Vous êtes sur la page 1sur 35
lj uit i “A lingua dos surdos & transmitida S N a | S cada vez que uma mde surda segura seu bebé em seu peito ¢ sinalza para ole" traci Lea, A lingua de sinais é universal? ma das cren¢as mais recorrentes quando sé fala em lingua de sinais é que ela é uni- versal. Uma vez que essa universalidade esta ancorada na ideia de que toda lingua de sinais é um “cédigo” simplificado apre- endido e transmitido aos surdos de forma geral, é muito comum pensar que todos os surdos falam a mesma lingua em qualquer parte do mundo. Ora, sabemos que nas co- munidades de linguas orais, cada pais, por exemplo, tem sua(s) prépria(s) lingua(s). Embora se possa tragar um his- térico das origens ¢ apontar possiveis parentescos e semelhancas no ni- vel estrutural das linguas humanas (sejam elas orais ou de sinais), alguns fatores favorecem a diversificacao e a mudanca da lingua dentro de uma comunidade linguistica, como, por exemplo, a extens&o e a descontinui- dade territorial, além dos contatos com outras linguas. Com a lingua de sinais nado é diferente: nos Estados Unidos, as sur- dos “falam” a lingua americana de sinais; na Franga, a lingua francesa de TR ups: Que Lincs fssaz sinais; no Japdo, a lingua japonesa de sinais; no Brasil, a lingua brasileira de sinais, e assim por diante. Vejamos abaixo a diferenca do sinal “mae” em 4 diferentes linguas de sinais: Lingua austraana, Lingua americana de sinais ‘de sinais x Retiado e adaptaco de Moore & Levan (S93 381 Em qualquer lugar em que haja surdos interagindo, haverd linguas de sinais. Podemos dizer que o que é universal 6 o impulso dos individu- os para a comunicagao e, no caso dos surdos, esse impulso é sinalizado. A lingua dos surdos nao pode ser considerada universal, dado que nao funciona como um “decalque” ou “rétulo” que possa ser colado e utili- zado por todos os surdos de todas as sociedades de maneira uniforme e sem influéncias de uso. Na pergunta sobre universalidade, esta também implicita uma tendéncia a simplificar a riqueza linguistica, sugerindo que talvez para os surdos fosse mais facil se todos usassem uma lingua tni- ca, uniforme. 0 paralelo é inevitavel: e no caso de nossa lingua oral, essa perspectiva se mantém? Mesmo que, do ponto de vista pratico, tal unifor- midade fosse desejavel, seria possivel a existéncia, nos cinco continentes, de uma lingua que, além de tinica, permanecesse sempre a mesma? A lingua de sinais é artificial? Crenga. A lingua de sinais dos surdos ¢ natural, pois evoluiu como parte de um grupo cultural do povo surdo. Consideram-se “artificiais” as linguas construidas ¢ estabelecidas por um grupo de individuos com algum propé- sito especifice. O esperanto' (lingua oral) e o gestuno (lingua de sinais) sao ‘ Atualmente, a lingua auxiliar planejada mais talada é 0 esperante. O russo Ludwik Lejzer Za- menhof, oftalmologista e filélogo, publicau, em 1887, a versio inicial do idioma, com o objetivo de AUNGLA DE NaS TS exemplos de linguas “artificiais”’, cujo objetivo maior é estabelecer a comu- nicagao internacional. Esse tipo de lingua funciona como uma lingua auxiliar ou franca. O gestuno, também conhecido como lingua de sinais internacia- nai, é, da mesma forma que o esperanto, uma lingua construida, planejada. O nome é de origem italiana e significa “unidade em lingua de sinais”. Foi mencionada pela primeira vez no Congresso Mundial na Federagao Mundial dos Surdos (World Federation of the Deaf- WED) em 1951. Em meados da década de 1970, o comité da Comissdo de Unificacdo de Sinais propunha um sistema padronizado de sinais internacionais, tendo como critéria a sele- go de sinais mais compreensiveis, que facilitassem o aprendizado, a partir da integragao das diversas linguas de sinais. A comunidade surda, de forma geral, nao considera o gestuno uma lingua “real”, uma vez que foi inventa- da e adaptada. Atalmente, entretanto, cursos sao oferecidos, e os adeptos do movimento gestunista divulgam 0s sinais internacionais em conferéncias mundiais dos surdos (Moody, 1987; Supalla & Webb, 1995; Jones, 2001). A lingua de sinais tem gramética? Absolutamente, 0 reconhecimento linguistico tem marca nos estu- dos descritivos do linguista americano William Stokoe em 1960. No to- cante as linguas orais, as investigagées vém acontecendo ha muito mais tempo, jd que em 1660 (ou seja, trezentos anos antes) desenvolveu-se uma “teoria de lingua em que as estruturas e categorias gramaticais po- diam ser associadas a padrées légicos universais de pensamento” (Crystal, 2000: 204), postulada na Gramatica de Port-Royal’. As linguas de sinais, ccriar uma lingua de aprendizagem muito ficil, que funcionasse como lingua franca internacional ‘para os poves de todos os cantos do mundo. Sabe-se, entretanto, que nenhuma nagdo adatou o ‘esperanto como sua lingua, mas registra-se um uso por uma comunicade de mais de 1 milhdo de falantes. A lingua ¢ empregadaem varias situages e os adeptos de movimente esperantista imple- mentam e desenvolvem cursos do esperanto.em alguns sistemas de educagio (Santiago, 1992). 2 Os seguidores do movimento esperantista nao utilizam a termo “artificial”, pois acreditam que hd, sim, aspectos naturais na comunicagio no esperanto, ¢ preferem termos-como lingua- gem plancjada ou auxiliar para defini-lo. Eles argumentam que as linguagens naturais também tém "certa artificialidade”, quando se pensa nas medidas normativas (gram/ticas normativas) que postulam regras para as linguas de uma forma geral. Trata-se de uma questdo conceitual, polémica e em constante debate (Santiago, 1992). Este nome é dado a um grupe de estudiosos do século XVII que seguia as ideias de René Descartes. Port-Royal era um convente, ae sul de Versailles, na Franca. Insatisfeitos com o mé- A upras? Que Lincuia € essa como se vé, vieram a ser contempladas cientificamente apenas nos tltimos quarenta anos: antes, “sinal nao era visto, mesmo pelos sinalizadores, como uma lingua verdadeira, com sua propria gramética” (Sacks, 1990: 76). Ao descrever os niveis fonolégicost e morfolégicos da lingua ame- ricana de sinais (ASL daqui por diante), Stokoe apontou trés parametros que constituem os sinais e nomeou-os: configura¢do de mdo (CM); ponto de articulagao (Pa) ou locacao (1), delimitado no desenho por um circulo; e movimento (mM), cuja direc&o é indicada por uma seta. 0 exemplo a seguir ilustra esses trés parametros no sinal “certeza’ realizado em LIBRAS: Desenho adapiade com base em Capenila & Raphael (20041194), A partir da década de 1970, os linguistas Robbin Battison (1974), Edward S, Klima & Ursulla Bellugi (1979) conduziram estudos mais aprofun- dados sobre a gramatica da ASL, especificamente sobre os aspectos fonolégi- cos, descrevendo um quarto parametro: a orientagio da palma da méo (0). Ficou demonstrade que dois sinais com os mesmos outros trés parametros iguais (cm, 1, M) poderiam mudar de significado de acordo com a orientagdo todo das gramaticas, e na busca de rigor cientifico, a Gramitica de Port-Royal é considerada 0 auge da orientagao lgica nos estudos. Noam Chomsky tem difundido as ideias dessa escola de pensamento ¢ classifica-a como “linguistica cartesiana’, fazendo “paralelos entre as ideias do grupo-esua propria concepgio da relacio entre a lingua e.a mente” (Crystal, 1988: 204), * A fonologia das linguas de sinais foi inicialmente referida por Stokoe como quirologia {quir- do grego, significa mao}, ¢ querema para 0 correspondente de fonema. Entretanto, esses termos no vingaram. Na literatura, fonética e fonologia cantinuam sendo usados para falar das unidades minimas das linguas de sinais. vinci bE srs da mao, Esse contraste de dois itens lexicais com base em um unico compo- nente recebe, em linguistica, o nome de “par minimo’. Nas linguas orais, por exemple, pata e rata se diferenciam significativamente pela alteragao de um ‘unico fonema: a substituigao do /p/ por /r/. No nivel lexical, temos em LIBRAS. pares minimos como os sinais gréitis e amarelo (que se op6em quanto 4 cM), churrascaria e provocar (diferenciados pelo m), ter e Alemanha (quanto At): rats amarelo Oposicao de L: ca 1 ter Alemanha Oposigio de Mz = = churascaria prowocar Retrade e adaptado de Capouila & Raphael (200% TH-1242), WG tmras cor tinea £ ssw Podemos testar os pares minimos com varias outras palavras, mas vejamos a seguir uma ocorréncia em LIBRAS no sinal “ajudar”, em que a orientagao da palma da mo faz a distingdo de significado, sendo valida- da, portanto, como mais um parametro: = 1. Ajudar alguém 2. Ser ajudado Deserbxs adaptado da Enciclopédia de Caponila & Raphael (2004: 169-190) O exemplo ilustra a diferenca marcada entre o sentido em (1) “ew ajude X” e em (2) “X ajuda a mim” Varios outros verbos fazem a flex3o verbal dependendo da orientacao da palma da mao: respeitar, respon- der, telefonar, avisar etc. Esse parametro nao serve apenas para marcar a flexdio do verbo, mas também para a marca¢ao, por exemplo, de nega- tivas como em “querer” e “nao querer’, “saber” e “nao saber’, “gostar” e “nao gostar”.’. Os sinais também podem ser realizados com uma ou duas mos. Vejamos primeiro 0 exemplo da composi¢ao, a partir da segmentacao dos quatro parametros, do sinal “conhecimento” em Lipras (uma mao apenas): Para uma leitura mais detalhada sobre a estrutura linguistica da Limras, cf. Ferreira Brito (2995), Quadros & Karnopp (2004), Xavier (2006), Leite (2008); e da ast, cf. Stokoc (1960), Friedman (1977), Klima & Bellugi (1979), Liddell (1984) ¢ Liddell & Johnson (1986). ALNGLA De spews T7 Configuragso | Grientagio da | locagio Movimento da mio (cu) | palma da mao(0) @ i) > >. ie | a a Soe 152] 5 races | orem) Ela | ie ae aa Desenho adaptado com base em Capel & Raphael (2008: 1) A configurapao de mdo diz respeito 4 forma da mao — na palavra “co- nhecimento”, um sinal realizado com uma mao em numeral “4” ou na forma [52]. A orientagao da palma da mdo indica que os sinais tém diregao e que sua inversdo, em alguns sinais, pode alterar 0 significado do sinal. A orientagaio é a diregao que a palma da mo aponta na realizacao do sinal — e no caso de “conhecimento’, para o lado direito (contralateral). A locagdo refere-se ao Iu- gar, podendo ser realizado em alguma parte do corpo, e no exemplo podemos verificar que ocorre em frente ao queixo. Finalmente, o movimento, que pode ounao estar presente nos sinais. No caso de “conhecimento”, a lateral do dedo indicador bate pr6ximo ao lado direito do queixo. Vejamos, a seguir, a compo- sicao dos quatro parametros do sinal “verdade’, realizado com as duas maos: Configuragso da mio (em) (Orientagdo da palma locagio / ‘Movimento da mio(o) o As maos nao sao o tnico veiculo usado nas linguas de sinais para produzir informacao linguistica. Os surdas fazem uso extensivo de mar- cadores néio manuais. Diferentes dos tragos paralinguisticos das Inguas 18 une 2 QUE LINGLIN F ESSAr orais (entonagao, velocidade, ritmo, sotaque, expressées faciais, hesita- des, entre outros), nas linguas de sinais, as expressdes faciais [(movimen- to de cabega, olhos, boca, sobrancelha etc.) sao elementos gramaticais que compéem a estrutura da lingua; por exemplo, na marca¢ao de formas sintaticas ¢ atuacdio como componente | ical®: EXPRESSOES NAO MANUAI + Componente lexical ERED (hata. (Expresso facial braval A intensidade (muita, pouce) pode i alterando-em conformidade coma expresso facial, por exempio | Fungo sintitica oe Nio sei. [expresso facial negatival Desenbo adaptado con base em Capovila & Raphael (2004: 183-17, A partir da andlise desses parametros, podemos perceber que as lin- guas orais e as linguas de sinais sao similares em seu nivel estrutural, ow © Essas expressées no manuais, na fungéiosintitica, podem ser as perguntas retéricas, ora des relativas, topicalizages. Na constituigio de componentes lexicais, funcionam.como “uma referéncia especifica ou como uma referencia pronominal, uma parti ja negativa, um adver bio, um modificador ou uma marca de aspecto” (Ferreira Brito, 1995: 240), anincus pe seas 19 seja, so formadas a partir de unidades simples que, combinadas, formam unidades mais complexas. Como observa Noam Chomsky, tedas as linguas funcionam como sistemas combinatérios discretos: “Sentencas e frases sao construfdas de palavras; palavras sao construidas a partir de morfemas; e morfemas, por sua vez, sdo construidos a partir de fonemas” (Pinker, 1995: 162). Em que, entao, as Iinguas orais e de sinais diferem? Diferem quanto 4 forma como as combinagées das unidades sdo construfdas. Enquanto as linguas de sinais, de uma maneira geral (mas nao exclusiva!), incorporam as unidades simultaneamente; as linguas orais tendem a organiz4-las sequencialmente/linearmente’. A explicasao para essa diferen¢a primaria se da devido ao canal de comunicagdo em que cada lingua se estrutura (visual-gestual x vocal-auditivo), pois essas caracteristicas ficam mais salientes em uma lingua do que em outra (Fer- reira Brito, 1995; Wilcox & Wilcox, 1997). As investigagées linguisticas apontam e descrevem a existéncia de caracteristicas linguistico-estruturais que marcam as linguas humanas naturais. A crenca, ainda muito forte na sociedade ouvinte, de que a lingua de sinais dos surdos nao tem gramatica esta ancorada na crenca de que falamos a seguir: a de que elas ndo passariam de mimicas e pan- tomimas. A lingua dos surdos é mimica? Falso, Para demonstrar a diferenga entre a mimica e os sinais, Klima & Bellugi (1979) conduziram um estudo a partir da observagao de narra- tivas que necessitariam de pantomimas durante a contacao da historia. Nesse estudo, a narrativa estudada foi “O unicérnio no jardim" de James Thurber. Nela foram constatadas “invengdes” de sinais para a palavra “ca- misa de for¢a” — em inglés straitjacket. Embora, em alguns momentos, No inicio dos anos 1980, entretanto, hé formulagdes de alguns linguistas quanto A incorpo- ragdo multe evidente da sequencialidade na fonologia da ast. 0 mesmo é verdadeiro em LrBRAs (cf. Wilcox & Wilcox, 1997; Klima & Bellugi, 1979; Ferreira-Brita, 1995; Quadras, 1997). 20 Ubeas: QUETINGLN E ESS os surdos usuarios de asi lancassem mao desse recurso para sinalizar o conceito, ¢ cada sinal tivesse um jeito, foi possivel constatar que, no an- damento da histéria, e mesmo em situagdes de sua Tecontagem, 0 conceito supracitado na sinalizagdo continuava iconico. Entretanto, as investigacoes tmostraram que houve uma simplificagao e uma estilizacao nos movimentos — os sinais pareciam mais sistematizados e convencionados. Veja abaixo a progressdo da pantomima em (a) para o sinal “inventado” em (b): (a) Pantorima de “camisa de forga” Retrado de Kira & Belug (79 75) Na sequéncia, os pesquisadores procuraram. estabelecer um critério especifico para fazer a distingdo entre Ast e pantomimas. Para tanto, in- vestigaram dez individuos nao sinalizadores para demonstrar em gestos algumas palavras do inglés. Veja o exemplo da palavra “ovo" (retirado de Klima & Bellugi, 1979: 17): (6) Tipo de redugao do sinal \ AUNGLADE RAS 20 Constatou-se que, para o exemplo acima, as pantomimas observadas ti- nham muitas possibilidades, variando de um individuo para outro; enquanto na lingua americana de sinais permanecia apenas uma variedade, ou seja, a variedade legitimada e convencionada pelo grupo de usuarios estudados, Outra diferenga é que as pantomimas ou mimicas — uma vez que tentavam representar o objeto tal como existe na realidade — eram muito mais deta- lhadas, comparadas aos sinais americanos, levando muito mais tempo para sua realizagao. A pantomima quer fazer com que voce veja o“objeto”, enquan- too sinal quer que vocé veja o simbolo convencionado para esse objeto. Quando me perguntam, entretanto, se a lingua de sinais 6 mimica, entendo que esta implicito nessa pergunta um preconceite muito grave, que vai além da discussao sobre a legitimidade linguistica ou mesmo so- bre quaisquer relacées que ela possa ter (ou nao) coma lingua de sinais. Estd associada a essa pergunta a ideia que muitos ouvintes tém sobre os surdos: uma visao embasada na anormalidade, segunda a qual o maximo que o surdo consegue expressar ¢ uma forma pantomimica indecifravel e Somente compreensivel entre eles. Nao 4 toa, as nomeagdes pejorativas anormal, deficiente, débil mental, mudo, surdo-mudo, mudinho tém sido equivocadamente atribuidas a esses individuos®. A lingua de sinais tem todas as caracteristicas linguisticas de qual- quer Iingua humana natural. E necessdrio que nés, individuos de uma cultura de lingua oral, entendamos que o canal comunicativo diferente ® Cha diseussao do capitulo 2. 22. peas: Que LINGUA f 1554? (visual-gestual) que o surdo usa para se comunicar nao anulaa existéncia de uma lingua tao natural, complexa e genuina como € a lingua de sinais. Aesse respeito quero salientar trés definigoes encontradas no Diciondrio didético de portugués (Biderman, 1998: 630-645): mimica sf. mi-mi-ca. Expressio de idéias, palavras ou sentimentos através de gestos expressivos que acompanham ow substituem 2 fala. Os mudos usam mimica para comunicarem suas idéias. Durante o piquenique a tur- ma fez vérias brincadéiras; uma delas foi o jogo de mimica // pl: mimicas. [énfase minha] mudez sf. mu-dez, Qualidade daquele que ¢ mudo, de quem nao fala. Mui- tas vezes, a mudez é provocada por problemas de audipse // Nao se usa no pl./ adj: mudo/ cf: surdez. mudo adj. mu-do. 1, Que nao fala por problemas fisiees eu psicolégicos.. As definigdes inter-relacionadas acima perpetuam as ideias de que os surdos nao tém lingua, e os desdobramentos dessas definigses contri- buem para que acreditemos que eles nao podem produzir fala inteligivel ede que nao tém cordas vocais. Os surdos sao fisicamente e psicologica- mente normais: aqueles que tém 0 seu aparato vocal imtacte (que nada tem a ver com a perda auditiva) podem ser oralizados* e falar a lingua coral, se assim desejarem. Entretanto, 0 que deve ficar registrado ¢a forma pela qual constantemente se atribui 4 lingua de sinais um status menor, inferior e teatral, quando definide e comparado 4 mimic= E possivel expressar conceitos abstratos na lingua de sinais? Claro que sim! Novamente, a pressuposi¢ao de que nao se consegue expressar ideias ou conceitos abstratos esta firmada na crenca de que a lingua de sinais é limitada, simplificada, e nao passa de um codigo primi- tivo, mimica, pantomima e gest. No Diciondrio de linguistica e ‘fonética, por exemplo, gestos sao considerados tragos paralinguisticos ou extralin- guisticos das linguas orais: Oralizagao é urn treinamento, com orientagio de fonoaudidlogos, para que uma pessoa surda possa praduzir os sons vocais da lingua oral. Essa pratica ¢ realizada juntamente com a pritica de leitura labial AUN DE SNA 23 Em seu sentide mais amplo, o termo se refere a qualquer coisa do mundo (que nao seja a Lincua) em relago a quala lingua esta sendo usada — a “si- tuag3o extralinguistica”. A expressao “tragos extralinguisticas” pade signifi- car quaisquer propriedades de tais situagdes, ou, em termos mais especifi- cos, propriedades da comunicagao que nao sao claramente analiséveis em termos LINGUisTicos (gestos, tom de voz etc.). Alguns linguistas nomeiam a primeira classe de tragos como METALINGUISTICOS; outros nomeiam a se- gunda classe como PARALINGUISTICOS (Crystal, 2000: 105-106). Para nos desvincularmos da acepgao exposta acima, devemos enten- der que sinais nao sao gestos. Pelo menos nao se pensarmos gestos de acordo com a defini¢ao anterior. Assim, é correto afirmar que as pessoas que falam linguas de sinais expressam sentimentos, emogées e quaisquer ideias ou conceitos abstratos. Tal como os falantes de linguas orais, os falantes de linguas de sinais podem discutir filosofia, politica, literatura, assuntos cotidianos etc. nessa lingua, além de transitar por diversos gé- neros discursivos, criar poesias, fazer apresentagdes académicas, pecas teatrais, contar e inventar historias e piadas, por exemplo, Emmanuelle Laborrit, surda francesa, em seu belissimo livro 0 voo da gaivota, afirma: Os sinais podem ser agressivos, diplomiticos, poéticos, tilosbficos, mate- maticos: tudo pode ser expresso por meio de sinais, sem perda nenhuma de contetido. E uma lingua exclusivamente icénica? Crenga. HA uma tendéncia em pensar assim, e essa visao relaciona-se com 0 fato de a lingua de sinais ser uma lingua de modalidade espaciovisual; ou seja, a lingua, quando sinalizada, fica mais “palpavel’, “visivel”, Nesse sen- tido, relacées entre forma esignificado parecem ser mais questionadas. Essa associagao incorre, muitas vezes, em cairmos no risco de reforcar a crenca de que a lingua de sinais seria apenas uma representa¢ao pantomimica— 0 que nao procede, pois, como argumenta Ferreira Brito (1995: 108), “a iconicida- de é utilizada [na lingua de sinais] de forma convencional e sistematica’. Embora exista um grau elevado de sinais icdnicos (beber, drvore, casa, avido...), é importante destacar que essa caracteristica nao 6 exclu- siva das linguas de sinais. As linguas orais incorporam também essa ca- 24 uprast Qur UNCLE E554 racteristica. Podemos verificd-la no classico exemplo das onomatopéias como pingue-pongue, ziguezague, tique-taque, zum-zum — cujas formas representam, de acordo com cada lingua, o significado. Além disso, mes- mo sinais mais icénicos tendem a se diferenciar de uma lingua de sinais para outra, o que nos remete ao fato de a lingua ser um fenémeno conven- cional mantido por um “acordo coletive tacito” entre os falantes de uma determinada comunidade (Saussure, 1995). Ainda amarrada a essa crenga esta o que Wilcox & Wilcox (1997: 6) destacam em seu livro: a de que as linguas de sinais seriam mais conceitu- ais do que as linguas orais. Na verdade, todas as linguas sao conceituais, a diferenga é de que forma cada lingua “empacota os conceitos em unida- des linguisticas”. A metdfora do “pacote” isto 6, o modo como cada lingua da forma aos conceites em unidades linguisticas, illustra bem a questao: quem de nds ja nao se perguntou, por exemplo, por que uma palavra, em dada lingua, quando traduzida para outra, pode ficar muite maior em seu tamanho? Ou mesmo uma senten¢a, ou texto? Em alemio,o sintagma nominal a associagdo dos fabricantes de copos de suco de laranja tem a seguinte forma: die Orangemsajtglashersteller- vereinigung. Em LIBRAS, a pergunta que horas sd0? € a simalizacao apenas da palavra nome com expressao facial marcando a pergunta: Ele Retirado de Capovilla & Raphael (2001 10: Isso ocorre porque o contetido e a informagado nas palavras de certas linguas sao “empacotadas” distintamente. Nao significa dizer, entretanto, que ‘uma ou outra lingua seria simplificada por ter “pacotes menores” e nao ne- cessitar, por exemplo, de conjungdes, preposi¢des ou flexdes verbais em sua was 25 A UNGAIS DE estrutura™. 0 inglés, se comparado ao portugués, tem uma construcao dis- tinta na conjugagao dos verbos, mas isso nao significa dizer que uma lingua seja simplificada e outra complexa. 0 mesmo serve para as linguas de sinais. Afinal, a complexidade é inerente a todas as linguas humanas e naturais. A lingua de sinais 6 um cédigo secreto dos surdos? ‘Os surdos foram privados de se comunicarem em sua lingua natural du- rante séculos. Varios estudos tém apontado a dificil relacao dos surdos com a lingua oral majoritaria e com a sociedade ouvinte. Escolas, profissionais da sade, e familiares de surdos tém seguido uma tradigio de negaciio do uso dos sinais. Groce (1985), por exemplo, oferece-nos um panorama das atitu- des dos ouvintes em relagao a surdez, apontando que, por séculos, os surdos ndo tinham respeitados os seus direites e reconhecidas suas responsabili- dades, mesmo depois de receberem educacao. Padden & Humphries (1988) mostram que as escolas, em sua grande maioria, proibiam 0 uso da lingua de sinais para a comunicacao entre os surdos, forgando-os a falar e a fazer lei- tura labial. Quando desobedeciam, eram castigados fisicamente, e tinham as mos amarradas dentro das salas de aula. 0 desenho da surda Betty G. Miller denuncia a proibicao da lingua americana de sinais nas escolas de surdos: Betty Ca Miles, Ameslan Praised, 9472 "Essa discussdo tem implicagdes para a tradug3o, especificamente pensande a tradugao da LIBRAS para o portugués e vice-versa, 26 inass que una (se Amaioria dos surdos foi educada em mosteiros, asilos ou escolas em regime de internato. Eles migravam para essas instituicoes, vistas como nica possibilidade de receber instrugao. Lane (1984), por exemplo, de- dica um livro para contar um pouco da hist6ria dos surdos nos Estados Unidos, mostrando que na batalha entre “manualistas” e “oralistas”, a lin- gua — ainda que banida muito mais do que valorizada — e seus falantes — muito mais oprimidos e discriminados do que os individuos ouvintes —resistiram, Embera essas situag¢Ges sejam retratadas em obras publica- das no exterior, no Brasil, a trajetéria dos surdos n&o foi muito diferente (Reis, 1992; Rocha, 1997), Dentre algumas narrativas histéricas, conta-se que a sinalizagao era vista como um “cédigo secreto”™, mesmo entre os surdos, pois era usada as escondidas, por causa de sua proibicado. Na pers- pectiva de tantos outros, a lingua era vista como algo exético, obsceno e extremamente agressivo, ja que o surdo expunha demais 0 corpo ao sina- lizar (Wright, 1969; Lane, 1984; Sacks, 1990; Bayton, 1996). Varias implicagées sociais, politicas, educacionais, psicolégicas e lin- guisticas decorrem dessa proibicao. Porém, o que a histéria nos mostra é que a lingua de sinais, diferentemente da maioria das linguas minoritérias, nao morreu ¢ nao morrerd porque, enquanto tivermos dois surdos compar- tilhando o mesmo espaco fisico, havera sinais. Essa é a ironia da tentativa desenfreada de coibir seu uso: 0 agrupamento nos internatos que pregavam © oralismo a todo custo serviu para os surdos se identificarem como pares constituintes de um grupo, passande a usar, disseminar e reforgar um even- tual sentimento de valorizagao dos sinais e da identidade cultural surda. Outro apelo pejorative e muito distorcido so algumas referéncias ¢ compara¢oes da lingua dos surdos com a comunicagao dos chimpanzés®. Lane (1984: 77) retoma em sua discussdo que uma das questées filos6ficas centrais no Iluminismo era especular sobre “o que nos tornaria humanos”. De Aristételes a Descartes, a resposta era consensual: falar uma lingua. Nes- se cendrio, “as criangas surdas e selvagens eram, todavia, um complicador Na dade Média (476 d.C-1453), na Itdlia, os monges beneditinos empregavam uma forma secreta de sinais para se comunicarem entre si, a fim de no violar o rigido voto de siléncio (Lane, 1984; Sacks, 1990). “As obras de Wright (1969), Lane (1984), Groce (1985) e Sacks (1990) relatam algumas formas pejorativas associadas as linguas dos surdos. A UNGUA De spuns 277 para essa definicao de homem, ja que os surdos eram pensados como sem Ifgua eas criangas feras eram invariavelmente mudas”. A histéria tem rela- tado esse € tantos outros equivocos e injustigas cometidos com os surdos... Linguisticamente, pode-se afirmar que a lingua de sinais £ lingua porque apresenta caracteristicas presentes em outras linguas naturais e, essencialmente, por que é humana. Sabe-se que todos os seres vivos podem ter um sistema de comu- nicagao. As pesquisas mostram a forma como as abelhas se comunicam, 0 sofisticado sistema de comunicagao dos golfinhos ¢ de tantos outros mamiferos; contudo, 36 os homens possuem lingua (Akmajian et alii, 1995). Essa é, sem duvida, uma das caracteristicas que nos distinguem das outras espécies. Entao, a resposta para a pergunta dos filésofos turva co olhar, pois o foco para a resposta esta voltado para a definicao que se tinha de lingua na época, isto é, se a lingua de sinais ndo é lingua, entao os surdas nda falam, loge, nao sie humanas... A lingua de sinais, como ja vimos, tem uma gramatica propria e se apresenta estruturada em todos os niveis, como as linguas orais: fonold- gico, morfolégico, sintatico e sem4ntico. Além disso, podemos encontrar nela outras caracteristi a produtividade/criatividade, a flexibilidade, a descontinuidade e a arbitrariedade. Aprimeira dizrespeitoa possibilidade de combinar unidades, deforma ilimitada, para formar novos elementos. Por exemplo, os sons das linguas orais podem ser combinados de varias formas para a predugao de novos conceitos. 0 mesmo para a produtividade de palavras e sentengas. Por isso falamos do processo criativo nas linguas: podemos falar diversas coisas de diversas formas a partir das regras de cada lingua; regras que determinam. a posi¢ao que cada elemento pode ocupar — por exemplo: podemos dizer “o menino caiu’, mas nao podemos dizer "Menino o caiu’, porque as regras do portugués nao permitem, O mesmo se aplica aos sinais. A flexibilidade se refere 4 mobilidade visivel nos diversos usos de uma lingua. A lingua é versatil e, por isso mesmo, podemos falar do pas- sado, presente, futuro; discutir, ameacar, prometer ete. Em relacdo a des- continuidade, tomem-se como exemplo as diferencas minimas na forma 28 uaras QUENGUN £ (55x entre duas palavras; diferencas minimas, mas que acarretariam mudanga no significado, como em maca e mala (alterando apenas um fonema), ou em LIBRAS gratis e amarelo (alterando apenas um parametro, a cM). En- tretanto, quando contextualizadas, podem ter seu sentide inferido, mes- mo que haja um erro ou troca de fonemas/queremas por parte de quem fala ou sinaliza. Por isso, mesmo reconhecendo o valor especifico em cada fonema ou parametro, a contextualizacao nos ajuda muito, e é ela que nos faz compreender a diferenga de significado, por exemplo, em palavras ho- ménimas na lingua oral e na lingua de sinais. Quanto a arbitrariedade, dizer que as linguas tém essa caracteristica é dizer que as linguas séo convencionadas e regidas por regras espectticas, Nesse sentido, nao é possivel saber o significado de uma palavra somente a partir de sua forma ou representagao linguistica. Na lingua portuguesa, nao ha relagao entre a forma e o significado da palavra “conhecimento”, da mesma forma que nao hd essa relacao na LIBRAS. A excecao seria o caso das onomatopéias (Akmajian et alii, 1995; Quadros & Karnopp, 2004). A lingua de sinais é 0 alfabeto manual? De forma alguma. 0 alfabeto manual, utilizado para soletrar manual- mente as palavras (também referido como soletramento digital ou datilo- logia), é apenas um recurso utilizado por falantes da lingua de sinais. Nao €uma lingua, e sim um cédigo de representagio das letras alfabéticas: ALFABETO GREGO a Bs a SS | ALFABETO ROMANO A B c BD = ALEABETO MANUAL PALES AUNGUA De suis 29 BRAILE Acreditar que_a lingua de sinais € 0 alfabeto manual é fixar-se na ideia de que a lingua de sinais é limitada, j4 que a tnica forma de expres- sao comunicativa seria uma adaptagao das letras realizadas manualmen- te, convencionadas e representadas a partir da Ifngua oral. Imaginemos, Por exemplo, quanto tempo levaria um surdo. para falar uma sentenga ou, ampliando bem a questdo, ter uma conversa filoséfica, se utilizasse ape- nas 0 soletramento manuai? Travar uma conversa dentro deste enquadre $-0--e-t-r-a-d-0 s-e-r-i-a cea-n-s-a-t-i-v-o & Mh-o-n-6-t-o-n-0-(-u-fa!) Entretanto, é importante que se diga que o alfabeto manual tem uma fungdo na interaco entre os usuarios da lingua de sinais. Langa-se mao des- se recurso para soletrar nomes proprios de pessoas ou lugares, siglas, e al- gum vocdbulo nao existente na lingua de sinais que ainda nao tenha sinal: eid Povo lingk’s people. ak, crane, multiurler Sm. Conjunto de pessoas que comapxicm uma irbo, raga ocr naga, Conjunto ae habitantes de um puis.de urna regio, dade. wa ov aldeia, E © povo saiu em procisio, homenageando 0 santo packocto da citade Soletar BO,VQ. ‘Vocdulo retiedo de Capella & Raphsel (2004: 121 Agradeso ao professor Dr. Pedro M. Garcez que, em uma disciplina de introdugo ans estu- dios Linguisticas do mestratlo em letras/inglés, em 1997, pontuou essa questo. Lembro.me de que na época todos-os alunos (ineluindo eu) ficaram surpresos em ouvir falar da legitimidade fingufstica da lingua de sinais, e nosso conhecimenta comegou a ser construide quando 0 pro- fessor nos fez refletir sobre essa observago. 30 upgast QUE UNGUS £ E55ar Além disso, os usuarios de lingua de sinais fazem, em algumas si- tuagdes, empréstimos da grafia da lingua oral, recorrendo 4 datilologia para realizar sinais de pontuacao (tais como, virgulas, ponto final, ponto de interrogacao, sinais matematicos etc.) que, na maioria das vezes, sdo desenhados no ar. 0 mesmo pode ocorrer com as preposi¢ées ou outras classes de palavras. Entretanto, soletrar ndo é um meio com um fim em si mesmo. Palavras comumente soletradas podem e de fato sao substituidas por um sinal. Assim, podemos afirmar que esse recurso funciona potencial- mente nas interagdes para incorporar sinais a partir do entendimento conceitual entre os interlocutores — uma vez vez apreendida a ideia, convencionam-se os sinais para substituir a datilologia de um dado vo- cabulo, por exemplo. No Brasil, o alfabeto manual ¢ composto de 27 formatos (contan- do o grafema ¢ que é a configuragao de mao da letra c com movimento trémulo). Cada formato da mao corresponde a uma letra do alfabeto do portugués brasileiro: OAtdebea Bidwasena Johday dw a Desenhos de Koyama. Fante: btt/Awaauecsexp br tibliote: Pode-se dizer também que no uso do alfabeto manual alguns ele- mentos linguisticos sao “reapropriados” pelos usuarios, ou seja, ha pa- ANA De sas BT lavras que sao soletradas de forma ase ajustarem as restricdes da lin- gua de sinais. Esse processo é natural em todas as linguas de contato. A lingua portuguesa, por exemplo, incorpora ou ajusta o termo delet do inglés: utiliza a terminacao no infinitivo -ar ao dizer deletar fe se- gue na mesma dire¢do na conjugacdo em deletei, deletamos e assim por diante), Esse fenémeno est4 intimamente relacionado ao uso. Quadros & Karnopp (2004: 91) ilustram essa questao no alfabeto manual verifi- cando o advérbio nunca (soletrado n-c-a ou n-u-n). O mesmo ocorre na realizacdo da conjungao se (soletrada s-i) e no uso do verbo ser/estar, no presente do indicativo, conjugado na terceira pessoa do singular _é (soletrado apenas o movimento de acento a, gudo no ar com a afirmagao Positiva da cabe¢a). Por ser uma convencao, 0 alfabeto manual se configura de uma forma especifica nas linguas de sinais de cada pais. 0 alfabeto manual britanico, por exemplo, ¢ feito com as duas maos: BRITANICO AMERICANO. (es ae ae Re iG ene BS vi < fas § Ge & (Re. (RRS ‘Fonte: fitpa//f@midellebury.eclu/RU232A/ST. DENTS Jolefther alps hartshem, Existe também o alfabeto manual para surdos-cegos. Da mesma for- ma que o soletramento do manual britanico, os individuos usam as duas mos para soletrar as palavras, com a diferenca crucial de que os surdos- cegos precisam pegar na mao do interlocutor para tatear o sinal: 32. vekas que tiscun £ Essar Om Fonte: hits //nnewrleafhiinds on’ aretha £ importante ressaltar que o soletramento, tanto na sua forma re- ceptiva (do ponto de vista de quem lé) quanto produtiva (do ponto de vis- ta de quem realiza), supée/implica letramento. 0 soletrante que nao for alfabetizado (escrita/leitura) na lingua oral de sua comunidade de fala, por exemplo, ter as mesmas dificuldades de um indfviduo iletrado para a Ve Ce SEH Beh es v a \ fa 4 Desenho reirado e adaptade- de Capovila & Raphacl (2004: 17-163) ALINGLA DE SINAS BB E nesse sentido que as criancas surdas, ainda em processo de alfabe- tizagao da escrita da lingua oral, poderdo ter também dificuldade com essa habilidade. Mais uma prova para desconstruir a crenga de que a lingua de sinais pudesse ser o alfabeto manual/datilologia, afinal, para ser compre- endido e realizado 0 abecedario precisa ser ensinado formalmente. A lingua de sinais 6 uma versao sinalizada da lingua oral? Insistimos em que a lingua de sinais nao é a datilologia ou mimica (como muitos podem pensar), também nao é universal (igual em todos os paises), muito menos artificial (uma lingua inventada). Ligada a essas crengas, vem a seguinte indaga entao, seria a lingua de sinais uma “adaptacao” das linguas orais? Ou, dito de outra forma, seria a LIBRAS um portugués sinalizado, por exemplo? Nao. A lingua de sinais tem estrutura propria, e é auténoma, ou seja, independente de qualquer lingua oral em sua concepgao linguistica. Edu- cacionalmente, 6 uso do portugués sinalizado tem sido alvo de muitas eri- ticas, porque se insere na filosofia do bimodalismo, Dentro dessa visio, en- cara-sea lingua de sinais como um meio para se atingir um fim, ou seja, um recurso para ensinar a falar uma lingua oral (no Brasil, 0 portugués), fun- cionando como um amdlgama dos sinais e de fala. Ferreira Brito (1993), por exemple, fala da impossibilidade de preservar as estruturas das duas linguas usando a lingua de sinais para falar a lingua oral. No nivel lexi- cal, por exemplo, sinais como lingua e nada ilustram a questao (cf. figura abaixo). Além disso, Sacks (1990), entre outros, critica a proposta bimo- dal, pois, embora preconize uma tentativa de facilitar a aprendizagem da estrutura da lingua oral pelo surdo, ela funciona como uma “pseudolingua intermediaria’, afirma. 34 unr: QUE LINGLN € ESSAr +3 Yee eo I Ex: nada Retiracka de Capowilla & Raphael (2004 #3 ¢ 270) ‘Vejamos essa questo, no entanto, do ponte de vista da sociolinguistica. O fato dea comunidade surda ser a tinica comunidade que, em qualquer pais, esta inserida na e cercada pela comunidade majoritaria ouvinte faz com que as linguas de sinais estejam em contato direto com as linguas orais locais. Nessa “coabitagdo” linguistica, é natural ecorrerem empréstimos, mesclas e hibridismos. A relacao entre as linguas, entretanto, nado é, nem nunca foi neutra ou simétrica. Como no caso de quaisquer outras linguas que estao em contato, ha sempre em jogo questGes de poder e as decorrentes situa- Ges de conflito™*, Em estudos sobre comunidades indigenas, Maher (1997) observa que a relacao entre linguas com status distintos funciona como um WA sociolinguistica de periferia (Hammel & Sierra, 1983) ¢ a sociolinguistica interacional (Ribeiro & Garcez, 2002) apontam, em suas investigacSes sobre comunidades bilingues, que a relagdo entre as Imguas ¢ seus falantes é sempre conflituosa e assimétrica. Portanto, distan. ciam-se da visio da sociolinguistica tradicional, que distingue apenas as diferencas funcianais, dentro de uma lingua, entre variedades em contato: refere-se a variedade alta (high variety), usada em ambientes formais, ¢ variedade baixa (ow variety), usada em situagbes informais. Essa distingde por si s6 nao lumina a questo para entender, por exemplo, come ¢ por que as linguas so socialmente diferenciadas, conforme afirmou Ferguson na década de 1950. AUNCLA DE seus 35, “jogo de ocupagao linguistica onde a lingua dominante tenta ‘abocanhar’ a lingua dominada” (p. 22). A metafora ilustra bem como 0 portugués acaba se sobrepondo a lingua de sinais nas interagées entre surdos ¢ ouvintes, por exemplo. E facilmente demonstravel que hd marcas de imposi¢ao da estru- tura do portugués em alguns “falares” sinalizados, especialmente nas mos dos ouvintes (Gesser, 2006). Mas, por que isso ocorre? A motivacdo para a ocerréncia das marcas estruturais do portugués na sinaliza¢do, e mesmo na comunica¢ao simulténea"* no caso do sinali- zador ouvinte brasileiro, acontece por varias razées: pode ser um movi- mento em dire¢do ao uso de uma tinica lingua, no caso, a LIBRAS; ou pode ser, ainda, o uso de uma forma “hibrida” funcionar como uma estratégia utilizada por alguns ouvintes que estao iniciando o contato ea aprendiza- gem da lingua de sinais — sendo a fala oral inerente a cultura dos ouvin- tes (Gesser, 1999) e, portanto, tao dificil desvencilhar-se dela. Em muitos outros momentos, todavia, o portugués sinalizado pode ser o reflexo de uma ideologia ¢, entdo, ha que averiguar mais de perte para saber se es- ses usos, se esses falares sdo ou nao uma ultima tentativa, um ultimo gri- to da maioria ouvinte para rejeitar e banir a lingua de sinais dos surdos (Gesser, 2006; 2007). Acredito ser esse Ultimo sentimento que, remetido as filosofias oralista e bimodal, paira no ar, e evoca mal-estar quando se fala em portugués sinalizado entre usuarios da LIBRAS. A lingua de sinais tem suas origens hist6ricas na lingua oral? Essa pressuposigao esta relacionada a anterior e, da mesma forma, nao passa de uma ficcao. Cada lingua de sinais tem suas influéncias e rai- zes hist6ricas a partir de linguas de sinais especificas. HA poucos docu- mentos registrados por surdos, e sobre os surdos, que possam fornecer informacoes sobre a origem e o desenvolvimento das linguas de sinais Comunicagio simultanea é — como o name sugere — 0 uso simultineo das duas modali- dades (oral ¢ sinal) na expressao linguistica. Critica-se muito esse uso, uma vez que se acredita que os sinais sio suprimidos em favor da lingua oral. ~ 36 unas ce tincun F issay entre surdos. Mas Wilcox & Wilcox (1997) argumentam que ha dois tipos de evidéncia que mostram o uso natural da lingua pelos surdos, entre os séculos XVII e meados do século XX. No livro Everyone Here Spoke Sign Language, Nora Groce (1985) dedica-se a descrever essa rara situacao na ilha. A autora conta a historia dos surdos nessa comunidad le, mostrando que os primeiros habitantes da itha vinham da Inglaterra ¢ falavam algum, tipo de lingua de sinais. Estavam tao. integrados ao dia a dia da ilha que nao se considerayam nem eram considerados deficientes ou um grupo a Parte. Até os dias de hoje, essa ilha é conhecida como a tinica comunidade bilingue na qual tanto os ouvintes como os surdos usam sinais na mesma Proporeao que a lingua in, glesa em todos os amb itos da interac3o cotidiana, intitula Observations of a Deaf-Mute, eo autor escreveu-o para defender Sua prépria lingua contra aqueles que achavam que 0S Sinais deviam ser banidos (Wilcox & Wilcox, 1997). Tanto a lingua americana de sinais (american sign language - ASL) quanto a lingua brasileira de sinais (LIBRAS)" tém suas origens na lingua francesa de sinais. No caso americano, 0 Protestante americano Thomas Hopkins Gallaudet decidiu viajar Para a Europa”, a fim de buscar ajuda Para Alice Cogswell, uma garotinha surda de 8 anos, filha de seu vizinho. Depois de algumas tentativas com os oralistas franceses, Gallaudet desis- tiu de seguir esse caminho, visto que nao confiava no método empregado. para oralizar criancas surdas. Foi entao que contatou o surdo francés Lau- De acordo com Rocha (1997), a lingua brasil Essa denominago fol estabelecida em assembléia Por membros da Federacio Nacional de Educagaa 0 Integracdo do Surdo. (FENEIS) em outubro de 1993 ¢ tem sido Teconhecida pela Federacao Mundial dos ‘Surdos. (WDF), pelo Ministério da Educagae (MEC ) © por educadores ¢ cientistas do CaMpo. A LIBRAS foi oficializada pelo Senado Federal em abril de 2002, No cenirio francés da século XVII, duas figuras “ponentes tharcam dois catninhos distin- 12& Jacob Rodrigues Pereire (considerado o prine tpal fundador do oralismo) ¢ 0 Abade I'Epée (seguider do manualismo), que deixou pupilos como Abade Sicard (ouvinte), Jean Massieu (surdo) e Laurent Clerc (surdo). Os dois educaran tangas surdas dentro de suas respectivas losofia, e estas se espalharam pela Furopa ne séeala Xie (Lane, 1984), i ra de sinais padrdo é referida como tineas atincuA DE SNAS 37 rent Clerc. Na Franga, ficou muitos meses aprendendo a lingua francesa de sinais, ¢ entao teve a ideia de convidar Clerc para irmorar nos Estados Unidos, para que eles abrissem a primeira escola para surdos. A escola foi inaugurada em 1817 e tinha o nome de: The Connecticut Asylum for the Education and Instruction of the Deaf and Dumb". Os surdos de todos os cantos do pais migraram para aescola, enquanto, com o passar dos anos, outras escolas iam sendo abertas em diferentes regides, 0 filho de Gallau~ det, chamado Edward, fundou, em 1864, a Gallaudet University. Embora ‘os sinais americanos tenham raizes nos sinais franceses, a ASL também sofreu influéncias dos sinais des indios locais. Essa combinagae formou a ASL moderna (Lane, 1984; Bayton, 1996; Wilcox & Wilcox, 1997). Da mesma forma que na ASL, na LIBRAS também se observa algum. tipo de influéncia dos sinais franceses. Em 1855, um surdo francés chama- do Ernest Huet chegou ao Brasil, com 0 ap oio do Imperador dom Pedro II, para criar a primeira escola para surdos prasileiros™. De acordo com os registros histéricos dispeniveis (Reis, 1992), nao esta claro por que dom Pedro IT estava interessado na fundagao da escola. Rocha (1997: 53) espe- cula sobre pelo menos duas possibilidades: uma seria a possibilidade de a princesa Isabel ter uma crianca surda; e a outra teria relagdo com uma visita do imperador & Universidade Gallaudet (EUA) para discutir a fun- dagdo de uma escola similar no Brasil. 0 fato é que em setembro de 1857 foi fandado o Instituto Nacional de Educagao de Surdo (INES), no Rio de Janeiro, no mesmo enderego em que se localiza até hoje. Durante anos, 0 INES tem sido o centro de referéncia ede formagao dos individuos surdos. Embora, naquela época, as pessoas nao fizessem mengao A LIBRAS, sinais eram privilegiados na educagio das criangas. Huet trabalhou também na formacao de outros dois professores, conhecidos como os irmaos La Pena, que ajudavam na instrugao dos surdos, A escola passou por mudancas radicais com a saida de Huet (entao com sérios problemas financeiros ¢ conflitos familiares) e coma entrada na administrage de um médico cha- mado Tobias Rabello Leite (de 1868 até sua morte em 1896)". Posteriormente,« nome da escola mudau para American Asylum at Hatford for the Exduca- tion and Instruction of the Deaf and Dumb. i Embora a primeira escola para surdos date do ano de fundagao com a chegada de Huet em 4855, a primeira tentativa foi feita em 1835, quando 0 deputado Comélio Fetteira apresentou 4 Assembléia um estatuto para estabelecer os objetivos de professores prim dos surdes e dos cegos (Reis, 1992: 57). © O-diretor Leite parecia compreender que 0 métade oral nio era esseneial a05 surdos, en- jos na educagao BB upras Que UNGLA £ Ese Outro fato importante nesse processo foi o Congresso de Milao, em 1880, que, em fungao do impacto mundial de sua decisao em favor das filo- sofias e métodos oralistas a qualquer custo, afetou a educagdo dos surdos em todas as partes do mundo. No Brasil, a ideia do oralismo comegou a ser disseminada em 1911, e a superintendente do INES, Ana Rimoli de Faria Doria, que acatou a filosofia, separava os surdos mais velhos dos mais no- vos para evitar contato e uso de lingua de sinais. Outra figura nesse ce- nario foi Ivete Vasconcellos, que, inspirada na abordagem da comunicagao total, influenciada pela Universidade Gallaudet, defendia que fala, gestos, pantomima e sinais deveriam ser empregados na formagao dos individuos surdos. Muitas criticas foram feitas a essa filosofia, mas o debate propiciava um repensar de tudo o que fora feito em termos linguisticos e educacionais. Na década de 1980, fundou-se a FENEIS (Federagao Nacional de Educagao e Integragaio de Surdos). Trés amigos surdos encabegaram a fundagdo da instituigdo — Ana Regina S. Campello”, Fernando M. Valverde e Anténio C. Abreu —, significando um grande avango em favor da defesa dos direi- tos dos surdos. Em resumo, a origem da LIBRAS esté intimamente ligada ao precesso de escolarizacdio des surdos, e mesmo que nas instancias educa- cionais a lingua legitima des surdos tenha sido banida em muitos momen- tos, os surdos sempre a utilizaram entre si. O contato do professor surdo francés Huet com os alunos brasileiras proporcionou, em grande medida, varios empréstimos linguisticos da lingua francesa de sinais para a LIBRAS. Entretanto, é importante dizer que a coabitacao da maioria das lin- guas de sinais com as linguas orais faz com que empréstimos, alternan- cias e trocas linguisticas acontecam, inevitavelmente. Mas isso nao quer dizer que as linguas de sinais tenham suas origens ou raizes oricas nas linguas orais. A relacao é justamente inversa: na histéria da evolugao do homem, constata-se que o uso de sinais pelas mdos como forma de co- municagao pelo homem ¢ anterior ao da fala vocal — uma das evidéncias linguisticas para afirmar que o homem tem uma capacidade inata, instin- tiva para desenvolver linguagem* tretanto, sua compreensao da situago como um tede era limitada: em relagdo & capacidade in telectual humana, argumentava, por exemplo, que somente 15% des surdos cong@nitos tinham. inteligéncia suficiente para se tornarem letrados, enquanto apenas 65% de surdos acidentais teriam a mesma inteligéneia comparados aos ouvintes (Leite, 1882 apud Reis, 1992). Ana Regina é doutora pela Universidade Federal ce Santa Catarina (UFSC). 0 linguista John Lyons (1987: 38-39) relata: “A lingua pode, a principio, ter evolufdo.a par- que os ancestrais dos homens adotavam a postura tir de um sistema gestual numa época e1 ALINGUA DE suas 39 A uras ‘falada’ no Brasil apresenta uma unidade?? Crenga. Em todas as Ifnguas humanas, hé variedade e diversidade. O sociolinguista Marcos Bagno faz uma bela discussdo em torno da des- construcao de alguns mitos sobre a lingua portuguesa em seu famoso livro Preconceito linguistico — 0 que & como se faz, escrito em 1999 ¢, desde entio, seguidamente reeditado. Segundo o pesquisador, 0 mito da “unidade lingufstica do Brasil” 6 o maior ¢ mais sério de todos, pois esta presente no discurso nao somente da populacao, mas de muitos intelec- tuais. A escola, por exemplo, tem se apropriado desse mito, tornando-o natural. Uma vez naturalizado, deixa de ser crenga e€ passa a funcionar como um principio normalizador, impondo Sua norma linguistica como se ela fosse, de fato, a lingua comum a todos 0s 160 milhdes de brasileires, independente de sua idade, de sua origem Seogrifica, de sua situacao socioecondmica, de seu grau de escolarizacaio etc, (Bagno, 1999: 15). Alingua portuguesa é “uma unidade qué se constitui de muitas va- riedades” (Pardmetros Curriculares Nacionais, 1998: 29 apud Bagno, 1999: 19). Portanto, dizer que todos os brasileiros falam o mesmo por- tugués ¢ uma inverdade, na mesma proporeao em que é inverdade dizer que todos os surdos usam a mesma LIBRAS. Afirmar essa unidade é ne- gar a variedade das linguas, quando de fato nenhuma lingua é uniforme, homogénea. A variagao pode ocorrer nos niveis fonoldgico (proniincia), morfologico (Palavras) e sintatico (sentensas) e estio ligadas 20s fatores sociais de idade, género, raca, educa¢ao e situagdo geografica, Assim, os surdos adultos ¢ adolescentes variam em seus sinais, da mesma forma vertical fhomo erectus] iberando com isso asmaos, o cérebro aumentando de tamanho adgi rindo potencial para a especializaczio de complexas fungdes de processamento no hemistério fom inante’. Charo aatensao para a afirmagia nessa questo da modalidade para a Jinguagem, pois, adiante, o autor deixa explicita a limitagao da com junivaeao gestual dos nossos.ancestrais Nao hd referéncia na obra as linguas de sinais dos surdos. © Relagaa estabelecida com o mito “a lingua portuguesa falada no Brasil apresenta uma uni: dade surpreendente’ ce Marcos Bagno. As assergies que tenho ouvide de muitos ouvintes so. bre essa questao tém o mesmo tear, ento achei interessante retomar a questiio fazende um paralelo com a discussio, muito apropriada, de Bagno (1999). 40 inna que uivan fis que os surdos cearenses, paranaenses, cariocas...’'. Quem ja ndo ouviu alguém dizer “esses sinais sto ‘antigas; do tempe dos avds!” ou ainda, “na- quele lugar se fala diferente”. Essa diferenga néio deve ser encarada como erro, entretanto: VARIACAO PAULISTA E CARIOCA DO SINAL “FACULDADE” faculdade (2)(R) Desenho retrad @ adaptade de Capenilla & Raphael (2004: 16) Na ilustragao, é possivel constatar que a variagao lexical ocorre em diferentes estados (como a comparacao do sinal faculdade usado no Rio e em Sao Paulo) e também dentro de um mesmo estado, a depender da co- munidade de fala de cada regiao (coma nos exemplos da palavra espanhol em Sao Paulo). Esse tema é importante porque, em algumas situagées, alguns sinalizadores da lingua de sinais resistem a aceitar a diversidade e acabam dizendo algo como “esse sinal é errado” ou “esse sinal ndo exis- te? quando de fato se trata de variantes da lingua (Gesser, 2006: 176). A lingua de sinais, ao passar, literalmente, “de mao em mao", adquire novos itre essas variedades, entretanto, sempre haverd uma relagao (nao neutra, assimétrica € conflituosa) que torna uma variedade mais prestigiosa que outra. Esse valor ¢ atribuido social mente, em funcio de fatores como area geogratica, status sacial, idade, género etc. Mas é cer tamentea variedade ensinada na escola, associada a escrita, que tem o status de lingua padrao. (ou norma culta). MUNGLA DE Suns guas em contato, adquire novas Toupagens. O fendmeno da variagao e da diversidade esta presente €m todas as linguas vivas, em movimento, £ Justamente nas praticas sociais de uso da linguagem entre surdo/surdo e surdo/ouvinte que é possivel enxergar o multilinguismo (variedades des- \ARIACAO PAULSTA DO SINAL “espaNHoL Desenbo retacio © adaptado de pondla & Raph 22004: 29.40) © Ao falar de varias inguas em uaras Stou fazendo umn paralele com a discussio em César & Cavalcanti (2007) sobre o multilinguismo ©m portugues no Brasil. Cf discussio em Gesser (2006: 56-65). A venase QUE LING fu A lingua de sinais 6 uma lingua Agrafa? Nao, mas, até bem pouco tempo, a lingua de sinais era considerada uma lingua sem escrita. A escrita de qualquer lingua é um sistema de re- presentagao, uma convengao da realidade extremamente sofisticada, que se constitui num conjunto de simbolos de segunda ordem, sejam as lin- guas verbais ou de sinais: Escrita pictografica FY Eeeoka, Rover Sachem Gia Ideograma chinés & 4 & 4s Escrita em sinais (sign writing) A ® fami

Vous aimerez peut-être aussi