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Langamento de candidatura Pouca lderancas da América Latina foram tao controversas quanto Juan Domingo Perén (1895-1975). Golpsta e admirador de Mussolini na sua juventude, saudou, mais tard, a viteria da Revolucdo Cubana © do exlio onde se encontrava, na Republicana Dominicana (dlitadura fe Tullo) ¢ da Espanha de Franco, conclamou lita revolucionéia Por uma Argentina Socialist, Seus dicipulese coreigionaios, muito dlferentes entre si, inspiraram-se em suas palavras para formular propostes corporativstas,socalistas,liberas ou reformistas. A ua Politica internacional era uma amoigua tercera posicao, antes de ter sido criada a denominagéo Tercelro Mundo, resumida por seus {edeptos como nem langues, nem maraistas,Suas ieias podem ser vistas como um misto de keynesianismo, ocialdemocracia € corporativismo, Inegavel, porém é que a sua politica encarnou 08 anseios eas demandas da classe trabalhadora argentina, e que a sua pratica fol mais importante do que as suas ideas. De fato, 0 peronismo ¢ mais uma prética police, pragmsticaeligada '& construgio do Estado, Mas ele também tem um forte componente plebeu e antetista, que, no inicio, foi encamad por Marta Eva Duarte de Perén, a Evita, e que ainda hoje se manifesta na cultura politica do pas. No texto a seguir podemos vera capacidade de Peron Para unficr o sentimento nacionalstaeclasssta, eas referéncias que pautariam o seu primero governo. (NF @ MB.) Chego a vossa presenca com a emogdo de me sentir parte deste mar humano de consciéncias honradas; destas consciéncias de criollos auténticos que ndo se dobram frente as adversidades e que preferem morrer de fome a ter de comer 0 amargo pio da traigio. ‘Chego a vés para dizer-vos que nio estais s6s em vossos anseios pela redengio social, senio que os mesmos ideais sio apoiados por nossos irmios em toda a vastido de nossa terra gaticha. Venho comovido pelo senti- mento undnime, manifestado através de campos, montes, ris, pantanais e montanhas; venho comovido pelo eco ressoante de uma tinica vontade coletiva: a de que © povo seja realmente livre para que, de uma vez por todas, fique livre da escravidio econémica que o angustia. E ainda diria mais: que 0 angustia como antes © oprimiu ¢ que se nio conseguir se tornar independente agora, ainda o humilharia mais no porvir. E 0 opri- ‘iria até deixar a classe operéria sem forgas para alcangar a redengio social que vamos conquistar antes de quinze dias Na mente daqueles que conceberam ¢ gestaram a Revolugio de 4 de Junho estava fixa a ideia da redencio social de nossa patria, Este movimento inicial nfo foi uma militarada' a mais, nio foi uma quartelada a mais, como alguns gostam de repetir; foi uma fafsca, que o 17 de Outubro utilizou para incendiar a fogueira na qual ho de queimar, até screm consumidos, os restos do feudalismo que ainda sobrevivem na terra ameri~ cana. Porque viemos terminar com uma moral social que permitia que os trabalhadores tivessem para comer s0- mente 0 que thes era dado pela vontade patronal. nio pelo dever imposto pela justica distributiva, acusam ‘nosso movimento de ser inimigo da liberdade. Contudo, eu apelo 4 vossa consciéncia, 3 consciéncia dos ho- ‘mens livres de nossa patria e do mundo inteiro, para que me respondam honestamente se opor-se a que os homens sejam explorados e envilecidos obedece a uma causa liberticida. ‘Nao devemos contemplar tio-somente o que se passa no “centro” de Buenos Aires; no devemos considerar a realidade social do pais como um simples prolongamento das ruas centrais bem asfaltadas, iluminadas ¢ ci- vilizadas; devemos considerar a vida triste e sem esperancas de nostos irmios do interior, em cujos olhos pude perceber a centelha desta esperanca de redengio. "Tso & ma conspragio militar de caster politico (N. do‘), Por eles, por nés, por todos juntos, por nossos filhos ¢ os filhos de nossos filhos, devemos fazer com que — enfim! — triunfem os grandes ideais da auténtica liberdade que sonharam os forjadores de nossa indepen- déncia, e que nés sentimos palpitar na profundeza de nosso cora¢io. Ll Quero deixar de lado os provocadores mercenitios; as desorientadas mogas que, em nome da liberdade, quiseram impor 0 uso do simbolo monetério no peito das damas argentinas, 0 que foi rechagado por clas no exercicio da propria liberdade; os poucos estudantes que acreditaram ‘“descer” de sua posicio social sem se solidarizar com o clamor dos homens trabalhadores, sem refletir que unicamente seu “trabalho” seré.0 que no futuro chegara a enobrecer sua passagem pela vida; quero também deixar de lado os ressentides que, imagi- nando serem excepcionais, acreditavam que 0 favor e a amizade pessoal podiam mais que o esforgo, lento constante, de cada dia e o espfrito do sacrificio ante os embates da adversidade; quero deixar de lado 0 pessi~ mista, ointeresseiro, o mesquinho, para me dirigir aos homens de boa-vontade que ainda no compreenderam a esséncia da revolugio social, cujas serenas piginas estio sendo escritas no Livro da Histéria da Argentina Ihes dizer: “Irmios: com o pensamento crollo, o sentimento criallo€ © valor criollo estamos abrindo 0 sulco € plantando a semente de uma pitria livre, que no admite regatear sua soberania, e de cidadios livres — que ‘io somente o sejam politicamente, como tampouco vivam escravizados pelo pateio. Sigam-nos; sua causa & nossa causa; nosso objetivo se confunde com sua propria aspiragio, pois somente queremos que nossa patria seja socialmente justa ¢ politicamente soberana"” Para alcancar esta altissima finalidade no nos valemos nem nos valeremos jamais de outros meios que no aqueles que nos outorgam a Constituigio (para a restauragio de cujo império empenhei minha palavra, minha vontade ¢ minha vida) e as leis socialmente justas que possuimos ou que os drgios legislativos naturais nos outorguem no futuro, Para alcangar esta altissima finalidade, nio necessitamos recorrer 3s teorias ou métodos estrangeiros; nem aos que fracassaram, nem aos que hoje pretendem se impor, pois como disse em outra opor~ tunidade, para conseguir que a Argentina seja politicamente livre e socialmente justa, no basta sermos argen tinos ¢ nada mais que argentinos. Bastaré que, dentro do quadro histérico ¢ constitucional, o mecanismo das leis seja empregado como um meio de progredir, mas de progredirmos todos, pobres e ricos, em vez de pro- gredirem somente estes titimos, as custas do trabalhador. No escasso tempo em que intervim diretamente nas relagdes entre capital e trabalho, tive a oportunidade de expressar 0 pensamento que regeria minha ago, Foram assinalados os objetivos a conseguir e expostas com clareza as finalidades que nos propiinhamos. Neste plano de tarefas ¢ nas motivages que as justificam, foi reconhecido o clamor da classe opersria, da classe média ¢ dos patrdes que no tém contraido compromissos com o exterior. E ainda acrescentarei que estes nZo tiveram inconvenientes cm nos acompanhar enquanto acreditaram que nossa dignidade podia ser corrompida, que poderiamos trocar a causa operitia por um cheque com menor ou maior niimero de zeros, tanto mais quanto maior fosse nossa deslealdade. Contudo, equivoca~ ram-se por completo, porque nem eu nem nenhum dos meus leais correligionirios deixamos de cumpric os ditados da decéncia, da hombridade e do cavalheirismo. Ligada nossa vida i causa do povo, com 0 povo com- partilharemos 0 triunfo ov a derrota. (1 Tachar de totalitirios os operarios argentinos é algo que sai do absurdo para cair no grotesco. Precisamente, as organizagbes operirias que me apoiam tém sido as que durante os jiltimos anos batalharam cm defesa dos povos oprimidos contra os regimes opressores, ainda que fossem (assim como em todas as partes do mundo, sem excluir os paises que fizeram a guerra, salvo a Riissia) a aristocracia, a plutocracia, a alta burgucsia, 0 ca pitalismo, enfim, e seus séquitos, quem adorava as ditaduras ¢ repelia as democracias, Assumiam esta conduta ‘quando pensavam que as ditaduras defendiam seus interesses e as democracias os prejudicavam, por nio serem lum muro suficiente de contengio frente aos avangos do comunismo. Se minhas palavras requeressem uma prova, poderia oferecé-la, bem convincente, nas coleges dos disrios da oligarquia que agora estremece dian- te de qualquer suposto atentado as esséncias democriticas e liberais, mas que tiveram uma atitude muito dis- tinta quando o problema se apresentava em outros povos. E se a prova nio fosse, todavia, categérica, remeteria © caso a0 exame da atuacio dos partidos politicos que governaram nos iiltimos tempos, ¢ cujos lideres, atuan~ do de vestais, um tanto caducas e muito recompostas, querem agora compatibilizar seus alaridos democriticos, puramente ret6ricos, com a realidade de suas tradicionais fraudes eleitorais, de suas constantes intervengSes nos governos das provincias, com o abuso do poder em favor dos oligarcas e contra os deserdades. ‘Onde esté, pois, o verdadeiro sentimento democratico e de amor is liberdades se nio neste mesmo povo que ime incita 3 luta? Nao deixa de ser significative que os grupos oligirquicos disfargados de democratas unam seus alatidos e suas condutas a esses mesmos comunistas que antes foram (pelo terror que Ihes inspiravam) a causa de seus fervores totalitérios e a quem agora dedicam os melhores de seus sorrisos. Como é igualmente ‘um espeticulo curioso observar o aff com que esses dirigentes comunistas proclamam sua f democritica, esquecendo que a doutrina marxista da ditadura do proletariado e a pritica da Unio Soviética (orgulhosa~ ‘mente exaltada por Molotov em discursos feitos ha poucos meses) sio eminentemente totalitirias. Entretanto, © que vamos fazer? Os comunistas argentinos sio fracos de meméria e nio recordam tampouco que, quando governaram os partidos que se intitulam democratas, cles tiveram de viver na clandestinidade e que somente sairam dela para alcancar personalidade juridica quando foi-Ihes permitido por um governo, do qual eu fazia parte, apesar da incompatibilidade com os métodos da liberdade que me atribuem. ‘A cumplicidade a que chegaram é, sinceramente, repugnante e representa a maior traigio que foi possivel ‘cometer contra as massas proletirias. Os partidos comunistas e socialistas que, hipocritamente, se apresentam ‘como obreitistas — mas que estdo servindo aos interesses capitalistas — no tém inconvenientes em fazer a propaganda eleitoral com o dinheiro entregue pela entidade patronal. E, todavia, se surpreendem de que os ‘rabalhadores das provincias do norte, que vivem uma existéneia miserivel e escravizada, em beneficio de um capitalismo ganancioso, que conta com o apoio dos partidos, que sio frequentemente dirigidos por estes mes ‘mos patrdes (lembro, por exemplo, Patron Costas ¢ Michel Torino), tenham apedrejado trem no qual viaja~ va um conglomerado de homens que, no fundo, querem é prolongar aquelas situages! Usando de uma palavra ‘que eles gostam muito, poderiamos dizer que sio 0s verdadeiros representantes do continuismo; mas do con tinuismo com a politica de escravidio miséria dos trabalhadores. Até aqui me referi 4 vossa posicio notadamente democritica. Permitam-me aludir, ainda que seja breve- mente, i minha, Nao me importam as palavras dos adversirios e muito menos seus insultos. Basta-me a retidio do meu proceder ¢ a nogio de nossa confianga. Isto me permite afirmar, modestamente, sinceramente, com simplicidade, sem ostenta¢io nem gritos, sem necessidade de arrancar os cabelos nem rasgar minhas roupas, que sou democrata no duplo sentido politico e econdmico do conceito, porque quero que © povo, todo © povo (€ nisso, sim, eu sou totalitério), e nio uma parte infima do povo, govern a si mesmo, ¢ porque desejo que todo 0 povo adquira a liberdade econémica que é indispensivel para exercer as faculdades de autodetermina~ 40, Sou, pois, muito mais democrata que meus adversirios, porque eu busco uma democracia real, enquanto cles defendem a aparéncia de uma democracia, a forma externa da democracia, Eu pretendo que um melhor padrio de vida ponha os trabalhadores, mesmo os mais honestos, a salvo das coagies dos capitalistas; ¢ eles querem que a miséria do proletariado ¢ seu desamparo estatal Ihes permitam continuar seus velhos vicios de compra ¢ de usurpacio das libretas de enrolamiento.” No mais, é lamentavel que a mim, que proporcionei e faci- litei a volta a normalidade, que me situei em posigio de cidadio civil para enfrentar a luta e que desprezei ‘ocasides que me vinham 4 mio para chegar ao poder sem o processo eleitoral, se imputem propésites incons- tirucionais, presentes ou futuros. E, todavia, mais lamentavel que estas acusag6es sejam feitas por quem, a titulo de democratas, nao saiba a que arbitrio acudir, ou a gue oficial, do exército ou da marinha, voltar os olhos para evitar as eleicBes nas quais sabem que serio derrotados, nao porque vai haver fraude, até mesmo porque niio vai haver ou, melhor dizendo, porque eles j4 ndo tém a sua disposicio todos os elementos que antes usavam para ganhar fraudulentamente as eleigdes. Vém reclamando hé tempos por eleigSes limpas, mas quando clas chegam, se assustam com 0s métodos democriticos. jocumento de identidade masculino ds 6poca. Enelamiont significa convocagio para osevigo militar (N. do T)

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