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O Grande Hino
Cristológico de Efésios
Isaltino Gomes Coelho Filho∗
UM HINO DE LOUVOR
Este brilhante escrito começa com um hino. Não um hino comum,
mas um brilhante hino cristológico, repleto de afirmações teológicas de
profundidade ímpar. Ele nos mostra que o louvor não precisa ser raso,
superficial. Pode trazer grandes ensinos. Não é passatempo. Faz parte do
processo da pedagogia das verdades cristãs. Embora seja chamado de “hino
cristológico”, o texto mostra a harmonia das pessoas da Trindade, trabalhando
juntas. No versículo 3 o foco é o Pai. No versículo 5, é o Filho. E no versículo
13, é o Espírito. É um hino que mostra a obra da Trindade. Uma boa pista para
nós. Nossos hinos podem e devem ensinar as grandes verdades da fé cristã, e
não apenas experiência humana. Devem ser inspirativos (quem negará a
∗
Nota do Monergismo: Isaltino Gomes Coelho Filho é pastor titular da Igreja Batista do Cambuí, em
Campinas-SP (http://www.ibcambui.org.br/ibc/). Texto usado com a devida permissão do mesmo.
CONCLUSÃO
O grande hino cristológico de Efésios não pode ser esgotado em um
estudo. A ele voltaremos na próxima edição da revista, vendo seu conteúdo. É
importante que isto seja feito, para podermos saber o que os primeiros
cristãos cantavam. Mas hoje já podemos ver algumas questões. Cantamos que
somos o povo de Deus, que ele tem um propósito para nós, que ele e só ele
deve ser bendito, que Jesus Cristo é o canal de bênçãos para este mundo. Que
tudo que fazemos é para o louvor da sua glória. Por tudo isto, que não haja
estrelismo nem banalidade no nosso culto. Ele deve ser uma profunda
reflexão sobre o agir de Deus em seu propósito eterno. Ele tem um plano
para o mundo. Nós, sua Igreja, fazemos parte deste propósito e por isso o
louvamos.
Nossos cultos precisam ter uma visão do atacado, não apenas do
varejo. Não é apenas o que Deus faz por mim, mas o que Deus faz em nível
histórico, ao longo dos tempos, conduzindo tudo para submissão a Cristo. A
Igreja celebra esta verdade: a história está nas mãos de Deus e ela serve a este
Deus poderoso que engendrou seu plano “antes da fundação do mundo”
(1.4). Que maravilha servir e adorar a este Deus!
PARTE 2
O FILHO NO CÂNTICO
O Filho nos redime do tirano, que não é o Pai, mas o pecado (v. 7). O
que foi feito do pecado em nossos cânticos? Parece se exaltar um evangelho
psicológico, que faz a pessoa se encontrar existencialmente, ter sentido na
vida, ser feliz. Mas e o poder do pecado, seu perigo sobre os crentes? Ele
sumiu das pregações e dos cânticos. De um lado, pelo triunfalismo, em
cânticos ingênuos mostrando uma vitória sobre o Diabo, ignorando a tensão
da vida cristã entre o já e o ainda não. Há aspectos que já se concretizaram, mas
outros ainda não. Simplifiquemos: a igreja ainda é militante, e não triunfante,
em glória. A salvação ainda não chegou ao estágio da glorificação, que alguns
cantam como já presente. Do outro lado, um evangelho mais voltado para o
cotidiano, muito imanente, pouco transcendente. Está se cantando muito o
aqui e o agora, e pouco o metafísico. Um evangelho que atende nossas
necessidades psicológicas e emocionais (o sentir-se bem) e não seu aspecto
transcendente (perdão dos pecados e libertação do poder do mal). Cuidado
para não humanizar tanto o evangelho que ele passe a ser auto-ajuda.
Pelo Filho conhecemos o “mistério” (v. 8). Paulo bate de frente com os
gnósticos, que diziam “temos a chave para compreender o mundo”. Paulo
mostra que o mistério para entender o mundo é Jesus. Cuidado com o Cristo
esotérico, intimista, tão internalizado, que passa a ser um sentimento. Cristo é
a chave para se entender o mundo. Nossos cânticos devem mostrar que nós
entendemos o mundo pelo evangelho, que Jesus é a resposta divina às mazelas
do pecado. Devemos evitar o esoterês evangélico, que vai se tornando comum
em nosso meio.
O ESPÍRITO NO CÂNTICO
A igreja canta o Espírito. Ele sela a eleição (v. 13). A raça humana
estava dividida entre judeus e gentios e Deus fez deles um só povo. E deu o
Espírito a todos (a igreja deve cantar a universalidade do Espírito) para selá-
los em uma nova humanidade. O Espírito não é uma força, nem energia, nem
o poder de Deus. É uma pessoa. Alguns de nossos corinhos parecem apontar
para o Espírito como se fosse um fio desencapado, dando choque nas
pessoas. Ele vem para eletrizar o culto, nesta visão distorcida. Ele é a prova de
que a igreja é igreja. Ele une a igreja, não a divide. Aliás, quem a divide não
tem o Espírito (Jd, 19).
O Espírito mantém a igreja unida. Infelizmente, muita carnalidade e
vaidade se disfarçam de “louvor” ou de “defesa da pureza da fé”, e divide as
igrejas. O Pai nos fez um pelo Espírito. Está errada a letra do hino 564 HCC,
pedindo que o Pai nos faça um. Ele já nos fez. Nós é que quebramos a
unidade, mas ela foi feita na cruz, e é aplicada pelo Espírito.
O Pai tem sido injustiçado em muitas pregações e cânticos
evangelísticos. É uma parte destrambelhada da Trindade. O Filho tem
recebido uma visão distorcida, como a parte da Trindade bem sentimental,
edulcorada. Mas com o Espírito é pior: ele tem sido rebaixado a mera energia.
A Trindade trabalha em harmonia. Os novos compositores fariam bem em ler
um pouco sobre a Trindade e examinar os “ultrapassados” hinos trinitarianos
do CC e do HCC.
Respeitosamente: compositores, procurem uma orientação teológica.
Não ensinem o povo a cantar errado. Doutrina não é irrelevante. Sem ela
saímos do aspecto real da fé e caímos em sentimentalismo, quando não em
erro.
(v. 7). Cuidado com o louvor caimita, de frutos da terra. O louvor deve
expressar que somos aceitos por causa do sangue de Cristo. A morte vicária
de Cristo não pode ser escondida nem subdimensionada. É por ela que nos
vêm as bênçãos de Deus. É por causa dela que cultuamos.
CONCLUSÃO
Muitas mais verdades poderiam ser mostradas neste cântico, mas a
exigüidade do espaço nos limita. Recomendamos ao leitor que releia o estudo
passado, após ter lido este. E reflita seriamente, lendo algumas vezes o cântico
cristológico e trinitariano de Efésios 1.3-14. E que pense: Deus é mesmo
glorificado em nossos cultos? Quem é a platéia, ele ou pessoas a quem
queremos agradar?
Tudo para a Trindade bendita. Que ela seja louvada!