 parte, do CC), mas este prin- cipio comporta duas excepgdes: a LN pode ter eficacia retroactiva (art. 12.°, n.° 1, 2.* parte, do CC)ea lei interpretativa tem cardcter retroactive (art. 13.%, n° 1, do CO). 3.3, Limites a retroactividade Arretroactividade da LN implica que o passa- do se torna, sob o ponto de vista juridico, dife- rente daquilo que foi realmente. Sao justificados, por isso, alguns limites a retroactividade da LN sempre que haja que salvaguardar determinades interesses que ndo devam ser atingidos por um regime juridico retroactive. Na Constituigdo da Reptiblica Portuguesa encontram-se as seguintes limitagdes & retroac- tividade da LN: as leis restritivas de direitos, liberdades ¢ garantias nao podem ter efeito n° 3, da CRP); a lei penal inctiminatéria nao pode ser retroactiva (cfr. art. 19.",n.° 6, da CRP), dado que ninguém pode ser sentenciado criminalmente senao em virtude de retroactive (art. 18. lei anterior que declare punivel a sua acgio ou ‘omissdo (ullum crimen sine lege; nulla poene si- ne lege) (art. 29.°, n.21, da CRP; art. 1°, n.° 1, do 0 CP),a lei que regula a competéncia dos trit criminais nao pode ser retroactiva, dado que ne: nhuma causa pode ser subtrafda ao tribunal cuja competéncia esteja fixada em lei anterior (art 32°, n29, 1a CRP); a lei que cria impostos nic pode ser retroactiva (art. 103°, n.° 3, da CRP) 34. Lei retronctiva Quando a LN tenha eficécia retroactiva, pre- sume-se que ficam ressalvados os efeitos ja pro- duzidos pelos factos que ela se destina a regular (art, 12°, n° 1, 2 parte, do CC). Por exemplo: sea LN retroactiva regular 0 cumprimento das obrigagies decorrentes de contratos jé celebra- dos, ela nao afecta as obrigagSes ja cumpridas. 3.5. Lei interpretatiea 4@) Alei interpretativa ¢ a lei que realiza a in- terpretagio auténtica de um acto normativo, 0 {que pressupde o cardcter interpretativo (isto 6, nao inovatorio) daquela lei. A lei interpretativa integra-se na lei interpretada (art. 13°, n° 1, do CC), 0 que significa que se cria a ficgao de que o sentido estabelecido pela lel interpretativa coin- cide com o tinico sentido que a lei interpretada sempre comportou. E por isso que a lei interpre- tativa é uma lei retroactiva, Dado que a lei interpretativa tem cardcter retroactive, nos casos em que esteja constitucio- nalmente excluida a retroactividad haver quaiquer lei interpretativa retroactiva. As- sim, por exempto, uma lei restritiva de direitos, © pode berdades ou garantias $6 pode ser objecto de ‘uma lei interpretativa sem eficécia retroactiva (cfr. art. 18.%, n.° 3, da CRP). b) A retroactividade da fel interpretativa no 6 irvestrita, ou seja, essa retroactividade ndo atin- Be todos os factos passados ¢ todos 0s efeitos jé produzidos. Segundo o disposto no art. 13.5, n= 1, do CC, a retroactividade da lei interpretativa nao atinge nem 0 cumprimento da obrigacao, nem a sentenga que adquiri a forca de caso julgado por nao ser impugnavel (oft, art. 677, do CPC), nem a transacgao (cfr, art. 1248.°, n. 1, do CC) ¢ 08 actos analogos. A transacgao é 0 contrato pelo qual as par- tes previnem ou terminam um litigio mediante reciprocas concessdes (art, 1248.°, n.° 1, do CC). Quando seja realizada em ju(zo (cfr. art. 29 n° 2, do CPC), a transaccao tem de ser homolo- gada pelo tribunal da causa (art. 300.2, n.° 3, do CPC). No entanto, mesmo a transaccao judicial nao homologada nao é afectada pela retroacti: vidade da lei interpretativa (cfr. art. 13.°, n2 1, do CO), pelo que o acordo que as partes alean- caram através da transacgio nunca é atingido por aquela retroactividade Nos actos de natureza anéloga a transac¢ao referidos no art. 13°, n.° 1, do CC incluem-se a desisténcia do pedido realizada pelo autor (cfr. art, 293.%,n.° 1, do CPC) ea confissio do pedido da iniciativa do réu (cfr. art. 293°, n.° 1, do CPC) A desisténcia e a confissao também nunca sao abrangidas pela retroactividade da lei interpre- tativa (efr. art. 13.°,n.°1, do CC), mas, enquanto no forem homologadas pelo tribunal da causa (art, 300.%, n.° 3, do CPC), elas podem ser revo~ gadas pelo desistente ou confitente a quem a lei interpretativa seja favordvel (art, 13.°, n.° 2, do CC). Por exemplo: o réu confessou-se devedor de 1 000; depois disso, entra em vigor uma lei interpretativa que realiza uma interpretagao da regta que fundamentou a confissdo segundo a qual o réu 86 pode ser responsavel por 500; até a homologacao da confissao, o confitente pode revogar a sua confissdo (art 13.%, n.° 2, do CC), ©) Alei pode apresentar-se como interpretati- vadle uma outraleie vira verificar-se que, afinal, ela tem um contetido inovador. Nesta hipétese, a lei falsamente interpretativa deve ser tratada como qualquer lei inovatéria, ndo Ihe podendo ser atribuido qualquer cardcter retroactive, por- que, na ordem juridica portuguesa, a regra é 0 cardcter ndo retroactivo da LN (cfr. art, 12%, n° 1, 1. parte, do CC). Perante uma lei falsamente interpretativa, 0 aplicador tem de a considerar como qualquer lei inovatéria e nao como uma lei que, apesar de nao ser interpretativa, tem cardcter retroactive (°) 3.6. Retroactividade in mitius a) ALN pode ser menos exigente quanto aos requisitos de validade formal ow substancial de um acto juridico do que a LA. Em prinefpio, es- sa circunstancia nao tem qualquer reflexo sobre 08 actos juridicos praticados durante a vigencia da LA: 6 0 que decorre do disposto no art. 12°, no 2, 1. parte, do CC, de acordo com o qual a aplicagao imediata da LN nao torna validoo que era invélido na vigéncia da LA. A solugao é diferente se a LN dispuser que se consideram validos os actos juridicos que, tendo, sido praticados durante a vigéncia da LA, preen- chem os requisitos de validade determinados pela LN, Por exemplo: a LN que diminui os im- pedimentos ao casamento pode considerar va lidos os casamentos, subsistentes a data da sua entrada em vigor, que tenham sido celebrados com violagdo de um impedimento matrimonial que agora deixou de vigorar. Fala-se, entao, de uma lei confirmativa ¢ de uma retroactividade in mits }) © problema torna-se mais complicado quando aLN nao tenha um sentido confirmativo, €, portanto, quando nao se possa falar de uma retroactividade int mitius expressa: cabe, entdo, perguntar em que condigiies pode ser reconhe- cida uma retroactividade in mitius técita a uma LN que diminui os requisites de validade de um acto juridico. A resposta a esta questo nem sempre pode ser a mesma. Se 0 acto juridico nao estiver @ produzir quaisquer efeitos no momento da entrada em vigor da LN, hé que aplicar 0 disposto no art. 12°, n°2, 12 parte, do CC, nao se verificando (0) Diterentemente, Ouveina Ascessio, O Dineitoltnto gio ¢ Teoria Geral %, Coimbra, 2005, p. 6 qualquer retroactividade in mitius da LN. Por exemplo: 0 acto juridico foi anulado ou onegécio juridico nulo nunca foi cumprido por nenhuma das partes; neste caso, ndo se justifica atribuir qualquer retroactividade int mitius & LN. Em contrapartida, se o acto juridico, apesar de invalido, estiver a produzir efeitos no mo- mento do inicio de vigéncia da LN, hé queenten- der que esta lei produz um efeito confirmativo do acto invélido e verifica-se uma retroactivida- de in mitius da LN. Por exemplo: o contrato de arrendamento é invalido quanto a forma, masas, partes vem cumprindo as respectivas obrigacdes, dele decorrentes ¢ esto a fazé-lo quando a LN entra em vigor; nesta hipétese, justifica-se reco- nhecer a retroactividade in mitius da LN 3.7. Graus de retroactividade a) O art. 12°, n° 1, 2¢ parte, do CC dis que, quando a LN tenha uma eficécia retroacti- va, se presume que ficam ressalvados os efeitos j@ produzidos pelos factos que ela se destina a regular. Neste contexto, a presungao constante doart. 12°,n21,2." parte, doCC significa queo egislador pode atribuir a uma LN uma retroac- tividade diferente daquela que se encontra es- tabeletida nese preceito: em vez de ressalvar todos os efeitos produzidos antes da entrada em vigor da LN, o legislador pode ressalvar apenas alguns desses efeitos. Isto demonstra que a re- troactividade da LN pode ser consagrada em diferentes graus. Um confronto entre o disposto no art. 12.,n.° 1, 22 parte, do CC e 0 estabelecido no art. 13°, n° I, do CC mostra o seguinte: 0 art. 12.°, n° 1, 22 parte, do CC presume que ficam ressalvacos da eficacia retroactiva da LN todos os efeitos ja produzidos pelos factos por ela abrangidos; em contrapartida, ort. 132,n.° 1, doCC s6 ressalva da eficacia retroactiva da lei interpretativa al- guns efeitos (em concreto, aqueles que decorram do cumprimento de obrigagies, de sentencas transitadas em julgado e de transacgées ¢ actos, anélogos). Esta comparagio entre o art. 12.5, n° 1,2° parte, do CC eo art. 13.2, n 1, do CC tam- bém demonstra que a retroactividade pode ser consagrada em diferentes grause que a retroac- tividade prevista no art. 12°, n.° 1, 2 parte, do CCé menos ampia do que 2 retroactividade es- tabelecida no art, 13°, n.° 1, do CC. b) O exposto demonstra que existem varios graus possiveis de retroactividade: a retroactivi- dade da LN pode ser mais ou menos ampla, isto 6, ela pode abranger mais ou menos factos pas: sadlos ou efeitos jé produzidas. A pergunta que imediatamente se coloca é a de saber até onde & possivel ir a retroactividade da LN. A resposta € dada pelo disposto na Consti tuigdo da Reptiblica Portuguesa sobre 08 efei- tos da declaragdo da inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma norma, com forga obriga- téria geral, pelo Tribunal Constitucional. Esta declaragao produz efeitos desde a entrada em, vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal (art. 282.°, n° 1, da CRP), mas, em geral, ficam ressalvados dos efeitos dessa declaragao ‘98 casos julgados (art. 282.°, n.° 3, da CRP), isto 6, as decisdes transitadas em julgado que foram, proferidas com base na norma que o Tribunal Constitucidnal declarou inconstitucional ou ile- gal. Algo de semethante se dispde no art. 76.°, 1n.°3, do CPTA para a declaragao da ilegalidade de regras administrativas pelos tribunais admi- nistrativos. Pode assim concluir-se que, na ordem jari- ica portuguesa, o caso julgado nao pode ser atingido por uma LN de cardcter retroactivo. Se nem a declarago de inconstitucionalidade ou de ilegalidade de uma norma pode afectar © caso julgado, hé que concluir que o legislador nao po- de atribuir a uma LN uma retroactividade que atinja esse mesmo caso julgado. E este, por isso, o limite a retroactividade no ordenamento just ico portugues: todos os factos ¢ todos os efeitos podem ser atingidos pela retroactividade da LN, com excepgio daqueles que estejam definidos em decisdo com valor de caso julgado. 2.2. Condigoes de vatidade A sobrevigéncia da LA esta estabelecida no art. 12.°,n.°2, 1 parte, do CC: quandoa LN dis- puser sobre as condig6es de validade substan- cial ou formal de quaisquer factos, entende-se, em caso de diivica, que s6 visa os factos novos. Dito de outro modo: a essas condigdes de vali- dade aplica-se a LA. Assim, pode elaborar-se 0 seguinte quadro: Disposigao legal Lei aplicavel La:validade LN: invalidade La dex dex Lasinvalidade LN: validade dey dey oo Como exemplos de sobrevigéncia da LA po- dem ser referidos os seguintes: (i) aLA admitia a celebracdo de um determinado negécio juridico por forma verbal; a LN passa a exigir a forma escrita na celebragio dese negécio; os negocios que foram verbalmente celebrados durante a vigencia da LA permanecem validos; (ii) a LA exigia a escritura publica como forma de cele- bragao de um certo negécio juridico; a LN passa a admitir a celebragao desse negécio por forma verbal; os negécios que foram verbalmente cele- brados durantea vigéncia da LA eram invalidos (cfr. art. 220° do CC) e continuam a sé-lo de pois da vigéncia da LN; (iii) a LA considera que um certo vicio da vontade (erro, dole, coaccao moral) constitui causa de nulidade do negécio juridico; a LN estabelece que essa mesma falta determina apenas a anulabilidade desse negé- cio; os negécios celebrados durante a vigéncia da LA permanecem nulos. 2.3, Contetido de situagbes Quando a LN disponha sobre o contetido de uma situagao juridica e nao seja possivel abstrair lo respectivo facto constitutive, nao pode veri- ficar-se a aplicagao imediata da LN hipstese nao ¢ enquadravel no disposto no art. |, pois que a 12.8, n2 2, 22 parte, do CC; logo, ha que aplicar a essa hipdtese 0 estabelecido no art. 12.%, n° 2, 12 parte, do CC, pelo que o contesido da situa- Gao juridica continua a ser regulado pela LA, Dito de outra forma: quando a EN incide sobre 0 contetido de situagdes juridicas, verifica-se a sobrevigéncia da LA se o titulo constitutive dessas situagies tiver um efeito modelador so- bre o seu contetido. a seguinte tabela: , assim, possivel elaborar Titulo modelador Lei aplicavet LA:define LN: define contevdox —_conteddo y LA para] paraaSJ Como exemplos de sobrevigencia da LA so- bre 0 contetido de situagdes jurfdicas podem ser mencionados 0s seguintes: 0s efeitos da mora no cumprimento so regulados pela lei do tem- po de celebragao do contrato (ac. do TRC de 28/6/1994, BM] 438, p. 558); 08 efeitos do nao cumprimento ou do cumprimento defeituoso do contrato sao regulados pela lei vigente na momento da sua celebragao (ac. do TRE de 6/7/1995, CJ 95/4, p. 257); 08 efeitos de uma condluta ilicita sao definidos pela lei em vigor no momento da realizagao da conduta. 3, Retroactividade da LN 3.1. Generatidades ALN € retroactiva quando ela se aplica a factos jé corridos ou a efeitos ja produzidos, Por exemplo: a LN que determina o montante indemnizatrio (E,) que ¢ devido pela prética de um facto ilfcito anterior a sua vigéncia (F,) é uma lei retroactiva: LA | LN— 4 FE, -—— ALN também é retroactiva quando ela pro- duz um efeito juridico ou extingue um efeito ©) Do afirmado resulta que, na ordem juridica portuguesa, sao admissiveis as seguintes moda- lidades da retroactividade, a que correspondem outros tantos graus de retroactiviclade: (i aretroactividade ordinaria é a que respeita todos 0s efeitos jé produzidos antes da entrada em vigor da LN; encontra-se prevista noart, 12.°, n° 1, 24 parte, do CC; (ii) a retroactividade agravada ¢ a que res- peita determinados efeitos produzidos antes, da vigéncia da LN, mas que atinge outros efei- tos igualmente jé produzidos antes desse mo- mento; encontra-se consagrada no art. 13.°, n.° 1, do CC; (iii) a retroactividade quase-extrema é a que 36 respeita 0 caso julgado obtido antes da vi- géncia da LN; esta retroactividade é a mais for- te que é admissivel no ordenamento juridico portugués. 4, Retrocomexda da LN 4,1, Generalidades “Aretroconexdo decorre do preenchimento da previsio da LN com factos passados ou efeitos j4 produzidos. A retroconexao nao conduz a qual quer alteracao do passado, mas a definigso do presente em fungao de factos ou efeitos do pas- sado. Por exemplo: suponha-se que a LN passa a estabelecer a transmissdo do arrendamento a || quem viva, ha mais de um ano, em economia || comum com o falecido arrendatario (cfr. art. || 1106.%,n.° 1, alinea b), do CC); dado que esta lei 6 de aplicacao imediata aos arrendamentos em curso (art, 12.°, n.° 2, 2. parte, do CC), verifica~ -se uma situacao de retroconexao quando esse prazo ja se encontrar completado no momento em que aquela LN entrou em vigor (cfr. ac, do TRC de 8/4/2003, C/ 2003/2, p. 34; ac. do ST} de 22/4/2004, CI/STJ 2004/2, p. 45). 4.2. Modatidades da retroconexao A retroconexdo pode ser total ou parcial. A retroconexdo ¢ total quando o facto ou o efei- to que serve de previsdo da LN jé se verificou totalmente no passado. Por exemplo: (i) a LN encurta 0 prazo da separagao de facto que per- mite requerer o divércio de seis para trés anos (cfr, art. 1781.2, alinea a), do CC); a aplicacao da LN a um prazo que jé se encontrar preenchido no momento do infeio da sua vigéncia implica a retroconexao total dessa LN; (ii) uma funda- ao institui um prémio para os estudantes de Direito que tenham obtido uma determinada classificagao nos dois anos lectivos anteriores; nesta parte, o regulamento do prémio constitui uma hip6tese de retroconexio total Aretroconexo é parcial quandoa previsdo da LNengloba quer factos que ocorreram ou efeitos que se produziram na vigéncia da LA, quer fac tos ou efeitos que se verificaram na vigéncia da LN. Porexemplo: (i) a conduta que desencadeou ‘odano na satide do lesado foi praticada durante a vigéncia da LA, mas este dano s6 se revelou na vigéncia da LN; a aplicagao desta LN ao direito de reparacao do lesado implica uma retrocone- xo parcial daquela LN; (ii) 0 acidente de tra- balho ocorreu na vigéncia da LA, mas o direito & pensao nasceu na vigencia da LN; a remicio dessa pensdo é regulada pela LN (ac. do TRP de 27/11/2000, €} 2000/5, p. 248), o que pressupde uma retroconexfo parcial desta lei. 4.3, Limtites da retroconexdo A retroconexao ¢ distinta da retroactivida- de, mas alguns limites desta so extensiveis a retroconexéo, Assim, por exemplo: a proibigio da aplicacao retroactiva da lei penal (fr. art. 29, n.° 4, da CRP) implica igualmente a im- possibilidade de uma LN extrair, para o futuro, guaisquer consequéncias penais de uma conduta que era Ifcita quando foi praticada; a proibigao da retroactividade das leis restritivas de direi- tos, liberdades e garantias (cfr. art. 18.°, n.° 3, da CRP) determina a impossibilidade de uma LN retirar quaisquer consequéncias do exerci- cio licito de um direito ou do gozo legitimo de uma liberdade ou garantia; a necessidade de a lei retroactiva respeitar 0 caso julgado (cfr. art. 282. nore para o futuro n° 3, da CRP) impede que uma LN 0 j 44.Co A retroconexio conduz a aplicagao imediata igraciio da retroconexto da LN. Em conereto, na retroconexdo total, a LN 6 aplicada imediatamente a factos ow a efeitos totalmente passados; na retroconexo parcial, a LN éimediatamente aplicada, em parte, afactos ow a efeitos passados e, em parte, a factos ou a efeitos presentes. Dado que a retroconexao pressupoe sempre a aplicagio imediata da LN a certos factos ou efeitos (que, pelo menos em parte, jé pertencem ao passado quando a LN entra em vigor), ha que considerar que ela se encontra consagrada no art. 12.°,n.° 1, 1 parte, do CC. V. Critério supletivo especial 1. Generalidades art. 297." do CC estabelece uma regra espe- cial para a sucessio de leis sobre prazos. O regi- me legal ~ que, note-se, s6 ¢ aplicavel aos prazos que estejam em curso no momento da entrada em vigor da LN ~ varia consoante a LN estabe- Jeca um prazo mais curto ou mais longo. 2. Aplicagio do regime 2.1. Diminuigto do praze ea LN estabelecer um prazo mais curto do que a LA, a LN ¢ imediatamente aplicavel aos prazos que ja estiverem em curso, mas 0 prazo sé se conta a partir da entrada em vigor da LN, anaoser que, segundo a LA, falte menos tempo para o prazo se completar (art. 297.2, n= 1, do CC). Por exemplo: a LA estabelecia um prazo de cinco anos e a LN define um prazo de dois hipéteses: (3) quando L.N entra em vigor faltam trés anos para se complelaro prazode cinco anos, situagio, so possiveis as seguintes estabelecido pela LA: 0 prazo passa a sero prazo de dois anos fixado pela LN, mas ele s6 se conta 4 a partir do inicio de vigencia desta LN; (i quan doa LN inicia a sua vigéncia falta um ano pata se completar o prazo de cinco anos determinado pela LA: como o tempo que falta (um ano) é me- nor do que © prazo fixado pela LN (dois anos), 0 prazo completa-se quando decorrer um ano. 2.2, Aumenta do praxo Se a LN fixar um prazo mais longo do que aquele que era definido rela LA, aLN é imedio- tamente aplicavel aos pra:. sem curso, mas com .e-d neles todo o tempo decorrida desde (© seu momento inicial (art, 297, n.* 2, do CC). Esta solugo coincide com a aplicagao imediata da LN estabelecida no art. 12.°, n° 1, 12 parte, do CC. Por exemplo: a LA definia um prazo de putar cinco anos e a LN estabelece um prazo de dez anos; suponha-se que, quandoa LN iniciou a sua vigéncia, é tinham decorrido trés anos do prazo; © prazo completa-se ao fim de sete anos. 3. Campo de aplicagio 3.1. Extensao O art. 2972, n.° 3, do CC determina que as regras relativas a sucessao de leis sobre prazos sao igualmente aplicaveis, na medida do pos- sivel, aos prazos fixados pelos tribunais ou por qualquer outra autoridade. Res a) Importa verificar se 0 disposto no art. 297°, igo n* 1e 2, do CC é aplicavel a todos os prazos que sejam fixados por uma LN. A resposta é ne- gative, por varios motivos. Antes do mais, 0 art. 297, ne Le 2, do CC nao 6 aplicavel quando 0s prazos tenham sido definidos pelas partes ou quando estas nao tenham esti jado quaisquer prazos e tenham aceite os prazos legais supleti- vos (cfe,, por exemplo, arts. 453°, n? 1, € 929. n.° 1, do CC), Nesta hipstese, nada justifica que se afaste a solugio que vale, em termos gerais, para as estipulagies negociais: dado que o con- tedido das situagies decorrentes de negdcios ju ridicos nao abstrai do respectivo titulo constitu- tivo, ndo the é aplicavel o disposto no art. 12°, ° 2, 2 parte, do CC, pelo que, quanto a esse ne contetido, se veritica a sobrevigéncia da LA. Relativamente a aplicacdo do regime estabe- lecido no art. 297.° do CC aos prazos legais —isto 6, aos prazos definidos pela lei ¢ indisponiveis pelas partes ~ ha que considerar duas situagoes. Se a LN aumentar 0 prazo que consta da LA, aplica-se sempre 0 disposto no art. 297.%, n.° 2 do CC, que, alids, ao consagrar uma hipétese de retroconexao parcial, coincide com a regra da aplicagao imediata da LN que se encontra esta- belecida no art. 12°, n.° 1, 12 parte, do CC. Em contrapartida, se a LN encurtar 0 prazo que esté determinado pela LA, importa distin- guir duas hipéteses. Se a aplicagao imediata do prazo mais curto criar um desequilfbrio entre as partes, no sentido de que uma delas é beneficia- da em detrimento da outra, nao pode ser aceite a mera aplicagdo imediata da LN nos termos do art. 122, n.° 1, 1+ parte, do CC, mostrando-se, em contrapartida, que o art. 2972, n.° 1, do CC acautela suficientemente os interesses de todas as partes. Por exemplo: (i) 0 decurso do prazo de usucapiao faculta ao possuidor do direito de propriedade ou de um outro direito real de go- 20 a aquisicdo deste direito (art. 1287.° do CC); a aplicagao imediata de um prazo mais curto de usucapido traduz-se num prejuizo efectivo do (ainda) proprietario ox titular do direito real, pelo gue hé que apticar o art. 297.%, nL, do CC; (i) 0 decurso do prazo de prescricao torna a obrigacso inexiggvel (art. 3042, n= 1, do CC); a aplicagao imediata de um prazo mais curto traduz-se num prejutizo efectivo do credor, pelo que também de- ve ser aplicado 0 art. 297.%, n.°1, do CC, No entanto, se a aplicacao imediata do prazo mais curto nao originar nenhum desequilibrio entre as partes, nomeadamente porque qualquer delas pode beneficiar desse mesmo prazo, asolu- G0 € a aplicacao imediata da LN de acordo com odisposto no art. 12.°, n° 1, 1" parte, doCC, no havendo qualquer necessidade de aplicar o art 297, n2 1, do CC. Por exempio: a LN encurta © prazo de separagdo de facto que & necesséria para requerer o divércio (eft. art. 1781.°, alineas a)€ b), do CC) ou a conversao da separagao em. divércio (fr. art, 1795.°-D, n° 1, do CC); como qualquer dos conjuges pode requerer o divorcio ou a conversao da separagdo em divércio, ame- ra aplicagao imediata da LN segundo disposto no art, 12.°,n.° 1, 1. parte, do CC nao prejudica nenhum detes (cfr. ac. do ST} de 3/5/2000, BM 497, p. 369 = CI/ST] 2000/2, p. 38; ac. do ST] de 5/7/2001, CH/ST] 2001 /2, p. 164; diferentemente, ac. do TRL de 4/11/1999, BM] 491, p. 316). Micurt. Terxena pe Sousa

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