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Autora: Eri-Chan
Conto De Fada Usado: Chapeuzinho Vermelho
Fandom: The GazettE
Casal: Miyavi x Kai
Classificação: NC-17
Sinopse: Um coração partido. Um doido apaixonado. Um mafioso nervoso. O
que acontece quando se está no lugar errado, na hora errada e carregando o
objeto errado?
Gênero: Suspense, angust leve, comédia, romance, universo alternativo
E-mail: eri_chan2009@yahoo.com.br
Beta: Lady Bogard
E-mail da Beta: udak2003@yahoo.com.br
Disclamer: the GazettE e Miyavi não me pertencem e sim à PS Company, que
detém seus respectivos direitos autorais.
Tsuiseki Fusei Na
Eri-Chan
Mais uma vez eles discutem sobre isso. Já é a centésima vez que acontece só
nessa semana. Parece o fim do mundo. O Armageddon. É sempre assim depois
do almoço. Os gritos, os lamurios. Não há como evitar.
Kai, que está na sala revisando umas lições da faculdade, resolve ir à cozinha
tentar acalmar os ânimos de seus companheiros de apartamento. A cena é a
mesma de todos os dias: Ruki ameaçando o Uruha com uma frigideira por que
este se nega terminantemente a lavar a louça.
Ao ver Kai na porta da cozinha Uruha corre para trás dele, fazendo-o de escudo.
– Pode sair daí Kouyou e vir lavar logo essa louça – manda Ruki ameaçando
jogar a frigideira na cabeça de Uruha.
– Ah, mas o detergente resseca minhas mãos. Não quero ficar com as mãos
iguais as suas Takanori. Senão não poderei tocar minha guitarra. – choraminga
Uruha atrás de Kai.
– Isso não tem nada a ver. O detergente é neutro, então não prejudica a pele. E o
que você quis dizer com não querer ter as mãos iguais as minhas? – o pequeno
se exalta cada vez mais.
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– N-nada. Mas é injusto só eu lavar a louça – Uru desconversa logo.
– Como assim só você lava a louça? A louça do café sou eu que lavo e a do
jantar é o Kai – a cada palavra Ruki eleva a voz e a frigideira.
Vendo que essa discussão não terá um final próximo; Kai, que observa tudo em
silêncio, se adianta e pega o avental amarelo em cima de uma das cadeiras e se
dirige para a pia.
– O que você pensa que vai fazer Yutaka? – rosna Ruki ao perceber as intenções
de Kai.
Kai sorri para si mesmo enquanto lava a louça. Há três anos que divide o
apartamento com seus melhores amigos e desde o primeiro dia Kouyou se recusa
a lavar a louça, sempre com desculpas esfarrapadas.
Morar com seus amigos foi uma decisão acertada. Depois de perder a família
num trágico acidente e ser traído pelo homem que mais amara, ele pôde
encontrar consolo e força junto aos amigos. Da mesma forma que ele, Ruki e
Uruha também tinham sofrido muito.
Ruki, por sua vez, não conseguia realizar o sonho de ser um engenheiro
renomado. Sustentava os pais já com a idade avançada que moravam numa
cidadezinha do interior e o salário curto de um secretário mal dava para ajudar
nas despesas do apartamento. Se não fossem os amigos, provavelmente estaria
em uma situação bem pior.
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Kouyou não queria mais morar com o pai, resolveram dividir o apartamento. E
assim se passaram esses três anos, entre risos e brigas. Juntos eles tinham a força
necessária para seguir em frente.
Kai já se habituara a salvar Uruha da fúria de Ruki. Sempre que tinha um tempo
a mais se voluntariava a lavar a louça do almoço para alívio de Uruha e
desespero de Ruki.
Desistindo de brigar por hora, Ruki vai para a sala assistir televisão. Uruha
permanece na cozinha para enxugar a louça enquanto Kai terminava de lavar.
Ao terminar de arrumar a cozinha, Kai e Uruha vão até a sala onde um Ruki mal
humorado está assistindo ao canal de música. Os dois sorriem da expressão
zangada do amigo e num consentimento mudo pegam almofadas no sofá
jogando no pequeno. Pego de surpresa, Ruki só teve tempo de se desviar de um
segundo ataque, mas acabou caindo do sofá. Kai e Uruha paralisaram, temendo a
reação tempestuosa do amigo. Em silêncio o viram se levantar e olhá-los com
uma expressão transtornada. Já esperando pelos gritos do amigo os dois se
surpreendem com o sorriso radiante que Ruki deu e só perceberam a intenção
por trás do sorriso quando levaram almofadadas na cara. Sorrindo os dois
aceitaram o desafio implícito e assim se inicia uma guerra no meio da sala, onde
as almofadas voadoras eram seguidas pelo som das risadas dos três amigos.
O telefone começa a tocar. Ninguém está muito disposto a atender. Kai, como
sempre o mais solícito, já se preparava para pegar o telefone quando é
interrompido por Ruki:
– Deixa que eu atendo. Não sou preguiçoso como o Uru – sorrindo se desvia de
uma almofada jogada pelo loiro de expressão indignada. Ao atender seu sorriso
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rapidamente se transformou em um esgar de raiva e nojo. Escutou por alguns
minutos sem nada dizer. Ao desligar, levantou do sofá e se aproximou da janela
onde encostou a testa no vidro. Ficou perdido em pensamentos por alguns
instantes e então olhou para Kai com uma expressão de pesar. O moreno
percebendo o olhar do outro perguntou preocupado:
– Era o Daiki-san – Ruki fala em tom baixo. Kai desvia o olhar ao escutar a
resposta.
– E o que aquele infeliz queria? – Uruha fica revoltado. – Será que ele não
entende que não deve mais procurar o Kai?
– Ele pediu pro Kai devolver todas as coisas que ele deu. Disse que não quer ter
o nome dele envolvido com o Kai nunca mais e que quanto antes ele devolvesse
as coisas melhor seria, pois assim nunca mais teria que ouvir falar dele – Ruki
olhava para Kai que escutava sem esboçar nenhuma reação.
– Eu não acredito! – Uruha se exalta cada vez mais. – Como ele pode ser tão
mesquinho e insensível?
Kai levanta do sofá e se dirige para o quarto. Ruki fica preocupado com o
silêncio do amigo.
O moreno apenas confirma com a cabeça e continua andando sem dizer nada.
– O Kai não merece isso – Ruki diz ao sentir a aproximação do loiro que apenas
concorda com a cabeça.
ooOoo
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Lembra-se então da primeira vez que viu Daiki, quando se apaixonou
perdidamente. Lembra do começo do namoro, onde ele era atencioso e
carinhoso. Pensa em como se divertia com as brincadeiras do namorado. Tantas
lembranças boas manchadas pela traição. Nunca esquecerá o dia em que chegou
mais cedo da faculdade e resolveu fazer um jantar romântico no apartamento do
namorado. Decisão infeliz. Acabou encontrando seu namorado com outro na
cama.
Enfim, deixa as lágrimas banharem seu rosto enquanto as lembranças das brigas
vinham lhe mostrar a verdadeira realidade. Tudo estava terminado.
Definitivamente acabado.
– Onde foi que eu errei? – murmura num tom angustiado, apertando mais o
coelhinho contra seu peito enquanto novas lágrimas vinham banhar-lhe o rosto.
Mais uma vez Kai as enxuga, repreendendo-se mentalmente por sua fraqueza
coloca o coelhinho junto das outras coisas que separou.
Pegando uma caixa laranja, Kai organiza tudo o que será devolvido de uma
forma mecânica. Cartas, roupas, CDs, fotos, tudo o que registrava um ano e seis
meses de felicidade e que agora lhe causa tanta dor, estava dentro da caixa,
como se fosse um caixão, enterrando seu coração.
Ao tampar, Kai amarra uma grossa fita vermelha em volta da caixa. O símbolo
de seu coração ferido.
Ficou a olhar por mais alguns minutos enquanto criava coragem para enfrentar a
fria realidade. Dentro daquela caixa estava a prova do mais lindo sonho de amor
já vivido por ele. Sonho que terminou por magoá-lo, ferindo seu frágil coração.
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Suspirando, pegou a caixa e saiu do quarto.
ooOoo
O garoto, que aparenta não ter mais que 17 anos, duvida que seu chefe esteja de
bom humor. Não que o conheça pessoalmente, na verdade nunca teve a
oportunidade de encontrar o cabeça da organização, e aquela seria a primeira vez
que o encontraria pessoalmente. Para o garoto é uma honra, mas mesmo assim
teme por sua vida, afinal não está ali para uma visita social e sim por ser
portador de más notícias.
Ele era novato no serviço e queria impressionar. Sabe, pelo que os veteranos
haviam lhe contado, que o chefe era muito exigente e não admitia erros e falhas.
Aquela demora o aterroriza e isso faz com que acelere os passos, os
pensamentos sempre voltados para o encontro que teria a seguir, ansioso por sair
vivo dessa entrevista. Não que se preocupasse consigo, mas pensava na mãe
adoentada e em seus irmãos caçulas aos quais sustenta. Não queria se envolver
na máfia, sempre com o sonho de se tornar jogador de futebol. Mas teve que
deixar seus sonhos de lado e entrar no mundo obscuro dos traficantes de drogas.
Essa tinha sido sua única opção, a única forma de sustentar a família depois da
morte súbita de seu pai em um acidente de carro. Agora estava ali, entre os
maiores e mais perigosos mafiosos do Japão, esperando para se encontrar com o
líder.
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sala está um sofá de couro branco onde dois homens permanecem sentados. Eles
tomam sake enquanto fumam.
O garoto se atenta para o primeiro dos homens. Ele é loiro, dá para perceber que
é alto mesmo estando sentado. Ele veste uma camisa branca entreaberta e com a
gola levantada, um terno preto e um cinto cravejado de brilhantes. Um crucifixo
de prata com diamante lhe adorna o pescoço alvo. Está descalço com os pés
apoiados em cima do sofá, mas não é isso que mais chama a atenção em sua
aparência e sim o fato de ter uma faixa branca lhe cobrindo parcialmente o rosto,
dando-lhe mais ênfase aos belos olhos escuros e profundos e à boca bem
delineada. Ele detém uma grande áurea de poder. É impossível olhá-lo e não
sentir toda a autoridade que emana dele. Com certeza aquele é o cabeça da
organização. Akira Suzuki, mais conhecido como Reita. O maior traficante de
drogas do Japão. Ninguém se atreve a ficar em seu caminho. A frieza com que
trata seus negócios lhe deu a fama de lobo mau, pois não se deteria em matar a
própria mãe, caso estivesse atrapalhando seus planos.
O segundo homem só pode ser Shiroyama Yuu, Aoi, o braço direito de Reita, o
único em quem o magnata do crime confia plenamente. O garoto nunca viu tanta
beleza em um homem. Ele é moreno e tão alto quanto Reita. Veste um terno
risca de giz, camisa branca entreaberta deixando exposto uma boa parte de seu
peito alvo. Usa inúmeros anéis e, assim como Reita, está descalço. Mas algo
atrai a atenção do garoto, Aoi tem um piercing no canto direito de seu lábio
inferior. O garoto se pegou imaginando como seria sentir aquele piercing
roçando em seu corpo durante carícias ousadas, logo se recriminando por ter tal
pensamento num momento como aquele e cora ao perceber que Yuu o encara.
– Então quer dizer que o novato quer mostrar serviço, hein? – olha fundo nos
olhos do garoto que ergue a cabeça – Você disse que conseguiu informações
importantes para nós?
– Então diga o que é tão importante para que você queira vir pessoalmente
contar-nos ao invés de mandar um recado?
– Senhor, tem gente aqui dentro que quer vê-lo cair. – o garoto fala voltando a
olhar para o chão.
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– Isso não é novidade. Em qualquer lugar sempre tem isso. Há invejosos por
todos os lados. – Aoi desdenha as palavras do garoto enquanto Reita apenas
toma um gole de sake.
– O que eu queria dizer é que entre o seu pessoal há alguém que está sendo pago
para deixar vazar informações para Hikaru Hayato – o garoto fala rápido, atento
às reações dos dois homens à sua frente.
– Então quer dizer que Hayato resolveu colocar suas garras para fora novamente.
– Reita, que até agora era um espectador silencioso, resolve se manifestar.
– É por isso que ultimamente nossas negociações têm dado errado. Há um dedo
do maldito do Hayato. – Aoi levanta-se revoltado e começa a andar pela sala. –
E ainda por cima temos um traidor. Temos que descobrir quem é o desgraçado e
fazê-lo pagar por ousar imaginar que nos enganaria.
Reita continua com sua atitude indiferente, como se isso não importasse muito,
mas o brilho nos orbes escuros dizia o contrário.
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– E como podemos provar isso? Não acha suspeito tudo isso? Do nada aparece
você com essa história de traição. Isso pode ser uma armadilha para nos
despistar e realmente você ser o traidor. – Aoi fala num misto de sarcasmo e
raiva enquanto diminui a velocidade de seus passos. Reita continua em seu
estado letárgico, apenas observando Aoi interrogando o garoto.
O garoto empalidece e fica em silêncio, temendo falar alguma coisa e ser mal-
interpretado. Aoi se aproxima do informante:
– Sobre o acordo feito com Hayato. Do dinheiro que receberiam por entregar as
informações e do quanto estavam satisfeitos com a futura queda de Suzuki-sama.
Saindo do estado de letargia, Reita joga o cigarro no cinzeiro que está em cima
da mesa de centro, levantando-se do sofá e caminhando até a janela do lado
oposto da sala com o copo de sake nas mãos. Fica a olhar os carros que passam
na rua que àquela hora está bastante movimentada. Aoi observa o chefe e sabe
que aquela expressão perdida e o olhar distante revelam que está pensando em
cada homem que trabalha para ele, tentando descobrir o possível traidor.
– Garoto, você chegou a ver o rosto do traidor? – Reita pergunta ainda olhando a
movimentação da rua.
– Não, senhor.
– Sabe de alguma coisa que possa nos ajudar a encontrar esse desgraçado?
– Ouvi quando ele marcou um encontro hoje para entregar mais uma remessa de
informações.
– Onde?
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– O lugar específico eu não sei, senhor, pois não deu para escutar direito, mas sei
que ele passará na Rua Miamoto.
– Mas é uma rua muito movimentada. Como identificar nosso alvo? – Aoi se
afasta do garoto, se apoiando na escrivaninha.
– Que horas será esse encontro? – Reita pergunta voltando a olhar pela janela.
– O horário exato eu não sei, mas ouvi um deles afirmando que passará na Rua
Miamoto às 19 horas, senhor.
Então o silêncio toma conta da sala. Por vários minutos Reita fica novamente
olhando a movimentação da rua, perdido em seus próprios pensamentos. Aoi
fica admirando as espadas que adornam a sala e o garoto fica olhando de Reita
para Aoi esperando alguma reação. Reita, então, olha para Aoi que se aproxima,
ficando ao seu lado.
Aoi sabe o que se passa na cabeça do loiro. A dor da traição volta a assolá-lo.
Afinal, foi por causa de uma traição que o loiro entrou no submundo do crime.
Se a sociedade tivesse lhe dado uma chance ele não estaria chefiando essa
organização e sim sendo o músico que sempre quis ser. Mas somente Aoi sabe
disso. Por medo de uma nova traição Reita se fechou como uma ostra e
ninguém, além de Aoi, tem acesso aos seus sentimentos.
Aoi consente em silêncio e caminha até a porta da sala onde calça seus sapatos.
– Você tem carta branca para agir, Yuu. Não importa se você o trará vivo ou
morto, apenas quero a cabeça desse maldito traidor. – Reita volta-se para Aoi,
que faz um pequeno movimento com a cabeça em concordância. Reita olha para
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o garoto. – Você me foi muito útil. – e com um gesto despachou o garoto que
saiu da sala rapidamente.
Aoi olha para o relógio. São 18h30min. Então se aproxima de Reita que voltara
a se sentar no sofá e está ocupado em acender um cigarro.
– Claro que está Yuu. Estou apenas pensando a que nível chegou Hayato.
Contratar um espião. Isso só mostra o quanto é fraco. E esse informante irá me
pagar muito caro. Pobre diabo, não imagina com quem se meteu.
– Sei que tenho carta branca, mas você tem alguma preferência quanto à captura
do infeliz?
– Já falei Yuu. Não importa como você o traga, o final será o mesmo. Aquele
maldito espião pagará com a vida.
– Agora vá. Não quero que perca nosso alvo. – o loiro diz com olhar repleto de
maldade.
Aoi sai da sala com um sorriso maroto. Reita volta a encher seu copo com sake,
e enquanto fuma desvia seu olhar para a janela.
ooOoo
Desanimado, Kai sai do quarto carregando a caixa laranja até a sala, onde
encontra Ruki e Uruha entretidos em assistir ao canal de música. Uruha estava
deitado no sofá com a cabeça apoiada no colo de Ruki que canta baixinho as
músicas apresentadas no programa. Kai olha para os amigos que ainda não
haviam notado sua presença, preferindo assim, pois pode sair sem ser notado e
então não precisaria fazer-se de forte e sorrir. Quer evitar as expressões de pesar
que sempre fazem se sentir pior. Nesse momento não tem forças para fingir estar
bem e não quer preocupar os amigos.
Quando se dirige para a porta começa a tocar uma música que o faz estacar no
chão, toda a sua atenção voltada para a doce voz que a canta. A letra daquela
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música mostra exatamente como se sente. Fechando os olhos deixa aquela
melancólica melodia embalar seus pensamentos.
Novamente, todos os bons momentos que passara com Daiki voltam à sua
memória. Por mais que tente, é impossível não vê-lo em coisas simples. Lembra,
então, de como os dois passaram por cima de tudo para ficarem juntos. Das lutas
contra o preconceito e contra os invejosos. Sorriu tristemente ao se lembrar de
como aproveitavam cada segundo sem se importar com a opinião dos outros. O
mundo era somente os dois e não havia espaço para mais ninguém.
Com Daiki, Kai sentia-se seguro, protegido e cada dia que passava era um sonho
de amor que se realizava. Todas as tristezas de seu pássado trágico eram
esquecidas nos braços de Daiki. A cada dia sua esperança em um futuro melhor
aumentava.
Então, a traição veio como uma bomba, explodir suas ilusões. Se sentiu como no
dia em que perdeu os pais no acidente de carro. Se viu sozinho, desamparado.
Seu coração sangrava e sua única vontade era morrer. Não via sentido em mais
nada. Só conseguia enxergar um futuro incerto e negro.
Então, todos os sonhos e planos felizes que tinha feito com Daiki se tornaram
seu maior pesadelo. As brigas após a descoberta da traição, o descaso e a frieza
de Daiki em explicar que o traíra por dinheiro e status social, tudo o fazia se
sentir inferior, um ser indigno de ser amado.
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Outro dia outro amanhecer
Outra chance pra curar a dor
Quem sabe aprendo a te esquecer
Quantas lágrimas que eu chorei
E as noites que eu nem dormi
Esperando só você voltar pra mim
Ruki e Uruha foram sua tábua de salvação, estando ao seu lado, impedindo-o de
fazer besteira e dando a força necessária para seguir em frente. Os dois, sempre
atenciosos, fizeram de tudo para arrancar Kai da depressão que o assolava.
Durante dias ambos nem saíam de casa, deixando de ir trabalhar para cuidar do
moreno, que era grato pela atenção, mas se sentia culpado por dar tanto trabalho
aos amigos. Nunca gostou de preocupá-los, então começou a usar uma máscara,
fazendo-os acreditar que estava melhorando, quando na verdade estava apenas
camuflando a realidade.
Aos poucos, utilizando seu sorriso como máscara para ocultar toda a dor, foi se
conformando. Não podia negar, ainda amava Daiki, e ver como não passara de
um objeto nas mãos dele machucava-o profundamente. Porém não queria
preocupar os amigos.
Sem agüentar mais, Kai deixa as lágrimas que tanto lutou para conter banharem
seu rosto novamente.
Desde sempre, Kai, ouviu que o sinônimo de amar é sofrer, mas o moreno nunca
acreditou nisso. No entanto a vida fez questão de ensinar-lhe na prática que isso
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era verdade. O medo de amar se apossou de seu coração. E as lembranças só
serviam para torturá-lo mais.
Seu grito alerta Ruki e Uruha de sua presença. Os dois levantam-se rapidamente
vindo em seu auxilio. Mas sua mente não consegue captar o que eles lhe dizem,
perdida que está na imensidão de sua dor. Não queria estar passando por isso.
Não queria ser tão fraco, tão dependente. Seu único consolo é saber que não está
sozinho, Ruki e Uruha estão ao seu lado e nunca irão abandoná-lo.
O medo domina sua mente. Não sabe como reagirá ao reencontrar Daiki, só sabe
que não quer passar por aquela dor novamente. Assim, Kai promete a si mesmo
nunca mais se apaixonar.
Ruki faz Kai largar a caixa e levanta-o, percebendo que as pernas dele
fraquejam, o pequeno o apoia até chegar no sofá, onde o deita. Uruha corre na
cozinha para pegar um copo de água com açúcar. Voltando para a sala quase cai
ao tropeçar na caixa laranja que está no meio do caminho. Os dois então forçam
Kai, que resistia, a beber todo o conteúdo do copo para se acalmar.
Kai entra em numa letargia profunda. Sabe que os amigos estão ali preocupados
com ele. Até tem vontade de reagir, de falar para os amigos que ficará bem, mas
nenhuma palavra sai de sua boca. Então apenas deixa Ruki e Uruha cuidando de
si enquanto reuni novamente às forças.
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Ruki e Uruha decidem que o melhor é esperar o moreno reagir por si mesmo. De
nada irá adiantar eles ficarem em cima dele, pois só o sufocariam e fariam com
que se fechasse mais. Sabiam que o moreno precisava desse tempo e eles
respeitariam isso.
Ruki desliga a televisão e se senta no chão, de frente para Kai. Uruha senta-se no
braço do sofá, observando atentamente o moreno, esperando por uma reação.
Kai ficou ali por alguns minutos que pareceram séculos, sem reação, juntando
forças e coragem para o que tem que enfrentar. Respirando fundo, senta-se e
encara os dois amigos que continuam perto.
– Tenho que ir senão ficará muito tarde. – diz numa voz falha, enquanto fica em
pé se apoiando no sofá.
– Kai, tem certeza de que quer ir hoje? – Ruki sempre preocupado tenta
convencê-lo.
– Você não parece estar muito bem para sair. Não quer que eu vá no seu lugar? –
Uruha se aproxima solicito.
– Não. Eu vou.
– Não! – Kai diz veemente. – Agradeço sua preocupação, mas preciso fazer isso
sozinho.
Os três olham para o relógio, 18h45min. Uruha caminha até seu quarto e volta
rapidamente trazendo um casaco preto de camurça.
– Ah, então quer dizer que foi você que pegou meu casaco? – Ruki lança um
olhar agudo para o loiro, que rapidamente se coloca o mais longe possível do
pequeno. – Não vou falar nada. Não vai adiantar mesmo.
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– Você não está só. Uruha e eu estamos com você. Nunca se esqueça disso. – Ao
ouvir isso os olhos de Kai novamente enchem de lágrimas, mas dessa vez ele
consegue contê-las.
– Arigatou. Eu não sei o que seria de mim se não pudesse contar com vocês.
– Vou chamar um táxi pra você, Kai – Uruha pega o telefone, mas é impedido de
ligar por Kai, que toma o telefone de sua mão.
– Não. Já decidi, vou a pé. Vocês me conhecem bem e sabem que preciso desse
tempo para esfriar a cabeça e encontrar um equilibrio para poder rever Daiki.
Ruki e Uruha nada dizem, sabem que o moreno tem razão, mas isso não impede
a preocupação com o bem-estar de Kai de se apossar de seus corações.
– Então pelo menos prometa que não irá pela Rua Miamoto – Uruha olha
diretamente para os olhos de Kai.
– Por quê? – curioso Kai começa a vestir o casaco enquanto Uruha lança um
olhar incrédulo para Ruki.
– Kai, você sabe muito bem que aquela rua é deserta à noite. – Ruki senta no
braço do sofá, com uma expressão sisuda.
– Mas o caminho mais longo passa pela rua Miamoto, não há como evitar. E à
essa hora ainda há uma grande movimentação por lá. E não preciso repetir que
preciso desse tempo. Andar me distrai. – Kai pega a caixa que está no chão – E
além do mais o que poderia acontecer comigo?
– Roubo, sequestro, briga. Um monte de coisas. – Uru começa a andar pela sala.
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– Não exagera, Uru – Kai então sorri mais abertamente.
– Não é exagero, Kai – Uru fala indignado – Realmente me preocupo com sua
segurança.
– Gomen, Uru. Sei que vocês se preocupam comigo, mas ficarei bem.
– Então prometa que não vai passar por aquela rua, Kai – Uru para de andar e
olha para Kai que se dirige para a porta.
Ruki e Uruha ficam parados no meio da sala, sem reação, olhando para a porta
por onde Kai saiu. Suas expressões mostravam o quanto o moreno os deixara
preocupados. Eles eram uma família e a idéia de ver um deles sofrer era
inaceitável.
Sendo o primeiro a reagir, Ruki vai até a cozinha, o que desperta a letargia de
Uruha que o segue.
– Nunca vi o Kai nesse estado, tão frágil e machucado. – Uruha fala parado na
porta da cozinha enquanto observa Ruki preparando um suco de laranja.
– Ele sempre faz de tudo para aparentar estar bem, mas os olhos o entregam. Ele
pode sorrir, mas não pode disfarsar a falta de brilho no olhar. – Ruki olha nos
olhos de Uru e vê sua própria tristeza refletida ali.
– Isso é verdade. Ele nunca mais foi o mesmo desde que foi traido pelo Daiki-
san. Seu sorriso não alcança mais os olhos. – há tristeza em sua voz ao dizer
isso.
– Mas ainda assim ele se faz de forte e cuida de nós. – Ruki termina de preparar
o suco e senta-se à mesa, no que é acompanhado por Uru, que pega os copos e
senta à sua frente.
Ruki era o mais sério e mais esquentado entre os três. Uruha era o mais
bagunceiro e brincalhão. Kai era o ponderado daquele grupo. E ver o ponto de
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equilibrio da felicidade deles sendo destruido por um homem sem escrúpulos e
sem coração revoltava-os.
– Espero que esteja. – Ruki então bate o copo com força na mesa – Só sei que se
o desgraçado do Daiki-san fizer algo para machucar mais o Kai, ele me pagará
caro.
– Odeio ver aquele sofrimento contido no olhar do Kai – Uru abaixa a cabeça. –
Me sinto tão impotente por não poder ajudá-lo.
– Se depender de mim, Kai nunca mais ficará sozinho. – Uru levanta a cabeça e
encara Ruki.
Os dois ficam ali tomando o suco em silêncio, com o peso dessa promessa
pairando em seus pensamentos.
ooOoo
Kai anda distraído, sem reparar em nada, aproveitando a caminhada para pôr
seus pensamentos em ordem, tentando recuperar sua calma e tranquilidade
caracteristicas.
Olha para as pessoas sem realmente enxergá-las, está totalmente alheio ao que
acontece à sua volta. A única coisa que consegue fazer é se deixar levar pelos
pensamentos. A insegurança volta a tomar conta de seu ser. Kai achou que
estava bem, que já conseguia olhar para trás e não sentir mais dor. Mas esse
telefonema de Daiki com um propósito tão frio abalou suas estruturas.
Tinha que ser forte, não por si, mas pelos amigos. Kai é grato aos céus pelos
companheiros que tem. A preocupação deles pelo seu bem-estar é o balsamo
para seu coração ferido.
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Concentrado nesse pensamento, Kai nem repara que está diante da rua Miamoto.
Sorri ao lembrar do drama exagerado de Uruha para que ele não fosse por essa
rua.
Um rapaz chama Kai pelo nome, enquanto ele atravessa a rua, mas desligado do
jeito que está nem percebe e continua andando.
O jovem que o havia chamado, percebendo que não foi ouvido, corre até Kai e
para à sua frente, mas novamente foi ignorado por Kai que continuou andando
sem ao menos lançar um olhar para quem o chamava.
Finalmente, despertando do “transe”, Kai ouve o chamado. Então olha para trás
e dá de cara com o outro, que lhe sorri ofegante.
– Ah, Kai, finalmente me escutou. Achei que estava me evitando. – o rapaz disse
em tom de brincadeira, ainda ofegante.
Kai ainda não tinha despertado totalmente de suas divagações, mas percebeu que
nunca tinha visto o rapaz antes e lhe intrigava o fato desse desconhecido
conhecer seu apelido.
“De onde ele me conhece?”, era o pensamento que lhe vinha à cabeça. Quando
abria a boca para perguntar sobre isso o aparente desconhecido fala:
– Perdão, mas como sabe disso? – o moreno olha meio desconcertado para o
rapaz, perguntando com uma voz sumida.
– O Nao.
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– Ah, o Nao. Ele é legal. – Kai fala mais animado.
Da mesma forma que Kai, Miyavi observa atentamente cada traço da feição
suave que agora estampa uma dor contida. Por mais que tentasse, o seu jeito
extravagante de ser não o deixa ser discreto, olha Kai de cima a baixo tentando
guardar na memória cada detalhe, cada gesto. E esse exame minucioso não passa
despercebido de Kai que fica intensamente corado. Mas Miyavi não se importa,
ao contrário fica feliz.
Há dois meses que observa Kai à distância. Desde que tinha ido se encontrar
com Nao na saída da faculdade. Viu Nao ajudar um colega quando este derrubou
os livros que carregava e perguntando ao amigo, descobriu que os dois
estudavam na mesma turma, que aquele era o melhor aluno e era muito amigo de
todos. Miyavi então olhou mais uma vez o rapaz e o viu sorrindo, achou muito
meigo àquelas covinhas. Tal cena não lhe saia da cabeça. Achou que era um
interrese comum, mas com o passar dos dias esse interrese só aumentou e não
conseguia parar de pensar no moreno.
A partir daí, Miyavi começou a se encontrar mais vezes com Nao no fim das
aulas na faculdade com o pretexto de tirar umas dúvidas em relação às músicas
que compunha; mas, na realidade, querendo ver o moreninho que não lhe saia da
cabeça.
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Kai se transformou em sua maior inspiração. Vê-lo era o motivo de seu bom
humor mais aflorado. Miyavi se pegava rindo à toa só ao lembrar daquele sorriso
de covinhas.
Quando descobriu que Kai tinha terminado o namoro uma centelha de esperança
se acendeu em seu coração, porém quando viu todo o sofrimento que isso causou
perdeu a coragem de se aproximar. Mas, há duas semanas, a idéia de só observar
a distância não era o bastante para acalmar seu coração. Uma urgente
necessidade de chegar perto tomou conta de seu ser. Já não conseguia mais
dormir direito, nem comia mais, tamanha a ansiedade. Precisava ouvir a voz de
Kai, receber um sorriso dele.Tentou algumas vezes uma aproximação, mas
sempre dava alguma coisa errada e acabava por deixar para tentar no dia
seguinte. Até que o destino resolveu conspirar a seu favor. Naquela tarde,
quando voltava para sua casa depois de um dia estafante de trabalho, viu Kai
passar por ele com uma expressão atípica, carregada de dor. Tamanho
sofrimento apertou seu coração, não resistindo acabou por chamá-lo. E agora,
recebendo aquele sorriso tímido e meigo apesar de toda a dor que sabia que ele
estava sentindo, lhe deu a certeza que tanto procurava nesses últimos dias.
Definitivamente tinha se apaixonado por Kai.
Miyavi vê Kai ficar cada vez mais corado enquanto continua a olhá-lo sem
cerimônia. Sem se conter abre mais o sorriso vendo como ele fica mais fofo
quando está sem jeito.
– Bem, preciso ir, tá ficando tarde e ainda tenho uma boa caminhada para fazer.
Kai fica confuso. Não esperava por essa pergunta. Seu primeiro pensamento é
recusar, afinal, não conhece Miyavi. Mas, pensando bem, conclui que esse é o
melhor jeito de não se sentir culpado com relação à recomendação de Uruha. Se
Miyavi o acompanhasse não teria problema passar na rua Miamoto. E,
estranhamente, o rapaz de exuberantes cabelos azuis lhe inspirava confiança.
Então, esboçando um sorriso mais alegre, Kai assente com um movimento de
cabeça. Myv se empolgando, não consegue se conter e agarra Kai em um abraço
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apertado, o que faz a caixa que o moreno segura cair no chão. Rapidamente se
controla e solta Kai que fica todo embaraçado e mais corado do que já estava.
Miyavi se abaixa e pega a caixa, ajeitando a fita que havia amassado um pouco.
– Gomen. Não devia ter feito isso. Mas é mania minha agarrar meus amigos. –
Um pouco sem jeito, balança a caixa. – Havia algo frágil aqui dentro?
– Tudo bem. Não havia nada de importante que pudesse se quebrar. – Kai fala
num tom baixo e triste, estendendo as mãos para pegar a caixa, mas Myv afasta
ligeiramente o corpo, impedindo que ele pegue a caixa.
– O mínimo que posso fazer para me redimir é levar a caixa. – Miyavi abre um
enorme sorriso que deixa Kai perplexo.
– Mas nada. E vamos logo, afinal não era você que não queria demorar?
Dizendo isso Miyavi dá alguns passos, mas pára ao perceber que não é
acompanhado. Virando para trás encontra Kai no mesmo lugar, estático e com
um leve bico emburrado.
Myv acha muito fofo o bico emburrado que o outro faz. Admirado de um único
ser radiar tanta inocência e sensualidade com um simples gesto. Miyavi continua
ali por alguns instantes, perdido nessa admiração quando vê o outro soltando um
resmungo falsamente ofendido.
– Você não vem? – Myv pergunta com uma voz infantil. Quase derretendo
quando Kai abre um lindo sorriso e corre para alcançá-lo.
Tão entretidos que estavam nesse diálogo, passaram em frente à um beco escuro
e nem reparam em um moreno alto que falava ao celular.
ooOoo
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Reita está ao piano tocando uma das sinfonias de Mozart. Sua preferência é o
contrabaixo, mas isso não o impede de ser um magnífico pianista.
Desde que Aoi saiu para cumprir suas ordens Reita está ali, alheio à tudo,
totalmente envolvido em seus pensamentos e concentrado na bela melodia que
sai de seu instrumento.
Sorri ao se recordar que há poucos instantes quase espancou sua secretária por
um motivo banal. Ela havia lhe interrompido, o chamando para atender um
cliente importante, mas, ele não estava com cabeça para negociar. A única coisa
que queria era ter notícias sobre o que o Aoi estava fazendo. Quando a secretária
insistiu para que atendesse todo o seu alheiamento se transformou em violência.
Agarrou a pobre secretária pelos cabelos e a expulsou de sua sala.
Seu celular começa a tocar em algum ponto da sala, o que o faz perder
novamente a paciência. Levanta-se lentamente e procura o aparelho,
encontrando-o em cima da mesa de centro. Senta-se no sofá primeiro para,
somente depois, olhar o visor do celular. É Aoi quem está ligando e sua
impaciência se transforma rapidamente em empolgação. Então atende a
chamada, em sua voz a frieza habitual, mas em seu rosto demonstra a agitação
que envolve seu ser.
– Acabei de localizar o alvo. – Aoi fala em tom baixo – Ele está à poucos passos
de onde me encontro.
– Mas tem certeza que é ele? – Reita não consegue disfarsar a impaciência – Não
podemos errar, isso alertaria o Hayato de que já sabemos dos planos dele contra
nós.
– Ele está exatamente como o garoto nos descreveu. Eles estão chegando ao
final da rua Miamoto nesse exato momento. – Aoi sorri de leve ao perceber a
ansiedade na voz de seu chefe.
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– Sim. Foi por isso que te liguei. – Aoi explica com uma voz calma, aumentando
seu sorriso. – Ele não está sozinho. Tem um sujeito de cabelo azul o
acompanhando.
– Ah, então o traidor tem um cúmplice. – Reita fala baixo, mais para si mesmo
do que para Aoi. – Não tem problema. Acabe com os dois.
– Okkei.
– Não esqueça de pegar a caixa. Quero ver que tipo de informações conseguiram
coletar. E seja discreto como só você consegue ser.
– Não se preocupe. Logo o serviço estará feito e a caixa nas suas mãos. Hayato
não desconfiará tão cedo que perdeu seus informantes. – Aoi fala com toda
segurança o que tranquiliza ainda mais Reita.
– Agradeço sua confiança e farei por onde merecê-la. Agora vou desligar, não
quero perder os dois do meu campo de visão.
Aoi desliga o celular. Reita então se levanta voltando ao piano, pega seu cigarro
que já está quase no final e dá um último e profundo trago, esmagando-o no
cinzeiro em seguida. Com um sorriso sádico volta a dedilhar o piano.
ooOoo
Ao desligar o celular Aoi sai do beco escuro onde estava escondido, começa
então a seguir os dois jovens que conversavam animados, mantendo sempre uma
distância segura, não queria correr o risco de ser descoberto antes da hora.
Tão concentrado que está em sua discreta perseguição, o moreno não repara no
homem de casaco preto que passa do outro lado da rua, carregando uma caixa
laranja envolta por uma grossa fita vermelha.
ooOoo
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Miyavi e Kai seguiam pela rua Miamoto. Conversavam animados, como se já se
conhecem há muito tempo. Miyavi olha em volta e lembra de algo que queria
perguntar desde que chamara Kai, mas que havia esquecido ao ficar tão perto
daquele a quem tem desejado há tanto tempo.
– Kai, por que você estava andando nessa rua sozinho a essa hora? – fala com
tom levemente repreensor.
– Mas ainda é cedo. – pego de surpresa pelo tom de repreensão, Kai, fala em tom
de desculpa. – E a rua está cheia de gente.
– Ah, mas é que por aqui é o caminho mais longo para chegar à Shinagawa. –
Kai fala um pouco envergonhado, tentando tirar a expressão insatisfeita do rosto
de Miyavi.
– E por que você quer ir pelo caminho mais longo? – Myv se mostra curioso.
Miyavi olha para Kai, dividido entre perguntar o motivo de tanta tristeza ou
deixar quieto. Mas sua curiosidade acabou vencendo.
Kai respira fundo. Não é um assunto que queira falar. Mas, já que terá a
companhia de Miyavi é justo que ele saiba para onde vai e o por quê.
– Bem, estou indo à casa do meu ex-namorado. – fala num tom extremamente
triste.
– Tudo bem. – Kai força um pequeno sorriso. – Estou indo devolver os presentes
que ele me deu enquanto estavamos juntos.
– Por que ele disse que não sou digno de ter nada dele. – Kai abaixa a cabeça e
solta um pequeno suspiro. Aquele assunto o machuca demais.
Miyavi nota toda a mágoa que Kai tenta esconder. Ele pode ser todo doido,
agitado e eufórico, mas é sensível para perceber quando alguém não está bem.
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Principalmente quando é alguém importante. Decidido a melhorar o clima entre
eles, Miyavi muda rapidamente de assunto.
– Sim, estou no segundo ano. E como você já sabe sou da mesma turma do Nao.
– Verdade. Nao me disse que você é o nerd da turma. – Miyavi se sente aliviado
ao ver Kai alargar o sorriso.
– Eu? Nerd? Por que? – Kai ficara muito curioso com a descrição que haviam
feito sobre si. Afinal não achava que exagerava nos estudos.
– Bem, você só tira as maiores altas da turma, pra qualquer pergunta que os
professores façam você tem a resposta, você consegue tirar qualquer dúvida da
turma, é sempre o primeiro a entregar exercícios e provas. Enfim, a lista é
grande, mas já deu pra perceber que você realmente é um nerd. – Miyavi ria do
rubor que subia pelas faces de Kai.
– Ah, eu não sou tão nerd assim. – Kai tenta convencer Miyavi sem sucesso.
– Han, Zhao, Wei, Chu, Yen, Chi e Chin – Kai responde na mesma hora, sem
hesitar.
– Quanto tempo dura a vida de uma borboleta? – nem bem Kai dá a resposta
Miyavi dispara mais uma pergunta.
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– Como se conjuga o verbo Love nos três tempos?
– Sem o sufixo.
– Depois fala que não é nerd. – Miyavi usa um leve tom de ironia.
Kai continua com a expressão um pouco emburrada. Continua a andar sem olhar
para o ser exagerado ao seu lado. Havia se calado e novamente estava perdido
em seus próprios pensamentos. Por dentro estava agitado, pois em pouco tempo
estaria cara a cara com Daiki e ainda não sabia como agir. E não ter controle
sobre sua vida o deixava irritado. Gostava de ter tudo planejado, esquematizado,
mas não havia o que fazer naquela situação. Tinha sido pego totalmente de
surpresa.
– Ne, Kai-chan, você ficou chateado comigo? – Miyavi não consegue disfarçar o
tom tristonho em sua voz, apesar de sua fisionomia nada demonstrar.
Kai sente uma pontada de culpa ao sentir a tristeza na voz de Miyavi. Não
deveria ter se isolado de maneira tão brusca, afinal não era culpa do outro sua
agitação. Odiou ver o rapaz sempre tão agitado, alegre e espalhafatoso ficar
quieto e melancólico. Não combinava com ele.
– Ie. Gomen, Miyavi-kun, se o fiz pensar isso – Kai sorri tentando tranqüilizar e
fazê-lo voltar a sorrir como momentos antes.
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– Mas você se afastou do nada. Tem certeza de que não foi por algo que fiz? –
Miyavi não se deixa levar pelo sorriso calmo, mas forçado que o outro sustenta.
– Pode ficar tranqüilo. Não foi você. – o sorriso de Kai esmorece e uma
expressão de tristeza começa a tomar conta de seu semblante.
– Se não fui eu quer dizer que foi alguém. – Miyavi fala calmo fitando os olhos
de Kai que o olha encabulado – Quer me contar o que te aborrece?
Kai abaixa a cabeça. Não sabe se consegue falar sobre esse assunto com mais
alguém além de Ruki e Uruha. Limita-se a olhar para Miyavi que sustenta seu
olhar. Sentia que podia confiar em Miyavi, seu sexto sentido era infalível.
Respirando fundo, decide se abrir. Parando bruscamente de andar, vê Miyavi
parar também o olhando com uma expressão curiosa. Quando ia começar a falar
para explicar seu comportamento vê a expressão de Miyavi se fechar, intrigada e
ele pergunta:
– Não conheço não. – estranhando a pergunta Kai volta seu olhar para Miyavi
que continua sisudo, a preocupação estampada em sua face sempre alegre. – Por
quê?
Sem falar nada, Miyavi, começa a andar rápido, obrigando Kai a quase correr
para alcançá-lo.
– Aquele homem está nos seguindo. Quando te chamei ele havia passado por
mim e agora está praticamente colado em nós. Pelo tempo em que conversamos
parados na esquina já era para ele estar muito longe e não atrás de nós – Miyavi
olha mais uma vez para trás, apertando a caixa laranja que segura tentando
amenizar o nervosismo. – Isso é muito suspeito. – fala com uma gravidade que
surpreende Kai por ele sempre ser tão agitado e brincalhão.
Kai olha mais uma vez para trás e vê o homem andando um pouco mais rápido
enquanto continua olhando as vitrines.
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Sem dizer nada Miyavi apressa o passo e entra em uma travessa paralela à Rua
Miamoto. Kai o acompanha preocupado, evitando com muito custo olhar para
trás.
Miyavi anda rapidamente pela travessa, percebendo como ela é deserta, e isso é
muito ruim nessa situação. Vê que há muitos becos escuros ali. Logo sua
imaginação apaixonada o vê agarrando Kai num beijo avassalador em um desses
becos, pensa nos gemidos que o moreno faria e correntes elétricas começam a
fluir de seu baixo ventre, excitando-o. Mas logo a realidade invade sua mente,
lembrando-o de que estão sendo perseguidos por alguém muito suspeito e isso
faz com que volte à sobriedade.
Entrando em um dos últimos becos, o mais escuro da rua, Miyavi puxa Kai que
o olha curioso, mas rapidamente entende o motivo. Disfarçadamente os dois
olham na direção de onde vieram e vêem o homem de terno entrar na mesma rua
com passos apressados e uma expressão um tanto sisuda.
– O que ele faria andando por uma rua deserta se estava olhando as vitrines com
tanto interesse? – Miyavi olha para Kai que continua a observar o homem que
parece estar procurando alguma coisa.
Kai ainda não se convenceu de que estão sendo seguidos, mas, prefere não
discordar de Miyavi. Ele pode parecer irresponsável, mas algo lhe dizia que ele
sabia ser sério quando precisava.
– Precisamos sair daqui o quanto antes. – sente o corpo de Kai estremecer ao seu
lado. – Quando eu contar até três nós corremos para a avenida. Não é bom
ficarmos nessa rua deserta. Aqui ninguém poderá nos ajudar se aquele homem
tentar alguma coisa.
– Um... – a voz de Miyavi sai trêmula, então ele faz uma pequena pausa tentando
controlar-se.
Kai olha para Miyavi. Percebe o quanto ele está preocupado. Volta o seu olhar
novamente para o homem que está cada vez mais perto e vê nele uma áurea de
poder e maldade que o incomoda. Pela primeira vez pensa como Miyavi, e o
medo finalmente o abala.
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– Dois... – a tensão é quase palpável. O coração acelera. A respiração se
descontrola. O medo ameaça sufocá-lo. Mas não é medo por si e sim pelo
moreno ao seu lado. Miyavi não deixaria que nada acontecesse a ele.
Kai prende a respiração, a adrenalina flui por suas veias, seu corpo se tenciona,
sua mente fica desperta, atenta a tudo ao seu redor. Está pronto para fugir o mais
rápido que puder, mesmo sem saber o real tamanho do perigo que corre. Olha
para Miyavi mais uma vez e nota que as feições bonitas e geralmente
descontraídas estão tencionadas. A preocupação estampada em seu olhar o
comove e o faz se sentir seguro e protegido. Olha novamente para o homem que
os persegue. Ele já está quase chegando ao beco em que estão escondidos. Mais
de perto é possível ver a hostilidade evidente em seus atos.
“Por que ele está nos perseguindo. O que será que ele quer de nós?”, Kai se
pergunta fechando os olhos com força, esperando a contagem terminar.
– Três! – Miyavi e Kai se olham e saem correndo do beco o mais rápido que
conseguem, sem olhar para trás, em direção da avenida em frente.
ooOoo
“Será que os dois comparsas estão brigando para saber quem terá mais
créditos com as informações que conseguiram?”, pensava enquanto fingia estar
interessado em olhar as vitrines.
Aoi começa a ficar inquieto por causa da desconfiança que sente em suas
‘presas’. Sua vontade era ir direto até onde estavam e acabar logo com isso, mas
seu instinto de predador dizia que ainda não era a hora, melhor seria que além de
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acabar com os traidores acabasse também com alguns homens de Hayato.
Assim, Reita se sentiria muito mais satisfeito.
Ele entra na travessa e percebe o quanto ela é longa e deserta. Olha para todos os
lados e não encontra seus alvos. É impossível que já tenham chegado à avenida,
mesmo que estivessem correndo. Aoi começa, então, a procurá-los nos vários
becos existentes ali.
Vendo seu disfarce descoberto, Aoi não pensa duas vezes e corre atrás de sua
caça. Consegue vê-los atravessando a larga avenida, mas é impedido de fazer o
mesmo por dois gigantescos caminhões de carga que passa nesse momento
tampando-lhe a visão. Possesso de raiva, Aoi solta um grito alto e rouco, mais
parecendo um rosnado de um lobo enfurecido.
– Não irei deixá-los escapar do que está por vir. – Aoi sussurra
ameaçadoramente de olho nos caminhões que passam lentamente. – Podem
fugir, mas não podem se esconder.
ooOoo
Kai e Miyavi correm o mais rápido que podem. Sem nem ao menos olhar para os
lados atravessam a larga avenida. Assim que chegam à outra calçada, dois
gigantescos caminhões de carga passam lentamente por eles, os escondendo da
visão de seu perseguidor.
– Ne, Kai-chan, vamos aproveitar que esses caminhões estão nos encobrindo e
vamos nos esconder – Miyavi fala devagar, respirando com dificuldade.
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Os dois, então, se põem a correr em direção a mais uma travessa. Essa ficava um
pouco mais distante de onde estavam, mas como os caminhões continuavam em
marcha lenta daria tempo de fugirem para um lugar seguro.
Miyavi fica sem reação ao sentir o toque suave e quente em seu braço. Uma
sensação agradável e aconchegante o envolve por inteiro. Ele sente como se
estivesse flutuando nas nuvens e Kai fosse seu anjo. Ao olhar para o moreno,
recebe aquele lindo sorriso que povoa seus sonhos. Não entende o porquê de Kai
tê-lo feito parar, mas ao ver seu violão sendo retirado com delicadeza de seu
ombro e sendo acomodado com carinho sobre o ombro de Kai, seu coração se
enternece. Sua vontade é largar tudo e tomá-lo em seus braços mostrando o
quanto o ama.
Sim, o ama. A cada segundo que passa essa certeza aumenta. E vê-lo
preocupado com seu bem-estar e segurança, mesmo sem o conhecê-lo bem, só o
fez se apaixonar ainda mais.
Kai volta a correr. Vendo-o, Miyavi o segue com um sorriso bobo adornando-lhe
o rosto.
ooOoo
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consegue localizar seus alvos que estão correndo em direção a mais uma
travessa.
Um sorriso sádico toma conta da bonita feição ao acariciar a arma que carrega.
Como um lobo à espreita de sua presa, Aoi se dirige calmamente para a travessa
onde os dois jovens entraram.
ooOoo
Miyavi e Kai entraram na travessa escura sem notarem a placa que indicava que
ali não havia saída. Somente ao chegar ao final dela que reparam nesse detalhe.
– Ah, não acredito nisso! – Miyavi esbraveja olhando em volta – Aqui não tem
saída.
– Hai – Kai responde em tom baixo com sua calma habitual. – Temos que voltar
para a avenida.
– Antes que aquele louco nos encontre – Miyavi fala olhando para uma árvore
frondosa que está perto ao muro que fecha a rua.
– Tarde demais – Kai sussurra com a voz trêmula, de costas para Miyavi,
olhando para o início da rua.
Miyavi olha para Kai, temendo descobrir o real significado daquela frase.
– Ora, vejam só o que temos aqui, dois pequenos traidores esperando pelo
merecido castigo. – o homem para de andar e os encara. Em seu rosto uma
máscara de frieza e arrogância.
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Miyavi olha preocupado para Kai e o vê empalidecer ante a ameaça explícita.
– Quem é você? – Miyavi tenta controlar o tremor em sua voz, apertando a caixa
tentando conter, sem muito sucesso, os tremores em seu corpo. – O que quer de
nós?
– Eu? – o homem aponta para si mesmo numa atitude altiva – Sou aquele que
vem acertar contas com traidores malditos. Creio que já ouviram falar de mim.
Sou Shiroyama Yuu, Aoi se preferirem. Sou o braço direito de Reita-sama.
– Sim. Traição é algo imperdoável. – a voz de Aoi sai gutural, o que arrepia os
dois jovens que já estão quase colados a árvore.
Aoi retira sua arma do coldre que está sob o paletó e avança alguns passos,
encurralando mais os dois jovens.
– Nós nem te conhecemos, como poderíamos conspirar contra você? – Kai fala
sem conseguir conter o tremor em sua voz.
– Pode parar com esse teatro barato. Eu já sei que vocês são os informantes do
Hayato. Não precisam mais fingir serem cidadãos corretos, podem mostrar as
garras. – Aoi zomba, seu olhar passa a irradiar ódio.
– Informantes de quem? – Miyavi olha para Kai que parecia ter perdido a
capacidade de falar.
– Ah, não venha me falar que as criancinhas indefesas não conhecem o tio
Hayato. – Aoi começa a brincar com a arma, utilizando-se de todo sarcasmo para
amedrontar ainda mais suas presas.
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– Bem, nem preciso dizer que traição se paga com a vida. – Aoi aponta a arma
lentamente para os dois.
Kai num impulso nervoso agarra o braço de Miyavi, que se posiciona melhor em
um gesto protetor.
– Mas não pense que será uma morte rápida e indolor. Não sou tão bonzinho
assim. – Aoi continuava com seu monólogo – Vocês têm que aprender que trair
é algo errado e as conseqüências são severas. Agora irão conhecer o verdadeiro
significado da palavra dor.
A cada palavra, Aoi parecia mais longe da realidade. Sua aparência de predador
mostrava o verdadeiro perigo da situação. Aquele homem sem escrúpulos não
estava de brincadeira.
Kai fica perdido, sem saber o que fazer, olhando Miyavi subindo na árvore e Aoi
procurando com o olhar a origem do barulho.
– Vem, Kai! Sobe logo! – Miyavi chama Kai de cima de um dos grossos galhos
da árvore.
Ao ver Aoi engatilhar sua arma, Kai não pensa duas vezes e agarra a mão que
Miyavi lhe oferece e com um pouco de dificuldade consegue subir no galho da
árvore.
– Vocês não vão escapar de mim assim tão fácil – Aoi, enfurecido, dispara
contra os dois que se encaram assustados. A bala passa por entre suas cabeças,
acabando fincada no grosso tronco da árvore.
Miyavi sobe em cima do muro e olha o outro lado, procurando um lugar onde
possam aterrissar. Percebe que a grama perto do muro é mais alta, o que facilita
tudo.
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– Nani? – Kai se desespera – Nem pensar!
Sem falar mais nada, Miyavi abraça Kai por trás e se joga da árvore caindo sobre
a grama úmida.
Aoi, possesso de raiva solta um urro enfurecido. Mira sua arma para a árvore a
fim de disparar para se acalmar, mas muda de idéia.
Do outro lado muro, Miyavi se levanta e estende a mão para ajudar Kai a se
erguer também.
– Gomen por ter te obrigado a pular. – Miyavi fala todo sem graça.
Miyavi anda até a caixa que estava jogada mais à frente e a pega, analisando-a.
Voltando para perto de Kai o olha totalmente sem graça.
– Tudo bem. Sei que não foi sua intenção. – Kai tenta sorrir, mas o medo e a
tristeza o impedem.
– Melhor sairmos logo daqui, antes que aquele louco nos alcance. – Miyavi
sorri, tentando passar segurança ao moreno que continua tremendo.
Os dois dão alguns passos se afastando do muro, tentando achar uma saída.
Descobrem que entraram em uma espécie de terreno. Era grande e não havia
construções. O local estava totalmente sem iluminação.
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– Afinal, que lugar é esse? – pergunta Miyavi olhando tudo com curiosidade.
Um silêncio cai entre eles, o nervosismo que aquela situação provoca é algo
palpável. Eles estão agitados, olhando para todos os lados, em alerta, pois caso
Aoi aparecesse de novo não queriam ser pegos de surpresa. Eles andam até o
meio do terreno. Kai pára de frente para Miyavi que percorre com os olhos o
terreno em busca de uma saída.
– Na verdade, cachorros. – Kai responde ainda mais baixo, com os olhos fixos
em um ponto às costas de Miyavi.
Kai não diz nada, apenas aponta. Miyavi seguindo com o olhar a direção que o
moreno indica vê um enorme pit bull negro que se aproxima lentamente. Os dois
arregalam os olhos de medo.
Olhando para todos os lados Kai consegue ver um portão de grossas grades no
outro lado do terreno. Segurando no braço de Miyavi aponta o portão.
Sem nenhuma palavra os dois correm em direção ao portão, mas o pit bull é
mais rápido e intercepta o caminho, fazendo-os recuar assustados.
Miyavi procura, mesmo com toda aquela escuridão, por algo que o ajude a
distrair o animal para que possam fugir dali em segurança.
Enquanto isso, Aoi já está em cima da árvore se preparando para pular do outro
lado do muro. Sua fisionomia voltou a mostrar sua frieza característica. Vê ao
longe seus dois alvos e é com um leve sorriso de satisfação que vê a
aproximação do pit bull. Pulando do muro cai na grama macia e úmida, o que
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suja um pouco seu terno. Levanta-se devagar, parando para limpar o terno, com
toda a calma do mundo. Afinal, não precisava ter pressa. Nesse jogo de gato e
rato, ele era o gato e estava prestes a agarrar os dois ratinhos.
Kai olha para trás e vê Aoi se limpando após aterrissar na grama. Segurando o
braço de Miyavi, sussurra:
Às palavras de Kai, Miyavi olha para trás e vê Aoi começar a andar na direção
deles a passos lentos.
Seu coração se aperta ao seu deparar com a expressão aflita de Kai. Tudo
poderia acontecer a si mesmo, mas não suportaria se algo acontecesse com o
moreno. Daria sua vida se preciso fosse para vê-lo livre de qualquer problema.
Seu olhar passeia pela feição que tanto ama. Vê os olhos sem o brilho habitual, a
pele acetinada, os lábios que geralmente se abriam em um sorriso fácil e que
agora estão apertados mostrando todo o medo daquele ser. Descendo um pouco
mais o olhar repara como o moreno aperta com força a alça da capa de seu
violão. Foi então que uma idéia lhe ocorre.
– Como não pensei nisso antes. – Miyavi estende a caixa para que Kai a pegue.
– Tive uma idéia que pode nos tirar aqui inteiros. – Miyavi sorri, posicionando o
violão e dedilhando notas aleatórias.
– Lembrei que uma vez li uma reportagem que dizia que música acalma os
animais. – começa, então, a impor um ritmo mais calmo e uma seqüência às
notas aleatórias que tocava, formando uma melodia suave e tranqüila que
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começava a fazer efeito sobre o pit bull. Deixando-se envolver pela melodia
começa a cantar com sua voz rouca. Isso acaba por derrubar as últimas barreiras
do enorme cão que acaba caindo em um sono profundo.
– Depois você fala que eu sou nerd, mas você não fica muito atrás – Kai fala
sorrindo de leve enquanto aprecia a melodia.
Miyavi sorri, adorando ver como Kai, mesmo naquela situação de alto risco
continua sendo gentil e divertido.
Aoi estaca no lugar ao ver aquela cena. Não consegue disfarçar sua surpresa.
Como aqueles dois miseráveis podem ser tão ‘escorregadios’? Os vê correndo
em direção ao portão de saída.
– Vocês não me escapam. – Aoi murmura com raiva e começa a correr para
alcançá-los antes que saiam do terreno deserto.
Miyavi e Kai chegam rapidamente ao portão que é tão alto quanto o muro. Kai,
imitando Miyavi, joga a caixa do outro lado do portão e com um sorriso espera
Miyavi subir primeiro para poder ajudá-lo.
Miyavi, então, pára de tocar e com dificuldade, por causa do violão que
continuava em sua mão, escala o portão. Chegando ao topo estende a mão livre
para ajudar Kai a subir. E os dois juntos pulam, caindo em pé na calçada, onde
Kai recolhe a caixa. Lançando mais um olhar para Aoi os dois saem correndo em
direção a mais uma travessa.
Aoi ainda estava correndo quando a música cessou e o cachorro despertou. Sem
se importar com esse detalhe continuou correndo, mas o pit bull lhe bloqueia o
caminho, rosnando ferozmente.
Sem se abalar, inclina o corpo até que seus olhos fique no mesmo níquel dos
olhos do pit bull e grita de forma intimidadora. O pit bull se sentindo acuado
recua, fugindo de Aoi.
“Nem mesmo esse feroz pit bull é páreo para mim”, Aoi pensa com arrogância
enquanto vê o cachorro sumir na escuridão do estacionamento. De repente sente
algo quente escorrer no seu tornozelo. Ao olhar, intrigado, vê um pequeno
pitcher fazendo xixi em sua perna.
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Batendo o pé para tentar se limpar, Aoi olha para o portão irritado e vê seus dois
fugitivos indo em direção à mais uma travessa.
– Malditos. Por causa de vocês tenho que passar por tudo isso. – Aoi pensa alto
enquanto começa a correr em direção ao portão – Mil vezes, Malditos!
Pula o portão com facilidade. Quando aterrissa na rua se depara com um homem
vestindo uma máscara preta que lhe bloqueia o caminho.
– Eu mandei você ir logo com isso. Vamos me passa toda a grana. – diz
empurrando Aoi com a mão livre enquanto o ameaça com e estilete.
Aoi continua sem reação, apenas encarando com frieza o assaltante que a cada
segundo perde mais a paciência.
– Você quer morrer, é? – grita o assaltante quando sua paciência esgota. – Quem
você pensa que é?
Lentamente Aoi ergue o lado direito do paletó deixando visível o coldre da sua
arma onde um leão vermelho cravejado de brilhantes está entalhado. Esse é seu
símbolo, reconhecido em qualquer lugar por todos do submundo do crime
organizado.
– Aoi-sama? – pergunta em voz baixa, temendo que sua suposição esteja certa.
– Gomen, Aoi-sama. Isso não vai se repetir. Não me mate, onegai. – o assaltante
implorava.
Aoi o ignora, andando em direção à travessa. Pegar os dois traidores era mais
importante do que humilhar aquele assaltante. Caminha lentamente, planejando
mentalmente as atrocidades que fará para se vingar dos dois por todo o
aborrecimento dessa perseguição.
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ooOoo
– Para onde iremos agora? – Kai pergunta quando Miyavi volta a ficar à sua
frente.
– Conheço essa rua. – Miyavi olha para Kai. – No final dela há uma boate. –
Sorri de forma marota.
– Por um acaso, você está sugerindo para irmos até a boate? – Kai pergunta
surpreso.
Nesse momento, Aoi aparece no início da travessa. Parece estar mais irritado e
insano do que antes.
– Então, Kai, o que você diz? Vamos para a boate? – Miyavi pergunta agitado
olhando para Aoi que parece não tê-los visto ainda.
Não demora muito e os dois se encontram na frente da boate. Kai olha com
interesse a fachada colorida. O som alto chegava-lhes ao ouvido, mostrando que
uma agitada música eletrônica tocava naquele instante.
– Veja. Hoje a entrada é franca. – Kai aponta para uma placa perto da porta da
boate. – Mas, pelo horário a boate deve estar vazia.
– Engano seu. Essa boate é famosa por suas baladas começarem cedo. E desde
que abre já fica lotado.
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– Então você deve freqüentar muito aqui para saber disso – Kai fala sorrindo
enquanto entram na boate.
– Venho sempre que posso. – confirma Miyavi sorrindo de volta – É aqui que
geralmente me apresento.
Os dois passam pelos seguranças indo para o interior da boate. A música alta
vem de encontro a eles os envolvendo em um manto de liberdade e sensualidade.
O ritmo é contagiante e os faz querer dançar a noite toda, mas a realidade é que
não estão ali para se divertir e sim para tentar salvar suas vidas de um louco que
quer matá-los, acusando-os de traição.
ooOoo
Aoi entra na travessa, mas não acha suas ‘presas’. Seu instinto lhe diz para
seguir em frente. Poucos instantes depois chega ao final da travessa. Ali há uma
boate e para sua satisfação vê seus alvos entrarem no lugar.
ooOoo
Kai, que está sentado ao lado de Miyavi de frente para a enorme pista de dança,
observa com atenção a movimentação do lugar. As luzes de neon piscam
42
acompanhando as batidas da música eletrônica que rolava. Pessoas dançam
alucinadamente. O clima animado e sensual é contagiante.
Kai olha para Miyavi agradecendo aos céus por colocá-lo em seu caminho, pois
se estivesse sozinho não saberia o que fazer e provavelmente já estaria morto.
Ao lado de Miyavi conseguia esquecer sua tristeza e a dor quase sumia por
inteiro. Sentia-se seguro e protegido como há tempos não se sentia. E isso o
deixava confuso, pois fazia menos de duas horas que o havia conhecido.
– Você tem idéia do motivo daquele louco estar nos perseguindo? – Miyavi
pergunta para Kai enquanto observa as pessoas dançando na pista.
– Ie. Também queria saber por que ele cismou que nós dois o traímos – Kai
busca em sua memória alguma coisa que o ajude a entender o motivo de ter
entrado nessa enrascada. – Só espero que no final dê tudo certo e a gente fique
livre daquele doido.
– Acabará tudo bem. Você vai ver. – Miyavi fala em tom animado, tentando
acreditar nas próprias palavras.
Um ruivo se destaca entre todos os que estão dançando. Sensualmente, ele passa
as mãos pelo corpo enquanto seu quadril acompanha a batida erótica da música.
Seus olhos permanecem fechados e sua expressão revela muita luxuria. A
iluminação empresta a sua pele alva um brilho sobrenatural, assemelhando-o a
um anjo. Um anjo sedutor. A atenção de todos está voltada para ele.
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Miyavi, ao ver essa cena, fecha os olhos e deixa a imaginação voar. Mas ao
invés do ruivo quem dança para ele é Kai, seu anjo, que há meses o provoca em
sonho. O imagina dançando da mesma forma sedutora e isso acaba com seu
autocontrole. Seu corpo começa a reagir e isso o deixa sem jeito, pois o alvo de
desejo está ao seu lado.
Kai, ao perceber o desconforto do outro fica preocupado, achando que ele não
está bem.
– Miyavi-kun, está tudo bem com você? – Kai se inclina tocando no braço de
Miyavi.
Kai ao ver a tensão do mais velho fica ainda mais preocupado, principalmente
após ver um rubor intenso em suas faces. Pensa em insistir com a pergunta, mas
desiste ao vê-lo respirar fundo e abrir os olhos.
ooOoo
Aoi entra na boate totalmente concentrado em achar os dois fugitivos. Está tão
centrado que nem percebe a música e muito menos as olhadas que recebe de
todos os presentes. Começa a caminhar entre as pessoas, sua expressão ficando
mais sisuda a cada segundo que passava. Sua ânsia por sangue já beirava a
obsessão. Só iria sossegar quando conseguisse matar os “traidores”.
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Ao chegar ao bar da boate, Aoi pede um Whisky. Ao receber a bebida ele volta a
andar à procura de suas presas. Nem bem tinha dado dois passos quando um
homem ruivo o aborda:
O moreno o ignora enquanto continua sua procura. Mas mal tinha dado dois
passos sentiu seu braço ser agarrado, ao olhar quem o tinha segurado percebeu
que Yullia o tinha seguido.
– Vamos lá, gato. Me dá uma chance! – Yullia fala num tão manhoso. – Prometo
que você não vai se arrepender.
Aoi então volta-se para Yullia e sorri de forma marota. Então se aproxima
lentamente, encostando ligeiramente os corpos. Aproxima seus lábios do ouvido
do ruivo e sussurra de forma rouca e sensual:
– Que tal fazermos uma brincadeira? – Se afasta um pouco para ver a reação do
ruivo, que abre um sorriso lindo e empolgado.
– Ah, qual brincadeira lindo? – Yullia fica todo ouriçado com a perspectiva de
passar à noite com o moreno.
– Vamos fazer assim: eu sou um brinquedo caro e você é uma criança pobre. –
Aoi dá as costas ao ruivo e volta procurar os dois jovens.
Aoi pára no meio da pista de dança e olha ao redor, encontrando o que procura
em uma das mesas mais afastadas. Lançando um sorriso irônico faz um brinde
na direção dos dois jovens que o olham aterrorizados, tomando todo o conteúdo
do copo em um único gole.
ooOoo
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Ao ver Aoi entrar na boate, toda a excitação de Miyavi desaparece rapidamente,
dando lugar à tensão do medo.
– Ele está vindo para cá. – Kai sussurra assustado com os olhos em Aoi que
caminha no ritmo da música.
– Bem, não sei pra onde, mas é melhor sairmos logo dessa mesa. – Miyavi
responde se levantando da mesa.
Miyavi e Kai paralisam ao ver Aoi acelerando os passos. Suas mentes sabem do
perigo de não saírem dali antes que o mafioso se aproxime, mas seus corpos não
reagem como se estivessem presos pelo olhar maléfico de Aoi.
Sem nunca quebrar o contato visual com seus alvos, Aoi continua indo na
direção dos dois. Totalmente concentrado em seu objetivo não repara em nada
que acontece ao seu redor, muito menos em certo ruivo que lhe segue com o
olhar. A cada passo dado sua mente turva mais, ficando quase cego pela
obsessão de matar os dois traidores. Faltando apenas alguns passos para chegar à
mesa onde Miyavi e Kai estão Aoi pára de andar, apreciando a densa áurea de
medo presente ali.
– Vocês não pensaram que iam conseguir escapar de mim para sempre,
pensaram? – Aoi dá mais um passo em direção à mesa.
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Lentamente, Miyavi se inclina e pega o violão que está na mesa entregando-o a
Kai que o coloca sobre os ombros, também de forma lenta para não alertarem
Aoi e irritá-lo.
– Sabe, essa caçada me satisfez muito. Mas agora estou cansado, então a
brincadeira acabou. – outro passo é dado em direção à mesa. Aoi continua
falando de forma doentia, cego pela insanidade.
Miyavi, da mesma forma que o violão, pega a caixa que também está sobre a
mesa, segurando-a firmemente com as duas mãos.
– Nada me irrita mais nesse mundo do que traição. Por isso, eu quero... – Aoi
que avança cada vez mais é interrompido em seu monólogo por uma voz
estridente.
– Ah, quer dizer que você não quis nada comigo por causa dele que já está
acompanhado?
Aoi olha para trás e dá de cara com o ruivo que o abordou quando entrou na
boate.
– Ah, não! Você de novo? – Aoi se irrita com a interrupção de seu ataque.
– Sim querido, estou de volta. Meu bem, ninguém me rejeita. Todos me querem,
mas só me tem aqueles que eu quero. E você que teve a honra de despertar meu
interesse me troca por esse aí? – Yullia aponta com desdém para Kai que fica
surpreso – Me diz o que essa coisa insossa tem que eu não tenho? – a cada
palavra Yullia aumenta o volume de sua voz, atraindo a atenção de todos na
boate.
– Fala baixo. – Aoi fala entre os dentes, a discrição que tanto preza sendo
abalada pelo escândalo daquela briga.
– Eu? Gemendo com você entre quatro paredes? – Aoi pergunta cínico.
– Oh, sim, você querido. Como eu já disse você tem a honra de despertar meu
desejo.
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– Ah, então devo me sentir honrado por despertar o interesse de alguém como
você? – Aoi descarrega toda a ironia que possui nessa frase.
– E por que não? – Yullia fala com arrogância. – Essa noite eu o quero em
minha cama e tudo o que desejo eu consigo. De um jeito ou de outro.
– Pois então, serei o primeiro desejo seu que não se realizará. – Aoi desdenha o
ruivo que fica corado perdendo totalmente a compostura.
– Se não o terei por bem, terei por mal. – Yullia avança para Aoi tentando lhe
roubar um beijo, surpreendendo à todos que assistem a cena.
Aproveitando a distração, Miyavi puxa Kai para sair dali sem ser percebidos.
Puxando o moreno pela mão os dois sobem as escadas que levam para a área vip
da boate.
– Por que estamos indo para a área vip? – Kai pergunta estranhando a atitude do
mais velho.
– Por que se sairmos agora é capaz do Aoi nos seguir e essa perseguição
continuar. – Miyavi responde ofegante enquanto correm escada acima. – Daqui
podemos sair pela saída de incêndio, assim ganhamos um tempo de vantagem.
– Me solta, seu doido. – empurra Yullia que volta a agarrá-lo. – Como ousa me
tocar?
– Eu já disse: tudo o que quero eu tenho. Por bem ou por mal. – Yullia não
desiste, tentando novamente beijar Aoi, que outra vez o empurra com uma
expressão de puro desprezo.
Olhando em volta durante essa discussão, Aoi vê Miyavi e Kai correr para a área
vip da boate. Afastando Yullia com mais força Aoi se põe a correr atrás dos dois.
Yullia não se dando por vencido corre atrás de Aoi gritando:
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Aoi olha para trás com seu olhar mais perigoso e mesmo assim o ruivo continua
a persegui-lo.
Miyavi e Kai correm em direção à saída de incêndio. Olham para trás e vêm Aoi
perseguindo-os, incansável, o que os desespera, pois contavam com o fator
surpresa para se ver livre do mafioso.
Miyavi não sabe o que responder. Estão encurralados. Para qualquer lugar que
pensem em ir Aoi irá atrás e essa perseguição só terá fim com a morte deles.
Olha para Kai e vê toda a vontade de viver, toda a garra para encontrar a
felicidade. Não é justo que ele, tão cheio de energia, tenha um final tão trágico
nas mãos de um criminoso maluco. Olha em volta e vê uma porta com uma
placa indicando que a área era restrita à funcionários. Sem pensar duas vezes
puxa Kai para entrar na sala. É um banheiro ao fundo tem uma escada que dá
acesso para o bar da boate.
– Miyavi não podemos entrar. – Kai, com seu senso de responsabilidade, fala
preocupado. – E se nos pegarem aqui dentro?
– Você prefere ser pego pelos seguranças da boate que apenas reclamarão ou
pelo doido que nos matará? – Miyavi pára de correr encarando o mais novo com
seriedade.
– Eu... – Kai sabe que Miyavi tem razão, mas mesmo assim não gosta de fazer
nada errado. Mesmo que seja somente entrar num banheiro privado.
O sorriso de Miyavi se alargou ao ver Kai bravo, ele fica tão lindo quanto
quando sorri mostrando suas covinhas. Porém seu sorriso dura pouco, pois nem
bem começam a andar de novo a porta se abre dando passagem a Aoi.
Aoi vê seus alvos entrarem no banheiro privativo dos funcionários da boate. Seu
sorriso aumenta com a perspectiva de matá-los lá dentro. Mas ao correr se
depara com o ruivo seguindo-o. Vira-se para o ruivo e fala num tom gelado:
– Você não faz meu tipo. Consigo coisa melhor que você.
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– Não importa o que você goste ou não, o que interessa é que eu gostei de você e
o quero. – responde Yullia em um tom teimoso.
Aoi solta um muxoxo irritado e volta a correr para não perder suas presas de
vista. Ao entrar no banheiro vê os dois fugitivos parados conversando. Ao
perceberem sua presença os dois fogem pelas escadas. Aoi vai atrás, notando
que o insistente ruivo continua seguindo-o. Sua paciência está cada vez mais
curta, mas tenta se concentrar em alcançar seus alvos.
– Mas, Kai, olha para trás – diz Miyavi tentando acalmar o moreninho.
O garoto olha por sobre o ombro vendo Aoi chegar ao bar pela escada.
Miyavi ri do jeito desligado do mais novo. Pegando na mão de Kai volta a correr
saindo do bar e indo em direção à pista de dança.
Aoi passa como um raio pelo bar, esbarrando no mesmo barman, derrubando a
nova bandeja que este carrega. Mais reclamações foram ouvidas por parte do
barman, mas o mafioso nem deu ouvidos, concentrado em não perder os dois
jovens de vista, correndo em direção à pista de dança.
O barman pegava uma nova bandeja com mais copos e gelo quando Yullia entra
no bar correndo atrás de Aoi. Conformado, o barman joga a bandeja no chão
antes que o ruivo esbarre nele também. Assim que a bandeja espatifa no chão
junto às outras duas, Yullia passa por ele sem nem ao menos tocá-lo. Revoltado,
começa a chorar enquanto recolhe do chão os cacos de vidro e limpa toda a
bagunça feita.
Miyavi e Kai passam com dificuldade por entre as pessoas que dançam
empolgadas. A caixa e o violão se chocam muitas vezes contra os corpos que se
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movimentam freneticamente acompanhando o ritmo agitado da música
eletrônica. Algumas pessoas reclamam, outros nem ligam e abrem caminho para
que eles possam passar com mais facilidade.
Aoi segue logo atrás. Sua expressão demonstrando toda a sua raiva. Já está
cansado de sempre conseguir encurralar os fugitivos e alguém o atrapalhar,
fazendo com que fujam de novo. Para aumentar ainda mais sua irritação o ruivo
não larga de seu pé, cismado em querer agarrá-lo.
Yullia vê ao longe seu delicioso alvo correndo atrás do jovem casal que parece
evitá-los de todas as formas. O ciúme pelo seu objeto de desejo o corrói.
“O que é que aqueles dois têm que eu não tenho para atrair tanto o interesse do
bonitão?”, pensa contrariado vendo os esforços de Aoi para alcançar os dois.
Ter sido rejeitado por Aoi e ainda vê-lo correndo atrás dos jovens com tanto
interesse fere seu orgulho. Um sentimento obsessivo se apossa de sua mente.
Seu lado possessivo domina-o enquanto segue com os olhos os movimentos de
Aoi.
– Ele será meu, nem que seja à força. – murmura enquanto acelera os passos
com um sorriso obstinado na face alva.
Miyavi leva Kai de volta para a área onde ficam as mesas da boate saindo da
lotada pista de dança. Os dois passam pela mesa em que estavam sentados
alguns minutos antes seguindo na direção oposta a do começo da perseguição,
exatamente onde ficam os reservados.
Quase alcançando os dois Aoi saca sua arma apontando diretamente para Kai.
Apesar de discrição ser o seu forte cansou do joguinho de gato e rato e quer
acabar logo com essa missão.
Miyavi percebe que o mafioso sacou sua arma e aponta para Kai. Deixa, então, o
moreno ir à frente, ficando atrás dele, dificultando a mira da arma para o
moreno, se colocando como alvo, protegendo o ser amado.
Yullia segue de perto os três. Sua vontade de agarrar Aoi aumentando a cada
segundo que passava. Além do orgulho ferido a aparência sensual do mafioso
mexia com sua libido.
“Hum, que delícia! Adoro homens perigosos”, pensa ao ver Aoi sacar a arma e
apontar para o casal.
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– Então quer dizer que o bonitão não quer pegá-los e sim matá-los. – um sorriso
malicioso surge em seu rosto – Isso quer dizer que tenho chances. – Yullia
murmura alvoroçado correndo ainda mais rápido atrás do trio.
Aoi engatilha sua arma apontando diretamente para a cabeça de Miyavi. Prende
a respiração ante a perspectiva de ver o corpo inerte no chão, a vida se esvaindo
rapidamente. O sadismo é visível em suas feições e o brilho insano que seu olhar
irradia está mais forte do que nunca.
Miyavi, ao escutar a arma ser engatilhada, pára de correr virando-se para trás,
soltando a caixa e encarando Aoi nos olhos. Kai, ao ouvir o barulho da caixa
batendo no chão também pára de correr e observa atônito a cena à sua frente.
Seu coração se aperta ao ouvir o tiro sendo disparado.
Miyavi fecha os olhos com força, sem fazer movimento nenhum para se
proteger. Toda a sua vida passa com flashes em sua cabeça.
“E eu nem tive a oportunidade de dizer ao Kai o que sinto por ele”, pensa com
pesar esperando pelo impacto da bala em seu peito.
“Será que já estou morto?”, pensa, tocando o próprio peito à procura do furo da
bala. Mas não encontrando nada. Olha para Kai procurando uma resposta,
preocupado de que ele esteja ferido e o vê pálido olhando fixamente para algo no
chão. Seguindo o olhar do moreno fica atônito com a cena que presencia.
ooOoo
Aoi vê com interesse Miyavi parar de correr e encará-lo, numa mistura de medo
e altivez que o deixa muito satisfeito, pois odeia matar covardes, gosta do
desafio de subjugar suas vítimas antes de acabar com suas vidas. A frieza do
metal em suas mãos dando-lhe a sensação de poder absoluto.
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Não agüentando mais a ansiedade, aponta a arma para o coração do mais alto e
atira. Mas bem na hora, braços franzinos o agarram, fazendo com que perca o
equilíbrio, caindo e assim errando a mira.
Com muito custo, consegue afastar o ruivo abusado, jogando-o no chão com
brusquidão. Repara que os dois caíram dentro de um dos reservados e seus
ocupantes, que parecem ser executivos renomados, com seus casacos pretos e
luxuosos, os olham com raiva como se eles tivesse atrapalhado uma negociação
muito importante.
– Eu não disse que você seria meu? – a voz do ruivo chega aos seus ouvidos. Ao
olhá-lo percebe seu sorriso arrogante com irritação.
– Mas você não me teve. – rebate com frieza enquanto se levanta olhando à sua
volta.
– Mas você será meu. Todinho meu. – o ruivo agarra a perna direita de Aoi
fazendo com que ele perca novamente o equilíbrio.
– Ah, então quer dizer que você é o traidor? Muito bom encontrá-lo. Estava
procurando por você. – fala em um tom perigosamente calmo.
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ooOoo
Kai por sua vez, entende o mal-entendido que houve. Afinal o mafioso o
confundiu com outra pessoa.
Yullia inconformado com Aoi volta seu olhar para os jovens à sua frente. É
visível a química entre os dois e é com um sorriso que fala enquanto se põe a
andar de volta a pista de dança:
– Vocês fazem um bonito casal. Valorizem esse sentimento tão intenso que os
envolvem. Não percam a oportunidade de encontrar a verdadeira felicidade.
Ao ouvir isso Kai cora intensamente, sem entender o real significado daquelas
palavras. Miyavi, no entanto, estremece por ver como seus sentimentos estão tão
evidentes e sorri, pois somente o desligado do moreno não percebe isso.
Pegando a caixa do chão Miyavi encara Kai que sorri para ele mostrando as
covinhas que tanto ama.
– Hai. Essa noite está sendo longa. Quero acabar logo com isso. – Kai responde,
ajeitando melhor o violão nos ombros.
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Kai, ao contrário, se vê ainda mais desiludido no amor, pois, mesmo que
indiretamente, foi por culpa de Daiki que se meteu nessa enrascada. Mas, em
algum lugar de seu coração sentia algo diferente depois daquela noite, como se
um lugar escuro em seu interior fosse iluminado por algo muito forte. E apesar
de contraditório a tudo que está se passando ao seu redor, uma inexplicável
alegria o invade. Mas mesmo essa alegria não o impedia de ficar sem saber o
que fazer e como agir quando finalmente estivesse cara a cara com Daiki. Isso o
faz lembrar-se da promessa que fez a si mesmo de nunca mais se apaixonar,
fazendo-o ficar ainda mais amargurado.
Miyavi percebe toda a tensão e desconforto que se apossa de Kai. Sua vontade é
abraçar o mais novo e dizer que tudo terminará bem e tudo o que borbulha como
lava em seu coração, mas sabe que não pode fazer isso, pois poderia estragar a
amizade tão recente entre eles. Olha para Kai sorrindo, tentando dessa forma,
acalentar o coração ferido de seu moreno amado.
Kai, então, pára em frente à uma casa, a maior e mais bonita de todo o bairro.
Fecha os olhos tentando controlar suas emoções. Sente Miyavi se aproximar e
isso faz com que sua respiração, que nem percebera que havia prendido, voltar à
normalidade.
Miyavi permanece ao lado de Kai em silêncio, pois sente que o mais novo
precisa enfrentar isso sozinho para poder se libertar dos fantasmas que roubam
sua alegria.
Os dois param diante da porta de entrada da casa. Miyavi entrega a caixa laranja
à Kai e retira delicadamente o violão dos ombros do moreno, ajeitando-o sobre o
próprio ombro.
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– Prometo não demorar muito – Kai olha nos olhos de Miyavi em um mudo
pedido de desculpas.
– Não se preocupe. Leve o tempo que precisar. Vou ficar esperando. – Miyavi
faz de tudo para passar a confiança que o moreno precisa.
Miyavi se afasta um pouco. Não quer ser intrometido em um assunto tão pessoal,
e também não quer estar perto o bastante de Daiki para não correr o risco de
quebrar a cara dele para descontar todo o mal que ele fez ao trair o moreno.
Após alguns instantes que, para Kai pareceram horas, a porta é aberta por um
homem alto, de pele alva, cabelos negros na altura dos ombros e olhos
chocolates vestido com uma calça moletom branca e uma regata preta colada ao
corpo delineando os músculos bem definidos.
Kai entra em choque, sem saber como reagir, ao ver Daiki. Tenta fazer algo, mas
seu corpo paralisou. Estar cara a cara com o homem que o fizera acreditar na
vida novamente e depois destruiu seus sonhos abala Kai mais do que imaginava.
Sua voz parece ter sumido fazendo com que um silêncio incômodo se instale
entre eles. Seus olhos procuram por Miyavi e o sorriso que o mais velho lhe
oferece o incentiva a permanecer firme. Não suportando mais a pressão do
momento Kai toma a iniciativa de forma anormalmente tímida:
– Olá! – sua voz sai em um tom tão baixo que teme que Daiki não tenha
escutado.
– O que você quer? – Daiki é extremamente seco e grosso, fazendo com que Kai
se encolha ligeiramente e Miyavi cerre os punhos com força tentando controlar a
raiva.
– Então entregue logo, pois tenho coisas mais importantes para fazer do que
desperdiçar meu tempo com você – a voz gélida de Daiki reabre as feridas no
coração do moreno.
Miyavi morde o lábio inferior, perto do piercing, com força, se segurando para
não avançar contra Daiki, pois Kai tinha que enfrentar e vencer aquilo sozinho
senão nunca teria paz que tanto procurava.
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Kai estende a caixa para Daiki, que prontamente a recebe, evitando o contato
entre suas mãos com as do moreno. Isso não passa despercebido pelo moreno,
que apenas suspira baixinho se dando por vencido e se entregando novamente à
tristeza.
– Bem, era só isso. – Kai espera que Daiki fale alguma coisa, mas como ele o
ignora caminha até Miyavi se preparando para ir embora.
Miyavi observa Kai atentamente, sua expressão demonstra o quanto dói vê-lo
daquele jeito, com o semblante carregado de dor. Seu peito se aperta ao ver que
mesmo daquele jeito o moreno sorri levemente se mostrando forte enquanto por
dentro sua alma está morrendo.
– Espere Kai! - Nem bem deram dois passos em direção à rua e ouvem Daiki
chamar Kai.
Miyavi lê a confusão nos olhos de Kai. Percebe o quanto o mais novo está
abalado. Seu coração se aperta ao ver o sentimento escondido sob toda a
confusão.
“Ele deve mesmo amar muito o desgraçado do Daiki”, pensa com amargura,
invejando o homem que está escorado na porta esperando Kai alcançá-lo.
Vê os dois trocar algumas palavras e Kai sorrir e isso lhe machuca o coração. Se
sentindo sobrando ali, resolve ir embora. Lançando mais um olhar para o
moreno o vê falando animado com Daiki e não suportando mais começa seu
caminho de volta para casa.
ooOoo
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Ao alcançar Daiki, Kai, não consegue esconder sua confusão e curiosidade. Olha
para o rapaz à sua frente esperando pela explicação de ter sido chamado, mas o
outro apenas o encara, olhando em seus olhos como fazia no início do namoro.
Isso incomoda Kai, que não sabe dizer o motivo de estar tão inquieto na
presença de seu ex-namorado.
– O que você queria me falar? – Kai pergunta quando percebe que a explicação
não iria chegar.
Corando um pouco, Daiki abaixa a cabeça, olhando para a caixa em suas mãos e
fala em tom enérgico:
– Poderia ter trazido as coisas em uma caixa em melhores condições. Isso aqui
está um verdadeiro lixo.
– Não acredito que era só para dizer isso que você me chamou. – Kai se irrita
com o tom usado por Daiki.
– Na verdade, eu o chamei aqui para saber se você está disposto a me dar uma
nova chance. – Daiki dispara as palavras.
A surpresa de Kai é enorme. Nunca poderia imaginar que Daiki pediria para que
voltassem a namorar. Não depois de tudo o que ele fez e disse.
– Eu andei pensando, Kai, analisando a minha vida. E percebi que o seu amor é a
melhor coisa pra mim. – Daiki fala lentamente, olhando para o horizonte a
expressão perdida. – Vi que ao me afastar de você, perdi toda a minha alegria.
Eu preciso ter você ao meu lado para ser feliz de verdade.
“Como Daiki pode falar essas coisas depois de me trair?”, Kai sorri
cinicamente com esse pensamento. Olhando à sua volta percebe que Miyavi não
está mais ali e sim caminhando pela rua, de cabeça baixa. Isso o deixa
preocupado.
– Foi por isso que pedi para que trouxesse os presentes, para poder ter uma
desculpa plausível para que você viesse aqui para podermos conversar. – Daiki
continua falando, dessa vez olhando novamente nos olhos de Kai que não
consegue esconder a revolta que começa a surgir em seu interior. – Então, Kai
terei essa nova chance? – Daiki pergunta esperançoso, esperando por uma
resposta afirmativa.
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– Sabe, você me fez prometer que nunca mais iria me apaixonar... – Kai olha na
direção para onde Miyavi caminha –... Mas acho que terei que quebrar essa
promessa, depois de hoje.
– Como assim? – Daiki parece confuso – Você está apaixonado por outra
pessoa?
Kai fica em silêncio, olhando com curiosidade. Ainda não havia tido tempo de
pensar e organizar seus sentimentos. Mas ao ver Miyavi seguir seu caminho
demonstrando uma enorme tristeza fez com que um nó subisse à sua garganta e a
sua maior vontade era vê-lo sorrir novamente.
“Afinal, o que eu estou sentindo?”, pensa ao olhar mais uma vez para Miyavi
que já caminha ao longe.
Pesando tudo, Kai chega à conclusão de que em duas horas se sentiu mais seguro
ao lado de Miyavi do que em um ano e meio com Daiki. Divertiu-se muito mais
com as conversas. Sentia uma sensação de preenchimento total do vazio em seu
coração. Tinha que confessar que apenas imaginar que poderia nunca mais voltar
a ver o rapaz de cabelos azuis doía-lhe mais do que descobrir a traição de Daiki.
Voltando seus olhos para Daiki não consegue ver a mesma beleza e delicadeza
que via antes. Aliás, nem sabia o motivo de ter se apaixonado perdidamente por
ele. Já com Miyavi...
Daiki não suporta mais o silêncio do moreno. Sua expressão fica tensa só de
imaginar Kai apaixonado por outra pessoa. Agarrando Kai pelos ombros, o
sacode com violência.
– Me solta! – Kai se desvencilha e sem nada dizer se põe a correr para alcançar
Miyavi, deixando Daiki espumando de raiva.
Não demora muito para alcançar o mais velho que caminha em um ritmo lento,
perdido em pensamentos.
Miyavi pára de andar, olhando atônito o mais novo que lhe sorri meigamente,
mostrando as covinhas que tanto ama. Confuso, pergunta:
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– Que namorado? – Kai pergunta intrigado.
– Não somos mais namorados. Estou solteiro há um mês. E não é ele quem eu
amo. – Kai usa um tom leve e espontâneo, como se estivessem apenas
comentando sobre o tempo.
– Mas até agora você estava todo cabisbaixo por causa dele. – Miyavi não
consegue entender a atitude do moreno.
– É que só agora percebi que não preciso do Daiki para viver. E que eu tenho
alguém muito melhor para amar.
Sem pensar duas vezes, Miyavi com um sorriso radiante no rosto, toma Kai nos
braços beijando avidamente, enfim realizando seu sonho de conhecer o gosto
daqueles lábios rosados.
E aquele beijo é banhado pela esplendida luz do luar, que recai sobre os dois
fazendo-os parecer dois anjos iluminados. A áurea de amor irradiando sua
beleza.
O beijo dura minutos, o contato sendo quebrado por Miyavi que olha nos olhos
do moreno mostrando todo o amor que existe em seu coração. Sorrindo, Kai
entrelaça sua mão com a de Miyavi e com um belo sorriso no rosto, os dois
voltam a caminhar.
– Ne, Kai-chan, que ir a algum lugar especial? – Miyavi pergunta com sua
agitação habitual.
– É melhor eu voltar para casa, preciso salvar o Uru da fúria assassina do Ruki. –
Kai responde sorrindo.
– A louça do juntar sou eu que lavo. Mas como eu lavei a louça do almoço no
lugar do Uruha, o Ruki irá obrigá-lo a lavar a do jantar, e só Kami-sama sabe
como Uruha detesta lavar louça. – responde. Ri só de pensar na guerra que deve
60
estar armada no apartamento. – Então, preciso salvar o Uru das frigideiras
voadoras do Ruki.
– Posso ter ajudar então? – Miyavi pergunta olhando para os olhos de Kai.
– Claro que sim. Será um prazer. Assim, aproveito para apresentar meu
namorado ao Ruki e ao Uruha. – responde alegremente.
– Namorado?
– Sim, um belo rapaz de cabelo azul que roubou meu coração. – o tom de Kai é
meigo. Um enorme sorriso iluminando suas feições.
Miyavi para de andar ao ouvir as palavras de Kai. Seu olhar irradia felicidade.
Puxa o moreno para mais um beijo, enquanto o abraça apertado.
Fim?
ooOoo
N / A: Nem acredito que consegui terminar esse texto. Foram os dois meses
mais longos de toda minha vida. Parecia que o mundo conspirava para que eu
não conseguisse terminar no prazo, mas, aqui está minha primeira fic.
Kaline, foi você que me meteu nessa “fria” e eu agradeço muito. Obrigado por
todo o incentivo e força nos piores momentos. Obrigado também por betá-la
deliciosamente. Amo você Sensei.
61
Lady Anúbis, não há palavras o bastante para agradecer todo o apoio, toda a
atenção e carinho dispensados à minha pessoa. Perdoe-me por todos os
momentos depressivos.
Aprendi muito com nossas conversas.
Railan, obrigado por ser minha cobaia-mor. Valeu por todo incentivo e as
ameaças também.
Diego, obrigado por me ajudar com o título, afinal a sua “bíblia” japonesa me foi
muito útil.
Gisele, por sua ajuda no laboratório para a cena da boate. Te amo maninha.
Peu, Léo, Barbara, André, Evellyn, Jéssica e Bruna obrigado pelas opiniões e
palavras de estimulo. Obrigada por me agüentarem na escola durante minhas
crises histéricas. Valeu pela paciência.
Yvone (Ark), por ter salvo meu primeiro arquivo e me ajudado a recuperá-lo
quando o computador maluco deletou a fic sozinho. Você salvou minha
sanidade.
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