Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
*∗Doutora em Comunicação pela University of Leeds, Inglaterra, e professora dos Cursos de Graduação
e Pós-Graduação em Comunicação da UNISINOS, RS.
1
FRAGOSO, Suely . Representações espaciais em novos mídias. In: Dinora Fraga da
Silva; Suely Fragoso. (Org.). Comunicação na Cibercultura. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2001, v. 1, p. 105-115.
2
FRAGOSO, Suely . Representações espaciais em novos mídias. In: Dinora Fraga da
Silva; Suely Fragoso. (Org.). Comunicação na Cibercultura. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2001, v. 1, p. 105-115.
'novos mídias'
3
FRAGOSO, Suely . Representações espaciais em novos mídias. In: Dinora Fraga da
Silva; Suely Fragoso. (Org.). Comunicação na Cibercultura. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2001, v. 1, p. 105-115.
central (ainda que numa versão adaptada2). Não por coincidência, a localização do
ponto de vista para enunciação é referida, no jargão da computação gráfica, como
'posicionamento da câmera virtual'.
A instituição da 'câmera virtual' colabora com a tentativa de apropriação, por
parte dos mídias digitais, do 'realismo' comumente atribuído às imagens construídas
conforme o código da perspectiva central. Essa tendência ao 'realismo', que
caracteriza a maior parte da pesquisa e desenvolvimento em computação gráfica,
conduz inicialmente à conclusão de que as representações espaciais nos 'novos' mídias
seguem padrão bastante similar às práticas dos mídias analógicos e da pintura de
motivação figurativa tradicional. De fato, uma vez que os algoritmos de visualização
de imagens geradas numericamente adotam estratégias de organização do espaço
digital baseadas nos pressupostos da perspectiva central e da camera obscura, de fato
o que se vê enunciado nas telas dos computadores é o espaço infinito, homogêneo e
anterior às coisas que o povoam que Panofsky denominou 'sistematizado'. Assim, a
enunciação das imagens digitalmente geradas parece indicar que a modelagem
computadorizada se limita a reproduzir e reforçar o conceito de espaço predominante
no mundo ocidental desde a Renascença.
A enunciação do espaço virtual na tela do computador é, no entanto, apenas o
aspecto mais aparente do processo de representação do espaço pelos mídias digitais. A
novidade fundamental da computação gráfica reside justamente na instituição de um
nível de representação anterior e independente do momento de enunciação, ou seja, a
representação digital antecede a produção da imagem a ser observada na tela. Para o
sistema digital, a imagem perspectivada de um cubo, uma série de trios ordenados que
indicam as posições relativas dos vértices de um cubo, determinadas seqüências de
zeros e uns e quaisquer outras formas de representação que se resolva adotar podem
corresponder a uma mesma configuração.
Os mais variados aplicativos de modelagem e linguagens de programação
4
FRAGOSO, Suely . Representações espaciais em novos mídias. In: Dinora Fraga da
Silva; Suely Fragoso. (Org.). Comunicação na Cibercultura. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2001, v. 1, p. 105-115.
5
FRAGOSO, Suely . Representações espaciais em novos mídias. In: Dinora Fraga da
Silva; Suely Fragoso. (Org.). Comunicação na Cibercultura. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2001, v. 1, p. 105-115.
ciberespaço
3 Kant disputa estas visões do espaço conforme defendidas por G. Leibniz (espaço relativo, ou seja, um
sistema de relações entre coisas reais) e Newton (espaço como receptáculo ilimitado e absoluto), em
paralelo com suas discussões sobre o caráter apriorístico do tempo, em várias de suas obras. Uma vez
que o presente texto não tem a especulação filosófica sobre o estatuto do espaço como seu ponto
central, considerou-se suficiente restringir a discussão às colocações de um comentador das
proposições Kantianas sobre o espaço, conforme se pode verificar nas referências bibliográficas.
6
FRAGOSO, Suely . Representações espaciais em novos mídias. In: Dinora Fraga da
Silva; Suely Fragoso. (Org.). Comunicação na Cibercultura. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2001, v. 1, p. 105-115.
implicado pelos eixos cartesianos, a partir dos quais opera a grande maioria dos
aplicativos e algoritmos, uma convergência ainda mais intricada acontece na
instituição do chamado 'ciberespaço'. Também o ciberespaço é simultaneamente
espaço sistematizado e agregado. Trata-se de um 'espaço agregado' na medida em que
é constituído a partir das relações dos elementos – virtuais - que o compõem. A
constante mobilidade e mutação dos elementos constituintes, os quais continuamente
'entram' e 'saem' do ciberespaço, permite identificar uma instância, no entanto, em que
o ciberespaço é concebido como uma 'não-entidade' ilimitada. Neste sentido, trata-se
de um 'espaço absoluto'.
É preciso lembrar ainda que os elementos do ciberespaço possuem as mais
diversas características e dimensionalidades. Tomemos como exemplo uma única
'página'4 simples da World Wide Web, composta por uma pequena quantidade de texto
e uma 'janela' na qual se vislumbra um ambiente tridimensional construído em VRML5
A visualização perspectivada da região tridimensional da página remete
imediatamente à formulação de base Albertiana segundo a qual o quadro deveria
funcionar como uma janela a partir da qual se visualiza uma paisagem. Mas a
metáfora da página não poderia ser substituída pela de uma parede grafitada com uma
janela, pois o usuário, apesar de estar 'do lado de cá da parede', pode interagir e
modificar a paisagem ‘lá fora’. A complexidade da concepção de espaço que embasa
a construção de uma tal representação, e a naturalidade com a qual a compreendemos,
se tornam ainda mais surpreendentes quando reconhecemos essa 'página' como apenas
um entre os muitos elementos a partir dos quais emerge o ciberespaço. No
ciberespaço, como o conhecemos através da World Wide Web, 'páginas' como a
anteriormente descrita se entrecruzam dinamicamente com elementos concebidos das
mais diversas maneiras. O ciberespaço emerge, justamente, dos vínculos entre
'páginas' compostas unicamente por texto sobre fundo monocromático e outras com
imagens bidimensionais estáticas, que por sua vez se relacionam a representações
visuais dotadas de temporalidade (a partir da inclusão de animações ou seqüências
7
FRAGOSO, Suely . Representações espaciais em novos mídias. In: Dinora Fraga da
Silva; Suely Fragoso. (Org.). Comunicação na Cibercultura. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2001, v. 1, p. 105-115.
Fragoso, S. D., O Imaginário Digital: considerações sobre as premissas básicas da modelagem digital
computadorizada. Dissertação apresentada para a obtenção do título de Mestre em
Comunicação e Semiótica junto à PUC/SP, 1992, inédita, 78 pp.
Manovich, L. "The Aesthetics of Virtual Worlds", segunda parte da mensagem enviada à Nettime:
moderated mailing list for net criticism, collaborative text filtering and cultural politics of the
nets em 11 de Fevereiro de 1996. Disponível on-line em
http://www.nettime.org/nettime.w3archive/199602/msg00000.html [outubro de 1999].
8
FRAGOSO, Suely . Representações espaciais em novos mídias. In: Dinora Fraga da
Silva; Suely Fragoso. (Org.). Comunicação na Cibercultura. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2001, v. 1, p. 105-115.
Panofsky, E., Perspective as Symbolic Form. Tradução para o inglês de C. S. Wood. New York: Zone
Books, 1997.
Peirce, C. S., Collected Papers of Charles Sanders Peirce, Volume 2, "Elements of Logic". Edição
organizada por C. Hartshorne e P. Weiss. Cambridge: Harvard University Press, 1931.