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| Fol disrond Ln. Y prev nelo gle Q Iv A Existéncia ———$— Heidegger desenvolve em Ser e tempo uma analitica fenomeno- ogica da existéncia humana, que mais tarde 6 indieada como antropolo- ‘gia daseinsanalitica a ser empregada como fundamento de uma nova cién- cia do homem (Boss & Heidegger, 1987/2009). Eu entro em contato com esta compreensio de homem jé no segundo ano do curso de Psicologia através de publicagBes de Medard Boss. No ano seguinte, comeo a de- bbrugar-me sobre Ser e tempo. Por isso, é premente a descricdo da existén- cia. Neste capitulo, porém, nao aprofimdo tal anilise, dedicando- P* ‘meu ver, mais articulados com as discusses sobre as contribui- Heidegger para 0 ser-psicélogo. Para apresentagées mais bem feitas, sugiro a leitura dos comentadores Pessanha (1999), Beaufret (1976), Vat Trotignon (1990), Inwood (1997), Nunes (2002), Casanova (2009) ¢ Ha cujas apresentagGes figuram como in- fluéncias nas reflexdes a seonir. A diferenga ontolégica A primeira apresentagio em Ser e tempo do ser da existéncia se encontra no § 9. Nas paginas anteriores Heidegger apresenta a justificativa da recolocagio da questo do ser ¢ 0 primado da existéncia como fio con- dutor dessa andlise. Encontra-se nessas piginas iniciais também a explici- tagdo de “fenomenologia’ na concepedo heideggeriana, jé apresentada “fazer ver a partir dele mesmo o que se mostra tal como ele por si mesmo se mostra” (Heidegger, 1927/2012, p. 119, § 7). A andlise fenomenolégi- 86 Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista cca da existéncia tem esse mesmo sentido: deixar que se mostre a si mes- utir de si mesma fazendo com que assim scja vi isso, € Assim, Dasein no é assumido como um ente criado a imagem e semelhanga de Deus, nem um ente natural. Que é entio? O § 9 fornece as primeiras indicagées: (© ente que temos a tarefa de examinar, nés © somos cada vez nés ‘mesmos. O ser desse ente é cada vez meu. No ser desse ente, ele tem de se haver ele mesmo com seu ser. Como ente dess¢ ser, responder pelo seu proprio ser. O ser ele mesmo é o que est para esse ente, (Heidegger, 1927/2012, p. 139, § 9) Essa curta passagem revela tremenda dificuldade! Primeiro porque Heidegger langa mio de conceitos comuns na Filosofia, mas es- s em outras disciplinas, como a Psicologia: ser ¢ ente. Qualquer iversal. O temo em portugués ente deriva do iteralmente “uma coisa, algo”. Esse vocdbulo pre- do verbo esse, traduzivel por ser. O mesmo acontece em portu- ‘gués, mas nesta lingua ente é um substantivo, Assim um ente éum exem- plar concreto de um ser universal. Por exemplo, a mesa de madeira sobre a qual trabalho é um exemplar concreto (um ente) do universal mesa (er). Com Platéo, inaugura-se na historia da filosofia uma hierarquia entre ser e ente, da qual o ente é um decaimento do ser; 0 ser (universal) & mais verdadeiro que 0 ente, O conhecimento verdadeiro € aquele que encontra a verdade (0 ser) escondido pela aparéncia (ente). Como na ale- goria da caverna de Platfo, o acorrentado vé apenas sombras das coisas € as toma como a verdade, sem saber que so sombras de coisas ilumina- das. Mas alguém consegue sair da cavemna ¢ ver as coisas sob, luz: do 10 é, de modo mais verdadeiro (Heidegger, 1931/2008). E essa in- terpretagdo da verdade sobre ser e ente que toma a hist6ria da filosofia Em portugués figura na forma de adjetivos. Nao é, portanto, um tempo verbal dadeiro, sendo os tiltimos che, para quem nao hé ser nem verdade, apenas pers com a fenomenclogia como método para assegui tigor do conhecimento filos6fico. E essa compreensao da relagio ser e ente que est presente também nas varias psicologias, quando insti- ‘tuem um elemento como o verdadeiro ser do homem ~ 0 psiquismo, 0 comportamento, a experiéncia — convocando 0 psicélogo a despir aquele que o proci ente) das enganosas aparéncias na diregao do que verda- Gciramente interessa — 0 psiquismo, o comportamento, a experiencia. A dificuldade aumenta quando se considera que em alemao, em grego, em inglés, em francés (para indicar algumas linguas) ser e estar sto indicados pelo mesmo termo: sein, atanaeee termo ente ~ Seiende — remete a ser — inglés também: to be, being. Em portugués essa relagio fica oculta, __O motivo da recolocagio da questo do ser para Heidegger & que muito cedo na histéria da filosofia, ser (que pode ser substantivo ou verbo) foi interpretado como ‘o ser’ (substantivo), isto é como um ente, ivel de predicaeao; por mais que seja como o mais universal ite. Também na tradigfio filoséfica confunde como no portugués corrente. Mas sera ser um formagao, Heidegger estuda Brentano, cujo tema de estudo é a polisse- mia de ser em Aristételes, Heidegger mostra tal Polissemia na seguinte passagem: “Deus €”: quer dizer “fi REALMENTE EXISTENTE” (Gegemdi “A terra € itica: E FEITA DE, “O cam- ponés esté no campo” significa: ‘SFERIU SUA ESTADA PA DETEM. “0 livro é dele” significa: ELE € da morte™ significa: ANDA POR LA. (Heidegger, 1953/1999, p. 116) coe * Por isso, dizer simplesmente que para a fenomenologia de Heidegger o ser da existén- cia sendo” ni resolve as dificuldades, embora no esteja de todo errado. O “permanecer parado, em repouso” (Online Etymology (er ist des Todes, expresso idiomstica lems), ‘Tomoa liberdade de corrigir a publicago, onde se 1é“Vermelho & backbord" 88 Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista Que & ser? Pode-se perguntar “que” & set? Nao seria isso jé afirmar que é um qué? O mesmo vale para o “ser humano”, Seré mesmo uum qué como outros qués, um ente como 0s outros? Dai a necessidade de tre relagZo com jue € o ente que nés , este ente, enqua de deixar de ser. ara suspender as interpretagées tradici ‘fora’ no mundo, eclodindo como o lugar onde ‘Todos os entes néo Dasein so denominados subsistentes (Vorhandensein). “A ‘esséncia’ do Dasein reside em sua existéncia” (0 § 9 ndo apresenta a relagio entre o ente que sou e o ser desse cente que sou como uma relago de subordinago, como acontece quando se afirma que eu sou um ente (particular) do ser mano (universal). Pri- meiro, porque Heidegger atenta para que no se procure alhures o ser do cente que sou, isto 6, ndo se trata de uma esséncia ou de algo que no este- {ja presente enquanto se é este ente. Pelo contritio, o filésofo convoca 0 investigador a aproximar-se de como acontece a propria experiéncia coti- , ina. Ademais, énfase precisa ser dada & expressio “a cada vez”, pois, contrariamente a concepsiio tradicional de ser como infinito univers ente que sou se comporta em relagdo a seu ser cada momento, isto é, existindo, ‘relaciono’-me com meu ser, havendo-me com meu ser. Tal ter le haver-se com o proprio ser, é o que Heidegger chama de “es- tar em jogo” o proprio ser para este ente, a existéncia, Assim, a existéncia estrutura a priori de ser-af (Dasein).. me Estar em jogo... estranha expresso para se teferir & condigao Psicologia Fenomenolégica Existencial tente, e nfo como existéncia, é um modo de ocultar o proprio ser. Pessanha (2000, p. 106) considera-as tentativas de responder ao enigma que a exis- téncia é para cada um: “Tanto o fitho de Deus (Teologia) como o filho do macaco (Biologia) ou o filho de pai c mie (Psicologia) so respostas epo- cais que o homem deu & constante interpelagiio do enigma de sua apari- go”. Todas as abordagens as que definem o homem contribuem 850 ndo ¢ falha das psicologias, poi dadas, ainda que nao o saibam, na ontologia met homem como coisa entre coisas, da categoria ‘fica da ra idade (psiquismo, mente etc. E dessa perdig&o (desvio do proprio s oferece salvagao. Embora lembre a terminologia de conquista do préprio ser a estritamente humana, exclusiva ao ente que recede o nome de existéncia. As coisas, os animais, os deuses no tém essa condigio. Eles sic. Nao se perguntam por seu ser, nem po- dem ganhé-lo ou perdé-lo, ngo se extraviam nem se encontram. O ser do Dasein é um ‘tipo’ de ser muito especifico, para o qual o proprio ser € 0 dos demais entes nio Dasein é questao. irmar que o ser 6 a cada vez, meu é também um indicativo da insubstituibilidade de cada existéncia, Trata-se do cardter de ser-cada- vez-meu (Jemeinigkeit) da existéncia; em tudo que sou, eu sou. A grande maioria das tarefas da existéncia (concreta) de alguém pode ser realizadas Por outrem. Cuidar de um outro muitas vezes implica assumir por ele algumas de suas responsabilidades ¢ realizar por ele o que the cabe. Isso no extirpa o.cardter de meu do meu existir. O ser-cada-vez-meu 6 0 que est em jogo a cada vez.no Dasein. Ser pode ser meu ou niio ser meu a cada vez. E isso que exprimem os existencidrios proprieds melhor ser préprio ou pior ser impréprio, Sao modos p cada vez e somente isso, Proprio significa “meu”. Improprio, “no meu” (Heidegger, 1927/2012). Disporho de minha existéncia como minha exis- téncia? Ou assumo-a como algo simplesmente dado? Ou dela abdico? Como é-se préprio ou impréprio a cada vez, ganhar-se e perder-se é mo- vimento. Estar em jogo a cada vez.o ser que é inexoravelmente meu é ou- ‘tro modo de dizer que ser é tarefa; Heidegger indica a ‘esséncia’ da exis- éncii “ter-de-ser” cia” nfo precede nem sucede a exis- téncia, explica; ‘er-de-ser é respondido sendo, existindo. 20 Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista a Como nfo ha esséncia ou natureza humana que defina de ante- mio 0 que é a existéncia, resulta dai que todos os modos de existir so modos possiveis de ser. [.-] 0 Dasein é cada vez. meu neste ou nequele modo-de-ser. O modo como o Dasein é cada vez meu jé foi sempre decidido de alguma ma- neira. O ente, em cujo ser esti em jogo esse ser ele mesmo, se com- porta em relapfo a seu ser como em relagao a sua possibilidade mais- propria. (Heidegger, 1927/2012, p. 141, §9) Mas 0 que significa possibilidade aqui? Signifiea 0 poder esco- Iher 0 que se quet set, projetar um futuro para si mesmo? E, por exemplo, dispor da possibilidade de continuar escrevendo esta obra ou parar e fazer outra coi fica o mesmo que dizer que uma semente tem a possibilidade de tornar-se uma érvore? Ser-possibilidade 6 um dos aspectos que mais cativam os alunos de graduagio em Psicologia e motiva-og a buscarem os estégios em psi- cologia fenomenolégica no quinto ano. E detes que frequentemente ougo, nas supervisdes de psicoterapia fenomenolégica existencial, que o pacien- te atendido esté sofrendo porque ele escolhe isso para si mesmo. Como todos os modos de ser so possibilidades do Dasein, dizem eles, significa que o paciente dispde elege esta (0 softiment dade, neste caso, signific -arbitrio, Serd isso 0 ser-pos: sta pesquisa —“O que pode um =, como fica? Pergunta ela pelos caminhos que um psicdlogo pode eleger a partir de sua livre escolha e iniciativa? Fala de um comportamento do qual dispde constantemente, podendo dele Jangar méo quando quiser ou precisar? Sera isso possibilidade? No § 9 Heidegger nfo se detém nessa discussio, afirmando apenas que “O Dasein é, cada vez, sua possibilidade.e ele nao a ‘tem’ somente como propriedade de um subsistente” (Heidegger, 1927/2012, p. 141, § 9). Toma-se necessaria a aproximagao do existencidio ser-em-o-mundo, em cuja anilise aparece a questo do ser-possivel do Dasein. Ser triplice abertura ‘A primeira abordagem & existéncia sob o encurtamento herme- néutico encontra-a como ser-em-o-mundo. A experiéncia cotidiana de Psicologia Fenomenolégica Existencial a1 de nfo cisfo entre ‘sujei tre eu € © que encontro ‘a0 meu redor. A Histéria da Metafisica & também a histéria 20 postular @ natureza radicalmente diferente entre o pensamento (sujeito) e a reali- dade (objeto), tomando necesséria a nogio de “representagéo” do mundo exterior no interior do sujeito e a perpetuaco do enigma da relagdio entre corpo (objeto) e mente (sujeito). Suspendendo a tradigo é possivel mos- ttar a experiéncia original da ‘relagao” homem-mundo assim interpretada ‘metafisicamente e resgatar a esséncia do homem (Haar, 1997). ‘Ser-em-o-mundo é analisado em Ser e tempo sob enfoques dife- rentes, a cada vez buscando uma visio mais clara desse fendmeno. Hei- degger comega analisando o sentido de em, em seguida, mundo, e, por fim, ser-em como condigao do estar aberto mundo, Si0 vias de acesso diferentes ao mesmo fenémeno unitério: ser-no-mundo. Mas como neste momento é 0 sentido de ‘possibilidade’ que interessa, comego pelo ser- em, a partir dele, retomo os demais. Ser-no-mundo é ser abertura para os outros, para as coisas ¢ pa- ra si mesmo. Como existenciério, ser-abertura nfo é modulavel em maior ou menor abertura. Significa literalmente ser um espaco, um lugar, um af ‘em que coisas ¢ outros podem aparecer. A imagem usada por Heidegger de uma clareira, como em matas fechadas; em meio ao escuro, ha uma abertura clara onde é possivel enxergar. “O termo ai significa essa essen- cial abertura. Por meio dela esse ente (o Dasein) é para ele mesmo uunido com o ser-‘ai’ de mundo” (Heidegger, 1927/2012, p. 381, § 28). ‘So trés os modos concomitantes de ser-aberto: encontrar-se” (Befin- dlichkeit), entender” (Verstehen) € discurso (Rede). So coorigindrios, isto 6, nfo ha hierarquia entre eles ¢ se atualizam concomitantemente. Encontrar-se (Befindlichkeit) Encontrar-se traduz 0 termo alemio Befindlichkeit. Finden thar. E_usado em expressées como “ele est (encontra-se) est (encontra-se) recuperando-se da cirurgia”. Em ale- mio também é usado para perguntar “Como vocé esta se sentindo?” (Wie befinden sie sich?) ¥ um termo que indica como alguém esté se sentindo 2 Mircia de 8a Covalcantetraduz por dlsposicdo. % Mircia de $4 Cevaleante tradu2 por compreensao, 2 _Paulo Bévardo Rodrigues Alves Evangelista ‘ um lugar onde esta (Inwood, 2002). Ao pé da I smo significa “o fato de alguém se enconti (Casanova, 2006). - Medard Boss traduz. para o inglés por attunement, que significa afinagéo e sugere a afinagao de um instrumento, uma vibrago, um tom (Boss, 10s). Os entes que sparecem ria abetur de mundo que cada psicologia, herdeira da metafisica da subj “internos’ ao sujeito, 0 que p. 391, § 29). A andlise fenomenol6gica revela que a existénci pre a cada vez jé aberta ao mundo, nele Iangada; os hum: de animo) sio 0s modos énticos em que o encontrar tece. Tal encontrar-se jé a cada vez. junto aos outros e aos entes do interior do mundo revela o cariter de dejecgdo”, isto é; de j4 estar em meio a situagdes desveladas sob um ‘clima’. Em toda situag4o vivenciada a existéncia esté humorada, Mes- de estado de énimo, caso, revelam o fardo do exist. Estados de animo exaltados livram temporariamente a exi cia do fardo, o que, para er, novamente afirma-o como ci idade da entrega a rest Heidegger, 1927/2012, p. 387, §29), isto &, revela ao existir sua condigao de ter-que-ser. A Psicologia moderna com o controle dos mesmos pela razio (0 que, na significa outro estado-de-Animo que revela 0 mundo sob uma uniformi- dade), seja cultivando o livre fluir ¢ transformar deles. Em todo caso, 08 cam de repente, vém “a tona a partir do ser-no-mmundo” (Heidegger, 1927/ 2012, p. 391, § 29) No cotidiano, os estados-de-dnimo modulam'o desvelamento dos entes encontrados. Isto é, a existéncia descobre-se aberta a mundo 1” Marcia de Sa Cavaleante traduz por estar-langadio ibilita 0 aparecimento de entes ameagadores, Nao menta Heidegger en passant, que as paixdes tenham sido prim tematizadas na historia por Aristételes quando discutia a retérica. O ora~ dor discursa para despertar estados-de-Animo no ouvinte, modulando modo como mundo the aparece. Como a existéncia é compartilhada, a convivéncia piblica também tem seus estados-de-Animo. encontrar-se como abertura originéria ‘afetiva’ da que fazem a ponte entre a para a Psicologia. Fenomenologicamente, os Po rales erence cares cana e Canes ecorrem a este existenciério para mostrar que a apoiada na dimensio consciente ¢ racional da existéncia, passa ao largo de como a existéncia acontece. Eles exigem que se considere, a fim de compreender a experiéncia do outro, como esse alguém se encontra, sti, Entender (Verstehen) Todo encontrar-se é também entendimento. Entendimento é uum existencidrio. Como tal, & diferente dos variados entendimentos 6nticos, 0s conhecimentos, que so derivados do entendimento de ser de existencial (6n- tica), aoa de a cada vez ser. “O Dasein é cada vez 0 que ele pode ser ¢ como ele é a sua possibilidade” (Heidegger, 1927/2012, p. 409, § 31). B, portanto, o que fago © ide na qual o existir acontece como minha, a partir da finiti- zagio da existéncia, ou ser impropriamente, isto 6, como ‘a gente’ é. que fago & 0 que esta aberto como possibilidade existencial (Bnti |, possibilidade no significa infinitas opeGes. Pelo contririo, possivel 0 que posso em cada situagao atual, o Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista Ser-possivel também ndo significa que primeiro existo para em algo que ainda nao é real e nao é necessério. Ser-possivel cada vez o Dasein é tal como é e que nfo ha nenhum modo de ser que extinpe seu caréter de possivel. Ser-possf i é possivel ser nos mundos que habita. B itula um artigo sobre 0 conceito de pos- todos caraterizdos da ocupaglo™ do ‘mundo’, da preocupagéo-com os outros e, em tudo isso e ja sempre, o poder-ser em relagio a si mesmo, em vista de si (Heidegger, 1927/2012, p. 409, § 31). Entender nfo € uma ¥ um modo de lida, um comportamento. Neste sentido, ser-possivel é ser um entendimento (Versthen) encontrado (Befindlichkeit), j4 imerso e1 ‘mente mais ou menos entendida; cada um Esse saber ontolégico ¢ que aquela situagdes coneretas. D: de ser figura como primeira ‘definigo’ da esséncia do homem. & ser uma abertura na qual ser pode dar-se, aparecer. Ser-possivel E encontrar os entes no af que é o existir. ‘Mundo é 0 termo usado por Heidegger para se referir a tudo aquilo que ser-ai encontra cotidianamente, que o rodeia. E ‘mundo’ sem parecer estar cindindo-o do ser que ele e ne em-o-mundo. E ‘mundo’ que aparece ‘ai’. O termo ser-em-o-mundo é ‘grafado com hifens para mostrar a unidade de ser e mundo. fos nos quais 0 existir se dé. J4 no co- -0 Heidegger definira claramente: ““Mun- Psicologia Fenomenolégica Existencial leidegger, 1920/2010, p. abrir a porta emprego a maganeta” (Heidegger, 1927/2012, p. 209, § 15). Ao entrar numa sala de aula, deparo-me com e entendo imediatamente © mundo da aula — , alunos ete. ~ como um todo para >. Nele ja descobri possibilidades de ser (ser-professor), assim como ja entendi quem sio 0s outros (ahinos) e as coisas. Cada ente en- tendido aparece como algo para algo. Heidegger chama esse cariter de entender algo como algo de interpretapio (4uslegung). Todo entender é interpretativo; “Todo si izavel ja é em si ‘mesmo entendedor-interpretante” (Heidegger, 1927/2012, p. 423, § 32). A interpretagao funda a possibilidade de enunciar algo a respeito de algo. Por condigo, a existéncia é hermenéutica. Os gregos se referiam a tudo com o que se lida como pragmata ¢ Heidegzer retoma esse entendimento para mostrar que, antes de apare- “objetos? zea lade, aptidao a contribuir, empregabilidade, iade so exemplos de ser-para dos instrumentos, que sempre aparecem remetidos a outros instrumentos numa conjuntagaé (Bewandenis)” (Heidegger, 1927/2012, p. 249, § tos estdo referidos a uma serve 2 mio de prego, martelo, madeira, telhado, que aparecem ai como instrumentos para protego. O barulho que entra pela Janela enquanto escrevo ¢ algo para atrapalhar, & luz da conjuntagéo do ‘escrever esta tese. O vidro aparece como (€) algo para silenciar ¢ afastar o incémodo. sse descobrr enfes em seu para qué é chamado de projto, ” niio significa um plano idealizado. ji aria disponivel como ter de projeto do ‘entender’ resguarda 0 projeto como 96 Paulo Fduardo Rodrigues Alves Evangelista Aquilo-em-que (Worn) 0 Dasein previamente se entende no modus do remeter-se & aquilo-em-relagdo-2-que do prévio fazet 0 ente vir-de- encontro. Oem-qué do entender que se-remete como aguilo-en-relacto- aque do fazer o ente vir-de-encontro no modo-de-ser da conjuntagao é0 fenimeno do mundo”. (Heidegger, 1927/2012, p. 259, § 18) Mundo é o abrir do'espago-de-jogo em que Dasein projeta suas possibilidades. A existéncia encontra-se familiarizada no mundo, ou seja, entende 0 que as coisas, os outros e si mesmo so 4 luz dessa significdn- cia. Entender revela-se, assim, um modo de ser no sentido de descobrir ‘uma possibilidade jonalmente “em” significa “dentro de”, de modo que ser- ificaria ser-dentro-de-mundo. Mas ‘mundo’ € nexo significativo e ‘em’ (alemdo: in) Em alemfo, in, em, provém de innan = ‘em; ‘an’ significa estou acostumado, £0, tendo a significado de colo, no ‘in (eu sou) significa, por sua vez, coms o file dead ot dagoclo moto. Glldoggen 19272012, p. 173, § 12) Ser-no-mundo ¢ estar familiarizado e tranquilizado com a signi- ficdincia descoberta. E ent que so as coisas, os outros ¢ si mesmo; é habitar um mundo comumr®, piblico, de possibilidades e significados compartilhados. Os significados, os usos, 0s modos de lida sto legados pela tra- 6, hi modos comuns histéricos de deixar serem 03 modo como se dé aulas, como se sempre tivesse sido assim. Realizo ses- ses psicoterapéuticas de 50 minutos porque é esse 0 tempo que elas du- % “Em caminhos, ruas, pontes, edificios, 2 natureza ¢ des Psicologia Fenomenolégica Existencial eo ram. B mesmo? Por qué? C foi definido? Por que nao 90 minu- tos? Uso martelo para prega isso que se usa, Dasein nfo inventa a roda cada vez. Pelo contriio, encontra no mundo féctico o para qué da juntapo na qual ela aparece. A tradigéo legada determi- nna as possibilidades atuais. Trazendo para o contexto da pritica psi mundo compartithado cor chamado de psicolégico. psicélogo. Frequentement assou por médicos, padres Psicolégico como algo compreensao cotidiana i serve para algo. Mas como Dasein é ser-possivel, a tradigio é seu campo de jo- ‘g0. Pode perpetud-la ou repeti-ta, no sentido de convocé-la para confron- tamento, inaugurando novas possibilidades. Nao seré esse um sentido desta pesquisa: colocar em questio o para qué da Psicologia e de ser psi- célogo, que assumi irrefletidamente como dados? ‘Mundo fornece respostas possiveis e encobridoras ao enigma inexorével: quem sou eu? Quem somos nés? Sou psicdlogo. Somos seres criados & imagem e semelhanga de Deus. Isso significa: ser psicdlogo, ser criatura sio modos possfveis de ser. So, portanto, modos com a existén- cia acontece (possibilidades). Sao, também, modos de responder a per- gunta pelo ser da propria existéncia. E so também modos de responder que langam mio de uma determinagdo, pois posso dizer: “sou professor”, “sou psicdlogo”. Esse ‘ser’ determina o ser deste ser-ai que sou? Heide. , esta aparece no do softimento » ©, desta vez, langa mio do atendimento idar com a situagio atual. Assim, a auto- ppreta 0 fazer do psicdlogo como algo que Possibilidade como existéncifrio indica 0 caréter de indetermi- nagio ontol6gica do Dasein; sua tinica determinagao é -de-ser, ou ter-que-ser, que nao é determinagio es ser indeterminado, Dasein € tal como é possivel ser nos mundos ficticos que habita. A radical indeterminacdo, que langa ser-ai em busca de modos de ser tendo que se criar, é limitada pela facticidade. Dejecto, projeta-se a partir das possibilidades ja dadas no mundo comum. Por isso, Stein cha- ma o ser-ai de “impotente demiurgo”: quididativa. Por 98 Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista O estar melhanga, Mas 0 se * & 9 Demiurgo de si mesmo, ele se faz & sua imagem ¢ se- imagem e semelhanga é 20 mesmo orque fndamentalmente meu ser € po: poder-ser constitutive de ser-ai acontece cot mento do ser das coisas, dos outros ¢ de si substantivo, pois é 0 modo como a existéncia realiza-se a cada vez. A afirmagio de Heidegger de que as coisas sao descobertas primeiramente no uso e s6 depois podem ser objetos de teorizagio ja € tum golpe frontal na filosofia ocidental, que desde Platio atribui ao co- mhecimento a descoberta das coisas. Senter numa cadeira é entendé-la como ago para descansat Enunciar 0 que ¢ uma cadre it jf ocorrida. Assim, “o comportamento pyre ido io” (Heidegser, 1927/2012, 10 entre teoria e pritica 15). Nao ha neste contexto uma o} ; a e pri io ou pratica € um entendimento. A teoria é a explicitagio, a ‘enunciago de um entendimento ja dado como modo de ser. Com base nisto, faz sentido colocar em questo © modo como ‘mento preso a tradigo metafisica que privilegia o conhecimento ‘te co"? Nio estar, portanto, cego condigo do Dasein de encontrar-se, ‘entender ¢ ser discurso cooriginariamente? Figueiredo (1995) segue nessa linha, apoiando-se nas nogdes de Michael Polanyi de conhecimento ticito — pessoal, experiencial, o know-how, incorporado — e conhecimento ¢x- plicito - chamado de te6rico — para propor uma tens entre o teoria € prética no ensino da Psicologia. A teoria deve ser questionada pela priti- a, que, por sua vez, é organizada por aquela. A ciénci do conhecimento explicito, é enuncis- 0 de possi je entendimento encontrado. Dizer “o martelo € pesado” é a articulagdo em fala do té-Io tentado levantar para 2 Tradugao de Stein para Dasein. 99. pregar um prego na parede, © Dasein do ponto de vista de ser-em & en- contrar-se, que cotidianamente acontece como tonalidade afetiva, enten- der, que acontece como ocupagio, e discurso. Discurso (Rede) conjuntagdo sustentada por uma pos ein. Interpre- tar € desenvolvimento do entendimento ja tido de algo como algo (Heidegger, 1927/2012, p. 421, § 32). Esse entendimento permanece encoberto na ocupagdo, mas indica o ter-prévio (Vorhabe) que sustenta toda interpretagdo. Junto zo ter prévio acontece a fixago de um ponto de vista sob 0 qual o ente aparece. E 0 ver-prévio (Vorsicht). Por exemplo, para pregar aparece 0 martelo como algo para... Posso também interpretar que 0 martelo é pesado, Isso parte do uso (ter prévio) para acessé-lo do ponto de vista do seu peso (ver-prévio). Do mesmo comportamento podc- ria surgir 0 enunciado “o martelo é de madeira” ou “o martelo é bonito”. Seriam ver-prévios distintos. Numa situago em que me sinta ameagado, (© martelo pode ser interpretado como algo para me defender ou para ar- Temessar no que me ameaga. A interpretagio também langa mio de uma conceituago ~ con- ccito-prévio (Vorgriff) - para realizar-se. A conceituagfio-prévia pode ser pertinente ao ente ou pode ser forgada, tentando submeté-lo. Nio € isso 0 Leito de Procusto da Psicologia, a forgagdo de uma coneeituagio cientifi- co-natural no ente que ¢ entendimento-de-ser? © que Heidegger acentua aqui ¢ que ndo existe intexpretagio desprovida de pressupostos (Heidegger, 1927/2012, p. 427, § ideia de que as criangas ¢ 0s artistas estio livres de pressupostos é impertinen- te, tanto quanto a de uma experiéncia desprovida de significado. Sio fiegBes que desconhecem a estrutura do entender. O apelo a evidéncia (“é claro que tenho um corpo orgénico!”, nides @ ao senso comum, isto é, aos modos de interpretagio corr ditados pelo senso comum (a-genie). O conhecimento cientifico nfo pode se fiar nisso, sob o risco de perder seu tema de investigagzo. Toda interpretagdo é 0 desdobramento de um entendimento este, por sua ver, é possibilidade de ocupagio. Heidegger reserva o termo sentido (Sinn) para se referir 20 projeto que sustenta que algo seja enten- dido como algo, tendo a estrunura do ter-prévio, ver-prévio e conccito- 100 __ Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista -prévio. Assim, sentido é nncirio do Dasein e no propriedade das coisas. Do ponto d i da ani ia € incorreto dizer que jos no-entendimento, E, por isso que quando Heidegger busca ear & questo pelo sentido do ser ele precisa questionar pelo ser do Dasein, que é entendimento de ser. O sentido de ser é possibilidade de Dasein. E o sentido que é asticulado na interpretagio. Assim, revela-se 0 carter hermenéutico do existir. Heidegger remete o termo ‘hermenéutica’ a Hermes; dizia-se na que poetas so os mensageiros dos deuses ~ hermeneutes ~ jos, dos poetas. Como hermeneutas, so os que informam o Aristételes usa o verbo hermenewen para indicar 0 senti- fazer com que o ente aparega. Aponta para o entender ido de algo. Dai a significar teoria da interpretago'no século XVII, Hermentutica significa: ‘interpretagiio’. existenciéria, hermenéutica nao é um ramo antes, a condigio humana de entender-ser. Cot ‘ocupagio, encontrando os pragmara, os entes No curso em que a analitica existenciéria se desenha mais cla- ela primeira vez, Heidegger usa a expresso “Hermenéutica da lade" para se referir a tarefa filosofica de descrever a existéncia. cia para o ser dotado de ser-af antes, referia-se a0 existir como, vida féctica (até 1921) ou facticidade. ica tanto a condi- , propria da existéncia, como o assumir a tal condipo. Nesse curso, hermenéutica é a tarefa de ‘ho de ser tarefa de exp! [.-] tomar acessivel o ser-af proprio em cada ocasido em seu cardter somo tarefa aclarar ido. Na hermenéuti- ca configura-se 20 mo uma po: der-see de ser essa compreenséo. (Heidegger, 1923/2012, p.21) No trato com os entes do interior do mundo, o entender inter- ppreta-os como algo para isto ou’ aquilo. Essas interpretagdes podem ser emunciadas, apresentar demais como algo aparece para mim, Isso é comunicagao, que, para Heidegger, ¢ derivada do jer. Comunicar € fazer-ver-juntamente. O filésofo retoma de Aristételes que logos é Psicologia Fenomenol jon Existoncial 1o1 apofiintico, isto é, faz ver, mostra aquilo sobre o que discorre. Dai vem a interpretagdo de fenomeno-logia coi Ver 0 que se mostra em si mesmo a partir de si mesmo. Assim, o encontrar-se e o entender so arti- culados com a fala e o discurso. A linguagem funda-se no discurso, sendo sua expressiio e possibilitando a comunicago. Comunicagio é a part coencontrar-se ¢ do coentender. Os estados- sa tempo, mas é na prelegio O Que é Metafisica que aparece com mais énfa- se. No cotidiano, a experiéncia de estar estranho da angistia, que oprime O mais correto seria dizer: “fei nada”, pois a angi nada” (Heidegger, 1929/2008, p. 122). Heidegger ext ‘A angiistia corta-nos a palavra. Pelo fato de o ente na totalidade se evadir , assim, justamente 0 nada nos acossar, emudece em sua pre- senga qualquer dicgdo do “é”. O fato de nés procurarmos muitas ve- 2es, na estranheza da angiistia, romper o siléncio vazio com palavras sem nexo é apenas o testemunho da presenea do nada. Que a angistia revela 0 nada é confirmado imediatamente pelo proprio homem quan- do a angiistia se afasta. Na posse da claridade do olhar, a lembranga recente nos leva a dizer: Diante de que e por que nés nos angustiiva- ‘mos ndo era “propriamente” ~ nada. Efetivamente: o nada mesmo ~ en quanto tal - estava ai, (Heidegger, 1929/2008, p. 122) rebstada por um o2go mascando chicletes no ponto de Gaibus (Lispector, 1960), ow como no encento d= G.H. com a bareta no quarto de empregada (Lispector, 1968), Psicologia Fenomenolégica Existencial uy de ser nem sua negag%o légica, como legado ‘Parménides. Ser e nada se copertencem. No constantemente a espreita que funda 0 vel. A respeito do nada, nada se pode dizer. Nao se pode dizer que ou aquilo. E, entretanto, ele é e pode irromper e manifestar-se como inquietante estranheza. Como seria possivelatribuir 4 existéncia qualquer determinagao de seu set? Como de ilo, se ‘modes de ser so modos de lidar com a nada que Dasein é no fndo de seu ser, E sobre o nada que os projetos existenciais se langam. Ai se encontra a afismago da liberdade ontolégica que tanto fascina os alunos! E por néo ter determi ilquer modo, isto é, langando-se em qualquer possibili- dade existencial, encobre-se ‘o’ nada que sustenta o poder projetar-se do ser-ai, Por isso, diz-se que o ser do Dasein é “ser-fundamento negativo de uma nuli leidegger, 1927/201 ese ¢ em momento algum descobre que, no fundo, 6 edo existenciéria & tarefa existencial e pode ser realizada propria ou impropriamente. A angiistia em Ser e tempo tem ainda outro sentido: ela suspen- de a significatividade cotidiana compartilhada, de modo que nada é pos- sivel ao ser: é, os usos cotidianos familiares nao se of is. Para Heidegger, a angiistia é a p da epoché. Enquanto em Husserl a suspensio fenomenolégica é metodi- camente construfda, em Heidegger ela depende de uma experiéneia que no est nas mios da existéncia. Angustiar-se nfo é algo que decide previamente. Acontece. E quando acontece, abrem-se dois cami- thos possiveis: deixar a angistia nadificar ou transformé-la em medo, sintoma, disfiungao. Para Heidegger, suspender a significatividade sedimentada nio depende apenas da boa vontade ou de certas atitudes treindveis, pois exige que a condiglo humana ja tenha aparecido e possa dar-se a ver (do modo ‘como € possivel ao nada mostrar-se: como experiéncia de angiistia). sim, hé um parentesco entre ser e neda (temas da ontologia) ¢ questo que anima a filosofia desde sua origem, diz .p. 133), 6 “Por que existe afinal o ente e nfo antes ara 0 qual filosofia e religido forecem respostas, logia heideggeriana visa resgatar como enigma ¢ pergunta, O ente, assim como as determinagées sobre como o ente surge, RB error ecco cee gmc pec ct Uc = eve Coe ceca 118. Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista da € ser a0 ividade, lan- ‘sou professor”, com isso, encobrir 0 nada que corroendo sua fragil identidade substancial. Em tudo que sou, posso nifo ser. Fm todo ser que sou, ‘ha’ nada. Em toda familia- tidade espreita a estranheza que pode, a qualquer momento wterminavel e que qualquer fami séria. Por mais que faga do mundo sua casa, nunca se torna como ele. Seu ser est sempre em jogo, diferentemente dos entes, cujo ser Ihes é indife- Tente. A exist esta entregue a responsabilidade de existir. Dasein & preocupagio, cuidado (Sorge).. Ser-Preocupagao (Sorge)** ‘Como, ent&o, determinar o ser da existéncia? O entrelaga de ser e nada impede qualquer determinagio substancial. Para a Psi tivagto (processo de trénsito, passage e diferenciago), a0 invés do sujeito. Mas, bastaria dizer que existir é fluxo, processo, vir-a-ser? Nao f a iinda que ser e vir- ‘nversin permanece Nietzsche, filésofo terpretado como 0 "mos? Para Heidegger e: wed de ser como substéncia. A: smo substancialista ocidental, ciéria Tibera uma nova, porém antiga, determinagao do ser do homem; antiga como na tragédia grega ou como em fabula de Higino. Mas nfo se retomna a essa determinagao por capricho, por Humanismo, nem se chega a ela por dedugtio, Ela dé-se a ver fenomenologicamente para a existéncia que, assumindo como tarefa explicitar-se, perde o conforto das interpreta- *” Mércia de Sé Cevalcante o traduz por ‘eur’ Psicologia Fenomenolégica Existencial r (Stein, 1990). se partisse de premissas e/ou hipéteses. Mas Heidegger é fenomendlogo ¢ busca o logos que corresponde ao fenémeno em questo, que, na analitica exis € 0 ente que ¢ abertura légica (linguistica) a0 que se mostra, O sado em Ser e tempo 6 0 ente que nés mes- ‘mos somos, para o qual a hermenéutica € condigS0. Esse ente & desde Aristételes o ‘animal racional’, Antes, era jung de corpo e alma, maté- i terpreta¢o que ¢ retomada pelo cristianismo ¢ que perma- ada por le dois lesembocando na Psico- a analitica existencidria retira a existén- cia do encobrimento das interpretag6es legadas pela tradig&o, revelando-a como preocupagao (Sorge), Dasein é preocupagio pois seu ser esté a cada momento em jo- g0. Ser, na existéncia, é poder-ser. Todas as possibilidades existenciais ‘em que ser-ai se langa so modos de responder & sua indeterminagio on- tolégica, tomando-se alguém ou algo a partir do que é possivel nos mun- dos histéricos ficticos que habita. Preocupagiio (Sorge) é o termo usado por Heidegger para indi- car o ser do Dasein. Em alemio é Sorge, que pode ser traduzido por cura ou cuidado e significa “a ansiedade, a preocupaea0 que nasce de apreen- ses que concemem ao futuro” (Inwood, 2002, p. 26), possuindo tanto 0 sentido de preocupar-se com algo (sich sorgen) quanto tomar conta, cui- dar de alguém ou algo (sorgen fir). Desse étimo derivam outros dois verbos importantes em Ser e tempo: besorgen (ocupar-se) ¢ Fiirsorge (preocupar-se). Besorgen significa obter ou prover algo para si ou para substantivado, “estar ansioso, preocupado, perturbado com 1wood, 2002, p. 26). Ocupagao (besorgen) indica a lida cotidiana com entes nfo Dasein. E preocupagio (Fiirsorge), o existenciirio ser- com-outros. Heidegger chama de xtases as dres0es temporais para deixar claro que nio slo delimi- tadas e definidss, como os concetos de psssado, presente e futuro dio a entcndcr, ¢ também para mostrar que a existéncia(ex-sistinia) esti sempre ‘for’, adiante, as. c., que no sao inventados a cada vez, ma: Pr “como a gente sempre fez”. E ser-do-decair indica 0 que ¢ como & encontrado na situagao atual. No caso, pregos, martelos, telhas etc. co- ‘mo entes que servem para 0 abrigar. A fim de zelar para que a descoberta fundamento, Heidegger busca na histéria -ontol6gio, isto é aleuma tematizagio da preocupagio realizada sem 0 objetivo de definir o s fra numa fébula transmitida por Higino uma “prova” , ‘upagio como esséncia da existéncia. -preocupagao tenba é ia da humanidade que esse modo de entender a existéncia foi possivel. A fabula é anterior ao advento da cién- cia ¢ da metafisica, 0 que a protege das hipostasias que as caracterizam. Heidegger cita-a do latim e a traduz na exata metade de Ser e tempo. Isso leva Stein (1990) a defender que a fabula da preocupagdo coroa sua constru- fo de uma antropologia dogmitica findada no encurtamento hermenéuti- Co, inaugurando uma ontologia geral. Trata-se de um “ponto de niio retomo, « partir do qual se passaria nao apenas a ter que redefinir, mas subverter as pretenses de qualquer ontologia ou epistemologia futuras” (p. 81). A esséncia da existéncia como ser-preocupagdo prepara um no- vo paradigma filoséfico, um novo modo de compreensio da realidade. Por isso, nao pode ser simplesmente absorvido por um paradigma dife- ente, como as ias que se intitulam fenomenoiégicas parecem fazer. A ontologia heideggeriana é uma nova ontologia. Cito a tradugo de Castilho para a fabula: ‘Um dia em que a ‘Preocupagao’ atravessa um rio, vé um lodo argilo- 80: pensativa, pega um tanto ¢ comega a moké-lo. Enquanto reflete sobre o que fizera, ipiter intervém. ‘Preocupacio’ The pede que em- preste espitito ao modelo, no que Jupiter consente de bom grado. Mas, quando ‘Preocupagdo" quis impor-ihe seu préprio nome, Jupiter a prof- que seu nome The deveria ser dado. Enquanto ‘Preocups- iscutiam sobre o nome, a Terra (Tellus) surge também nome fosse dado a quem ela dera seu corpo. Os quere~ Fra, porque o presentcaste com 0 corpo, deves receber ‘© corpo. Mas, porque ‘Preocupaeo' foi quem primeito 0 formou, que ela entio o possua enquanto cle viver. Mas, porque persiste a contro- vérsia sobre o nome, ele pode se chamar homo, pois ¢ feito de humus (terra). (Heidegger, 1927/2012, p. 551-3, § 42) Enredada na tradigio metafisica, uma ripida interpretagdo da fébula reconhece ai mais uma mitologia sobre o homem como constructo corporal-espiritual, bio-psico. Mas a fenomenologia exige a suspensio dessa interpretagao platOnica-crist®. Sua hermenéut do modo de acesso mais correspondente, que, para Stein (1990), significa reconhecer a especificidade dessa fibula. Seguindo a indicagio de um estudioso de fabulas (Blumenberg), Stein explica que é necessério para compreende-la considerar por que Preocupagao atravessa o rio. A fibula inicia com ela 0 atravessando. Ao atravessar 0 rio, tem sua imagem espe- Ihada na agua e projetada no barro do fundo, o que Ihe serve de molde para a criatura. Faz 0 homo & sua imagem e semelhanga. Mas, diferente- mente da beleza do deus judaico-cristio, a imagem de Preocupagio pode no ser encantadora; até 0 contrério, pode ser disforme, atormentada e, por isso, sugere Stein, nao apareceria na narrativa. E essa a justificativa Para que Satumo, o deus-Tempo, the confira a propriedade enquanto vive, Assim como Preocupagio vé-se ao olhar para o rio, Dasein ‘vé-se”, isto 6, sabe quem é, a quantas anda, experimenta seu fundamento nulo ¢ dcle foge, pois se reconhece disforme e atormentado, a quem ser é tarefa que 86 se conclui quando ja no é mais. Encobrindo sua condigao de ter -que-ser Iangado Sua estranheza origindria) entranha-se na cotidi abre sua estranheza e solapa as ilusérias identidades mundanas. Mesmo sendo demiurgo de si mesmo, enquanto existe, esté sob o jugo do tempo. E Saturo quem decide quanto 4 vigéncia de Preocupaciio. Por isso, Stein (1990) diz que Dasein é 0 de~ miurgo eunuco de si mesmo; ao mesmo tempo que, indeterminado (isto é, determinado por Preocupagio, que nfo Ihe foece quididade), tem que se criar, seu criar-se limitado pelas possibilidades existenciais (historicas) endo dispée do fim de sua obra. Tempo determina o existir. A fibula de Preocupagao prepara a re-petigdo da analise do ser- -em-o-mundo & luz da temporalidade peculiar ao Dasein, fundamento das interpretagées de ser ao longo da histdria ocidental, isto é, das ontologias. Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista a questo que seu cotidiana. A ciariedade (set-adiante-de- =, ‘pasae’) © ser dec A existéncia nfo é uma corre: sada por quebras e rupturas. Sendo temporal, a existéncia essencialment Em alemio hé duas palavras para ‘historia’: Geschichte ¢ Histo- rie, O primeiro € 0 mais comum, enquanto 0 segundo ¢ usado para se referit& histéria como objeto de ciéncia, a historiografia. A palavra Ges- chichte vem de geschechen ~ acontecer, gestar — indicando o cardter ental da histéria. Nao 6 um continuum, como levam a crer as t6ricas, que encontram nexos e causal A histéria € atravessada por int historiogréfica. O mesmo ocorre com a historia pessoal. E um emaranha- do de fatos, eventos, acontecimentos reunidos por um sentido ae dena, que marca a importéncia de alguns ¢ a © que trai o sentido da anélise heideggeriana, Mas Psicologia nao é sofia. E uma cigneia Ontica, Seré possivel efetuar a passagem da onto- Tog par una sil! Otis? ‘Na diregao de responder essas pergunt publicagdo de Ser e tempo nas ciéncias Vv Desdobramentos da Ontologia Heideggeriana na Psicologia A questo que se desdobra desta retomada da ontologia heide- ggeriana é: 0 que isso tem a ver com ser psicélogo? tigdo do ser da existéncia por Heidegger a ides para ser psicé- Jogo? O que pode um psicdlogo fundamentado na ontologia heideggcriana? Considerando minha histéria e as tradig6es que compartilhei e compartilho, devo também perguntar como esta comprecnsio de exi cia do outro e propria se faz e fez presente na minha trajetéria como psi- célogo. Essa pergunta é pertinente, pois enquanto eu estudava a ontologia de Heidegger eu realizava atendimentos psicol6gicos... mais precisamen- te, psicoterapéuticos. Como € estar diante do outro como psicdlogo ‘como existéncia deixando-o livre para também ser existéncia? Recebi muitos pacientes no consultério que nfo voltaram para Juma segunda ou terceira sessio. Nao foram atendimentos psicol6gicos? Realizei atendimentos em grupo, dei e dou aulas, supervisiono atendi- icoterapéuticos, realizo e supervisiono atendimentos de plantio si Em tudo isso acredito estar sendo um psicélogo fenomeno- Tosieo existencial fundamentado na ontologia heideggeriana. Entio, como assim com outros? Aprendi desde o inicio de minha formagdo que a fenomenologia, existencial faz-se psicoterapia, mais especificamente, Daseinsanalyse, E foi assim que, do ponto de vista histérico, o pensamento de Heidegger chegou 4 pritica psicol6gica, primeiramente nos estudos do psiquiatra Binswanger, depois com Medard Boss. Ambos compartitham uma hist6ria profissional ‘comum: sto médicos psiquiatras, profiindos conhecedores da psicanilise freudiana, que em suas obras figura como principal interlocutora.

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