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versitas ‘ nacional. O povo e a nagio em Her- lualismo e racismo em 2. O PRINCIPIO COMPARATIVO: © UNIVERSAL ANTROPOLOGICO Mareel Mauss: uma |. O valor nos modernos e nos outros Léxico de algumas palavras-chaves Indice dos autores citados PREFACIO Estou profundamente grato a Paul Thibaud, que teve a idéia deste livro e assim testemual que dispensa a meus trabal to de vista global que € que, de outro modo, corre o peri quando néo dependen chamou saborosamente ‘Apés reflexio, ac blicagio € oportuna tarlhe. Quanto a0 esclarecimento antr rodugio a0 cedente,? recons © Homo aequais, , Gendse et Epanouissement de Vidéologie économi. ‘que, Paris, Gallimard, 1977 10 Proécio im dessa concepgio da nisso dificuldade alguma, porquanto je qualquer modo, é voltar insepardvel de sua meméria Para termina expressar um agrade vvers0s modos, et dimento que parecer destinado a ficar sem repercussao. les me_ajudaram © me presente coletinea, Abril de 1985 INTRODUGAO fa introdueao tem duas tarefas a cumprit, Por uma parte, devi ago entre as duas partes do livro, ultrapas- ing#o que separa uma especi a antropologia social, de um estudo que deriva de idéias”, ou da hist moderna. Mostrar como, numa perspect antropologia soci ifica ou se recomenda um estudo do conjunto ve a ico da modernidade, bem o desejo de Paul Thibaud, como se diz € preciso ainda que © ponto do estudo ideol6gico, mo algo que naturalmente da perspective antropolé- ica. Tudo © que se segue e, em particular, a segunda parte do 0, € que deverd responder, certamente, a essas necessidades. A introdugao cabe di pios, destacar a mmentos estiveram na origem de meus jodugio pede que seja con Mas, antes de se chegar a M cordar que existem duas espécies Introdugao rangeira, e 0 etnélogo ou Ihe: ele s6 i estudar quando , no que as sociedades teriam em comum, n iferengas.? Sua grande preocupacio, seu , por definigso, um complexo es 5 de secedade), impossiv © Individuatiomo 8 importante ainda, se do que o primeiro: entre as diferencas, ha uma que domina todas as outras. E aquela que separa o observador, como portador das idéias ¢ valores da sociedade moderna, le observa. Mauss pensava, sobretudo, sntropologo ¢, de Supondo-se’ ad- idade com a cultura estudada, o grande pro- 10 dizia Evans-Pritchard, em da antropolo- sia que faz dela parte. Cumpre acrescentar ainda que a ope- racio mais complexa do que uma tradugio. Mauss refe com freqiiéncia, as emboscadas que af nos esperam, culdades e precaugées que essa diferenca fundament outras, as nossas rubricas mais gerais, como a moral, a jea, a economia, aplicam-se mal as outras sociedades © s6 ‘pode recorrer com circunspecsdo — e mesmo assim a titulo proviséo, Em. dltima anise, para verdaderamente compreender, cumpre inves lo, pondo de lado, se_necessério, : que corresponde rneles a0 que conhecemos, ¢ em nds 20 que eles conhecem; por i vel esforgar-se por construir aqui tudo, © das representagdes sociais de que ele parti servador 6 aqui parte obrigat6ria da observacio. pee que ele fornece ndo € um quadro objetivo, no sentido de que o 10 dele estaria ausente; 6, outrossim, o quadro de alguma coisa vista por alguém. Ora, sabemos a importincia de que se reveste essa consideragao para a fil nado com 0 sujeito que o fornece. Na referimos, tal como na fisica nuclear, encontramo-nos de ime- diato nesse nivel mais radical em que ndo se pode abstra ‘observador. Reconhecemos que a coisa ndo est4 in explicita em Mauss. Quando, a propésito do estudo da reli- “ Introdugao silo, ele chama a atengio para “quem slo as pessoas que eréem niss0”, ele néo diz “em relagdo a nés, que cremos nisto”; somos nds quem 0 acrescenta, apoiando-nos em outras e nu- ‘merosas passagens em que Mauss insiste no cardter particular, mais ou menos excepcional, de nossas idéias modernas. A forca, dessa perspectiva consiste em que, no fim de contas, a cla se vincula tudo © que a antropologia social ou cultural jamai de essencial, Ela acarreta, é garantida, serviddes temiveis que explicam, la nfo se ter expandido. Citarei apenas duas: sociologia institucionalizada sio postos fora de circulagao e, por outro Iado, o universal distancia-se no horizonte: 36 se pode falar do “espirito humano” a partir do instante em que duas formas {das numa mesma formula, fem que duas ideologias distintas se apresentam como. duas variantes de yma ideologia mais ampla. Esse movimento de incluso, sempre @ renovar, aponta 0 ¢sj neamente como seu. prin Excetuando-se esta (© menos. possfvel 0 grat ‘mentos de Mauss, que orient tré-lafamos na repercutente demonstracio, por Katl Polanyi, do carter excepcional do caso moderno sob a relaco da eco- inda pode parecer que todo o resto para existem momentos em que um resto de evolu coroar as descontinuidades, ainda que firmemente reconhi das, B 0 que ocorre quando ele se refere a0 grande py ia social das categorias do espiito hu ro que Ker! Polanyi dedicou a0 caso moderno acaba de ser dduzido ‘para 0 Irancts: La Grande Transformation, Paris, 1985 (ef: om ). 0 Individuatismo 8 linear da humanidade, assim como uma causalidade sociol6- gica a que Mauss tampouco renunciara por completo. A critica radical por Polanyi do liberalismo econdmico e do proprio eco- nomismo faz ressaltar a distancia que nos separa aqui de Mauss; mas essa distincia no afeta, em sbsoluto, a concepsa0 fundamental, em Mauss, da comparacao ¢ da antropologia, ‘tal como é retomada aqui ciara discretamente do cie légica em Durkheim, E, num sentido ampl das categorias do espirito human dia, apresenta-se-nos tio-s6 como que aos durk! stas do comeso do século. Por outro lado, se lermos atentamente 0 que Mauss disse em 1938 sobre os resultados das pesquisas deles, perce- beremos que suas pretenses sio bastante modestas.* Deixemos bem claro que o retrato que fiz de Mauss em 1952 e que & aqui reprod longe de ser a apreciagdo critica que hoje poder-se-ia esperar: Tratava-se entio de 0 apresentar a colegas ingleses que 0 co- nheciam pouco e corriam o risco de se desorientarem — ou serem repelidos — por uma interpretagio brilhante mas exa- geradamente abstrata. A é hoje muito diferente, quan- do a figura de Mauss ss0 ¢ no plano mun- iria mesmo de uma reveréncia Ivez passageira mas que ndo deixa de ser co- ‘moyente para aqueles que o conheceram. Por mais di seja a tarefa, chegou o momento, sem divida, de uma circunspecta’ mas profunda das teses de Mauss ¢ das ag6es que elas receberam; mas no é esse 0 nosso obj por uma parte, e, por comparativa reciproca entre 0 observado 0 observador. Fui levado, sub- 950, pp. 533.554, em La Ci 6 Introdugao seqilentemente, a esquematizar ou objetivar a oposiggo entre jonal e, mais amplamente, entre moder no e néo-moderno. E certo que esse género de ram seu momento de gloria no como Mary Douglas, que yem um procedimento idade nfo gerante que 0 exis- tente (em inglés: existence) se divida dessa ma- neira. Devemos desconfiar de quem quer que diga que existem duas espécies de pessoas, ou duas es- pécies de realidade ou de processo.* A isso responderemos trangiiilamente que existem duas maneiras de considerar um conhecimento qualquer, uma ma- neira superficial que deixa fora de questo 0 sujeito conhece- dor, e uma maneira profunda que 0 inclui. A rigor, isso bas- taria para justificar a nossa disting Entretanto, 0 leitor ndo-especi de se surpreender, mas décadas. Desde que se abandone: a determinagio de uma parte da vida social por uma outra infra-estrutura” e “superestrutut os compartimen- aludimos, percebe-se que é muito © Individuatismo 7 ciedades diferentes." Acrescentemos que aquelas poucas teorias de que dispomos — se 0 termo nao é amt aplicam-se, quando m ; elas permancoem em que se deplora. Mas se existe a marca da emi erdadcira antropol pouco a pouco, se necessé: por outros mais adequados, gens modernas e mais capazes de abranger os dados que comecamos por desfigurar. Essa é ‘© quadro conceptual que iciente ou ‘© nosso quadro conceptual. Essa comparagio 6 radical, porquento emprega as concepgdes do proprio obser. vador e, em minha opinio, ela comanda todo o resto. Desse onto de bermos nao é, evidentemen estudo com- parativo da antropologia. Para sermos completos, cumpre acrescentar a0 que_pre- cede, © que deriva diretamente de Mauss, um elemento ou io que surgiu no decorrer da investigagio e, combinado © Sobre este ponto, ver © que dizemos no capitulo VII sobre a tente- tiva de Clyde Kluckhohn e Seu grupo 18 Introdugao com os precedentes, permitiu 0 seu desenvolvimento, Se_se considera os sistemas de idéias ¢ valores, pode-se ver 0s dife- rentes tipos de sociedades como representantes de outras tantas ‘opgdes diferentes, entre todas as alternativas posstveis. Mas tal modo de ver nao basta para consolidar a comparaclo, para , por pouco que seja. Para tanto, cumpre levar em em cada sociedade ou cultura, a importincia relativa dos de experiéncia e de pensamento que ela reconhece, ou sar os valores mais sistematicamente do que tem sido , até agora. Com efeito, 0 nosso sis- ina toda a nossa paisagem mental. Veja~ ples. Suponha-se que a nossa sociedade vada apresentam ambas, em seus respecti- as, os mesmos elementos A ¢ B. Basta que uma subordine A a Bea outra Ba A para que resultem dife- raveis em todas as concepg6es. Por outras-pala- acento sobre a diferenca entre “eles” portanto, entre moderno e niio-moderno, como epistemologicamente funda- 0 no interior de toda e qualquer sobre os niveis hierarquizados que cad seja, énfase sobre os valo 20 aprofundamento da comparagio. Diga-se de passagem, eis a razio por que uma monografia, o estudo de uma Gnica sociedade, contribui para o quadro te6rico geral. Creio que a introdusao da hicrarquia permite desenvolver a inspiragéo fundamental de Marcel Mauss. Afinal de contas, cla parece ter cruclmente faltado aos durkheimianos. Por in- ‘eémoda que ela possa parecer, por balbuciante que se 7 Para uma idéia esquemética de tal comparacio, remetemos o Ieitor a HH, § 118. 19 talvez, quando por mim descrita, € indispensivel porque res sportante nepligenciada do dado. aparece, pergunt tudos. so \ém de seus p seguida, a hierarquia é pre 19 de uma aversio profunda em nossas sociedades. tual para os antropélogos, a linguagem dos dar frontalmente 0 contraste entre moderno € ni ele propée, em suma, o esquema de uma antropolo; |, pode servir de conclusio para ido que a pesquisa s6 ‘uma conclusfio pro\ Sem dtivida, apés as consideragdes prec: compreen- de-se que, se a antropologia for concebida como fizemos aqui, as idéias ¢ os valores que nos séo familiares como modernos a o estranhos mas, muito pelo contrério, entram em Todo 0 progresso que se possa fazer no co- nhecimento dessas idéias ¢ valores seré um avango da antro- logia, no s6 quanto a0 seu objeto mas também em seu fun- cionamento e em seu quadro te6rico. A tese complementar, que falta demonstrar ou, pelo menos, defender, & rropolégica pode permitir-nos co- nhecer melhor 0 © qual acreditamos saber tudo pelo que pensamos ¢ vivemos. Fis uma pretensfo aparentemente eo demais ¢ que, no entanto, devo empenhar-me em jar, com a ajuda dos quatro ‘ensaios que se seguem {eaps. FIV). Dow o nome de ideologia a um que tem curso num dado meio social leologia moder- na ao sistema de idéias e valores caracteristico das sociedades reverteremos a perspectiva antropolégica ou com- vel Yantagem, a qual consiste em ra moderna em sua unidade. Enquanto a, parecemos condena- dos simultaneamente por sua riqueza e por sua forma a fragmentéda de acordo ct ¢ especialidades, ¢ a si partimentos (cf. © caminho esté aberto desde 1964. No ponto de a trama conceptual da investigagtio foi forneci ralmente, pela inversio do enfoque metodol sido necessério para a compreensio soci anélise dos dados indianos exigira que nos emancipéssemos de nnossas representagSes individualistas a fim de apreender os conjuntos ¢, em tiltima andlise, a sociedade como um todo2* Desse ponto de vista, pode-se opor a sociedade moderna as ion indienne et nous, op. cit., ed. de 1975, p. 24 © Individualiomo e scja. O atributos — como a igualdade — e Vsimoe um, exemplo para se a © discurso ordinério ¢ 0 d tratando, Agu opto ao in sem davida, é preciso entender que o nacion conresponde a um ualismo como valor. A naco € precisamente 0 tipo de s0% dade global correspondente ao reino do valor. Néo s6 ela 0 eae historicaments p. 379), E uma s a designar pela como a comparagéo ou, mais exatamente, 0 m torno da India para nés, fornece o ponto de vista, de certo modo a grade conces wr a0 dado. ‘Que dado? Os , uma civilizacao escrita, e seria inimagi girse de qualquer outro modo uma massa compardvel de da- Introdugdo individualista de idéias e valores que nos é fami- iu sempre nem apareceu de um dia para o outro se remontar a origem do “indivi ” a uma época mais ou menos remota, segundo, sem divida, a idéia que dele se fazia © a definigdo que se ihe dava. Se refletirmos bem, deve-se poder, numa perspectiva histérica, desvendar a génese da configuragéo em questo em suas principais articulagGes. De fato, basta para isso um trabalho a0 mesmo tempo amplo preciso que, por uma parte, recolha os melhores frutos das diversas disciplinas e, por outra, no tenha um respeito supers- s0 pelos compartimentos disciplinares. Considere-se ape nas, por exemplo, que os tratados de Locke considerados poli- ticos contém a ata de batismo da propriedade privada; e que a filosofia “ de Hegel dia forma do Estado & comue- nidade, oposta & simples sociedade (civil). Podese fazer a tal empree 10 toda a espécie de objegdes. Pode-se obj do campo e a compl fazer neste ponto uma adverténcia a fim de afastar didos. Reconhecemos que o empree ele exige muito cuidado, ©, por via de conseqi & quem nio se poder enas, © vasto quadro de conjunto que o enunciado parece prometerthe. Reconhecemos até que, em toda sua extenslo, a tarefa € desproporcional as forgas do inves- de idéias © valores. Contudo, a experiéncia nos ensina, em © Individualism tos € ndo aos conjuntos, € muito forte entre nés. instdncia, nada mais é do que um outro nome do individua- ‘0, de uma de suas faces. Propée-se, em € ele recusa-se a ser analisado: nesse senti homens em virtude mos ao assunto de que nos ocupavamos: num texto dado, de um dado autor, existem que tém entre si cerias relagd relagGes, elas nao scriam nada. Essas rel cada caso, uma configuragdo. Essas xto, de um autor, de um meio a um outro, mas nio de todo em todo'e podemos esforcar-nos por ver 0 que clas tém em comum em cada nfvel de generalizacto. De um modo geral, é falacioso, em social, preten- der, como se tem feito, que os detalhes, elementos ou duos sio mais acessiveis & compreensio de que os conjuntos Vejamos, pois, como pensamos poder apreender ol complexos quanto as configuracdes globais de idéias © Podemos apreendélos em contraste com outros € somen certos aspectos. Em contraste com outros: a India e, de um ‘modo menos preciso, as sociedades tradicionais em ge a tela de fundo sobre a qual a inovayio moderna se Somente sob certos aspectos: ai esté, portanto, obj conde 0 arbitrério se reintroduz. Nada disso. Afirmamos mais cima que as idéias ou categorias de pensamento especifica- mente modernas aplicavam-se mal as outras.sociedades. Por- 6 interessante estudar nascimento e o lugar ou fungio categorias. Por exemplo, constatase 0 surgimento nos modernos da categoria econdmica. E possivel acompanhar sua Py Introdugao que papel essa categoria desempenha na configuracdo global. Verificarse- que a configurago é constituida de ligagdes ne- cessétias e que a concepsio econdmica é a expresso acabada do individualismo. E possivel que, nessa pesquisa das rela- ges, tenhamos apenas visto parte delas e que outras nos te- rnham escapado. Isso teria ocorrido involuntariamente ¢ nao vradamente averiguar a even- Hé, no que precede, um apatente paradoxo: uma_consi- ide ser’ global confessa-s , como fa © conjunto, como a maior parte do ‘tempo, incompleto, mas refere-se a um objeto global dado. E 0 ‘curso que se considerasse completo mas se ida a0 dado. Se em alguma parte existe ‘af mas, antes, na pretensio de dade que se adota como ob vos e que, por conseqiié ado de fora, 9 trabalho © Individualismo essa dimensio ausente foi, de certo modo, substituida pela istematica da dimenso compar © a exclusio rige todo o recurso a ‘que ameacam encobri fazem prevalecer as concep¢des ille, ou estudo, palavra por palavra, de passagens de Adam Smith sobre o valor-trabalho. Esse recurso nem sem- mo. Nao se podendo dis . pelo menos, de rigorosamente a redagio. O leitor menos atento talvez se aper- cceba apenas precaucSes, as quais serio josa ou um estudo yara fazer com- la_se The pode ar 0 caminho, e por que se deve, na maioria das vezes, ‘8 atalhos fiéceis que ele poderia esperar para encurtar Resta-me apresentar st se seguem (caps. I-IV). Quanto a forma, o leitor poderia, sem divida nenhuma, desejar coisa melhor. Ele tem & sua frente uma série de estudos descontinuos, de datas diversas, cada um dos quais, no original, devia ser auto-sufi resultam algumas repetigSes, sobretudo quanto as definigdes de base. Modificaram-se e completaram-se os titulos, a fim de melhor assinalar o lugar de cada ensaio no conjunto, mas abstivemo- nos de alterar os textos (salvo, eventualmente, quando assina- Jado em nota). Por incapacidade para proceder de outro modo, ‘mas também por principio. Cada um desses ensaios, com efei- to, condensa um trabelho extenso; 0 conjunto € 0 precipitado, Introdugao final, da investigngto e, 2, reproduzito isis verbis concepsies e def pouco familiares ganham em ser recordadas cada vez que utilizadas. Quanto 20 fundo, situemos agora esses estudos no_con- junto da investigagio que realizamos e que prossegue. Desde (© comeso, procure’ por 8 prova o método em vérios plans, segundo virias direcGes. Temos, em primeiro lugat, 0 quadro bal, see, em seguida, um primeiro eixo de pesqui: cera preciso acompanhar na hist6ria a génese ‘extrapolagio sobre a Reforma, em cristo, estranho ao mundo na origem, vé-se progres de tum modo cada vez mais profundo; esse € 0 (© segundo estudo mostra 0 progresso do nto de_uma lo. (E também o primeiro em data desses estudos, dai sua apresentagdo muito eral € um aspecto algo arcaico em relacSo aos desenvolvimen- ito trabalho descreve, a par- aa goria econdmica, 4 qual representa, por sua vez, em relagio © ao Estado, um progresso d 1 dimensio de um livro, Genése et Epa- logie économique (HAE 1), ¢ nio pode, ‘em suma, no uma génese comple nos trés aspectos principais da gé- Um segundo eixo de pesquisa foi eacothido desde, logo: ‘@ comparagdo entre culturas naci a. Com efei & fdevlogia modema reveste-se de formas notavelmente dife- © Individuatismo “a rentes nas diferentes I{nguas ou nagdes, mais exatamente nas diversas subculturas que correspondem mais ou menos a essas ‘ ologias ‘mais ou menos nacionais como uma vatiante da ideologia mo- derma, devia ser possfvel, e isso pela primeira vez, propor 0 comego de uma comparacio sistemética e, portanfo, de uma verdadeira intercompreensio entre essas variantes francesa, a alema, a inglesa — as quais permanecem até agora relativamente opacas umas as outras. Na pritica, o trabalho incidiu principalmente sobre a variante alemi comparada — de um modo mais ou menos explicito — com a francesa, Ai se encontrar somente um artigo sobre “O Volk e a nacéo em Herder ¢ Fichte” (cap. I1I). E breve mas o tema é absoluta- mente central para a filo i Por outro lado, tratase de uma bastante avancada e espero poder fornecer em ‘outros resultados; a tentacdo de apresen- (0s, a propésito uigéo para o estudo do itua-se, por uma, parte, no plano geral ou inter- proprio Hitler dé como suas em seu livro Minha Luta. Sobre esse ponto, particularmente sensfvel, do mo, gostaria de acrescentar algumas palavras. Num extenso consagrado, em grande parte, a uma andlise deveras be- le HAE I, Vincent Descombes abordou a relagio entre a ia de Durkheim, de Mauss e 0 tota- Py Introducto litarismo."* Ele perguntarse que relagdo haverd entre o holismo de Durkheim ¢ de seus discipulos e o totalitarismo. Nao teré Durkheim, ao desejar para as nossas sociedades “horas de efer- vescéncia criadora”, em 1912, idealizado sem querer o nazis- mo vindouro, ¢ Mauss no confessou seu embaraco diante do acontecimento (op. cit., pp. 1023-1026)? Ha mais: Descom- bes parece sugerir, em iiltima andlise, que eu reproduzo, por minha vez, o “infortinio” de Durkheim, a “catéstrofe da esco- la durkheimiana” perante o totalitarismo. Ora, é grande a dis- tancia entre a definigdo do rismo como contradit6rio que eu dou e que a cr (p. 1026) e 0 ponto de comum de um simples retorno & comunhdo primitiva ou me- dieval, que Mauss retomou por sua vez. Parece, portanto, haver ai desatengio. Acontece que, num ponto preciso e fundamental, eu assinalava a superagio das formulagdes durkheimianas, Logo no comeco de HH, distinguindo os dois sentidos da pa- lavra individu (0 homem particular emy como portador de valor),"* eu mostrava numa nota (3. base no exemplo de uma passagem do préprio Mauss, sidade da distingZo, Ora, uma ver. estabelecida essa di spossivel a confusio que Descombes censura nos durkl mianos. Fe E certo que Durkheim * mas nfo 0 descreveu de modo 2 jentemente a distancia que esse valor abre entre os modernos ¢ 0s outros," ¢ 6 foi por isso {que ele péde, ocasionalmente, na passagem de Formes élémen- taires que Descombes sublinha, imaginar para os modernos ja a maneira das tribos aus- ividuo” e quando se coloca nessa base 19 € holismo (HH, § 5. 1, 366, novembro de 1977, pp als dott © Individualism ; oi derma, aparece de imediato como um empreendimento de men- tira © opressio, ¢ 0 nazismo denuncia-se como uma mascarada, ‘dualismo & 0 valor fundamental das sociedades mo- demas. Hitler néo lhe escapa mais do que qualquer outro ¢ 0 ensaio que Ihe diz respeito neste livro tenta, precisamente, ‘mostrar que um individualismo profundo esté subentendido em sua racionalizagao racista do anti-semitismo. tarismo exprime, de mancira dramé- algo que se encontra sempre de novo no mundo contem- potente e, por outra, perpétua e por seu contréri al da. pes do nosso tempo, do individua. com mais forga que nunca, E nesse sentido que, se_a configuraga idualista de idéias © valores € caracteristica da modemnidade, néo The € coex- tensiva, Donde provém, na ideologia e, mais amplamente, na so- ‘dade contemporinea, os . aspectos ou fatores niio idualistas? Esto vinculados, iro lugar, & perma. néncia, ou “sobrevivéncia” de elementos pré-modernos ¢ mais, — como a familia, Mas também tém a ver emprego dos valores individua- tas desencadcou uma dialética complexa que teve por res tado, nos mais diversos dominios, e para alguns desde fins do século XVIII ¢ comegos do XIX, combinagées em que eles se misturam sutilmente com seus opostos."* ‘A. questio é relativamente simples — ¢, gragas a Karl Polanyi, clara — em matéria econdmico-soci ‘fo do pris idualista, o “liberalism trodugdo de medidas de salvaguarda soi mente, no que se pode chamar o “ pordineo. ‘Um processo mais complexo, muito importante mas s6 ‘midamente detectado até agora, vamos encontrar no dominio das culturas ¢ re: os valores indi e propagam através do mundo, sofrem localmente mo cages que dio origem a novas formas. Ora, ¢ esté af o ponto inapercebido, essas formas modificadas ou novas podem pas ‘ar, por sua yez, para a cultura dominante e nela figurar como tlementos modernos de pleno direito. A aculturagéo 4 moder- nidade de cada cultura particular pode, assim, deixar um pre- tado duradouro no patriménio da modernidade universal. ‘Além disso, o processo 6, por vezes, cumulative, no sentido de {que esse mesmo precipitado pode, por sua vez, ser transfor mado numa aculturagio subseqiiente. Nio se imagina por isso que, a ideologia moderna dilui-se ou di trério, 0 fato notivel, e preoct € que a combinacao de elementos hgterogéneos, a absorgao pelo individualismo de ele- ‘mentos estranhos e mais ou menos opostos, tem por resultado ‘uma intensificagao, um recrudescimento em poténcia ideol6- gica, das representacées correspondentes. Estamos aqui no ter. reno do totali combinaco involuntéria, introduzi esta digressio, que € do ideolégico contempordneo € tecido da interagao de culturas que teve lugar desde, pelo menos, o final do século XVIT € feito das agées e reagdes do individualismo ¢ de seu contr tio, Nao é este o lugar para desenvolver esse ponto de vista é prematuro fazé-lo; ele & somente o resultado geral da pesquisa empreendida até agora ou, melhor dizendo, a perspectiva sobre a qual ela se debruca, como uma nova ver fente a explorar. Isso 6 acompanhado de um deslizamento do ponto de vista em relagio a0 plano do vocabulirio, de um cero embarago, 0 prego pago pelo caminho percorrido. Para comegar, procurouse isolar © ‘que & caracteristico da modernidade, em oposicao a0 que a recede e ao que com ela coexiste, e’descrever a genese desse algo a que chamamos aqui individualismo. Durante essa etapa, hhouve a tendéncia acentuada para identificar individualismo ¢ modemnidade. © fato macigo que ora sc impbe € que © no mundo contemporineo, mesmo em stia parte “avancada “desenvolvida” ou “moderna” por exceléncia, ¢ até no plano 0 Individuatismo 3 tio-somente dos sistemas de idéias e valores, no plano ideol6- ico, alguma outra coisa que nada tem a ver com 0 que se definiu diferencialmente como moderno. E bem mais do que isso: descobrimos que numerosas idéias-valores que se accita- ‘vam como intensamente modernas sio, na realidade, o resul- tado de uma histéria em cujo transcurso modernidade ¢ ndo- modernidade ou, mais exatamente, as idéias-valores indivi jas, combinaram-se intimamente. falar de “pés-modernidade” do contemporaneo, mas a tarefa consiste mu sar essas representagdes mais ou. menos hibridas, em acompa- interacdes desde o instante em que nasce- cultural. 1. SOBRE A IDEOLOGIA MODERNA I GBNESE, I iduo-fora-do-Mundo ao Individuo-no-Mundo* Este estudo compGe-se de duas partes. A parte principal trata dos. primeiros séculos do cristianismo. Af se_vislumbram as meiras etapas de uma evolugio. Um complemento ou ept logo mostra, a longo prazo, a culmindncia dessa evolugio em Calvino.** Os primérdios cristaos do individualismo imos decénios, o individualismo moderno apresentou-se cada vez mais, a alguns dentre nés, como um fenémeno excep- ional na_histéria das civilizagGes. Mas, se a idéia do in viduo € tio idiossinerésica quanto fundamental, & necessério primavera de 3€, que as erticas com no foi proposto num seminério sobre * (Oxford, Welfson College, maio’ de 1980) 36 Génese, 1 que se esteja de acordo quanto as suas origens. Para certos autores, sobretudo nos paises onde o nominalismo € forte, ela steve sempre presente por toda a parte, Para outros, ela surge scenca, Ou e de acordo com a tradigao, con- se que as taizes dessa idéia estdo em nossa heranca cléssica e judaico-crista, em proporgdes Para classicistas, a descoberta na Grécia do pensamento confuso ter rendendo-se 0 mito & razii histéria_propriamente dita. Hé uma verdade, sem davida, nessa afirmagio, mas € demasiado estreita, tio estreita que adquire um ar provinciano no mundo de hoje. £ evidente que exige, pelo menos, ser modificada, Para comegar, 0 soci ido age sobre a sociedade inteira e esté em relagio imediata com a aco. Assim procedeu Max Weber. Deixemos de lado, por nossa parte, toda a consideragdo de causa € € estudemos somente as configuragSes de idéias ¢ valores, as redes idcoldgicas, a fim de tentar chegar as relagdes fundamentais nelas subentendidas. Eis a minha tese, em termos aproximados: algo do individualismo moderno esté presente nos primeiros cristéos e no mundo que os cerca, mas no se trata exatamente do individualismo que nos € fami Na realidade, a antiga forma e a nova esto separadas por uma transformacdo to radical e to complexa que foram pi ? © fermento essencial, primeiro, na generalizacio da f6i fem seguida, na sua evolucdo. Nos nossos limit i ismo moderno €, por assim dizer, igo de uma certa espécie, e uma Jenta transformaao numa outra espécie. Nos limites deste , devo contentar-me em caracterizar a origem e assinalar das primeiras etapas da transformacio. Que nos seja desculpada a forma condensada em que apresentamos © que se segue. * Para vermos a nossa cultura em sua unidade e especifici dade, cumpre colocé-la em perspectiva, contrastando-a com ou- tras culturas. Somente assim podemos tomar consciéneia do © Individuatismo que, aliés, deveria ser ébvi ito do nosso discurso ordinério, Assim, quando falamos de ‘ndividuo”, designamos duas coisas ao mesmo tempo: um objeto fora'de nds e um valor.. A comparacio obriga-nos a istinguir analiticamente esses dois aspecios: de um Indo, 0 ‘empirico que fala, pensa e quer, ou seja, a amostra idual da espécie humana, tal como a encontramos em to- das as sociedades; do outro, 0 ser moral independente, auté- nnomo e, por conseguinte, essencialmente néo-social, portador dos nossos valores supremos, e que se encontra em primeiro ugar em nossa ideologia Deste ponto de vista, existem duas espécies de socie Quando © Individuo constitui 0 valor supremo, falo de indi. vidualismo; no caso oposto, em que o valor se encontra na sociedade como um todo, falo de holismo, Grosso modo, 0 problema das origens do individualismo esté em saber como, a partir do tipo geral das sociedades ho- listas, pode desenvolver-se um novo tipo que contradi Imente @ concep¢o comum. Como foi poss como podemos conceber uma transigao ent fersos antitéticos, essas duas ideologias inconcilidve A comparacio com a Indi de dois mil anos, a s ‘os complementates: a sociedade impée a cada um uma terdependéncia estreita, a qual substitui as relagdes constran- gedoras para o individuo, tal como 0 conhecemos; mas, por fo da rendincia ao mundo permite a ple- na independéncia de quem quer que escolha esse caminho? A propésito, esse homem, o renunciante, é responsivel por to- das as inovagGes religiosas que a India conheceu. Além disso, nos textos antigos a origem da instituigio, compreensivel: © homem que busca a ver- es para con- sagrar-se ao seu progresso e destino préprios. Quando ele olha para trés de si, para o mundo social que sbandonou, vé-o a distancia, como algo desprovido de realidade, e a desco- inde-se para ele, nfo com a salvagéo no sen- fe renoncement dans les religions de nde (1959), Génese, 1 , mas com a libertagdo dos entraves da vi la neste mundo. inte basta-se a si mesmo, s6 se preocupa con- pensamento dele & semelhar tensivo dessa nogio de de chamar a atengGo para quem abandona 0 do social dual. A rel © erro de supor que certas mudar a ordem soci amente indiana é deslanchada, a qual teremos tuagio nfo ser que adira & sinamentos de seguinte: se 0 individualismo deve aparecer numa sociedade © Individualism 8 do tipo tradicional, holista, seré em oposigio & sociedade € como uma espécie de suplemento em relagio a ela, ou seja, sob a forma de juofore-do-mundo. Ser possivel pen- sar que 0 individualismo comesou desse modo no ocidente? E precisamente isso o que vou tentar mostrar; quaisquer que ferengas no conteddo das representacdes, © mesmo ipo sociolégico que encontramos na India — 0 domundo — esté inegavelmente presente no fem forno dele no comeso da nossa era Nio hé divides sobre a concepco fundamental di ‘mem nascido do en: © homem é um 7 contradizer concepeGes bem esta- belecidas. Na verdade, nada mais faz do que modificélas e € evidente que 0 primeiro passo do pe deixar para trés 0 mundo soci por exemplo, a clissica Histoire de la Pensée Pc bine, da qual j6 reproduzi algumas férmulas e que classifica, de fato, as trés escolas como diferentes variedades de “‘rentin- cia” (p. 157). Essas escolas ensinam a sabedoria e, para tor- ® George H. Sabine, A History of Political Theory, Londres, 1963, 3° 8. Be MS, 0 Génese, 1 nar-se um sébio, é preciso em primeiro lugar renunciar a0 mundo. Um trago eritico percorre todo 0 perfodo sob diferen- tes formas; é uma dicotomia radical entre a sabedoria ¢ 0 mundo, entre 0 sibio € os homens nio esclarecidos que per ‘manecem escravos da vida mundana. Didgenes opie 0 sébio € 0s loucos; Crisipo afirma que a alma do sabio sobrevive por mais tempo, aps a morte, que a dos mortais comuns. Assim como na India a verdade $6 pode ser atingida pelo renuncian- te, também s6 0 sdbio, segundo Zeno de Cicio, conhece 0 que €' bom; as ages mundanas, mesmo quando praticadas pelo sabio, néo podem ser boas m: eis &s de outros: 1 adaptagéo a0 mundo é obtida pela relativizagdo dos valores, 4 mesma espécie de relativizago que sublinh« ‘A adaptago 0 mundo caracteriza o est © estoicismo médio P , a fixecdo extramundana da dout de Roma exerceram pesados cargos no mii foi percebido como um vizinho préximo de Média e até por Rousseau, que muito Ihe ficou devendo. Entretanto, ndo é detectar a permanéncia do smo quando age no mundo. O ado, deve permanecer indiferente, favizar. Assim disse Epicteto: “Ele pode perfeitamente r [com aquele que sofre], desde que o seu suspiro no yenha do coragao.’ estranho para n6s, mostra que, mesmo quando 0 estéico para ele, do que uma adaptagio secundaria: no fundo, ele define-se sempre como um individuo estranho a0 mundo. Como entender a génese desse individualismo filos6fico? individualismo de uma téo grande para nés que, 1927, p. 65, P- ‘contém a adaptacdo da rentincia ao mundo, cf fenoncement...", loc. clf., segdo 4 © Individualism “1 no caso presente, € correntemente accito, sem mais rodeios, como uma conseqiiéncia da ruina da polis grega e da unifica- 0 do mundo — gregos ¢ estrangeiros ou bérbaros confun- ddidos — sob 0 poder de Alexandre. Sem divida, temos a evento histérico sem precedentes, qual pode explicar muitos tragos mas nfo, pelo menos para mim, o surgimento, a cria- 0 ex nihilo do individuo como valor.’ E preciso olhar, antes de tudo, do lado da prépria filosofia. Nao sé os mestres he- Ienfsticos recolheram e coligiram para seu uso elementos to- mados aos pré-socrat io 56 eles so os herdeiros dos s0- de pensamento que se nos apresen- tam. submersas no periodo el ie a exerce, € gar nha predominio sobre todas as coisas, pelo menos im mente. Platio € Aristét conhecer que o homem & seus sucessores helei ipo indiano de re- ia a priori, mesmo que os dados ientes. uma demonstrago do fato de que a lade extramundana reinava entre as pessoas instrufdas na época de Cristo, tum judeu, Filon de Alexandria. Filon mostrou. aos futuros as cristios como adaptar a mensogem religiosa a um © pagio instrufdo, Ele exprime com veeméncia sua pre- dilegdo fervorosa pela vida coniemplativa do recluso, & qual anseia por regressar, no a tendo interrompido senfo para ser- vir & sua comunidade no plano politico — 0 que ele fez, aligs, com distingao. Goodenough mostrou precisamente co mo essa hietarquia dos dois modos de vida e a da f 2 Génese, 1 © da filosofia pagi se refletem no duplo julgamento politico de Filon, ora exotérico e apologético, ora esotérico © hebraico.* Voltando agora 20 cristianismo, devo ir lugar que 0 meu principal guia seré 0 historiador-socidlogo da Igreja, Erast Troeltsch. Em seu macigo livro, Les Doctri- nes Sociales des Eglises et Groupes Chrétiens, publicado em 1811 e que pode ser considerado uma obra-prima, Troeltsch wha oferecido uma visio relativamente unificada, em seus , de “toda a extensio da historia da Igreja "Se a exposigéo de Troeltsch pode, em certos vedir que seja completada ou modificada, o meu esfor- tid principalmente em tentar atingir, gragas & pers- Pectiva comparativa que acabo de esbocar, uma visio ainda fais Unificada e mais simples do conjunto, mesmo que, de momento, nos ocupemos de apenas uma parte desse conjunto.* 6 familiar, ¢ isolarei esquematicamente alguns tragos criticos. Decorre dos ensinamentos do Cristo e, em se- Guida, de Paulo, que o cristio € um “‘individuo-em-relagio~ Troclisch, ““individualismo absoluto f universalismo absoluto” em relagdo a Deus. A alma indivi- ual recebe valor eterno de sua relagio filial com Deus ¢ nessa relagéo se funda igualmente a fraternidade humana: os cris- tios retinemse no Cristo, de quem so os membros. Essa ex traordindria afitmagio situase num plano que transcende 0 mundo do homem e das instituigbes sociais, ainda que estas TE: R. Goodenough, An Introduction fo Philo Judaeus, New Haven, pen, em Gesan Arad. inglesa: The Soci que, Harper Torchboo! ‘ols. (A tradugto, mais acessivel, con Siva mumerao das ‘tas de Troch: la ‘nn sempre & seasia) fas indicadas no texto remeteréo a essa obra, 0 de Troeltsch © fs presente formulacto. Assim, um socidlogo penetrante, Benjamin Nel ado observado que o interesse nlo so de Troctsch mas dos prin- ensadores alemies dos seculos XIX e XX, a. part fio. da_cristendade primi ‘iow © problem ‘endo nia delas a seguinte: fuma seita ulamundana dew Teja be Frosch, Jelinek. es comparative historical sociologists", Sociological ‘Analysis, 363, 1975, pp. 229240; ef. nota da p. 282) © Individuatismo procedam também de Deus O valor infi ‘a0 mesmo tempo, o aviltamento, a desvalorizagdo do mundo tal como existe: '€ postulado um dualismo, estabelece-se uma tensio que € constitutiva do cristianismo ‘e atravessaré toda a hist6ria Detenhamo-nos sobre este ponto. Para o homem moder- no, essa tensfo entre verdade ¢ realidade tornow-se muito di- ficil de aceitar, de avaliar positivamente. Falamos algumas ve- zes de “mudar 0 mundo” ¢ ficou claro, segundo os seus rmeiros eseritos, que o jovem Hegel teria preferido ver 0 declarer guerra 20 mundo tl como ee 6. Entretanto, rerospec- ivamente, vemos que se 0 Cristo como homem tivesse agido desse modo, o resultado teria sido pobre em relacéo as = seqiiéncias que smentos acarretaram através dos sé- jura, Hegel penitenciou-se pela im- tude a0 reconhecer plenamente a fe ismo ctistio, isto é, da tensio congénita Je fato, se a considerarmos comparativa- ia de “mudar o mundo” tem um ar tio absurdo I possa ter surgido cvlzaglo que mantvere, durante cavelmente, uma distingo absoluta entre a vida prometida fomem e aqutlaque,e de fato, «dee, Ese foscua meer. na enrafza-se no que foi chamado de absurdo da cruz. Recor dome de Alexandre Koyré opondo, numa con do Cristo 20 bom senso do Bi a preocupacdo exclusiva Se ee ane € que as duas religides slo, verdadciramente, religiées univer- fen Cele als theolopleche 0 ato ‘de 8 denon “ Génese, 1 irias, que se pro- pagaram no espago € no am consolacio a indmeros homens. Assim é que ai — ambas sfo verdadeiras, em todo 0 casa, 1e os valores devem ser mantidos fora do vO que neat diana atinge plenamente © 6 dado desde 0 comeco no ctistianismo, € a fraternidade do to e por Cristo, ide de todos que dai sch em sublinbar, termos sociolé: Troclisch sublinha a estr © de conservadorismo rest coisa de um ponto de vis uma série de oposi¢des antes entre este mundo ¢ 0 aléi po e a alma, o Estado 0 ¢ Novo Tes femeto (© que € de César e a Deus 0 qu é io de Deus que devemos dobrar-nos sar, A distancia assim criada 6, fem que se subordina aos valores absolutos. ramundano en- Berkeley, University of ress, 1979 © Individuatismo “ sociedade pagi, depois crista, que nunca deixou de ser holis Essa figura, em que a referéncia priméria, a definigio fund mental engloba como sua antitese a vida mundana, em que 0 individualismo-fora-do-mundo subordina 0 holismo’ normal da la social, € capaz de conter economicamente todas as prin- cipais mudancas subseqiientes, tal como foram formuladas por Troeltsch. O que aconteceré na histéria € que o valor supre- ‘mo exercerd pressio sobre o elemento mundano antitético que ele encerra. Por etapas, a vida mundana seré assim contami- nada pelo elemento extramundano até que, finalmente, a he- terogeneidade do mundo dissipa-se por completo. Todo o campo estaré entfo unificado, o holismo teré desaparecido da representago, a vida no mundo seré concebida como susceti- 1 de harmonizar-se totalmente com o valor supremo, o indi- ‘duo- dda disposigio is Gostatia de acrescentar, pelo menos, uma observacio so- bre 0 aspecto milenar do cristianismo em seus primérdios, Os primeiros cristios do Messias que foi provavelmente fu soas a aceitarem, pelo menos provisoriamente, 0 desconforto de uma crenga que nao era pert situagao delas de fato. gio de movimentos freqientemente denominados’ cargo cul condigoes muito semelhantes as que prevaleciam na P: sob a dominagdo romana. Sociologicamente, a principal dife renga consis, precisamente, no clima extramundano do perio do e, em especial, na orientagao extramundana da comunidade cist, que preponderou duradouramente sobre as. tendéncias extremistas, fossem elas as dos judeus rebeldes ou as do tes apocalipticos, dos gndsticos ou dos maniqueistas. Sob este ado pela com: mundano, com predaminio Por esquemético ¢ insuf pero que tenha tornado ver préximos do rent dos que estamos que acre ecessidades. Na ver- dade — serd necessério dizer 2 —, adaptamo-nos, pelo contrério, a ele. Este seré 0 segundo onde consideraremos, uma por uma, as varias etapas dessa adaptagio. Como a mensagem extramundana do Sermfo da Monta: nha pade exercer uma ago sobre a das instituiges, a relagio foi estabelecida pela Igreja, que po- demos ver como uma espécie de ponto de apoio ou de cabeca- de-ponte do divino e que s6 se ampl da lentamente € por etapas. Mas precisa instrumento intelectual que permitisse pensar as terrenas a partir da verdade extramundana. Em: ‘muito no fato de os primeiros Padres tere 0 fia de Deus como Lei da Natureza , que reina uniformemente sobre todas as coisas e como lei universal do mundo ordena a natureza, pro- duz as diferentes posigdes do ciedade, ¢ tornase no homem a lei da razio, a qual reconhece Deus A Lei da Natureza comanda, de uma parte, a submissio a0 curso harmonioso da natu teza e 20 papel attibuido a cada um no sistema social; e, de outra, a elevacio interior acima de tudo isso, a liberdade ético- religiosa ¢ a ide da razio, a qual, sendo una com Deus, nfo poderia ser perturbada por nenhum evento exterior ow sensivel” (p. 52). Poderfamos obi afirmada por Tr vam amplamente © Individualismo is escolas de pensame adament se derivam todas as izagao da vida no mundo. Em Buda ao homem-no-rmundo co- : a moralidade subjetiva e a sulagdo entre a vida no mundo ¢ os man- Cristo © principio de todo o desenvolvimento poste Zenio de Cicio — mais um profeta do que um gundo Edwyn Bevan"? —, 0 Bem é 0 Pendente de todas as circunstincias exteriores. O tinico Bem € interior ao homem. A vontade do individuo € a fonte de sua dignidade © de sua integridade. Desde que ajuste sua von- tade a tudo o que o destino possa reservarhe, ele seré salvo e staré protegido de todos os ataques do mundo exterior. Como no mundo reina Deus, ou a Lei da Natureza, ou a ta- 70 — a natureza converte~e em raziio no homem — é a esse mandamento que Troeltsch chama a Lei da Natureza absoluta. nguanto que 0 sabi permanece indiferente as es, ele pode, entretanto, distinguir entre ow menor identidade com a natureza, cu com a razio: algumas agdes sio relativamente recomen- diveis em relagdo a outras e, no entanto, valores — valores relatives — podem ados. Af esté, em embrigo, a Lei da Natureza rela sera to amplamente ui Génese, 1 © absoluto € o relativo, correspondem ‘da humanidade, em estado ideal e em estado real. ira imagem € 0 estado de natureza — coino na cosmo~ polis ideal de Zeno ou, mais tarde, na utopia de Jambulos*® — que os cristéos identificaram com'o estado do homem antes da Queda. Quanto ao estado real da humanidade, ‘© paralelismo entre a justificacdo por Séneca da como resultantes da perversidade dos homens e, a0. mesmo tempo, como forma de as prev Ges semelhantes dos cristdos. O que Troeltsch cor € 0 aspecto racional, a saber, que a razio possa ser aplicada as_instituigdes é-las, levando fem. conta 0 estado pres jade, seja para conde- né-las como contrérias & natureza, seja ainda para as temperar cou corrigir com a ajuda da razio, Assim, Origenes contrapés a Celsus que as leis posi que contradizem a lei natural néo merecem o nome de (Caspary, op. cit., p. 130), 0 que justificava os cristios em sua recusa de prestar culto ao imperador ou de matar a ser- vigo dele. Hé um ponto sobre o qual o livro de Troeltsch pede uma ‘adenda, Ele nio reconheceu a importincia da realeza sacros- santa na época helenistica e subseqtientemente, A lei natural std, enquanto “nao escrita” e enguanto “animada” (empsy- ‘chos), encarnada no rei. Isso esta claro em Filon, que fala de “leis encarnadas e racionais", ¢ nos Padres da Igreja. Se- gundo Filon, “os sbios da historia antiga, os patriarcas e os pais da raca apresentam em suas vidas leis no escritas, que Moisés passou mais tarde a escrito... Neles, a lei consuma-se (Hirzel in Troeltsch, nota 69). E Clemente ‘inspirado pela lei e, assim, um homem régio”."* Esse trago 6 importante Porque estamos ai em contato com 0 tipo primitivo, sacros- santo, da soberania, 0 do rei divino ou do ret-sacerdote, uma 0 Individuatismo 0 representagio muito divulgada, a qual estava presente no mun- do helenistico ¢, mais tarde, no império bizantino™ e que ire- mos reeneontr As concepgies ¢ atitudes dos primeiros Padres em maté- ria social — sobre 0 Estado e o principe, a escravatura, a propriedade privada — so, o mais freqiientemente, estudadas pelos modernos em separado e de um ponto de vista interior 20 mundo. Podemos compreendé-los melhor, de um ponto de vista extramundano, se nos lembrarmos que tudo era petce- ido a luz da telagdo entre o individuo e Deus e de sua co comitante, a fraternidade da Di que o fim a mo estava numa relagio ambivalente com a vida no mundo, pois 0 mundo em que o cristio peregrina nesta vida 6, a0 ‘mesmo tempo, um obstéculo ¢ uma condigéo para a salvagio. © melhor € aceitar tudo isso hierarquicamente, pois a vida no mundo néo € recusada ou negada de um modo direto, 6 apends relativizada em relagdo a unio com Deus ¢ a bea- titude no além a que o homem esté destinado. A orientagio ideal para o fim transcendente, como para um imi, produz tum campo hierérquico no qual’ devemos esperar encontrar si tuada cada coisa mundana. ‘A primeira conseqiié Imesmos mas somente em relagéo a0 fim, podem ocorrer va- riagées de grande amplitude, segundo o temperamento de cada Pastor ou autor ¢, sobretudo, de acordo com as circunstincias Em vez de procurar regras fixas, conviré mais localizat em cada caso. os io permitida. Eles sio claros em principio: de um lado, 0 mundo néo deve ser pura € simplesmente condenado, como foi pelos heréticos gn do outro, nao deve usurpar a di pertence @ Deus. E podemos supor que causa, Ao estudar a exegese de Origenes, Caspary mostrou. admiravelmente como (0 que me parece set) a oposicdo fun- damental age em diversos niveis e em diversas formas, e cons F. Dvornik, Early Chy id Byzantine Political Philosophy. Ori- ms and Background, Washington, 1966, 2 vols 50 Génese, 1 titui uma rede de significagao espiritual, uma hierarquia de correspondéncia.” O que é verdadeiro para a hermenéutica bi- blica pode aplicar-se também & interpretagao dos dados brutos, ia, Dizia eu ha pouco que se pode tomar as coi- indo como hierarquizadas de acordo com sua r tematicamente exposto em nossas fontes mas ha um aspecto, pelo menos, em que a diferenga de valor relativo deve ser subvertera 0 primado tradicional das relagdes substituinds-o pelas relagdes entre os homens bre este ponto, a atitude dos primeitos cristdos vidas, porquanto as coisas apenas constituem meios ou estor- vyos na busca do reino de Deus, ao passo que as relagdes entre homens baseiam-se em individuos feitos & imagem de Deus € destinados & unigo com cle. Talvez seja nesse ponto que o contraste com os modernos esta mais matcado. ‘Assim, podemos supor (e constatamos) que a subordina- ‘slo do homem em sociedade, seja no Estado ou na escravatura, apresenta questées mais vitais para os ptimeiros cristéos do que a atribuigo permanente de possesses € pessoas, ou scja, a propriedade privada das coisas. Os ensinamentos de Jesus sobre a riqueza como impedimento € sobre a pobreza como adjut6rio da salvacio, dirigem-se & pessoa individualmente. No nivel social, a regra secular da Igreja é b tratase de uma regra de uso e nfo uma regra de propriedade. importa a quem a propriedade pertence, desde que ela izada para o bem de todos, sobretudo daqueles que sio Instit,, II, 21, contra 0 comunismo de e nio de circunstincias exteriores. vvras felizes, como 0 amor no seio da comunidade’ acarretava © desprendimento em face dos bens (nota 57 ¢ p. 115 ¢ 88. 131 e ss). Por tudo o que sabemos, podemos supor que na auséncia de toda a insisténcia dogmética na matér © Indi 0 st ss, pequenas ¢ em grande medida a i, terio po- , algumas, tal- iGo de ajudar os Sicos e outros tinham declarado os homens iguais enquanto seres racionais. A igualdade crista estava, talvez, mais profundamente enraizada, no préprio coragio da pessoa, mas era, mesmo le extramundana: “Nao tir mem judeu nem grego... nem escravo nem ho- nem macho nem {éi 1a verdade sois todos um homem em Jesus Cristo’ € Lactancio: “Ninguém, aos olhos de Deus, é escravo ou senhor... Todos nds somos... seus filhos.” A escravatura era coisa deste mun do, mas pessoas pat io do proprio principio 1@_contradigao. inerent proprio Cristo para redi le e converter assim a humildade numa virtude cardeal para nés. Todo o esforgo no erfeicao estava voltado para o interior, como’ con- isso é muito bem vis- da exegese de Orige- icos so interpretados como tior do ctistio (Caspary, op. cit.). tratamen- seat is € governada pelas concep- mas © poder que promulga as leis ite © considerado divino.” De fato, natural e a realeza sacrossanta ndo eram tao estranhas todo o poder vem de Deus. Mas no quadro desse prinefpio global ha lugar para a restrigio ou a contradigao. Isso € evi- Carlyle is capitulos separa I ¢ do governo” ¢ da “autoridade sagrada do W. eA. J. Carlyle, A History of Mediaeval Political West, tomo I, por A. J. Carlyle, “The Second Century 05, Génese, 1 so para uso, nfo para abu- im julgamento de Deus ram 0 poder que_rece- beram de acordo com suas impiedades ¢ nao de acordo com a lei lo] nfo fala desses poderes que perseguem a f6, pois nesse caso seria necess er: “Cumpre obedecer a Deus € no aos homens” ie do poder em geral (Troeltsch, nota 73) Vé-se que, neste caso, 1 a va_ultrapas- sou seus limites € enttou em conflito com 0 valor absoluto. Embora contrétia ao valor siltimo dos cristaos, nacao pol © encontrava cio na Lei da Natureza relativa. Assim disse Irinew hhomens cafram {longe] de Deus... Deus impdsthes 0 feio do medo de outros homens... para impedi-los de se entredevora- Fem como peixes.”. O mesmo ponto de vista foi aplicado por Ambrésio escravatura, um pouco mais tarde, talvez porque se apresentava como esti nto que 0 Estado era uma ameaca para a Igreja como um todo. (E noté: vel que uma explicagao semelhante no tenha sido dada da propriedade privada, exceto por Joo Criséstomo, que era um ersonagem excepcional.) Também neste caso hé lugar para eerta variagio. Por uma parte, o Estado e 0 imperador sio aprovados por Deus como tudo 0 que existe sobre a terra. Por outro, o Estado est para a Igreja como a terra pata o cé € um mau principe pode ser, muito simplesmente, uma pu so enviada por Deus, Nao se pode esquecer que, em geral, a vida sobre a terra depois do Cristo ele inaigurou uma etapa de transigio entre 0 estado ‘dos homens ainda nfo resgatados do Antigo Testamento € 0 cumprimento pleno da promessa esperada com o retorno do Messias (Caspary, op. cit., pp. 176-177). No intervalo, os homens 6 tém o reino de Deus em si mesmos. ‘© nosso problema e seu génio t pressentido infalivelmente e como que em esbogo todo 0 de- senvolvimento vindouro. A grandeza desaconse- tha um tratamento sur esentes, tenho n cessidade de um obj culo 1V, além de obrigar a vel um Estado cristo? Voluntariamente ou nio, a Tgrei fa colocada frente a frente com o mundo, Estava fel por ver que se punha fim as perseguicdes ¢ tornavarse uma instituicao oficial prodigamente mada. Nao podia continuar a depreciar o Estado to livremente quanto o fizera até entio, Estado tinha, em suma, dado um passo fora do mu nna diregio da Igreja mas, ao mesmo ‘mais mundana do que fora até estrutural do Estado foi mantida, embora mat A Tatitu- de para a qual chamei a atenco aumentou no sentido de que se tornou possivel julgar o Estado mais ou menos favoravel- mente, segundo as circunstancias e os temperamentos. Os con- flitos no estavam excluidos mas seriam doravante internos, tanto para a Igreja quanto para o império. A heranga da realeza sacrossanta helenfstica devia inevitavelmente colidit com a pretensio da Igreja de continuar sendo a instituigo su- perior. Os atritos que se produziram em seguida entre o im- erador ¢ a Igreja e, em especial, com o primeiro dos bispos, © de Roma, envolveram principalmente pontos de dou! Enquanto que os imperadores, ciosos de unidade politi sistiam para que fossem proclamadas concessGes mituas, por seu lado a Igreja, seus concflios ecuménicos e especialmente © Papa queriam definir a doutrina como fundamento da uni- dade ortodoxa ¢ no viam com bons olhos a intruso de um Principe nos dominios da autoridade eclesiéstica. Uma suces- En Génese, 1 séo de divergéncias doutrinérias obrigou a a elaborar uma doutrina unificada. Esses debates cul ago de heresia Igrejas de Alexandria e Antioquia, F notével que a maioria desses debates tenha gravitado em torno da dificuldade em conceber ¢ formular corretamente @ unio de Deus e do ho- © seu desenvolvimento a afirmagio de uma mundano e 0 ma dificuldade (0 sagrado nao pode s« claramente no arianismo e no iconoclasma um it Mas Peterson mostrou que @ ado- ima Trindade (concflio de Constan- tinha, de fato, decretado a morte do monoteismo © imperador, a q abundantemente cas0s, consideram a sua declaracio nobre e clara como expon- do simplesmente a justaposico e a cooperagdo dos dois po- eres ou, como prefiro dizer, das duas entidades ou fung6es Admite-se, de certo modo, que ela contém um elemento de hhierarquia mas, como os modernos sentem algum desconforto ao tratar dessa dimensfo, apresentam-na mal ou no sabem ver todo 0 seu alcance. Pelo contrério, a perspectiva comparativa que € a nossa deve permitir restaurar a estrutura légica e @ dignidade da teoria de Gelé: 0 Individualism Igamento divino... [E mais adia Deveis curvar uma cabega submissa perante os mi nistros das coisas divinas e... € deles que deveis receber os meios de vossa salvacao. _A referéncia a salvagdo indica claramente que se trata le consideragio. Note-se a 8 do sacerdote € a potes- Geldsio prossegue: foi conferido do alto e eles proprios obedecem as temendo parecer que sio contrérios a vyossa vontade nos negécios do mundo. Portanto, 0 sacerdote esté subordinado tos mundanos que dizem respeito & ordem pi tistas modernos nao discerniram plenamente € que 0 de considerasdo deslocou-se das alturas da salvacio para ixeza das coisas deste res, pois somente em um ni de uma simples submissio dos reis aos sacerdotes ( mas de uma complementaridade hierdrquica.* ‘Ocorre que encontrei a mesma configuragio na India an- védica. Af, 0s sacerdotes consideravam-se religiosa ou (OF iexos de Gelso foram extras de Carve, op. cit. Pp. 190- 22), A traduslo preferida, entretanto, foi a de ty Press, 1969, pp. The Growth of Papal Government in the Middle Ages, Londres, 1988, Pp. 20.6. rengas importantes entre os respectivos panos de’ fundo, , 08 figis nfo formavam um corpo unido, 0 sobre- de antes, i ha aparecido,) Chegou-se a supor, que a forma comum, a configuragéo em questao 10 simplesmente, a {6rmula I6gica da relagao das duas fungies. ' © outro texto pri encontra-se num tra- tado, De Anathematis ipal_ interesse para ngs esti na explicacio da diferenciagao das duas fungdes, en- quanto que ida pelo Cristo, Antes dele, “existiram, de fato — se bem que num sentido pré-figurativo — homens que foram simultaneamente reis ¢ sacerdotes”, como Melquisede- que. Entdo, ele que era verdadeiramente cerdote’ humana fungoes e dignidades proprias [gentes] sejam salvas por uma humildade salutar.. Foi somente o deménio quem i tura pré-crista. das duas fungdes, de modo que, “os. imperadores pagios fizeram-se chamar pont E possivel que haja aqui uma alusio 20 que restava da realeza sacrossanta em Bizincio. Quanto ao resto, pode-se ver nesse texto uma hipotese inteiramente plausivel sobre a evolugao das ges. Nao é desarrazoado supormos que a soberania sacros nal, por exemplo, a do faraé ou do imperador da ‘em certas culturas, em duas fun nna intengGo de que suas tas desses textos. Tenho que escolher. Um royauté dans nde ancienne” (espec os fexios dados pelos nosis autores parece ‘Lemos ‘em Schwatt:_ offi © Individualism 7 puramente ocasional da diferenciacdo, falar somente de “dois poderes”. Mas a distingdo nao é a melhor expresso de toda a tese de Ge Por outro lado, Congar tem certamente razio temporal de Cidade de Deu hierarquia opGe-se_logicamei como 0 feré mais Mas Congar suste imperador aos bispos no que tange aos res divinae, e conclui que, se o imperador, como crente, estava na Igreja, a propria gre} inha ele). Mantenho que nfo i iso entre a fungdo e seu ja a argumentagéo de Ge € que Carlyle’ reconhece, & sua mancira, ser’ freq ia no imperador e cumpre entender Gelisio como tendo dito que, se a Tgreja esté em o império para os negécios do mundo, 0 império esté em a Igreja para as coisas geral, os comentaristas parecem aplicar a uma proposicao do ano 500 um modo de pensament © muito dife Eles reduzem o uso estrut , da oposigao Caspary chamou a nossa atengio a al de ou isto/ou aquilo, em branco essas formas s6 apareceram, segundo Caspary, mais sobre a clareza e as do que sobre as inter-relagoes” (p. 190). Nés estudamos uma importante formula _ideol6gica E ocioso imaginar que os pronunciamentos de Geldsio tenham solucionado todos os conflitos entre os dois princi gonistas, ou que ele tenha obtido 0 acordo de todos, duradou- Tamente ou nfo. O proprio Gelésio tinha sido levado & sua 3 YypeMLT, Somer, 0. P., Eels du haut Moyen Age, Po is, Ba du Cerf, 1968, wee te eas Moves Aas = Génese, 1 declaragdo por causa de uma crise aguda nascida da_promul- gaglo pelo imperador de uma férmula, 0 Henotikon, destinada @ apaziguar seus siditos monofisistas. De um modo geral, 0s patriarcas da Igreja oriental ndo seguiam cegamente 0 vigé- tio de Sio Pedro ¢, em primeiro lugar, o imperador tinha 0 seu proprio ponto de vista na matéria, Certos tragos mostram que ainda subsistia algo em Bizincio da realeza sacrossanta hielenistica (ef. acima, nota 15), pelo menos para uso préprio do imperador e no palécio imperial, E cerlos imperadores pre tenderam concentrar em suas mos, simultaneamente, a supre- macia spiritual e a temporal, e conseguiram-no algumas vezes. Nao s6, antes de Gelésio, Justiniano, mas depois dele, no ocidente, Carlos Magno © Otio I, cada um & sua mancira, assumiram as fungGes religiosas supremas como parte inte- grante do reino deles. Seria dificil imaginar contradigGo mais gritante da dou- trina de Gelésio do que a politica adotada pelo papado a partir de meados do século VIII. Em 755-754, 0 Papa Esté- vo II, numa iniciativa sem precedentes, saiu de Roma, cruzou 5 Alpes e foi visitar o rei dos francos, Pepino, o Breve. Confirmou-o em sua realeza e conferiu-the 0 titulo de “pa- tricio dos romanos” e 0 papel de protetor ¢ aliado da Igreja romana. Cingjienta anos depois, Leo III coroava Carlos Magno imperador em Si Pedro de Roma, no dia de Natal de 800. Pode-se compreender, de acordo com a situagio geral eles, como os Papas tinham sido levedos a adotar uma linha de agio tio radical. Nao estariamos longe de dizer como Car- Ile que ela thes foi imposta pelas circunstincias. No plano imediato, pode-se resumir o que se passou em dois pontos. Os Papas puseram fim a uma situagéo de humilhacdo, de opressio © de perigo, voltando as costas a ©. substi- tuindo um protetor longinquo, civilizado outro mais préximo, mais eficaz, menos ci esta razio, poderia esperarse que fosse mais décil. Ao mesmo tempo, aproveitavam-se da mudanga para reivindicar a autori- dade polttica soberana sobre uma parte da Ilia. Os impera: ddores ocidentais poderso, mais tarde, mostrarse muito menos déceis do que se esperava e, para comecar, Carlos Magno via provavelmente 08 direitos polfticos que assegurava ao Papa © Individualismo 53 como constituindo somente uma espécie de autonomia outor- gada sob a sua propria soberania. Ele afirmou o seu dever de no 86 proteger mas também dirigir a Igreja. Para nés, 0 que € essencial € 0 fato de os Papas se arro- gatem uma fungdo politica, como ficou claro desde 0 comego. Segundo o professor Southern, a0 comentar ia primeira vez na hi uma autoridade p € territétios da “repablica dos romanos”, sem que se distinga nitidamente entre direitos e poderes privados e piblicos, mas © exarcado de Ravena esté incluido. Nao podemos falar ainda de um Estado papal, se bem que exista uma entidade p romana, Um documento falso, talvez um pouco posterior, a chamada doagéo de Constantino, exprime claramente a preten- so papal. Nesse texto, o primeito imperador cristo teri 315, transmitido ao bispo de Roma ni Latrao, extensas terras_patrimor sobre todos os outros bispos como “‘papa universal”, mas tam- bém o poder imperial sobre a romana e as insfgnias € privilégios imperiais.** Do nosso ponto de vista, 0 que importa aqui, em pri- meiro lugar, € a mudanga ideolégica que assim se vé comegar © que seré plenamente desenvolvida mais tarde, de um modo totalmente independente do futuro reservado, de fato, & pre- tensio papal. Com a reivindicagio de um direito inerente 20 poder politico, introduz-se uma mudanga na relagio entre o divino 0 terreno: 0 divino pretende agora reinar sobre 0 mundo por intermédio da Igreja, ¢ a Igreja torna-se mundana num sentido em que nfo o era até entao. Os Papas, por uma ‘erica, anularam a formulagio légica por Gelésio da tr. Socety hunch in the Middle Age, Londres Penguin Books, 1970p, 0; ef Pater Parte, The Lands of St. eter, Londres, 1972, pps AL, Pett Parnes The Lands

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