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Que significa literatura contemporanea? ‘A questio que o titulo deste livro convida primeiramente fa pensar é como entender o termo “contemporaneo", co- ‘mo definire recortar a fiegdo nessa perspectiva temporal Que significa ser contemporaine? E que significa, na con- dicdo contemporanea, ser "literatura"? Se procurarmos um conteido do termo que ultrapasse a sua compreensio ba- ‘al, de indicador da feo que 6 produzida atualmente ou ‘nos sltimos anos, poderiamos apontar para caracteristicas particulares da atualidade, como, por exemplo, ser substi ‘tuto do termo “pésmoderno”, Ou poderia esse termo ca- racterizar uma determinada relagdo entre o momento his- ‘Grico ea ficclo e, mais amplamente, entre literatura e a cultura? Neste iiltimo sentido, as obras escolhidas na pers- pectiva contemporaine deveriam ser representativas pelo que compartilham com as tendéncias literdrias atuais e, ‘num sentido mais amplo, pela insergio da literatura na ‘contemporaneidade? © filésofo italiano Giorgio Agamben tentou recentemer- te (2008) responder & pergunta “O que é © contempori- neo”, recuperando a leitura que Roland Barthes fez das *“Consideragdes intempestivas", de Nietzsche, aproximando © contemporineo ao intempestivo, “O contemporinea é © intempestivo", diz Barthes, © que significa que o verdadei- ro contemporineo nao 6 aquele que se identifica com seu tempo, ou que com ele se sintoniza plenamente. O contem- pordneo é aquele que, gracas a uma diferenga, uma defasa- ‘gem ou um anacronismo, ¢ capaz de captar seu tempo € enxergélo, Por nio se identificar, por sentirse em desco- nexio com o presente, cria um angulo do qual é possivel ‘expressélo. Assim, a literatura contemporinea nfo serd ne- ccessariamente aquela que representa a atualidade, a no ser por uma inadequacio, uma estranheza histérica que a faz perceber as zonas marginais e obscuras do presente, que se afastam de sua légica. Ser contemporaneo, segundo esse raciocinio, & ser capaz de se orientar no escuro e, a partir dai, ter coragem de reconhecer ¢ de se comprome- ter com um presente com 0 qual nio € possivel coincidix. .Na perspectiva dessa compreensio da histéria atual como descontinuidade e do papel do escritor contemporaneo na contramdo das tendéncias afirmativas,talvez seja possivel entender alguns dos crtérios implicitos que determinam quem faz sucesso, quem ganha maior visibilidade na mi dia, na academia, entre os crticos ou entre os Ieitores. Su cesso ndo é sindnimo de adequacio ou harmonia histéri- a, assim como a falta de compreensio entre os leitores tampouico significa, necessariamente, que nfo se logrou ‘uma compreensio extraordinéria do momento histérico no qual se inserem esses mesmos letores. Hé, entretanto, um paradoxo embutido nessa abservacio, que ser toma- 440 como ponto de partida para a discuss que aqui se pre- tende desdobrar. O escritor contemporneo parece estar motivado por uma grande urgéncia em se relacionar com a realidade histérica, estando consciente, entretanto, da mpossibilidade de capti-la na sua especificidade atual, em seu presente, Marcelino Freire comentou um aspecto des- sa urgencia ao lancar seu mais recente livro, Rasff mar que arebenta: Deiat, efcrevo curtoe,sobretuo, gross, Escreve com wit ‘séncia. Ecrevo para me vingar.E esta vinganga tem pres sa Nio tenho tempo para nhenenhéns, Quero logo dizer ‘oque quero eirembora. (rere, 20083) Dols argumentos se juntam aqui: uma escrita que tem, ‘ungéncia, que realmente “urge", que significa, segundo 0 ‘Aurélio, que se faz sem demora, mas também que 6 emi- nente, que insite, obriga e impel, ou seja, uma escrita que se impée de alguma forma. Ao mesmo tempo, tratase de uma escrta que age para "se vingar", o que também pode ser entendido, recuperando-se 0 sentido etimolégico da ppalavra “vingat”, como uma escrita que chega a, atinge ou alcanga seu alvo com eficiéncia. © essencial é observar que ‘essa escrita se guia por uma ambigio de eficiencia e pelo desejo de chegar a alcancar uma determinada realidade, fem vez de se propor como uma mera pressa ou alvorogo temporal, [Nesse sentido, podemos entender que a urgencia é a expressio sensivel da dificuldade de lidar com 0 mais pro- imo e atual, ou seja, a sensacio, que atravessa alguns es- critores, de ser anacrénico em relacio a0 presente, passan- do a aceitar que sua *realidade” mais real s6 poder ser refletida na margem e nunca enxergada de frente ou cap- ‘uurada diretamente. Daf perceberam na literatura um ca- ‘minho para se relacionar ¢ interagir com o mundo nessa temporalidade de dificil captura. Uma das sugestdes dessa cexposigio & a de que exista uma demanda de realismo na literatura brasileira hoje que deve ser entendida a partir de ‘uma consciéncia dessa dificuldade. Essa demanda nao se ‘expressa apenas no retorno as formas de realismo jé co- nhecidas, mas ¢ perceptivel na maneira de lidar com a me- ‘ria histéricae a reaidade pessoal e coletiva. ‘Acaitica da literatura brasileira contemporiinea ressalta, {nsistentemente o traco da presentcago (Resende, 2007) na produgio atual, visivel no imediatismo de seu proprio [proceso criativo e na ansiedade de articular e de intervir sobre uma reaidade presente conturbada, Ndo se deve con- ‘fundir, entretanto, esse ago com a busca modernista por ‘um presente de novidade e inovagdo, que certamente foi ‘um mote importante da literatura ut6pica, visando a arran- car 0 futuro embrionario do presente pleno recriado na li ‘teratura, Mas, para os escritores e artistas deste inicio de século XX, o presente s6 & experimentado como um encom to falho, um “ainda no ou um “jé era", tal como 0 for ‘mulou Lyotard (1988, p. 104), para quem o sublime pos mo- derno ganhou o sentido de um posicionamento existenclal iante dessa impossibiidade, Ao exigiro presente e lancar iio da "agoridade” do presente estético, Lyotard viu na arte e na literatura uma poténcia que, em vez de se abrir como a modema promessa de uma utopia radical no hori- zonte da histéria, se faz presente no instante da experién- cia afetiva como pura possibilidade de mudanga na relalo entre o sujeito ¢ sua realidade e, simultaneamente, como ameaca de que nada val acontecer. Se o presente moder- nista oferecia um caminho para a realizacio de um tempo ualitativo, que se comunicava com a histéria de maneira redentora,o presente contemporaneo é a quebra da coluna vertebral da historia e ja nao pode oferecer nem repouso, ‘nem conciliagio. Visto desse ponto, 0 desafio contempo- ‘ineo consiste em dar respostas a um anacronismo ainda tributério de esperancas que lhe chegam tanto do passado perdido quanto do futuro ut6pico. Agir conforme essa con- 4digdo demanda um questionamento da consciéncia hist6- rica radicalmente diferente do que se apresentava para as ‘geragées passadas como, por exemplo, o otimismo desen- volvimentista da década de 1950 ou o ceticismo pésmoder no da de 1980. 0 passado apenas se presentifica enquanto perdido, oferecendo como testemunho seus indices desco- snexos, materia-prima de uma pulslo arquivista de recothé- Joe reconstrutio lterariamente. Enquanto isso, 0 futuro s6 adquire sentido por intermédio de uma ago intempestiva capaz de lidar com a auséneia de promessas redentoras ou ‘beradoras Assim, na insistencia do presente temporal em varios es. itores da geracio mais recente, hd certamente uma prec- ‘cupagio pela criagio de sua prdpria presenca, tanto no sen- ‘ido temporal mais superficial de tornarse a “fiecdo do momento” quanto no sentido mais enfitico de impor sua ppresenca performativa. Questiona-se, assim, a eficiéncia es tilistica da literatura, seu impacto sobre determinada rea- lidade sociale sua relacio de responsabilidade ou soli riedade com os problemas sociaise culturas de seu tempo. Entretanto, percebese a intuicdo de uma dificuldade, de algo que os impede de intervir e recuperar a allanca com 0 ‘momento e que reformula o desafio do imediato tanto na ctiagdo quanto na divulgacio da obra e no impacto no con- tato com o leitor ‘As novas tecnologias oferecem caminhos inéditos para cesses esforcos, de maneira particular, com os blogs, que fi-

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