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| | F. NIETZSCHE L&PM POCKET Colegio L&PM POCKET, vol. 721 ne foto de Nise para de ria: ata Pasa NSsta_Niewchs Fick Win, 144-100 digo, nots aeemtasto d Reno Zick Pra Ale apg theta polis 2, em. ia, rr) Todas os dis detec rosenador a LPM Etre Rea Comendar Cana 314 ou“ Plsta UESD 180 iacioncont ARESENTACAO Renato Zwick* Redigido em 1888, tltimo ano Iicido da vida de Nietes- che, O anticristo foi publicado apenas em 1895, Na primei: 1a edicio e em varias que se seguiram, a obra padeceu de incorrecdes no titulo, omissbes e “melhoramentos” intro- duzidos pelos editores. Tais desfiguragdes tiveram qu: sempre 0 propésito de aparar alguma are de um modo mais ou menos desastrado, abrandar o tom agressivo e combativo do texto. Foi assim, por exemplo, que 0 subtitulo (“Maldigio contra o cristianismo"), um adjetivo para qualificar Jesus (“idiota") e outro para aludir ironicamente ao imperador Guilherme II ("jovem”) foram deixados de fora. Apenas com a edigio de Karl Schlechta, publicada em 1956, tais problemas foram sanados. Essas omissdes, porém, nada ou pouco afetaram o cardter essencial da obra, uma das mais afiadas and de que o cristianismo jé foi objeto. Nas palavras de Franz Overbeck em carta de 13 de marco de 1889 a Peter Gast cortante ¢, (ambos amigos de Nietzsche), no Anticristo 0 “cristianis- mo € tratado como Marsias 0 foi por Apolo” — ou seja, ele € esfolado vivo... Despido de seus mantos, enfeites e até de sua pele, a religiio crista aparece como aquilo que, na opiniao do filésofo, realmente é: a vitéria da rebetiao dos fracos, doentes ¢ rancorosos contra os fortes, orgulhosos esaudaveis. No mesmo espirito dos assim chamados mo- ralistas franceses —“nossas virtudes, muitas vezes, nao sio mais que vicios disfarcados”, afirma La Rochefoucauld ~, Nietzsche arranca uma a uma as mascaras benevolentes * Renato Zwick ébacharel em Filosofia pela Uni do cristianismo até que nao reste mais do que uma caran- tonha odiosa, Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 1844 na pequena cidade alema de Récken, no seio de uma fami- lia de arraigada tradig2o religiosa: tanto 0 pai quanto os avés eram pastores protestantes. Destinado a prosseguir a tradigio familiar, Nietzsche chega a cursar dois semes tues de teologia na Universidade de Bonn, em 1864, mas esiste. A partit do ano seguinte, passa a estuda filologia na Universidade de Leipzig; nesse mesmo ano, descobre © mundo como vontade e representagio, a obra maxima do filésofo Arthur Schopenhauer (1788-1860), que o in fuenciard de maneira decisiva Schopenhauer, aids, também € muito admirado pelo compositor Richard Wagner (1813-1883), que Nietzsche conhece pessoalmente em 1868 e cuja misica o fascina. Patente em suas primeiras obras, O mascimento da tragédia © Consideragdes extemporineas, a veneracio por Wagner ¢ Schopenhauer passa a receber um tratamento critico a par- tirde Humano, demasiado humano (1878), obra que €a sua declarago de independéncia como pensador. A partir de entao, seus escritos serao marcados por tuma postura cada vez mais questionadora dos valores fandamentais (leia-se cristdos) da cultura ocidental. Jé no livro seguinte, Aurora, de 1881, comeca a sua “campanha contra a moral”, con. forme ele diré alguns anos depois em sua autobiografia, Bece homo. O filésofo entende que o cristianismo nao fez mais do que caluniar e rebaixar este niurdo ao deslocar 0 centro da vida para o outro mundo, para o aléim. A tais lores negadores da vida e do mundo, Nietzsche opora, em Assim: falow Zaratustra, cuja primeira parte foi publicada em. 1883, 0 pensamento do eterno retorno, sua formula maxima de afirmagio da vida e do aquém. 6 © Zaratustra constitui o que Nietesche denominou de“ parte afirmativa de sua tarefa”. Depois disso, seguiu-sea “parte negativa”, que inclui livros como Além do bem e do ‘mal (1886), A genealogia da moral (1887) e a maior parte da copiosa produgao de seu tiltimo ano de Iucidez ~ entre coutras obras, O anticrsto, Nesta, Nietzsche retoma temas e conceitos de obras anteriores (a critica das morais de Kant e de Schopenhauer, a nogio de décadence), compata © cristianismo com 0 budismo e com o Cédigo de Manu — o conjunto de leis que regula a vida na sociedade india na além de apresentar uma nova ¢ singular interpreta. sao das figuras de Cristo e de Paulo, em que exibe todo 0 seu talento de fil6logo. Dessa anilise, a figura de Cristo emerge como a de um paspalho relativamente inofensivo mergulhado em suas realidades interiores, enquanto 0 apéstolo Paulo aparece como um auténtico génio da per fidia,o verdadeiro responsavel pela desgraca que a religiio cristd representa na histéria da humanidade. Mas se 0 ataque de Nietesche se dirige mais aos assim chamados cristaos do que propriamente a Cristo, por que entao. livro se intitula “O anticristo”, ou seja,“o adversétio de Cristo” (numa alusdo a uma passagem do Apocelipse) £ lade que o subtitulo ja torna as coisas mais claras, mas a explicacdo de uma peculiaridade do termo alemio esclare «e-as plenamente: & que, em alemao, Antichrist pode signi- ficar tanto “anticristo” quanto “anticristao” Porém, anticristo ou anticristao (ou ainda, em me- cariter essencialmente negativo, combativo do texto. Mas essa combatividade, 6 importante notar, nfo exclui um “o mundo é perfeito”, profundo sentimento afirmativo: diz. Zaratustra, “o mundo é perfeito”, dizem também os sibios hindus que instituiram 0 Cédigo de Manu. E essa 7 perfeigdo ndo exclui sequer as criaturas mais despre 9s pirias — ou, no caso de Nietesche, os cristo inimigos ¢ uma felicidade: se Nietesche, a0 publicara pri- mira de suas Consideragdes extemporaneas, entra na so- ciedade com um duelo (seguindo uma maxima de Stendhal, conforme reconhece em sua antobiografia), pode-se afi mar 9 mesmo de suas tiltimas obras, de sua sada da socie dade, por assim dizer. Daquela vez, Nietzsche desmascarou 6 “filsteu da cultura” na pessoa do escritor David Strauss; desta vez, toda uma visio religiosa de mundo, Na condigao, poderiamos dizer, de um iluminista sem as ilusdes do iluminismo (que se atente para o des dém com que o autor encara as idéias de progresso e de ualitarismo que esto na base da modernidade), Nietzs 1 nos oferece assim a possibilidade de exercitar aquela que talvez seja uma das maiores tarefas do fazer filos6fico, a de indagar pelas razées, pelos porqués de interpretagdes oferecidas muitas vezes como verdades absolutas, algo fundamental numa época em que o mercado de crengas religiosas experimenta novas expansoes a cada dia, Se, por um lado, parece correto 0 diagndstico de Nietzsche acerca da morte do deus cristo (tal como apresentado nas obras A gaia ciéncia e Assim falou Zaratustra), nfo parece menos certo, por outro, que esse deus insiste em “ressuscitar no terceiro dia” ~ razdo pela qual a afiada critica de Nietzs- che, mais de um século depois de sua publicacéo, ainda nao perdeu sua razao de ser: O ANTICRISTO MALDICAO CONTRA ©

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