Aps uma leitura de A Primavera de Francisco Rodrigues Lobo

Prof Dr Zulmira Santos

Pelas ribeiras do Lis e do Lena

pastoreava Lereno o manso gado
em terra de abundncia e amena.

Quando era do vero tempo chegado

outros pastores dos montes vizinhos
traziam seus gados aos verdes prados.

E como os rouxinis e os passarinhos

assim os pastores em alegres cantos
porfia, alegravam os caminhos.

E entre todos, Lereno se elevava

no canto, na sanfona, ou nas liras
de amor que a todos enlevava.

Ento, quis o destino, que conspira,

Lereno descobrisse num penedo
um segredo que algum nele ferira.

Nisto cismando voltou ao rochedo,

e com a ajuda dos outros pastores
desvendou-se de Sileno o segredo.

Ousando intrometer-se no caminho

de uma Ninfa que um Fauno perseguia
foi logo castigado o descaminho,

porque o Amor no permite a ousadia.

E assim, a Ninfa invocando o divino
poder, o converteu em fonte fria

e, sem saber, de Lereno o destino;

na sua mudana inconsciente
ia caminhando para o desatino.

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Amigos largou e o gado inocente,
e se embrenhou por dentro dos matos,
e uma cova achou por acidente.

E assim, ao som de guas de regatos

que engrossando em correntes se perdiam
pela terra formando seus estratos,

assim tambm em Lereno cresciam

a tristeza e os suspiros, at
que cansado adormecendo iam.

Pelo meio-dia acordou, ps-se a p,

olhou e procurou pela sada,
que pensava encontrar de boa-f.

Achou, mas paisagem desconhecida,

graciosa e de beleza nunca vista,
de verduras e de frutos guarnecida

e outras ddivas do divino artista.

De saber desejoso o lugar
curiosidade no resiste,

e assim, quis o destino encontrar

um cajado, na orla da floresta,
gravado com mulher a ilustrar.

E seguindo encontrou, dormindo a sesta,

uma pastora, raio de sol, luz
divina que o cegou; hora funesta

seu destino marcou, foi sua cruz.

E a partir de ento, tudo mudou,
e tudo estranhou e se apartou.
Antnio Barros, 2010-12-23