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– Trabalhar sabendo que o Senhor está ao nosso lado. Presença de Deus no trabalho.
– Trabalho e oração.
I. SENHOR, SE ACHEI GRAÇA diante dos teus olhos, não passes ao largo
do teu servo. Mas eu trarei um pouco de água, e lavareis os vossos pés, e
descansareis debaixo desta árvore [...], e depois continuareis o vosso caminho;
porque para isso viestes ao vosso servo1. São palavras que Abraão dirigiu a
Javé quando lhe apareceu com dois anjos, como peregrino, no vale de
Mambré, na hora do maior calor do dia. Abraão acolheu magnanimamente o
Senhor, e o Senhor nunca esqueceu as demonstrações de hospitalidade de
Abraão.
Nós, com a ajuda da graça, temos que procurar alcançar a harmonia da vida
cristã, que se manifesta na unidade de vida – isto é, em unir Marta e Maria –,
de forma que o amor de Deus, a santidade pessoal, seja inseparável do
impulso apostólico e se manifeste na rectidão com que realizamos o nosso
trabalho.
II. A IRMÃ MAIS VELHA dirige-se a Jesus com confiança e em certo tom de
queixa: Senhor, não te importa que minha irmã me tenha deixado só com o
serviço da casa? Diz- lhe, pois, que me ajude.
Durante muitos séculos, quis-se apresentar estas duas irmãs como dois
modelos de vida contrapostos: em Maria, quis-se representar a contemplação,
a vida de união com Deus; em Marta, a vida activa de trabalho, “mas a vida
contemplativa não consiste em estar aos pés de Jesus sem fazer nada: isso
seria uma desordem, se não pura e simples poltronice”5. Os afazeres de cada
um são precisamente o lugar em que encontramos a Deus, “o eixo sobre o qual
assenta e gira a nossa chamada à santidade”6. Sem um trabalho sério,
consciente, prestigioso, seria muito difícil – para não dizer impossível – ter uma
vida interior profunda e exercer um apostolado eficaz no meio do mundo.
“Devem compreender agora – com uma nova clareza – que Deus os chama
a servi-lo em e a partir das tarefas civis, materiais, seculares da vida humana.
Deus espera-nos cada dia no laboratório, na sala de operações de um hospital,
no quartel, na cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, no seio do
lar e em todo o imenso panorama do trabalho. Não esqueçam nunca: há algo
de santo, de divino, escondido nas situações mais comuns, algo que a cada um
de nós compete descobrir [...].
Jesus não questiona toda a atitude de Marta, como não ajuíza todo o
comportamento de Maria. Muda os termos do problema com toda a
profundidade e aponta para um aspecto mais essencial: a atitude interna de
Marta, que está tão absorvida no seu trabalho e tão preocupada com ele, que
quase se esquece do mais importante: a presença de Cristo naquela casa.
III. DEVEMOS ALCANÇAR tal unidade de vida que o próprio trabalho nos
leve a estar na presença de Deus e, ao mesmo tempo, os momentos
expressamente dedicados a falar com o Senhor nos ajudem a trabalhar melhor:
“Entre as ocupações temporais e a vida espiritual, entre o trabalho e a oração,
não pode existir apenas um «armistício» mais ou menos bem conseguido; tem
que dar-se uma plena união, uma fusão sem resíduo. O trabalho alimenta a
oração e a oração «embebe» o trabalho. E isto até se chegar ao ponto de o
trabalho em si mesmo, enquanto serviço feito ao homem e à sociedade – e,
portanto, de acordo com as mais claras exigências do profissionalismo –, se
converter em oração agradável a Deus”10.
(1) Gen 18, 1-5; Primeira leitura da Missa do décimo sexto domingo do TC, ciclo C; (2) Lc 10,
38-42; (3) Jo 11, 35; (4) Santo Agostinho, Sermão 103, 3; (5) A. del Portillo, Homilia,
20-VII-1968, em Romana, ano II, n. 3, pág. 268; (6) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus,
n. 62; (7) cfr. J. L. Illanes, A santificação do trabalho, Quadrante, São Paulo, 1982, pág. 70-72;
(8) São Josemaría Escrivá, Questões actuais do cristianismo, 3ª ed., Quadrante, São Paulo,
1986, n. 114; (9) cfr. João Paulo II, Alocução, 20-VI-1986; (10) A. del Portillo, Trabajo y oración,
em Palabra, Maio 1986, pág. 30; (11) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 746.