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aaNet Ceconiiescuerlt ses Paro} caste Choco ety Gee Meuc ened all Tan OR Sa TLV Ce) Cece Sarena ase enc Y y ee ES Por que a Franca, um dos bercos da liberdade no mundo, é alvo constante dos extremistas radicais do Estado islamico? DEC Mi eemereMCorecmelee Cai ee Ke ORCC Lee en ROMP Meloni eon Le) 0) COLECAO VERDADES OCULTAS CE Nae a oe C et Ce EC ON ee NO BRASIL Acesse www.escala.com.br e aproveite! varen et # /editoraescalaoficial éscdla IMAGEM PARA A HISTORIA [RECECT EL Em 8 de marco de 1979, um dia apés a lei que impés as mulheres iranianas 0 uso de lencos para sair de casa, a fo- tografa pioneira Hengameh Golestan infiltrou-se no meio da multidéo, com- posta por pessoas de todas as idades, incluindo homens, que foi as ruas de Teera para lutar pela liberdade politi ca, religiosa e também individual. Até entdo, ela havia participado de todos os protestos durante a revolucao, mas na- quele momento sentiu que deveria estar entre 0 povo como profissional, para documentar a Historia do seu pais. Golestan conta que, na ocasiao, levou 20 rolos de filmes e, quando 0 dia acabou, correu para casa para re- velé-los no quarto escuro, Em segui- da, ofereceu as fotos para diversos jornais, mas nenhum as quis, devido a falta de sensibilidade para perceber que aquele seria o diltimo dia em que as iranianas andariam com o ros- to descoberto em piblico. Embora a Imagem para a Hist6ria que captou tenha sido menosprezada por muito tempo, a maior frustragao dela foi a de viver com seus compatriotas a pri- meira grande decep¢&o com os novos governantes pés-revolucio do Ira, pois 0 intento desejado nao foi alcan- gado até os dias de hoje. Depois desse episédio, Golestan conta que ainda tentou documentar a guerra Ira-Iraque, mas foi impe- dida pelas autoridades locais que s6 mandaram homens para a linha de frente, mudou-se para Londres, junto ao marido e o filho, em 1984. A partir dai, mesmo distante de sua terra natal, ela péde ver centenas de grandes fotografas surgir em seu pais, um territ6rio bastante contro- verso, onde grande parte das jovens de geragées que nunca viram mu- Iheres sem véus nas ruas ainda ig- nora a forca das manifestacdes e das reivindicagdes anteriores que, por sua vez, eram permeadas de solida- tiedade e de uma alegria que talvez nunca venham a compreender. m LEITURAS DA HISTORIA | 3 Prout Sopra sumArio\HISTO rd er rey oh hs Per iud: 1 le Wy csnizs LOST [eats (eTocs (aya eC Cay BiH aparentemente, um dos pai: data em que El deu in See enter creer ome men cer mela mais vulneraveis da Europa ee ere PRU ere Cucumis Tae CMCTC CCR Mir Cnt L 6 NATHALIA DINIZ © livro vencedor do Prémio Odebrecht de Pesquisa Histé- rica Clarival Prado Valladares, fruto do trabalho da arquiteta € urbanista potiguar, faz uma analise, a partir do século 18, | da arquitetura rural, da indastria do criatério da cultura material dos sertées do Norte 20 EXERCITO VERMELHO Alguns comandantes da 22 Guerra eram geniais. 0 Marechal Georgi Zhukov, por exemplo, chegou muito mais longe do que qualquer russo nas mes- ADORADORES DE SERPENTES Apesar da proibicao do culto as serpentes nos EUA, fundamentalistas de mais de 30 congregacdes diferentes acreditam que se recuperar de uma pi- cada é um milagre divino, mas morrer é se tornar um. escolhido de Deus 4 | LEITURAS DA HISTORIA mas condicdes poderia imaginar (austme Dee 50 VOTO, URNA E CIDADANIA Embora muitos digam ser indiferentes a politica, esse sentimento é paradoxal, pois ele implica na re- ndincia dos préprios interesses! PRIMEIROS PASSOS DA EXPLORACAO — O processo de colonizacao europeia na América, a partir do século 15, extrapola o ambito dos aven- tureiras e das agées heroicas de alguns homens. A ocupacao foi parte de um conjunto de transfor- macoes econdmicas e politicas que assolavam a Europa naquele periodo 58 ERROS DO TRATADO DE VERSALHES Embora a Conferéncia de Paz iniciada em 18 de janeiro de 1919, tivesse como objetivo pér fim a qualquer possibili- dade de um novo conflito mun- dial, ela se revelou como um dos maiores equivocos diplo- maticos de todos os tempos GOLPES MILITARES NA AMERICA LATINA Embora 0 contexto seja bem diferente, em mo- mentos de crise, princi- palmente politica, nao @ raro ouvir discursos defendendo o regime militar como se essa fos- se a solucao final para impasses e frustragoes intensas com o governo. No entanto, nao da para esquecer que as dita- duras militares simul- tneas em paises sul-a- mericanos, como Brasil Argentina, Uruguai, Chi- le eParaguai, reforcam a suspeita de que o evento nao foi um fato isolado, mas um projeto tanto de combate ao comu- nismo na regiao quanto de aumento da zona de influ@ncia dos EUA no contexto da Guerra Fria Secdes 3 Imagem para a Historia 12 Fatos ¢ registros 18 datas 19 Livioseautores 28 janela parao passado 36 opiniao 38 Guia Histérico 64, Cartas 66 Gente e sociedade EDITORIAL “Ha sempre um limite além do qual a tolerancia deixa de ser uma virtude.” Fraqueza ou loucura? Todo ser humano é vulneravel, ao menos enquanto culti- var o singelo e despretensioso habito de ir fora de casa apro- veitar a vida e a... liberdade! Sob um prisma de Idade Média, seria seguro - e um tanto melancélico — viver enclausurados, protegidos por muros gigantes de castelos colossais cercando as cidades, com os senhores lutando pelas pessoas, ¢ elas, camponeses, reembolsando essas boas aces com batatas re- cém-colhidas. De voltaao presente, além das tapecarias, armaduras emt- sicas de alegres trovadores, experimentamos, desde entdo, an- seios de liberdade. Com muita luta, a humanidade abandonou a vida comum, controlada e “segura”, em favor de permitir a todos os homens e mulheres serem livres e iguais. Infelizmen- te, esse preliidio da sociedade contemporanea nao influenciou todas as cidadelas do mundo. Talvez porque suas paredes fos- sem muito espessas e seus governantes muito acostumados as tradigées de seus pequenos reinos, afinal, tradicbes devem ser respeitadas, mesmo aquelas baseadas na desigualdade entre as pessoas. CONSELHO EDITORIAL Edmund Burke (1729-1797) foi um estadista, eseritore filésofo politica briténico. ‘A Franca sempre foi um Estado laico, cujo lema “liberdade, igualdade, fraternidade” ~ que sobreviveu a revolucao ~ re- vela uma aptidao pelo respeito as ideias alheias. Aquele pais no se preocupa com a religitio de seus cidados, e também respeita a falta dela, além de proteger o direito individual de praticé-las, observando as leis da Repiblica Francesa, ¢ ébvio. Os franceses podem desejar-Ihe Shalom, um grande Ano Novo Chinés, um espléndido hanukkah, ter um feriado pela Pascoa ea Ascensiio de Maria. Isso porque sao respeitosos com outras crengas, 0 que nao pode ser considerado fraqueza ou loucura, embora todo esse respeito os faca alvos frequentes da intole- rancia religiosa do Estado Islamico. Os motivos? Tentaremos entender na reportagem de capa dessa edi¢ao. Sarava, optcha, namaste... paz! Até a proxima edicao, escreva-nos! Valter Costa Jeiturasdahistoria@escala.com.br (© Consetho ea redaconnao se responsabilizam pelos artigos ¢colunas assinados por especialistas e suas opinibes neles expressas) \Valmir Francisco Muraro, professor doutor da UFSC, responsdvel por disciplinas sobre Brasil Colonial, Misstes jesuticas, Teoria da Histériae Coloniza¢do, Cultura e entidade, Publicagdes mais relevantes: Javentude Operdia Catdica: Uma Utopia Operéria, Bibtingratia Critica da Etnografia Guarani. Padre Ant6nio Vieira Retdricae Utopia. Monica Grin é professora adjunta em Histéria Modema ¢ Contemporénea do Departamento de Histéria e do programa de pos-graduacao em Hist6ria Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Area tematica de ensino e pesquisa: p6s-abolicdo, etnicidade, relagdesracias,racismo, antissemitisme, imigrac3o e estudos judaicos.. Ian Esperanga Rocha, doutor em Histéria pela Universidade de So Paul (USP), professor de Historia Antiga junto ao Departamento de Historia da UNESP, campusde Assis. Maria Helena Capelato, professora titular do Departamento de Histéria da FFLCH (USP), professora de Historia da América Independente no mesmo departamento, pesquisas desenvolvidas em Histéria do Brasil e HistGrla da América: estudos comparados, chefe do Departamento de Hist6ria da FFLCH da USP, coordenadora do comit de avaliacdo na {rea de Histbria ~ CNP. PublicagSes principais: 0 Bravo Matutno (em coautoria com Maria Ligia Prado). Ed. Alfa mega, 1982, Os Arautos do liberalism: imprensa Pautista 1920-1945, ed. Brasiliense, 1987 Marcos Antonio de Menezes & professor Adjunto do Depto. (atal) e do programa de pés-graduacao (Goldnia) em Histéria da Universidade Federal de Goias. Doutor em His- tria da Cultura pela UFPR. E membro do conselho edit ‘Metr6poles Contemporéneas. 'da revista ArtCultura, Publicou, em 2000, pela editora Cone Sul, Olhares sobre a Cidade: Narrativas Poéticas das Marcos Antonio Lopes & doutor em Histéria pela Universidade de Sto Paulo e professor do Depto. de Cincies Soci da Universidade Estadual de Londrina. Pesquisador do (CNPa (Bolsista Produtividade em Pesquisa). Coautor de A Peste das Almas: Histrias de Fanatismo (Editora FGV) ¢ autor de Voltaire Poitico (Editora Unesp), Voltaire HISTORIAdOr (Papirus), Voltaire Literdrio imaging). Juli Gratha 6 professor doutor de Histbria Antiga e Medieval da UFF (Campos dos Goytacazes), doutor em Historia Cultural pela Unicamp, mestre em Historia Social pela UFFe coordenador do Nicleo de Estudos em Histéria Medieval, Antiga e Arqueologia Transdisciplinar (NEHMAAT). ‘Sidnel Munhaz & doutor em Historia Econmica pela USP, Professor da Srea de HistSria Contempordnea na Universidade Estadual de Marings (UEM); do programa de pés-gradua- 0 em Histéra (UEM), do Programa de p6s-graduacSo em Histéria Comparada (UFRI) e do Corssrcio Programa Rio de Janeiro de Estudos de RelacSes Intemacionals, Segurancae Defesa Nacional (CPR}-Prodefesa). Principais publicacdes: “Riots and Looting in Séo Paulo City: 1983” LAS, University of Glasgow, 1996, Foi um dos organiradores (com Francisca Carlos Teixeira da Siva) da Enciclopedia de Guerras e Revolucdes do Século XX, Elsevier/Campus, 2004. LEITURAS DAHISTORIA | 5 partir do século 18, as fron teiras territoriais das posses- s6es portuguesas na América, antes restritas as zonas préximas ao litoral, comecaram a alargar-se, com a disseminagao do gado, a introducao da escravidao e a o afastamento das populacées indigenas para os confins da colénia. A partir dai, surgiu o ter: 10 “sertao” vinculado a esse avanco territorial, mas que durante o periodo colonial brasileiro indicava apenas um lugar isolado e distante dos cir- cuitos cotidianos, ocupado por po vos diferentes e insubmissos, ainda carente de um projeto povoador que © regulasse, mas que, 08 poucos, re- uniram-se em pequenos povoados ou fazendas peculiares. 6 | LEITURAS DA HISTORIA Ja no século 20, as reminiscéncias desse local anico despertaram, desde a infancia, o interesse da nossa entre- vistada que, quando adulta, iniciou uma longa pesquisa sobre a arquite- tura e o modo de vida dos habitantes das terras do Piaui, Ceara, Rio Gran- de do Norte, Paraiba, Pernambuco e Bahia, locais onde se desenvolveu uma sociedade baseada na economia agropecuaria sistematicamente igno- rada pelo Estado brasileiro e pela his toriografia do pais Esse trabalho, que teve inicio du- rante a graduacao da autora, mas es- tendeu-se pelo Mestrado e Doutorado dela, trouxe a tona registros interes- santes sobre a economia agropecuaria dos sertées do Norte no século 19, as marcas de ferro utilizadas para iden- tificar os rebanhos, detalhes sobre a vida cotidiana da regiao, inventarios de bens dos proprietarios dos sitios e fazendas, descrices dos bens de raiz e outros objetos, com seus respectivos valores, além dos titulos de escravos que possuiam. Em uma das proprie- dades, por exemplo, a pesquisadora constatou que apenas quatro dos 14 escravos tinham idade acima de 15 anos. As duas mais jovens, de apenas 3. anos, valiam go mil réis, enquanto o mais caro, de 25 anos, custava 150 mil 1éis e o mais velho, de 30 anos, tinha valor de 130 mil réis. Em meio a todo esse levantamento, Diniz venceu o Prémio Odebrecht de Pesquisa Historica - Clarival do Pra- do Valladares, apés ter concorrido, em 2013, com mais de 200 outros projetos. Assim, ela encontrou as possibilidades que a levaram a Portugal para vascu- Thar arquivos e, depois, ao retornar ao Brasil, rodar quase cinco mil quiléme- tros, ao longo de 45 dias, somente para visitar mais de 50 propriedades rurais localizadas nos estados ja citados e que se destacam em uma obra que retine Hist6ria e Arte, com 0 objetivo de con- templar de forma impar a iconografia do sertao brasileiro, a partir de sua pai- sagem natural, humana e arquiteténica tanto de ontem quanto de hoje. a - De onde surgiu o interesse inicial pelas ca- sas sede do sertao nordestino? Nathalia Diniz - Basicamen- te foi uma curiosidade de infancia que despertou meu interesse anos depois, fazendo com que a histéria da pesquisa que iniciei se confun- disse com a minha. Tudo comegou devido a curiosidade que eu tinha, desde pequena, em réplica a Fazen- da Cabaceira, que pertencia ao meu tio-avé e onde, com frequéncia, eu e minha familia passavamos alguns dias de férias. Aquele complexo ru- ral, que se constituia de uma casa, de um engenho de rapadura movido tragao animal, de uma casa de fa- rinha movida a bracos humanos, de um acude e de alguns currais, cau- sava em mim, ao mesmo tempo, fas- cinio e estranhamento. LH - A senhora poderia nos po- sicionar em relacéo ao que chama de fascinio e estranhamento? niz - Sim! Fascinio, pois me pa- recia um complexo demasiado gran- dioso e, por isso, obrigatoriamente, vinculado a uma riqueza digna de proprietarios portadores dos mais altos titulos. E estranhamento por- que aquele cotidiano envolvia um esforco de trabalho que nao corres- pondia as expectativas do que seria uma vida aristocratica. Obviamente, essas minhas impress6es infantis so demonstraram a distancia da minha realidade com a do universo rural do meu estado, 0 Rio Grande do Norte. Pelo contrario, minha ligacdo com aquele rural era de uma crianca que nao fazia a minima ideia de qual era o gosto de um leite cru e, pouquissimas, foram as ocasides que eu me prontifi- quei a provar um gole sequer, Naquele rural, interessava-me, na época, bus- car o minimo indicio que ali viveram aristocratas, mais especificamente sinhds, daquelas retratadas em nove- las. O fato das instalagées de produ- 40 de rapadura e farinha jé estarem sem funcionar ha décadas antes de eu comegar a frequentar a fazenda, também contribuiu para os meus de- vaneios. Portanto, passei a infancia e a adolescéncia construindo histérias que se ambientavam naquele cenario, © que tornava o retorno aquela fazen- da cada vez mais fascinante. Mesmo assim, eu continuava relutante aos habitos de 14, continuava sem tomar © leite cru e sem comer da maioria das comidas servidas, além de nao me aproximar de nenhum animal do sitio. LH - Quando a senhora perce- beu a importancia hist6rica e ar- quitet6nica dos sertdes? Diniz - Em 2000, época em que ingressei no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Logo depois, em 2002, a professora Dr‘, Edja Bezer- ra Trigueiro convidou-me para pattici- par do projeto de extensao Inventario de uma heranca ameacada: um estudo LEITURAS DA HISTORIA | 7 ENTREVISTA | Nathalia Diniz de centros histéricos do Serid6, moti- vada por notar que eu calgava uma chinela de sola, o que a fez concluir imediatamente: “vocé é de Caic6”. Ela adivinhou em parte, pois meus pais meus oito irmaos sao de Caicd, mas eu, a cacula, nasci em Natal, o que no impede que a interpretagio que eu seja de Caicé nao esteja correta. Ora, toda minha familia é de Caicé e, portanto, minhas referéncias vém de 14 e achinela que estava nos meus pés, 0 artefato que levou a professora Edja a tal conclusao, foi confeccio- nada em Caicé a pedido do meu pai, op Cnn me ae Recto que desenhou meu pé em um papel para que fosse feita sob medida. No fim das contas, acabei participando durante trés anos daquele projeto de extensao, que estudava os niacleos de ocupacao original do Seridé, a partir de registros fotograficos e fichas cata- logrificas elaboradas por estudantes e outros pesquisadores. Uma das con- clusdes daquele vasto inventério foi que muitas das edificagées que, em- bora tenham sido construidas poste- riormente, mantinham caracteristicas herdadas da arquitetura produzida no periodo colonial ao lado de elementos ecléticos e modernos. Este foi o passo que me permitiu ir deixando de lado os meus devaneios infantis de tentar encaixar uma histéria aristocratica, fruto do pouco que eu conhecia sobre © mundo rural agucareiro e cafeciro, na Fazenda Cabaceira, pois estava muito claro que eu nao poderia fan- tasiar a historia colonial de Minas Gerais, por exemplo, nas vilas do Seri- dé, A realidade rural do Seridé exigia teflexdes mais acuradas. Ja em 2003, durante uma aula de Técnicas Retros- pectivas destinadas ao estudo de edi- ficagdes de interesse hist6rico, o Prof. MsC, Paulo Heider Forte Feij6 mostrou imagens de uma casa de fazenda nos rincdes do Serid6, Era exatamente a casa fundada pelo pai do fundador da Fazenda Cabaceira, meus fam liares. Nao perdi a oportunidade de relacionar meu parentesco, fazendo com que professor e estudantes qui sessem fazer uma viagem de campo para conhecer tal fazenda. Findamos passando o fim de semana na casa da Fazenda Cabaceira, ocasiao em que © professor Heider explicou cada de- talhe daquela construgao. Este fato contribuiu para que, em 2004, minha monografia de conclusao de curso fos- se o estudo para restauracao dos edi- ficios que compunham a fazenda, sob orientagdo do mesmo professor. Para tanto, eu visitei algumas outras casas de fazenda vizinhas. Elas eram tao en- cantadoras como a casa de fazenda da minha infancia, Em 2005, passei na selecdo de mestrado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universi- dade de Sao Paulo com 0 projeto de es- tudar os exemplares rurais do Serid6. Em 2009, ingressei no doutorado, na mesma instituicdo e com a mesma te- matica. Finalmente, em 2013, fui con- templada com o Prémio de Pesquisa Histérica Clarival Prado Valladares, que possibilitou a pesquisa e publica- ¢40 do Um sertao entre tantos outros. Assim, 0 livro é resultado de muitos anos percorrendo a mesma trilha. = Quando o modo de vida dos habitantes dessas mesmas casas pas- sou a ser também seu objeto de estu- do? 0 que ele nos revela de peculiar? ~ Fui instigada, principal- mente pela historiadora Dr* Marly Rodrigues, a situar na arquitetura pesquisada os seus antigos morado- res. Somente desta maneira eu pode- ria langar um olhar profundo sobre a vida cotidiana sertaneja, j4 que o estudo exclusivo da arquitetura re- vela apenas relances da historia do- méstica. A partir dai, analisei uma série de inventarios post-mortem de uma familia proprietaria de inameras das casas de fazendas que constam no livro. Desta maneira, foi possivel descortinar os meios de vida, os bens e até mesmo uma escala de valores que caracterizavam a vida desses fa- zendeiros. Constatei que, apesar do respeito com que esses fazendeiros eram tratados, como pessoas ricas e de consideravel posicao social, seus haveres compunham-se basicamente de méveis e utensflios indispensaveis ao funcionamento diario da fazenda, sem qualquer traco de luxo, quando comparados aos engenhos de acitcar da zona da mata. FOBIA INFANTIL ~ Como 0 sertao foi inserido no processo de conquista territo- rial do Brasil, tanto colonial quan- to imperial? ~ De modo geral, o termo “sertao” esteve vinculado ao hori- zonte aberto da conquista territorial. Durante o perfodo colonial brasileiro, significava o lugar isolado e distante dos circuitos cotidianos, ocupado por povos diferentes e insubmissos, ain- da carente de um projeto povoador que o regulasse. J4 no Brasil Império, circulava a ideia de que um projeto ci- vilizador deveria vencer a barbarie ali § ENTREVISTA | Nathalia Diniz instalada. Ou seja, 0 discurso durante esses dois periodos histéricos, sem- pre vinculou o “sertao” a um lugar a ser conquistado e modernizado. — Quem eram os sertanejos desses mesmos periodos e como eles se relacionavam com os indigenas e osnegros de suas respectivas regides? A historia da conquista dos sertes ndo foi nada amena. Durante o perfodo colonial houve um alto indice de exterminio indigena, justificado nos documentos oficiais da Colénia como necessario para o processo de ocupacao € estabelecimento de benfeitorias. E, a exemplo das fazendas litoraneas, houve também importagao de escravos africa- nos como forga de trabalho. A relacao de- mografica entre negros e brancos contida nos antigos censos é de espantar aqueles que foram induzidos a pensar que a es- cravidao no sertao nao foi significativa. H - Por que as fazendas de gado eram menos visiveis na légica mercadolégica do Brasil colonial e, depois, imperial? 410 | LEITURAS DA HISTORIA ix — Isso se deu pelo fato deas fa- zendas de gado participarem mais ativa- mente do mercado interno do que exter- no. Ao contrétio dos engenhos de agticar e das fazendas de café, as fazendas de gado nao necessitavam de uma rede complexa para 0 escoamento de seus produtos e, consequentemente, nao mo- bilizavam grandes obras piiblicas. — 0 isolamento dessas mesmas fazendas propiciou outras atividades, como as de beneficiamento? Por qué? iz — A dispersio das fazendas obrigou nao somente a producdo de géneros de primeira necessidade como também 0 beneficiamento de alguns de- les, Assim, havia produgio de rapadura, acicar e farinha, tanto para consumo interno da fazenda como também para comércio local. Alguns produtos ocupa- ram lugar de destaque no mercado serta- nejo, como 60 caso da farinha vinda dos rincdes do Ceara. - Quais eram os materiais usados na construcao das fazendas do sertao e como eram os recintos interiores delas? Ambos se relacio- navam com a geografia do agreste ou ha indicios de que receberam al- guma influéncia dos colonizadores? ~ A pedra, o barro e a madei- ra formam 0 tripé das antigas constru- des sertanejas e suas feigdes as conec- tam prioritariamente ao “saber fazer” tradicional dos tempos da colonizacao. - Como a rede de casas exis- tente na regiao, ainda na época do Brasil Império, relacionava-se com © processo de formacao social dos sertées do Norte? Quem eram os atores desse processo? - A pecuiria foi fundamen- tal para 0 processo de ocupagao dos sertées do Norte e posterior conso- lidagéo daquele territério. Portanto, a dinamica social ali instaurada, re- lacionava-se tamente a cultura de criacéo de gado. Nesse universo posso citar como figuras chaves, os proprietarios e familiares, vaqueiros, moradores e agregados, além dos es- cravos. No entanto, cabia ao vaqueiro a posigao mais emblematica. LH = Quando e como a interde- pendéncia do mundo rural e urba- no foi estabelecida a partir das fa- zendas do sertao? Diniz - Esta interdependéncia sempre ocorreu, pois a ideia do isola- mento rural ¢ fantasiosa. Apesar das longas distancia e dispersdo das fa- zendas no territério, devemos lembrar que estas propriedades eram respon- saveis pelo abastecimento alimenticio dos nficleos urbanos. Além do mais, muitos dos proprietdrios de fazendas possuiam propriedades urbanas e participavam da administragao pabli- ca. Em direcdo inversa, as fazendas também se abasteciam de produtos somente comercializados em algumas vilas e cidades. LH - No que se baseia, em seu ponto de vista, o descaso das au- toridades pablicas no que se refe- re 4 preservacao de um patrimé- nio cultural tao grandioso e que ainda é desconhecido da maioria dos brasileiros? Diniz - Ao que tudo indica, a be- leza sutil e simples da cultura mate- rial dos sertées contribuiu para esse descaso. No entanto, sendo ela agora notada, nao sé pelo meu livro, mas por outras tantas pesquisas desen- volvidas na altima década, inclusive no Ambito dos 6rgaos de defesa patri- monial, faz-se necessario que o poder ptblico ofereca meios facilitadores para que os proprietarios efetivamen- te conservem suas propriedades. Mas é improvavel que isso ocorra sem al- guma contrapartida. LH - De certo modo, a imagem que os leigos tém ainda hoje do ser- tdo se desfaz com sua obra que, por sua vez, foi vencedora do Prémio Odebrecht de Pesquisa Histérica Clarival Prado Valladares de 2014. Este era 0 seu objetivo? Diniz - O meu objetivo era des- tacar a cultura arquiteténica dos sertées do Norte. $6 que ganhar o prémio realizou esse objetivo ex- ponencialmente. As possibilidades proporcionadas sio um sonho para qualquer pesquisador! Desconhego que haja algo semelhante no merca- do editorial brasileiro. Como ele cus- teia todas as despesas de pesquisa, pude percorrer juntamente a pesqui- sadora MsC. Maki Hirai, cerca de cin- co mil quilémetros sert’io adentro, documentando a arquitetura rural da regido, além de ter podido dedicar- me exclusivamente a escrita do livro. Sob a coordenagao da Versal Editores foi desenvolvido um belissimo proje- to grafico, ilustrado com fotografias de Almir Bindilatti e xilogravuras exclusivas de J. Borges. m UM SERTAO ENTRE TANTOS OUTROS Vencedor do Prémio Odebrecht de Pesquisa Histérica — Clarival do Prado Valladares de 2014, 0 livro de Nathalia Diniz, além de trazer belissimas fotos de Almir Bindilatti e xilogravuras de J. Borges, alia Historia e Arte, ambas funda- mentadas em uma primo- rosa pesqui- sa__histérica sobre a ico- nografia do sertdo brasi- leiro, que inclui a paisagem tanto na- tural e humana quanto aarquiteténica de ontem e hoje. Consequentemente, o objetivo da obra é levar o leitor a uma surpreendente viagem pelos sertdes do Norte do Brasil, onde casas de fa- zenda, riisticas e produtivas, revelam um passado esquecido e ainda des- conhecido da maioria dos brasileiros. Com 336 paginas, o exemplar custa RS 180,00. Publicado pela Versal Edito- res, ele pode ser adquirido na pr6pria loja virtual da empresa: versaledito- tes.com. br/loja/livros/um-sertao-en- tre-tantos-outros/ PREMIO ODEBRECHT DE PESQUISA HISTORICA — CLARIVAL DO PRADO VALLADARES Criado em 2003, ele é uma ini- ciativa cultural da Organizagao Odebrecht conferida anualmente a um projeto de pesquisa inédito que trata de tema ligado a Hist6ria do Brasil. Nesse ano, o Prémiocom- pleta 13 anos de apoio & pesquisa historica e produgdo editorial brasileira e, desde sua criagao, ele {a recebeu 1500 inscrigdes, vindas de 23 estados brasileiros. Gracas a ele, uma série de pesquisadores ja contemplados recebeu recursos ne- cessarios & realizacéio completa do seu proprio projeto, que encobriu desde a pesquisa a edicdo de livro ilustrado, sempre com o apurado tratamento grafico que caracteriza a colegao de Edigdes Culturais da Odebrecht, tanto que obras ja edita- das receberam seis prémios Jabuti, um prémio da Associacao Brasilei- rados Criticos de Arte- ABCAe um. da Associacao Paulista dos Criticos de Arte - APCA. Para obter mai: formacGes, acesse: odebrecht.com/ pesquisahistorica/ SOBRE A ENTREVISTA Deneagia, Nathdlia Diniz é natural de Natal, capital do Rio Grande do Norte, apés se graduar em Arquitetura e Urbanis- mo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ela veio para Sao Paulo e ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universi- dade de Sao Paulo (USP), onde obteve tanto © titulo de Mestre quanto o de Doutora em Arquitetura e Urbanismo. LEITURAS DA HISTORIA | 44 Bieortccain NOVOS P PETROGLITOS NA COSTA HAVAIANA 1 Lonnie Watson e Mark Louviere, casal de turistas texanos, durante uma visita a ilha de Oahu, no Havai, descobriram no- vos petroglitos com figuras estilizadas que temetem a humanos, ao longo de 60 pés de praia. Datados em cerca de 400 anos, eles foram criados pelos aborigenes dacosta de Waianae, Segundo os arqueé- Jogos do Departamento de Terrase Recur- 805 Naturais do Havai (DLNR) e do Exérci- to dos Estados Unidos, que tém trabalha- do em conjunto para documentar acha- is on Waanne COAST dos semelhantes, eles ja somam 17 exem- plares, que registram a genealogia ea re- do antigo povo local. Contudo, a interpretacdo dos petroglitos ainda de- pendera dos descendentes diretos das primeiras familias indigenas que se esta- beleceram na regido, pois eles sdo os tini- cos familiarizados com a histéria ea cul- tura ancestral. Quanto a preservacao das descobertas, © arquedlogo norte-ameri- cano Alton Exzabe disse que um plano ja esta sendo tracado para protegé-las. ECONOMIA BRASILEIRA CRESCE POUCO 1 De acordo com o Banco Central, em junho, o Brasil teve uma expansio eco- némica de 0,23% frente ao quinto més do ano. 0 segundo resultado positivo do ano e também dos iltimos 12 meses de- ve-se, principalmente, ao desempenho da produgao industrial, que cresceu 1,1% em relacioa maio ~ o quarto resul- tado positivo consecutivo ¢ que acumu- la ganhos de 3,5% para o setor. Embora a porcentagem anunciada faca parte do indice de Atividade Econ6mica do Ban- co Central (IBC-Br), um indicador que tenta prever o resultado do Produto In- terno Bruto (PIB) antes da divulgacao oficial, ela ja sugere uma retomada, mesmo que timida, da atividade econé- mica no pais. VILA DA MIDIA NO RIO 2016 PODE TER SIDO CONSTRUIDA SOBRE CEMITERIO DE ESCRAVOS 42 | LEITURAS DA HISTORIA 110 Quilombo Camorim, reconhecido pelo governo federal, alega que o aloja- mento para profissionais de midia, edi: ficado para as Olimpiadas do imagem), foi construido sobre um anti- go cemitério de escravos, em Area de Especial Interesse Ambiental, criada por um decreto municipal em novem- bro de 2013, na Barra da Tijuca. Os qui- lombolas reivindicavam 0 local ha anos, pois queriam preservar as carac- teristicas histéricas e ambientais e ain- da construir um centro comunitirio. Mas no comeco de 2013 a construtora Cyrela adquiriu o terreno, removeu os campos de futebol da comunidade, des- matou a rea ¢ comegou a construcao do complexo de apartamentos. Segun- do Rogério Ribeiro de Oliveira, profes- sor de geografia da PUC-Rio e autor de um livro sobre a histéria da regiao, a falta de um estudo arqueolégico foi bastante desrespeitosa, pois é muito provavel que haja seres humanos enter- rados por la, devido a proximidade com aIgreja de Sao Gongalo do Amarante. SANGUE DO REI ALBERTOIE IDENTIFICADO A morte do rei da Bélgica, em 17 de fevereiro de 1934, devido a um acidente de alpinismo em Marche-les-Dames, em Ardenas, regiao de colinas montanho sas partilhadas pelo pais dele, Luxem: burgo e Franca, sempre esteve envolta em especulacées e teorias conspiraté- tias sobre um atentado politico - todas sustentadas pelo fato de Alberto I ser um alpinista muito habil e néo haver testemunhas do acidente fatal. Mas gra as a varias reliquias manchadas com o sangue dele, que foram recolhidas no passado, o geneticista forense Maarten Larmuseau e seus colegas da Universi: dade de Leuven, que fica na cidade bel- ga de Lovaina, em 2014, comecaram um exaustivo trabalho, que culminou com o encontro de dois parentes vivos do rei. Como ambos lhe cederam amostras de DNA foi feita a comparaciio, que indicou a autenticidade dos vestigios de sangue, fato que confirmou a verso oficial da morte de Alberto I depois de 82 anos (na imagem, o rei em foto de abril de 1910). (Caesrwe Commons CRISE IMIGRATORIA AMEDRONTA A EUROPA o> Pesquisa de opiniao global realizada pelo Alto Comissariado das Nacdes Uni das para os Refugiados (Acnur) com mais de 16 mil pessoas em 22 paises, incluindo Reino Unido, Alemanha, Italia, Japao e Riissia, revelou que 60% dos entrevista- dos acreditam que extremistas iskimicos esto fingindo ser refugiados. Cerca de 40% deles também disseram que querem que as fronteiras de seus respectivos pai, ses sejam fechadas, medida que tem maior adesdiona Turquia, India e Hungria. = cz = Segundo a Organizacao das Nagdes Uni- das (ONU), embora asameacas a seguran- ¢a Sejam uma preocupacéo, aqueles que esto fugindo de persegui¢ao ou deconfli- tos precisam ser protegidos. “Como em qualquer populacao, ha pessoas que so criminosas. Mas nao podemos esquecer que a grande maioria dos refugiados res- peita a lei, Portanto nao deveriamos de- monizé-los ou vé-los como criminosos e terroristas, porque nao é este o caso, disse William Spindler, porta-voz do Acnur. REVELADO ROSTO DE MULHER ESCONDIDO EM QU Ja era sabido que 0 quadro Retrato de Mulher, pintado na década de 1870 pelo impressionista francés Edgar Degas, escondia outro rosto de mulher. Por isso, cientistas do Synchrotron australiano usaram uma fonte de radiaco e uma nova técnica nao invasiva de fluorescén- cia de raios-X, para desvendar 0 mistério. Em consequéncia, eles encontraram sob a imagem da senhora de preto, a pintura de um jovem orientada de forma visivel e AADRO DE DEGAS reversa. Desde estao, eles dizem se tratar de Emma Dobigny, amante e modelo fa- vorita do pintor, conhecido principal- mente por representar cenas do quotidia- no e a figura feminina nas suas obras. Mas, além dos novos dados fornecidos sobre o trabalho de Degas, os cientistas também apostam que as novas técnicas utilizadas teréo um impacto significativo em futuros estudos de conservacio do patrim6nio cultural mundial. LEITURAS DA HISTORIA | 43 eee ach GENE LIGADO A ESCLEROSE LATERAL AMIOTROFICA E DESCOBERTO Ml Segundo a ALS Association, que re- presenta pessoas com esclerose lateral amiotrofica (ELA) e outros tipos de doengas do neurénio motor, o feito de- ve-se ao desafio do balde de gelo que, aose viralizar em 2014, arrecadou USS 115 milhdes (mais de R$ 377 milhdes), montante que financiou seis projetos de pesquisa e ainda possibilitou a identificagao de um novo gene, o NEKi, que contribui para a doenca. Como a forma hereditaria do problema afeta apenas 10% dos pacientes, 80 pesquisadores que procuravam pelo gene ligado & esclerose lateral amio- tréfica em familias afetadas de 11 pai- ses, passaram a acreditar que a genéti- ca coopera com uma porcentagem me- nor de casos e, gragas a nova desco- berta, ja desenvolvem uma terapia para o tratamento da doenga. “A anali- se genética sofisticada que levou a esta descoberta sé foi possivel por causa do grande niimero de amostras de ELA dispontvel”, explicou Lucie Bruijn, da ALS Association. MUDANCA CLIMATICA BRANQUEIA RECIFES DE CORAL ‘epiblica das Maldivas - A Unido Internacional de Conservacao da Nature- za (UICN), que colaborou com dois orga- nismos nacionais para a realizagao do es- tudo, afirmou que pelo menos 60% dos recifes de coral, o maior atrativo turistico do arquipélago situado no Oceano Indico, esto ficando sem cor, devido as mudan- as constantes de temperatura, que inter- ferem na luz e na quantidade de nutrien- tes. Em alguns lugares especificos, em 14 | LEITURAS DA HISTORIA consequéncia do fenémeno El Nijio, res- ponsdvel pelo aumento das temperaturas da superficie do mar, o branqueamento jé chega a 90%. “Os resultados preliminares da pesquisa sobre a amplitude do bran- queamento de corais sdo alarmantes. Como 0 inicio de mortalidade ja se obser- va, achamos que ela aumentard se 0s co- rais forem incapazes de se recuperar”, ex- plicou Ameer Abdulla, assessor da UICN e chefe da equipe pesquisadora. DESCOBERTA PODE ESCLARECER CAPITULO DA HISTORIA GREGA MiTn, M segundo pesquisadores gregos, 0 achado de pelo menos 80 esqueletos, entre os quais mais de 30 acorrentados, que foram enterrados em duas valas comuns em Atenas, em um antigo ce- mitério onde, atualmente, estéo sendo construidas a Biblioteca e a Opera Na- cionais da Grécia, pode indicar o local do sepultamento dos seguidores do no- bre e atleta Cilén, que tentou aplicar um golpe contra 0 governo local apro- ximadamente no ano 650 a.C. “Foram todos executados da mesma maneira, mas enterrades de forma respeitosa. Nao estamos falamos de pessoas que tiveram uma vida dificil, como escra- vos, nem de pessoas desconhecidas para aqueles que os sepultaram”, ex- plica Stella Chryssoulaki, arqueéloga lider dos trabalhos de escavacao. Cararne Commons SAO PAULO TEM VESTIGIOS HUMANOS DE 11 MIL ANOS [Bl Laudo elaborado pelo laboratério norte -americano Beta Analytic revelou que o sitio arqueolégico de Caetetuba, que fica em Sao Manuel, regiao central do Estado OBJETO NO SISTEMA SOLAR INTRIGA CIENTISTAS i Astrénomos descobriram um corpo ce- leste jé batizado de Niku (em chinés, rebel- de), no sistema solar exterior, Como seu brilho é 160 mil vezes menor que o do pla- neta Netuno, estima-se que tenha 200 qui- 16metros de diametro. Mas o que chama a atengo é a 6rbita atipica dele. Além da di- reco inversa a dos planetas e asteroides que orbitam o Sol, ela tem uma inclinagao de 110° graus. De acordo com cientistas, 05 sistemas planetarios costumam ser planos, pois as forcas atuam para que todas as par- de Sao Paulo, j4 era habitado ha 11 mil anos por um povo pré-colombiano, em de- corréncia de trés mil itens de pedra lasca- da resgatados no local. Na regiao, outros ticulas girem em direcdo idéntica. Dessa forma, para que qualquer objeto orbite ou tenha uma inclinacao diferente, ele precisa set atingido por outro corpo. Apesar dessa hipétese, o fendmeno ainda nao tem expli- cago. “Sempre que hd algo que ndio conse- guimos explicar no sistema solar exterior, 6 muito interessante, porque, de certa forma, esta antecipando uma nova descoberta”, afirmou Konstantin Batygin, do Instituto de Tecnologia da California, nos Estados Unidos (imagem meramente ilustrativa). MENINO ENCONTRA FOSSEIS DE 500 MIL ANOS sitios também ja chamam a atengdo em decorréncia do que ja foi escavado, No Ser- tito I, por exemplo, cuja ocupacao estima- se que ocorreu entre 500 € 2 mil anos, pe- ¢as de ceramicas muito refinadas ja foram encontradas. Por sua vez, 0 Serrito II, que por determinacao do Iphan nao podera ser explorado, apresenta um paredio de pedra repleto de pinturas rupestres. Por isso, os arquedlogos que trabalham no lo- cal ressaltaram que muito material deve ter sido perdido, ainda nao foi encontrado ou pode ter sido destruido ou encoberto durante o tempo, pois metade dos munici- pios paulistas jamais tiveram anilises como a que aconteceu em Sao Manuel. \ 1B Martin Landini que, com apenas quatro anos, ja havia feito um curso de paleonto- logia no Museu de Ciéncias Naturais Lo- renzo Scaglia, em uma de suas habituais escapadas paleontolégicas, junto ao irmao Nicolés e o pai Luis, encontrou em uma praia perto da cidade de Mar de! Plata, pro- vincia central de Buenos Aires, fosseis que podem ter mais de 500 mil anos. Conscien- te da importncia que 0 achado poderia ter, omenino pediu ao pai para fotografar e enviar a imagem para o museu. Diante da foto, os cientistas do Lorenzo Scaglia rapi- damente foram para olocal, recolheram os fésseis e entregaram todo o material ao es- pecialista Matias Taglioretti, que ira prepa- rare investigar a idade exata deles. “E um achado paleontolégico de muita signifi- cAncia cientifica”, afirmou o museu por meio de comunicado. LEITURAS DA HISTORIA | 45 eee ach MOSAICO DA ERA ROMANA £ DESCOBERTO EM LARNACA 1B Arquedlogos israelitas descobriram ves- tigios de um cemitério filisteu, com mais de 200 ossadas, em Ascalo, que datam do século 8°a 11 a.C. Segundo Daniel Master, da Universidade de Harvard, que participa nas escavagées soba lideranca de a Autori- dade de Antiguidade local, os corpos de- senterrados, além de facilitar a compreen- 16 | LEITURAS DA HISTORIA so dos ritos funerarios, apés exames de DNA ainda daiao pistas sobre a crigem dos filisteus, povo descrito na Biblia como ini- migo de Israel. “Esta é uma questo com desdobramentosimportantes, uma vez.que pode mostrar como os palestinos moder- nos so incapazes de comprovar sua ascen- déncia’, salientou Master. I Trabalhos na rede de esgotos da cidade costeira da ilha de Chipre revelaram um raro mosaico da Era Romana, datado do século 2° .C. Dividido em varias secdes, além do bom estado de conservagao, ele mede 20 metros por 4,5 metros, extensao na qual estdo representados os 12 traba- Ihosde Hércules. Como ele pode ser parte integrante de antigos banhos romanos, ja se cogita a possibilidade de se construir um museu no local, para destacar 0 acha- do, “Descobertas como essas sao feitas apenas uma veza cada cem anos’, ressaltou Giorgos Philotheou do Departamento de Antiguidades de Larnaca. BRACELETES VIKINGS = DE OURO E PRATA DO SECULO 10 Y9Qe x8 d CI 8 IB trés arqueélogos amadores, com a aju- da de um detector de metais, encontraram perto de Vejen, ao sul da Jutlandia, na Di- namarca, seis braceletes de ouro e um de prata que, juntos, pesam goo gramas. Da- tados do século 10, eles pertenceram prova- velmente a um chefe viking, que os usou para recompensar seguidores. “Encontrar uma dessas joias ¢ um éxito enorme por si 36, mas é algo especial encontrar sete”, dis- se Peter Pentz, porta-voz do Museu Nacio- nal da Dinamarea. Embora a Era Viking, que se estendeu de 800-1050, seja conven- cionalmente chamada de a Idade da Prata, objetos de ouro pertencentes ao periodo também ja foram achados, tanto que ja ha quem defenda que os braceletes podem fa- zer parte de um tesouro maior, que inclui uma corrente de ouro descoberta na mes- Ma area em 1911. De qualquer forma, o achado atual ja vem sendo considerado 0 maior em ourona historia do pais. sonAL use OF Deane Pero MISTERIO DE ANTICITERA E DESVENDADO WH Cientistas gregos, junto a outros de jas nacionalidades, decodificaram cerca de 3500 caracteres escritos em 82 fragmentos da famosa Maquina de Anti- citera, com 0 uso de raios-X e outras tec- nologias de exploracao. O trabalho con- firmou mais ou menos 0 que os arqueélo- gos j4 suspeitavam: 0 mecanismo foi concebido como um relégio calendario que mostra as fases da lua, a posicao do sol, os planetas ¢ até 0 momento dos eclipses previstos. Porém, eles ainda dis- seram que a maquina de aparente propé- sito astronémico, também foi usada para ver 0 que o futuro reservava, de acordo com algumas das inscrigdes que se refe- ria a cor do proximo eclipse. “Nao era uma ferramenta de pesquisa, algo que um astr6nomo usaria para fazer cal- culos, mas algo que foi usado para ensi- nar sobre o cosmos e nosso lugar nele”, revelou o pesquisador Alexander Jones, professor de Histéria da Ciéncia Antiga na Universidade de Nova lorque (NYU). REGIAO DO ATACAMA TEM TRES o 5 on ae ee Mi Dois trabalhadores agricolas chile- nos encontraram uma sepultura na area de Colorada Igreja no Fundo Bauza, que continha os restos mumificados de duas criangas e as ossadas de uma mulher, além de alguns utensilios como vasos de ceramica e brinquedos, que remontam a mais de 900 anos. Como os corpos esta- vam envoltos em fibras de tecido de plantas e camelideos, a conservacao de- les surpreendeu os pesquisadores que, de acordo com a primeira andlise, ja dis- seram que as criancas morreram entre MUMIAS COM MAIS DE 900 ANOS cinco ¢ sete anos deidade, enquanto que as ossadas correspondem a uma mulher entre 50 e 60 anos que, alegadamente, pertenceriam a cultura copiap6, um gru- po pré-hispanico que habitou o norte do Chile entre 1000 e 1400 anos. Apesar do achado jé ter sido enviado para Conse- Iho de Monumentos Nacionais, em San- tiago, onde passario por estudos rele- vantes, procedimentos necessarios ja estao sendo realizados pela Universida- de de Atacama para as mtimias retorna- rem a sua regio original. Cauree Couuous DESCOBERTA ALDEIA DE 11 MIL ANOS EM CHIPRE FnctsSoco.pes0mc SWOESRVESOIA.SCOS ARAN TS i Segundo 0 Departamento de Antigui- dades da ilha mediterranea, escavacbes dirigidas por Frangois Briois, da Escola de Estudos Avangados em Ciéncias Sociais, e Jean-Denis Vigne, do Centro Nacional de Pesquisa Cientifica e Museu Nacional de Historia Natural, instituigdes da Franca, na area de Ayios Tychonas-Klimonas, per- to da costa sul de Chipre, revelaram que, em torno de uma estrutura comum de 10 metros de diametro descoberta ha cinco, tem mais 20 estruturas com diametros en- tre trés e seis metros, que supostamente formavam uma aldeia no século 9°a.C. Se- melhante em sua organizagao e arquitetu- racom as vilas da era neolitica, as estrutu- ras foram construfdas com harro reforcado com madeira, tinham piso em gesso, larei- ras emésentre 30e soquilosde peso, além de ferramentas de pedra, barcos de pesca e artefatos feitos de conchas do mar. Evidén- cias também indicam que os antigos habi- tantes cultivavam trigoe cacavam javalis e aves selvagens, enquanto ces e gatos cir- culavam pelo local. LE:TURAS DA HISTORIA | 47 11 de outubro de 1958 - Primeiro dia oficial de operacao da National Aero- nautics and Space Administration ~ NASA, agéncia do governo dos Estados Unidos, responsavel pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e pro- gramas de exploragao espacial. FATOS IMPORTANTES DA PRIMEIRA QUINZENA DE OUTUBRO. 1 1de outubro de 1990 — Lider soviéti co Mikhail Gorbachev ganha 0 Prémio Nobel da Paz por seu trabalho em aca- bar com as tensdes da Guerra Fria. 2 de outubro de 1869 - Nascido na India, Mohandas Karamchand Gandhi, entrou para a Histéria como um dos fun- dadores do modemo Estado indiano e defensor dos protestos sem uso de vio- léncia. Seu nome, Mahatma, em s4nscri- to, significa “grande alma”. ... E5 DA METADE FINAL DO MES 1.16 de outubro de 1793 — Nove meses apés a execucao de seu marido, o rei Luis XVI da Franga, Maria Antonieta fez © mesmo caminho rumo & guilhotina, durante a Revolucao Francesa. {i 22 de outubro de 2011 - Em um dia como este, no ano de 2011, Muamar al Gaddafi, ditador da Libia, foi capturado e morto por forcas rebeldes perto de sua cidade natal, Sirte. 48 | LEITURAS DA HISTORIA 1 24 de outubro de 1929 - Um dos pio- res periodos da economia norte-ameri cana teve esta data considerada o dia do inicio da Grande Depressao, também chamada de Crise de 1929. 1 28 de outubro de 1962 ~ A crise dos misseis de Cuba chega ao fim quando o lider soviético Nikita Khrushchev con cordou em retirar os misseis russos do territério cubano em troca da promessa de que os Estados Unidos respeitariam a soberania territorial daquele pais. 1 7 de outubro de 1949 - Menos de cinco meses apés o estabelecimento da Repiblica Federal da Alemanha, na Ale- manha Ocidental, pela Gra-Bretanha, Estados Unidos e Franca, em um dia como este foi proclamada a Repiiblica Democratica da Alemanha, criada den- tro da zona de ocupaco soviética, apés o fim da 2 Guerra Mundial. Min de outubro de 1939 - Nasce a maior tenista da historia do Brasil, Ma- ria Esther Bueno, em Sao Paulo, Ela fez histéria ao vencer o tradicional torneio. de Wimbledon, em Londres, na Inglater- ra, no dia 4 de julho de 1959. 1 31 de outubro de 1517 - Padree profes- sor de teologia, Martinho Lutero prega na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, um pedago de papel con- tendo suas 95 teses revoluciondrias que deram inicio 4 Reforma Protestante. SANGUE NA © COLONIA i “Quatro Dias em Abril - Ensaio sobre a Guerra Civil ou Revolugao Federalista de 1893”, de Rodrigo Trespach; Editora Martins Livreiro, 137 p. - Prego: R$ 35,00. Na tarde de 12 de abril de 1895, uma sexta-feira, Conceicéo do Arroio é sur- preendida pelo barulho do tiroteio, 0 tropel e a gritaria da tropa federalista que entra na cidade, vinda da serra pelo Passo da Lagoa, préximo & Caieira, se- guindo o caminho usual entre as lagoas. da Pinguela e dos Quadros. Por quase quatro dias, os maragatos liderados pelo famigerado Baiano Candi- nho serao os senhores da terra do General Osorio. A Revolucao Federa- lista (1893-1895) é, com q certeza, a mais sangren- ta das revolucdes ocor- 8 ridas no pais. E nao sé § pelo niimero de mor tes, que alguns pesqui- “A Guerra da Agua — Por que Ma- taremos e Seremos Mortos no Século 21”, de Harald Welzer; Editora Gera- Gao, 318 p. — Preco: R$ 34,90. O autor, professor e pesquisador Ha- rald Welzer discorre, no livro A Guerra da Agua, 0 apocaliptico momento de escassez da agua eas consequéncias ca- tastidficas que causariana humanidade. 0 uso desmedido de recursos naturais, o efeito das queimadas e toda a emissio de poluentes que causam 0 aquecimento [i “Cacadores Nazistas - A Ultras- secreta Unidade SAS e a Caca aos Criminosos de Guerra de Hitler”, de Demien Lewis; Editora Cultrix, 334 p. - Preco: R$ 50,00. Damien Lewis nos conta uma his- toria incrivel, até entio inimaginavel, do capitulo mais secreto da historia do Servico Aéreo Especial (SAS) britani- co. Oficialmente, a unidade de forcas sadores acreditam possa ter passado de 1o mil; mas porque, uma boa parte delas, deu-se pela degola, método aprimorado durante o conflito e usado a revelia por ambas as partes combatentes, radicais extremistas que lutavam ndo apenas por sua causa, mas também pela eliminacao do adversario. Com base em documentagao original, relatos e jornais da época, Rodrigo Tres- LIVROS & AUTORES Precos pesquisados em Setembro/2016 pach narra em Quatro Dias em Abril os principais acontecimentos ocorridos no Litoral Norte gaiicho durante a sangrenta década de 1890. As disputas politicas, 0 ataque maragato a Conceic&io do Arroio (Osério), os assassinatos do major Moura de Azevedo, padre Vaz Fernandes e do Baiano Candinho, todos diretamente in- terligados com o que ocorria no Rio Gran- dedo Sule no Brasil. global, contribuem com a destrui¢ao do meio ambiente. Com dados das pesquisas que rea- lizou, Welzer tem um prognostico para as geracoes futuras, que sofrerao ainda neste século 21, e isso inclui os filhos e netos — se eles sobreviverem. Se no atual momento 0 mundo possui refu- giados politicos e religiosos, no futuro nao muito distante haverd refugiados climaticos e fugitives do terrorismo contra o meio ambiente. especiais de elite mais secretado mun- do foi dissolvida no final da 2* Guerra Mundial e nao voltou a ativa até a dé- cada de 1950. Lewis nos revela que, na realidade, o SAS nunca foi extinto. A unidade continuou existindo sob 0 co- mando do proprio Winston Churchill e foi mantida em segredo até mesmo do governo, sendo paga e equipada gra- ¢as.a um orcamento clandestino. Pela Rodrigo Trespach ~ £ autor de quatro livros, sendo diltimo 0 Lavrador eo Sapateiro, publi- cado pela EdiPUCRS, em 2013. Como pesquisador independente, ¢ colaborador do Instituto de Historia Regional da Universidade de Mainz, na Alemanha. £ sécio fundador da Academia de Escritores do Litoral Norte Gaticho, da qual foi também presidents. Welzer descreve a guerra na Africa Sudoeste Alema e os moti- vos que levaram as barbaries dos povos nos séculos 19 € 20, eluci- dando, neste caso, a briga por etnia, poder e terras. Ele compa- ra esses acontecimentos com a batalha que esta por vir e as estratégias utilizadas para combater o inimigo. Po- rém, com expressivo avanco tecnolégico e cientifico 0 qual a humanidade apre- senta, o massacre sera ainda maior. Europa devastada, os Cacadores perseguiram os criminosos de guerra e os comandantes da SS dos campos de concentragao e descobriram, antes de todos, ‘0s horrores do regime de Hitler € alguns dos mais tenebrosos segredos da nova guerra: a Guerra Fria e a crescente ameaca da Russia de Stalin. LEITURAS DA HISTORIA | 49 1a Vee eee eA LCG CORAGEM SEM FRONTEIRAS OR Cra com emma) Me Coe (eC COL CORI] 1917, também conhecida como Revolucao Bolchevique. Era preciso fazer frente as ORC meee UR CCE eee ee H CLC como o Exército Branco, durante a Guerra Civil Russa. Em meados de 1946, o Exército Vermelho, somado 4 Marinha soviética, sintetizou uma forga militar extraordinaria, resultando no Exército Soviético. O conflito mundial em curso naquele periodo revelou a genialidade de seus comandantes, alguns dos quais abordamos, a partir de agora, PE e CRA CRC RCC MOM UR Ren UC Ua Ace Cr O MUNG EUnet ue CR Mra ema Rt oli mais longe do que qualquer russo nas mesmas condicdes poderia imaginar eR PEC ely ascido em 2 de dezembro de N copa, quaseudhne sahesé. bre a infancia nem a adoles- céncia de Georgi Konstantin Zhu- kov, Filho de Konstantyn Andreye- vich Zhukov e Ustinya Artemyevna que viviam no pobre vilarejo de Strelkovka, a sudoeste de Moscou, bem cedo aprendeu a cavalgar. Ain- da menino foi matriculado na esco- la paroquial de uma aldeia vizinha. Embora tenha completado com mé- ritos 0 estudo basico, devido a falta de recursos financeiros, em vez de manter 0 filho na escola, seus pais preferiram envié-lo a Moscou para trabalhar como aprendiz de peletei- ro na pequena oficina de um tio. Gracas a isso, por vontade pré- pria, ele pOde retomar a escola a noite e, enquanto estudava, ainda se tornou peleteiro profissional. Ao completar 19 anos, viu a 1* Guerra Mundial eclodir, momento em que foi convocado a lutar com as tro- pas do czar Nicolau II. Na ocasiao, apesar da estatura mediana optou pela cavalaria, momento em que travou sua primeira batalha para ser admitido e treinado como cava- leiro, pois o regimento sé aceitava homens altos. Conseguiu realizar © préprio desejo, em virtude das habilidades trazidas da infancia, da propria instrucao e do determi- nismo caracteristico de toda sua carreira itar Uma vez aceito, rapidamente foi promovido a sargento e incorporado a X Divisdo de Cavalaria Divisiona- ria, na qual aprendeu logistica, tati- ca de infantaria e combate, ao lutar, inclusive a pé, junto a sua unidade na Carcévia ~ regiao de terreno aci- dentado. Mas além dos combates, nessa mesma época, comegou a ler a maioria das obras militares que encontrava. No entanto, em 1916, foi atingido por uma mina e, em consequéncia, perdeu a audicao do ouvido direito, motivo que o levoua ser deslocado para uma unidade de adestramento. Porém, nem a trans- feréncia 0 fez deixar de ser leal ao Império Russo e ao czar. MARECHAL GEORG! KONSTANTIN ZHUKOV TEMPOS DE PAZ No inicio de 1917, diante de um pais totalmente destrogado, 0 regimento do qual Zhukov participava aderiu o movimento revolucionario e elegeu o ent&o sargento como delegado, fren- te ao colegiado de operdrios que re- gulavam e organizavam a producao material. Pouco depois, 0 mesmo re- gimento associou-se a forcas cossacas que nao reconheciam 0 governo pro- vis6rio constituido apés a deposicao imperial. Em decorréncia, ap6s ser dissolvido, 0 grupo de homens que o integrava passou a ser perseguido pe- las forcas nacionalistas ucranianas. Nessa altura, Zhukov ja havia se transformado em um revolucionario. E entre as fugas que teve que empreen- der, depois da Revolucdo de Outubro de 1917, refugiou-se por alguns meses na casa dos pais para se recuperar. Em seguida, voltou a Moscou, cidade lide- rada por Vladimir Lénin, representan- te dos bolchevistas e, em agosto de 1918, prontificou-se e foi aceito como voluntario no Exército Vermelho Desde entao, em meio as batalhas que travava, ainda passou a estudar os beneficios dos blindados que, na déca da de 1930, foram incorporados a um “Em 1916, foi atingido por uma mina e, em consequéncia, perdeu a audi¢ao do ouvido direito, motivo que o levou a ser deslocado para uma unidade de adestramento. Porém, nem a transferéncia o fez deixar de ser leal ao Império Russo e ao czar” regimento mecanizado experimental, que foi testado na Guerra Civil Espa- nhola (1936-1939). Ao mesmo tempo, Joseph Stalin, o novo lider da Uniao Soviética (URSS), que a menor sus- peita expurgava qualquer pessoa que fosse contra 0 regime que impunha, baniu muitos militares do exército. Zhukov foi uma excecao, fato que ace- lerou ainda mais sua propria ascen- sao. Contudo, nesse mesmo periodo, 0s blindados também foram relegados a posigao de apoio nas pelejas. Mas, em 1939, depois de aniquilar os inva- sores japoneses que invadiram a Mon- gélia, Zhukov comprovou a eficiéncia LE:TURAS DA HISTORIA | 24 ESPECIAL | Marechal Georgi Konstantin Zhukov TANQUES RUSSOS EM OPERACAO DA GUERRA CIVIL ESPANHOLA deles como unidades independentes. De volta a Unido Soviética (URSS), re- cebeu varias condecoracdes e chamou a atenco de Stalin que ficou impres- sionado com os conhecimentos milita- res que ele possuia e, por conseguinte, resolveu nomeé-lo chefe de gabinete. Nesse interim, a percepgo politi- ca de Zhukov também ja o fazia sentir que os alemes eram uma ameaca real a qualquer nacdo europeia. Stalin, por sua vez, passivo diante da ocupacio nazista da Polonia, aparentemente acre- ditava nos termos do acordo secreto de partilha que tinham sido firmados em Berlim. Somente mediante a pressio alema na Finlandia, ele resolveu ado- tar uma série de medidas para garantir a defesa de Leningrado. Em decorrén- cia, a guerra tornou-se inevitavel, mas © grande expurgo anterior do Exército Vermelho provocou a desmotivacéo dos militares russos, problema gravado pe- Jos sistemas de logistica, abastecimento, transporte, sanitario e comunicacdo que se mostravam totalmente ineficazes. 22 | LEITURAS DA HISTORIA —em Moscou Diante da situacdo desastrosa, em julho de 1940, Zhukov foi no- meado general do Exército Verme- Tho. Nessa condicgaéo, em fevereiro de 1941, ele j4 elaborava planos de defesa das fronteiras ocidentais da URSS. Pouco depois, em junho do mesmo ano, Hitler rompeu o pacto de nao agressao com Stalin e inva- diu o pais, dando inicio a Operacao Barbarossa. Zhukov, entao, foi en- viado a Leningrado, para evitar que a segunda maior cidade da URSS fosse tomada pelos alemaes. O cerco durou quase 900 dias, mas foram as terriveis condigées do inverno local que deslocaram os alemaes para os subirbios ocidentais da regiao. Aproveitando-se da situacao cli- matica e contrariando os desejos de Stalin, que queira um ataque massi- vo, Zhukov promoveu uma ofensiva menor para forcar os nazistas em di- rec&io ao outro lado do canal Volga- -Moscou. Ja no inicio de dezembro, 0 ZHUKOV DISCURSANDO EM 1° DE SETEMBRO DE 1941, iuil,| | “Hitler rompeu o pacto de nao agressao com Stal invadiu o pais, dando inie a Operacao Barbarossa. Zhukov, entao, foi enviado a Leningrado, para evitar que a segunda maior cidade da URSS fosse tomada pelos alemaes. O cerco durou quase 900 dias” general concentrou todas as suas for- ¢as — aproximadamente 88 divisées de infantaria, 15 divisbes de cavala- ria e 1500 tanques ~ na Frente Cen- tral. Moscou foi salva, mas o general sabia que os invasores alemaes nao estavam vencidos. Diante doavanco nazista na Euro- pa Oriental, ele lancou mao do novo blindado T-34. A vitoria dos russos em Kursk, no ano de 1943, dew-lhe uma enorme vantagem sobre os ale- maes em termos de guerra blindada. CHURCHILL, PRIMEIRO-MINISTRO BRITANICO, ROOSEVELT, PRESIDENTE DOS EUA, E STALIN, LIDER SOVIETICO, REUNIDOS NA CONFERENCIA DE YALTA EM FEVEREIRO DE 1945, PARA DISCUTIR A OCUPACAO CONJUNTA DA ALEMANHA E OS PLANOS PARA A EUROPA DO POS-GUERRA “Zhukov empurrou os alemaes e avancou m de 300 milhas com seu exército e tanques, até chegar ao rio Oder. Embora estivesse prestes a invadir Berlin, esperou Stalin negociar o futuro da Europa com o primeiro ministro do Reino Unido” No mesmo ano, ele ainda dirigiu a ofensiva ocidental na Ucrania e, em seguida, levantou o cerco de Lenin- grado para, entao, atingir o Mar Bal- tico em agosto de 1944. Passado um més, sob seu comando, os soviéticos ja tinham entrado em Bucareste, li- bertado a Crimeia, invadido a Romé- nia e declarado guerra Bulgaria. No final de outubro, também invadiram a Prussia Oriental, dirigiram-se para a Polonia e sé pararam em Varsévia, a capital do pais. Em janeiro de 1945, no comando da Primeira Frente da Bielorrassia, ele recebeu ordens para atacar o outro lado do rio Vistula, Empre- gando um bombardeio de artilha ria em massa, avancou sobre os alemaes que ocupavam Varsévia. Apés cinco dias de batalha, com a aprovagao de Stalin, Zhukov e seus homens ocuparam a cidade. A par tir dai, ele empurrou os alemaes e avangou, por 20 dias, mais de 300 milhas com seu exército e tanques, até chegar ao rio Oder. Embora es- tivesse prestes a invadir Berlin, es- perou Stalin negociar o futuro da Europa com o primeiro ministro do Reino Unido, Winston Churchill, e o chefe de governo dos Estados Uni- dos, Franklin Delano Roosevelt, em Yalta, estacdo balnedria as margens do Mar Negro, na Crimeia, para ini ciar a batalha decisiva de sua car- reira, aquela que também declarou que seria a operacdo final da Se- gunda Guerra. LEITURAS DA HISTORIA | 23 ESPECIAL | Marechal Georgi Konstantin Zhukov ZHUKOV, APOS A CONQUISTA DO REICHSTAG, A FRENTE DE OUTROS SOLDADOS SOVIETICOS A TOMADA DE BERLIM Valendo-se da superioridade aérea soviética, enquanto durava a Confe- réncia de Yalta, Zhukov tragou um minucioso levantamento fotografico de Berlim e de suas defesas. Depois, iniciou 0 treinamento de suas forcas para 0 iltimo assalto e ainda deci- diu que o ataque seria desfechado na madrugada de 16 de abril, com a aju- da de 140 holofotes gigantescos, nor- malmente usados na defesa antiaé- rea. Apesar da resisténcia alema, néo havia mais qualquer possibilidade de sucesso para os nazistas. Contudo, enquanto o comandante alemao Hein- tich Himmler, contrariando as ordens expressas de Hitler, decidiu recuar as forcas que liderava na area que seria atacada pela artilharia soviética, Zhu- kov ainda foi informado que as tropas do comandante soviético Ivan Koniev, sem preparacao prévia, também es- tavam avancando rapidamente sobre Berlim. Diante de ambas as situagdes, determinado a conquistar a cidade alema antes que qualquer um, ele re- correu a todas as suas reservas, dando 24 | LEITURAS DA HISTORIA uma tinica ordem aos comandantes de seu corpo de exército: avan¢ar sempre! Em decorréncia, no dia 20, a artilha- ria comandada por Zhukov ja estava dis- parando sobre os subirbios de Berlim. ‘Além de ser primeiro a chegar a cidade, ele ainda péde conquistar o Palacio de Reichstag que abrigava o parlamento fe- deral da Alemanha. Tido com o simbolo do poderio nazista, ele foi o grande pré- mio ao esforco desenvolvido pelo gene- rale seus homens. O FIM DA 23 GUERRA MUNDIAL Somente com o hasteamento da bandeira soviética no coracéo do re- gime nazista acabou oficialmente o grande conflito. Até mesmo quando o corpo carbonizado de Hitler foi supos- tamente encontrado, Zhukov ainda re- lembrou aos sobreviventes do regime nazista que sé a rendi¢do incondicio- nal seria suficiente. Mas Stalin ainda queria tanto ins- titucionalizar a derrota do nazismo quanto deixar claro ao mundo que a URSS, e nao os aliados ocidentais, tinha sido a verdadeira vencedora “Zhukov foi designado como representante soviético a Comissao de Controle Aliada na Alemanha, cuja primeira providéncia foi exigir a imediata retirada de todas as forcas norte- -americanas que se encontravam em areas da zona soviética” da Alemanha. Como a liderancga de Zhukov ja havia se firmado diante do Exército Vermelho desde a defesa de ‘Moscou no final de 1941 até as portas de Berlim no inicio de 1945, ele o de- signou como representante soviético a Comissdo de Controle Aliada na Ale- manha, cuja primeira providéncia foi exigir a imediata retirada de todas as forcas norte-americanas que se encon- travam em areas da zona soviética. A partir de entio, comecaram as tensdes entre o Ocidente e 0 Oriente que, por sua vez, ja prenunciavam o periodo de guerra-fria. Apesar desse contexto desfavoravel, o general nor- te-americano Dwight David Eisenho- wer foi convidado a visitar a URSS, momento em que teve a companhia de Zhukov. Em Moscou, depois de um desfile militar na Praca Vermelha, os dois Iideres militares trocaram um abraco e foram aplaudidos, como Sta- lin nunca havia sido pela grande mas- sa que se aglomerara no local. UM GENERAL NA OBSCURIDADE Em virtude dessa situacéo inu- sitada, 0 revanchismo do lider so- viético aflorou e a unica alternativa dele foi afastar o general do centro dos acontecimentos. Quase um ano apés o fim da guerra, em abril de 1946, Zhukov foi chamado para as: sumir 0 comando de todas as forcas do Exército Vermelho, Ele retornou a Moscou na condi¢do de marechal, acreditando que estava dando um grande passo na carreira militar. Coesmve Commons ZHUKOV, VICE DE STALIN DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, CAVALGA NA PARADA DA VITORIA REALIZADA NA PRACA VERMELHA, EM MOSCOU, NO ANO DE 1945 “Em 18 de junho de 1974, quando estava com 78 anos, um derrame cerebral tirou sua vida. Apesar dos altos e baixos que permeou sua carreira, foi enterrado com todas as honras militares no Muro do Kremlin, na Praga Vermelha, em Moscou” Mas em julho, Stalin que nao podia elimina-lo, mas também néo que- ria dividir a gloria da vitéria como marechal, afastou-o do centro do poder, na tentativa de obscurecer o brilho do homem que poderia fazer sombra ao seu prestigio Zhukov saiu de cena, momento em que passou a se dedicar a politica com ajuda do grupo com o qual atuara durante a campanha de Stalingrado, possibilidade reforcada pela rapida ascensdo de Nikita Khrushchev que, em 1961 contribuiu para que varios marechais fossem designados suplen- tes da Comissao Central do Partido Comunista da Unido Soviética. Len- tamente, 0 marechal foi deixando a obscuridade imposta pelo ex-lider soviético, No entanto, somente com a morte de Stalin em 1953, recuperou toda a importancia de sua carreira, até que, em 1955, foi nomeado primei- ro vice-ministro da Defesa de Khrush- chev, com a fungao de formular uma politica nuclear para a URSS. Em 1957, ele ainda foi promovido ao Comité Executivo do Partido Comu- nista. Mas, por ser considerado sem tato e extramente arrogante, princi- palmente por privilegiar os militares e detrimento do proprio partido, foi demitido no mesmo ano de ambos os cargos. Resolveu, entdo, aposentar- se e caiu na obscuridade novamente. Porém, em 1965, foi reabilitado para o vigésimo aniversario do fim da Segun- da Guerra Mundial e, partir de entao, até 1968, escreveu varios artigos para jornais russos que, na maioria das vezes, tiveram 0 contetido censurado pelo governo. Mesmo assim, ha quem defenda que levou uma vida tranquila na apo- sentadoria. Em 18 de junho de 1974, quando estava com 78 anos, um der- rame cerebral tirou sua vida. Apesar dos altos e baixos que permeou sua carreira, foi enterrado com todas as honras militares no Muro do Kremlin, na Praga Vermelha, em Moscou. Aclamado como génio militar princi- palmente pelos neoestalinistas, 0 mare- chal era tido como brutal e sanguinario pelos préprios contemporaneos que o acusavam de alardear o principio de vi- toria a qualquer custo. Normalmente, durante as batalhas que comandava, somente apés 0 fogo da artilharia, a in- fantaria era acionada. A partir dai, 0 caminho dos tanques era tracado pelos corpos dos soldados. Consequentemente, para cada militar alem&o morto, a URSS perdia 8 a 10 homens, Zhukov que sem- pre poupava os tanques em detrimento dos homens justificou tal atuacéo para © general norte-americano Eisenhower LE:TURAS DA HISTORIA | 25 ESPECIAL | Marechal Georgi Konstantin Zhukov ZHUKOY, NO INICIO DA DECADA DE 1970, |A APOSENTADO dizendo que “soldados sao esterco, as russas vao parir mais, enquanto tanques custam dinheiro”, Bastante frio, na defesa de Moscou em 1941, © corpo voluntario formado por professores, engenheiros e cientistas, a maioria ucranianos, sob suas ordens so- mava 179 mil soldados. No entanto, havia uma espingarda para cada cinco homens apenas uma granada para cada trés de- les. Jé em 19 de dezembro Zhukov fez trés di es de cavalaria atacar os blindados alemaes. Em decorréncia, elas foram ani- quiladas em apenas algumas horas. Jé na primavera de 1944, durante a batalha de Korsun-Cherkassy, Zhukov ‘ordenou que as tropas voluntarias, com: postas por camponeses também ucrania nos com idades entre 15 e 55 anos, ata- cassem as defesas alemas, Em 24 dias de batalhas, ele perdeu 770 mil pessoas. Por sua vez, na batalha de Berlim, para pou- 26 | LEITURAS DA HISTORIA par o tempo de desminagem, ele mandou a infantaria avancar sobre os campos minados. Muitos soldados perderam a vida, mas o marechal soviético nao sen- tia nenhuma vergonha de matar. Muito pelo contrario, Zhukov gabava-se disso perante os aliados, tanto que, em suas memérias, o general americano Eisenho- wer escreveu: “Tenho dificuldade de ima- ginar o que aconteceria no nosso exército com um general que tivesse a ideia de dar uma ordem semelhante”. Posteriormente, em 14 de setembro de 1954, na funcao de primeiro vice-mi- nistro da Defesa de Khrushchev, dizem que Zhukov deu ordens de experimen- tar a bomba nuclear em seus préprios soldadas. No poligono de Totskoye, nos arredores de Oremburgo, cerca de 40 mil militares foram lancados no epicentro nuclear. Desse total, trés quartos morre- ram de queimaduras e lesdes de radioa- 5 i : 5 “Na batalha de Berlim, para poupar o tempo de desminagem, ele mandou a infantaria avancar sobre os campos minados. Muitos soldados perderam a vida, mas o marechal soviético nao sentia nenhuma vergonha de matar. Zhukov gabava-se disso” tividade, enquanto os demais ficaram invalidos para sempre. Se nao bastasse, aparentemente, ele ainda era um grande saqueador. Segun- do documentos do Ministro de Defesa da URSS, em 5 de janeiro de 1948, uma busca no apartamento do Zhukov em Moscou resultou na apreensdo de 24 re- Jégios - dos quais 17 eram de ouro e 3 “Eu e Hitler no Reno” No fin da 2# Guerra Mundial, ainda na Alemanha, 0 jovem capitao Guernsey tirou a foto que destacamos e a enviou para a familia que vivia no Condado de Fairfield, em Connecticut, com a frase acima gravada em seu verso, a fim de anunciar sua volta. Como mulher e filho Iheesperavam, aparentemente, ele viveu bem até 1987, Porém, outros companhei- 10s de guerra néo tiveram a mesma sorte. | LEITURAS DA HiSTORI Desde aquela época, os EUA ja transformavam homens em maqui- nas de matar, mas nunca os ensi- nou a continuar vivendo. Um em cada 20 soldados do grande embate mundial voltou para casa com es tresse pos-traumatico, doenca que os condecorou com flashbacks de combate, paranoia constante, inca- pacidade de funcionar no ambiente familiar, social e profissional, cios e até suicidio. Comosobreviventes, eles queriam es- quecer o passado, mas também nao con- seguiam viver o presente. Restavaclhes, ento, apenas correr atrés do futuro, na tentativa de recuperar algo que nao exis tia mais, pois a paz interior de cada um tinha se perdido em meio a campos de batalha regados por sangue. CAPA | Franca dos terroristas LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE E TERROR!!! Varios fatores tentam explicar por que a Franga, considerada o bercgo de ideais iluministas nascidas na Revolucao Francesa, é, aparentemente, um dos paises mais vulneraveis da Europa frente ao terror desencadeado pelos jihadistas ae Cee SCR m mCi n ee Ce Mee co od Oe MST tc ee etm Pe OCS ace pecialmente, os sujos e despreziveis ee eM eon eR Co Pe cuien c One ore COLCA ee Crate CTC) PG eee cL OSCE amc ce POE CeCe CO Tat ce PCRS RCL Come eee Stet ONrecn cece Cnt en Deemed série de ataques terroristas em paises europeus, em especial no territério eee ECR CR ar sen) jornal satirico Charlie Hebdo e um su- Pree COR CC ees emccrte CO eC cee nen Cope ea OCMC RECs Bd Depois do ataque a redacéo do TEs a OOO tros atentados terroristas na Franga, a maioria reivindicada pelo grupo Esta- do Islamico: o Recor cron Cnr Cena POR Ren COCR CEI DCCC CRM Cre ME Tatty Ee Baa Cree Reon cam) Preece eee Cec Ghee ce Se CB eB Ch eons PCa rents Bd OO Ges RTC Cs ca TOR CCRC Une c Ty foi detido depois de ter matado uma Pere COCR nc Uke tra uma igreja de Villejuif, nos arredo- res ao sul de Paris. 0 suspeito ja esta- RECON es Cecanee Cen oes On a Cae ce Or Metres stad Pome Coo Rm ETS Cit) eRe oe SCORE UL mms oe Lceltt SC eRe CCC Lae frtthn mee ema te eet PERCU ROR CLs cma ac laces Saint-Quentin-Fallavier (sudeste). Save e} CHARLIE HEBDO (Tei ata) I ete age aL) o Quatro jovens de 16 a 23 anos, en- tre eles um militar que deu baixa, fo- enero eee as eute eC CECR Em neta ied Béar, no municipio de Port-Vendres, SOCOM cree Gey eee Se ea} Peete n OC ECR arto) Pee CCS eet ed eat 4 PERU Chom eet le eee Reet er outer CCR Ca at fogo a bordo de um trem Thalys, na rota entre Amsterda e Paris. Duas pes- Pere crete CEG ECe tia eR ater) branca. © atacante preso era um jo- vem marroquino também adepto do Pei CE CBC t hbase co Terroristas suicidas provocam um Cee TOMO CC OCMC Oo) ete Toa aU eke ean YASSIN SALHI SENTADO AO LADO DO Col Toa ae een LL eee k ene Ly CR ace eee Se Lae Pee mR Ce CC Coc Cee eon Re Uke rc Cantos de forma (quase) simultanea, tiveram como alvo a casa de shows Bataclan, SE eC ee Cech iCrm: CMe ede) CERRO Om Cet Ccee CCC CB Sc emo C UGE OR CR Le cidade, em Saint-Denis. Naquele mo- PUCONCOME Teen Cla CREB tases cet PoMe Eee Cgc evo con Em Ge PEC Seen Gc meta cle Oe eR RUT COR Teter Ser EME CCE OCT mean ea Coosa e a DOS etme) nb eben Mc te SCCM OCR shes OEUUC Omar Cie ene Leta eee LE tense eens COROT Crue Cs uma delegacia do norte de Paris. 0 PCC eMC MC Cure tt) manuscrita em 4rabe, na qual jurava nO Oa nee Tene ee YS CAPA | Franca dos terroristas ABBALLA POSTOU UM VIDEO E FOTOS NA MIDIA SOCIAL APOS OS ASSASSINATOS EM MAGNANVILLE ? O PADRE JACQUES HAMEL, 84 ANOS, MORREU DEGOLADO APOS UM ATAQUE COM Peete Ne Con el Rte ALC Bret Sen ater) Um extremista de 25 anos matou um POSE ROR VEC Eta EMEC b a Cock ( SECC OLS CRT TE: Eee oe oa pois entrou e matou a esposa do oficial UR sea CRC cer OR Oe Meio ceu em plena Eurocopa, dois dias depois do massacre em Orlando, EUA, que dei- xou 49 mortos e 50 feridos. O assassino Larossi Abdalla foi morto por agentes PERG Cee CRO eeC Bee ei tacry depois de ter reivindicado sua acéo nas Besse le $14 DE JULHO DE 2016 Re TCO OR OORT TS eNO e VOTE Pee une eee ee Rae Seren nent) TCE RU CCE neo eecats eG C EY Soc uee Nec rteee Cra ted Peo er Ome Pome oem Om Eom 32 | LEITURAS DA HISTORIA Ree RTE MTC RC Cenc mentee Bcc ney entra tac tet Rs area este tc ts cel COCO ES SOLER Tare orn eee erent thoes Ter S} © 27 DE JULHO DE 2016 RR EU Cen Cea ton De CO enn CT te EW tat Celr Cer CMs OME Clecn etic tar| uma igreja da cidade de Saint-Etien- Pee Rcea OL ra dia, ao norte da Franga. Uma freira, COCR nm sae BCs mete) te em CES OER Ree rec reticry Orc Cee onan POOR Te nen Cem kere Pee tet OREM eeu encore peer e ea eta POPS Cn ee tec Rice sa matou os dois assassinos que ain- da mantinham sequestrados cinco re- are een CMe OTERO tee a eA Cec Maelo el] Isto TRAM UR CL asy aa cht e hol Bt ea Del} POR QUE LA? Se en none PEC Om nh Cheers mela KC nimeros da revista do Estado Islamico, eC ee nea Ce Ronn Cen eee ence Err ya Cee P aC em uence diretor-geral do servico de inteligéncia Pome emer Gare eee eS mC cTnic ty OCCURS HC cle cm Uc POR Ree eT Cte rr tt De acordo com dados divulgados POOR EEC come Ceca 2015, 0 terrorismo matou 149 pessoas ree er) PCa ep Cue CE cere td oe a ee Res cea iad de inteligéncia do pais. Um deles foi a tentativa frustrada em marco de 2016, PCH CRM tcc Me cot mt ta Mere] (0) nos arredores de Paris que detinha em RO ee eee ee Orton Me eect eee Chee nes Ge RTC Once SCOR RO Cam od destruidor das bombas. Pernt Cosa ecect crea ty Cues enone CCRC TsEC) fundada pelo profeta Maomé no século ame See ume tec tite Crees ee RCC mts Pree er CeCe Coe kee tante de ataques. AMARGEM DA SOCIEDADE Pe serene Ceci Pn EE By CeCe Ray seis milhGes de pessoas, 0 que corres- A FRANGA TEM A MAIOR COMUNIDADE MUCULMANA DA La fo Mo ae ponde a quase 10% de sua populacao. eee CM ETM eet) POR ee Cee Cee tes de muculmanos vindos das anti- Perey reenter Pe Oren CR et Resi iia per ke che aL oe Pe Cert tnt tT eC CRUE eS CRMC CLEC Ly as populagdes de baixa renda. Para PCa E GER Lec eT See eM ne esac) CCC SOE CS Cte once ene mente ativa esta sem trabalho. Nas pe- PIECE eco Sacre Core Ce des, como Paris e Marselha, os indices COCR ncre CRORE aCe aey Buleeb Berta) re Cem on CaetC CCT te PORE Cena cet a PCOS Sener ey RESO O Te CS Een Cee een EER er eS eLMy Vane Cot CUR eC Ck ccoacr ty CE eec CW Gasca case mea fete CR e ett ORe ett) de exclusao social entre eles, o que PBC R crm TiCtricn Ts SCE Cece mC MEL old PRCT NCHRET ever REC) Paton oS CM aS TLC TeEy pelas semelhancas dos perfis encon- Pree eC Me ee Le Smr oSMLb Ld CCC BCC Ceo Chee msGry Pe eee eno pt eee te ttc ErCereC Re rier meme meen toct tra FR CSM CONC atm CTT) Coe aCe ESOC Rah OC oe dimento de trabalhos temporarios ou Teale eee eG Leta a a PO ke beeen ea eet Em Paris, NO DIA 17/01/2015, A JUSTICA FRANCESA PROIBIU A REALIZAGAO DE UMA eke tates acy Oke ae eee eee a Le COCO e Tee TEN ete Om Muitos ja foram condenados pela Jus tiga por crimes de violéncia, trafico e LOS eee Ce Ceo CL Gard por esses jovens 6 alto: corresponde PROC CMT Met CMe ocr ) PoC ECR URLs core ORR Re Cnt em noe eS c aSeme cece ea Oe SLC coe teCo LTO eter ee rec cec em cre car em Sao Paulo, a falta de oportunidade Cece CSL Com es care Ree Ree nee ad eee ORR a maior ntimero de ataques terroristas ao ence Rn ta ets sano, o Estado Islimico aproveita das Pee Soe em Eee Cement eee root et tetscctcas Ihes uma melhor expectativa de vida ao Soa ORE) Mes eto reece oer terete COROT Eee ORCL Coe Gemeoec a DOE Ge eae OMe cece eS ere Ce nias no Norte da Africa, a Franca é 0 Poe ccna teat Grete Messi Seca tSn tet eae Mette EMSC Cn CCR acer te eet) PCM em PCM en aS ataques, mas uma parcela de jovens descontentes com as privagées e falta de oportunidades. Por isso séo mais eToCmS Nee CEE OMT CE Tn) PCO nc eCne eam ay vez, os instiga aos ataques”, explica o rence tts Cre CMO rites eo me aen cate SEU CeEteees tet eee tc se aliar ao Estado Islamico na Siria ou POS NCR Tt CER C each ce ee SOc Res muculmana estariam implicados em aU eed CAPA | Franca dos terroristas SSCS EC Reem Co Bee re Mente eee ie CoO Cet eee oe roristas e, entre eles, mais de 200 sao POC eM Cm Ras eC ent ty Pee ULB oon Entretanto, a falta de perspectivas CO emt ea Ooms emCcee net nao atinge apenas ao mundo arabe, mas também as sociedades ocidentais, inclusive a francesa. De acordo com PPL Geer ieee emer amceiss i Cee pesquisador do Gatestone Institute, se Prono na NED Cheek cat ten (os tudos Estratégicos, de Madri, Espanha, em agosto de 2015 foi realizada uma Pete RC CASTE Teme cnt 15%, dos franceses (sem ligacao com as comunidades muculmanas) apoiam o PCC OE Tui Gs eC Eee ContC TT Peer e eet nc Toe PeveN TRAC SCR eter re Teeter Geet eee etree BSE CR UCU Se em aC naeAN maior porcentagem de franceses que se COs ee ec eo eee ees Para Soeren Kern, cientista poli- lee COSC ee co Cee CO Ee Em onan Tetras y Ue CMe me MN CG eCRSC IVES Seen EME Ms rattan cet PERCE BCC Re ener es Cate Pee ec Cities tin CSCS Cue a coe re COs ae RCE Cen eet ECR ate eS Pen mniter one ER my tet) PRTC CNet en ECR tence Perce trea Cera Peete (Reon sce testy CE cio RR tcc cen UE T EGR EGR aCe eet msct tae) Peso CRt Oat ee clscneeCee tre CICS OEE UME enn SCRE Td Teen C eno Teeny © Norte da Africa. Ses COMe Cone CCR oat acces Dee eon rem ony Re RSC cm Oa Onc) COOL OCR aeM ken MCE rg PCR uE Recut eRe Menace Cero Cente Oh rk Eo 34 | LEITURAS DA HISTORIA aS O El EUM GRUPO EXTREMISTA ISLAMICO QUE ADOTA A VIOLENCIA E O TERROR COMO PRATICAS DE AGAO SCC Me mC eee Cee eR os ee oe Pee emC Cem ec Cae teed Ceo ote Te OME Ree eta ocd Po cn eee eo Coe CnC CRMC CR crete Cees ee Rec Tee cientista politico Joaquim Carlos Racy, Pea Cee eee eec? ternacionais do curso de Ciéncias Eco- Bele) CMe MON Coes aCuiec its Neer aCe ae CCU ates eon Cee te eee cette oni POE rec ROME Crete ere STR CMS TL oe Ce NeOUCMeNE tte ia ace Cae SSE ET EUS Rc et Pern GE e eerie men CeO Sc Omen ECR een] mais de 80 pessoas em Nice, em 14 de PLO CMe Coen cece tacos CCRC Rc r ttc) STO EO oe ree capacidade de se inserirem, de forma OC CMC CUCM Cte aed outro lado, esses acontecimentos tam- PUR SCE ete Cct Cn OE sTce do e, talvez, dos proprios franceses de entenderem a cultura e as necessida- Cost cece om CCR Eyed efetiva aceitacao deles pela Franca. No et Oem nt fica canalizado e facilitado pelos con- flitos no Oriente Médio, como a atual Porc ESE CORE carci A eee ee One Dem eO Cacog Cetin Liam EM UMA NOVA DEMONSTRACAO DE INTOLENCIA RELIGIOSA, O PREFEITO DE ewe Ce Sa aa ee LEU enon T olin ll (TRAJE DE BANHO TIPICO DAS MUCULMANAS) Como se nao bastasse, devido ao fato Gea ane te arty Price Ce vce MOM IOC MEE CCT Cee Sach Recon et CR act a Coren CMe ene me mts aE TCR EnTErae Monee wae CRTC Trg de origem. Esses cidadaos também nao POcet Mee ree eoCt ees chee Renee nee nce ony Pre CCR eee CEC ce Eanes nos em conflito. Og SO ccs Bel ia PSE Ost cUes cites ements ts Penn ttetcee Tine tart atid Pen en OMe ater ete ened PoC ERS eco E CUD oe Mea oou OOme eC eC CR aah eect ecm | Pe Cee eto Pe sche UOC mac Uc aumentando dessa maneira a possibi Cen REO mo me CRIP Rents Co On ne ere servicos de inteligéncia e da policia, de eee ge renee Cg eteten Gls 0d ODIO A CULTURA FRANCESA PEM CMe Bne tC en tos re dificeis de serem contornados. A Fran- ee Ce Cem Eber) Roe Uncen eC Cee C le aOR neem UEC ou a sociedade francesa deu impor: PeeteeOR Caton cere Cement Te dades muculmanas, como a migracao de jovens com nacionalidade francesa por grupos radicais, os quais ainda PCE E GMM octane mC PVE TOME SMT SEU tec TSMC Te ez) Peete) Cee ee eno Cee POOec CORTE Re tee SE een Oh gd pregagées “religiosas” que aconteciam Core k Coreen ects VS Re Cee eno De Cc Cac rice eect CREM ee eee Ea tn ce See ee eee con) eons C ee ecu men rc eet Pee tat ee Cec Oe ee cic que essa politica sempre dificultou a CON oe Re oe Cmca cd CROC Coen eci sO cer escent cy por parte das autoridades e da legisla- Ce ere Sets crue n en SUD SO eRe toe SI ceeutran eae Oe ROR On es ete CU nt eee Ro any 2011, 0 uso piiblico do nigab, véu que Cn eee OCCT OTC Mca MOC UC OC monta a uma época anterior a fundacao COS ESE econ COS cee Oe arene) uma afronta aos valores seculares fran- COCO RCTs Peon eR Ree) Re TCO oe rod estranhar que a cultura laica do Estado francés seja utilizada por radicais como Pe CR eset CM Creme tay COCO CMS ae) Pest MOR er ones Colle Fn Cec es cae Pe ORCC eR OR CSTE TC Pee ce ecU CCR aioe Cee ee MRR ome e Creer Succn Mic ecm R Zo Peete enc Pec ON Diwan Como Cm e Peer Meet e mea) Penn ence CREO) RRO CEST C ECR aTUT COU recente ra e da politica ocidental francesa. B, Cee COR CRC eR ccm ron em COT Mea PRCT ey ROCCE eesa ets eRe Gla) oer eee NCR ck eck 6dio nas comunidades muculmanas”, GOR ie ee eee Cen Tia aU eed fe) UTFXe} | Foro privilegiado e imunidade parlamentar AS -P ». vn iT if a SALVO-CONDUTO? Recentemente, o juiz federal Sérgio Moro observou que sua missao 4 frente da Operacao Lava Jato estava por findar, considerando que os indiciados que cabe a primeira instancia julgar j4 haviam praticamente todos sido julgados. O que ele quis dizer 6 que os demais sao pessoas com foro privilegiado e as acdes devem ser passadas a instancia superior, mais especificamente ao Supremo Tribunal Federal (STF) Por Luiz Carlos Borges da Silveira oro privilegiado é um direito ad- Fone por algumas autoridades publicas, de acordo com 0 orde namento juridico brasileiro, garantindo que possam ter um julgamento especial e particular quando so alvos de pro- cessos penais. Formalmente chamado 36 | LEITURAS DA HISTORIA de “Foro por prerrogativa de funcao”, 6 atribuido aos individuos que ocupam cargos de alta responsabilidade pibli- ca, como: Presidente da Repablica, Vi- ce-Presidente, 0 Procurador-Geral da Reptiblica, os ministros e 0s membros do Congreso Nacional. Conforme consta na Constituicao Brasileira de 1988, a investigacao e 0 julgamento das infracdes penais das autoridades com foro privilegiado pas sa a ser competéncia do Supremo. Or- dinariamente, esse dispositivo acaba por retardar a tramita¢ao dos processos a Va e aplicago das penas e cumprimento das sentengas condenatérias, quan- do for 0 caso. N&o faz muito, tivemos exemplo disso com o chamado Mensa- ldo que quase chegou a prescricéo. Ha também outro dispositivo, este aplica- do a parlamentares de todos os niveis, que igualmente protela acées e causa sensagao de impunidade; é a chamada imunidade parlamentar. Voltando ao foro privilegiado - e mais especificamente 4 Operacéo Lava Jato por ser epis6dio momentaneo ~ nao deixa de gerar questionamento. Por que empresarios, executivos e diretores de empresas privadas, assim como da es- tatal envolvida no escandalo, foram in- vestigados, denunciados e julgados ten- do as penas arbitradas e dai levados a prisdo, enquanto politicos, alguns com low grau de participacao semelhante, conti- nuam livres e parlamentares envolvidos exercendo normalmente seus manda- tos? O foro privilegiado explica. Imunidade parlamentar - Trata- se de um conjunto de garantias dadas aos parlamentares (senadores, deputa- dos federais e estaduais e vereadores) para que possam exercer as suas fun- Ges sem violagdes ou abusos, atuando com liberdade e independéncia no exer- cicio de suas atividades sem 0 risco de serem processados judicialmente. Essas garantias sao expressas na Constituicdo Federal que em seu Art. 53 diz: “Os Deputados e Senadores sao inviolaveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opinides, palavras e votos”. E importante notar que origi- nariamente nao existia no texto cons- i (atarWeConmons/ Dok Main titucional o termo “quaisquer”, intro- duzido pela Emenda Constitucional n° 35, de 2001. Deliberadamente a inter- pretacao da imunidade é distorcida e ampliada. Diz-se, com certa razdo, que se tornou espécie de salvo-conduto em casos de crime comum. Muitos sao exemplos de candidatos que lutam de todas as formas para se eleger e assim conseguir 0 mandato que Ihes resguar- da de delitos que nao sao decorrentes de opiniées, palavras e votos. Outro empecilho para punicio de parlamentar sao as formas de imunida- des, acessérios introduzidos por dbvios motivos ¢ interesses, Entre essas for- mas estdo: imunidades materiais, que se dividem em absolutas e relativas, e imunidades formais, relacionadas com 0 foro privilegiado e aos processos de prisdo de parlamentar. Quando uma dendncia contra par- lamentar chega ao legislativo encon- tra outra barreira, 0 pedido de licen- ¢a para abrir processo. A autorizacéo depende de decisao da Casa Legislati- va que, geralmente, nega ou protela, usando para isso 0 “espirito de corpo”, ou corporativismo. Isso tem base no pardgrafo 3°. do Art. 53 que expressa: “Recebida a denincia contra 0 Sena- dor ou Deputado, por crime ocorrido apés a diplomacdo, o Supremo Tribu- nal Federal dara ciéncia a Casa respec- tiva que, por iniciativa de partido po- litico nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, podera, até a decisao final, sustar 0 andamento da acao”. (Redacao dada pela Emenda Constitucional n° 3s, de 2001). Pode parecer utopico, mas seria o momento de se aproveitar os bons ven- tos de moralizacdo e vontade de passar © pais a limpo. Nao sera de todo inatil intentar mudancas. Boa parte dos ma- les vem do foro privilegiado e da imuni- dade parlamentar ~ e isso nao é clausu- la pétrea. Nao sera facil mudar porque a decisao final cabera aqueles que desses privilégios se beneficiam, porém a von- tade de mudar faz milagre, ainda que demore algum tempo. = Luiz Carlos Borges da Silveira ¢ empre sirlo, médicoe professor. Foi Ministroda Satide e Deputado Federal. LEITURAS DA HISTORIA | 37 Vey Ke)s(ee]| De “A” a “Z” CIVILIZACAO ROMANA Sob o ponto de vista politico, foi a que mais influiu nas civilizagdes ocidentais. Submetendo a seu dominio todos os povos, Roma estabeleceu a sua organiza¢ao politica e social no Ocidente, com a adogao pelos submetidos de suas instituigdes, sua lingua, seus costumes Daredacao 38 | > DAHISTORIA - “ Oo oy h < Ae r C aie Gr <<

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