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Audrei Gesser LIBRAS? que lingua é essa? | CRENGAS € PRECONCEITOS EM TORNO DA LINGUA DE SINAIS E DA REALIDADE SURDA | Le eras” = Sumario ‘PREFACIO: DE UM IDEAL PRECARIO A ARTICULAGAO DO ‘nvi0 QUE AINDA PRECISA SER DITO [Pedro M. Garcez] SROKA acs et UR : ea INTRODUGAO 9 eis aeeceanae TI 6 mr cue vaean 08a sabe folara lingua oral ard pe de gee prc ae soir ea soceode moot cee) Trio one ur ea tee 63 A surdez é uma deficiéncia?, 64 @ Por quea surde 6 vista Re na sociedade?, 67 A surder éhereditéria? Hib diferentes tipos e graus de surdez?, 71 ‘Aparelhos auditivos ajudam o surdo a ouvir melhor? implante coclear recupera a audigdo do surdo?, 75 A surdez compromete o desenvolvimento cognit istico do individuo?, 76 (Que moment mos?, 78 consiperacoesFinats G3] REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 85 Cig Nee Riba Rep ctaicrec nn an De um ideal precario a articulagao do dbvio que ainda precisa ser dito Proro M. Gas celebrado sociélogo Erving Goffman, na ideal seja levada bem além do auditério para os cendrios e ocast {es no mundo onde o tema de que trata se fan vividamente relevante. Além de ser um Ideal, esse ¢ ainda um ideal precério, por aque escutar ¢ bem mais que ouvir. Foi num encontro de sala de aula em meados da jé distante década de 1990 que, hoje sel, ful escutado, e 0 meu ideal precério tomou con- 3s. Tratava da natureza da linguagem natural humana, me ainda incrive a, quando surgiu a questo — fas yeclda da pl inguas de sinais so linguas ma.um ebdigo restrito de transposicao d ‘ive indicios de ter sido escutado logo quando se apresentou diante de mim uma aluna com sua curiosidade, que resulta na presente obra, De ina, ela um ensaio sobre as questdes suscitadas pela discussio na -seguiv para localizar os espagos antes invisivels na universidade, onde 8 nias cur uncan cae '@ LRA poderia estar disponivel, af encontrando a prépria lingua, seus "usuarios protagonistas, os surdos, bem como pais eeducadores de surdos, ‘e uma prosaica gente como a gente, interessada em conceber um mundo feito também por quem, sem ouvir pode escutar. 0 percurso nio parou ai, e Audrei engajou-se em pesquisa sistems- ‘ica que indagava como se organizaria uma aula de LiBRAs como lingua adicional para pais e educadores de criangas surdas, 0 trabalho mostrou ‘cenas de sala de aula, como a que tenho registrada na meméria, do profes- sor surdo virado para alousa, de costas para a turma, espera de atencio para ser escutado. Aprendemos todos a ver como era preciso que esses as reflexes no IEL-Unicamp sobre as diversas comu- icamente complexas no Brasil ea convivéncia em meio ‘académica protagonizada por surdos na Universidade Gallaudet ampliaram o universo de escutas proveitosas da autora, amadure- ‘ido em sua tese de doutorado sobre as iden*idades em jogo quando ouvin- tes aprendem eras. Por isso, é mais que oportuno que ela venha a piblico nesta obra para dizer um pouco do que, como ela mesma afirma na introdusio,é0 Sbvio que wvintes tenham conhecimento do rico ‘que se revela aqui para tantos quantos venham. Porro AtecRe, acosro D& 2008, Introducao “ alee ee eee eee Se Se Seeeeenercsee Siar SEE Rickman penance neceaeres ec eee ee ete ae man eet neers aafrmar ereairmaresalegtimidade. A sensagioé mesmo a de um discurso repetitvo, Entretanto, para a grande maioria trata-se de uma questo alheia, «pode aparecer como uma novidade que causa certo impacto e surpresa: ‘Ndoadiantaésemprea mesma cosa. Quovdo estamosem um evento que fla pore quem est fora do mea da surdes tudo énovidade mesmo! As pessoas cam espa to, por parte da sociedade co lingua. Certament 10 mas cae bean tein dex como deficincia — vineula a cognigo eno pensamento istic e cultural. Qual &, pois, 0 objetivo de escreve Em primeiro lugar, é criar um espago em que esse tipo de di seja pensado. De forma ‘mais geral, 0 desejo do livro origina-se de reflexes sobre algumas ques tes relativas & area da surdez, pensando especificamente a relagso do ouvinte com esse outro mundo. O momento parece oportuno eparticular- _mente pertinente, na medida em que decisdes politcastém propiciado um olhar diferenciado para as minorias linguisticas no Brasil. Percebe-se que 0s discursos sobre o surdo,a lingua de sinais ea surdez, de uma forma am- pliada, “abrem-se” para dois mundos desconhecidos entre si do surdo ‘em relagdo ao mundo ouvinte e o do ouvinte em relago ao mundo surdo. ‘rengas, preconceitos e questionamentos em torno da lingua de sinals e da realidade surda. Essa discussio é crucial, pois nae através da linguagem esta- ‘mos constantemente construindo representagBes,crengas esignificados ai ‘mados, consumidos,naturalizadas edisseminados na sociedade, nos espagos escolarese familia “normas”e“verdades absolut” A, Lingua “deSiPais cada vez que uma me sat see uma queunan usw sinais; no Japdo, a lingua japonesa de sinais; no Brasil a lingua brasileira de sinais, e assim por diante. Vejamos abaixo a diferenea do sinal “me” em 4 diferentes linguas de sinats: ‘Unga conte ng asian [Urpin rice ‘ame oy ii oe SH ek ze nibern oe 9008 exemplosdelinguas“artficais”cujo objetivo maoréestabelecera com nap internacional Esse tipo de ingua funciona como uma ingu aur ‘4 franco, 0 gestuno, também conhecido camo Ingus de sins internacio- ‘al da mesma forma que oesperanto uma lingua construida,plancjada ‘O nome é de origem talana e significa “unidade em lingua de sina’ Foi menclonada pela primeira ver no Congrsso Mundial na Federaro Mundial os Surdos (World Federation of the Deaf- WFD) em 1951. Em meados da <écada de 1970, 0 comit# da Comissio de Unificago de Sinais propunta urn _ sistema padronizado de sinaisintermacionais, tendo como crtéio a see- 0 de sinas mais compreensivels, que fcliassem 0 aprendizado, a partir da ntegrasio das diversas linguas se suas. Acomunidade surda de forma a “rea, uma vez que fol inventa- 180s slo oferecidos, 0s adeptos «do mavimento gestunisadivulgam os sinais internacionals em conferéncias ‘mundias dos surdos (Moody, 1967; Supalla & Webb, 1995; Jones, 2001). A lingua de sinais tem gramatica? spenas nos times ‘trabalhar e video (dferenciados pelo ), laranja e aprender (quanto 8.) ‘Oposiio de CMe Oe (Oporigio de de Oporigio de M: 0 esa lp Capa aol come mA, 6 mae cue uncan Co Podemos testar os pares minimos com virlas outras palavras, mas vejamos a seguir uma ocorréncia em LIBRAS orientagio da palma da mio far a distingio 4a, portanto, como mais um parametro: a a Ajram 2 Ser adad ajudo X"e verbal dependendo da or apenas): Auber ox ou 7 §.. (so alas can eam Cp Rad O08 ‘A configuragio de mao diz respeito 8 forma da mio — na palavra "co- ‘nhecimento, um sinal realizado com wma mao em numeral “4” ou na forma [82]. orientapto da palma da mdo indica que os sinais ttm dires3o e que sua ‘versio, em alguns sinais, pode altar o significado do sina. A orientarlo é diego que a palma da mao aponta na realizagdo do sinal — eno caso de “conhecimento’ para o lado direito (contralateral) A locapdo refere-se ao hi ‘at podendo se realizado em alguma parte do corpo, eno exemplo podemos verificar que ocorre em frente a0 queixo. Finalmente, o movimento, que pode unio estar presente nos: Indicador bate préximo a sig dos quatro parmet diteto do queixa. Vejamos a inal “verdad realizado co WW may cue uncan Cu raoibeai i orais (entonapd taque, expressies facais, hesita- soja sdo formadas a partir de unidades simples que, combinadas,formam Bes, entre outro as expresses faciais (movirnen- ‘nidades mais complexas. Como observa Noam Chomsky, todas as Kinguas to de cabera ) so elementos gramaticals funcionam como sistemas combinatéros discretas:"Sentengas e frases S30 ‘constru‘das de palavras; palavras sio construfdas a partir de morfemas, fe morfemas, por sua vez, so construidos a partir de fonemas” (Pinker, 1995: 162).Em que, entio, as linguas oraise de sinais diferem? Diferem quanto a forma como as combinagbes das unidades sio cconstrufdas. Enquanto as linguas de sinais, de uma maneira geral (mas rio exclusival), incorporam as unidades simultaneamente; as \inguas ‘orais tendem a organizé-las sequencialmente/linearmente’. A explicagao para essa diferenga priméria se dé devido ao canal de comunicagao em {que cada lingua se estrutura (visual: caracteristicas fam mais salientes em uma lingua do que em outra (Fer reira Brito, 1995; Wilcox & Wileox, 1997). pr cl ra tr ea pcp ahead noma m2 fees bak pr eng. tomimas. A Iingua dos surdos 6 mimica? 20 mers cue ean (sw 0s surdos usuarios de ast langassem mao desse recurso para sinalizar 0 conceito, ¢ cada sina tivesse um jeit, foi possivel constatar que, no an- do ponto de vista da sociolinguistica athean oes 35 ‘se sobrepondo lingua de sinais nas interagdes entre surdos e ouvintes, por ‘exemplo. Efacilmente demonstravel que hi marcas de imposiglo da estru- tura do portugués em alguns ‘alares" sinalizados, especialmente nas mos ‘dos ouvintes (Gesser, 2006). Mas, por que isso ocorre? ‘A motivagio para a ocorréncia das marcas estruturais do portugues 10 simulta no caso do sinali- vvirias razbes: pode ser um movi- ‘mento em direslo ao uso de uma Gnica lingua, no caso, a LIBRAS; ou pode nda, o uso de uma forma “hibrida" funcionar como uma estratégia utilizada por alguns ouvintes que estio ingua de sinais — sendo a fala em portugues sinalizado entre uswarios da LIBRAS. A lingua de sinais tem suas origens historicas na lingua oral? 36 ums ue wneinCen © primeiro € 0 relatado em uma pequena ia comunitria nos arre- dores da costa de Massachusets Estados Unidos, chamada de Martha's Vi neyard, onde uma eleva incidéncia hereditria da surde fol observada entre os séculos XVI e meados do século XX Nols Everyone Here Spoke Sign Language, Nora Groce (1985) dedica-se a deserever essa rara situagio naitha A autora conta ahistéra dos surdos nessa comunidade, mostrando ‘que os primeiros habitantes daha vinhams da Inglaterra eflavam algum tipo de lingua de sinals.Estavam to ntegrados a da ada da ia que nto se consideravam nem eram consideradosdeficients ou um grupo & parte. ‘és das de hoje essaiha&conhecida comoa tinea comunidade bilingue 1a qual tanto ouvintes como os surdesusam sina na mesma proporg30 ‘que lingua inglesa em todos os Smbits da interago cotidiana, 0 segundo tipo de evidéncia vem da Franga, e estérelatada em um livro escrito em 1779 por um surdo chamado Pierre Desloges. 0 livro se intitula Observations of a Deaf-Mute,e 0 abtor escreveu-o para defender sua prépria lingua contra aqueles que achavam que os sinais deviam ser ‘banidos (Wilcox & Wileox, 1997). ican sign language - ASt) sm suas origens na lingua ite americano Thomas im de buscar ajuda tas franceses, Gallaudet desis: rent Clere. Na Franca, ficou muitos meses aprendendo de sina, e entdo teve a ideia de convidar Clete para ir morar nos Estados thean re eos 37 Unidos, para que eles abrissem a primeira escola para surdos. A escola foi {naugurada em 1817 e tinha o nome de: The Connecticut Asylum for the Education and Instruction of the Deaf and Dumb". Os surdos de todos os ‘cantos do pals migraram para a escola, enquanto, com o passar dos anos, ‘outras escolas lam sendo abertas em diferentes regides. 0 filho de Gi det, chamado Edward, fundou, em 1864, a Gallaudet University. Embora 6s sinais americanos tenham rafzes nos sinais franceses, a ast também sofreu influéncias dos sinais dos indios locais. Essa combinagio formou a ‘asi moderna (Lane, 1984; Bayton, 19 Da mesma forma que na ALS, na LIBRAS também se observa algum tipo de influéncia dos sinaisfranceses. Em 1855, um surdo francés chama- {do Ernest Huet chegou ao Brasil, com o apoio do Imperador dom Pedro I, ppara crlar a primeira escola para surdos brasileiros™. De acordo com os ‘egistros hist6ricos disponiveis (Reis, 1992), ndo esti claro por que dom Pedro Il estava interessado na fundardo da escola. Rocha (1997: 53) espe- ‘ula sobre pelo menos duas possibilidades: uma seria a possibilidade de ‘a princesa Isabel ter uma crianga surda; e a outra teria relago com uma visita do imperador a Universidade Gallaudt para discutir a fun- io de uma escol similar no Brasil 0 fato € que em setembro de 1857 {undado o Instituto Nacional de Educag3o de Surdo (INES), no Rio de Janeiro, no mesmo enderego em que se localiza até hoje. Durante anos, 0 INES tem sido o centro de referénciae de formagao dos individuos surdos. Embora, naquela época,as pessoas nio fizessem mencdo & LIBRAS, sinals ‘eram privilegiados na educasdo das criangas. Huet trabalhou também na formagio de outros dois professores, conhecidos como os irmios La Peta {que ajudavam na instrugio dos surdos. A escola passou por mudancas radicals com a saida de Huet (entio com sérios problemas financeiros € conflitos familiares) e com a entrada na administragdo de um médico cha: mado Tobias Rabello Leite (de 1868 até sua morte em 1896)". Wilcox & Wilcox, 1997). ror the Eco orga de Huet er 38 umaseneunancse Outro fato importante nese processo fo 0 Congresso de Milo, em 1800, que, em fungfo do impacto mundial de sus decisioem favor das flo- sofas @ métodosoraists a qualquer custo, afetou a educapto dos surdos ‘em todas as partes do mundo. No Brasil. ideia do oralismo comegou a ser disseminada em 1911, ea superintendent do INES, Ana Rimoli de Faria Doria que acatou a ilosofia separava os surdos mais velhos ds mats no- ‘vos para evitar 0 contatoe uso de lingua de sins. Outra igure ness ce- nario foi Ivete Vasconcellos, que, inspirada na abordagem da comunicago ‘ota influenciada pela Universidade Gallaudet, deendia que fala, gestos, pantomimaesinais deveriam ser empregados na frmagio dos indviduos surdos Muitas critica foram ets essafilesofia, mas debate propiiava tum repensar-de tudo que for fetoem termos linguisticos educacionais. Na década de 1980, fundov-sea FENEIS (Federagdo Nacional de Educop20 « Intgragio de Surdos) Trés amigos surdosencabecaram a fundago da instituigdo — Ana Regina S. Campello”, Fernando M. Valverde e Anténio C. Abreu —,significando um grande aango em favor da defsa dos dire- tos dos surdos. Em resumo, origem da LIBRAS est intimamenteligads 30 ntre si contato do professor surdo ios proporcionou, em grande medida, ingua francesa de sina para a UBRAS. ue a coabitagdo da m: shea 06 948 39 A usras ‘falada’ no Brasil apresenta uma unidade?” CCrenga. Em todas as linguas humanas, hé variedade e diversidade. 0 sociolinguista Marcos Bagno faz uma bela discussio em torno da des- construsdo de alguns mitos sobre a lingua portuguesa em seu famoso ulstico — 0 que é, como se faz, escrito em 1999 e, amente reeditado, Segundo o pesquisador, 0 mito da presente no discurso nao somente da populagdo, mas de muitos intelec- tuais. A escola, por exemplo, tem se apropriado desse mito, tornando-o natural. Uma vez naturalizado, deixa de ser crenga e passa a funcionar como um prinefplo normalizador, impondo AO ons x ncn 10 (que os surdos cearenses, paranaenses, cariocas..", Quem jf no ouviu alguém dizer “esses sinais sao ‘antigos; do tempo dos avés!” ow ainda, ‘na (quele lugar se fala diferente”. Essa diferenga ndo deve ser encarada como erro, entretanto: Bf faculdade (0S) | soeieee eset oa dp pnd gl D4 acabam dizendo algo como te; quando de fato se Athen ne su 41 “sotaques’, empresta ¢ incorpora novos sinais, mescla-se com outras lin {quas em contato, adquire novas roupagens. 0 fendmeno da variagao eda diversidade ests presente vivas, em movimento, & justamente nas priticas: los surdos catarinenses, pau juas em i1BRas®. lista, pernambucanos.. ou seja, a vai AR vows A lingua de sinais é uma lingua 4grafa? Nao, mas, até bem pouco tempo, a lingua de sinais era considerada luma lingua sem escrita. A escrita de qualquer lingua é um Escrta pictogréfica VOR R Fee RR 4s ee BATS amen oes 43 organizado por Judy Shepard-Kegl, ¢ dele um grupo de surdos adultos aprende a escrever os sinais de acordo com 0 “SignWriting™™. Alguns livros e histérias fora mao, hoje jé ha programas desenvolvidos Instaurando nos Estados Uni ‘suporte sio oferecidosa algumas 4 alfabetizaglo em SignWriting. sistema pode ser aplicado na represen: 0 Brasil inicia sua tradigdo, em 1996, com um grupo de pesquisa co- ordenado por Ant6nio Carlos da Rocha Costa, na PUC de Porto Alegre. tinham muita faclidade para escrever. Um dos quisadores no processo de sistematizacdo ét te esta em fase de experimen: tm 4A mss a nt es 2agdo, Nota-se uma diferenga de surdo para surdo no uso dos “grafemas” — uns so mais detalhistas, outros menos. Ainda hé muita especulago sobre o assunto, por isso sio necessérios mais estudos para compreender (0s simbolos e criar uma tradido na Sociedade para o letramento na es- rita de sinals. Sua importancia, entretanto, 6 sem sombra de divida, um ‘bem cultural com positivas implicagBes para ofortalecimento e a emanci: pagio lingufstica do grupo minoritario surdo. O surdo Emo nual Ags oven com ‘ns raze co of asd qu com ‘os cana Evo com os ahs" (Cama Sr sted, 269) Surdo, surdo-mudo ou deficiente auditivo? maioria dos ouvintes desconhece a carga se- mantica que os termos mudo, surdo-mudo, e deficiente ouditivo evocam. £ facilmente obser- vivel que, para muitos ouvintes alheios 8 dis- cussio sobre a surdez, 0 uso da palavra surdo ir mais preconceito, enquanto 0 ivo parece-lhes ser mais “urd mas, no conviéncia com as pripriassurds, ful oprendendo que eles preferem mesmo & que os chamein de surdos e uns fcom atéiritados quando so chomodos de deficientes. Sobre essa questio terminol6gica, muitos surdos téma oportunidade 3s de LIBRAS que mi de se posicionarem nos cu ssa histria de dizer que sur ro surdo-mudo ndo & correto porque osurdo tem aporelno fonador, se do ele pve iodo endo ougo nada, mas @ ea de 3 2003). 6 ees 1X8 WOK 900 4s falas acima caminham no trilho que rejeita a ideologia dominan- te vinculada aos estereétipos que constituem o poder e o saber clinico (Lane, 1992),e mostram outro lado da discussio: 0 reconhecimento da ddimensio politica, linguistica, social e cultural da surdea, eque a nomea- 0 surdo, apropriadamente, conota: ‘Adeficéncta¢ uma marca que historicamente nfo tem pertencido os sur dos. Essa marca sugere autorrepresentacBes,pollticase objetivos no fami- liares ao grupo. Quando os surdos discutem sua surdes, usam termos pro fundamente relacionados com sua lingua, eu passado,e sua comunidade (Padden & Humphries, 1988: 44), Pensar tais termos ¢ de suma importincia, uma vez que eles tém im- plicagbes eruciais para a vida dos surdos (Gesser, 2006, 2008). £ disso {que fala Laborrit (1994), quando diz: Recuso-mea ser consideradaexcepcional deficient. NBo sou Sou surda, Para ‘mim, a lingua de sina corresponded minha voe, meus oot $80 meus ouv dos. Sinceramente nada me ait, 69 sociedade que me tna excepcional. sido encarado em uma perspectiva audiso), dentro de um discurso de lades ndo depende sim de complexas relagos ou, como bem expressa Lat ‘a sociedade que me torna excepcional’ ammo 47 CO intérprete é a ‘voz’ do surdo? 0 intérprete tem tido uma importinciavaiosa nas interagBes entre surdos e ouvintes. Na maioria dos casos, os intérpretestém contato com lingua de snaisa partir dos laos familiares eda convvéncia social com vizinhos e amigos surdos (ocorrendo geralmente em espagos escolares € religiosos). No Brasil ainda no ha tradigdo na profissio ou formagso espectica para esses profssonais, da mesma forma que hé para inté- pretes de linguas oras de prestigio como, por exemplo, intrpretes de lingua inglesae francesa, No caso da umnas, a interpretago ocorre geralmente de maneira Informal, em momentos em que o surdo estéinteragindo com outros in-

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