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Papa em Portugal, desafio à Doutrina Social da Igreja

Por Dom Giampaolo Crepaldi

ROMA, quinta-feira, 22 de Julho de 2010 (ZENIT.org) – Bento XVI, em Fátima,


lançou a todos os que se ocupam da Doutrina Social da Igreja um desafio
verdadeiramente radical, que não podemos deixar de recolher.

A 13 de Maio, o Papa convidou os católicos comprometidos no campo social a


uma presença, a um testemunho vivo no mundo. Também indicou
explicitamente a necessidade de se remeter, neste compromisso, ao horizonte
da Doutrina Social da Igreja: “O estudo da sua Doutrina Social, que assume
como principal força e princípio a caridade, permitirá marcar um processo de
desenvolvimento humano integral que adquira profundidade de coração e
alcance maior humanização da sociedade. Não se trata de puro conhecimento
intelectual, mas de uma sabedoria que dê sabor e tempero, ofereça criatividade
às vias cognoscitivas e operativas para enfrentar tão ampla e complexa crise”.

Tratou-se de um forte convite à presença, “cientes, como Igreja, de não


poderdes dar soluções práticas a todos os problemas concretos, mas
despojados de qualquer tipo de poder, determinados ao serviço do bem
comum, estais prontos a ajudar e a oferecer os meios de salvação a todos”,
sem renunciar ou retirar-se, mas conscientes de que há que estar presentes,
juntos, sob a guia da Igreja e da sua Doutrina Social.

Este convite, dirigido a grandes massas de pessoas comprometidas, no


entanto contrasta objectivamente com a recente evolução da sociedade
portuguesa, objecto de uma secularização muito violenta, que no passar de
poucos anos permitiu a aprovação de leis fortemente contestadas pelo Papa,
como o aborto e o reconhecimento das uniões homossexuais. Esta contraste
foi o pano de fundo de toda a viagem de Bento XVI, já missionário numa terra
dessacralizada, mais que peregrino numa nação cristã. E esta é a grande
questão: que resta do compromisso social e político dos católicos, da sua
Doutrina Social, das suas actividades caritativas se decai a fé, se a apostasia
das raízes cristãs cresce ao redor e se Deus está cada vez menos presente na
cena pública, porque está cada vez menos presente nas consciências?

Volta o problema fundamental ao qual este Pontífice parece ter dedicado todas
as suas forças, o tema da famosa Carta sobre a retirada da excomunhão aos
bispos de Ecône: “No nosso tempo em que a fé, em vastas zonas da terra,
corre o perigo de se apagar como uma chama que já não recebe alimento, a
prioridade que está acima de todas é tornar Deus presente neste mundo e abrir
aos homens o acesso a Deus. Não a um deus qualquer, mas àquele Deus que
falou no Sinai; àquele Deus cujo rosto reconhecemos no amor levado até ao
extremo (cf. Jo 13, 1) em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. O verdadeiro
problema neste momento da nossa história é que Deus possa desaparecer do
horizonte dos homens e que, com o apagar-se da luz vinda de Deus, a
humanidade seja surpreendida pela falta de orientação, cujos efeitos
destrutivos se manifestam cada vez mais. Conduzir os homens para Deus,
para o Deus que fala na Bíblia: tal é a prioridade suprema e fundamental da
Igreja e do Sucessor de Pedro neste tempo”.
Algo parecido disse também em Fátima, no dia 11 de Maio: “a prioridade
pastoral hoje é fazer de cada mulher e homem cristão uma presença irradiante
da perspectiva evangélica no meio do mundo, na família, na cultura, na
economia, na política. Muitas vezes preocupamo-nos com demasiado afã com
as consequências sociais, culturais e políticas da fé, dando por suposto que a
fé existe, o que é cada vez menos realista”. Fala-se de sonhos de novas
gerações de políticos católicos, mas os católicos são cada vez menos, fala-se
de presença pública do cristianismo, mas os cristãos são cada vez menos.

Não podemos deixar de acolher este desafio. Ou também a Doutrina Social da


Igreja serve para “levar os homens a Deus”, a “fazer Deus presente neste
mundo”, ou pelo contrário está destinada a tornar-se árida. Significa portanto
que se deve ter sempre presente que também a Doutrina Social é educação
para a fé e que esta vive dentro da fé viva da Igreja da qual está ao serviço e
da qual é ao mesmo tempo expressão. Não se trata de dizer: dado que a fé
diminui, deixemos ou abandonemos a Doutrina Social, ou a consideremos
simplesmente um código ético útil ao diálogo com os crentes. Trata-se muito
mais de relançar a Doutrina Social como “instrumento de evangelização”.

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*Dom Giampaolo Crepaldi é arcebispo de Trieste e presidente do Observatório
Internacional “Cardeal Van Thuan” sobre a Doutrina Social da Igreja.

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