Vous êtes sur la page 1sur 11
VOLUME XIlIl- ANO 1971 BOLETIM lo Instituto Histérico, Geografico e Etnografico Paranaense CURITIBA, 1971 INSTITUTO HISTORICO, GEOGRAFICO E ETHOGRAFICO PARANAENSE Fundado em 24 de maio de 1900 Sede prépria: Rua José Loureiro, 43 Curitiba - Parana - Brasil DIRETORIA PRESIDENTE: Luis Carlos Pereira Tourinho 1? VICE-PRESIDENTE: Julio Estrella Moreira 2° VICE-PRESIDENTE: Valfrido Pilotto 3° VICE-PRESIDENTE: Edwino Tempski 1° SECRETARIO: Riad Salamuni 2° SECRETARIO: Altiva Pilatti Balhana TESOUREIRO: José Gonzaga Vieira DIRETOR DO BOLETIM: Ruy Christovam Wachowicz Adress: - Rua José Loureiro, 43 CURITIBA - PARANA - BRASIL PEDE-SE PERMUTA Pede-se permuta On demande |'echange Oni petas intersangou Man bittet un Austausch Si richiede scambio We ask for exchange A CULTURA PAYAGUA E SUAS POSSIVEIS CORRELACOES COM A CULTURA TUPIGUARANI (*) Igor Chmyz (**) & Ariete Alice Schmitt Centro de Ensino e Pesquisas Arqueolé- gicas - Universidade Federal do Parana. INTRODUGAO As primeiras evidéncias, em territorio brasileiro, apontando para a cultura Payagua, foram encontradas em prin cipios de 1969. Integrados no Programa Nacional de Pesqui- sas Arqueologicas (***), e, dando prosseguimento aos traba lhos de prospecgdes no baixo rio Iguacu, estabelecemos um (*) Trabalho apresentado nas "Primeras Jornadas Histéricas del Guaird.con motivo del 4? Centenario de la. Fundacion de Villa ‘Rica del Espiritu Santu - Paraguay", em 20 de julho de 1970. (**) Bolsista do Conselho Nacional de Pesquisas. (#*%*) 0 Programa Nacional de Pesquisas Arqueolégicas (PRONA PA) resultou de uma rewrido de pesquisadores, durante um Se~ minarto organizado em 1964 pelo Centro de Ensino e Pesquisas Arqueolégieas da Universidade Federal do Parana. Do Progra- ma participam pesquisadores e professéres de 11 Universida- des e Museus brastletros, contando com 0 co-patrocineo do Con selho Nacional de Pesquisas e do Smithsonian Institution, e, com a colaboragao do Patriménto Histérico e Artistico Nacio nal. No Estado do Parana, desde 1965, foran pesquisados sistematt camente, trechos dos rios Paranapanema, Tibagt, Ivat Iguagu e Parana. Os resultados das pesquisas do Pronapa estado sendo publica- dos regularmente pelo Museu Pavaense Emilio Goeldi, de Be- lem, na aua sérte de Publtcagées Avulsae. -61- acampamento-base @ margem esquerda do rio Parana, um pouco acima da cidade brasileira de Foz do Iguagu. Deste acampa- mento, as prospeccoes arqueologicas irradiaram-se em varias diregoes. Trinta sitios arqueoldgicos foram encontrados ao longo dos rios Parana e Iguacu. Alguns sitios representavam os remanescentes de uma cultura pre-ceramista, outros, da cultura Tupiguarani, e, outros ainda, de uma cultura com ca xacteristicas um pouco diversas da anterior. Tendo em vista as recentes pesquisas arqueologicas em varios pontos do ter ritorio brasileiro, com o objetivo especial de esclarecer a origem, rotas de migragoes e contatos da cultura Tupiguara ni, acreditamos que as evidéncias encontradas ao longo do rio Parana poderao contribuir futuramente para uma melhor compreensao dos possiveis contatos havidos entre a cultura Tupiguarani e a cultura Payagua. Um resumo sobre as manifestagoes culturais da area focalizada, esta sendo editado pelo Museu Paraense Emilio Goeldi, de Belém, na sua série de "Publicagdes Avulsas" Pesquisas arqueoldgicas no médio e baixo rio Iguacu. Tambem, um trablho especifico sobre os sitios que sugerem a presen ga da cultura Payagua em territorio brasileiro, esta sendo publicado pela Revista da DPHAN, no Rio de Janeiro (vér Bi- bliografia). < > ° zt aw at a DADOS ECOLOGICOS E ARQUEOLOGICOS Cerradas capoeiras e algumas Arvores de porte con ' sideravel, cobriam a area abrangida pelas pesquisas. Atual- mente pode-se avaliar o potencial da primitiva flora plu- : vial sub-tropical da area, pela Reserva Florestal de Foz do Iguacu. Pequenas rogas de milho e mandioca eram encontradas esparsamente na orla fluvial. As plantacoes mais extensas e racionais, concentravam-se nas terras altas, afastadas do curso fluvial. Nas partes altas, o terreno é constituido pelo so 1o avermethado, resultante do derrame do Trapp-Parana, com arenitos edlicos inter-trapp. Nas porgoes ribeirinhas,o ter FIGUEA 1, Locelizagiio dos sitios de fase Icaraima ao longo 40 rio Paran& e situacdo da Area pesquisada. -62- -63- reno era arenoso, de formagao aluvional recente. Esta @ a _ constituigao, também, das ilhas ao longo do rio Parana. Os dados climaticos para a regiao sao, ainda, in- suficientes. Nos meses quentes, de setembro a fevereiro, ob serva-se uma temperatura média de 22,72 C, e, nos meses frios, a média de 18,7? C, com incidéncia de geadas. As pre cipitagoes atingem 1.712 mm anualmente, sendo pouco mais @ centuadas no semestre de verao (Maack, 1968:129). O povoamento da regiao por elementos europeus é re lativamente recente, datando de fins do século passado. En tretanto, desde o seculo XVI varias expedigoes exploradoras percorreram a regiao. Dessas penetragoes, resultaram muitas informagoes sdbre os povos indigenas encontrados. Explorado res mais recentes, de fins do seculo passado e _principios do atual, e que ainda encontraram a regiao dominada pela den sa mata pluvial sub-tropical, referem-se a remanescentes de indigenas, principalmente os pertencentes ao grupo lingtlis- tico Tupi-Guarani (Baldus, 1936:753; Schmidl, 1954:94; West phalen, 1958:46; Chmyz, 1963:102). ~ Juntamente com os mais recentes informes etnologi cos, surgem os dados arqueologicos com as viagens do pesqui sador argentino Ambrosetti, na iltima década do século pas, sado. Os vestigios, principalmente ceramicos, apontavam pa— ra uma ocupacao mais antiga de indigenas pertencentes ao mesmo grupo Linglistico Tupi-Guarani (Ambrosetti,1895:520). Os sitios arqueoldgicos que comentaremos especifi camente no presente trabalho, constituem a fase Icaraima. 0s vestigios de outros povos que encotramos nas proximidades dos sitios desta fase, foram batizados como: fase Pirajui, fase Ibirajé e fase Sarandi. A primeira fase @ caracteriza da pelas evidéncias liticas: raspadores plano-convexos, cir culares, terminais e com escotaduras, talhadores, picoes e facas, todos lascados em arenito silicificado, melafiro e diabasio. Estas evidéncias apontam para a mesma _ tradigao cultural das fases Ivai e Timburi, localizadas, respegtiva- mente, nos vales dos rios Ivai e Paranapanema (Chmy z, 1969b:98; 1967:62). Apresentam, também, certas correlacoes com os niveis preé-ceramicos do sitio de José Vieira, situa- do na mesma area da fase Ivai, e datado, pelo C-14, em -64- 4.723 + 355 anos a.C. (Laming & Emperaire, 1959:81; Laming Emperaire, ms). As fases ceramicas Ibirajé e Sarandi pertencem a tradicio Tupi-Guarani. Segundo os tipos decorativos diagnos ticos da primeira fase, poderiamos considera-la como de tram sicgao entre as subtradigoes Pintada e Corrugada ( Pronapa, 1969:18). A fase Ibiraje poderia ser correlacionada com as fases Guajuvira e Imbituva, localizadas no alto rio Iguacu, e com a fase Tamboara, no médio rio Ivai (Chmyz, 1968:178; 1969a:103). A fase Sarandi pertence a subtradicao Escovada e a presenta correlagoes com as fases Caloré e Tibagi, pesquisa das respectivamente nos vales dos rios Ivai e Tibagi. A FASE ICARAIMA Os sitios arqueolégicos pertencentes a fase Iearai ma eram pouco extensos e de pequena profundidade. Jaziam em ilhas do rio Parana, e, a margem do mesmo, em terrenos de for macao aluvional, numa altitude de 162m a.n.m. (fig.1). Tan to os sitios encontrados em ilhas, uma delas conhecida como Ilha de Acarai e localizada .um pouco acima da Ponte da Ami zade, como o situado na margem brasileira do rio Parana, © cupavam areas medindo cérca de 20 x 15 m. Os restos arqueo= légicos espalhavam-se pela superficie. Raros cacos foram en contrados ate 15cm de profundidade. Nao havia diferenga de coloragao do terreno ocupa do pelas evidéncias arqueologicas em relagao 4 periferia. 0 solo era composto por | areiade cor amarela-acinzentada. Nas ilhas havia uma incidéncia maior de seixos rolados, mistura dos com a areia. Ainda nas ilhas, constatamos que uma _porgao_dos si tios (PR FI 7 e PR FI_20) ficava exposta a acao das aguas do rio Parana, por ocasiao das cheias. Segundo as informacoes dos moradores ribeirinhos, as cheias mais pronunciadas che gavam a cobrir totalmente os sitios arqueologicos. lfuitos cacos estavam com as superficies erodidas e pobidas pela agao das aguas. Ja o sitio encontrado na margem brasileira, -65- ocupavam uma elevagao pronunciada, impossibilitando a per- turbagao causada pelas enchentes do rio Parana. Como a estratigrafia dos sitios localizados nas ilhas havia sido destruida pelas aguas, e, a do sitio encon trado em solo firme, pelos recentes trabalhos agricolas,pro cedemos a uma coleta superficial de seus tragos culturais. Da coleta praticada nos trés sitios resultaram 400 cacos de ceramica e 10 pecas liticas. As evidéncias ceramicas. K primeira vista, 0 ma terial ceramico coletado pareciese muito com outras eviden cias arqueologicas encontradas na area e pertencentes a tra digao Tupiguarani. Em laboratério foi efetuada a classifica a0 ceramica segundo as teCnicas decorativas. Constatamos o emprego de apenas uma variedade de antiplastico em todos os tipos ceramicos: misturada a argila havia muita areia ate 1 mm, além de grande quantidade de hematita, cristal de ro cha, quartzo leitoso e ceramica moida, até 4 mm. Em alguns cacos constatamos, ainda, carvao vegetal e mica. A classificagao revelou a seguinte tipologia: Ica raima Simples, Icaraima Vermelho, Icaraima Pintado, Icarai- ma Corrugado-ungulado, Icaraima Corrugado-leve,Icaraima Cor rugado-complicado, Icaraima Corrugado-espatulado,Icaraima Cor rugado-escovado, Icariama Escovado e Icaraima Inciso (para maiores detalhes, ver Termtnologia arqueolégica brastletra para a ceramica - 1966 e 1969). Houve certo problema na classificacao da ceramica em virtude do mau estado de conservacao de alguns espécimés, Das amostras coletadas nas ilhas, muitos cacos estavam ero didos pelo contato periédico das Aguas. Os antiplasticos a floravam como pequenos nédulos, e, a decoragao, apresentava -se extremamente afetada. Mesmo os cacos coletados no sitio elevado (PR FI 3) apresentavam-se trincados e em processo de desagregacao pela incidéncia dos raios solares. A técnica de manufatura dos recipientes predomi- nante @ a acordelada, embora ocorram alguns casos que suge- rem o emprégo de tdrno de roda. Nao encontramos pecas cera- micas completas. As reconstituigoes da figura 2 foram reali zadas atraves das bordas e de cacos que correspondiam as -66- QE BOC QO FIGURA 2. Formes cerémicas reconstitufdas na fase Icaraime. porgoes do bajo e da base. Os labios geralmente eram arre- dondados, havendo alguns planos e apottados. As bases eram arredondadas e, raramente, conicas. As evidencias liticas. Das dez pegas liticas en- contradas nos sitios da fase Icaraima, nenhuma apresentava trabalho de retoque. 0 arenito silicificado foi a matéria- prima mais utilizada. Poucas pecas foram lascadas em melafi vo. Classificamos os artefatos segundo a sua possivel fun— gao: raspadores com escotaduras e facas. CONSIDERACOES PARCIAIS. A tipologia da cerdmica da fase Icaraima guarda certa semelhanga com a da tradicao Tupiguarani. Embora nao estejam representadas todas as variagoes decorativas, o con junto estudado aproxima-se bastante da subtradigao Escova— da, daquela tradigao. | 0 tipo Icaraima Escovado e o mais po- pular no conjunto ceramico, justamente o tipo diagndstico daquela subtradicgdo Tupiguarani. Todas as variagdes do corrugado, comuns naquela tradicao, tambem estao representadas na fase Icaraima, embo ra com pouco intensidade. Entretanto, a morfologia consegui da com o material ceramico da fase Icaraima, aliada a ou- tros fatdres, possibilita uma série de consideracoes bastan te interessantes. Na fase Icaraima sao comuns as formas glo bulares, cOnicas e de meia calota. Algumas dessas formas, ocorrem, também, na tradigdo Tupiguarani. Porem nao ha, na fase Icaraima, pecas carenadas. Aparecem, nos sitios da fase Icaraima, de maneira muito rara, cacos de ceramica de fatura diferente. Estes e lementos poderiam ser considerados intrusivos na fase Icara ima e pertencentes a tradigao Tupiguarani. Outro fato que chama a atengao, em relagao aos si tios da fase Icaraima, é a localizacgao dos proprios sitios: dos prospeccionados, dois foram encontrados em ilhas, e, ou tro, imediatamente a margem do rio Parana. Os sitios locali zados nas ilhas, pelo menos uma vez por ano, ficam totalmen te submersos em conseqlléncia de enchente. A natureza e a disposigao das evidéncias arqueologicas nos referidos si- -68- tios, apontam para o seu carater de acampamentos rapidos. Diferem muito das demais evidencias arqueologicas encontra das na mesma area, nas.quais se percebia um sedentarismo mais acentuado. Compulsando a bibliografia arqueolégica e etnoldgi ca da area relacionada as pesquisas, encontramos um apoio extraordinario nos artigos de Max Schmidt sobre os indios Payagua. Utilizamos, para as nossas consideragdes, as infor magoes de Max Schmidt constantes na "Revista de la Sociedad Cientifica del Paraguay" (Nuevos hallazgos pré-historicos del Paraguai - Tomo III, n? 3, 1932 e Tomo III, n? 5, 1934) e na "Revista do Museu Paulista" (Los Payagua - Vol. Ill, NS, 1949). © termo Payagua esta envolvido numa série de con- trovérsias. Alguns autores pretendem liga-lo ao nome do rio Paraguai (Paraguay = rio dos Payagua), outros consideram-no vocabulo Tupi-Guarani (Pa — yagua = golpe — clava). Estes Indios, no inicio de seu contato como ele- mento europeu, em 1528, recebiam denominagoes diversas, se- gundo a sua localizagao ao longo do rio Paraguai: os seten- trionais (lat. 219 5' S) eram conhecidos como "Cadigue" ou "Sarigue", e, os meridionais (lat. 25° 17' S), como “Agace™ Pela primeira vez, em 1612, durante uma expedigao de Sebas. tian Gaboto, quando esta foi atacada por mais de 300 canoas destes indios, aparece a citagao sobre os "Agaces que sao os Payaguas". Posteriormente, o térmo Payagua foi empregado pa ra designar todos estes indios, independetentemente de sua localizagao. Métraux refere-se aos Payagua como piratas que, com suas longas canoas de imbé, infestavam os rios Paraguai e Parana. Abordavam embarcacoes espanholas e saqueavam povoa dos ribeirinhos. Tinham o costume de habitar ilhas ao longo do rio Paraguai (Métraux, 1946:224). Max Schmidt fala, tam- bem, de cemitérios Payagua em ilhas fluviais. Suas hostilidades eram dirigidas principalmente con tra os Tupi-Cuarani, seus vizinhos imediatos. Os espanhdis, ao se aliarem aos Tupi-Guarani, tornaram-se automaticamente seus opositores. Em fins dé século XVIII, apos uma longa jornada de -69- ataques, massacres e derrotas, os Payagua estabeleceram-se nos arredores de Assungao, conservando entretanto, seus an- tigos costumes. O seu nomadismo ainda era latente, pois fre qlentemente abandonavam Assungao para viverem em outros lu- gares. Comerciavam com os espanhois e paraguaios seus produ tos manufaturados, principalmente ceramica. ~ Da outrora numerosissima populagao Payagua, resta vam 1.000 no ano de 1800. Vinte anos mais tarde, estavam re duzidos a 200. Max Schmidt entrevistou, em 1940-41, talvez a Ultima remanescente dos Payagua. Pouquissimo se sabe sobre éstes indios, alem_ de seus movimentos belicosos. Existem raras referéncias sobre © aspecto fisico dos Payagua. Os comentarios sao principal- mente sobre a sua elevada estatura: cérca de 1,78m para o sexo masculino. A respeito da lingua, Max Schmidt considera os Payagua como um grupo a parte de todos os grupos indige- nas sulamericanos. Alguns autores, entretanto, encontraram afinidades com o grupo lingufstico Guaikuru, considerando o Payagua um seu ramo (Métraux, 1946:214; Guérios, 1948:18 e 913; Tax, 1960:434). Segundo Schmidt, havia normalmente o processo de mestigagem entre os Payagua e as tribos vizinhas, bem_ como os espanhdis, portugueses e paraguaios . Existem referéncias, igualmente, de mulheres do grupo linglistico Tupi-Guarani levadas prisioneiras pelos Payagua. Na parte referente a ceramica, que @ a que © inte- ressa mais de perto ao nosso trabalho comparativo, verifica se que os Payagua, alm de produzirem os seus proprios reci pientes, tinham o costume de adquirir objetos ceramicos de tribos vizinhas para vendé-los em Assuncgao. Schmidt nos for nece uma colecao de pegas ceramicas coletadas principalmen- te em cemitérios Payagua, além de fragmentos encontrados nos arredores da capital paraguaia. Utilizando as pecas intei- ras que ilustram os seus trabalhos, confeccionamos a figu- ra 3, As pecas foram desenhadas segundo uma mesma escola e poderao ser comparadas com as formas da fase Icaraima,na fi gura 2. Os tipos corrugado e escovado sao os que mais apa recem nas ilustragdes de Max Schmidt. Além do corrugado co- -70- brindo toda a superficie externa das pecas, existem exemplos de uma ou duas fileiras de corrugagoes na porgao superior dos recipientes. Este Gltimo tipo tambem foi encontrado na fase Icaraima. Os labios entalhados e as aplicagoes_ em for- ma de cordoes circundando o bojo da ceramica Payagua, sao comuns e identicos na fase Icaraima. Schmidt observa entre os cacos arrolados, alguns com fatura moderna, provavelmente influenciada pelos para- guaios. Esta ceramica, com evidéncias de trabalho em torno de roda, apresenta-se coberta com engdbo vermelho brilhan- te. Na nossa coleco existem alguns exemplos que poderiam ser comparados aos de Schmidt, como @ 0 caso da forma ins trutiva na nossa figura 2 - C. Forma idéntica e com engdbo vermelho tém ocorrido em sitios historicos, onde houve con tato entre o elemento indigena e o elemento espanhol (Chmyz, 196386 1964:107). Também em fases da tradicao Tupiguara- ni, situadas na mesma faixa temporal daquéles sitios histo- ricos (séc. XVI e XVII) e em outras, mais recentes,aparecem forma e decoragao semelhantes. Como exemple de primeiro ca~ so, poderiamos citar a fase Tamboara, do medio rio Ivai, e do segundo, a fase Caloré, no mesmo trecho do rio vai (Chmyz, 1969:103 e 105). Ao descrever algumas pecas completas da ceramica Payagua, Schmidt anota a grande semelhanga existente entre as decoragoes corrugada e escovada, com a praticada pelos Guarani. Um outro fato que nao pode ser desprezado e 0 com portamento de alguns tipos ceramicos atraves da sequencia cronologica ja conhecida da tradicao Tupiguarani. Na fase Umuarama, uma das mais antigas manifestacgoes desta tradigao no estado do Parana, e que foi localizada no médio do Ivai, os tipos vermelho e corrugado (so estao presentes as varie- dades do corrugado ungulado e corrugado leve) aparecem com pouquissima expressao. O conjunto desses tipos, em relagao aos outros, equivale a 3,60% do total. 0 tipo escovado nao esta representado (Chmyz, 1969:99). 0 sitio de José Vieira pesquisado no médio rio Ivai e cuja camada superficial cons tituida por evidéncias ceramicas correlacionadas com a fase Umuarama,foi datada, pelo carbono radioativo, em 1728 anos antes do presente (Laming-Emperaire, 1962:156). Ainda no me dio rio Ivai foi estabelecida a fase Condor, também perten— cente a tradicgao Tupiguarani e provavelmente derivada da fa =74e iii SLD LD Aa OA iii) Do Chi, FIGURA 3. Formas da cerdmica Payagué, segundo Max Schmidt, -72- se Umuarama. Nos niveis mais inferiores da sua seqlléncia os tipos vermelho, corrugado ungulado, corrugado leve e corru- gado complicado, ja aparecem com mais popularidade e aumen- tam bastante para os niveis superiores. 0 tipo escovado ja aparece, enbora com pouca expressao, nos niveis médios da seriagao e se mantém nos superiores. Uma outra fase, a Cam- bara, pertencente a mesma tradigao cultural,equivalendo cro nologicamente a fase Condor, apresenta as mesmas tendencias dos tipos comentados (Chmyz, 1967:64) Tentar atribuir aos Payagua o papel de introduto- res das decoragoes corrugada, escovada e do engobo vermelho na tradigao Tupiguarani seria, no momento, atual, avangar muito. Pouquissimo se sabe sobre a cultura Payagua. Os tra gos ceramicos apontados correspondem a um periodo bastante recente, abrangendo apenas a época do estabelecimento dos mesmos nos arredores de Assungao. Desconhecemos completamen te, por falta de pesquisas, o acervo cultural dos Payagua no inicio do contato como elemento europeu e anteriormente. Gragas as recentes pesquisas no Parana e em outros estados brasileiros, ja podemos verificar o comportamento, principalmente quanto 4 ceramica, dos tracos decorativos a través | dos tempos. As decoragoes por engobo vermelho e cor— rugagao, com suas variagdes ganham popularidade nas fases mais recentes (Pronapa, 1969). De qualquer maneira, no momento em que tragos cul- turais foram focalizados por Max Schmidt, entre os Payagua, @stes eram parecidos aos arrolados entre os Tupiguarani, na mesma faixa de tempo. Sdmente pesquisas futuras, principal- mente no territorio paraguaio, poderao esclarecer é@ste pal- pitante problema. Através das citagoes de max Schmidt, verificamos que era comum a introdugao de elementos étnicos diferentes, com) o caso das mulheres Guarani, ao seu grupo, bem como a pratica do comércio intermediario. Todos estes fatdres pode riam ter contribuido para a troca de tragos culturais. Nota ~se,entretanto, que apesar da relativa igualdade tipologica da cultura Payagua com a Tupiguarani, as formas ceramicas naquela cultura, como na fase Icaraima, sao bem diferentes no conjunto. =25- 0 objetivo principal destas notas, além de divul- gar maiores detalhes da fase Icaraima, era o de apontar as semelhancas notadas entre as duas culturas indigenas, abrin do um novo horizonte comparativo para futuras pesquisas ar— queologicas. BIBLIOGRAFIA CITADA AMBROSETTI, Juan P. 1895 — Los cementerios prehistoricos del Alto Pa- rana (Misiones). in Boletin Inst. Geogr.Argent., 16, 227-257, 10 fig. 1 pr. Buenos Aires. BALDUS, Herbert 1936 - Ligeiras notas sobre duas tribus tupis da margem paraguaya do Alto Parana (Guayaki e Chiri- pa), in Revista do Museu Paulista, 20, 749-756. Sao Paulo. CHMYZ, Igor 1963 - Contribuigao arqueolégica e histdrica ao estudo da comunidade espanhola de Ciudad Real do Guaira, in Revista de Histéria, 2, 77-115, 4 pr. Curitiba. 1964 - Pesquisas arqueologicas na jazida histori- ca de Ciudad Real do Guaird - Parana, in-Revista do Centro de Estudos Cientificos, 2(7-8),105-107, 3 fig. Sao Paulo. 1967 - Dados parciais sobre a arqueologia do vale do rio paranapanema, in Publicagoes Avulsas. do Mu seu Paraense Emilio Goeldi, 6, 59-73, 2 fig,4 est Belém. 1968 ~ Novas perspectivas da arqueologia Guarani no Estado do Parana, in Anais do II Simp. Arg. Area Prata. Inst. Anch. Pesq., 171-189,2 fig. Sa0 Leopoldo. 1969a - Pesquisas arqueolégicas no Alto e Médio -74- -¢ rio Iguacu, in Publicagoes Avulsas do Museu Para~ ense Emilio Goeldi, 13, 103-132, 2 fig. 6 est. Be lém. 1969b - Dados parciais sobre a arqueologia do va- le do rio Ivai, in Publicagoes Avulsas do Museu Paraense Emilio Goeldi, 10, 95-114, 2fig. 4 est. Belém. 7 “1970 - Pesquisas arqueologicas do Médico e Baixo rio Iguacu, in Publicagoes Avulsas do Museu Para~ ense Emilio Goeldi. Belém (no prelo) 3 CHMYZ, Igor & SCHMITT, Ariete Alice 1970 - Possiveis manifestagdes da cultura Payagua em territorio brasileiro, in Revista da DPHAN, Rio de Janeiro (no prelo). GUERIOS, Rosario F. Mansur f 1948/49 - Dicionario das tribos e linguas indige- nas da América Meridional, in Publicagoes Avulsas do Museu Paranaense, 6 (I-II), 141 p. Curitiba. LAMING, Annette & EMPERAIRE, José 1959 - A Jazida de José Vieira - um sitio Guarani e pré-ceramico no interior do Parana, in Arqueolo- gia. Centro Ens. Pesq. Arq., 1, 143 p, 40 fig, 3 fotos, 1 mapa. Curitiba. LAMING-EMPERAIRE, Annette 1962 - Travaux arqueologiques en Amerique du Sud, in Objets et Mondes, 2 (3), 149-164, 10 fig.Paris. ms — Quelques datations de sites Chiliens. et Bre~ siliens par le radiocarbone. 28 p. datilografadas. MAACK, Reinhardt 1959 - Sdbre o itinerario de Ulrich Schmidel atra~ ves do sul do Brasil (1552-3), in Geografia Fisica 1, 64 p, il. Curitiba. 1968 - Geografia'Fisica do estado do Parana. Pape laria Requiao. 350 p, 253 fig. 109 est. Curitiba. af Be METRAUX, Alfred 1946 - Ethnography of the Chaco, in Handbook of South American Indians, 143 (I), 197-370, 19 fig. 32 est, 2 mapas. Washington. PRONAPA (Progrma Nacional de Pesquisas Arqueoldgicas) 1969 - Arqueologia Brasileira em 1968, in Publica ges Avulsas do Museu Paraense Emilio Goeldi, 12, 33 p, 10 fig. 6 est. Belem. SCHMIDL, Ulrico 1945 - Viaje al rio de la Plata. Emecé Editores SA, Coleccion Buen Aire. 105 p, il. Buenos Aires. SCHMIDT, Max 1932 - Nuevos hallazgos pre-historicos del Para- guay, in Rev. Soc. Cient. del Paraguay, 3 (3), 81-95, il. Assungao. 1934 - Nuevos hallazgos pre-histéricos del Para- guay, in Rev. Soc. Cient. del Paraguay, 3 (5), 132-136, il. Assungao. 1949 - Los Payagua, in Revista do Museu Paulista , NS, 3 129-269, 12 lam. Sao Paulo. TAX, Sol 1960 - Classified aboriginal languages of latin América, in Current Anthropology, 1 (5-6), 431- -436. Chicago. WESTPHALEN, Cecilia M. 1958 — Parana - Zona de transito, in Boletin do Inst. Hist. Geogr. Etn. Paranaense, » 45-55. Cu ritiba. -76-

Vous aimerez peut-être aussi