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pode verificar, pois esses conceitos são bastante difíceis de definir, traduzindo uma
visão conservadora e bastante restritiva dos mesmos, não podemos deixar que isso
aconteça no Século XXI. Na verdade, entre a ponderação de valores essa visão
conservadora sai a perder em detrimento da igualdade de género do combate aos
crimes adjacentes á prostituição “ilegal” e o lenocínio já tutela esses valores no código
penal, não esquecendo que a prostituição em si não é crime o que não deixa de ser
algo curioso em termos jurídicos, ou até éticos e ideológicos.
Trata-se também de estarmos junto dos países mais desenvolvidos em matéria
de direitos sexuais e de costumes, não se trata de legalizar a escravatura humana.
Como por vezes os opositores a este passo praguejam, mas sim de acabar com a
hipocrisia vigente e dar direitos a quem, de facto, tem uma profissão e se encontra,
quase sempre, em situações vulneráveis e de estigmatização social. Quem se dedica à
prostituição, dedica-se a uma forma de subsistência, para alguns pouco válida, mas para
estas mulheres e para os seus filhos, na maioria dos casos fundamental.
Não se trata de legalizar o proxenetismo, pois a lei será devidamente
regulamentada para fazer o combate a essa triste realidade; pois como sabemos a
liberdade é um conceito que tem muitas condicionantes, desde logo o sistema
capitalista coloca o primado da economia sobre as pessoas fazendo sociedade
afilosóficas, cujo único objectivo será apenas sobreviver e ganhar dinheiro não tendo
sequer tempo para pensar em mais nada. Neste caso particular, existe também, muitas
vezes, a coacção moral, física e religiosa, pelo que optar por esta profissão muitas das
vezes é uma não escolha.
Não quer com isto dizer que estamos a branquear esta realidade. Pois, de facto,
nos tempos em que vivemos com a situação de crise, a que a teologia do mercado nos
levou por considerar as pessoas como números e não como pessoas, nós como uma
juventude de esquerda, mantendo ainda o idealismo de uma sociedade mais justa ,
consideramos estas pessoas realmente como pessoas e não como números ou
cidadãos de segunda.
Assim, a prostituição pode ser definida como a troca consciente de favores
sexuais por interesses não sentimentais ou afectivos. Apesar de, comummente, a
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prostituição consistir numa relação de troca entre sexo e dinheiro, esta não é uma
regra. Podem-se trocar relações sexuais: por favorecimento profissional, por bens
materiais (incluindo-se o dinheiro), por informações, etc. A título de exemplo, e de
direito comparado, no Brasil o Código Penal condena o favorecimento da prostituição,
a manutenção de bordéis e o tráfico de mulheres. O crime, portanto, não é oferecer o
corpo, mas sim exploração de uma pessoa por terceiros. Isso não impede que haja
milhares de casas de prostituição a funcionar no país, tal qual como, em Portugal,
acontece com o crime de lenocínio.
A tese central dos defensores da legalização da prostituição é simples: se ela é
inevitável e se trata de uma relação económica que traz riscos à saúde pública, o
melhor será regulá-la. A prostituição é uma actividade contemporânea à própria
civilização, já argumentou o deputado brasileiro Fernando Gabeira, autor de um
projecto de lei de regulamentação da Prostituição. Na verdade, nenhum ser humano
deve ser considerado mercadoria e a regulamentação da prostituição nunca poderá
ferir o direito humano fundamental da dignidade e da autonomia sobre o seu próprio
corpo.
Tal como aquando despenalização da I.V.G., em que o ratio legis da norma não
poderia ser usar o aborto como contraceptivo, aqui também não se trata de branquear
a mercantilização do sexo, nem do corpo de seres humanos, mas sim de dar dignidade
a pessoas que muitas vezes não têm outra alternativa protegendo-as. Assim, se haverá
sempre quem pague por sexo, por inúmeras razões psicológicas, sociológicas, sociais
entre outras, deveremos regulamentar a actividade minimizando em todos os aspectos
o seu impacto social. Poderemos fazer outra analogia, por exemplo, como a troca de
seringas entre toxicodependentes, não se trata de incentivar o consumo de drogas,
mas de garantir o mínimo de dignidade a quem o faz, nunca deixando de combater o
problema. Aliás, como provou a lei da despenalização da IVG o número de abortos não
aumentou em Portugal. Isto porque, a lei foi bem regulamentada, neste caso teremos
de fazer o mesmo, regulamentar bem a lei, evitando que o país não se torne um
paraíso de turismo sexual, desvirtuado o espírito da norma.
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Devermos aprender com a lição da Holanda, onde se imaginava uma queda da
procura pelo sexo pago e ocorreu o oposto, devido á falta de regulação. Será de
referir, que os Holandeses e os Belgas legalizaram os bordéis e, assim, as prostitutas
passaram a ter os direitos de qualquer trabalhador (contrato de trabalho, seguro de
saúde, direito a uma pensão, ect,). Em contrapartida, vão descontar para a segurança
social e pagar impostos como qualquer cidadão. Noutra perspectiva, a Alemanha
adoptou legislação semelhante no ano passado. Apesar de ter levantado discussões
sérias com a Igreja, e com os sectores mais conservadores da sociedade, do ponto de
vista pragmático, defende-se que “a mais antiga das profissões” é impossível de ser
eliminada, desta forma torná-la legal será uma forma de controlar doenças, combater
o crime, a prostituição de menores e, até, criar mais uma fonte de impostos.
No entanto, tanto na Holanda, como na Alemanha e como na Nova Zelândia
foram estabelecidas restrições. A idade mínima para a prostituição é 18 anos e, no
caso holandês e no neozelandês, os prostíbulos precisam de licenças especiais. Em
alguns países, a situação é mais confusa. A prostituição é legal em certas cidades do
estado de Nevada, nos Estados Unidos da América (EUA), e, também, em algumas
regiões da Austrália, incluindo a maior cidade do país, Sydney.
A prostituição é, desde muitos anos, um tema sensível e que suscita alguma
discórdia, não só a nível nacional como internacional. A cultura dos povos e o seu
maior ou menor conservadorismo têm-se revelado fulcrais para a aceitação de uma
situação social que, quer concordemos ou não com ela, existe, sempre existiu e irá
continuar a existir.
Virar as costas ao fenómeno da prostituição não é solução. Proibir legalmente a
sua prática tem a vindo revelar-se comprovadamente ineficaz. Aliás, não deixa de ser
irónico que países tão liberais na sua economia, sejam conservadores e proibicionistas
nos costumes a fim de “libertar” os cidadãos como é o caso dos EUA, na generalidade
dos estados. Para além do exposto, também existe a desigualdade este campo, visto
que de um lado podemos observar acompanhantes de luxo, as quais recebem
autênticas fortunas e têm melhores condições que as suas colegas, enquanto, que
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noutro cenário, vemos pessoas em miséria extrema, as quais recorrem a este recurso
por necessidade irredutível.
A moralidade é um conceito maleável, subordinado à cultura dominante,
sempre foi assim. A prostituição é muitas das vezes a face de uma sociedade que só
pensa no lucro, constituindo um paraíso para máfias e lavagem de dinheiro pelo que
em nosso entender o combate passa pela legalização. Deve-se então legalizar a
prostituição? Pensamos que sim. A legalização da prostituição não deve ser encarada
como a permissão de uma actividade que não é consensualmente aceite pela
sociedade, mas antes, como a resposta a um problema social com graves
repercussões. A legalização desta actividade poderia ainda trazer respostas para o
controlo de doenças sexualmente transmitidas (através da obrigatoriedade de exames
regulares aos trabalhadores desta "indústria"), sendo que tal representa apenas a
parte visível do iceberg. Existe uma extensa lista de problemas sociais que poderiam
ser minimizados na sua extensão e gravidade através da legalização da prostituição, e
que poucas vezes se abordam, tais como: o tráfego humano; a imigração ilegal; a
prostituição infantil; a exploração e escravidão de seres humanos; ou, mais
directamente, a falta de condições de higiene e segurança no desenvolvimento desta
“profissão”; a violência e os crimes a ela associados e, até, por vezes, o consumo de
drogas, nestes contextos.
A legalização traria uma condição melhor para a vida destas mulheres e
homens. Não consideramos que seja um paliativo, nem que seja uma acção de
contingência. Deverá sempre, ser, contudo, acompanhada com medidas de âmbito
social, para além de regulação essencial, neste e noutros casos a repressão seja social,
policial ou jurídica, não é o caminho, nem a solução.
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Subscritores
N.º Militante Nome Assinatura
101758 Luís Martinho