Não se sabe o número exato de línguas faladas no mundo hoje, mas a
estimativa é de que sejam quase 7.000. Praticamente metade das línguas atuais, entretanto, está ameaçada de extinção e pode desaparecer ainda neste século. Os lingüistas estimam que a cada duas semanas uma língua desaparece.
Como é possível uma língua desaparecer? Em grande parte, o processo
é gradual. Entre indígenas, por exemplo, é comum o convívio com pelo menos duas línguas: a língua nativa, usada na tribo, e a língua usada nas escolas, meios de comunicação, etc. Aos poucos, a língua nativa pode perder espaço para a língua dominante. As crianças passam a usar unicamente a língua aprendida na escola e somente os mais velhos usam a língua nativa no dia-a- dia. Também pode ocorrer que o último falante da língua morra. Hoje existe um número considerável de casos assim: línguas com apenas um ou dois falantes.
O México, país rico em diversidade lingüística, tem mais de 350 línguas
indígenas. Entretanto, hoje, 20 delas estão em perigo de extinção. Uma dessa línguas é Zoque, falada no sul do México. Apenas duas pessoas falam Zoque. Recentemente, estes dois falantes, hoje com aproximadamente 70 anos, tiveram um desentendimento. E como resultado, pararam de conversar um com o outro. Esta briga pode sair caro: a extinção de uma língua.
Alguns lingüistas consideram que quando tem apenas um único falante
de um determinado idioma, esse idioma, de fato, já morreu. No caso dos dois falantes de Zoque, é possível que um pesquisador recolha estruturas lingüísticas de cada falante. Mas não será possível recolher dados da língua em funcionamento porque não há interação entre os falantes. No Brasil, há 180 línguas indígenas espalhadas pelo território nacional. Este número pode parecer grande mas, é, na verdade, apenas uma pequena parcela do número de línguas que existiam há 500 anos atrás, quando os portugueses chegaram no Brasil. Estima-se que haviam mais de mil línguas indígenas. Um número surpreendente!
De acordo com dados da revista Língua Portuguesa de dezembro de
2007, as duas línguas indígenas com maior número de falantes no Brasil é Tukúna, falado no Amazonas, e o Guarani, falado em vários estados brasileiros. Entretanto, mais da metade das línguas indígenas é falada por menos de 500 falantes e, por isso, são consideradas ameaçadas de extinção. Uma questão que preocupa lingüistas e estudiosos da língua.
Não só lingüistas querem salvar as línguas ameaçadas, mas também os
próprios indígenas. Um belo exemplo é o de Maria Pankararu que decidiu estudar e no ano passado se tornou a primeira indígena brasileira a ter doutorado. Ele freqüentou a Universidade Federal de Alagoas e fez doutorado em lingüística. Pankararu se dedica a fazer gramáticas indígenas que antes não existiam.
Ao preservar uma língua, preservamos não só a maneira de expressar de
um povo mas também sua cultura e identidade. A língua é uma ferramenta de expressão. Preservar uma língua significa, entre outras coisas, manter viva a voz de um povo.
Denise Maria Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada no Teachers
College Columbia University (Nova York) e professora de português como língua estrangeira. dmdcame@yahoo.com Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):
Osborne, D. (2009, July 10). Salvando línguas. Clarim, Ano 14, n. 676, p. A2.