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avant-garde na bahia antonio risério pontos sobre o brasil instituto lina bo e p.m. bardi nota prévia Durante anos, ouvi a hist6ria, contada por Lina Bardi, da lum grupo de intelectuais, ou “profissionais de diversas éreas”, com preferia dizer, na vida cultural da Bahia dos anos 50. > Por veues, achava a hist6ria meio inverossimel pois, apesar de tio fantéstica, quase ninguém tinha dela noticia. Propostas ousadas e experimen- {9s inéditos na arte e cultura brasileras tiveram 0 seu lugar nesses anos, ‘Patrocinados, de certa forma, pela Universidade Federal da Bahia, sob 0 “comando do Reitor Edgard Santos. © Um reitor um tanto visiondtio que sustentou ¢ apoiou, contra todo 0 inservadorismo provinciano, um Agostinho da Silva criando 0 CEAO - 0 de Estudos Afro Orientais, um Martim Goncalves dirigindo a Escola Teatro, um Koellreutter dirigindo os Seminérios Livees de Musica, e uma ‘Yanka Rudska ditigindo a Bscola de Danga. Fora do campo estritamente iniversitério, este foi também o tempo em que a Bahia se deixou marcar pela rseosa de uma Lina Bardi dirigindo o Museu de Arte Moderna da Bahia, foroctnégrafo Pierre Verger ¢ muitos outros. Poderfamos chamar esse final dos anos 50 e inicio dos 60 como uma *Era Edgard Santos” na vida culeural da Bahia. Dali sairam o Cinema Novo, 4 Tropicdlia, e outros importantes acontecimentos. Ao convidar Antonio Risério para concar essa histéra, tive a intengdo acertar contas com Lina ¢ com a fraca meméria que o Brasil tem desse perfodo, Risério fez, 0 melhor: um livro didético para universitérios e todos aqueles, conhecedores ou no, que se interessem por esta invasio “doce ‘bjrbara’ que a Bahia sofieu. __ O assunto af esté, posto na mesa, para que novos balangos possam, ‘aqui pra frente, ser feitos. Anexamos a0 livro alguns textos da época ou sobre a época, que poderio reforcar a tese de Risétio sobre a inestimdvel contribuigdo que a passagem desses profisionais pela Bahia dos anos 50 trouxe & culrura bras Poderiamos resumir 0 idedrio desse grupo de intelectuais numa epigrafe do Maestro Koellreucter, extraida de um fothero editado quando da inauguragio do novo prédio dos Seminérios Livres de Mitsica. Apesar de se referir A musica, ela pode ser transposta & toda criagio daquele momento: “Constructo ad syresin’ isto é composigdo que atende mais ao sensido do que ao rigor da. forma. Ongunizagdo serial dos elementos sonoros. Afinagdo microtonal. Conjunto de estruturas permutdves. Forma sem forma. Continuo de som e silencio Um nada de possibilidades ilimitadas. Unn vazio de conteddos inesgordveis. Mitsica como exercicio de integragao.” Marcelo Carvalho Ferraz Coordenador Editorial 5 © Salvador”. A placéia caiu na gargalhada. A cidad tho deseuid: | John Cage fixou-se em minha mente. No en © pelos museus de Dona Lina. GI apresentagdo Lembro do pianista David ‘Tudor, em 1961/62, apresentando pegas de John Cage no Salio Nobre da da Universidade da Bahia - aquele prédio gozado do bairro do Canela que sempre me parccerd maravilhoso -, a sala cheia, 0 professor Koellreutter observando, Uma das composigdes previa certa altura, 0 miisico ligasse um aparelho de rédio a0 acaso. A voz familiar surgiu como que respondendo 20 seu gesto: “Radio Bahia, Cidade do inha inscrito seu nome no coragéo da vanguarda mundial com uma tal graca ¢ naturalidade, com um jeito ‘que © professor Koellreutter, entendendo tudo, riu mais do que toda a platéia, ‘Nunca esqueci o nome de David Tudor, mas nfo 0 fa feita de siléncios (numa das pegas as teclas eram apenas cocadas, sem serem pressionadas, pelos dedos enluvados do pianista) ¢ acasos nfo me abandonou Nao sr por que eu jé chegara de Santo Amaro coisas assim. Eu simplesmente ansiava por elas. Um conto de lido acidentalmente na infincia, Clarice Lispector na Revista Senhor, 0 neo- realismo italiano, mas sobretudo Joo Gilberto, tinham me levado a uma idéia do moderno com a qual cu me compri lesde cedo. Iss0 descreve como 0 tema jé tinha-se tornado meu desde Santo Amaro, mas nao explica as razdes completar dezoito que 0 nome de por aquela msica mettépole depois disso teve sobre mim sequer 0 décimo daquele impacto. O lade estar téo presente na vida da cidade, com seu programa de formagio artistica levado a cabo por ctiadores arrojados chamados & Bahia pelo improvavel Reitor Edgard Santos, fazia de minha vide ali um destumbra- Mas minha irma Maria Bethania, que nao accit a apenas treze anos), foi conquistada para Salvador - € atmosfera e a transformava em ago, O que aconteceu na Bahia do final dos anos cinquentas a0 inicio dos sessentas (mostro aqui ter aprendido a ligio de portugués de Risésio) é ainda ‘um aspecto pouco conhecido - embora determinante - da histéria recente da cultura brasileira, Este livro vem fazé-lo inteligivel. Para mim, Risério revel rele 0 sentido de minha prépria insergio no mundo. Sua leitura ser proveico- sa - além de prazerosa, dadas a clareza e a vivacidade do estilo - também para | cortigit perspectivas de quem queira entender 0 Brasil cultural da segunda metade do século. Herdeizo legitimo - posto que indirero porque de segund: {getagio - daquele movimento, morador da Cidade da Bahia, onde tem assisti- do as energias criadoras migrarem da academia para os afrobloces (com a sede do Olodum tendo sido construfda por Dona Lina), a pessoa ideal para a tarefa. Ele nfo rem idéia do quanto the devo por este livro. Para além do agtadecimento pela lisonja de considerar o que tenho feito em mitsica popular | como exemplo (20 lado de Glauber!) de bom resultado da empreitada dow Reitos, preciso dizerlhe - ¢ a quem nos leia - que nem mesmo o modo com vei lembrancas neste prefacio me seria possivel sem a leitura de seu livro. E como se eu no soubesse bem quem eu era antes de Minhas reminiscéncias mais sinceras me obrigam, no entanto, a externar fica censura ao autor, antes depoimento complementar _ | aos que ele tio bem colheu. Parece-me que a figura de Eros Martim Gongalves saiu relativamente injustigada, ou desproporcionalmente apequenada, no pai- | nel, Basta dizer que talvez a Escola de Teatro tenha centtalizado nossa visi de Bethania e minha - do impulso modernizante da época. E Glauber reperiu | imiimeras vezes que a montagem da Opera de Brecht tinha-lhe dado tudo: Martim montou Claudel e Brecht, Tenessee Williams © Camus, como os Seminérios de Koellreutter apresentavam Brahms ¢ Gershwin, Cage ¢ Beethoven. | Aléin disso hi algo de desequilibrado em negarse o status de vanguardista a. tum diretor-educador corajoso como Martim, mum livro em que ndo se © nega. ‘uma figura (grandiosa, fascinante, amével) como a do professor Agostino da. va, cultor - paradoxal ¢ heterodoxo como era - de saudades do catolicismo | lusitano medieval : ‘Mas 0 fato € que em “Deus ¢ 0 Diabo na Terra do Sol” temos Eros Agostinho - e na Tropicilia temos “Terra em Transe”. E Ris i conta,” pergunta e explica por que. Caetano Veloso foe quaie for agradecimentos & dedicatéria [Exe projeto fo teria trocado a luz do sono pela luz do sols, 20 longo de sua caboragio e no eaminho para a sua publicagio em forma de lio; eu nfo cvessecontado com 0 auxilio elou 2 cumplicidade siaapécica de am razodvel elenco de pessoas. Ainda que acorrao rico de sme esquece involuncariamente de algum no Adolpho Schindler Neto, Alessandra Galasso, Ana CA ‘Bete Capinan, Claudias Portugal, Didgenes Rebous, Fernando da Rocha Petes, Giancarlo Latorrce, Gustavo Falcén, Hans Joachim Keelleuter, Hebe Gongalves, In Grspum Ferraz, Ibabel Gouveia, Jeleson Bacelas, Juca Frei ia Robatco, Marecla Carvalho Ferraz, Nidia Lubsco, Paulo Alves, eter Kompiet, Rodrigo Veloso, Silvio Robato, Solange Parracho, Viewor Nose © Waly Salomio, Em especial, cenho que agradecer & minha mulher, Taya Soledade, por suas leinurase cleituras dos orginal, sempre seguidas de obseragSese, digamos, perunas esdlarecedorss. ara Roberts Pinko, ue mdi no aspro ~ efantastia. Avant-Garde na Babia foi apresentado originalmente como tese para a obtengio dc rau de Mestte em Sociologia pela Universidade Federal da Bahia, na sequéncia do fico daquel: ‘er reconhecido, em julgamento, 0 meu "aocério saber". A dissertagi ente pelot professors Albino Rubim, Eduardo Machado e Jofo José Reis jo aqui os meus agredecimentor, na certza de que nossas conversas lo st fgotario no ritualimo vaxio do ambiente académico, em meio a0 qual eles perseveram cnduzinda barco a duras penas. ~singularidade planetdria 1 ww0, Tropicélia e mais um ou outro lance de dados e/ou de biizios. Impossivel pensar a nova cultura brasileira sem pensar na Bahia, Dessa regio geocultural - justamente aquela onde teve inicio @ aventura chamada Brasil, o que é da mais alta importéncia - partiu, de forma concentrada € num perfodo historicamente estreito, uma notivel sé de intervengées revolu- ixando de lado Joio Gilberto e a onda inglo do reduzido raio de alcance da abordagemn que varnos basta pensar, por tim momento, nos relampagos do Cinema Novo e da ‘Tiopicélia, para medir a forga ¢ a natureza da maré, Em especial, para aqueles que despertaram entre as décadas de 1960-70 para o fascinante universo-em- expansio das idéias e das formas estético-intelectuais - para 0 “segundo sol” da paidéia ou da cultura, disiamos, lembrando algo livremente a n{tida imagem de Platio, fildsofo grego que jamais admitiria que gente da laia dos tropicalstas, conspurcasse a Repiiblica de seus sonhos -, Caetano Veloso ¢ Glauber Rocha, principalmente Caetano Veloso, se converteram em Mas é claro que eles nfo floresceram nas a filhos especiais de um momento especial da vida baiana, no interior de uma conjuntura também especial da vida brasileira. Nao quero dizer com isso que tenham sido inevitéveis, como a préxima lua cheia ou o deslocamento da limalha em diregio 20 ima. Ou, por outra, que fossem necessatiamente aflorar, feito rebentos incontornaveis de uma engrenagem irtecorrivel. De modo algum. A soma de uma dada contextura antropolégica, de uma determinada texcura social e de um certo texto politico no é suficiente para produzir uma espécie “x” de igéncia - e muito menos para levar alguma senhora excéntrica minismos - de clima, raga poztanto, © que des 6 final da década de 1940 € que se criou naquele momen’ nt io da de 1960, antes que a classe dirigente "Brasileira exercirasse seus miisculos no espeticulo grotesco de mais um golpe mento de uma personalidade cultural criativa que se encarnou em artistas- adores como Caetano Veloso ¢ Glauber Rocha. £ (quase) t2o simples assim, 1m pais que experimentava novas diregSes demoeréticas, acelerando seu pro- cess0 de acualizago urbano-industrial em meio aos ventos do nacionalismo ¢ do desenvolvimentismo, a Bahia péde se levantar, com toda a sua densidade ¢ ara se abrir a um consideréve fh internacional de informagbesesttico-intelectuss -e ainda se preparar para intervit, nacionalmen- ‘te, sob as signos da modemidade e da radicaldade. {Que aquele momento foi especial, nfo se tem dévida, Que ali feuti- catam a invengio e o experimentalismo, muito menos. Que a agi tiu viva fundamente no conjunto brasileiro de cultura, menos ainda. {que bem mal conkecida, « vide cultural balana, no perfodo em fedos os que se debrucai, com um és , da produglo estético-intelectual br | jsamence, & eriagio liter ficou ancorada em algun remanso paroquial (\ excegio di teniath Spor ado Jon fe performance vinha de an de efervesoncia renovadora apenas quis ser um cent culrual fo ela epoca. Bla fi, plo, na histria da misia erudita no Brasil, 20 longo do Jbre foi geral. Acontecen ali, numa circuns feliz coincidéncia espécio-temporal entre © dese traball ‘a tripular - e capazes de pilotar - 0 barco. Mais ainda: a movimenta- fo aglutinava levas geracionais diversas, indo do reitor Edgard Santos 20 cesmdante uni a deve ser ast0 Museu de Are ‘Modema slo dois tnques de choque (.), 08 clarns da bacalha Fram roeados pelas gandes exposigies do Museu de Arte Moderna ¢ pela montagem da per dos Tis ue provoearam grande exitagio no penst- f o-mavimento. ‘na sua linguagem convencional, no seu tabu contra 2 conveniéncia do trae, nas suas leis contra a revol vyocts que lideram nosso verdadeiro pensamento se empenhassem para lev nsou planeta: informagées de - e para todos of lugares, Este tempo ema que a vida baiana esti mareada plas ideas e pela ago de Koellreu Lina Bo Bard, Yanks Rudrka, Emst Widms, Martim Gon t Cravo, Nelson Rossi, Machi f, Clarival Valladares, Duarte, Roberto credite corretamente, do pais e do mund ‘Novo e a Tiopictlia, aleraram irreversivelmente a paisagem culeural em no alegres arises tropiques, 2 E pelo menos significativo que esta agitacSo cultural baiana, quer colorida como a culindia local, ou viswosa e variada como as vests de tenha se processada an longa ce um perfodo que, na histéria pol lo de “Repiblica Liberal”. Estende-se ele to militar de 1964, contestado nas ruas ainda 1968, quando a ditadura atizou seus adversitios no siléacio, na prisio, ‘contracultural, transgressoes"que 86 deixaram de cer mi coisas em comum, pontos de contato entre si. Foi o momento em que a1 tnais brilhance ¢ ctativa da juventude brasileira escolheu © drop out, entse a iagao do terrorismo e a da vida “alterativa’, em meio a bombs, ‘metralhadoras e drogas alucindgenas. Antes disso, por para implantar sem maiores gente, tivéramos a liberalizagio de Dutra, a sa febre P reentrée de Vargas (agora em performance democ porraloug ‘comunista de 1935, Gées Monteiro, a émsinensegrive militar de do a cabo o seu proprio plano de neutralizar os Estados dar 20 Exércto nacional 0 monopélio da forga militar planos de Vargas de uma diadura pessoal”, ceconta o “brazil «argo da promulgacio da Const Dutia, Até os comunistas pin ‘Temocritico, com o PCB (legalizado) dando na foie demons & ts delitando & 1 votos que fer de Luis Carlos Prestessenadar ede | 5 como certamente seria de esperar, a folia foi breve. A filial de 4 ficou abera por mais de dois anos. Deputados comunistas perdevam 0 mands ae | Bahia - © até mais em termas culturais do que politica. O lider da reaciondria UDN, al entio visitava 0 Rio de Leoncio Basbaum. Dut em pein, un Vang ampurado =a conn Genilio volrara. ppara a esquerda®, Deu certo. Vargas voleou a0 popular. Se quisermos sinetizarpoliicamente o séeulo XX brasileiro, podere-¢ acionalismo, exc. Mas nada ‘mos arFolar tépicos como reivindicagées so 4 tao forte, acredito, quanto a afirmacio parte, o pais experimentou um ritmo inédito de erescime zando pela implantacio da i. De outra parte, vivemos raves, idéis circule- movimentavam trangtilamente. Neste lima de likeatade desenvolvimento, convenceu de que era dono do seu nat telagées internacionais, formulando a PEL ("poli na tentativa de escapar & polarizagio EUA-URSS®. Joo Goulart como que ‘ensaiou aprofundar a imagem de um ‘ruzado ¢ deixando que a esquerda chav) conasse de fato em seu governo, smunistas, principalmente aqueles agrupados no PCB, cot indamenal para a compreensio do peri « intelectual, em ‘que 56 veio a ana segunda Iberto) cantar, me ineesar pela moderizacio da misca bras ‘ese interest estava incluldo no fscinio que exercia sobre mim a descol ‘um Brasil euleuralmente novo: sta Senbor encantado; acompanhava (0s artigos de Glauber Rocha cheguei, ainda secundarist, a p csctitos sobre cinema), descobriy Clarice Lispector, depois, Guimaries Rosa e, por im, Jogo Cabral ase tantas vezes quantas ouvi os discos de David Brubeck me enfastiava);enfim, eu quetia estar vivo Jovem, entre jovens corajosos e criadores, eu gostava das maquetes de Bras de escever a palivra.estéria cam ¢ © de ver textos impressos em letras rmieisculas. (..). Me interesava itsia. Mas sou rganizado ¢ no sou estudioso, Li Sa nunca ter lida um s6 texto de Marx ou mesmo Leandro Konder publcados na Revita Civilzagto (Bra ‘em geral’ pelo clima de criatividade que eu sentia em rorno de mi de Cactano a Mare ¢ Sartre nos re lario de luz enceguecsdora cobriao firmament de Los Alamos, Robert Oppenheimer se erguia para rei nserito uma passagem do tertivelmente bela, trazendo Krishna “Se milhares e milhares de Jncimerfilava sete lnguas, aprendera sinscrito para ler 0 Bhagavad-Gita inosa do | nowo detoyer of world bbomba atdmic Em seg “Tiago sangue em minhas méos’, disse a Harry Truman, | consiert-lo um erbaly, um bebé chorio, avisando ao seu secretirio de E toda uma sétie de jogadas demagé- petaculares, campanhas sérdi- de Israel, Guerra da Argélia, Revolucio Cubana. O “imperalismo ianque” se rojetava sobre o globo terrestre, contrabalancado pelo poderio sovietico. Em. pa: 0 naufedgio da velka Europa, a emergéncla dos EUA, o comunisino, troncoriamentee ol na dient een ivelactual «nasa, a Ponca impondo sus ie € quivers, Ieratura, socologia, pisiia, histéria, misicaerudi- En dlgia Alpe, de Cuno. Velo, eee wn belo docomente de epoca: bomba at6mica, Brigitte Bardot, Sartre, coca-cola. A permanéncia da 4 chegida arrasadora dos B ccaleura frances sdlebre entre 1 lo de uma pals era uma cia 3 Desde a eransferéncia da capital para o Rio de tum Jofo VI em Fuga 20 cereo napolednico, a Bahia - incipal nicleo urbano, Salva- entéo a modemizagio do Basil Meridional, especialmente apés a Revolusio de © projeto de Vargas ficou fo aleance. Mas jerdera 0 bonde da primeira inalmente dar o salto. Uma ‘a Rémulo Almeida, passan- {do por Edgard Santos - se most disposta a balangar 0 eoreto provinciano, remansoso, slow motion. No caso que aqui estamos tratando, 0 destague vai ide de recolocar a Cidade da Bahia ler Eeondmico € 0 atraso. No Amago do Poder da informagio nova. De fato, Poder Cultural convergissem pata a Cultural, deveria estar a Universi ‘como veremos adiante, Edgard vai se con fazendo 0 centro mesmo da agitacio iniciativas no campo da produsio eseé fa Universidade, nes vemos até hoje uma leicura interpret contexto da vida baiano-brasileira, 0 que nfo deixa de causur surpress. Mas € preciso fara. Edgord foi uma pera-chave, petsonagem fundamental, na trama que entio se desenvolveu, Sei que muitos analistas da sociedade, em especial aqueles ferrenhamente “ costumam esnobar o destaque 2 espessura individual, prneipelmen: de pode. B claro que a raid Sido do proceso de fem vez de Eraesto Geisel, um homem poli ‘como o general Médico abo Przeworski observou que 0 marxis- om uma teoria das agées das pessoas fs grandes arores coletvas. E 9 que a corrente de Preworski ¢ Sustenta ¢ que serd sempre insatisfa6ria uma eoria da histria in conta das agbes dos individuos. Ino € corte, na mina opiniao, Mas a0 mesmo tempo sebemos que a sociedade nfo sereduz a um simples amontoado fu a uma coleco de individuos. E necessrio examinar a atuagio destes ccontextualmente, em coordenadas histéricas concretas, especificas. Recusar 0 hholismo radical nfo significa aderic automaticamente a0 “individual rmerodoldgico”, ou o obverso, Ninguém esté na obrigacio de optar cstarfamos hoje nos reportando 4 uma situagio bem diversa realmente se configurou quateo ou cinco décadas atrés. Uma pessoa é uma , poderiamos dizer, adaprando A citcunstincia a ase empos de uma agéo cultural ampla,vigorosa¢ inventi- aro. A Escola de Testo, por exempl, era bancada pela de que falava Gla 5 projerou-se a vanguarda. A ponca-d spanheiros ne. Semisitio. de Musica. De outro, Lina Bo ‘encontro com Martim Gongalves. Mas ha Bo ¢ Koellreurter/eram essencialmente avant-ge inalg elefico © até mesmo algo comy ina acquitenura céniea de Lina,/a m« de_seu cor jC Koeleus discinguir ppara a Bahia a arte moderna, com suas esculturas ¢ seu crabalho em ms 08 do ia geracio que, com o C ov 0 sex momento formativy ¢ golpe de 19 ira no midio do igolada calaral baiana comegara antes do movimen to (ou da parada) militar. Edgard, que fora nomeado por Burico Dura, deixou a reitoria do Canela em 1961. Adversirio do presidente Jinio Quadros ¢ combati- do sistemacicamente plas lderangas esquerdofeénicas do movimento estudant, que achavam que a insauragio do mil2nio comunista pasava por uma cerimOnia de enforcamento no campus, o reitor foi defenestrado. “Mestre Edgard Santos era tum fidalgo da Renascenga ¢ a0 mesmo tempo dinémico cidadio do mundo de hoje... Quando o de sua Universidade, ou seja do formidavel trabalho aque estava realizan © Rio, depois para sempre pasion o posto a E nana ea velhacariaparoquial tiunfavam provsoramente, exorizando € 1 Sptnds de Bhi refnamentoextc-ineecta Mas oft & ue fumen- te os endnamentos ¢ os toques de Agorinho da Sia, Lina Bo, Marim Gongalves Hans J. Koclireutere ouros se impuseram. Ultapessando as bari sas da ignorini, da afeago de provincia, da caltinia, da invea, da inriga © da fofoca, para no flar no enttave do delio. eaquerdfitnico, eses_ meses souberam subyener ¢ formar uma nova onda geracional, apontan ‘amino da ouadia¢ eximlandoa em dvegio&abertara de espagos reba E certo que o “esquatism uriveritéro, doenca infant € sees, coreggemnind, issn. ths EALERAL gas Wsass Yeahoraas Cre gesses Wass SSNS de fao) do que faiam ou pensavam (ou pe cexato). Achavam que, de cada el tecee devecminadas aliangas, mas sim como 0 inimigosolidamente implantado no campus e era preciso derrubélo.. Conta- vase para tanto, de resto, com a adesto integral de estudantes de engenharia ¢ i os por acharem que o seitor as desprezava,investindo ‘campo dis “humanidades”e das artes. Jé 0 I" da provincia a Lina Bo Bardi, para dar exemplo baixaria. Que, de nos uma confirmacio da se de Edgard ¢ acompanhando as peripécias de uma vanguarda que gerou, 02 Bahia, uma dialécica entre a informagéo cosmopolita que levava e a realidade thos do Museu jp. deverm aos traball deyemos de modo algum abla Te do violio de Jofo ‘como Lina Bo portanto, formadores | notas 1. ea rp. préxim ta maré de ressca - ou navio que afundasse apagando suas hues. io Reis Clit de Cina Bil fd Bahia época de Edgard Santos. Mas sua obra se configura siquecedores, como 2 ilus vai desde uma ‘uma afiemagio do homem nio pode receber uma 9, Th if Non ose, oven Colbie 1993- p52, Calas do sade da Balin, 1979) Tin Gomes blinks eae outs exis, «persona do emo en teas bts opp. 237238, Basta, Leta pct pp INET © he eye sp of econ ag ed es uc ‘Maca cya a plied emo an 10. Op. es 208, 1. Op. dep. 175 12, Opis Ps Ria Jacko, Ciao Bai, 1966p. 21-2."O Govera Gul em inprtcs ‘Un Apes Dili pubis como patie da clans Gio Gif ier cre eases: “Oo Capes 28, Sins its, a Ménrar, 1962 34. 14. i, Oa, Sue Ro, So Tal, Eepecia, 1990, p- M0 e145; Moog Ene Rods, “ass «Renown epi da bee cleo Amr Lait at Ltt (Une), Sio Tal, fine eoplce de “human | algumas wees apontada uma aventura pragmatica Edgaed Santos, retorfundador da Universidade da Babia, era médi- co, Formou-se em nossa velha Faculdade de Medicina. Refiro-me a0 fato para recordar que ele se viu as voltas com o problema da modernizagio do tensino da medicina em nossaslaticudes tropicals, no contexto mais amplo da necessidade de promover uma espécie de atualizagdo historica da concepsi0 geral de instituigGo universitéria na Bahia e no Brasil. Mas ndo 36, Esta formagio na érea da medicina algo suepreendente para alguém criado numa familia de advogados ilustres, talvez. nos ajude a entender alguma coisa a yersonagem. Freqiientador das velhat rotinas pedagéeicss, Edgard apresentou sua tese 4 Faculdade de Medicina da Bahia no més de dezembro do ano de abemos hoje que 0 avango do conhecimento « das priticas medici- 6 nos tornou a todos doentes, na fase espiituosa de Aldous Huxley, como gerou uma incrvel proliferagio de especialidades, condenando lamenta- yelmente 20 exterminio a figura do “clinico geral”. Pois bem. A postura de Edgard - diante das coisas do mundo - me parece a de um “dinico geal”, um “peneralisa, independentemente do fato de que ele tenha sido cirurgido. E isto € mais do que evidente em sua tentativa de mancomunar cultura ¢ teenologia em fungio do “desenvolvimento nacional", numa visto que bem podemos classificar como humanistico-industrialista. “Industrialista’ porque 0 re bareu na recla da modemnizagio econBmica.B se falo dele como ‘Enum sentido genérico, mas ao mesmo tempo preciso. Q fato do reitor colocar a “cultura” acima da “finalidade econémica", realgando com insistencia 0 primado do espirito, para s6 nesses termos reconhecet uma posiblidade de plenitude do ser humano, & 0 que me autoriza a wati-lo como ds, esta feigfo “renascentita” do retor jd foi tbosa Romeu falow secentemente de sua “figura suado nas cortes florentinas”) ¢ de sua se no contexto de um pafs “que entio procurava sua verdadeira identidade no torvelinho das contradigées ideol6gi- eas", Antes de Romeu, Agostinho da Silva, crisdor, mentor e direror do CEAO, 0 Centro de Eswidos Affo-Orientais da Universidade da Bahia, rgis- tara exsa_cutioss impressio causada pelo reiror®. Particularizando, penso que a figura de Edgard pode ser vista como uma expresso da “era varguista’, rétulo que aqui engloba ndo apenar 0 enascentists” (aio “mentalidade humat ‘getulismo” stricto sensu, mas também as ideologias tenenti Se quisermos um titulo mais geral para a época, podere aguele foi o momento modernist da histéria politica e sua onda decisiva se armando e se encorpando ao longo da década de 1920 (época de renovagio intensa do pensamento brasileiro, de verdadeira redescoberta do pals, sob o signo do centenétio da Independéncia, para arrebentar com estrondo na Revolugéo de 1930 e se espraiar poderosamente por alguns anos além, com firmes reflexos ainda em nossos dias. O vema jé foi repisado ad nauseam, objeto de miltiplas narrativas ¢ interpretagies, de modo que ¢ supérfino insistir no hugar-comum'?, O que destjo enfatizar € que, em tal context modernista, Edgard se situa, idcologicamence, em meio 8s Aguas do tenentismo, do integralismo e do getulismo - todas clas de composicéo quase idéntica, praticamente indecantaveis. A comprovacao da aso nfo exige nenhum esforco incerpretativo especial. Basta passar em palaveas e dados hoje disponiveis. Fantasiar outra coisa € que seria revelar uma incriveldisposigéo para dar murro em ponta de fato Nacionalismo, industralismo e reivindicacio social formavam jé as linhas mestra do discurso renentista, a0 lado do combate & politica oligirquica. Os tenentes queriam a nacionalizacio do subsolo brasil industrial decidids, eminentemente nacional”; uma legislagéo de assisténcia social - resume o historiador Francisco Iglésias, comentando que tal progr2- ma cstava distance de ser radical, embora fosse considerado “audacioso” em seu tempo. Thomas Skidmore, por sua ver, define os tenentes como “nacio- nalistassemi-autoritéios”~ “Esses ambiciosos oficiais jovens desejavam forgar 6 surgimento do Brasil como nagio moderna, ¢ acreditavam que isso poderia see conseguido a eurto prazo, s6 com um quadro de tecnocratas apoliticos, toralmente néo-comprometidos ¢ dotados de um senso inflexivel de missio nacional”. Com a Revolugéo de 30, os tenentes chegaram a0 poder, pesando a mio no primeiro goveno de Vargas, que logo foi tratando de afastilos do centro da cenal®. Mas o fato é que, se Vargas cortou os iquica destes, nfo se distanciou ; “uma politica deles), impondo-thes todavia muito do idedrio daquele corajoso ¢ inventivo que marcou a histéria do Brasil com o formidavel acontecimento da Coluna Prestes, marcha pré-mao(sta e guertilha pré- gucvarisra sob o comando do entéo chamado Cavaleito da Esperanga, que ainda néo era comunista. B bem verdade que esse panorama pode ser matizado, mas sem modificagio substantiva para a nossa anilise. E isto porque nossa historiografia costuma delimitar “fase” do movimento tenentisa Edgard Carone, por exemplo, considera que tudo comegou como um intté- supostamente detentora do monopélio da moralidade, o zelador da patria e dda pureza republicana. $6 no final da década de 1920 é que 0 tenentismo hegado a uma posiglo claramente nacional es, onde as rendéncias reformistas aucoritérias eparecem em embriéo”. © movimento estaria montado num tripé: contestagio surrecionalismo sem base popular), Em todo caso, esse nacionalismo age, ‘mas constante assume outro caréter quando os tenentes se plantam em postos 5, apés a Revolugéo de 30. “O movimento dé um salto centua 9 hiscoriador. Sua linha de frente enceta “uma combi- ¢ garantias as classes populares am nos objetivos de desapro- priagio e nacionalizagio das ‘minas, forgas hidréulicas © demais valores de “nacionalizagio das vias de transporte © comunicacio, empresas de cabotagem, de estabelecimento da industria siderirg € preciso dizer que Vargas tocou esse batco, especialmente 20 longo do Estado Novo. O idedtio tenentista (9, assim tomar so burgués, 0 caminko do desenvolvimé Pode-se dizer entio que Vargas - 0 “ano mégic no cerne € daria 0 norte da 105 de fato, sob a égide do trabalhismo 0 industrial propésitos. Do mesmo modo como viria a manobrar mais tarde os integr por sinal. A influéncia do fascismo foi forte no Br inovadores ¢ tradicionai como idealypus da xenofobismo, até em sua relagio com o saber ocidencal “0 cosmopolitismo, isto é a influtnea estringera, é um mal de morte para © nosso Nacionalismo. Comba ”, ese no manifesto integralita de outubro de 1932 faro € que a Agio cextinguiu, Variante tropical atenuada do fascismo europeu, 0 Estado Novo aparece como uma espécie de sintese seletiva desses movimentos, argamassa ‘eujos ingredientes bésicos foram o nacionalismo, 0 trabalhismo ¢ 0 anticomunismo. Nessa encruzilhada de fo dguas confusas,élicto falar de um espago ideol6gico tenent getulista. Com pontos de contaro, também, com © comunismo br Gque entio fazia carga com toda a sua oratétia ansiliberal ¢ ansiimps Escreve Iglésias: "Em pals sem sé! igh. in cembaralhamento de idéias de pouca clareza ou mesmo equivocadas, 0 pensa- ‘mento costuma ser fuido e até cor sua leitura do discurso integrals nacional feqienta desde os discursos liberais € conservadores até os chama- dos progresssts. E o mais interessante é ser quase imperceptlvel a fronteira que separa um do ou ‘Fdgard - que tinha 36 anos de idade em 1930, quando ocorren “a revolugio que fora vérias vezes adiada", para lembrar as palavras de Cruz Costa‘ -, & produto ¢ expressio desse quiprocé moves, Als, o depurado federal Jodo Santos, pai do Interior ¢ Justiga no primeiro governo do enti Juracy Magalhées, entrada da Revolucio de 30 na Bal de José Américo de Almeida (também egresso do enensismo), ministro da Viagéo ¢ Obras Piblicas de Gertlio Vargas. Uma dupla tipicamente tenentist, vineulada & ala mais militante do movimento. Juracy, como se sabe, perten- ce a0 Clube 3 de Outubro, tenda de tenente "puro sangue”. E José Amético “desacara-se como um dos lideres da Alianga Liberal de 1930 ¢ porta-vor das medidas nacionalistas aucorisirias (Cais como eram defendidas pelos renentes) nos dois primeiros anos apés a Revolucio" . Edgerd, por sua vez, rio de Juracy, amigo e méico de José ‘Amético, amigo © ministro de Vargas, que 0 convocou para assu Ministrio da Educacio e Cultura em 1954, pouco anses de se suicidar' No seu discurso ao tomar posse do cargo - quebrando “a velha praxe do cxerccio desta pasta confiado sempre a representantes de partidos” - Edgard no poderia es ‘como sempre, a0 jogo delicado dos aconteciment ‘Vargas - tuma das mais fortes personificagdes da eoria ‘mou a redengio das massas pela cultura", B evidente que Edgard abalhismo - “ama mistura de medidas de bem-estar 50 Sfedengio das massas pela cultura’, ele no deixaria de ter em vista que Vargas fora 0 responsivel pela eriagio, em 1930, nfo s6 do Ministério do ‘Trabalho, Indisuia e Comércio, mas sobretudo do Mini © quanto a modernizacio urban ~/desponta com a Revolugio de “da Bahia, Premiou com excusi dgard nfo era, cextamen em cheio no horizonte getul niaagio tecnolégica sfo. pecas Fundamentais do seu discurso. E € nessa tesstura ideoldgica que ele situa o que acha que devam ser a nanuteza € 2 Fangio social da universidade ‘Nam desenho geral, a esd a base do que Edgard pensava. paruaiato anda mais camera dundo que 9 edad esor dee ser tratado como um dos ideélogos modernizantes nascidos no bergo copia dan lime brvocomencies Babin, Perl cr “humanista’, as realigagSes culeurais estavam no plano mais ar entéo a energia baian, para superar o estado de ignorancia ¢ recarda- mento. E nesta viagem em que procurava a “unido fundamental” da cultura eda economia, a fim de promover tanto a desprovis , Edgard se colocava acima do movimento estrito da vida po Achava que 0 seu intando 0 cultural ¢ 0 econd- as, para entio reaficmar “a da Bahia perante a grande desenham tanto uma nova fisionomia estética quanto uma nova mentalida- de econdmica. Em suma, acorrem “aos seus laboratérios e gabinetes de is mente criadores do. progresso”™. Mas surge aqui o detalhe nada ins Rio de Janeiro, do ano segui wializante, Precisamos ento contextualizar ~ eavaliae a importin- sabemos que os grandes 3s sem repercussZo ¢ significado regionalmente distintos, que terminam we impli cei espes amber regionalmente diferencias, sind aque dentro de uma perspectiva globalizante. "A Bahia no teve lugar na primeira onda de modernizacio urbano- industrial que se armou a0 pais. Néo s6 as suas elites dirigentes foram contrast Revolugdo de 1930. A esteurura econdmica da provincia pe neceu exsencialmente agro-mercantil, apesir da virada reformista que mo ‘zou o centro-sul do pais. E a politica de Vargas clegeu prioridades que se tencontravam fora do raio de atuagio da clase dominante baiana, economica~ mente voltada mais para 0 jogo do comércio do que para a producto. Desse modo, a regiéo se viu condenada a velhas rotinas ¢ atividades produtivas, 20 mormago ecanbmico, sendo-lhe ainda destinado o papel de financiar @ desen- ento eentio-sulista, com seus recursos drenados pela arecadagio fede ral, Edgard percnce justamence, epito, 2 uma nova elite modernizante que vai centar reverie 0 quadro de estagnacio econémica, desprestigio p rmarginalizagio cultural. Pesoalmente, com uma visio algo “messin ppensava que era preciso sacudir a Bahia, eélula méter da nacionalidade. Aplicar tum forte “choque elérico” em seu corpo adormecido, anestsiado, Enriquect- la materiale espiritualmente, E assim reprojeti-a, de modo nitide e vivido, no ceznitio brasileiro. E aqui que se funda, com todo 0 vigos, a sua.compreensio fade enquanto insttuigio vanguardeira, inaugural, verdadeira pon- edelanga da sociedade; 0 seu entendimento da nevessidade de uma vide livre e riativa acoplando-se 20 desenvolvimento econ6mico regio~ ral. Invengéo electual ¢ atividades de prospecgio de petréleo (que despontavam no horizonte como a possibilidade palpével de uma redengio econdmica da regito) deveriam andar de mios dadas. Sentindo que vive uma “hora nova (expresso recorrente em seus discursos), o reitor mergulha fundo 1m aventura, como ele mesmo dizia. E, com argicia politica e animo de visionério, quer comandar a grande batalha na lute para que a Bahia venha a retomar, de modo simulianeamente profundo ¢ renovador, 0 que infelizmente Ihe escapara: *o seu dever de lideranga geral na comunidade brasileira" ™, Como se vé, Edgard recruta e movimenta signos carregados de hist6ria, para dar sustengdo presente a um projec de futuro. Para ele estar na lina de frente € como que uma obrigacio da Cidade da Bahia, contralda pelo fato de ali tex ‘ecortido o birch rauma da nacionalidade. B, como © momento (a “bora nova") do pals propicio, azo nenhurma pode justfcar @ inércia. A Bahia tem que abrir os olhos, sacudir as teias da preguiga e se exgucr altiva © ativa, pars reassumir 0 papel de ponta que a histéria Ihe conferiu - e do qual parecia terse demisido tristemente, como ancia de mio trémula encolhida na sombrs ‘vagaeosa de um sil. © Cincias Econdmicas e membros do “Lions Club” - entidade £6 do comércio” para se firmar como instituigao auténoma, livre da 2 (© pensamento de Edgard é expresso com toda a clareza em seu discurso no “férum econdmico” que congrega estudantes da Faculdade de privilegiada pela participacio de destacadas figuras da nossa Ele comega por se referit quela “hora nova que se levanta ante a destinagio do nosso povo". © momento é de um “despertar, que em toda parte se , ahora do teabalho, a hora da produgio da riqueza jzagio de uma efetiva soberania do iante de uma ret6rica de fundo © ";no caso, do geculismo em sua metamorfose nhada em diresio ao “aperfeigoamento mental ¢ situcional de nosso povo", Edgard vé com olhos vivos a aproximagao | entre a universidade e os “homens da indistria e do comércio, homens de "empresas que se estendem pelas cidades e pelos campos”. E por que esta | conexio the parecia fundamental? De uma parte, porque a universidade tinha servigos preciosos a oferecer, inclusive em termos propulsores, “ engajando-se no avanco social ¢ econémico da regifo. De outra, porque necessitava da “generosidade” das “dadivas” daqueles “homens da indi das dotag6es orgamentérias ¢ dos entraves da burocracia - ¢ se encontar im em condigdes de se concentrar no aprimoramento dos seus servigos. (@ universidade) com 0 poder Gio do “imperioso dever da "Edgurd define aqui o lugar da cultura no seu projec. A univer lieve se organizar e trabalhar em fungéo da “integragdo comunitiia’, femu- “Ia que neurralizava e superava, no entendimento do reitor, o dogma marxista “ura de classes”, elemento central do assim chamado “materalismo ofamente - na “etiagio de novas formas cultura econdmica, nfo pode haver divida alguma. A esfera culeual « esencal”- “porque ligada, antes de tudo, 0". Mas, atengio: embora nfo seja diretamentewilté- , casa vida nada tem de ociosa ou inti, Pelo contririo. A culeura concretamente no conjunto da vida social, modificando-. Fala 0 "Estas manifestagbes,dirgidas, muitas vezes, as necessidades do coti- “‘diano e do geral, mister se faz reconhecer que sobretudo se valorizam © que sam, quando expressivas da belers ¢ da verdade. Na busca desta luz rmaravllhosa, com que o esprito do homem se revela diretamente a si mesmo, tio se diga, sob pena de erro, que ao existe verdadeiramente uma significa- ao também utiltiria - capaz de imprimir impulsos de renovagio 3s vocagSes ferais de uma sociedade - nesta consagraco do espirto & beleza. Pois a Beleza ai esté, em rorno de ns, esséncia mais pura da vida a0 nosso aleance, fe muitas vezes nfo a vemos por nto terse iluminado 0 nosso espltito, E nfo a vendo, ndo saberemos também valorizar a vids. E néo se valorizando a que estimulo receberiamos para o trabalho ¢ a produgio?”™®. Prosseguindo, Edgard Santos vai ver 0 plano econémico como io da finali- ia pela compreen- jetivos mais alcos imples formacio de apreensio da vida em suas visbes mais transeendenses’. E ainda: 0 de que a Universidade se hd de fazer uma reveladora capazes © nfo segregada naqueles meios mais atificiosos e distantes a que somente os abastados tém acesso, mas - ob ironia da ex pois de desgastados ¢ entorpecidos no puro afi de produsi materialmente”. O que nio sigoiti- cea que a “teveladora da beleza”, consagrada & clevacio espiritual do povo, destinada a desprezac a realidade material do mundo, Se a0 "toque dda beleza, “o povo desperta e vibra, eis que ele sonha ¢ Finalmente rega de alma ¢ corpo na concretizagéo dos seus sonhos, com 0 que se tdifica, em bases de racionalidade e de pureza, o engrandecimento econd- ‘ico da pétria", Mas este cardter indiresamente utiitério da cultura necessi- ta ser complementad: , seja pelo aparelhamento de pela fonstrugio da Faculdade de Ciéneias Econémicas®™®, Além da viagem femos portanto a necessidade do ensino téenico-cie todas a suas exigéncias insceumentais. O pats precisa de “mio de obra naconlmente paid E um cequisico urgente pi ‘nas medidas em que 0 exigem os ritmos do mundo”. E aqui desponta, mais uma ver, 0 nacionalismo de Edgard, em consonancia com o projeto getulista para o Brasil, inclusive na atengéo ppara o problema da “seguranga nacional”. Sim. © Brasil rem que formar os quadros jermanente dependéncia da mio vigena, nem sempre suficiente pela quantidade, pela capacidade de adaptacio, ou pela confianga que precisaria merecer, principalmente nos | setores da defesa e da seguranga do pi "observa o teitor, Mas falando © “desenvolvimen méquinas, aparelhos © materiais em geral necessirios a0 aperfeigoamento do ensino)”, para que o trabalho educacional ganhe em eficitncia. Bem vistas as coisas, a universidade ainda nao esté apta para responder ao repto a, Ainda nio se acha realmente preparada para fornecer © “pessoal operative” que a modernizagio demands. “Jamais capacitados, por um lado, ou, por outto, afastados por uma educagio prepondetante- Imente académica ou te6rica, das atividades mais necessérias ao desenvolvi- ‘mento da econo: (© nosso povo se encontra agora sob a preméncia deste lade da mais intensiva preparagio dos profissionais com que se ho de abastecer os esctitérios ¢ oficinas. Mas para a intensificacio deste programa, nfo je €, com efeito, 0 niimero dos ue se dispdem 2 execugio, em vivo co tos de chefia. Imp6e-se, entio, a mais efeti na preparagio dos lideres com que hio de contar asi da riqueza”. A “reveladora da beleza” surge entio, sob ral para a criagfo “de uma menealidade econdmica a mais esclarecida ¢ atuan- te", Ou, em outras palaveas, como uma espécie de usina de lideres para a © sociedade urbano-indust E neste contexto que devemos ler o texto “A Universidade © a 150 pronunciado por Edgard Santos na reitoria da Univers- Edgaid celebra af 0 “programa de desenvolvimento da nosse idade baiana e 3 esa estatal do pettéleo, que ele divisa como “o mais vivo ¢ auspicioso inal de uma nova e efetiva reconsideragSo dos nossos problemas”. O enlace tre insticuigio pedagdgica e empresa producora ¢ algo que defende como a ima questéo de principio. “Instituigdes de ensino e empresas de produao Jomumente agora se asrociam na preparagéo mais viva e mais intensa dos 1s, premidos 0s sistemas de ensino pelas necessidades do comér- stra, e assim é que também aqui nfo vacilamos nem esperamos, ite nos chegassem os apelos das forgas produtivas, mas, a0 contririo, no que a, caminhames interessadamente ao seu encon- : lade e a Petrobris haviam criado um “‘paralelo de forgas vsivel jé na cerim@nia de diplomacio da primeira turma ~ de técnicos em geologia do petsleo. As “forsas" do “poder cultural” e as da ° ‘empresa petrolifera sio, no seu claro entender, “forgas que se completam © se drigem no sentido de levar este pals & recuperagdo do tempo € dos valores econdmicos que vinhamos perdendo, pot certo, inadvertida- 20, Mas a riqueza nacional a ser consteulda ¢ acummulada forncceria se, 2 base material, a infraestrutura indispensével para & realizagao plena do espirito. Edgard acreditava, portanto, que a cultura poderia redimir as massas, despertar efou moldar vocagdes gerais de uma Sociedade e, finalmente, se constituir como espago privilegiado de_revelagio agio da plenitude do ser. Vistas de perto, as pestoas costumam ser mais ricas (ou, a0 menos, J) do que costumamos imaginar. Aprendemos ver, em gard Santos, 0 pivé de um renascimento cultural baiano. E isto é mais do Edgard foi uma expécie espetacular de catalizador das energias indo, em contexto propicio, @ mel do melhor que péde 20 seu redoz. Mas € preciso matizar esse plano de conjunto, colocando o reitor em seu devido lugar. Vamos, portanto, avivar uns matizes de nossa aquarela Lendo os discursos de Edgard - ou do “doutor Edgaed”, como se referem respeitosamente a ele, por admiragio ou hipoctisia, os seus 1205 coctdneos - para a minha propria surpresa, que © reitor nfo era um homem culo, no sentido intelectual da expressto. O que the sobrar em termos de apuro pessoal, das camisas de seda aos temos de linho irlandés, passando pela escolha de matcriais nobres e sdlidos para obras de engenharia, faltavathe certamente na dimensio do requinte intelectual. Mas friso que néo pretendo, com 2 afirmagio, diminuir a figura cde Edgard: ninguém é obrigado a ser intelectual -¢ cultura pessoal nfo é, de modo algum, coisa suficiente para conferierelevo social & atuagio de uma pessoa, como bem sabe quem quer que se dé a0 trabalho de olhar & volta ‘Nunca cheguci a conversar com ele, avis, mas li suas opinises a respeito dos Imai variados assuntos. E a verdade € que o rcitor tinha apenas uma vags nogio de que, regra geral, galos cantavam, Em matéria de conhecimenta da producéo extéticae intelectual, dificilmente conseguiria distinguir entre uma roseica e um extintor de incéndio. E nfo adianta argumentar com a post dade de que seus textos tenham sido escritos por terceiros. E provavel q sim (aitos se referem, & boca pequena, as dificuldades redacionais do apesat da figura do ghost writer nao estar ainda gencralizada ensre 05 politicos daquela época (embora o redaror de discursos alheios exstsse jana « Grécia Clissica, em Atenas, onde era chamado “logégrafo"). Acontece que também tenho meu lado “logégrafo"- os “clientes” sfo bem distintos entre si, Pessoas que sabem onde as cobras dormem, ¢ com quantos paus se faz uma mngada, dizem exatamente 0 que querem dizer. E claro que um homem narcisistae perspicaz como Edgard tinha seguramente nogio do que lia, ainda que em letras asredondadas por dedos alheios. Eso muitas as evidéncias do seu desaparelhamento clementar em relacio & produsio estético-cultural. Basta ver, para dar um s6 exemplo, 0 seu discurso na abertura dos Semindvios Tnternacionais de Misica, relizados oa Bahia em 1958. Chega a ser quase inacreditével. Acentuando a importincla dos misicos “na vida > espiciual da cidade", Edgard se refere 20 "pléiade valorosa” dos nossos professores de musica, entdo se exercitando sob a regéncia de Koel ramos apenas nos deslocando pelos vastos dominios da subliteratura. Mas Edgard avanga 0 smo vatio, de extragio romfntico-pamasiana, dispara em diresdo a0s miisicos: “A vés, que vos encontrais dominados pelos encanta- rmentos da miisica, e que néo sois egofstas, mas nos transmits generosamente 0s amavios do vosso éxtase... manifesta a Universidade o seu louvor" ®. Ora, © que Edgard tinha pela frente, naquela ocas falange de sublimes madrigalistas desgarrados, de almas alaidicas ou violinicas, despeja- das inadvertidamente na Bahia por algum tiinel do tempo. Antes que £ convivas exéres de uma sesio nostalgia, de uma "hora da saudade” musical, 4) © os miisicas ali presences exam experimentadores treinados a0 menos nas do al. E em : nski e Schoenberg. Sabiam da dissonan: F< atonalismo, do se @ somente subl ~ sabia do que estava falando. Quando abordei 0 assunt : utter, © maestro - amigo, col interrompendo bru “para afirmar com aquela sua franqueza hat nada de misica”™ E nfo s6 de misica. Uma longa conversa matinal com o arquitero Didgenes Rebougas, companheiro de Edgacd em ‘0 meu ponto de vista sobre a ignorincia do reitor®. E devo dizer que um ‘depoimento de Rebousas sobre Edgard é, sob esta luz, altamente valioso. ‘Rebougas, com seu temperamento franco ¢ seus rasgos desabridos, é como Koellreutter, um homem que preza a lealdade - © gostava imensamente de igard, coisa nfo muito comum em meio a elite baiana da época, que java © maldizia a imaginagio e a capacidade de realizagio de noso rsonagem. Para quem ngo sabe, Edgard morava em Salvador no baicro da E -rigoonment for de propio, O sor nfo sem rodeios, num “o Rdgard nfo entendia aventuras, confirmou gee perto do Farol e préximo da familia Rebougas. Ta & casa desta, em jade Carmen, sua mulhes, degustar o doce-deleite de Dona Meni- mie de Didgenes®, jnmao do arquiteto), para 0 lugou uma casa no baicro do Rio Vermelho, argumentando que 0 Didgenes, que o esclarecia em tépicos de arquitetura (“Dona Menininha, ‘meu dicionério’ esté af", perguneava o reitos, passando pela porta da casa dos Rebougas). E Didgenes recorda com emogio tranqiila esses © outros sgestos do amigo. Mas nem por isso abre mo de senso crtico, em sua hicida fala reospectva, 20s 80 anos de idade. ‘Dos muitos faros por ele narrados, em agradével conversa a cavaleiro da Avenida Centendtio, na velha e venerével Cidade do Salvador da Bahia de “Tados os Santos, retro dois exemplos flagrantes da caténcia cultural de Edgatd, ambos relatives & construgio do prédio da rcitoria da Universidade edificio eminentemente Kitsch implantado no baitro do Canela. A Urea, recuperado quando ld estava o baiano Pedso Calmon. brado, Nao ¢ preciso fazer esforgo algum para sacar que cle passou a querer ‘do mesmo quilate para abrilhantar 0 exereicio do seu reitorado baiano. E. sua primeitaidéia foi erguer a teitoria sobre o edificio da velha Faculdade de Medicina da Bahia, 20 lado da catedcal, no Terreiro de Jesus, centro hist6rico é claro. E Rodrigo Mello Franco de Andrade, defensor intransigente do patriménio histérico brasileiro, ficou hhocrorizado, Era um escindalo, sem diivida. Em poucas palavras, o reitor simplesmente nfo atinava para 0 fato de que o seu projeco implicava a ‘mutilagio da meméria hist6rica e cultural de um povo. Precisou ser conven- ido, a duras penas, de que jamais seria aprovado pelos encarregados do zelo patrimonial do pais. O mais estranho, nessa derrapada, & que, no | instante em que Edgard reve a idéia esapafiedia de adulterar o desenho arquiteténico do imével em questio, a politica publica de recuperasio © conservaslo da chamada “meméria nacional” alo era coisa to recente assim, ‘A primeira foemulagio de uma politice presrvacionista federal dara de 1937, quando, sob a chancela do ministro Gustavo Capanema, 0 Servigo do Patrimbnio Histérico e Aristico Nacional - SPHAN - fei criado e entregue 0 comando de Rodrigo M. F de Andrade, que reve, como colaborador, um dos lideres do Modernismo de 1922, Mario de Andrade, o festejado autor de ‘Macunaima, Sendo assim, Edgard se mostrava ignorante no apenas a respei- «0 do problema patrimonial brasileiro, como também, mais circunstanciada- smente, acerca da poltica cultural do Governo Federal, coisa que causa “pelos lustres - balangendss de cristal produzidos por uma empresa pa “> lumindrias adquiridas num castelo francés. Vem daf o julgamento © yelho Didgenes - Edgard “exigia coisas bem feitas, mas ndo sabia distinguir 0 “para 0 IK, que foram retirados de um ssurpresa num reitor que se queria escl nesseepisédio, exbindo uma duple desn magio. Desconhs 1937, que em seu artigo 134 rezava: “Os monument culturais, assim como as paisagens ou os Jocais particularmente dotados pela natureza, gozam da protesgo e dos cuidados da Nacio, dos Estados e dos Municipios. Os arentados contra tidos conera 0 patriménio nacion Bem. Rebougas acabou descobrindo, em suas andanca polémico onde instar a reitori. Era o Ambulatério Augusto Viana, que va parte dos servigos da Faculdade de Medicina © se destinava, no lo de uns médicos, a vie a ser o primeiro dos pavithées do futuro ddas Clinicas da Bahia®. Este prédio hospitalar tem, alids, uma hiaebria curiosa. Constratdo por Emilio Odebrechs, pai do famoso empeiti- nico é um modelo reduzido, uma versio izada, do Hospital das Clinicas de So Paulo. Mas, seo projeto era 0 mesmo, o terreno baiano apresentava uma pequena variagio: sua inclinagio cr oposta& da drea em que fora consiruido o hospital pauls. Acontece que ‘0 projeto copiado previa pilots, possegue Reboucas. Logo, 0s pilotis baianos foram enfiados terra adentro... Edgard néo viu nada, Fra incapaz de enxergar sutilezas desse naipe, “Tinha gosto pessoal, mas nfo tinha percepsio arquiterOnica", na definigio sucinta de Rebougas. Mas voltemos & reitoria. O que Edgard queria nfo era a “arquitetura moderna”, mas um palacete antique, Go chique quanto 0 de Pedro Calmon. E 0 arquiteto que descolou para a empretida eaprichou na performance. Bolou aquele monumento 20 Kitsch, monum imitagio, que é o prédio da reitoria da Universidade da Bahia, Imitaglo muieissimo bem feta, concordo - mas imiragio. Contrafagio que vai das colunas da entrada a0 mobilidi s cometidos sero equiparados 20s come- segundo Rebousas, mas vendidos 4 universidade baiana como preciosas ‘ou arquiterure’. Daf também que ido os belos azulsjos remanescentes do Solar Bom ) diretamente na parede do novo prédio de ri 1, argummentando que um dia as pegas poderiam ser removidas daquele solar do mimetisino. ‘Alids, esctevendo postetiormente sobre os azulejos colocados na os “preciosos painéis” portugueses da passagem do século XVIII rocléssico” Solar Bom Gosto para “ornamentas” o palicio “colonial” da Universidade, com suas representagbes das mitologias grega e hebraica ¢ suas cenas de chafariz, taverna, galanteio, passeio, pescaria e dana -, Edgard mostra que aprende répido, mas nem pot isso deisa de ser Kitch. Quisera antes desfigurar 0 prédio da Faculdade de Medicina, mas, diante de reago que provocou, adota agora uma posture reverencial frente ao pattiménio. Com a colocacio dos azulejos na reitoria, afitma “ter dado um destino alto ¢ condigno quele valioso material, con derado, com justiga, um patriménio do nosso pove". E vai adiante: “Prop titia do velho solat, a Universidade da Bahia - na impossiblidade de aproveici-lo inteiramente ~ no quis, todavia, que se perdesse 0 acervo artistico dos azulejos que o enobreciam, Foi esta, mesmo, unta das raz6es que decidiram 0 cxtilo da consteusio recentemente inaugurada’. iminéncia de aparecer como predador, Edgard converteu-se velozmente em protetor do patsimbnio. Ainda bem. Mas, infelizmente, cometendo um equivoco primério, Ele quis fazer da sede da Universidade um “monument expressvo da cultura baiana” ™. E achou q passado. Mas, em ver de restauar um solar, construia uma falsificagio, Para tvitar a cépin, teria que recorter & linguagem arquitetBnica de sua époce, numa obra capaz de dialogar com as formas produzidas pela nossa arte colonial-barraca de edificat. Em suma, teria que colocar a arquitetura do século XX ea arquitetura colonial em situagio dialégica. Penso, a propéito, ‘numa reagio do filésofo francts Jean-Paul Sartre, lageando, em sua visita a0 ima relagfo entre a arquitecura de Brasilia © a de Ouro Preto, Encre meyer € 0 Aleijadinho, Affonso Avila, poeta mineiro expert em cultura colonial brasileira - autor de, entre outros trabalhos sobre a mati Liidico as Projegbes do Mundo Barroco® -, concordos arte colonial ea arquiterura moderna brasileira... se nos afigurard ainda fortalecido a0 contemplarmos © monumental Palécio dos Arcos em Bras De um despo ‘rego na sua fachads, quebrando com 2 surpresa de invengio a mot ios, equilibrando com a sua gravidade a os na Praca dos Tiés Podetes, ele se abre um interior de austeridade claustral que lembra 0 Sio Bento do Rio de Janeiro, um interior de espagos ¢ salas ¢ pedras que nos recondux a Ouro. Preto, 2 Casa da Camara e Cadeia, 2 Casa dos Contos", Decio Pignata para isso teria que reproduzir 0 ‘Esse vinculo entte a illo Dorfles, que acha que "seria talver exagerado” procurar as primei origens da nova arquitetura brasi scéncias dos edi cos de Ouro Preto ou da Bahia’, nfo deixa de atentar para a “sinuosidade batroca” de construg6es de Niemeyer Na verdade, faltou a Dorfles, nesse ios barro- siege cae taacnaa ee r : particular, alguma informacio: jé em If Brasilia, portanto - Lécio Costa fazia a pc arqui plano arquiterénico ¢ estado da técnica rio se entende ¢ a cépia - ¢ cépia defas: remete ao novo-riquisme do espitito. ura colonial brasileira, coeréncia ¢ ‘Avivar esse aspecto da personali importancia, para que possamos ter uma {intima ¢ imediata do fendmeno ar quer aura mistificadora. Lembro, apr Pensamento Absteato”, que Paul Valéry Oxford em 1939, Notando a freqiiéncia« discutsos, a oposigio entre poesia e pens abstrato), Valéry comenta: “A maioria ac andlises ¢ o trabalho do incelecto, os esfe {que 0 espitito participa nao concordam essa superabundincia de express6es, esst guem a poesia, fazendo com que seja palavras”. Ao contririo, alguns “chegam £ do raciocinio aplicado a cul fo esteta-pensador frances. opinio contenha alguma parte de verd faca suspeitar ser de otigem escolar”. sobre a arte tém, fora de qualquer divid: Embora divisando rosas", sio de uma flagrante benalidad tudo, Feliamente. Pois temos também ¢ falsear a andlise, que 0 reitor era uma fig sineagma consideravelmente desbotado, 1 ser, Pensando em Edgard, identificamos + réria que multifacetada do seu desemper cariter indisets mundo dos objeros estéticos, no recesso radicalmente distinea, do significado « choado no divi de uma sens outra coisa, bem diversa, é que tenha in produzidas nos alcos fornos da vanguarc "passa como se houvesse realmente uma | sintomaticos) que foi emit i 6es do sensimento no aconchego do lat, € personalidade 4gil e poderosa do administrador piiblico, patroci- nando resolutamente a agitacfo culeural. E assim poderemos atenuar até rmcsmo 0 pecado piiblico do prédio da com 0 que ele tenha talvez, jo em deseducagio arquitetBnica na Bahia, cujo estilo de arquicetu- ionismo yuppie provinciano de de conservadorismo ¢ incompeténcia. 4 ‘Mas vamos por partes. Descendente do velho magma humanista no quadro ideolégico-cultural forjado em émbito tenentista-integralista- a, ¢ atuando numa conjuntura desenhada pelos mitos do nacion: ‘mo-trabalhiemo-desenvolvimentismo, Edgard via a sii mesmo em meio aos ‘membros de uma elite iluminada, responsivel pela “redengio das massas” através da culrura, Devemos, portanto, tentar esclarecer 0 seu conceito de a Nao no caminko do que a dimensto cultural significa para ele, potencialmente transformadora do real histérico. Mas, .sio de um espago propriamente sural. O que é em sums, que delimita © povoa esse rerreno que o reitor ava como senda “a culeuta’? Bem, Edgard nunca foi um teérico do ‘Tinha, antes © acima de tudo, uma visio polisiea da culeura. E é ro que nfo deixou nenhuma formulagfo sistemética acerca da matéria. Sua dos fragmentos (sempre claros & festivas. O terreno, de qualquer forma, movedigo. Tornou-se prove coleta de conceitos de * realaadla pelos “cule nos Krocbber e Kluckhol cas (ances que alguém estranhe, ‘uma pequena observagdo gramatical: embora quase todo mundo escreva, no 14 um pequeno desize af - os numertis trerentas definigbes da-expressio, vasto rol tena de conceituagbes, fornece conceitos de e para todos os gostos, has de pensamenco. 10s preocupar com ela. Quando Edgard fala em “culeu- 1, 0 que Ihe possui a mente é o que ele julga ser 0 conjunto das produgées ‘mais requintadas do espltito, no terreno das humanidades e das artes. Mas fazer aqui uma segunda aproximagio, num movimento em em campo ocidental-enropeu, bem entendido. tradicional de culvara, francamenteelitista eres do modelo ocidental como integeance da da Educagio © Cultura ~ quer levar essa cultura as massas, sem jamais desconfiar que as “massa” também constedem e reconstdem as suas prdprias fordens culturais - modelos, formas, hierarquias da produgio no seino dos signos. Estamos bem longe aqui da moderna mentalidade antropotdgica (que vai se formando justamente a0 longo da vida do cengajada no alacgam: ram - de uma ampli 2, Ao invés de uma conceituagio de base antropoldgica, a visio do rcitor apenas reproduc, de Imodo vago ¢ geral, a ideologia humanista a respeito do tema. Edgerd € um reitor“iluminista", empenkado em cul , ‘estado de ignorincia por meio da difusio de crisalizag8es simbdl ros bosques da fina flor da espiritualidade européia. E significa propésico, asinalar a indifecenga do reitor com relagio 10 mundo culeural das camadas populares da Bahia. Tenho em mente, mais especficamente, a sua falta de atengio, apesar da criagio do CEAO, para a Imanifesagies culturais de extragio.negroafricana na sociedade baiana. O assunto, todavia, & complexo. E merece andlise mais nuangada, como se ver ‘Apenas para nfo deixar a peteca no at, adianto que, se Edgard se encontcava pessoalmente distance da praxis cultural popular negromestiga enquanto tal, ele, 20 mesmo tempo, criow um organismo que forcaleceu presenga negra entre nds e abriu canais de comunicagio entre o Brasil © a ‘Africa, inspirando inclusive uma guinada de alta relevancia no cusso de nosso ‘movimento no sistema das relagdes internacionais. Confitma-se entio, mais tuma vez, que 0 reitor no é figura que se possa caprurar num discurso simplista, montado na rigider das oposigbes bindrias, Feitas estas , passemos a um outro ponco. Edgerd ima consepio iciond, nao aneopolégies da tealidade cultural: Mas ‘eradicional” num sentido bastante preciso. que ele inh os olhos fixos tunicamente no campo da assim chamada “cultura superior”. Mas € preciso i, para nuangat 0 quadro. Dentco do campo da “cultura superios", ele nao se movia como um tradicionalista. Muito pelo contritio, Antes que um empertigado e ipetclioso guardio de normas estérco-intlecruais consagradas, estratficadss, ~ oteitor revelou, em sua atuagio publica, uma louvavel e excepcional abestura para a invengio, os novos cédigos, o experimentalismo. Assim & que, em vez de importar para terras baianas um maestro conservador - da cepa de um 1 exemplo-, 0 eitor foi buscar Hans Joachim Koellreutrer, jonério austelaco Amold Schoenberg. E dal o Seminério ue foi: um centro de liberdade, pesquisa e experimen eras d produ clo conten porines, aterssou, ganhou € também se enraizou © Se Lea alten gue tle ow gun ded) conhecem ou imagiam conhecer Mas vale tesslar que Koelreurter néo foi uma excegfo. A mesma rd, seu evidente fascfio pelo desbravamento © 4 ‘Vejase o caso da danga, por exemplo. Edgard tomou decididamen a, aqui - ¢ em escala nacional. Antes que se encolher pat paralizido por inibigées provincianas, abriu a criou, em 195K ia Escola de Danga Movia-se aqui, sinda uma vez, € como superior”. Mas ni uma espécie de eidar para captar os mais recentessinas emitidos, ainda que universo da cxiagéo estéica. Senéo, vejamé uma forma sedimentada resularia num organismo pensar assim. Queria ousadias em resposta Bs suas 0 ‘onhego nenhuma declaragio sua nessa diresio. podemos ver, smaterialzagBes de um pensamento, subliminar ou embrionério. Contemplando a realizacao ol ide. O rior paecia as. E verdade que nfo fas gestos 0 signos - € ida ‘estética em questio. Desse modo, em ver de convidar uma competente, ete maquinal, repeperitna professora de balé clssico, que para c& de hé muito fxadas, Edgard optou pela audécia. E, como et, wouxe para a Bahia a polonesa Yanka Rudaks, uma das pioneiras da danga moderna no Brasil. que Edgard estave mesmo disposto a eletrizar sna placider rural da Ci igaordacia. Quando infava o verniz: j4 que 0 “doutor Edgard” is amalucadas, comparecendo aos eventos, melhor ‘ea mesmo © méximo. Mas o fato é que, para dizer ¢ calculadamente, a = € nfo amesquinhé-la com acanhados ¢ cursos pifios Eo certo é que 0 reconhecidos, ¢ até celebrados, por aqueles que souberam refiro 20 seu vemperamento aventureio, & sua imprudéne ‘fo posso deixar de me lembrar de Datcy Ribeiro, Darcy elo ‘A citagio € longa, mas, acredico, preciosa. Conta Agostino que Edgard “recebia as pessoas no seu gabinete Id em Salvador... estava a um canto ¢ ee ia percorrendo as pessoas ¢ falando com elas. Para io deixar ninguém aborrecer-se ¢ como a reitoria era rica, mandava uns ctiados fardados servi eafezinho ou gelado... Pereciam pacientes que estavam ‘a mesa dele ali. Quando chegou ao pé de mim e eu the agradec, ele disse: - Vocé merece, Agostinho, vocé merece! E ext disse para mim: - Esquisico! Nunca me viu... nao sabe nada de mim... um homem amével mas isso nfo me serve. E respondi: - Quando é que o st. quer falar daquela historia do Centro de studs Afticanos? ele, sem se desmand €0 extraordinario da coisa, disse: - Ah sim, pois... lhe, voc® vai para o Hotel da Bahia & nossa conta e ddaqui a uns dias vol cé, que eu vou pensar. Foram uns dias muito bem. passados... Encontiei no hotel 0 Casais Monteiro que tinha ido ensinar Ticeratura portuguese... e, quando me pareceu, voltei. E ele: - Com certezal Vamos fazer 0 Centro. Mas olhe que aqui na Universidade ninguém vai de modo que vamos fazer duas coisas: voct vai Ii para Daixo para as caves da reitoria, tratando da questio, mas para que as pestoas nfo comecem a perguntar o que € que este sujeito anda aqui a fazer, vamos cescolher uma cadeita da Universidade para voce dar duas ou trés vezes por uma cadeira a que chamamos Filosofia do ‘Teaco! E fui até professor do Glauber Rocha”. ‘Na verdade, Agostinho vinha pensando, desde Santa Catarina, na ctiagio de um centro de estudos aftcanos. Para cle, o Brasil tri cxdo ‘ou mais tarde, que abordar a Africa. Era uma facalidade Lourengo, que se preparava para comesar a ensinar , do reitor bsiana, “um rerato de um principe do Renascimento”. xa, Edgard achou que havia jogo ali, Na trama, como que 1 embaixador brasil designado pel ‘da Unesco, Roberto Assungio, trazendo 20 Edgard “era um alogista e nfo percebia nada desses reto no que Ihe parecia interessante”, tudo se encai- xou perfeitamente. Agostinho ficaria no porio da reitoria planejando © que viriaa sero CEAO, mas trabalhando na moita, de modo a nfo antecipar reagdes. Edgard: “Mas, como eu tenho de lhe pagat, nds vamos ver af na Universidade que coisa hi que voce possa ensinar ¢ eu Ihe pago por af ¢ no pelo Centro. Nao vou pir isso na folha de pagamento”. Enquanto macuravam para viabilizar a malandragem, surgiu a Escola de Teatro, Agostinho foi a0 teitor: "Por que é que eu nfo vou para Id ensinar a Filosofia do Teatro, que é tuma coisa que ni existe? A gente inventa. Quando a gente inventa ninguém pode ir contra disse. Edgard topou. Ora, @ que vemos ‘mesmo rempo senhorial e matreira de Edgard, é uma mescla de catisma, improviso, jogo de cintura e ousadia. Edgard acolheu Agostinho, apostou na iddia do inovadora do Centro e soube conduzir 0 processo de sua criagho, driblando antecipadamente ressisténcias que poderiam mi 0 como, na véspera, chegara a Salva | nacionalistas daquele periodo tio marcadamente nacionaliste da “© politica © cultural do pals, Edgard nada tinha de xenéfobo. Era completa- Ainda Agostinho: “Apresentei 0 projeto do Centro em agosto de 1959, € (© representante do Brasil na Unesco para falar co reitor do plano Oriental-Ocidental, tudo se conjugou para que Edgard Santos desse autorizagio ¢ se comecasse a trabalhar, recomendando, © ele, no encanto, a maior diseresio, pois que por essa época ninguém na dade acreditava ema qualquer possivel relagdo entre o pats © 2 Afi “Agostinho - que contou nesse primeiro momento com a colabora- |, do de Pirte Vesger e Vivaldo da Cost Lima, entre outros - tocou 0 batco, {mplantando um organismo que vria para influ nfo s6 na vida baiana, mas também para deixar sua marca original na formulagio da politica externa brasileira, jd no govemno do presidente Jinio Quadros. Num balango retros- pectivo, feito quando jé se encontrava de volta a Portugal, refer iho ao “teitor extraordindrio” que conhecera a0 “inultrapassado bi da Universidade da Bahia", no contexto universitério bras iso” era, ainda, partlhado 2s e comunistas). Mas hi que fazer uma distingéo. Edgard era ido grandecimento da pitts". Mas, diferentemente de muitos Edgacd se dfinia como ump: por fas hacionalsta, sem duvida. Usava e abusava, em seus discursos, do su diché do avésso ~ aquela “alucinagio integralista em torno da para lembrar a boa definigto de Gilberto Vasconce- a do Seminério de Enfermagem (195 € enfitico: “Trazcis 0 ideal fem que as nagées, ou pelo ‘compreendemos 0 maleficio grande mundo” “, Talvez porque nacionalistas nfo tenham que ser necessic idos, Talvez, quem sabe, em decorréncia de sua peépria Formagio médica. Explico. Me patece que, em principio, & muito mais ficil para um “folclorista", um idedlogo ou um romancista desenvolver seatimen- “tas xen6fobos, entrincheitando-se sectéria ¢ museologicamente em certos ios rigides ou num determinado miro da nacionalidade. Para um co &, ein tese, mais diffi. Por duassau5es, 20 menos. Um panfleto mance no & um objero aperfeigodvel, como um centro cinsrgico ou tum bisturi, Além disso, o romancista que se fecha em copas, planetariamente cego, pode, no méximo, assasinar seu texto. O médico, embora nem sempre se incomode com isso, pode matar pessoas. Apesar de rodas as suas particula~ ridades, a medicina apresenea prineipios e técnicas de ordem universal. O rédico (responsive) tem consciéncia de que, para encarar com eficicia a questio da satide numa dada comunidade, precisa estar a par do que vai fcorrendo pelos centros incemnacionais da teoria, da pesquisa ¢ da pritica médicas. O poeta, ao concréio, sabe que, mesmo que nunca venha a fazer isso, pode st dar a0 huxo de mandar o mundo as favas. Ocorte que Ealgard cera médico - e daquele tipo gente que aprendeu que, se fechar a janela, nem por iso a rua deixa de exis ‘Mas retornemos a0 convite feito a Koellreutter para corado, Aqui, ¢ mais uma vez amar 25 malas em Sao Paulo ¢ vir Edgard poderia terse voltado para os il, que estabeleceram o centro € deram 0 tom da ideologia musical do Estado Novo. Logo, nfo seri demais reconstruir esse quadro, mostrando no s6 as opg6es que se encontravarn & ‘como também uma particularidade do seu posicionamento Bem vistas as coisas, Edgard se enquadrava no time sempre que 0 que estava em jogo era a poltica-poltica, da ionais, ou a politica econdmica, das reservas mine- info abrigava o estreito nacionalismo entdo em vigor quando a luz incidia sobre a politica culeural. Destoava, em conseqién~ tia, do padrio fitmado no primeiro periodo governamental de Vargas (1930- 1945), que teria ample Fund repereuseio on vide rasa, modclando maior parte das ideologias da produgio estética em nossos teSpicos, do a abvamente, 2 poltica cola de eaquerd iadiada a pa Pardo Comunisa Bras claro uc te nacinaline ado fi guado ra engrenagem da méquina capiraneada por Vargas, nem ¢ isso-0 que estou quota dr Tass de um projo ques onfigros antes do aero da ditadura vargusta, oftilizads pelo golpe do Estado Novo, mas que milsicos e musicélogos nat rental. © primeiro periodo de Vargas é, desse ponto de vi gue o mcionaiane cultural se ins fevament no podet, sorando, 20 exercico ideoldgico, 0 acesso direto aos mecanismos estarais de formula- fo e execugsa de politicas piblicas para a cultura, Do “verdeamarelismo' ‘grupo Anta ao preservacionismo patrimonial, passando pelo “cant portanto. Mas em vex de planar genericamente ou de borbo diversos ramos do pensar ¢ do fizer culturais, vamos nos ater aqui, para fcar a leitura, ao terreno da praxis musical. No Estado Novo, o nacionalismo musical atingi do com seus acordes o fascismo brasileiro. Dai a ref cescolha de Koellreutter, jovem europeu treinado no se dda Austria, Quando Koellreucter desembarcou no Brasi encontrava sob o si nacionalismo. ia contrastante & 10 dodecafénico em 1938, o pals se © do Fascismo tristetropical, cavalgado pelos miros do riunfara 0 projeto monocrético de Vargas. Na miisica, a bola cextava com Villa-Lobos e os compositores patridticos. O clima cra de igno- rincia e de recusa do internacionalismo das vanguardas, de hostilidade 20 experimentalismo, de concentragio obsessiva em nosso “populirio sonoro”, 1 a expressio de Mario de Andrade, um dos idedlogos do movimento, Era uma onda que vinha desde os anos vintes, com tematiaagBes do candomblé ¢ da cultura amerindia, vindo de Luciano Gallet a Mignone, para se estender a Camargo Guarnieri. Alids, os fatos de Mignone e Guarnieri terem pais ftalianos, de Xango ser um deus africana © dos amerindios cexibirem ascendéncia asdtica no pareceram suficientes (aos olhos daqueles compositores que falavam uma lingua engendrada na expansio ibérica do impétio romana e se vestiam conforme os padrées da indstia extl britain implodie qualquer exclusivismo nacionalista. Nem mesmo, de resto, wopéia por sua origem € estrurura. Villa-Lobos, o complexo ¢ exuberante Villa, figura mais densa © poderosa do anti-europefsmo, encontrava-se, aquela altura, engajado até & medula no projeto estadonovista. Providenciava inclusive, em sua fungio oficial de pedagogo da ditadura, performances atistcas tipicas do aparato ‘stético do fascismo, formando enormes corais infanco-p: ‘famoso concerto coral com 30 mil eriangas, realizado no 7 de setembro de sma tonal, Koellreutter chegou, portanto, em contexto adverso. Nao inha nada a ver com nacionalismo, nem com ronalidade, ‘Trazia em sua smo vanguardista e, como antidoto para caosinicial ‘da atonalidade, a rigida disciplina dodecafbnica dos nérdicos. Veio a polémi- . € claro. E-veio dura para durar. Nos anos cingiientas, estava mais do que acésa, dividindo coregbes e mentes. A escolha de Edgard contraiava assim, frontalmente, a ideologia nacionalista no campo da culvura. Edgard sabia isso. Quando fez 0 convite a Koellreute, foi tratando logo de declarar que info s6 estava ciente do teor € do tom da controvérsia, como 0 maestro reria total apoio na Bahia, caso accicasse meter mos & obra. E isso confere a0 “reitor baiano um lugar especifico na contextura ideolégico-cultural do perio- ido em tela, matizando © seu “getulismo”. Ele nfo embarcou na canoa do iacionalismo musical de Villa-Lobos ¢ Mirio de Andrade. [Negtitemos entéo esses dois pontos fundamentas: recusa da estreite- 1a nacionalista ("é preciso impor 3 ¢ intelectuas”) © abercura para 0 repertétio cultural contemporineo, incluindo af os eédigos de vanguarda. & 4a sua conjungio, patrocinada pelo reitor, que vai tornar possvel a dialéica, ji devidamente assinalada, entre a informagao esiético-intelectual cosmopoli- {a ¢ a ceilidade sociocultural, antropologica, da Cidade da Bahia seu, Recéncavo - dialéica a que vou me seferi veues, abreviadamente, com 0 sintagma dialéica do cosmopolita e do antropolégico. mente deslumbrada - pela “maravilhosa Paris". Curiosamente, por euuropeus que aqui desembarcam, inclusive os franceses, voltam-se mente para as manifestagbes culturais negromestigss, 0 que 5 Falamos, pardgrafos atrés, de um desinteresse ou um desconhecimen- to - 0 do teitor em relacio & produgéo cultural das camadas populares da ociedade baiana. Mais especficamente, em relagio ao ambicare cultural com suas formas e priticas remetendo a experiéncias ancestrais Sul. De fato, Edgard nfo se enfronhou nesse meio, Pessoalmente, repito. itos e festas do povo balano eran, para dle, ilustres desconhecidos. Nio hi rastro de sua presenga no mundo do Candombl, por exemplo, embora os terteros estivessem experimentando fentio um momento de afirmagfo. Ou no mundo do carnaval, apesar da Universidade e do Afoxé Filhos de Gandhi terem nascido no mesmo mo- mento. Edgard dormia muito cedo e nem sequer sabia a quantas andava @ ‘east que possula no centro histérico de Salvador, onde morou dx infancia & adolescéncia -0 Pelourinho, aquelaalrura, converterase em reduto pop\ 0 reitor pedia « Didgencs Rebousas para verificar o estado do seu iméve {que se achava alugado a putas. Enfim, impossivel imaginar o “dousor Edgard” ‘num wité de orisd, numa ondulagio de afoxé ou freqlientando, “em hora davidosa e em condigSes discutlves", © mundo que Jorge Amado recriou ceplendidamente em A Morte ea Morte de Quincas Berro Ddgua. No entanto, [Edgaid incozporou corajosamente a proposta do desinquieto portugues Agos- tinho da Silva - ¢ assim fez. nascer 0 CEAO. ‘Os gestos da universidade baiana em directo a Portugal e & Attica merecem stengio especial. Entre nés, 2 idealicagio da cultura francesa atendeu, entre outras coisas, 2 uma necessidade de romper lagos com a rmatria portuguesa. E.é insepardvel, ainda, do movimento elitista de recalque dda forte presenca africana em nossos eédigos genético ¢ simbélico. Macaque “as clases siruadas em posigfo privilegiada na hierarquia social igavam poder se livrar da “pobreza” recnocultural lusitana, assim como do batro ¢ do *primitvismo” da senzala, Ainda hoje na Cidade da Bahia, e apesor da “novaiorguite” generalizada, o aftancesamenco pessoal cra ele nos tempos do reitorado de Edgard. Mas o reitor nfo se moveu af, cstritamente, segundo o manual de instrugdes que tegia a conduta do negrom vividas do ourro lado do Ad inado a avivar nexos E por isso que se pode ‘com a iniciativa de ctiar um centro de estus ssados © a animat conex6es fururas com a Ali pelo mninisti Afonso Arinos (assesorado por Wladimir Mi Ricupero),orientaia em seguida a politica afticana do Bi “iscoricamente, a europeizacio da elie potico-econémica, na medida pécie de ‘que, embora nfo sendo dominante, converteu-se em hegemdnica®®. Ao colo- sar suas fichas no CEAO, Edgard estva, na verdade, fae politico globalizane (cle ¢ wma inicatva pritico-te6ri- da Unesco. Agostinho trazia para 0 poll das realidades da Bahia e da Affica e incercim- interesse do retor,seduzido pelo aleance e ¢ originalidade da proposta que lhe fora apresentada, Como se vé, 0 olhar de Edgard nao deixa nunca de ser um olhar de membro da classe ‘dominance. Mas dizer apenas isso ainda nfo € dizer tudo, B preciso completar fo quadeo chamando a atengfo para o fat de que, com seu faro conjuntural € ‘sua percepgio antecipatéra, o retor tinha consciéncia de que se chocaria com ‘tradicional compleigio ideoldgica da “casa-grande” baiana. Daf as suas precaugBes na condugio do processo que fez emergic 0 Centro de Estudos im vista as cosas, a ousadiae a profundidade do gesto si0, scutiveis, Da perspectiva da cxsa-grande, Edgard bes ‘que poderia ser chssficado, nesse lance, como “taidor". De quebra, teve enfientar também a reagio portuguesa, apoiada pela chancelaria mas, desta vez, na base da trombada. Era de esperar alffcana, 0 CEAO no poderia passa ao largo da questio colonial. E Portugal ‘mantinha Id as suas colénias. Veio assim a colisio. Agostinho acabou batenclo de frente com 0 embaixador de Portugel, numa enstevista dspera ocotrida no Rio de Janeiro: “..0 didlogo acabou num impasse, groresco se no fosse Muitas vidas, de um lado © outro, podetiam ter side poupadas. Api Embaixada passou @ pressionar 0 Tramarati cujo Secrettio Geral i . Cortante, até nos modos, Edgard ‘Mas seo: ventos nfo sopravam favorivtis ao “fticanismo” nas gas dha elite sSioreconbmica, 0 momento foi pefeito, no contexto geral da vida tegiomesia bsiano, para implantagfo do CEAO. E pouco importa, esse onto de visa, que Edgard nio tenha sido fotimo de mundo parlelo a que as vezes, em lugares divers, que a a das elagbes sciorraciais no Brasil Entre © tempo da fixagio, em fisionomia barroca, da escola brasileira de furet projegao do candomblé e da formacao do umbandismo_ (@ vida nega do feicrto branco); da expansio ¢ do aprofundamento dos estudos sobre ncgros © mesigos, com a recuperacto da obra de Nina Rodsigues ¢ 0: uabalhos de Gilberto Freyre, Renato Mendonca, Arthur Ramos, Edison Carneiro; do surgimento das "fentes negas’; dos congresosafo-braieiros de cede jorge Amado diesel a Na Babi, em expeca, esta é uma década de 1930 foi outa coisas, do candomblé, No primeico caso, a tocha passa de Nina a Ramos e Carncito *Pouco ou quase nada, durante os anos 20, fora actescentado aos estudos realiados pot Nina Rodrigues ¢ Manuel Querino, para a compreensio da importincia ¢ da participagio do elemento negro na sociedade brasileira’ ccomenta Waldir Freitas Oliveira, prosseguindo: “Caberia a Arcur Ramos a dificil tatefa de retoméclos, na década seguinte, rivindicando, ardorosamente, para Nina Rodrigues, o titulo de pioneiro dessesestudos no Brasil". Logo no cio da década, Ramos, inovando a0 acionar simultaneamente 0s conceitusis da psicandlise e da ancropologia, publicariatrabalhos uj falam por si mesmos: "O Problema Psicoligico do Curandeirismo", Hotizontes Miticos do Negro na Bahia, “Os Instramentos Musicais dos Candomblés ds Bahia", “O Mito de lemanjé e suas Rafzes Inconscients", etc itsudos de Eenografia Religiosa.¢ Pricandlise, a que 5 seguitiam O Folelore Negro no Bras © As Cabswras Negras 0 Novo Mundo. Mais jover que Ramos, Carneio encraria imediatamente em campo, estampando, entre 1936 e 1938, Religibes Negras © ‘Negros Bantus®®, Além disso, a Bahia reeeberia, a caminho do final da década, 4 visita de estudiosos como Melville Herskovits, Ruth Landes ¢ Donald Pierson, todos els interessados, cima de tudo, em sua histéria social e em sua realidade antropolégice. Vivalda da Costa Lima chama a atengio, no campo da histéria social da Bahia na década de 30, para 0 “crescente empenho do negro em sua luca pela identidade cultural e partcipacio politics”. Os rerreiros de candomblé, specialmente, se organizavam e se expandiam. “Os candomblés cresciam em simero ¢ afirmavam-se com a apropriacio de valores da sociedade inclusiva Capitalizavam-se. Compravam terrenos nos limites do centro urbano. Cons- s, com organizagéo ‘sociedades dentro dos terreiros, com diretorias executivas que se encarregavam. iat relagies efetivas de cada grupo com o sistema de poder do Estado ¢, sobretudo, estendiam a rede do parentesco ritual para além das fronteiras Einicas e de classe, E as ‘religiées afticanas’ do tempo de Nina, jé eram, para Ramos © Carneiro, ‘rligides negras’. Religises do povo negro da Bahia’. ‘Adiante, Vivaldo - ele mesmo um mulato refinado, que se tornaria ao mesmo tempo professor universittio e Obé de Xang6 -, sintetiza: “Respeico & tradicto. amplo espectro, © quadro dos candomblés da Bahia na déca vyerdade, até mesmo a represséo policial parecia conspiran, a longo prazo, a favor dos tereiros: perseguidos pela polica, esses templos do povo-de-santo foram se deslocando do centro da cidade para a periferia rural ou semi-rural, {que acabaria favoneando a preservagio de principios ¢ priticas ancesta proncos ambos para reemergirem integros, ou quando nada menos corrompi- dos, em cicunstincas mais propicias. Claro, quanto mais longe do giro do porrete dos'milicos, mais ficil preservar a forma bisica das atividades riuas, deformantes que vo submeten- so & outro assunto. Dentre as om a desnecessdade de apela para di estatura mitoldgica no seio de sua gente, com ye, em referencial dos movimentos ecoldgicos, ambientalistas, da Bahia. Ainds Vivaldo: *Marcniano ¢ Aninha sio atualmente nomes lembrados na tradigio oral de todos os tertiros da Bahia, mivificados jé, na lembranca da ‘ santo’, dos que.os conheceram em vida ¢ dos que io. Nessas duas Figuras turais. Dorados de um superior conhecimento das cradigdes ¢ reconhecidos por toda a gente como detentores legitimos do saber dos fundamen tos como se diz na linguagem dos tereiros; formads nos rigorosos cimones ddo ritual, dos sacrifcis, do questionamento do destino, das cosmogonias, das teogonias e da agio coretora das normas - Martiniano e Aninka eram ainda, ‘emanada de suas personalidades poderosas ido, sexpeitados e temidos. E como verdadeiros foram, juntamente 2.0 estabeleci- mento de conexses sélidas entre | com repercuss6es profundas na vida social da Bchia - brasileira, de umn modo contro pode ser visto na realizagio do I Congres- prctidéncia de honra de fandomblé se juntaram para dscutt, sob luzes variadas, aspectos diversos presenga negra no pais. Em fins desse mesmo ano, num plano ainda fntimo de solidariedade, Aninha asilou Edison Cameiro, perseguido policia do Estado Novo, no peji de Oxum do Axé do Op6 Afonj, deixands fos euidados de Maria Bibiana do Esptito Santo, a futura ialorixé Senhora. Notes, por fim, que todas esas eo em que Jorge Amado narrava com temitia sua vor grave, sobre o som de um violio quase percutido, 4 beleza e 0 poder da deusa dos eghés, Iemanjé, a Grande Mie, senhora das dguas, sina do mac. nna Cidade da Bahia, em janeiro de 1937, sob .tiniano, Nesse evento, intelectuas e sacerdotes do Pode-se dizer, portanto, que a década de 1930 preparou 0 terreno assentou as bases para a projesio da cultura negra, pelo fascinio (¢ sedusio) que esta exerceu sobre artistas e intelectuais, pelo fortalecimento ¢ expansio ds rereios e também pelo jogo de cintura em relacko a0 sis tologia da classe dominante". Nao é surpresa que se constate, nessa nova conjuncura, uma alteragio no tom da imprensa, ainda que esta permanesa fe mesmo racista. Continua Vivaldo: “O dos jornais baianos". O préprio Carneiro muito cont rgunizando para a imprensa local uma sétie de longas reportagens sobre os candomblés®. Enfim, a transformacio da sensibilidade da sociedade global para a cultura negromestiga jé comegara. O reitor Edgard era, afinal, contem- neo da ialorix Aninha. E Edison Ca iagio de um Instituto Aft rospectivamente, como uma visio antecipadora do remos que dizer que, se Edgard se deslocava na chegou a imaginar, naquela sando em termos de deseavelviment rente, de projegio do Brasil no cendrio internacional, 0 fato € que, mentando a idéia de Agostinho, até concresiz-la no CAO, realizou uma aque ia 20 encontro das aspiragbes dos segmentos mais hcidos das camadas populares e que teria funda repercussio no mundo culeural paralelo que vinba ‘ éopfigurando ha tempos em terra baianas. Mais ainda: 0 CEAO seria, como smo importante para 0 foralecimento desse mundo {baiano}, a principal iniiativa [do CEAO] veio a ser ‘20 interesse dos congregados no candomblé, ¢ 20 joe que tinham, de ceforear os tenueslgos dietos que conservavam com iniciouse um curso de ior. A quem precendeu fazt-lo nfo se exigit scaljzacio comprovada, com 0 fto de, assim, abrir a Universidade aqueles af enti, estavam dela por completo excludes: se iq ou regio, de extragio majoricariamente af gS. por tanto tempo persuido, via agora cnsinada na Universidade. De outra parte, deu-se 0 pontapé inicial do inter- cmbio Brasil-Afiica em esfera oficial. Tratava-se de conheces a Aftica no Brasil ¢ de fazer 0 Brasil conhecido na Alia. Foi assim que o anttopélogo Vivaldo da Costa Lima tomou 0 sumo da Nigéia e de Ghana, tabalhando na Universidade de Tbadi ena Embaixada do Brasil em Acta. Ma Ojelade, que tanto se esforgara para o ineremento do contato Bras poderia ver agora esrudantes, professores © pesquisadores fazendo a eravesia adntca no mais compulsoriamente, como no tempo do fico de escravos, ras para estetar lgos, aprofundar conhecimentos, trocar informagées. Ou seja: fosse qual fosse a poscura pessoal de Edgard frente is manifestagses caltuais negrometigas da Bahia, o faro € que, via Agostinho, via CEAO, ele fortaleceu todo um movimento de projegio e consolidaso de formas, priticas cevalores de extragdo negrosfricana na Bahia. Edgard pode nanca ter feito uma A ‘mas levou o jorubé pata a Universidade © Brasil-Africa, frendo com que brasileros ¢ aftica- fos vigjasem milhas e milhas pata encontar, em seus pontos de chegada, coisas que haviam deixado em seus pontos de partida.. "Abrindo a porta institucional, Edgard permitiu que Agostinho ¢ sua taupe mandassem brasa, provocando fissures na couraga europelsta, no superego latino” ena reverie alienada da elite ual baiana. Com 0 CEAO até hoje, inclusive no espago das preciso ser um observador atento para perceber Bundagio Gregério de Mattos (EGM) de Agostinho e Lina (que, st, 1985). De salda, por trabalhar, piiblca, com um concsito antropoldgico de culrura. Mais especi projeto de recuperasio do centro histérico da Cidade da Bahia, que chegou iado (Casa do Benin, projeco piloto ds Ladeira da Misericét- 1tregue & coordenagéo da pr6pria Lina. Por outro lado, remetem 20 CEAO 0 “Projeco Bahia/Benin’ (‘pensado no contexto geral de uma pollica cultural pata o Adléntico Sul) ¢ 0 "Projeto Terreto”,inicativa inédita 1no campo da administragio publica brasileira, jd que foi af que, pela primeira ‘yea, tum érgio oficial formulou e ps em pritica uma politica de reeuperagio protecio de templos religiosos nfo-catdlicos, quando até entdo a agdoestatal se Teduzia & preervagio de monumentos de pedra e cal da etnia dominante. Enfim, podemos dizer que a FGM, mesmo em sua originalidade, resuleou da justaposigio de dias de Agostinho ¢ Lina Bardi - e que 0 elo de ligagdo entre cha ¢ a “era Edgard Santos" se chamou Roberto Pinho. Foi assim que uma Bahia ¢ Benin ¢ Bahia e Angola, a recuperacio Fisica do terreiro do Gant cetiaglo da Casa do Olodum, 6 ‘Mas vamos finalizar esta leitura da figura do reitor. Edgard, como jé , mas apenas medianamente la producao estética, ou pelo isar anjos esvoacando ao primei- ro dedilhar de um alatide®”, Ainda assim, fez 0 que fez, mantendo-se de (6 a 1962 no comando da Universidade da Bahia. Caiu com a entrada em cena do governo de Jnio Quadros ¢ sob a pressio de um movimento cstudantil culeuralmente reacionario que se julgava politicamente revolucio- io - equivoco nada infieqtiente entre nds. No tempo em que permaneceu no posto, construiu (em todos os sentidos) a Universidade. Significacivamen- jeto antigo dos baianos, nascido no ano mesmo do seu nna Bahia um instieuro de ensino superior, “capaz de Bahia, num movimento que ainda hoje tem suas a vida nacional. Como isso foi possivl ia 0 acdcio mais & m&o. Alguns dees, aids, foram apenas vocados de is fil, Edgard era um sujcito bem ificagao econémica da sociedade iusida fragio de elite imediatamente cooptada pelo interventor Juracy Maga- coisa que, de resto, Ihe valeu a censura (e, posteriormente, 0 despeito) ‘dos mais tadicionalistas. Rebento inguieto, earismético e “bem casado”, filho de familia abastada,ostentando seus advogadosilustres, Edgard tinha tudo para dat bem. Mas foi além: pensava por conta propria ¢ sabia se mover , forga pessoal, poder de sedugéo - foram ingredientes que nao am em sua composicio. Era, como se diz, homem feito de metal 120. im disso, foi uma pessoa generosa - inclusive, é caro, na distribuigio das ‘acs do poder: viagens de estudos, empregos, presentes, etc. Senhorial ‘speno, lista avant-la-letie, conhecia muito bem o caminho das pedras. No ntrava maiores difculdades para enredar o préximo, fosse este poderoso hhumild, opressor ou oprimido. Apaixonado pela intervencio pritica pela arquiterura mével do xadtez politico, no hesitava diante da conjugagéo de ‘erbos tio opostos como atropelar e recuat, Jogava tanto com a forca quanto ‘com a faqueza alheia, Sabia enfeentar ¢ contemporizar, neutralizar inimigos (Gissimulados,abertos ou apenas porencais), etender e pusartapetes, adaprac- se as circunstincis. Por tudo isso, impés-se vitoriosamente sobre o obscuran- Bdgard sabia descolar veiba. Tinha coisas 0 esitava em recoreer a expedientes que antropélogo. Edgard sabia como fio da Educagio", ainda no dizer de Darcy, que exemplifica: 0 reitor andava como quem carregava sempre algumas pedras preciosas no bolso - € “esmecaldinha pra li, esmeraldinha pra cf, 0 faro € que ele conseguiu. mais dinheito para a Bahia do que qualquer outro reiror; ¢ conseguiu da forma que consegi chegt a linguagem daguls grove pr 8 _m fazer a cosas” ©, Diga-se também que Ed inelectuais nfo podesiam funcionar como bal cultural pablica, Respetava a inteligencia ale mente discordasse dele. O Kitsch do prédio da reitoria, por exemplo, foi fa Sempre uma resrigo Fundamental a esses decalques idoras de produtos historicamtente datados, no campo do mobi tem sua moralidade © razio de ser na sua propria época. A cépia dos esilos passados, os babados, feanjas, sio indices de mentalidades incoerentes, fora Mas a coisa no ficava s6 af, Glauber Rocha lembra discutsos de formacura, Edgard financiou as revisas esquerda univesivria, “sem a menor restrigfo 20 icalsta das publicagbex"™. Como se vé, Edgard nada tarismo, paranéia de pequeno finer. hi que sublinhar ainda a sua insuiao. Sei que ¢ariscado generalizat sobre pessoas, mas nfo tenho alternativa Além do mais, nfo vou censurar um tema que os académicos evicam abordar ex catbedra, mas comm © qual adoram Flecar em eufbricas ou depressivas conversag6es extracampus. E isto pela simples axio de que me parece que Edgard possula uma intuigéo extraordind- ria, conjugando olho de lince e faro de pointer. Esta alads a um assessoramento quase sempre competente, correndo pelos mais vatiados canais, petmitia que ele acerasse com fieqléncia no alvo, embora muitas vezes nem Soubesse onde era mesmo que o alvo esava. Para recorrer & sinonimia do “Novo Aurélio", Edgard sabia ver, percebes, discernir; era dono de uma “chenopencnga do pee mia ne implies snk de wnetmo come op ons 2 *percepsio clara e imediaea” das coisas vinha a capacidade de pressenit ea dis ‘placuit, assim aprouve aos deuses, como no dito latino, E, 0 que é de extrema Jmportineia, seu mapa era aberto, Relarvamente aberto, melhor dizendo. E ural pensedo simultaneamence em globo ¢ no detalhe. Penso que se a verdade nao eit longe disso, disso também nao esté perto. O espago geral . Mas 0 caminho ia se abrindo, entre 0 cilculo ¢ 0 acaso, no proprio Nio havia a obsessfo ou o ergéstulo de uma carta prévia inalterével, ‘que devesse ser cronométrica e/ou celigiosamente obedecida, Enon Vig ee aida oe tenet, dre opines abs ds de de nes uss ‘bevwas méoralaes Si dewm 3 sll dave a cna ov gorama os pao, cre» ip’ Bas Fuso - Op it 07 Bag Crane ges: "Geo Paar cdi lam paca cc ou geen poi linia wes qe EIR annem” Rosle de Bal Compr, St Pal, DAE 97S, p ia depois de 198, « vraslnene man ibe gue irs aon dep esa de Po gd spee coma eid i ls Campin Sh al, Basen, de Get Wacnedee 2 Mei pcp. 257. Vazanels op. ep 2. i. 7) Amie Teter, Saad, Depeenen Call dU (0) vn we sad ge, cotta demcro, 20 fai ie cp cn oor agonists duran xo Noe 9.2.25. Apanede (4) Ver Roh, i, Dean Pre = Lingag de nd, Siar Cero Ele Disco de nei el dBi, 198 Depend ode Ls, Sa pin Dips in In Ce lg og Mn i li (G0) Abn can nm atl speedo co Gainer, ak HO tow dvs “Carmel As Coes de Ms em “Ebon tomo doe da nis claal ea rice lec ner te Sel

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