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PÓS-HISTÓRIA, Assis-SP, 03: 105-1 15 1995

[Início da p. 93] DAS IMAGENS, cuja abordagem ultrapassa o campo


da história.
HISTÓRIA DAS IMAGENS:
A visão poliocular apontada por Morin não é
UMA ABORDAGEM, MÚLTIPLAS FACETAS* uma evocação simplista do objeto de pesquisa, mas
toca em um ponto crucial: a complexidade na sua
William Reis MEIRELLES**
abordagem dentro de fronteiras estreitas que limitam
e impedem uma maior aproximação do real.
RESUMO: Este artigo discute diferentes As últimas décadas têm se caracterizado por
caminhos para a análise das imagens no um intenso questionamento aos sistemas tradicionais
processo do conhecimento histórico. de explicação, os velhos paradigmas tomaram-se
UNITERMOS: história e imagens; fotografia; insuficientes para dar conta da complexidade e
cinema. multiplicidade de possíveis abordagens do real.
O projeto iluminista se desfaz em ruínas, o
Trazer para a cena as discussões que se desenvolvimento das formas racionais de
desenrolam em torno da temática da história e da organização social e os modos racionais de
interdisciplinaridade é uma tarefa bastante pensamento pressagiavam a libertação das
complexa, tal a diversidade de propostas e irracionalidades dos mitos, da religião e da
indicações de caminhos a serem seguidos. Qualquer superstição, assim como a sombria natureza humana
tentativa em dar conta de tal tarefa obrigaria a todos (HARVEY, 1993:23).
uma longa e monótona digressão sobre autores e Esse desejo otimista caiu por terra, o projeto
trabalhos de distintas áreas de conhecimentos sem iluminista acabou por voltar-se contra si mesmo
que possamos neste curto espaço enveredar para convertendo a prometida emancipação humana em
uma reflexão mais profunda. um sistema profundamente opressivo em nome da
Edgar Morin ao responder uma pergunta da redenção da humanidade.
imprensa sobre se os seus estudos estavam Os fantasmas da separatividade levantados
apontando para a busca de uma síntese pelo racionalismo científico, pela razão iluminada e
interdisciplinar, replicou: pelo discurso totalizante constituíram-se para o
“O que me interessa não é conhecimento científico em um grande entrave, o
uma síntese, mas um historiador não saiu imune dessa contingência.
pensamento Romper com esse sistema fechado de
transdisciplinar, um pensamento coloca-se como um desafio para a
pensamento que não se história; desviar o olhar, buscar novos caminhos, trilhar
quebre nas fronteiras entre o incerto, o impreciso, o indeterminado, apreender a
as disciplinas. O que me lembrança tal qual cintila na natureza e no
interessa é o fenômeno imaginário, no universo e nos homens.
muldimen [início da p. 94]
sional, e não a disciplina [início da p. 95]
que recorta uma dimensão A pesquisa histórica por muito tempo elegeu o
nesse fenômeno. Tudo o documento escrito como fonte privilegiada da
que é humano é ao mesmo verdade; é recente o uso de registros de outros tipos
tempo psíquico, incorporados ao laboratório do historiador, entre
sociológico, econômico, estes, as imagens.
histórico, demográfico. E
importante que estes Essa preocupação dos historiadores em dirigir-
aspectos não sejam se para campos inexplorados - como: ciência,
separados, mas sim que técnica, folclore, literatura, mentalidades,
concorram para uma visão espetáculos, cinema, entre outros registros - buscam
poliocular. O que me investigar modificações que tradicionalmente estão à
estimula é a preocupação margem do que era considerado o centro da história;
de ocultar o menos possível esses campos, no entanto, incidem no viver em
a complexidade do real” comunidade, regulando os seus comportamentos e
(MORIN, 1989:35). mudanças, direta ou indiretamente, e estão ligado
aos sistemas de representação do homem e da
Em busca de um recorte pretendo apresentar sociedade.
algumas reflexões presentes no dia a dia da pesquisa
que desenvolvo, que tem como objeto a HISTÓRIA As imagens que o homem elaborou através
dos tempos estão carregadas de propostas,
* Versão semelhante deste texto foi apresentada na mesa- questionamentos, tensões, acomodações, desejos,
redonda Que história e essa. História e enfim expressões presentes nas relações sociais que
Interdisciplinaridade durante o I Encontro de História modelam e ao mesmo tempo são modeladas pelas
UEL/UEM. Maringá. 24 a 26/10/94. formas de pensar e agir.
** Doutorando - Programa de Pós-graduação em História -

Faculdade de Ciências e Letras - UNESP - Assis/SP - Os materiais visuais como fontes, pelo que
19800-000 representam, são susceptíveis de múltiplas leituras,
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tanto nas suas formas, como nas suas normas e espectro da produção material e intelectual e suas
necessidades. possíveis articulações.
A utilização dessas fontes na historiografia O contexto histórico das últimas décadas do
brasileira é, ainda, uma prática tímida e muito século XIX é a chave para a compreensão do
limitada; seu uso salvo raras exceções tem se limitado surgimento das inovações técnicas de
à ilustrar os documentos escritos, ou seja, seu reprodutibilidade e o papel que desempenharão,
tratamento é o de fonte de segunda ordem, servindo desde então, nesse cenário como suporte mecânico
apenas para complementar e confirmar o que o dos processos de controle social, a serviço do projeto
documento escrito já havia demonstrado. hegemônico e totalizante da burguesia, em
contraposição às classes trabalhadoras que
Na história da humanidade a necessidade do
começavam a encontrar uma adequada expressão
homem em expressar-se pelas imagens perde-se no
através de suas instituições sindicais e políticas.
tempo, como a seu modo os habitantes de Altamira
e Lascaux marcaram sua presença gravando nas A massa operária, multidões anônimas das
paredes e tetos de suas cavernas imagens que grandes cidades, passaram a constituir-se no novo
testemunham as visões simbólicas e cotidianas do universo de referências; a imagem desses homens
mundo em que viveram. simples passa a ter sua identidade construída a partir
de um projeto de história natural, que observa e
Nas paredes e tetos dessas cavernas
detalha sua fisionomia, se esforça por decifrar
registraram em desenhos coloridos, bastante
marcas, sinais, traços e sintomas que neles se
sofisticados apesar da técnica rudimentar, bisões,
inscrevem como paixões, emoções, formações
cavalos e outros animais, representações simbólicas
psíquicas. O corpo assume uma forma visual: [início
de seu cotidiano. Esses registros que sobreviveram até
da p. 97] magro, gordo, bonito, feio, limpo, sujo; cada
nossos dias, os mais antigos que conhecemos,
forma passa a contar sua história e a incorporar um
denotam a necessidade que aqueles homens tinham
sistema de valores.
de legar ao futuro o seu dia a dia e marcar suas
presenças, o que foi feito através de uma linguagem A década de 1890 é um marco na produção
que todos eles conseguiam decodificar. intelectual voltada para essas novas formas de olhar.
A aparência e o comportamento, os fatos e os gestos
Até o advento do capitalismo, a imagem
da massa, a partir desse momento, responderão pela
permaneceu um produto artesanal; foi no bojo das
sua natureza íntima.
transformações dessa nova conformação da [início
da p. 96] sociedade que surgiram as condições Os estudos de Bergson sobre a memória, o de
necessárias que possibilitaram a reprodução em Le Bon sobre a psicologia das multidões ou a
massa das imagens. antropologia criminal criada por Lombroso, todos
surgidos a um mesmo tempo, constituem-se em
Marc Bloch no seu livro A Sociedade Feudal,
contribuições que modelarão as novas formas de
aponta a necessidade da incorporação das imagens
pensar as relações na sociedade.
ao repertório das fontes do historiador: “As relações
que unem a expressão plástica aos outros aspectos A Psicologia das Multidões de Le Bon, postulou
de uma civilização permanecem ainda mal a malignidade da massa, prevendo que havia
conhecidas; consideramo-las de tal modo complexas necessidade de um poder que a mantivesse sob
e susceptíveis de atraso e de divergências, que controle. Lombroso, tendo como suporte a fotografia,
tivemos de resolver deixar aqui de lado problemas organizou e classificou o perfil das fisionomias
colocados por ligações tão delicadas e contradições criminosas.
aparentemente tão surpreendentes” (BLOCH, 1982:
Estas novas técnicas “visavam a constituição
117).
de uma imagem desvalorizada do adversário,
Vivemos em um tempo em que as imagens procurando em especial invalidar a sua legitimidade;
produzidas através das técnicas de reprodutibilidade por outro lado, exaltavam através de representações
tendem a suplantar o signo escrito. Fotografia, engrandecedoras o poder cuja causa defendiam e
televisão, cartaz, publicidade. multimídia; de todos os para o qual pretendiam obter o maior número de
pontos são feitos apelos aos homens, pelos olhos, por adesões” (BACZKO, 1990: 300).
mensagem instantâneas e abreviadas que exigem
Corpos e rostos, a aparência do homem
uma rápida interpretação, moldando novas formas
anônimo das multidões das ruas, submetido ao olhar
de ver e sentir.
burguês, ao detalhamento que buscava decifrar a
É preciso, portanto, romper as barreiras do sua personalidade, constituiu-se na classe perigosa; a
documento escrito, dogmatizado pelo pensamento violência, o vício, a feiúra, a sujeira são atributos a ele
positivista, é necessário incorporar todo esse vasto destinados.
acervo de material visual que os homens produziram
“Nessas representações
e nos legaram, um campo aberto à exploração pela
mentais na insidiosa
história, como experiência vivida integral e
ansiedade que alimentam,
socialmente, redefinindo nossos sistemas de conceitos
enraízam-se todas as
agregando esses novos objetos.
formas, conscientes ou não,
Para entendermos a introdução dessas da tentação de se fechar,
inovações técnicas em sua época cabe iniciar a de se proteger, o medo do
reflexão de que maneira aparecem inseridas no outro, seja ele quem for,
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julgado delinqüente a priori, Para o historiador, esses filmes constituem-se
e que deve ser contido, cm testemunhos bastante preciosos, os registros dos
impedido de prejudicar” fatos corriqueiros: o trem, a estação, os viajantes, a
(DUBY, 1994: 229). fábrica, os operários. o cidadão comum em seus
trajes e gestos, [início da p. 99] a rua, enfim a
Por outro lado, a fisionomia burguesa também
multidão anônima. A importância dessas imagens
não é poupada, a massa estereotipava-a como
não está apenas no que é aparente, aquilo que é
barriguda, luxuriosa, ociosa; seu rosto era egoísta e
visível, mas também pela mentalidade que contém
hipócrita - características que pode bem ser
de sua época; lá está bem viva a idéia de progresso
observadas nas caricaturas e em muitas comédias
(o trem, a fábrica), as multidões que tanto
cinematográficas.
preocupam a burguesia (os operários, os viajantes, os
As classes observam-se, julgam-se e se passantes), e o próprio invento, o cinematógrafo,
confrontam a partir das imagens de suas aparências como expressão da modernidade em uma
físicas, dos traços inscritos em seus corpos e de [início sociedade que passa por profundas transformações.
da p. 98] seus rostos, de modo tão fixos como tipos
Gaston Bachelard, na sua Poética do Espaço,
raciais onde os olhares observam marcas de
ao estudar as imagens poéticas estabelece dois tipos
características morais.
de imagens: aquelas que são percebidas que estão
Esse olhar inquisidor sobre o outro é um dos ligadas à imaginação reprodutora e aquelas que são
fundamentos do corpo social que se instaurou no final criadas; para o autor essas duas instâncias psíquicas
do século XIX; a fotografia e o cinema, neste são muito diferentes e seria necessário uma palavra
contexto, assumiram um papel importante. servindo especial para designar a imagem imaginada
de suporte e registrando. operando para configurar a (BACHELARD, 1984: 183).
identidade à fisionomia, para confundir de modo
Uma divisão semelhante e ampliada aparece
definitivo a identidade com a aparência.
na obra de Jean-Paul Sartre sobre a imaginação e o
Se esse tipo de imagem, manipulado pela imaginário: as imagens são portadoras, quando
burguesia tivera o objetivo de tornar legitima sua percebidas, de uma infinidade de determinações e
hegemonia. as inovações técnicas transformadas em relações possíveis; e as imagens imaginadas são
mercadorias para consumo das massas, acabaram portadoras de determinações que a consciência lhes
por possibilitar a contrapartida como crítica. dá, é uma certa maneira que a consciência tem de
se dar um objeto.
Quando George Eastman lançou, em 1888, a
câmara Kodak portátil, fácil de operar e de preço Essas duas posições sobre as imagens,
popular, anunciada sob o lema “Aperte o botão e classificações a partir de conceitos de ordem
nós nos encarregamos do resto” tornou possível o psíquica, apontam ao historiador a necessidade de
acesso à fotografia a uma massa expressiva da conhecer a constituição dessas teorias e sua inserção
população mundial (FREUND, 1974: 81). no contexto histórico de época; controlar os
mecanismos que elucidam o funcionamento da
Todos aqueles que utilizavam o trabalho dos mente, em especial em relação à imagens, sempre
profissionais da fotografia puderam. eles mesmos, foi um objetivo a ser alcançado por aqueles que
passar a fotografar. O álbum de família, os detém o poder.
instantâneos da rua captando pessoas em
movimento nas suas atitudes cotidianas, que se Tanto Bachelard como Sartre nos dão
transferem de geração para geração, as vezes indicações de caminhos que vão além das fronteiras
esquecidas em fundos de baús, podem constituir-se do conhecimento histórico, pistas possíveis de serem
em uni acervo visual de grande importância da abarcadas pela pesquisa.
auto~representaçãO da sociedade, deixando aí
A história assim como a psicanálise são
registrado como testemunho, de maneira mais
ciências da memória, ambas perseguem pistas das
informativa do que qualquer texto impresso.
causas do passado, buscam o desvendamento de
A fotografia recebeu aperfeiçoamentos, confissões e evasões, são apreensões da totalidade
ganhou movimento com os irmãos Lumiére, surgindo da experiência humana mais solidamente do que
o cinema. Os inventores colocaram suas câmaras nas nunca.
ruas, em toda a Europa, registrando os movimentos
A chave para compreensão da sociedade
da multidão no seu dia a dia.
não se encontra apenas nas relações materiais,
Os primeiros filmes exibidos em 1895. em Paris: A atuam ao mesmo tempo nesse complexo terreno das
saída dos operarias da fábrica Lumiére, A chegada experiências de cada homem, de cada grupo social,
do trem na estação de Ciotat, demonstravam a e que se traduzem em valores, tradições, idéias, arte,
preocupação dos autores em registrar na película a religião, instituições, enfim toda a produção cultural
vida cotidiana da cidade (JEANNE & FORD, 1966: 15- da humanidade.
6). Nesses primeiros filmes os autores tinham como
[início da p.100]
meta captar, através de suas lentes, representações
do real jamais alcançadas com tanta fidelidade por “As relações econômicas e
outros meios. E como reprodução do real que a sociais não são anteriores,
imagem desempenhou seu primeiro papel no nem as determinam, elas
cinema. próprias são campos de
prática cultural e produção
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cultural -o que não pode ser imagem não é apenas uma questão de forma. Assim
dedutivamente explicado como as formas moldam, elas são moldadas pelas
por referência a unia configurações históricas da cultura, através de uma
dimensão extra-cultural da complexa rede de relações.
experiência” (HUNT, 1992:
Existe um pensamento plástico, assim como
9).
existe um pensamento matemático, político, histórico.
A psicanálise e a psicologia são campos do A estética penetra em cada um de nossos
conhecimento que podem Fornecer uma importante pensamentos e ações.
contribuição para o trabalho do historiador,
A leitura de uma imagem exige um esforço de
Fornecendo indícios sobre o funcionamento da
reconhecimento, que de alguma forma depende dos
mente humana e que se manifestam enquanto
modos de expressão e compreensão de cada época
representações do imaginário social, especialmente
e lugar; só a imaginação pode tomar vivo um quadro
no que diz respeito à memória.
ou um filme, pois cada imagem conta a sua história
O historiador, alerta Marc Bloch. tem obrigação ao mesmo tempo que incorpora um dado sistema de
de explorar “as necessidades secretas do coração valor.
dos homens” (cf. GAY, 1989: 26). Tal preocupação
A imagem enquanto representação do real
com o funcionamento dos fenômenos mentais e a
estabelece identidade, distribui papéis e posições
sua importância para a história já era prevista em
sociais, exprime e impõe crenças comuns, instala
tempos mais remotos; Foustel de Coulanges em
modelos formadores, delimita territórios, aponta para
palestra proferida no ano de 1862. em Paris, chegou
os que são amigos e os que se deve combater (cf.
a traçar um roteiro, de certa maneira antecipador de
BACZKO, 1990: 303).
uma abordagem histórica, que nos parece, bastante
atual: Uma outra faceta das múltiplas possibilidades
de abordagem das imagens, em particular a
“A história deve perscrutar
fotografia e o cinema, é de que não podem ser
as fábulas, os mitos, os
estudadas apenas pelo que manifestam, pois são
sonhos da imaginação
imagens que para a sua construção contribui uma
todas essas velhas
complexa utilização de tecnologia extremamente
falsidades sob as quais ela
sofisticada e cara. Para possibilitar a captação das
deve descobrir alguma
imagens técnicas concorrem conhecimentos de
coisa de muito real, as
diversos campos: mecânica, ótica, eletroeletrônica, a
crenças humanas. Onde o
química, entre outros. A imagem enquanto objeto de
homem passou e onde
pesquisa histórica deve levar em conta e incorporar
deixou a marca da sua
esse envolvimento da técnica como construção ou
vida e da sua inteligência,
como reprodução.
ai está sua história” (cf . LE
GOFF. 1990: 536). Para finalizar gostaria de ressaltar o papel da
imagem na vida humana, talvez o mais importante,
A pronunciar essa declaração, Coulanges foi
transcrevendo um exemplo extraído de Vygostsky:
contra os seus próprios princípios, historiador ortodoxo
de linha positivista, que atribuía ao documento escrito “O pensamento, ao contrário
aquele único com o estatuto da verdade. da fala, não consiste em
unidades separadas. Quando
Os materiais visuais são portadores privilegiados
desejo comunicar o
daquelas necessidades do coração, das fábulas, dos
pensamento de que hoje vi
mitos e dos sonhos pelas suas características que
um [início da p. 102] menino
sempre ultrapassam as intenções de seus autores e,
descalço, de camisa azul,
também, pelo imaginário que resulta dos modos
correndo rua abaixo, não
pelos quais somos convidados a olhar.
vejo cada aspecto
Essa relação do olhar com o mundo que o isoladamente. o menino, a
circunda é de secularidade: a imagem é resultado camisa, a cor azul, a sua
de uma interação que nos provoca determinada corrida, a ausência de
fruição, o que nos coloca diante de uma questão: sapatos. Concebo tudo isso
em que [início da p. 101] medida essa fruição do em um só pensamento, mas
olhar está submetida a modificações e/ou expresso-o em palavras
reelaborações passíveis de se alterar o que é visto e separadas. Um interlocutor
como é visto? em geral leva vários minutos
para manifestar um
Para alcançar uma reposta a essa indagação,
pensamento. Em sua mente o
de modo que nos leve a uma maior aproximação do
pensamento está presente
real, poderemos contar com os conhecimentos
em sua totalidade e num só
produzidos em um outro campo do saber, aquele
momento mas na sua fala
que trata das conformações que as formas assumem
tem que ser desenvolvido em
no processo comunicativo: a estética.
uma seqüência. Um
Uma imagem não é apenas um conjunto pensamento pode ser
composto por linhas, cores, luz ou sombra; uma comparado a unia nuvem
PÓS-HISTÓRIA, Assis-SP, 03: 105-1 15 1995
descarregando uma chuva
de palavras (...) O
pensamento propriamente
dito é gerado pela
motivação, isto é. por nossos
desejos e necessidades,
nossos interesses e emoções”
(VYGOSTSKY, 1989, 128-9).
Como aponta o autor, as funções de nosso
cérebro relacionadas às habilidades espaciais e
visuais operam de modo holístico, as partes do todo
são articuladas de maneira global e relacional
efetuando suas ações de forma simultânea e não
seqüencial (OLIVEIRA, 1992).
Neste ponto, retornamos ao pensamento inicial
de Morin: o fenômeno multidimensional que é a
imagem. “O que nós captamos do mundo não é o
objeto menos nós, mas o objeto visto e observado,
co-produzido por nós” (MORIN, 1989:38).

MEIRELLES, W. R. The images: one


approach, multiples facets.
ABSTRACT: This article discusses some
differents ways to the analys of the images
in the historical learning process.
KEYWORDS: history and images;
photograph; cinema.

Referências Bibliográficas
1. BACHELARD, 6. A Filosofia de não e outros textos. São
Paulo: Abril Cultural, 1984.(2a ed.)
[início da p. 103]
2. BACZKO, B. “Imaginação, social”. In: Enciclopédia Einaudi:
Antrophos-Homem. Lisboa: Casa da Moeda, 1990. vol. 05.
3. BLOCH, M. Sociedade Feudal. Lisboa: Edições 70, 1982.
4. DUBY, G. “Lição de história”. In: Revista Veja: reflexões
para o futuro. São Paulo: Abril, 1994. p/229-235.
5. FREUND, G. La fotografia como documento social.
Barcelona: Gustavo Gilli, 1974.
6. GAY, P. Freud para historiadores. S.Paulo: Cia. Das Letras,
1993.
7. HARVEY, D. A condição pós-moderna. S.Paulo: Loyola,
1993.
8. HUNT, L. A nova história cultural. S.Paulo: Martins Fontes,
1992.
9. JEANNE, René e FORD. Charles. Histoire Illustrée du
Cinéma. (v. 1) Vervies: Gerard & Co., 1966.
10. LE GOFF, J. História e memória. Campinas: Edunicamp,
1990.
11. MORIN, Edgar. “Entrevista ao Jornal Le Monde,
26.04.1981”. In: Idéias contemporâneas. São Paulo: Ática,
1989.
12. OLIVEIRA, M. K. “O verbal e o não-verbal”. In: Revista USP
no. 16, S.Paulo: dez.jan.fev.92/93.
13. VYGOTSKY, L. 5. Pensamento e linguagem. S.Paulo:
Martins Fontes, 1989.

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