Vous êtes sur la page 1sur 3

TRADUZIR: INDO ALÉM DAS PALAVRAS

Muitas pessoas pensam que para traduzir um texto basta pegar aquele
dicionário grosso na prateleira e procurar as palavras. Ou então, recorrer as
ferramentas de tradução na internet. Provavelmente, já na primeira frase, essa
pessoa verá que traduzir não é tão simples assim. Os computadores e
dicionários não são capazes, por exemplo, de traduzir as infinitas possibilidades
de metáforas.

A arte de traduzir requer do tradutor um conhecimento pleno das línguas


e culturas envolvidas. Para o filósofo francês Jacques Derrida, tradução é
transformação. O tradutor lê o texto de origem e o recria na língua alvo. Traduzir
é, portanto, criar e produzir significados. Uma tarefa complexa e cheia de
dificuldades.

Ao traduzir do inglês para o português, a questão do gênero, por


exemplo, pode ser complicada. A simples frase My friend exige dos tradutores
uma tomada de posição: Meu amigo ou Minha amiga (‘friend’ pode ser
masculino ou feminino). Sem o contexto, é impossível saber de que gênero se
trata já que o inglês não traz o marcador de gênero.

Expressões idiomáticas também apresentam um desafio. Outro dia ouvi


uma piada em inglês na televisão: “Uma pessoa foi ao hospital para tratar do
braço e da perna. Custou-lhe o braço e a perna.” Esta piada não tem graça para
nós porque usamos uma expressão idiomática diferente em português. No bom
português brasileiro, diríamos: “Uma pessoa foi ao hospital para tratar do olho.
Custou-lhe o olho da cara.” Se traduzirmos palavra por palavra, os textos ficam
muitas vezes sem sentido, a mensagem se perde e não preservamos a
fidelidade semântica do texto original.
A tradução também passa por nossa própria percepção da palavra. De
acordo com Rosemary Arrojo, uma estudiosa da teoria da tradução, a nossa
interpretação do texto de partida é um produto do que somos, de como vemos o
mundo, de nossas experiências. Dizer, por exemplo, He is ambitious (Ele é
ambicioso) tem uma carga semântica positiva na cultura americano, isto é, os
americanos consideram ambição uma qualidade. A mesma frase na cultura
brasileira é percebida de forma ambivalente. Ambição pode até ser vista como
positiva, desde que seja dentro certos limites.

O aspecto cultural é extremamente importante para se entender o


contexto de um texto, mesmo sabendo o significado de todas as palavras. Existe
um comercial na televisão americana, que mostra uma adolescente de uns 18
anos comendo pão com margarina. Sua mãe chega em casa. A adolescente diz
que a margarina é de excelente qualidade e é barata. A mãe, então, responde:
“Se você está economizando tanto dinheiro, por que ainda não saiu de casa?”
Este comercial tem carga humorística para os americanos, mas para nós
brasileiros parece ofensivo. Poderíamos pensar: Como é possível que uma mãe
quer que sua filha saia de casa? Isto não é uma attitude maternal. Mas para o
contexto dos Estados Unidos, o comercial faz sentido e é engraçado porque,
aqui, se espera que os jovens saiam de casa cedo e se tornem independentes.

Ao traduzir, trabalhamos com a linguagem que é ao mesmo tempo uma


expressão cultural e individual dos falantes. Por isso, não existem fórmulas
prontas para traduzir. A boa tradução é um trabalho árduo de produção de
significados que não deveria passar despercebido ao lemos um texto ou livro
traduzidos.

Denise Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada no Teachers College

Columbia University (Nova York) e professora de português como língua

estrangeira.
Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):

Osborne, D. (2008, January 18). Traduzir – Indo além das palavras. Clarim, Ano
12, n. 601. p. A2.

Vous aimerez peut-être aussi