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I. RELATÓRIO:
Alega, em síntese:
Que o A. é comproprietário de 1/4 dos prédios descritos na Conservatória do Registo
Predial de Tarouca, sob o n.°s 1109, 1150 e 1151, prédios esses que, na proporção de
1/4, foram adjudicados à primeira Ré, pelo preço de 1.200.000$00, por instrumento
de venda lavrado nos autos de apreensão de bens e liquidação do activo, no qual foi
declarada falida a segunda Ré, D………., sem que ao A. tivesse sido comunicado o
respectivo projecto de adjudicação (venda).
Alega, assim, o A. que em virtude de não ter tido conhecimento da venda judicial
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Pede:
Que, julgada a acção procedente, sejam as Rés condenadas a reconhecerem o direito
de preferência do A. na venda judicial dos prédios supra identificados, sendo, por
isso, reconhecido ao A. o direito de haver para si as referidas verbas, substituindo-se
em tal venda à adquirente aqui primeira Ré.
“CONCLUSÕES:
Em face de quanto foi dito, extraem-se as seguintes conclusões:
1) Apesar de não ter sido suscitada a ilegitimidade do A., resulta da lei e da
jurisprudência dominante que, havendo direito de preferência simultâneo ou
concorrente de direitos de preferência, como no caso dos autos, o preferente terá,
excepto se provar a renúncia dos outros consortes, de propor a acção conjuntamente
com estes ou provocar a sua intervenção, sob pena de ilegitimidade;
2) Resulta daqui a necessidade de litisconsórcio activo, que não foi observada na
acção instaurada pelo A., não tendo o Tribunal a quo verificado sequer
oficiosamente tal pressuposto;
3) O A., sendo comproprietário conjuntamente com, pelo menos, sua mãe (titular de
metade dos bens), F………., teria de instaurar a acção em conjunto com ela, ou, não
o tendo feito na petição inicial, teria de provocar tempestivamente a sua
intervenção;
4) O A., não fez uma coisa nem outra, pois, instaurou a acção desacompanhado dos
demais com proprietários;
5) A noção de compropriedade resulta do disposto no artigo 1.403° do CC, segundo o
qual, existe propriedade em comum, compropriedade, quando suas ou mais pessoas
são simultaneamente titulares do direito de propriedade sobre a mesma coisa;
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Termos em que, e nos mais de Direito que Vs. Exas. doutamente suprirão, deve ser
dado provimento ao recurso, revogando-se a douta decisão recorrida, com as legais
consequências.”.
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II. FUNDAMENTAÇÃO
II. 1. AS QUESTÕES:
Tendo presente que:
- O objecto dos recursos é balizado pelas conclusões das alegações dos recorrentes,
não podendo este Tribunal conhecer de matérias não incluídas, a não ser que as
mesmas sejam de conhecimento oficioso (arts. 684º, nº3 e 690º, nºs 1 e 3, do C. P.
Civil);
- Nos recursos se apreciam questões e não razões;
- Os recursos não visam criar decisões sobre matéria nova, sendo o seu âmbito
delimitado pelo conteúdo do acto recorrido,
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facto assente).
8) O autor é comproprietário dos prédios em questão - (alínea H) da matéria de
facto assente).
9) Em 29 de Março de 2001 o autor depositou na Caixa Geral de Depósitos, e à
ordem destes autos, a quantia de 1.200.000$00 - (alínea 1) da matéria de facto
assente).
10) Com os registos da aquisição referida em G) a primeira ré teve despesas - (alínea
J) da matéria de facto assente).
11) O liquidatário judicial da massa falida ré não comunicou aos comproprietários o
preço e as condições de pagamento no âmbito da adjudicação referida em G) -
(resposta ao(s) quesito(s) 1).
12) Não tendo sido comunicada aos comproprietários os precisos termos em que a
adjudicação foi feita - (resposta ao(s) quesito(s) 2).
III. O DIREITO:
Sustentam os Réus/apelantes, desde logo, que, apesar de não ter sido suscitada a
ilegitimidade do autor para, desacompanhado dos demais comproprietários,
instaurar a presente acção de preferência, deve tal excepção dilatória ser agora (ex
officio) conhecida.
Assim, impondo-se a intervenção de todos os comproprietários dos prédios objecto
da preferência nesta acção que visava exercer essa mesma preferência, e não tendo
tal intervenção sido requerida pelo autor, a acção não devia ter prosseguido para
apreciação do seu mérito, devendo, antes, ter-se declarado o autor parte ilegítima
com as legais consequências.
Sem dúvida que a questão da ilegitimidade activa do autor é questão que não foi
suscitada nos autos, sendo-o pela primeira vez neste recurso.
No entanto, tal regra tem e ser entendida e aplicada cum grano salis. Isto é, apesar
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Ora, in casu, está em causa uma excepção dilatória: a ilegitimidade (ut artº 494º, al.
e) CPC), logo de conhecimento oficioso (artº 495º CPC).
Com tal, há apenas que ver se tal questão já foi decidida nos autos e por decisão
transitada em julgado.
É patente que não!
O artº 510º, nº1, al. a) do CPC dispõe que o juiz profere despacho saneador
destinado a “conhecer excepções dilatórias e nulidades processuais que hajam sido
suscitadas pelas partes, ou que, face aos elementos constantes dos autos, deva
apreciar oficiosamente”.
Continua a discutir-se sobre a necessidade de haver uma pronúncia afirmativa
quanto à existência dos pressupostos processuais cuja falta seja susceptível de
determinar a absolvição da instância.
Porém, continuam os tribunais a proceder a uma enunciação da generalidade dos
pressupostos processuais verificados, sem apreciar em concreto as questões atinentes
àqueles pressupostos processuais quando não tenham sido suscitadas pela(s)
parte(s).
E, então, qual o valor desse despacho saneador tabelar ou genérico quanto à
verificação dos pressupostos processuais?
A questão veio ser solucionada pelo nº 3 do artº 510º do CPC [Que dispõe: “No caso
previsto na alínea a), o despacho constitui, logo que transite, caso julgado quanto às
questões concretamente apreciadas;….”—o negrito é da nossa autoria], o qual
afastou o perigo de transformar esse saneador numa decisão sujeita ao caso julgado
formal, tendo, assim, sido decidida por via legislativa uma das questões que
anteriormente dividia a doutrina e a jurisprudência [A questão apenas se
encontrava expressamente resolvida, no sentido afirmativo, quanto à matéria da
legitimidade, por força do Assento do STJ de 1-2-63, BMJ 124.°/414, e no sentido
negativo, no tocante à competência absoluta, a partir do Assento do STJ, de
27-11-92, D. R. de 11-1-92. Quanto às demais excepções ou nulidades processuais
existia clara divergência doutrinal e jurisprudencial, entendendo uns que o caso
julgado formal apenas abarcava as excepções ou nulidades expressa e concretamente
resolvidas no despacho saneador e defendendo outros a formação de caso julgado
independentemente de tal concretização, aplicando extensivamente a doutrina do
Assento sobre o pressuposto processual da legitimidade.
No primeiro sentido, cfr. ANTUNES VARELA, Manual de Proc. Civil, pág. 393, e
RLJ, ano 121º/285 e segs., ALBERTO DOS REIS, CPC anot. vol. III, pág. 198,
ANSELMO DE CASTRO, Direito Processual Civil Declaratório, vol. III, pág. 266, o
Ac. da Rel. de Lisboa, de 15-2-94, CJ, tomo V, pág. 133 (verificação, na sentença, da
admissibilidade da reconvenção), e o Ac. da Rel. de Lisboa, de 2-10-97, CJ, tomo IV,
pág. 97 (patrocínio judiciário).
No sentido afirmativo, cfr. CASTRO MENDES, Direito Processual Civil, vol. II,
págs. 632 e segs., RODRIGUES BASTOS, Notas ao CPC, vol. III, pág. 77, e os Acs.
do STJ, de 1-6-93, BMJ 328.°/588, e de 19-6-84, BMJ 338.°/391. Cfr. ainda, sobre um
caso de falta de personalidade judiciária, o Ac. do STJ, de 17-5-95, BMJ 447.°/422.
A partir da revisão do CPC ficou claro que o despacho saneador apenas constitui
caso julgado formal em relação às questões concretamente apreciadas. Não ficou,
todavia, esclarecido se a mesma solução deve aplicar-se às excepções peremptórias,
embora pareça que não faz sentido atribuir a uma decisão genérica sobre o mérito
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da causa valor superior ao que a lei atribui a decisões tabelares que apensa visam a
relação processual, tal como já antes fora decidido (Acs. in BMJ 375º-403, Col. Jur.,
94, T. II, 38 e Rev. Trib., ano 81º-68 e A. Varela, Manual cit., 396, nota 1)].
Assim, portanto, como escreve Lebres de Freitas, in Código de Processo Civil,
Anotado, vol. 2º, págs. 370-371, “Se, porém, o juiz referir genericamente que
determinados pressupostos, dos constantes do artº 494º (por exemplo, a
competência, a capacidade, a legitimidade ou os da coligação) ou outros (por
exemplo, os que tornam admissível a reconvenção, ou o pedido genérico:
respectivamente, arts. 274º-2 e 471º-1), se verificam, o despacho saneador não
constitui , nessa parte, caso julgado formal (artº 672º), pelo que continua a ser
possível a apreciação duma questão concreta de que resulte que o pressuposto
genericamente referido afinal não ocorre ou que há nulidade”—sublinhado nosso.
Como tal, e voltando ao caso sub judice, conclui-se que, não obstante a questão da
ilegitimidade do autor não ter sido suscitada nos autos, nada impede que este
tribunal de recurso se pronuncie sobre ela, visto que, sendo de conhecimento
oficioso, ainda não se encontra decidida com trânsito em julgado por se encontrar
inserida em mero despacho saneador tabelar ou genérico.
Sendo afirmativa a resposta, obviamente que decai a primeira questão suscitada nas
alegações recursórias; sendo negativa, essa questão vingará, tendo como
consequência a absolvição dos réus da instância (ut artº 493º/2 CPC).
Vejamos, pois.
Vem o autor com a presente demanda, ao abrigo do estatuído no artº 1409º do Cód.
Civil, lograr obter o reconhecimento do seu direito de preferência na venda judicial
de ¼ dos prédios identificados nas alíneas A), C) e E) da matéria de facto assente,
alegando, para tal, que é comproprietário de ¼ indiviso de tais prédios.
Efectivamente, assente está que o autor é comproprietário, na proporção e ¼, dos
aludidos prédios -- urbano e rústico—, dos quais, nos autos de falência de D……… a
correr termos pelo 1º Juízo do Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia sob o nº
../98, foi adjudicado à primeira ré—estranha à relação de compropriedade--, por
instrumento de venda e auto de transmissão de imóveis, uma quarta parte indivisa.
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Estas, e outras, teses são passíveis de críticas, como se pode ver, desenvolvidamente,
em CCAnotado, de P. Lima e A. Varela, anotação ao artº 1403º.
Como quer que seja, afirmando que a compropriedade é uma comunhão num único
direito de propriedade e que os direitos dos consortes (sobre a coisa comum) são
qualitativamente iguais, a lei permite distinguir entre a compropriedade, de um
lado, e o concurso de direitos e o condomínio, do outro.
Veja-se que os contitulares perdem quase por completo a autonomia que caracteriza
o domínio, só podendo exercer os poderes compreendidos no direito de propriedade
com a colaboração dos demais contitulares, à excepção do poder de uso (artº 1406º
CC).
Com efeito, entendemos que a lei exige a intervenção dos restantes comproprietários
para assegurar a legitimidade do autor na acção de preferência. Só assim não sairão
frustradas as finalidades da mesma lei e a decisão a obter produzirá o seu efeito útil
normal (ut artigo 28 do Código de Processo Civil)—só assim, portanto, regulando
definitivamente a situação concreta das partes relativamente ao pedido formulado.
Vejamos melhor.
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do art. 28.° do Cód. Proc. Civil (neste sentido ver o Ac. STJ de 6-11-79, in Bol.
291/396).
Ensina Rodrigues Bastos, Notas ao Cód. de Proc. Civil, vol. I, pág. 118, que a decisão
produz o «efeito útil normal» de que fala o artº 28º, nº2 CPC quando regule
definitivamente a situação concreta sujeita à apreciação judicial. Sempre que, por
não intervirem certas pessoas, seja abalada essa estabilidade que se procura e se
deseja, deixando a porta aberta à possibilidade de outros interessados na mesma
relação jurídica suscitar nova demanda, em que poderão obter decisão diferente, o
litisconsórcio impõe-se como obrigação.
É, como vimos, o que ocorre no caso sub judice: os demais comproprietários podem
vir demandar o aqui autor com base na mesma relação jurídica. O que basta para
haver o risco de a decisão a proferir poder vir a abalar a aludida estabilidade que se
deseja, dada a eventual instauração de nova(s) demanda(s) que a altere e impeça de
se tornar definitiva.
Estamos, portanto, perante caso de litisconsórcio necessário activo, nos sobreditos
termos.
A esta solução igualmente se chegaria com aplicação do disposto no artº 1409º, nº3
do PCP, ao dispor que sendo dois ou mais os preferentes, a quota alienada é
adjudicada a todos na proporção das suas quotas, quer estas sejam iguais, quer
desiguais.
Portanto, havendo mais que um interessado na adjudicação, dado haver vários
comproprietários, há tantos interessados com igual direito de preferência e
possibilidade de qualquer deles intentar as respectiva acção, razão porque a quota
nos bens aqui em questão não podia ser adjudicada apenas ao autor, antes se
impunha acautelar os interesses dos demais comproprietários—fazendo-os intervir
na acção, pelo lado activo--, adjudicando-a a todos eles na proporção supra
apontada, caso pretendam, também, exercer a preferência e tal direito seja
reconhecido por verificação de todos os pressupostos legais.
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daquele preceito prevê, mas ocorreu apenas porque já no nº 3 do artº 1409º se previa
um regime específico para a compropriedade, fazendo seguir a regra do
litisconsórcio necessário activo que o nº 1 do artº 419º prevê.
Poder-se-á, também, objectar que a solução aqui propugnada não se compagina com
o estatuído no artº 1405º do CC, que dispõe:
“(Posição dos comproprietários)
1. Os comproprietários exercem, em conjunto, todos os direitos que pertencem ao
proprietário singular; separadamente, participam nas vantagens e encargos da
coisa, em proporção da suas quotas e nos termos dos artigos seguintes.
2. Cada consorte pode reivindicar de terceiro a coisa comum, sem que a este seja
lícito opor-lhe que ela lhe não pertence por inteiro.”
Portanto, o direito de preferência tinha que ser exercido, em conjunto, por todos os
comproprietários dos prédios em questão, em litisconsórcio necessário (activo)-- em
conformidade com o princípio segundo o qual, nas situações de compropriedade ou
comunhão, os direitos nelas integrados devem ser exercidos conjuntamente por
todos os contitulares (cfr. arts. 1404 e 1405, n.º 1 do Cód. Civil).[Na doutrina pode
ver-se: Antunes Varela, Miguel Bezerra e Sampaio Nora, Manual de Processo Civil,
2.ª ed., p. 165; António Pires Henriques da Graça, A Legitimidade na Acção de
Preferência, CJ Ano IX, Tomo I, p. 30. Na jurisprudência: Ac. do STJ de 5 de Maio
de 1988, BMJ 377-476; Ac. do STJ de 7 de Novembro de 1989, BMJ 391-574; Acs.
do STJ de 9 de Dezembro de 1999, BMJ 492-391, de 19 de Fevereiro de 2004, e de 1
de Julho de 2004, (Conselheiro Dr. Moitinho de Almeida, estes dois últimos,
disponíveis em www.dgsi.pt.].
Esta posição tem sido, de forma especial, abundantemente sufrada pelo nosso mais
alto Tribunal, podendo citar-se, ainda, os seguintes arestos:
- Ac. de 9 de Dezembro de 1999 (Bol. M.J., nº 429, págs. 391 e segs), sumariado nos
seguintes termos:
«I - O comproprietário que pretenda instaurar a acção de preferência contra a
alienação da quota de um consorte e não possa provar a renúncia dos outros
consortes terá de propor a acção conjuntamente com estes ou provocar a
intervenção deles na acção, sob pena de ilegitimidade;
II - Trata-se de um caso de litisconsórcio necessário, tendo em conta que, se o
comproprietário não interveniente na acção propusesse acção para obter a sua
proporção na quota alienada, como tinha o direito de o fazer, verificar-se-ia, ou
podia verificar-se, conflito de decisões e a decisão a favor dos autores não regulava
definitivamente a questão (artigo 28, n.° 2, do Código de Processo Civil).»
- Acórdão de 14 de Abril de 1988 (Bol. M.J., nº 376, págs. 569 e ss.) que, seguindo o
Prof. Antunes Varela (pág. 572), escreve:
«O comproprietário que se apresente isoladamente a preferir, sem provar a
intervenção dos restantes ou sem provar a renúncia deles, não pode deixar de ser
considerado parte ilegítima, por não ser o único titular da relação controvertida, no
momento em que a acção é proposta.»
- Acórdão de 22 de Janeiro de 1987 (Bol. M.J., nº 363, págs. 523 ss. e doutrina e
jurisprudência referidas a págs. 527/528), onde se escreveu (págs. 525/526):
«Não pode o comproprietário preterido intentar, isoladamente, a acção de
preferência sem a intervenção dos demais ou a sua prévia notificação, salvo se eles
houverem renunciado ao seu direito (…)».
«Portanto, dada a situação da pluralidade de preferentes, respeitante ao mesmo
direito de preferência ou contitularidade de uma única relação de preferência, e não
a direitos de preferência distintos, porventura, da mesma natureza, o
comproprietário que pretenda instaurar a acção de preferência, em consequência de
alienação de quota de um seu consorte a um estranho, e não possa provar a renúncia
dos outros consortes, terá que propor a acção conjuntamente com estes ou provocar
a intervenção deles na acção - artigo 356.° do Código de Processo Civil - sob pena de
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ilegitimidade activa.».
Estes últimos arestos vêm também citados no recente Ac. do STJ de 22.09.2005
(relator Consº Lucas Coelho), disponível no site da dgsi.pt, com o seguinte sumário:
“I- O comproprietário que pretenda instaurar acção de preferência em consequência
de alienação de quota de um seu consorte a estranho e não possa provar a renúncia
dos outros consortes, deve propor acção conjuntamente com estes - ou provocar a
sua intervenção na acção -, em litisconsórcio necessário activo, sob pena de
ilegitimidade;
II - Trata-se de solução consentânea substantivamente com a natureza jurídica da
compropriedade, na concepção, mais adequada às soluções legais e ao próprio
conceito formulado no artigo 1403.º do Código Civil, de um único direito de
propriedade com pluralidade de titulares, pertencendo a cada um deles uma quota
ideal do mesmo direito, que exprime o quantum de poderes sobre a coisa comum
enquanto dura a comunhão, e a medida do direito no momento da divisão;
[…………………………………]”.
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Em suma, não tendo a acção sido instaurada por todos os contitulares do direito de
preferência—apenas o foi por um dos comproprietários-- e nem tendo sido alegado
(e comprovado) que os demais contitulares do mesmo direito concreto de preferência
não pretendem preferir nem tendo o autor provocado a intervenção na acção dos
demais comproprietários, nos termos do art. 325, n.º 1 do Cód. Proc. Civil, é claro
para nós, salvo melhor opinião, que se impõe concluir pela ilegitimidade activa do
autor nesta demanda.
CONCLUINDO:
- A regra de aferição da legitimidade em função da relação material controvertida
tal como é configurada pelo autor, foi introduzida no n.º 3 do artigo 26º do CPC pela
Reforma de 1995/96 “sob reserva” de inaplicabilidade à legitimidade plural
(legitimação extraordinária, traduzida na exigência do litisconsórcio ou na
atribuição de legitimidade indirecta).
- Assim, apesar de o autor/comproprietário se ter arrogado em exclusivo a
titularidade do direito de preferência—apresentado-se, assim, como sujeito da
relação material controvertida configurada na petição--, tal, por si só, não assegura a
sua legitimidade activa.
- Pode o tribunal de recurso conhecer de questões novas desde que sejam de
conhecimento oficioso e ainda não estejam decididas com trânsito em julgado, quer
sejam referentes à relação processual (v.g. a quase totalidade das excepções
dilatórias, nos termos do artº 495º CPC), quer à relação material controvertida.
- Resulta do nº 3 do artº 510º do actual CPC que o despacho saneador tabelar ou
genérico quanto à verificação dos pressupostos processuais não constitui, nessa
parte, caso julgado formal, pelo que continua a ser possível a apreciação duma
questão concreta de que resulte que o pressuposto genericamnete referido afinal não
ocorre ou que há nulidade.
- O comproprietário que pretenda instaurar acção de preferência em consequência
de alienação de quota de um seu consorte a estranho, deve propor a acção
conjuntamente com os seus consortes, em litisconsórcio necessário activo, sob pena
de ilegitimidade, a não ser que prove a renúncia dos outros consortes, ou—não o
provando-- provoque a sua intervenção na acção.
- Com efeito, a sentença que dê razão ao autor quando desacompanhado dos demais
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IV. DECISÃO:
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