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MARIO PAULO TENREIRO| Asaistonte da Faculcade de Oreo o O DIREITO_NA INSTITUICAO MILITAR* Pasting da qualiieapto do Orato contrnto entre ot seus ragimas Uttar ecmo‘uma stunedo ve plu. Gisopinar {aime ica. am ita das ospe. gona Gieiiouieds ao Birete si et tae Reeivcnenrir iss Sieve ah 2 aetna eet * 1 fenémeno do pluralismo juridico nasce funda~ mentalmente de um qualquer tipo de realidade social que tem, forgosamente, na sua base uma qualquer contradicao. € a contradigao, de facto, a chave para a compreensio de tal tenémeno. (© tema surgiu fundamentalmente com a antropologia, através do estudo das Sociedades tradicionais no contexto do colonialismo: trata-se afinal da coexisténcia, no mesmo ‘espaco, do direito do Estado colonizador e dos direitos tradi- clonals. = 0 presente trabaine provem de um anterior estugo realizado aquande Ga requencia no ang lective de 1984-85, da cadet de Sociologia 9 Dirato: loecionada pale Professor Boavoniure do Sousa Santos ha Facuidage ae Direto ae Coimbra, @ que consistia na analise do Direto @ ‘istiga' Muar" fur 39 Eoncete de pluraomo huneo. Reslzage Tis omd um resumo do anterior do aue' propramente como um autonom® SES ia tie de nave ea Soe a mae no pete EstFesutadon mais importantes @ que se shegou no estado tostuado ha Blapentande:noe de proceder a citagoas em texto queramos, date bain euvstcar i 2 Dacursa e 0 Pager (1880, Beta ® Comunidade {"062e) ¢ Ete00 © Gvestao Urea 10820) 121 122 Mario Paulo © conceito foi posteriormente estendido a outras situa- {g0es que teriam em comum o facto de terem lugar «em Sociedades heterogéneas>. Assim a amplia¢do seguinte do Cconceito consistiu em aplica-io a sociadades relativamente hhomogéneas, pois que também essa homogeneidade esconde, 6 facto, Indmeras contradigdes que, podendo assumir cife- Fentes expressées juridicas, por vezes se condensam «na crriagao de espacos sociais, mais ou menos segregados, no ‘Seo dos quais se geram litigios ou disputas processadas com ‘base em recursos normativos e institucionais internoss, ou ‘soja, «campos socials semi-autonomos, isto 6, areas da vida social com capacidade interna para produzir regras e costu- ‘mos, © simultaneamento, vulnerdveis as regras © docisoes provenientes do espaco mais amplo que as rodeia» (Moore, 1973), [Uma das bases das andlises precedentes era, contudo, 0 facto de se reportarem sempre & existéncla de certs meca- ‘nismos juridicos auténomos fora do processo de produgao © istribuigdo estatal do direito. No entanto, 0 concelto de pluralismo juridico afigura-se- -nos perfoitamente pertinente quando aplicado a situagdes, intra-estatais. Com efeito, se aquele consiste, afinal, sem no mesmo espaco ge0-politico poderem ser efectivamente apli- cados diferentes mecanismos juridicos a situagdes mais ou menos idénticas», veriticamos que esta diversidade abrange também instituides pela lei destinam-se a ssituagées mais ou menos idénticas» e tém lugar num «mesmo espago geo-politico». Tal sera analisado 10 contronto entre , por um lado o direito e o processo penal comuns e militar ¢, por outro, 0 regime de disciplina militar @ © dos tuncionérrios civis do Estado. 4°—A instituicao militar representando os interesses supremos da Patria, da Nagao @ do Estado tende a constituir- se, assim como um Estado paralelo e como uma ordem constitucional paralela em confranto com a sociedade civil A contradico, atris referida, que, nas sociedades homo- géneas da lugar a situagdes de pluralismo juridico @ aqui fundamentalmente a que resulta do facto de Estado preten- der, por um lado, ser 0 guardiao das liberdades civis, da Iqualdade, etc., e fomentar, por outro lado, por necessidac da sua auto-produgdo, situagdes de forte desigualdade de afirmagao autoritaria de poder; ¢ afinal a contradigao inerente 4 sua estrutura como apareiho de poder 8 como represantante da comunidade. 2 Primeiro que tudo chamariamos a atengdo para o facto de a Instituigao militar se constituir como um proto-Estado, como um Estado dentro do Estado ou a ele paraielo, Embora na Lei da Defesa Nacional (L.D.N.) se insista na subordinacao das, Forgas Armadas a0 poder politico (exemplo: artigo 19°) (desde logo através da sua insergao na administragao directa do Estado no Ministério da Defesa Nacional, do qual depen- dem os Comandantes do Estado Maior (C.EM.) que sao omeados pelo Presidente da Republica sob proposta do governo), a um nivel prético-legal, a autonomia ¢ muito mais verdadeira, aparecendo-nos os C.E-M. na posicao hierarquica de Ministro pois dos seus actos nao ha recurso hierarquico, havendo recurso contencioso para o Supremo Tribunal Militar que ainda faz parte das Forgas Armadas. Também a Policia Judicidria Militar esta dependente do C.EM.GFA. e nao do Ministro da Justica; a institui¢ao miltar possui uma publica G80, «As Ordenss, onde so publicados todos os diplomas que Miltar 123 124 Mario Paulo Tenreiro Interessem as Forgas Armadas e todos 08 movimentos relatl- vos a officials, sargentos, pessoal civil contratado e pracas: pela pertenga a esta instituigao (ou pela prestagao no seu seio do servico militar obrigatério) os individuos veém-se com 08 seus direitos politicos, partidarios @ sindicais (dever de Isengao) perteitamente afastados, nao sendo também abran- {9ld08 pelas normas constitucionais referentes aos direitos dos tabalhadores @ sendo afastados Inumaros direitos constitu- cionais como, por exemplo, 0 diteito de petigao, associagao, manifestacdo, expressao, etc., (ver também artigos 90° € 31." da L.D.N) — 8 que configura também quase a existéncia de uma ordem constitueional paraiela, ‘Comecando, desde ja, a desenhar-se o esboco da situa {G80 de pluralism juridico que nos propusemos analisar, 0 uadro tomara no entanto tonalidades mais precisas com a andlise da Disciplina e Justigas Miltares. 3 © principio fundamental que rege a estrutura das Forgas Acmadas © que estrutura as relagdes juridicas de poder no seu ‘elo 6 0 principio hierdrquico. E desde logo interessante verficarmos as consequéncias especiticas de tal principio no que diz respeito ao nosso pro- bloma. Em primeiro lugar, chamariamos a atengao para a trans- mutagdo em juridicas de puras regras de trato ou doferéncia, social, por exemplo 0 artigo 18.° do decreto-lei 391/80 de 28 de Agosto estabelece 0 dever do inferior, deixar o superior assar primeiro em passagens estreitas, de Ihe dar 0 lado interno do passeio, de nao fumar na sua presenga sem sua autorizagao, ete. Em segundo lugar, # notavel observarmos que nao s6 tal principio se encontra presente a nivel do ilicito penal, como elemento de maior ou menor agravagao das penas, como ainda entre crimes praticados entre militares de diferente ‘graduagao se veritica uma verdadeira alteracao tipologica a rival do proprio ilicto criminal em relagao a situacdes perfel tamente homologas tal € nitido, desde logo, nos crimes de fofensas corporsis ou de injirias que, quando praticadas por ‘um superior hierarquico em reiagao a um inferior, constituem © crime de abuso de autoridade, enquanto que quando prati- ccados por um inferior em relagao a um superior constituem ja © tipo legal de crime de insubordinagao. A titulo de exemplo © para ilustrar a diferente punigao que Ihes corresponde, oderiamas citar 0 caso da ofensa corporal simples que, no © Direito na Instituigso abuso de autoridade, ¢ punido com uma pena de 6 meses a 2 anos de presidio militar © no crime de insubordinacaa & unido de forma diferenciada consoante exista uma situagSo de guerra ou de paz @, consoante o crime seja praticado em acto de servico ou nao, correspondendo a punigao mais grave ossivel & moldura penal de 8 a 12 anos de prisdo maior € a menos grave & moldura penal de 4 a 6 anos de presidio mili- tar.() ‘Chamariamos ainda a atengdo para o facto de quando a ‘ofensa corporal, no crime de abuso de autoridade, 6 feita depois de uma provocagdo por agressao tal ¢ considerado luma circunstancia dirimente, 0 que nao acontece, obviamente, ro crime de insubordinagao. 4 Uma outra caracteristica da Ordem Juridica Militar que ‘nao poderiamos deixar de pér om relevo 6 0 seu cardcter do duplicidade. Queremos com tal dizer que a mesma sofre alte ragdes consoante nos encontremos em tempo de guerra ou ‘em tempo de paz. No ilicito criminal verificamos que, além da existéncia de uma agravante geral em caso do crime ser ‘cometido em tempo de guerra (artigo 12°, 2 do Codigo de Justiga Militar—O.J.M.), desde logo na parte especial, @ {grande maioria dos crimes possuem uma moldura penal cite- rente consoante sejam cometidos em tempo de guerra ou em tempo de paz. Também quanto ao aspecto organizatorio © processual as malhas se apertam na exigéncia de uma disci- plina mais forte que postula uma punigdo rapida, exemplar © aplicada 0 mais préximo possivel da unidade a que pertence © infractor. © valor fundamental que subjaz a tais alteragoes 8, assim, a nosso ver, 0 da prevengao geral através do efelto Intimicatorio de um rapido julgamento do militar prevaricador. Quanto a propria composigao do tribunal ela altera-se a favor de uma maior componente militar, @ quanto ao aspecto propriamente processual existe verdadeiramente o que pode cchamar-se, no sentido pejorative do termo, um proceso sumério, através do qual se pode julgar qualquer tipo de crime cometido pelo militar e na base do qual so encontra apenas uma nota de culpa cujo prazo minimo de apresentagdo a0 arguido & de apenas 24 horas antes da audiéncia 11. descendo 20 campo do concreto, poderlamos ci no Acprato' Ge 37 de Sutubro G0 1058 oo Soprome.trbura’ Alia 39 (SEH am ae fo 9 bare Go de ilitae 125 126 Mario Paulo 5 Procedamos entdo a um répido enfoque comparativo da disciplina nas Forgas Armadas e da disciplina dos servidores civig do Estado. A disciplina das Forgas Armadas @ mantida ‘nao 86 com base nas relagoes de autoridade hierarquicamente estruturadas como ainda com base no apelo a valores orga- nicistas e supra-individualistas que nos dao também uma clara dimensao retérica do discurso juridico militar. No regulamento de disciplina militar 6 froquonto a insisténcia num lago ‘morals, na consciéncia de missao, na «obediéncia espontanes @ voluntariay, no apelo a «missdo a cumprir>, que leva a vacel- tagao natural da hierarquia e da autoridade e ao sacrificio dos interesses individuais em favor do interesse colectivor, etc. Tal ‘imensao retorica € meramente ilusoria, porquanto, so trata de uma retérica da violéncia @ isto nfo $6 porque ¢ acompa- hada da verticagao factica da estrita necessidade de obe- diéncia e de aceitacdo de tais valores como também porque 08 proprios valores se reportam normaimente a conceltos vagos, sem determinacao a nivel de conteuco e prestando-se Por isso a uma utilizagao para fins muito diversos e até anti- stéticos (com @ aparéncia em cada caso de uma adequacdo exclusiva ao fim em vista). Tais conceitos s80, ao mesmo tempo, portadores de uma carga coactiva extraordinatia pro- veniente do consenso generalizado de que sto codeados (consenso que atinal ¢ polissémico ao nivel de conteudo, mas que nao se manifesta como tal) © que os torna insusceptiveis, de contestacao. E se, em cada caso concreto, essa coactivi- dade se estende ao fim em vista (pela adoquagao exclusiva a ‘esse fim que eles parecem ter), contestar o fim visado 6 con- testar 0 conceito, é contestar 0 valor, é contestar o incontos- tével: 08 conceitos tais como os de honra, dever. paitia, ini- migo, Homem, coragem, ete Folativamente 2s condutas sancionaveis temos desde logo a inexisténcla de qualquer tipicidade, a0 contrario do direito disciplinar dos funoiondtios oivis onde existe uma certa tipi cidade das condutas que constituem infracgao disciplinar. ‘Nas penas propriamente ditas veritica-se, assim, a possi- bilidade da aplicacao de penas privativas da liberdade (detengao pristo disciplinar e pristo disciplinar agravada) que podem ir até ao maximo de 60 dias (quando aplicadas pela entidade méxima ao «minimo inferior hierarquico>) (© proceso aisciplinar, que ¢ sempre obrigatorio na legis lagao civil, na legislagao militar € possivel aplicar certas penas. ¢ Inclusivamente alguns dias de detengao sem a existéncia do proceso eserite, que 6 também dispensavel em campanna, ‘om situacdes extraordindrias ou estando as forgas fora dos 0 be quartéis e, nestes casos, mesmo que se trate de penas de pri- 880 disciplinar (que 6 uma pena mais grave do que a mera etencao) (2). No que diz respeito a competéncia disciplinar gostariamos Ge ressaltar 0 seguinte. enquanto que na legislagao civil a competéncia disciplinar, ou soja, a competéncia para pun, pertence geralmente a entidades hierarquicamente afastadas: 4o infractor, no dirsito militar a competéncia disciplinar per- tence aos militares que exercem fungdes de comando, direc- ‘G40 ou chefia em rela¢ao a todos os efectivamente subordi- hados. Veritica-se assim uma maior proximidade entre a competéncia para comandar, para dar ordens e a propria ‘competéncia para punir, com reflexos dbvios na funcionali- dade do sistema @ na coactividade do mesmo. Mas a pertinéncia destas ultimas consideragoes 6 ainda maior quando pensamos que existe no direito militar uma verdadeira competéncia para aplicar medidas coactivas, ine- xistentes na legislacdo civil. De facto, todo © Superior tem festa competéncia relativamente a todo o seu imediato inferior hiierérquico, podendo ordenar prisdo ou deten¢ao mesmo que ‘ndo tenha competéncia para punir (devendo dar imediata- mente parte, por escrito, a0 comandante) (artigo 112, 3 do R.D.M). Nessas medidas podem incluir-se medidas de deten- [80 € prisdo, como vimos, e ainda medidas de violéncia fisica ‘quando tal se mostrar necessario (como se depreende a con- ttario do artigo 88.° do C.J.M. que pune como crime de abuso {de autoridade as -violéncias desnecessarias para a execugao {do acto» € ainda do artigo 93°, 34 do mesmo diploma, que considera circunstancia dirimente do crime de abuso de auto- ridade 0 «ser cometido para obrigar o ofendido a cumprir uma ‘ordem de servico nao havendo outro meio de compelir & ‘obediéncia device». Também a estrutura mais autoritaria_ do proceso disc plinar provoca substancial diminuicao das garantias de detesa. Assim, no R.D.M. 0 processo € absolutamente secreto © so aquando da nota de culpa ¢ obrigatério informar o intractor de todos os factos de que € acusado, Alem disso existe a proi- bbigdo da constituig#o de advogado (ver artigo 81.", 90.° ¢ 82, R.DM). Ao invés, na legislacao civil, 0 proceso £0 ¢ secrete [@) Parace,alom do mais, vigorer ne process siesplinar miltar um rlnepio er alia do prove aus ca poaera enunclar ao seguime modo" EA pal iD Interior, sao prove om ‘Taln nos parece deixar de ser» consequéncia da norm do artigo 91° do RDM. que de es “A perts dada por um oficial contra um sou inferior ereepaitanta a actos ort orenaaon presume vorsodoae nao carece se naeasse ito na Instituigao Militar 127 128 Mario Pato Tenreira até a acusagio © a constituighe de advogado ¢ possivel em ‘qualquer fase do processo. Por sua vez, a8 garantias de controlo juridicional no R.D.M, acabam também elas por se revelar diminutas. Em primeiro lugar, porque existem penes que, pelo seu caracter © pela necessidade de serem imediatamente cumpridas (casos de detencdo, prisdes disciplinares, etc.), n8o possibilitam geralmente um atempado recurso judicial; em segundo lugar, Porque fundamentalmente a lel apenas faculta recurso con- tencioso, a remeter para 0 S.T.M, das decisoes dos chefes supremos da hierarquia militar. (Ora, como o recurso hierarquico ¢ apenas admitido em ‘um grau, em raros casos (apenas nos casos em que em vir- tude da patente do infractor ou da gravidade da pena a deci ‘sao de punigfo foi tomada perto do topo da hierarquia) (3) se ‘conseguem preencher as condigoes necessérias para que se possa etectivar um recurso contencioso da decisto. Em termos de vigencia, a disciplina militar assume aspec- tos verdadeiramente interessantes. Em primeiro lugar, chama- riamos a atengao para a questéo da eplicagdo frequente de ppenas Nad regulamentaras (2, muitas vezes, com 0 mero pro- pésito de manter a disciplina e de inculcar o dever de obe- iencia, nao se estando portanto perante qualquer infracgao disciplinar) — penas como a famosissima pena de vencher*, 0 que pode traduzir-se na pritica de ginastica de aplicacao miltae fora de horas, nos reforgos de sentinela, nos cortes de fim de semana, etc., ¢ que so sansbes frequentes para punir Certas infracgoes disciplinares, Trata-se da aplicagdo de penas, informais, © que por isso mesmo nao terao outros ofeltos, (nomeadamente nao sao registadas na caderneta militar, n80 dio lugar a descontos nos dias de servigo, otc), as infraccoes {que poderiam ser punidas com penas regulamentares (deten- ‘¢8o, por exemplo) e efeitos muito mais gravosos, Alsm disso, passa-ee por cima do processo disciplinar, assogura-se uma unigao mais pronta, que ¢ 0 que interessa para a manuten- ‘eho da disciplina, e desprezam-se os direitos de detesa co arguido, © infractor acaba assim por concordar com a sua pena o ainda ficar agradecido por a coisa sficar por all». Tra- ta-se nitidamente de uma retorica da violencia. Este elemento retorico esta também presente na pratica ‘generalizada que consiste em as participagdes por infracgoes. disciplinares ndo corresponderem muitas vezes a infraccao praticada mas a uma outra semelhante mas menos grave. ida, de acordo com 0 pine pio da Meterquin, tendo em raduagao ao ineactor © anc Etendengo s gravidade da pons s spear © Direito na Instituigao Face & dureza das punicoes nao 6 sequer necessario utilizar todo 0 potencional disciplinar. Mais importante ¢ reservé-lo para situagdes de crise © manter, entratanto, a ameaca fenquanto se demonstra claramente ~a cleméncia» da Instit (cao Militar. Em segundo lugar chamariamos a atengio para aquilo {que poderiamos chamar o uso selective do poder disciplinar De facto, certos deveres militares sao, pela sua propria natu re2a, inexequiveis na pratica, se entendidos a letra, ¢ por isso 2 sua maior ou menor observagao ¢ entendida como pratica corrente no passivel de incriminacao disciplinar(). Contudo, em momentos de crise de autoridade podem ser aproveitados para punir factos nao passiveis de punigao ou para agravar certas intracgdes. Este elemento ¢ denunciador da violencia psicolégica existente tendendo ao reforco de relagoes de poder e do dever de obediéncia pronta e «de bom modo» as ordens dos superiores, mesmo se nao legitimas, mesmo se nao regulamentares, 6 Quanto 20 C.4.M., ¢ portanto ao direito criminal militar e 0 direito processual criminal militar, as diferengas face 20 fordenamento comum sto também noterias. Dirigido fund: ‘mentalmente aos militares (embora tenha sido abolido o foro militar © © Ci.M. soja aplicado nao aos militares mas aos crimes essencialmente militares, 0 que é certo é que na tipologia dos crimes figura sempre o elemento especitico quanto ao agente, de se tratar de um militar —sAo assim sempre crimes especificos) a legislacao criminal militar apre- senta uma publicizago extrema de todos os crimes que nela figuram. Existe, de facto, um Unico tipo de crime serki-pi- blico— as ofensas corporais simples por negligéncia (doenca ‘até 10 dias). Mas se provocar doenga superior a 10 dias 6 um crime publica. enquanto que no direito comum nao sequer tipificado. Esta publicizacao extrema verifica-se também ‘quanto @ posigao para que é remetido 0 ofendido no proceso criminal militar: © principio da oficialidade @ levado ao ‘exiremo sem qualquer possibilidade de controlo da abstencao ‘da acusagdo das entidades competentes por parte desse mesmo ofendido, Por outro lado, se procedermos a um estudo comparativo da gravidade das penes entre crimes homologos punidos pela legislacdo militar e pelo direito penal comum, chegaremos & (2 example page sero da obrigagao legal, sanciondvelaiscipine ments) de fazor conbinincia sempre us Se passe bor um superior ‘tor 128 130 Mario Paulo Tenreire onclusto de que eles sdo punidos na legislagao militar de um ‘modo muito mais severo. Como exemplo podemos citar os casos do crime de peculato—que na legislagao comum 6 unido com prisdo de 2 a8 anos @ multa até 100 dias @ no C.d.M, pode ser punido dentro de uma moldura penal de 15 a 20 anos de pristo maior; outro exemplo seria a punigdo do ‘crime de burla que na legislagao penal nunca podera ser superior @ 10 anos enquanto que na legislacae militar admite luma pena maxima de 16 anos de prisdo. As propria penas aplicavels 880 sempre penas privativas da liberdade, desco- ‘nhecendo o Direito Militar a pena de multa(*) Relativamente @ aplicacdo do direito penal militar no fespaco chamariamos a atengao para 0 facto de vigorar 0 principio oposto ao da legisiaga0 comum, isto 6, 0 principio da extraterritorilidade. Por seu turno, na aplicagao das penas onsidera-se inaplicavel no direito militar © instituto da sus- ensdo da aplicagao da pena de pristo, sendo portanto sem- pre aplicadas penas de prisao etectiva E quanto as relagdes entre a lei comum ¢ a lei militar nao haja divida de que vigora o principio da subsidiariedade. A lei eral é subsidiaria da let especial — a lei militar. Contudo tal significa a preponderancia fundamental dos valores milita- +28(8) e do valor da autoridade, isto @, a subsidiariedade da lei substantiva vigorara nos casos omissos ¢ vigorara ainda ‘nos casos em que prescreva sancoes mais graves do que as Cconsagradas pelo diraito militar Contudo ja nfo tem sido possivel estender, com base no principio da subsidiariedado, as solugoes mais brandas que vigoram em termos de liberdade condicional, por exemplo, suspensao de penas, a que ja nos reterimos. Esta mesma questzo 6 também interessante quando pensamos que, ao ‘contrario do artigo 4 do C.J.M. que diz que «As disposicoes gerais da lei geral so subsididrias do direito penal militar ‘desde que nao contrariem os principios fundamentais deste» © artigo 8 do novo Codigo Penal diz-nos que: ~As disposi- G6e8 deste diploma so aplicaveis aos factos punivels pelo direito penal militar (..] Saivo disposicao em contrérios, Tem sido, no entanto, mantido pelas autoridades militares 0 feniendimento tradicional segundo o qual basta a contrarie- (Pens de earatorpatrmonal nko parecer defacto tor cabimento nem Sistema de aominio que te earsctarea por um eal poder fac 400" Gevaubaios.Veja'se 0 gue adiante se dt sabre as tungees des Poveas Rage ae 18) Ao contri do que ¢ comum nas situagdes de pluralisma urdico, 9 sDireito engiobante- cede, or va Ge roora. em situagses de confito fase fo sDrage marginal ue se sun ss ure elaedo ce superar, Siperordenagdoy frente a0 modo de produgae ge juricieWdade gerd Od Serum gue dovrla Ser comma (© Direito ne Instituigae dade aos principios @ nao a disposicdo expressa para afastar 4 subsidiariedade do direito comum, Todo 0 caracter que temos vindo a assinalar a0 direlto penal militar substantive nao pode, de tacto, alnear-se de que as penas militares se proptem também fins disciplinares, como ¢ afirmado no Acordao de 13 e 17 de Outubro de 1983, ‘onde se pretende exactamente defender a inaplicabilidade da medida de suspensdo da pena do direito militar (+a sua final dades, diz-se ainda no acordao, -serla frustrada se as penas no tivessem cumprimento efectivo»), Um ultimo apontamento quanto as formas de crime. Neste caso a tentativa € sempre punivel, a0 contrério do direito comum em que ela apenas & punivel quando ao crime co responda pena superior a 2 anos. Quanto ao pracesso criminal constatamos que vigoram tundamentalmente razoes @ interesses de celeridade. Celeri- dade essa que possibilita até ao julgamento a revelia dos arguidos quando estes faltarem & audiéncia; de facto, 0 artigo 394° do C.J.M. da a0 tribunal poderes discriciondrios para eliberar 0 adiamento ou nao da audiéncia no caso de falta do réu e@ isto mesmo se a falta se encontrar justificada, nao ‘sendo permitido, de qualquer modo, mais do que um adia~ mento. Uma outra nota interessante 6 ainda a inexisténcia de uma verdadeira fase de instrugio contraditéria e a possibili- ade legal de 0 julz do instrugao nao ouvir nunca 0 arguido durante a mesma, Analisando a aplicagto da justiga militar quanto & sua componente burecratica poderemos afirmar que se esta fosse aferida segundo 0 critério da profissionalidade juridica che- ariamos & conclusao da inexisténcia de uma forte compo- rnente burocratica. No entanto @ nossa conclusdo ¢ justamente a inversa, porquanto, tal componente nao dever ser aferida em face de tal profissionalidade juridica mas antes em face da profissionalizagao militar. Queremos referi-nos, desde logo, & estrutura do tribunal de julgamento. Este & constituldo por 2 militares © por um juiz civil (no S.T.M. a relagao altera-se bara uma componente militar ainda mais forte) Os juizes militares nao tém geralmente preparagdo jurl= dica e por isso a sua fungao @, fundamentaimente, a detesa dos interesses especiticos da instituigdo a que pertencem (pelo sau conhecimento das realidades da vida castronse © a ‘compreensio das suas perspectivas e necessidades). A fungao do juiz auditor, juiz de direito, ¢, quanto a nés, uma fungao de legitimagao Juridica desses mesmos tribunais. Ele repre- senta 0 profissional de direito que torna viavel o trabalho Miter 131 132 Mario Paulo Tenreire {uridico do tribunal @ o magistrado independente que legitima ‘em termos democraticos a existéncia do tribunal militar. E a componente burocratica na aplicagao da justiga mili tar resulta ainda, fundamentaimente, do modo como esto organizados os outros orgaos que participam na administra (a0 da justia. Existe geralmente um defensor oficioso, (porque 0 réu normalmente no constitui advogado) que militar, © um ‘promotor de justiga, (que corresponde ao Ministério Publico ‘no direito comum) que também € militar e que esta depen- dente das ordens de acusagao que provém do Estado Maior. Normalmente, nenhum destes elementos possul preparacao juridica ‘Assim sendo resulta como conclusdo que: A—1. A divisto interna do trabalho juridico ¢ iluséria pois (8 diferentes orgaos de justica (Tribunal, Acusador. Defensor, Orgaos do Investigagao Criminal) s80 constituides, no fun- damental, por elementos das Forgas Armadas sem qualquer proparacio especitica anterior e obedecendo ao principio da hierarquia militar. 2. A divisao externa ¢ do mesmo modo iluséra. A terceira parte que julga nao existe materialmente pois é constituida por elementos da instituicao que ¢ parte no contito a diti- mir. (7) Alem de que a escolha para lugares nos orgaos de justica militar n8o @ felta segundo qualquer tipo de preparagéo especilica para 0 cargo (sem falar na ineréncia de fungoes ‘como érgao de Justica Militar) @ certos cargos militares — CRM, CEM, etc. B—A hierarquia técnica © social do exercicio das taretas {gue integram a funco corresponde afinal & prévia hierarqui- zagao no seio da organizagao militar (2). C—A aplicacao da le! esta menos dependente da estrita racionalidade sistemética légico-formal do que multas vezes Ue ear are, wes va Sema {c} Fetas todas ay contas, pogeremos afrmar que os orgtos de eaten 1 igo em termes ve poser sr aus aust mia tnds Sara full 20 ite do uma estufura naterovcormpont ‘ets Cstruturals da intdmels jriien (a rotons, Duro iene omen ee Selec a a do argumento de autoridade (por exemplo, a ligagao oe exigéncias da justica militar com a necessidade de disciplina) 2 We pseudo-logicas que apenas pretendem encobrir a detesa especitica dos interesses e valores militares (*). 7 Esta clara situagao de pluralismo juridico dentro do pré- prio Estado que temos vindo a analisar prende-se e vai buscar {8 sua explicagaio mais protunda, como nao pode dolxar de ser, 20 tipo de fungSes especiticas que constituem a razdo de ser a insttuigao miltar. Sao as fungoes que ela prossegue, © que festdo na base da sua razto de exist, que explicam a neces- sidade da utilizago de outros mecanismos juridicos que nBo os utlizados comumente pelo direito Estatal \Vejamos entao numa breve sintese quais sf, a nosso ver, tais fungdes, num esbogo explicativo da presente situagio de pluralismo juridico: 18s da Pati fae 20 eter, Navies Yet 6a en ints en cutis sean 19—tinanagio (macnn da em pola, ean inca el wee —Peegia asta & sina 2+ Seine naga de ars sees aan ast See itr Ogio 2e—vasalgen } —Disolgan is ites in vies, tal prsraite 10 th lei, A—A tungao manifesta por exceléncia das Forgas Arma- das, @ que por isso mesmo aparece quase como a Unica fun- ‘go a nivel de discurso politico, ¢ sem duvida a defesa da 1) A propria consttigao do witunal podara ter go ser atrada om tungdo da patente de rou: Exempla yc duis presente rd ie Sor pola manos. Coron ic Coronel. 300 Tou 6 Coroneloe Julsea toro de tr rorpoctvarmante, Generale Brigaser. 133 134 Mério Paulo Tenreito Integridade territorial da. patria. ta {Desde logo, artigo 273° — 2. da C.AP)) B—Contudo, € @ propria lei que nos indica a existencia da 2." funcdo manifesta assinalada, ao regular a possibilidade 2.0 modo de intervengao das Forgas Armadas na ~ordem interna» ‘Assim no Regulamento Geral do Servigo do Exército di2- 88 No NS 1 que +05 servigos na manutencaa da ordem publica (normalmente desempenhados pela P-S.P. € G.N.R.) podem, fm casos extraordinarios, ser contiados a autoridade militar» tal pode também ocorrer ocasionalmente através de requisi= {gOes de Forga Armada foitas pelas autoridades civis para “unicamente prestar auxilio & autoridade civil mas nunca paca ficarem sua disposicao> (artigo 72), ou ainda através de equisigdes feltas pelo juiz da comarca ou pelo Ministerio Pablico para alguma diligéncia de justiga, Nao haveré mister relombrar todos os regimes ue ainda subsistem no mundo, como a nossa pré} riencia do Golpe do 25 de Abril (nfo houve qualquer reacgae or parte das Forgas Policiais), para que possamos afirmar ‘como fungao latente primordial e vordadelra fungao das For- {G88 Armadas 0 escopo assinalado @ 2. tungao manifesta ‘A propria lei admite implicitamente, por exemple, 0 papel das Forgas Armadas como aparelho’ de coacgao politica quando proibe a presenca de Forgas Armadas num raio de 100 metros das assembleias de voto (lei 14/79). D—Quanto a 2 @ 3. fungées latentes, as quais nos rofe- riremos de seguida, ndo 6 nosso proposito defender que elas so fungdes privativas da Instituicao Militar. O trabalho do inculeagao da obediéncia e conformismo através de uma pedagogia abstracta e a atiemacao de relacoes de vassalagem festdo presentes de modo mais ou menos disseminado por varias instituigdes sociais, Quanto & segunda fungao latente odes conhecemos bem o papel da familia, da escola, ca insergao profissional, ec. Quanto & vassalagem nao vai ainda longe © tempo, por exemplo, em que as protessoras primarias necessitavam de uma autorizagao do Ministro da Educagao para sair do Pais e .. para casar! Um examplo bem visivel oa fungao de vassalagem no ambito da tungao publica civil ‘A nossa tese # antes de que: =A instituigdo militar, na sua adequagao a 1. tungéo ‘manifesta, situa-se numa posigao privilegiada para o prosse- uimento das fungdes latentes assinaladas, por tudo 0 que s& odera compreender de um modo global a situagao de plura- lismo juridico que temos vindo a analisar. E—Encarado como uma pega de um mecanismo virado para a pratica da violéncia face ao seu exterior (guerra, 20 Inimigo.externo, (© Direito na Instituiczo Ph repressto), 0 individuo tem que ser submetido a um primetro. estadio de violéncia interna, da instituigao sobre si préprio, {que 0 socialize tornando-o funcional em relagao @ insttuigao. E torné-lo funcional significa transforma-lo num autémato que ‘possa sobedecer ao menor impulso de comando: (artigo 2° do R.DM.), A instituigao @ tanto mais funcional quanto mais se ‘assemelhar a uma engrenagem automética movida por inputs, semelhantes aos que se utiizam na informatica e onde pensar ¢ perteitamente dispensavel. ‘Ja nos referimos a disciplina militar e também & inculca- ‘sao de valores supremos e abstractos (retorica da violencia) ‘Agora chamariamos apenas a atencdo para o facto de as pra ticas militares serem constituidas essencialmente por forma- lismos ¢ rituais que, n4o podendo objectivamente ser expli- ‘cados pela «natureza das coisas», nem sequer pelas ‘exigéncias objectivas do uso da violencia, se destinam a for- magao de esquemas generalizaveis @ transponiveis precisa- mente em razao do seu caracter estilizado e polido. Antes de 0 fazer obedecer a algo concreto, trata-se de preparar o indi- viduo para a obediéncia em si mesma (tendo sempre como pretexto e pano de fundo as exigéncias de funcionalidade da Insttuigao), F—Quanto @ nocd de -vassalagam> empregamo-la no sentida verdadeiramente feudalista do termo. Trata-se da transposigao para 0 Estado da dependéncia pessoal om rola ‘glo a0 Suserano, numa concepgiio hobbesiana do Estado como Quidam Mortalis Deus, como a Providéncia, o Senhor, do qual depende a nossa vida e a nossa morte, a nossa liber= dade e do qual fazemos parte como simples pecas de uma ‘maquina, Trata-se de mostrar, agora, a necessidade intrinseca do Estado e, mais que isso, a racionalidade na linha das filo- sotias organicistas que desiocaram a Razdo (que em toda a tradigao racionalista até Kant, © no proprio lluminismo, era pertenga dos individuos) tazendo-a pertenga do Mundo, da Roalidade , do Todo, e, em termos politicos, do Estado de que 65 individuos nao sdo mais do que partes integrantes, depen dentes € nao isoléveis. Caberia aqui ainda a referéncia & inculcacto de valores supremos e abstractos, de simbolos, etc, (lembremo-nos que ‘0 «ultrage & Bandoira ou a Simbolos nacionais» constitu um ‘erime punide no Codigo Penal com prisdo até 2 anos ou muita até 100 dias eno C.J.M. com presidio miltar de 4 2 6 fangs), queremos, no entanto, apenas referir a existéncia do Service Militar Obrigatorio ¢ a todas as outras obrigacSes militares que comegam aos 18 anos de idade e terminam, em tempo de paz, em 31 de Dezembro do ano em que se com- ppletem 45 anos de idade (artigo 5.1 e 5:3 da Lei do Servico Militar) 135 136 Mario Paulo Tenreiro ‘A fungao de vassalagom é efectuada em termos tao auto- ritarios, aguando da incorporagao efectiva, que o militar, além de deixar de receber os proventos econdmicos provenientes 40 trabalho que antoriormente exercia, nao vé minimamente retribuido © seu esforco @ sacrificio nem compensados 0 transtornos causados por essa situagao, pois tudo 0 que Estado Ihe oferece ¢ alojamento, alimentagao @ um magro apres © Estado faz ainda incidir sobre as pessoas obrigadas a alimentar 0 énus de resolver, em termos econdmicos, a situa- {Gao que ele proprio criou com a incorporagao, onerando 0 agregado familiar com dois factores — a privagao de um membro activo contribuinte de um rendimento e a colocacéo: desse membro dependente de um orcamento familiar assim diminuido. Em suma, 0 servigo etectivo acaba por se traduzir nna prestagao de trabalhos forgados em regime gratuito), Em fungdo de tudo 0 que fica dito nao sera dificil com preender que nao seja permitida a existéncia de qualquer Contetdo politico na «objecgao de consciéneia» — rejeigto do servigo militar obrigatorio (8 fungao latente), ca miltarizaga0 das sociedades (1.° fungao manifesta), da disciplina autocré- tica das Forgas Armadas (2. ungao latente) @ do conteudo politico mais directo dessa instituigao (7.* fungao latente/2." manifesta). Reduz, assim, a objec¢do @ uma situago moral, religiosa ou filosotica que impede 0 uso de quaisquer meios de violencia [..] mesmo sendo pare defesa pessoal» (72) Uma uitima achega para a compreensao desta situacdo de pluralismo juridico, Sabendo nds que a dominacao politica nao ¢ igualmente istribuida pelo univers das relacdes socials, concentrando ‘© Estado os seus investimentos em macanismos de dispersao nas areas que constituem o nucleo central da dominacao e que por isso mesmo sto dominadas pela burocracia e pela wiolénola, (enquanto que na periferia da dominaceo juridica a retdrica tende a imperar), resta-nos situar a instituigao militar dentro desta tematica Dentro dos tr8s tipos ideais de Marx Weber, de acordo ‘com 08 quais 0 poder é detinido como Forga Arbitréria (poder do mais forte), Forga Legal (submetido a critérios de raciona- lidade logico-formal) e Autoridade (que possui a mais do que (9) Imeressante sera inde fazer notar que a mera notacdo como fetiactdie (onde que fata 8 incorporate) impede” em mai S| ‘Seficio ao vamparo se familias mesmo que sia houvessé cet © Dirsito na Instituigao © tltimo © consentimento dos «governadoss), pensamos que aquele que define de facto a esséncia do poder é 0 primeira tipo, pois © poder, pela possibilidade de 0 ser (0 que & demonstrado em situagoes de crise), tende a assumir-se ‘sempre como forga arbitréria, Ora bem, pansamos que @ pre~ ‘cisamente dentro da Instituigao Militar que o tenomeno se mostra com mais clareza, A Instituigdo Militar acaba assim por se constituir como 0 ‘numeno do Estado, a sua esséncia mais aproximada, permi- tindo-ine (ao Estado) assumir-se, noutras areas, fenomenolo- gicamente, como poder enquanto sforca legal» © poder fenquanto

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