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Hans Belting SEMELHANCA E PRESENCA A hist6éria da imagem antes da era da arte 1. IntRoDucAo a. © Poder das Imagens e as Limitacdes dos Tedlogos ‘Todas as vezes que as imagens ameagaram conquistar uma influéncia indevida dencro das igrejas, os tedlogos tentaram despidas de seu poder.’ Tao logo elas ficavam mais popu lares do que rornavamse indesejaveis. Nunca foi ficil controlilas com palavras porque, como 0s santos, elas favoreciam uma experiéncia em niveis mais profundos, bem como satisfaziam desejos para além dos que as autoridades da Tgreja eram capazes de atender. Portanto, quando 0s tedlogos abordavam questdes referentes és imagens, invariavelmente confirmavam uma pritica jd existente, Em vez de apresentarem-nas, estavam mais propensos a banilas. S6 depois que os figis resistiam a todos esses esforcos contra suas imagens favoritas ¢ que 5 cbes que controlassem 0 acesso a instituigdes da Igreja e comegavam a agir diretamente em nome de Deus, tedlogos concordavam em estabelecer condigdes ¢ lis clas: eles 86 ficavam satisfeitos quando podiam “explicat” as imagens. Desde os tempos primitivos, 0 papel das imagens tem se tornado aparente a partir das agdes simbélicas desempenhadas tanto por seus defensores, quanto por seus oponentes. Elas se prestam igualmente a serem expostas e veneradas, bem como profanadas e destruidas, Como substitutas daquilo que representam, funcionam especificamente para possibilitar demonstragdes piblicas de lealdade e deslealdade. Profissdes de fé publicasfazem parte da disciplina que toda religito requer dos seus fii. Os cristlos freqientemente perseguiam hereges e descrentes, acusando-s de, secretamente, profanar imagens sagradas. ‘A tais profanagées, as imagens “feridas’, como Leopoldo Kretzenbacher as chamou, rex- iam como pessoas reais, chorando ou sangrando. Sempre que os descrentes tocavam fais riais da f€ como imagens, reliquias ou a Eucaristia, confirmavamse como judeus, simbolos mater sabotadores da unidade da fé que, em principio, nio tolera nenhuma infragio. Assim, tio logo um culto de imagens comegava a florescer,¢s minorias passavam a dde serem denunciadas como seus agressores. Os exemplos vio muito além da Reform: Joseph Roth descreveu a ocorréncia de ais eventos na Galicia ver com medo recentemente, ‘As imagens suscitavam um tipo diferente de controveérsia quando as partes discuriam sobre a apresentagio “correta” ou “incorreta” das mesmas. Nesse caso, a questo eraapureza + lareja do Ocidente e a do Oriente discordavam tanto sobre a iconografia das imagens quanto sobre a linguistica, como na controvérsia filioque, Ao proclamar 0 em 1054, o niincio apostélico criticou os gregos por hha cruz, caracterizando, com isso, Jesus como 1 para © Concllio de Ferrara-Florenca, da fé. As vezes, cisma da Igreja em Constantinopla, apresentarem a imagem de um homem mo Tral morto. Igualmente, quando os gregos foram j cin 1438, foram incapazes de orar diante das imagens sagradas do Ocidente, cuja forma nio thes era familiar, Assim argumentou o patriarca Gregorio Melissenos contra a proposta de a: "Quando entro numa igreja latina, nfo posso orar para nenhum dos santos st0, no posso As uniao da [grej li retratados porque no reconhego nenhum deles. Embora reconhega Cri rem orar para Ele, porque nfo reconhego a maneira como esta sendo representado”. s em fazer associagdes com as imagens centrais de uma seita religiosa que nao a sua reserv: propria revelam o medo da contaminagao. ‘A teologia do periodo da Reforma enfrentou questdes dificeis quando os calvinistas aholiram as imagens e 0s luteranos as modificaram (cap. 20). O que estava em jogo funda- mentalmente era a tradicio da Igreja, mas como também aconteceu num contexto diferente, em Nicéia, em 787, a tradigo nao tinha uma voz tinica na questao das imagens sagradas. Pa iveis, ¢ parte se via na necessidade de eje' icavam uma tradigio impoluta, vista geralmente como aquela que abrange a identidade te da Igreja via a si mesma em suas imagens v esmas imagens. No séc. VIII, como também no XVI, ambos os lados reivin- far esas mé de uma religiio, Uma vez que nao existia nenhuma atitude com relagio as imagens no cristianismo primitivo, tornou-se necessirio definir tal tradicdo antes de prosseguir. O debate sobre as imagens provocou também uma controvérsia sobre a verdadeira natureza dda espiritualidade, que parecia ameagada pelo “materialismo” do culto as imagens. Mais tarde, quando a discussio girava em torno de se a justificativa se dava pela fé ou pelas obras, 6 culto ea doagio de imagens passaram a ser incluidos entre as obras. Do ponto de vista do catolicismo, os protestantes nao eram menos seus adversirios com relagio as imagens, quanto os turcos, j4 que ambos os grupos desonravam aque com as quais © catolicismo se identificava. O medo da perda do poder institucion’ que as imagens representavam também era evidente. Os albigenses ¢ os hussitas s: R imagens da ContraReforma foi um ato de reparacio a elas, opunham a elas, embora seu alvo real fosse a instituigao que estava por tris delas. ciprocamente, 0 culto a com cada nova imagem pretendendo preencher, simbolicamente, o lugar do qual wm outra tinha sido expulsa. © uso polémico das imagens culminou na figura de Matis pois foi ela quem possibil fou a apresentacao em termos v iveis das diferengas dou trindrias entre catélicos e protestantes. Antigos icones da Virgem, agora novamente reverenciados, serviram, a seu modo, para validar uma tradigao baseada na fora de stua idade, As colunas marianas, erigidas em publico como as pinturas em outros tem pos, eram também monumentos ao triunfo ¢ a instituigio da Igreja. O Estado, como defensor da Igreja, também se associava as imagens e a seu culto. Assim, quando, em ISIS, os revoltucionarios derrubaram a coluna mariana em Praga, estavam reagindo mais fortemente contra o poder dos Habsburgos, com o qual eles identiti que contra a religi avar-na, do 10 que ela representava oma, PrOCUTAMOS apontar alguns pectos relativos aos papeis historicos das Imagens, uma wee que a teologia sozinha nio pode delas dar conta, A questo com que nos deparames, portante, ¢ como discutilas ¢ quais seus aspectos devemos reforgar, Como sempre, « resposta depende dos interesses la pessoa que esta analisando o assunto, Dentro do campo especiali: ido do historiador da arte, as imagens sagradas sio de interesse somente ponte foram colecionadas como pinturas ¢ usad mentando a arte. Quando, entretanto, foram tra as opinides dos criticas de arte no foram procuradas. pant formular ou ilustrar regras regula sadas batalhas de fe em torno das imagens, So nos tempos moderns & que se tem argumentado que as imagens devem ficar dio obras de arte. entas em cisputas, ma ve Oshistoriadores de arte, contudo, podiam nio ser justos sobre 6 assunto, caso se limitassem analise dos pintorese estilos. Nem tampouco sio tedlogos tio bem qualificades como pole parecer, Eles discutem © sutamento dado aagens pelos antigos tedlogos, e nao as imagens em si. O que Ihes interessa, quando entram no debate, & o estudo de sta propria disciplina, 18 og historiadores preferem lidar com textos ¢ fatos politicos out econdmicos, ¢ no com os niveis mais profundos de experigncia que as imagens exploram © manto de competéncia das disciplinas académicas &, entio, insuficiente para cobrir todo esse campo. As imagens pertencem a todas elas, € a nenhuma exclusivamente, A historia religiosa, como esti inserida na Historia Geral, nio coincide com a disciplina da reologia, que lida s6 com os conceitos com os quais os teslogos tém respondico as priticas religiosas. As imagens sagradas nunca foram assunto exclusivo da religido, mas também, (e sempre) da sociedade, que se expressava na religiio ¢ por meio dela. A religito era uma s para ser, como nos dias de hoje, um assunto meramente pessoal O papel real s (por um lon tempo, nao havia outras especies de imagens) nio pode, assim, ser entendido unicanrent realidade essencial dem: ou apenas uma preocupagio das ie imagens religios em termos de contetido teoldgico. Esta visio se baseia na maneia pela qual os tedilogos discutiram adis eu conceito de imagem visual é tio geral que s6 existe no nivel da abstragio Eles tratam a imagem como sendo univer sutilas. al, uma ver que s6 esta abordagem pode pros: uma definicdo conclusiva com significancia teolog imagens, que dese papéis muito diferentes na pritica, foram reduzidas, para beneticio da teoria, a um tinien npenhavam denominador comum, destituido de todos os tragos de seu real uso. Toda teologia das 1 le set conceitual, suplantada apenas pela sua pretens 10 distingue-a da filosofia das imagens que, desde Plata imagens possui uma certa bel uum repositério da fé. Essa alewaca se preocupa com os fenémenos do mundo visivel e com a veracidade das Ideias; nessa pers- pectiva, cada imagem material ¢ 0 possivel objeto de uma abstragio lingitistica ou mental discussio, centretanto, mesmo estando engajada amplamente ness A teologia das imagen sempre teve uma finalidade pritica em vista. Ela supria as formulas unificadoras para um uso de imagens que seria, de outro modo, heterogéneo ¢ indisciplinado. Quando ela atingia seu cbjetivoecaracterizava uma tradiglo, a poeita da polémica se assentava,resultando num acordo mascarado como doutrina puta, no qual tudo parecia, retrospectivamente, claro ¢ simples $6 ocasionalmente, it medida que as polémicas iam ocorrendo, as partes em contenda ad- mitiam que estavam discutindo no so sobre um tipo especial de imagens, como também sobre tum uso especial delas que identificavam como “veneragio”, para distinguilo da “adoragio” das criaturas ao proprio Deus. A referéncia aqui nao era as pinturas comemorativas nas paredes das igrejas, mas as imagens de pessoas que eram usadas em procissbes € peregrinacdes, para ‘quem se queimava incenso ¢ se acendiam velas. Consideravase ser sua origem muito antiga, até celestial, e que eram capazes de operar milagres, fazer discursos proféticos e alcangar vitorias. Embora funcionassem como pomos da discérdia ou como a pedra de toque de crencas, niio tinham status especial em nenhuma doutrina teolégica sobre imagens. Somente as lendas de culto thes garantiam seu respectivo status. Mesmo seus oponentes s6 podiam atacitlas e refuta- las teologicamente em termos gerais; niio podiam atacar as imagens especificas em si. Portanto, s6 podemos considerar essas imagens como de culto, ou “imagens santas”, como Edwyn Bevan as denominou em seu livro com este titulo, se adotarmos um modo historico de argumentagio que retroceda até o contexto no qual elas, historicamente, tenham desempenhado seu papel. Essas imagens representavam um culto local ou a autoridade de uma instituigao local, nao as crengas gerais de uma Igreja universal. Quando a estitua da Virgem, em Auvergne (ou seu icone no Monte Atos) era saudada e acompanhada como se fosse uma soberana, atuava como uma santa local, defensora de uma instituigao cue direitos sustentava e cujas propriedades administrava, Mesmo nos tempos modernos, « simbolos locais de uma comunidade pouco perderam de sua forca psicolégica. Ha alguns anos, 0s venezianos celebraram o retorno da Virgem Nicopéia a S. Marco, de onde tin! sido removic Durante a antiga Republica, o icone fora publicamente homenas. ado como a verdadeira soberana do Estado. A historia de seu culto em Veneza remont a Bizincio, onde, em 1203, o icone foi arrancado da biga do general oponente. Para os bizantinos, ele era a encarnagio do seu comandante celestial, a quem os imperadores davam forg precedéncia nas comemoragées de vitoria, Os venezianos levaram para casa esse palidio, que ganharam como fruto da vitoria e que, por sua vez, lhes trouxera a vitéria, como parte da “transferéncia de cultos”, Puseram sua comunidade sob a protegio do icone, tal como 6s antigos gregos haviam feito uma vez com a imagem de Atena de Tréia. © icone logo ficou conhecido em Veneza como a Madona de Sio Lucas. Era visto como um original da época dos apéstolos e acreditava-se que a propria Maria havia posado para ele, Esse “auténtico” retrato era naturalmente o preferido da Virgem, pois a mostrava “corretamente” e fora executado com a sua cooperagio; essa Unica pintura foi investida, por isso, de uma raga especial, Levey tuna existericia inca tony ate Vala propria Nas aiwal Ad demandava proteyio, assin como garantie proteyio, comes auente tag ceriménias de Estado era tevebidla vom se fonse Una pes wager cam cbete, di gute eptewenina A intervengio de an pintor, nese casey cra nya tine cst nd ANE se podia esperar que um pintor reptoduziose 0 moxlelo com autenticlahide So se alaent estivesse seguro dle que cle regintrara o modelo real vign conn a nyestna acuidtacle que hoje tendemos « atribuir & fotografia, como no vaso de Siwy Luwegs, ot ake platar qite os Hes Reis leva mn consigo a Beleny para rettatar a Mae eo Menin autenticidade dos resultados. & que se palin verifier a Esse conceito de veracidade Langa onto che am testenninho por tadigdo, 96 invades pelo cristianismo numa outra ocasido, para provar a autenticitade dos textos la Reveliga Como aplicado ds imagens de Cristo, as lends de veraeidadle ou asseyttravann quie vine dada centr dle cou, our afiemava imagem tinha uma origem sobrenatural ~ na verdade, que ‘votes, anbas ay fends eran que o corpo vivo dle Jesus deixara suit marca fiiea perene, A uusadas alrernadamente para a mesma imagem, © pano com i impresslo da fave de Cristo, que tornou invulnerivel a cidade siria dle Edessa, ¢ 0 stulario de Sta, Veronica, em 8. Pedro de Roma, para onde © mundo ocidental fasta peregtt le tuma trun visto de Deuts, sto importantes exemplos de imageny que tis lenday autentioatan Alem das lendas sobre as origens, havia fendas sobre as visdes, quuando um contenyphe dor reconhecia numa imagem pessoas gute the havian apareeialo ent sonbo, come na lend Jor Constantino identifica as imagens dos apostolos de Sao Silvestre, em que o impe ntino tambens reconheceuo papa, dane alas Pedro e Paulo. Ao mesmo tempo, Co ntante de ditelte imagens pintadas e que também conhecia seus nomes, come sett rept cidade fol a corvesponcdene dlos apostolos na Terra, Neste eas0, a prova de aute do sonho ea im: je de Lenda de culto, a dos milagres, Uma terceita espe weeneuava a presenga supratens res pos a morte por melo de suns imagens, ous poral de santos que realizavam. trando assim que continuavam vivos, Essas lendas tambénn reforgavan o duphe valor o enfatiza, 0 « yworalichale ‘ly aural, Deus ¢ os santos também passaram a tesidirdentio dels, ov idade © permanenela, histdria ¢ qualquer relig capazes de agit, pareciam posse As imagens auténticas parec m poder sobr era esperado, ¢ falavam por meio delas. Ax pessoas alhavany para as imagens con ans importante para o erente do que us nodes abstuatas de expectativa de beneficéne Deus ott de vida além da morte, Os fieis perderam muitos defersores pata sts horas ae necessidade quando o Estado cristdo fechou os templos © santuirios rurais de Fscalapie como tania colegio dle leis, isis. Embora os tedlogos vejam a religito primariamen wits, A aawa 60s figs comuns preocupamse mais em reveber aja pai sets asin na ¢ universal di Virgem se eneaixot facilmente nesie contexte, Quando o figura mate foi consagrado como a igreja de Maria ¢ todos os martires, em 609, ganhou uma imagem de templo” de sua nova padrocira, cuja mio folheada a ouro invocava a aura da curadora de Esculipio., © direito de ferido para este icone. Essas imagens possuiam poderes carismaticos que podiam se voltar contra as instituigdes da Igreja, na medida em que dela fossem excluidas, las protegiam minorias ese tornaram protetoras do povo, uma vez que, por natureza, ficavam de fora da hierarquia, Elas falavam sem a intermediagio da Igreja, com uma vor vinda diretamente do céu, contra a qual ne- nhuma autoridade oficial tinha qualquer poder. Um outro icone da Virgem, mais tarde transferido para S. Sisto, forgou o papa a peniténcia publica, porque tentara indevidamente ilo, conforme aprendemos, foi também tt remové-lo para sua residéncia no Latrio. O icone retornou no meio da noite para algumas pobres freiras que o tinham como sua Unica posse. As mios da Virgem, levantadas na postura suplicante de um protetor, também eram folheadas a ouro, representando sua fungio de portadora das suplicas. A reprodugio de muitas réplicas de icones durante a Idade Média reflete a crenga de que a multiplicagio da imagem original ampliava seu poder. Tais imagens, cuja fama derivava de suas historias ¢ dos milagres que realizavam, nao ‘ém lugar préprio na teologia das imagens. Elas representam as imagens tipicas que eram beijadas e veneradas de joelhos; ou seja, eam tratadas como personagens a quem se abor- dava com stiplicas pessoais. Em Bizincio, o modo de honritlas era conhecido e diferente do modo de tratar outras imagens. Em 824, os imperadores escreveram aos carolingios dizendo que haviam “removido as imagens dos locais mais baixos”, na altura dos olhos, onde seus devotos “poderiam depositar lamparinas e acender incenso”. Durante a segunda controvérsia iconoclistica, portanto, os crentes foram privados de qualquer oportunidade de praticar 0 culto as imagens. Foram deixad: intactas, no entanto, “aquelas imagens colocadas nos lugares mais altos nas igrejas, onde a pintura, como as Sagradas Escrituras, narra [a historia da salvacio]". Naquele tempo os tedlogos francos nao entendiam. sutilezas de uma facgao nem as agressGes da outra, concentradas que estavam as dias er seus proprios modos de venerar as imagens. Os francos condenaram, ent 0, tanto o eu wagens. No final da Idade Mein lental, incluindo entre eles os tedlogos, se deparavam hi tem supersticioso” quanto a testrgio as fis do acesso asi 0 iconoclastas da Europa oci pos com os mesmos problemas que seus antecessores bizantinos e respeitav m os aspectos distintivos que afastavam algumas imagens da doutrina abstrata das imagens como tal Somente as imagens que eram transportadas para fora do mundo material ao qual per- tenciam por uma aura sagrada podiam adquirir poder real. Mas o que possibilitava a uma imagem distinguirse do mundo ordinario e ser tao “santa” quanto um signo ou um agente da salvagio totalmente sobrenatural? Era, justamente, a qualidade de “santidade”, original- ‘mente negada as imagens quando elas ainda carregavam o estigma de serem idolos pagios mortos, e reservada aos sacramentos. Mas os sacramentos também consistem de coisas (pio, 190 jo sacerdotal, Em principio, qualquer coisa podia vinho, 6leo) transformadas pela consagrag dependiam aria um status mais elevado as imagens, pois, se ser consagrada, fato este que neg ao consagradora. Oss radas, estariam cedendo seu poder i instituig acerdores de serem cons seriam entio nao so mais importantes do que os pintores, mas também os verdadeiros au- s imagens. Diferentemente da hierarquia da Igreja, contudo, os santos tores da santidade di de Deus, ou realizadores de milagres também nio haviam sido consagrados. Eles eram a voz Seu mérito residia na sua virtude. por sua propria conta ou por um ato de graca espontineo. E onde residia o mérito das imagens? Ai é que entravam as tudo pela vontade de Deus. Se Deus criou as imagens, nao aplicou a hierarquia estabelecida. sutir isso era tocar num assunto delicado. Tendas de culto, que explicavam Mas obviamente di Os tedlogos, incapazes de conseguir sua reivindicacio por consagracao, apontavam para o “arquétipo” que era venerado na cépia, langando mio, assim, de um argumento filosofico. Protestavam que uma coisa era representar numa imagem um santo que tinha tido um corpo visivel, e outra era tentar representar o Deus invisivel numa imagem visivel. Essa objecio foi respondida pela formulacio da dupla narureza divino-humana de Jesus, da qual, contudo, s6 a Sua natureza humana podia ser representada, Uma imagem indi- reta de Deus era obtida pela representacio de um ser humano histérico o qual implicava a presenca de Deus. Restava apenas a tarefa de postular a unidade indivisivel do Deus invisivel do humano visivel numa tinica pessoa. _Uma vez que Deus fosse visivel como um ser humano, seria possivel produzir uma imagem Dele também, e certamente us: ica. No séc. VII, Anasticio colocou a questio capciosa de quem ou 0 0 crucificado. Se a idéia era acreditar no poder como arma teol6s que deveria ser visto numa pintura de C redentor da morte, a morte que a imagem supostamente atestava nao podia ser nem de Deus, nem do ser humano chamado Jesus (cf. cap. 78). Desse modo, os cristios iam escolhendo seu caminho entre as imagens gravadas do politeismo e o banimento a elas imposto pelos judeus. Para estes, Jeova s6 era visivelment« presente na palavra escrita. Nenhuma imagem Sua lembrando um ser humano dev feita, uma vez que podia ser parecida com os idolos das tribos vizinhas. No monoteismo, © unico modo de o Deus universal se distinguir era pela invisibilidade. Seu icone eram as s rolos do Tora so venerados como imagens de culto Sagradas Escrituras, razio pela qual pelos judeus. Mass condicdes regionais na Palestina nao podiam ser estendidas ao mundo Go Império Romano. O conflito com os cristios judeus foi decidido a favor da “igreja dos gentios”, Com a adogao das imagens, 0 cristianismo, antes uma Igreja oriental, reafirmou suas pretensdes de universalidade no contexto da cultura greco-romana. Com isso, porém, encontrou um rival na pessoa do imperador, que simbolizava uma unidade que tran: cendia a multiplicidade de religides e cultos. Nao foi a toa que foi decl rada guerra contra os cristios somente apés eles se recusarem a fazer da imagem de Estado do imperador um objeto de adoracao e culto. Antes de o cristianismo tornarse a religiio do Estado, 0 it a a " ‘ado, o imperador era a imagem viva de um deus, o deus Sol. Em sua visio oniri Consta o vi s fu: “Co Constantino viu 0 sinal do Deus em cujo nome ele poderia triunfar e ouviu: “Com este signo [signum, vencereis”, © imperador quer a vitéria, nao por meio da imagem de um deus, mas sob o signo do Deus invisivel. Assim ele permaneceria como a imagem viva de Deus, enquanto instituia 0 uso militar da cruz, que servia como simbolo da soberania do Deus cristéio. Essa separagio de imagem e signo ¢ refletida na cunhagem imperial. A partir do séc. VI, a imagem do imperador continuou a ser mostrada na face das moedas, enquanto o reverso mostrava o simbolo triunfante da cruz, tornada agora sua bandeira e arma, Por muito tempo, o tinico culto piblico a imagens tolerado no Império Romano (0 foi A imagem do imperador. Foi, portanto, uma mudanga da maior relevancia quando a imagem de Cristo substituiu a do imperador na face das moedas, no final do séc. VII. © imperador, agora intitulado “servo de Cristo”, carrega em suas mios a cruz, que anteriormente adornara o reverso. ‘Umas poucas décadas antes, ele fizera suas tropas jurarem fidelidade no campo de batalha no A sua pessoa, mas a uma imagem pintada de Cristo. Tal evento revela que, no fim da Antiguidade, a unidade do Estado romano e seu povo nfo era mais buscada na pessoa do imperador, mas na autoridade religiosa. A partir desse o momento, o imperador passou a reinar em nome de um Deus pintado. Pelo mesmo proceso, a cruz se tornou o suporte para uma imagem, nao do Cristo crucificado, mas do Deus cristio dentro de um tondo acima dela. E se, no tempo de Constantino, as imagens do imperador eram afixadas a cruzestandarte imperial, agora a cruz era coroada com a imagem de Cristo. Durante a controvérsia iconoclistica, porem, os imperadores reverteram essa tendénci : eles mesmos, nao os tedlogos, baniram as ima. gens cristis em nome da religido, ainda que o fizessem visando seus proprios objetivos. Se a unidade do Estado residia na unidade da fé, tinhase que decidir a favor ou contra a imagens que, dependendo da época, promoviam ou colocavam em risco a tal unidade ‘A disputa que se seguit! foi travada entre a imagem de Cristo e 0 signo da erus dest tuido de imagem. A cada mudanga politica, um substituta 0 outro sobre a entrada do palicio imperial, sempre acompanhado de inscrigdes polémicas. Embora possamos ver nessa contro ‘vérsia uma mera substituigéo de rotulos, na verdade o que estava vindo tona, no linviar ds Idade Média, era um conflito cujas raizes longinquas estavam no uso das imagens durante ‘Antiguidade. © culto cristio as imagens forgara sua entrada no mundo reservado da corte ‘edo Estado, onde o antigo culto as imagens ainda sobrevivia, ¢ adotara os seus direitos, O Deus ino subitamente se tornou um tema para imagens, nfo menos do que o imperador mo fora até entio. Mas a compreensio da natureza das imagens em geral também estava enwolvida, Numa imagem, uma personagem ¢ tornada visivel. Com tum simbolo é diferente Podese fazer a aparicio com um simbolo, mas nao com a ajuda de uma imagem, que implica ambos, aparicio e presenga. Onde Deus esta presente, o imperador nao pode representivlo, 81 56 ‘a antiga antitese entre representar € estar presente, entre tomar o lugar de alguém e ser este alguém” (Erhart Kistner). Nao é por acaso, portanto, que @ batalha entre imagem ¢ a acima do portao do pakicio, por meio do qual 0 impet simbolo tenha sido tr apr ntava a seu Povo. nflito em torno das E dificil sintetizar o « imagens numa simples frase. A dispura . Como qualquer teologica no Concilio de Nicéia teve, sem diivida, relevancia secundari istas, os tedlogos s6 podiam se comunicar usando a sua linguagem es| encialmente a linguagem da teologia para ratificar decisoes junta de espec cializada, embora usassem es jd tomadas em outro nivel. Naquele nivel, a religiao e suas imagens refletiam 0 papel do Estado, tanto quanto a identidade de uma sociedade que ou permaneceria como parte da Antiguidade ou romperia com ela. b. Retrato e Memoria E dificil avaliar o significado da imagem na cultura européia. Se permanecemos dentro do milénio ao qual este livro se refere, somos obstruidos por toda parte por textos escritos, porque o cristianismo & uma religido da palavra. Se nos afastamos desse milénio e entramos no periodo moderno, nos deparamos com a arte no nosso caminho, uma nova fungio que ia da antiga imagem. Somos tao profundamente influenciados pela “era transformou aes da arte” que achamos dificil imaginar a “era das imagen: declarou que tudo é arte, a fim de trazer tudo para dentro de seu dominio, apagando, desse A historia da arte simplesmente modo, a propria diferenca que poderia ter langado uma luz sobre 0 nosso tema. Para evitar faltar para com a historia, mesmo apesar dessas obstrugdes, podemos citar fontes documentais que falam de imagens. Porém, seus autores eram tedlogos, cujo in reresse nas imagens se restringia 4 questio de se elas tinham o direito de existir na lerei Cita cortentes principais do que é conhecido como a doutrina das imagens. A critica moder: am uns aos outros com frequéncia, tornando facil para nés, hoje em dia, distinguir no campo das artes é repetitiva, seja por presunco ou pelo seu oposto; acredita que pox dar as explicacdes necessérias simplesmente repetindo velhos argumentos. Se deixamos pss tras as velhas explicagdes, perdemos o solo firme para nos sustentar; se nos apoiamos nelas contudo, perdemos a chance de ver as coisas em sua luz verdadeira. Podemos apelar par. a antropologi ima percepgio tao firmemente estabelecida da historia de nossa propria cultura que as descobertas antropolégicas continuam a ser tratadas como intrusdes arbitrarias num sist , estudando as caracteristicas bisicas da reagio humana a uma imagem. Mas tem ma jacoeso. Este livro, portanto, segue o ja bem testado curso da narrativa, reunindo material, sequencialmente, para fazer a analise da percepcao historica. Gostaria de prefaciar a presente narrativa com umas poucas observagSes sobre os problemas que ameacam tal estrurura. Em todas as fontes medievais, a palavra-chave memoria ocorre repetidas vezes. Que espécie de memoria ou recordagio ela implica de fato? Segundo Gregorio Magno, a pintura, “como aescrita’, induz a recordacio. “Trazer de volta das Escrituras, meméria” é, antes de mais nada, a com imager representand apenas um papel aia. Imagem ¢ Excite juntas, ecordam o que ac 5 i orddam 0 que acontecet na histéria da salvagio, que é mais do que um fato historico. O mesmo Gregorio decl ci c Gregorio declara concisamente na sua famosa Nona Missiva que se deve venerar ‘aquele a quem ‘ imagem traz 4 mem@ria como uma crianga recém-nascida, ou na morte €, finalmente, na sua gloria celestial aut natum aut passum sed et in throno sedentem|". Essa declaragio oferece uma antecipacio dos problemas que nosso tema apresentard pessoas se dispoem a venerar 0 que é visivel diante de seus olhos, 0 que s6 pode ser ‘uma pessoa, nao uma narrativa. As imagens contém momentos de uma narrativa, embora elas mesmas nao sejam narrativas. A crianga no colo de sua mie € 0 homem morto na ctuz recordam os dois pontos focais de uma vida historica. As diferencas entre eles so 0 resultado de fatores historicos e consequentemente tornam_possivel a recordagao na e por meio da imagem. A imagem, contudo, s6 ¢ compreensivel por meio do seu reconhecimento a partir das Escritura Ela nos faz lembrar 0 que as Escrituras narram e secundariamente ibilita um culto a pessoa e & memoria. pos ‘Alem das imagens de Deus, no entanto, hi as imagens dos santos, um tema mais simples de ser recordado. Os exemplos de suas vidas virtuosis sio o que recordado realmente, mas isto ¢ s6 parte da verdade, Os santos eram lembrados nao s6 por meio de stas lendas, mas também por seus retratos. S6 0 retrato, ou imagem, tem a presenca necessria para a veneracdo, enquanto que a narrativa s6 existe no passado. © santo nao é apenas um mo- delo ético, mas sobrerudo uma autoridade sagrada cuja ajuda é requisitada nos momentos de necessidade da vida terrena. Na historia pictorica de Cristo e dos santos, o retrato, ou imago, sempre teve maior valor do que a imagem narrativa, out historia. Mais do que a historia biblica ou hagiografica, o retrato torna dificil entender a fungio da meméria e de tudo a ela ligado. Nao é bastante ver o retrato de culto como um simbolo da presenga ea figura narrativa como um simbolo «! historia, © retrato também deriva o seu poder de sua pretensio a historicidade, a exiscen de uma pessoa historica. A recordacio, podemos dizer, possuia diferentes ignificados « devemos reunir, ja que nfo sio autoevidentes. ‘As técnicas mnem@nicas da Antiguidade, posteriormente estendidas a Idade Média, si de pouca ajuda. A “arte da memoria” (ars memoriae) foi desenvolvida na retoric: estendida dura mas foi nte a [dade Média a pratica da virtude. Para assegurar uma técni funcional de recordagio, esse método usava imagens interiores, ou invisiveis, que eram memorizacls para tetero fio da memoria, Porém as imagens eram complementadas por a ios visiveis 8 para o fim de treindd da memoria, os quais, por sua vez, serviam s6 como meio ‘Acesfera do culto se preocupa nfo com a arte da memoria nesse sentido, mas com set contetido. O presente esta situado entre duas realidades muito mais significativas: a auto- revelagao historica de Deus no passado e no futuro, As pessoas sempre tiveram conse cia 16 do tempo como o deslocamento entre esses dois polos. Assim, a meméria tinha um cariter retrospectivo e, curiosamente, prospectivo. Seut objeto era nao somente o que jf ocorten, nncia do tempo se torne mas 0 que foi prometido. Fora da religido, essa espécie de remota para nds. te No contexto medieval, a imagem era a representagio ou simbolo de algo que no prese s6 podia ser experimentado inditetamente, quer dizer, a presenga de Deus no passado eno futuro da vida da humanidade. Uma imagem compartilhava com se contemplador um .o qual sé um pouco da atividade divina era visivel. Alcangava, ao mesmo tempo, frente, 0 presente tanto o interior da experiéncia imediata de Deus na historia passada, quanto, tempo prometido que esti por vir. Uma prece citada por Matthew Paris referese ao icone de Cristo em Roma como uma lembranca (memoriale) deixada por Jesus como promess da visio de Deus na eternidade (ver texto 37E no Apéndice). © tema do retrato e da recordagio nao pode ser abarcado nem pelo conceito de “mne- mosyne”, de Aby Warburg, nem pelos “arquétipos” de C.G. Jung. O tipo de recordacio cultural que inclui obras de arte e artistas tem um perfil diferente. Antigas imagens ¢ simbolos do nosso repertério cultural foram, para Warburg, prova da sobreviv Antiguidade. Contudo, a continuidade dos simbolos dentro de uma descontinu da lade do seu uso é um tema que transcende seu campo de estudo, o Renascimento. No nosso contexto, 0 uso de motives pictéricos da Antiguidade que nao podiam pretender nenhum significado religioso durante o Renascimento pode ter sido, em realidade, um modo de se emancipar das imagens icénicas que nos interessam. Quanto aos arquetipos de C.G. Jung, eles estao localizados no inconsciente coletivo ¢ estiio, consequentemente, isentos dias pretensdes das imagens de nosso estudo. E bem possivel que os esteredtipos do nosso estoque natural de imagens tenham sido também descobertos nos icones oficiais da Igrejs (i.e., Maria como mae), mas aqui nao cabe perseguitmos tal argumento. O fascinio do nosso assunto deve-se ao fato de estar, como tema da historia religiosa. tio presente quanto ausente: presente porque a religido crista se estende até os dias de hoje sente porque ela agora ocupa uma posigéo diferente na nossa cultura. S6 ocasiona mente encontramos, hoje, na regio catélica do Mediterrineo, praticas populares que nao sio mais costumes universais desde o final da Idade Média. Uma dessas ocasides foi « proclamagio, em novembro de 1987, de um novo santo que viveu em Napoles e é n enerad igreja de Gest Nuovo, naquela cidade. A canonizagio do doutor Giuseppe Moscati (m. 1927) foi celebrada em Napoles com pompa liturgica e com uma monumental imagem cerimonial, um icone moderno, exposto no altar acima da tumba. A fotografia, maior do que o tamanho natural, preenche um altar-tabernaculo barroco que anteriormente abrigava uma imagem pintada. O traje usado na foto mostra que o santo era um leigo; em outras gravuras distribuidas na época, ele vestia um jaleco de médico. A localizagao da imagem deixa claro o apelo ao culto. A autenticidade inerente de uma foto em devia dar sustenta as alegagdes de aparigito auténtica despertadas pelos iconess a in tuma impressto da pessoa e propiciar a experiéneia de um encontro pessoal. Neste caso, a ti foi ditada pela conveniéncia, Ela tinha que se encaixa 1 das fotos comuns, Por contrast, os icones da Idade Fao ampliagio da foto de Mose formato do altar e assim se diferene Média cram tipicamente do tamanho natural, Suas origens eram muitas vezes cercadas por dos como objetos feitos Tendas, de modo que nao pudessem inequivocamente ser identifi pelo homem. Visto sob esta lu, a foto em Napoles, particularmente com stia aura especial, foi uma solugao pratica, O retrato mantém o santo presente na memoria geral no local de sua sepultura e ¢ facilmente visto por aqucles que visitam a tumba para rezar para ele. (Nao ha necessidade de rezar por ele, como por um mortal comum). foi complementada pela propaganda verbal, apresen- velha pritica do culto aos santos. Panfletos impressos Nese caso, a propaganda pictoric tando dois temas que também seguem contendo a extraordinaria biografia, sempre vista como garantia de santidade, ¢ uma prece pedindo a graga de vida do retratado. O santo, como modelo a ser imitado, é um imicar tema. O outro tema, odo santo como. xilio em tempos de necessidade, foi somente insinuado. Moseati tratou de doentes sem cobrar durante toda a sua vida. Por fim, os visitantes levavam com eles gravuras de recordagio, multiplicando, desta forma, a presenga da foto oficial. Em geral a pessoa historica preenche um ideal préexistente do santo. O médico na- politano é um exemplo dese padrio, Mas, ds vezes, a relagio era invertida, Se a pessoa ais, surgia a necessidade de formular 0 ideal que ela incorporava. Esse podia ser um processo trabalhoso, que pode s do santo nao se enquadrasse nos padroes tradi r ilustrado: por um exemplo famoso. Depois de sua morte, Sio Francisco de Assis recebeu,, uma apos outa, novas aparéncias, porque cle tinha que representar in effigie a iiltima versio do it imagem foi usada em conjungio com a sua biografia (cap. 18a) corrigiram as anteriores em tal grau que as antigas versdes tiveram qu ser destruidas para ocultar as discrepincias. Imagens cerimor 228 ideal de su ordem, Novas biogra ais foram, da mesma form. substituidas por novas, porque o ideal oficial nao podia conter erros. As imagens, afinal tinham de ser nao s6 vist mas, principalmente, acreditadas. Assim, a imagem corrigi cra uma conseqiiéncia da percepgio “correta” que se supunha ter do santo. dade § Arelagao entre a imagem pints ‘io Francisco ea idéia normativa que se tina ce sua pesso nos conduz a problemas de anzilise que nio necessariamente esperariamos ter com retraros. Nosso moderna conceito de pintura de retratos atrapalha. Com as repetidas moditficagoes na aparéncia de Sio F neisco (sua barba ou a auséncia dela, as chagas, sua ostura, atributos e asociages com a aparéncia de Cristo), a “imagem” que o povo tinha des de um “ideal Ha Pessoa era sucessivamente corrigida, Assim é que a funcao do retrato na Propagacio 1a aparente para nds, O icone de Sio Francisco foi ampli citagdes pictori do, como jt havia sido feito antes em Bizincio, por biografia, que circundam © retrato como uma moldura ou um co- de IsRODUGAL mentirio pintado. Elas complem biografia, e com os milagres que at © retrato fisico da semelhanga com o retrato ético da tam a aprovagio do santo. Finalmente, um aspecto ex perimental importante do icone era sua exibigi comemoragio do santo, quando leituras de memorial fornecia & congregagio os exe! nas cerimOnias. Ele era exibido nas datas de 1a biografia faciam parte da ceriménia. A festa na ios de memorizagao dos textos e tinha seu foco € culminancia na imagem memorial, Quando a imagem era venerada, era também realizado co exercicio ritual da memorizagio. Muitas vezes, s6 era permitido 0 acesso a imagem quando havia uma ocas (oficial para honria. A imagem nio podia ser contemplada a vontade, a aclamada somente num ato de solidariedade com a comunidade, de acordo com um. programa prescrito enum dia estabelecido. Essa pritica nés identificamos como um eulto, mas A imagem tinha virias fungdes. Além de definir o santo ¢ honritlo no culto, havia também a fungio relacionada ao lugar onde residia. A presenga do santo local era como que condensada numa imagem corpérea que tinha uma existén. fisica, como um painel ou uma estitua, e uma aparéncia especial como um tipo de imagem, que a distinguia das imagens do mesmo santo em outros lugares. As imagens de Maria, por exemplo, sempre se distinguiam almente umas das outras de acordo com as caracteristicas atribuidas ss cOpias locais. De modo semelhante, os titulos das imagens antigas tém um carter toponimico: elas dio nome ao lu de um culto. A ligagao entre imagem e culto tem, como vemos, muitos aspectos. ‘A meméria que uma imagem evoca se refere tanto a sua propria historia quanto aquela de seu lugar. Foram feitas c6pias com a finalidade de se difundir a veneragao da imagem para ‘alm do seu local, mesmo que reforcassem a conexao entre a imagem original e a sua propria Tocalidade, A meméria ligada a imagem original, portanto, permanecia indivisivel. As cépias lembra aque ela adquirira em (e para) seu proprio lugar, durante sua historia, Nesse sentido, imagem ‘e memoria se tornam um aspecto da histéria oficial. am o original de uma imagem local famosa que, por sta vez, lembrava os privilégios ‘As lendas envolvendo as origens de imagens famosas ajucavam a esclarecer 0 valor de memoria que elas conquistavam por meio de sua historia. Essas lendas referiam- sea mais tip que as cicunstincias historcas que garaniam aparéncia aurentica da pessoa reat da. O mito da origem também contribu ‘parti de sua idade (ou origem sobrenaural). A dade era uma qualidade a ser vista na 1 para o status de uma imagem, que era inferido aparéneia geral da imagem. Sua forma, portanto, também rinks um valor de meméra (real ou ficticio). © arcaismo como uma fiegao de idace € uma di s marcas de identidade que as novas imagens de culto simulavam (eap. 194). c. A Perda de Poder relato do podler das imagens feito até agora nesta introdugao permanece incompleto, pois a outra metade de sua historia nao foi contada. Ela diz respeito a perda de poder das. Fmngune durante a Reforma, Como iso sera discutido em maiores detalhes mais adiante Imagem e seu Novo Papel como Arte B 5 6 ‘Ahem sucedida oposigio as imagens a de que as imagens, de faro, careciam Na 1a anterior impoténcia. A (cap. 20), bastarao aqui umas poucas: reflexdes geri tna Reforma pode ser considerada como evidénci ces dos pregadore interpr de poder, pelo menos no tocante & palavra eserita € realidade, a tomada de poder pelos tedlogos, tardia, confirma cua fungao a teologia formal havia repetidamente racionalizado, tolerincia as image agora chegou ao seu fim. Muitos fatores tiveram relevincia antes que a revolta dos tedlogos contra as imagens ocorresse. Uma explicacao simples nao é possivel. Em tudo que dizem, os tedlogos mera: mente repetem os principios de uma doutrina purificada, deixando de fo se encaixa impecavelmente em sta teologia. Porém, na pratica, eles nos dio uma idéia dos privilégios desfrutados pelas imagens que atrapalhavam o seu caminho. A partir das criticas 1s sobre seu uso prévio. tudo que nao as imagens durante a Reforma, portanto, podemos tirar conclus © que no momento ¢ condenado como abuso era costume aceito anteriormente. motivos para os lideres da A emancipacao das antigas instituigdes foi um dos principai Reforma tornaremsse iconoclastas. Seu programa vislumbrava uma nova Igreja, constituida do pregador e sua congregacio. A atitude liberal de Lurero ainda deixava espaco para imagens, mas eram imagens usadas para propésitos diditicos, para reforgar a revelacio da Palavra (texto 40). Essa limitagio as despia da propria aura que constituia a pré-condicio poderiam e nem deveriam representar nenhur instituicio, para seu culto. Elas no ma Estavam desacreditadas, juntamente com a doutrina anterior, da justificagio dos cristaos por meio de suas obras. A nova doutrina de justificacao somente pela fé tornou supérfluas as doagdes de imagens ou aquelas feitas para elas. Todo o conceito de imagem votiva ruiu, € com ele a alegacdo da Igreja Romana de ser uma instituicao que distribuia graca e privilégios visualmente incorporados em suas reliquias ¢ imagens. O que a nova doutrina deixou n« set lugar foram tedlogos sem poder institucional, pregadores da Palavra legitimados apenos pela sua teologia superior. Quando tudo passou a ser baseado na verdade e na falta ambiguidade, 0 espaco para a imagem, com suas dubiedades, deixou de exis Aidé vantagem para ela. A tradigao nao mais consistia na grande era das instituigdes da Igreja 1a da tradigao, de que a Igreja Romana sempre se orgulhara, tornouse uma de nem longa histéria de interpretagio textual; em ver disso, passou a ser vista como «ju residindo na condi » original da Igreja dos fundadores, que deveria ser restaurada por o de acréscimos posteriores. O renascimento da antiga Igrej periodo do Renascimento, depois das muitas tentati meio da purificag a durante « inglérias na [dade Média, fornecew a justificativa retrospectiva necessaria para novas praticas religiosas reformadas. Com isso, foi estabelecida uma Igreja destituida de imagens que, representada por Paulo, opunha-se adoracio de imagens dos pagios. A ligagao com a antiga Igreja é evidente na fixagio da auréntica palavra de Deus. © pregador interpreta 0 texto biblico somente com base na fé, sem necessidade de se referit 8 exegese anterior da Igreja. Na era de Gutenb a de Gutenberg, disponivel para todos por meio de palavra divina estava, teoricamente, Biblias impressas no vernic vr va, assim, constantemente acessivel, o que slag aes apiamaa presenca direta da palavra bikes, he roe uma verificacao das interpretagdes. A eae ee também permitia ao pregador exercer controle eens 2 sto, as ana esperava que vivessem de acordo com sua te wen Hae oe pela letra do texto, ented como eee cee Ho Espirito de Deus, Contra um texto ti autortirio, it forga; quando substituida pela palavra, ela representa uma ameaga, devido a sua falta de precisio e ao potencial de makentendidos. “ A palavra é assimilada ida e li iperiéns ssimilada sendo ouvida ¢ lida, ¢ nao vista. A unidade da experiéncia ex- terna e intern: wa as mi rerna € interna que orientava as pessoas na Idade Média se desfaz num rigoroso dualismo de espirito e matéria, e também de sujeito ¢ mundo, como demonstram os ensinamentos de Calvino (texto 41). O olho nao mais descobre a evidéns ia da presenga de Deus em imagens ou no mundo fisico: Deus se revela somente por meio de sua palavra. A pal: como portadora do espirito é tao abstrata quanto © novo conceito de Deus _ a religiio se transforma num cédigo de ética de vida, A palavra nao retrata ou mostra nada, mas € um sinal do pacto. A disténcia de Deus torna proibitiva sua presenga numa representa pintada, compreendida com os sentidos. © sujeito moderno, alienado do mundo, vé este mesmo mundo como dividido entre o puramente factual eo significado oculto da metifora. ra Mas a antiga imagem rejeitou sua reducio a metfora; antes, reivindicou ser a evidéncia imediata da presenga de Deus revelada aos olhos aos sentidos. ‘Nesse meio tempo, a mesma imagem repentinamente aparece como simbolo de wma sentalidade arcaica que ainda prometia uma harmonia entre o mundo ¢ 0 ujeto. Em seu lugar entra a arte, inserindo um novo nivel de signifi imagem e a compreensio do contemplador. ‘Aarte se torna a esfera do artista, que assume do entre a aparéncia vistial da controle da imagem como prova de sua arte, A crise da antiga imagem ¢ © surgimente de um novo conceito de arte s40 interdependentes. A mediagao estética permite Um use diferente das imagens, sobre o qual artista ¢ contemp! ador podem concordar entre si. Os sujeitos se apoderam da imagem ¢ procuram, por meio da arte, aplicar seu con taférico do mundo. A imagem, dai em diante produzida de acordo com as regras da arte ito me te decifrada em seus termos, Se apresenta 20 contemplador como um objeto de reflex «+ fonma e o contedido renunciam a seu significado nfo mediado em favor do significado mediado da experiencia estétia € da argumentagio oculta. emplador € expressa, perceptivelmente, nesse momento, ‘A rendigao da imagem ao cont ras quais as pinturas retratam temas humanisticos ¢ @ i woes de arte, no surgimento das coleo6 ison no Se peamo Cleo asin wo damages Pars oes PFDA oe eae loss podiam representa ovis so nfo tu uma realise editasse que els bora ele acre : do mundo visivel pelo sujeito meditante. Os reformadores protestantes nfo criaram essa mudanga de conscigncia visawis & imagem; certamente, com telagio a isso el eram as ctiangas de seu tempo. © que eles rejeitavam em nome da religiio tinha, desde ha muito, per nostalgica, mas apenas para descrever o fascinante processo pelo qual a imagem de culto medieval se tornou a obra de arte da era moderna. joa velha substancia da revelagdo pictorica nao mediada. Nao digo isto com inten. Esse processo também ocorreu no mundo catdlico, e nao s6 como uma reacio critica da Reforma. Nos Paises Baixos, a Reforma ni foi oficialmente introduzida até 1568. Aquela altura, contudo, a transformago da imagem que descrevemos jé havia sido completada havia muito. Para sustentar as pretensdes das imagens de culto na era da arte, a Igreja Romana precisava estabelecer novas ides em relagio a elas. As velhas pretensdes agora tendiam a ser reservadas as antigas imagens, que apareciam como reliquias de tempos passados. Sempre se pensou nelas como imagens dos primérdios do cristianismo e, assim, propostas como uma visivel refutacdo do conceito de tradicao da Reforma. Nestes casos, foi atribuida arte contemporanea a tarefa de oferecer a apresentacio efetiva da velha imagem. Este foi um programa importante durante a Contra Reforma. Como é de se esperar, todas essas apresentacGes da historia contém um elemento de exagero. A humanidade nunca se livrou do poder das imagens, mas este poder tem sido exercido por diferentes imagens, de diferentes formas, em diferentes épocas. Nao ha tal coisa como uma cisao histérica na qual a humanidade muda tio drasticamente. Mas a historia da religido ou a historia do sujeito humano, ambas inseparaveis da historia da imagem, nao podem ser narradas sem um esquema histérico. Certamente, é impossivel negar que a Reforma ea formacio de colegées de arte modificaram a situacio. A es estéti fera forneceu, por assim dizer, uma espécie de reconciliacio entre © modo perdido de experimentar as imagens e 0 que permaneceu. A influéncia mutua de percepcio ¢ interpretacdo, perseguida nas artes visuais e também na literatura, exige a figura do es pecialista, ou connaisseur, alguém que conhece as regras do jogo. Notas |. Este capitulo foi previamente publicado no boletim Orthodoxes Forum (St. Ottilien) 1.2 (1987): 2531 2. V. Laurent, ed., Conecilium Florentinum 9 (Roma, 1971): 250-251.

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