Vous êtes sur la page 1sur 20
Paradoxos do pensamento contra-revolucionario: Joseph de Maistre Paradoxes of Counter-Revolutionary Thought. Joseph de Maistre Rodrigo Patto $3 Motta* Abstract Resumo AvsrocsTiwarilemaysesthenok —_Oartgo azalia sab de lop do fe sabia wierloagh de Man Mast, atersabeiao centenper- whose Ideas deeply Influenced neo daeoluao francs: e una das hineteenth and twendeth century __printalsefrencasieectias dO fesclonirysndtadiowslichoughe. _—_pensanentoracenstowiricons- The authors apumens concen fist dos stu XK eX A anise thepairerduton/Coureeerauten confereérase & agimentado do fe emphized, withthe am of Or 2erao pa Fevhigeon- Sovinepandoesadcmyledy ——_teerluo, poarandommorrar hich 2 prt of hs oushe Dandoxose 3 compleidase pest. Keywords: Revolution; Counter- fesnasideas mabteanas. revlon: eacon Patirsctave Revo 30;Conrare- voigie Reaio, Introducao! A revolucio, marco fundador do mundo contemporaneo?, despertou paix6es intensas e opostas abrindo um fosso entre, de um lado, os defenso- res do projeto revolucionirio e, de outro, seus detratores. Na mesma medida tem que se formou uma tradicao de pensamento e militincia tevolucionrios surgiu, pari passu, uma vertente contra-revolucionéria com enraizamento so- dal igualmente solido. Mas, a historiografia e as clencias socials tem dado mais atencao ao estudo do pensamento revolucionatio, relegando a segundo plano as visOes dos conservadores e reaciondrios. © pequeno interesse do Prot doDeparament de Hots cs UG, Dour em Hiss Soca pel USP str do septs Pardo Sociedade. Tet do NDB Ouro Pets Ed UFOP, 1997: Introducio aHissdox Patios Poltcos Basis Belo Horaore: Ed URMG, 1999; Em Graréa Conta o Perigo Vemelio"vo pel). "Agndevo a0 Profesor Modesto Rerenano pels pioasindzacses blogs eet aenta date. + Reluae entndda cono ago que wanscnde © psoas anes, enora ee enka do © erento “nagar fonte de ipiraco. Artertncls agi &3 mentlidsd rewludontapropamerte St, 3 ‘crenca de aue o hom ¢capaz de alter adcalmente set mode de ae iment 6 neve. mundo académico pelo assunto explica, em parte, a divulgacso de abordagens simplificadoras, que apresentam visoes estereotipadas do fenSmeno reacionario. ‘© estudo da dindmica revolucionéria 6 essencial para uma comreta compreensae do mundo contempordneo, Porém, § indispen- savel entender também os movimentos e idéias anti-revolucionsrios, sob pena de obtermos apenas um olhar parcial da histéria dos dit ‘mos dois séculos. Neste sentido € que se insere a proposta deste trabalho: ta~ zer uma pequena contribuicao pare o estudo do pensamento conta revolucionétio, através da andlise do ideério de um de seus mals, célebies formuladores, Joseph de Maistre, personalidade polémica que deixou marcas profundas no mundo intelectual europeu do sé- culo XIX, mas também, embora com menos intensidade, no século XX O foce da atencio sers concentrado sobre as elaboracdes do ‘autor no que respeita & revolucio, fenémeno execrado por ele, & ontra-revolucio, encarada como antidoto necessario & primeira J. de Maistre vivencicu profundamente os acontecimentos li- _gados 9 Revolucio Francesa ~ de certo modo foi vitimado por eles uma ver que 0 Mrgatann 4 extarse ob set tert ital ~ & 3 52 refletts em seu pensamento e obra. Tornou-se um apaixonado ¢ im- placdvel citico da revolugao, devotando sua inteligéncia e sua elo~ {qdéncia literéria a combater 0 que considerava um evento maligno. Correlatamente, também se batia contra as idétas tldas como responsaveis pela explosdo revolucionria, notadamente o vasto sis- tema que convencionalmente chamamos “iuminismo”, Na verdade, de Maistre se referia com mais frequéncia - e viruléncia - aos philosophes, os quais the pareciam os principais culpados pelo cho- jque que sacudiu 2 socledade francesa e toda a Europa ocidental na virada do século XVII para XD. ‘Acbra de. de Maistre 0 projetou como um dos mais desta cados defensores da antiga ordem, tomando-o uma referéncia cen- tal para todos os adversatios das propostas de transformacao social, Suas ideias exerceram enorme influencia sobre as propostas reacio- ndrias e tradicionalistas, notadamente durante a “restauragio", fase que teve inicio na seqléncia da derrota de Napoleao. Os livros do nosso autor serviram de inspicacio para as forcas sociais interessadas no restabelecimento da ordem na Europa, apés os anos de convul- slo revolucionsria. os textos de J. de Maistre puderam ser extraidos argumentos a serem utiizados na defesa dos valores e das instituic6es tradicio- hais, especialmente da Igreja Catélica e da Monarquia, bem como apreciagées crticss dirigidas a0 liberalismo, 20 ilurinismo, 4 demo- cracia, as especulacées de filésofos e cientistas, a decadéncia moral, enfin, a praticamente todos os aspectos do manda modeao que faziam os tradicionalistas sentirem-se emeacados. A influéncia maistreana, € importante ressaltar, nao se restin- ‘iu primeira metade do século pasado: continuou pelo “dezenove” adiante eadentrou o atual século. Ela pode ser encontrada, por exem- plo, nas formulagées dos lideres da Action Francaise de Charles Maurras, organizacio politica direitista de bases populares criada no final do século XIX. Em 1906 Louis Dimier, um dos principais perso- nagens da Action Francaise, profertu uma série de palesuas sobre as idéias contra-revolucionérias, propondo ensinamentos para © com- bate aos “erros” do mundo atual. De Maistre apareceu com destaque no programa das conferéncias’ No Brasil, também J. de Maistre deixou sua marca, notadamente enue 05 catdlicos tradicionalisias. Quando ocorreu o falecimento de Jackson de Figueiredo, fundador da revisia “A Ordem’ e do “Centro D. Vital’, um jornal catdlico de Fortaleza publicou uma nota funebre dizendo, entre outras coisas, que ele era “lido em José de Maistre” e fora “um reacionério do quilate de Charles Maurras”. No entanto, embora muito reconhecido e citado como “fon- te” dos ideais anti-revolucionérios, de Maistre foi pouco lide. Os ma- nuais de historia das idéias politicas promoveram uma divulgacso ‘esquematizada de seu pensamento e, como consequenda, simplif- caram-no e empobreceram-no. J. de Maistre foi um pensador vigoro- so e um escritor inspirado. Rotulé-lo simplesmente de “reacionatio” implica no risco de perder a dimensao criadora de seu trabalho. ‘A proposta deste texto 6 ir além do J. de Maistre apresentado pelos manuais, tentando mostrar a complexidade (em muitos mo- mentos proxima da contradicao) e, as vezes, 0 brifhantismo de seu pensamento, A intenco é destacar que, mesmo sendo acima de tudo um amante da tradicio e da ordem, ele era capaz de insights perspicazes sobre 0 comportamento humano e sobre as bases de funcionamento do Estado. Na mesma pessoa conviviam, lado a lado, 0 dogmatico catGlico extremado € um homem que em determinadas ‘ocasides defendia 0 pragmatismo poltico como amma para alcangar seus objetivos. Por fim, procurar-se-é revelar os paradoxos daquele pensa- mento cuja ligacio essencial com o passado por forca do amor & ordem e & tradicéo nio o impedia de possuir determinadas caracte- risticas prximas do universo mental dos movimentos autoritarios do presente século, que também combateram a revolucao em nome da ordem. CLMAYEE, Amo. Dinsaica da contreveveluce na Europa, 1970-1954 Ria deans Pas © “ar, 1977 RAR * Azud MONTENEGRO to Alo de Sousa 0 Mono eo Ataras visits do tacomlisno (no Cora 1871975} Freer BNB, 1992. 227 O fildsofo da ordem Joseph de Maistre nasceu em 1753, na localidade de Chambéry, ducado de Sabdia, na época tenitério pertencente a0 10 da Sardenha © pai fora membto do Senado saboiano, um dos iis destacados cargos burocriticas do Reino, ¢ 0 filha seguittthe ‘9s passos tomando-se também senador em 17885 Estudou com os jesuttas e graduou-se na Universidade de Turim. Gracas 20 prestigio das Jetta francesas e @ vinculos de parentesco (sua femiia tinha ralzes na Franca), seu universo cultural era francofilo e francofonico. Na juventude freqientou brevemente a franco-maconaria € teve um entusiasmo superficial pelas idélas constitucionalistas. Po- rém, qualquer veleidade “propressista" que tenha esposado quando jovem desapareceu com © choque provocado pela Revolticdo®. Os cexércites revolucionitios franceses invadiram anexaram a Sabdia cen 1792, regido fronteiria que a Franca reclamava para si, obrigan- do de Maistre a seguir para 0 exilio. © acontecimento néo fez dimi- rnuir sua admiracao pela Franca; antes gerou um édio profundo aos projetos revoluconarios e a todas as maniestacoes de questionamento 4 ordem e ao status quo E este édio nutiiu a producao intelectual de J. de Maistre. 0 extlio nao o impediu de continuar servindo a seu Rei, ue © nomeou para missées oficais primeiro na Suica e em seguida na Raissia, onde por virios anos de Maistre representou diplomatica mente o Estado da Sardeaha na corte de Sao Petersburgo. Durante perfodo de exilio escreveu praticamente toda sua obra, com desta~ {ue para Considerations sur fa France (1796), Du Page (18 10) e Les soirées de Saint-Petersbourg (1825, pubiicado postumamente/,li- ‘ros que contém 0 ceme de seu pensamento. ‘A maior parte de suas impresses sobre a revolucio francesa aparecem na obra de 1796, esctita sob 0 impacto da promuilgacio da texceira consttuicao revalucionsria (1795) e do surgimento do regime do Diret6rio® Para de Maistre ndo havia meio termo no que respeitava 2 revolucio, seu olhar era maniquefsta, Tratava-se de um acontecimento Cotalmente mau, onde a corrupgao € o vicio se junta~ vam a crueidade e a imoralidade: - > BERLIN, baa “Tosph de Masa easzess do sctsno“- nes da cop aposda Fits das Hin Sto Plo Compan ds tas 191.99 «Dh sleet emus potato, coven ma 5 GMINA, Laan. sates eo das eras soca 8 Fal: ik, 1778 * Epredeorefeir ie deMabtve, cone todos os petsndor que sevoluron pars oestadodo freGneno reiciosii soe iftneladaebacrinal Je BURKE Covtid,o otetios Ito: doprsenttrsbabo operate esac alu encase ese peste ‘dos co eres quese wham aganas dads possums rats ares ds. {CL CURAE, Edmund Rofenes sve» Revels en Fanca Bris: Ed da Ur, 9B. (Ora, © que dstingue 2 revoluco francesa, @ 0 que a torna um contecimento tinico a historia 6 que ela é radicalmente mi: ienhum elemento de bem alia 0 oftardo obsenador 60 mais alto grau de comupcdo conhecido;€ a pure impureza. Em que pigina da histéria se poderi encontrar uma to grande ‘quantidade de vcios agindo 20 mesmo tempo sobre 0 mesmo Cenirie? Que combinacao abomnavel de batteza e de crueldi- de! que profanda imoraldade’ que abandono de todo pudor? ‘Com um estilo agressive, marca de sua obra, de Maistre trans- forma 0 episodio revolucionirio num espetaculo degradante e vil, 0 contrario da visao disseminada pelos progressistas. Na interpretacao Imaistreana ndo ha espaco para perceber as boas intencoes dos agen- tes revolucionérios; ha sensibilidade apenas para o lado violento ¢ destrutivo do processo, os aspectos construtivos nao existem!®, De- plora a destituicdo e execucio do Rei'!, a implantacio da Repiiblica, as desapropriacdes, 0 combate 3 Iereja Catélica, as reformas liberais & democraticas ¢ a degradacdo dos costumes. Sobre o aspecto da moralidade hd uma passagem interessar- te nas Considerations, que ajuda a compreender as opinides do av- tor. Ele registra uma noticia publicada por um jomal de Paris para exempiificar como a revolucio estaria levando os franceses, particu- larmente os parisienses, a degradacao moral. Em 1795 um tribunal da capital teria julgado um caso de seducio, envolvendo uma menina de 14 anos. De Maistre diz que a garota desconcertou os juizes demonstrando ser to corrupta e imo- ral quanto seu sedutor, © caso foi acompantiado por numerosa au- inci, mais da metade constitulda por mulheres jovens e meninas, imuitas ao lado das maes. Comportando-se de maneira inadmissivel, virias mocas e mocinhas se deleitaram com o caso relatado durante © julgamento: ac invés de cobrir o rosto riam escandalosamente quando vinham 3 tona detalhes repugnantes que até aos homens faziam enrubescer'2, A degradac3o dos costumes era um dos desdo- bramentos da acdo dos revolucionirios, pois ao estimular 0 ‘questionamento generalizado da ordem social eles acabavam abrin- do caminho para a quebra dos valores morais. Aaassociagio operada pelo pensador saboiano entre a revolu- ° MAISRE,Joseh de. Consdrtons sa lace Gente: Eatons du Milled Monde 1736 (ited 1796) 85 A endae dor cere clades ¢ de rapotabildde do ater do prsene vig ncecto car ctghes lente Se ote 19,25, 9,32. "8 Ox quando oth ocoren 3 ee da votade doses reauconsios, "Un dos males cmes que se pode cometer € ser divida@atertado contra sberani ‘shar our teedo descobramenton mals ters Se asobeana reside uma cabeca 5 tonbuvtina co senado,a ncdads do clne suments Mite ete Seberanonio come ‘neshum cme que oes merecer tl sorte estas propia vides anmaram cons 2m ‘dorcuipados acme ota nomirave™ MAISTRE( 1736] 9.28. '= HAISIRE (1936) p66, Temina esa passage conan @ er lace um pao da Staglo contampordres com a oma des thon tnper-qnda howe caer dle Hemet ‘seem pundos por abracaemsuas esposs dane das cranes. ‘ca € © mal ¢ explorada também através de algumas referencias a imagens saténicas ("Ha na revolucao francesa um carater satantco que a distingue de tudo 0 que se viu e tavez de tudo 0 que se vera"). Contudo, no geral J. de Maistre nio se utiliza muito do tems; sugere a presenca demonfaca, o que certamente fortalece a imagem de malignidade que pretende construir, mas esta questio recebe um tratamento marginal na obra. Na visao do nosso autor a revolucdo nao era a fonte original dos ertos do mundo modemno, embora a odiasse com todas as for- as. Ela era mais consequiéncia que causa dos problemas. Joseph de Maistre identficava 2 verdadeira origem do espirto resporsével pela convulsio européia no protestantismo. Com seu questionamento autoridade religiosa da Igreja os protestantes deram origem a um comportamento intelectual perigoso, baseado na liberdade de pen- samento € na critica as tradicoes. Para de Maistre o protestantismo se transformara num inimigo mortal para a Europa e para todos os Estados soberanos (mesmo aqueles que abracaram a religiao refor- mada), pois estabelecera "a independéncia de pensamento, a dis- cussio livre de principios e o desprezo pelas tradicées (_)’.'* De Maistre deplora a rebeldia presente no espirito protestan- te", defendendo a superioridade das praticas da Igreja Catdlica que, ‘em sua opiniao, jamats se rebelara contia a autoridade civil. Ao con- tririo do estimulo as rebelides oferecido pelo protestantismo, 0 ca~ tolicismo se constituiu como o cimento das soberanias européias, farnecendo suporte e dando apoio 4 manutencdo da ordem. E a semente maléfica lancada pelos protestantes acabou geran- do outro inimigo figadal para de Maistre, a filosofia iluminista. Os Philosophies nada mais eram que continuadores da obra desirutiva dos reformadores protestantes, alimentados pelo mesmo sentido de ‘questionamento a tradicdo e a ordem estabelecida (“.aqueles que nos- so século chamou de fildsofos tudo © que fizeram foi se apoderar das ‘armas que o protestantismo lhes preparou, € as voltaram contra a Igreja -"16 Por seutumo, como 0 “espititafiloséfico” provocara a explo- ‘io revolucionétia,fechava-se o circulo da teoria maistreana: havia uma linha de causalidade ligando © protestantismo a revolucio, pasando por um elemento intermediatio constituido pelos philosophes'” ATE MADTRE(I936) p71. MABE Jesph de. Texter choisorg por EM, CORAN) Mono: Eons duRodher, 1957, LIL Or tectostenides pr Cra esa clenea so provenenes de diferentes obras teh iar apenas a cole, stm mencona os litos de onde fram retradas os exo ' Cinevesiame obsenar que esa comprens3o do yrotstatsmo cme font do nal no undo ‘modern clement consant ns prepa uses Waratah sical YX eX Tahe fe Mature nSo tena Sdoo rime 3 chor, mis ctanerteconeibul ro pia a Aiatgaio. SS MADSTRE (19571 p18, "ts cur exert Ineresaresende assoc 0 potstntsno 3 rrlur3ochamando os pots tant de iendos dos sne-coltes “Asin. 0 peoestnisnoé pasvamente¢0 ped era, Para os fildsofos iluministas @ suas idéias de Maistre reservou boa parte dos ataques e das crticas céusticas produzidas por sua pena. Tinhe especial desapreco por Voltaire, a quem se referiu certa feita como “blasfemo insclente’, mas também batalhiou bastante contra as idéias de Rousseau. J. de Maistre considerava as teorias e idelas destes pensadores o principal motor do caos revolucionatio e por isto dedicou-se com denodo a tarefa de atacé-las. Talvez a critica mais basica e genética do autor ao pensamen- to iluminista esteja concentrada no aspecto da abstracio. De Maistre achava as teorias dos philosophes abstratas demais, elaboracSes racionalistas formais que nao propiciaram um correto entendimento da realidade, Contrapondo-se as teorias abstratas de seus adversir- (5 apostava na superioridade da experiéncia, da tradicio e da hist tia, Sobre a historiografia tinha uma opinigo pode-se dizer clissica, considerando-a um conhecimento extremamente positivo pois se constituia em fonte de sabedoria e de ensinamentos tteis para a agio". A filosofia modema, ao contrétio, no seu aff de fazer tabula rasa de tudo s6 servia como fonte para 0 erto e para o mal As pretensoes cientificas dos fildsofos levavam a0 perigo de alimentar o espiito rebelde e inovador. Lim dos inevitaveis inconveni- entes da ciéncia, dia de Maistre, & que ela faz do homem *. um inimi- go de qualquer tipo de subordinacao, um rebelde que se vola contra todas as leis e insttuigSes, um campedo inato de todas as inovacses [.)". Mas, para além do risco politico, ele achava que os philosophes falhavam fragorosamente em sua tentatva de conhecer a realidade na- ‘ural e social, as teorias levavam a0 erto, nao ao conhecimento, Em primeiro lugat, a maior abstracio era a propria nocdo de “homem’. De Maistre nao reconhecia esta categoria e, comentando as Consttuigées revolucionsrias, sempre feitas em nome do “homem’, dedicow-lhe observagSes irSnicas: (Ora, io existe em absoluto homem no munde. Eu conkeci ert ‘minha vida, fanceres ialinos,ruscos, ei; eu sei mesma, pracas ‘2 Montesquieu. que se pode er persa:mas quanto 30 homer, eu declaro ndo t-f0 encontado no decorrer de minha existéncia;s° ele existe jgnoro-0 completamente? ‘osans-clotime daresia Us lnocaa plaa de Des; oxra os istosdo home mas fupriicy ¢ameunateods smicins marcha omesmoresitaco, esd Ios esacebran _soberaria para disibublaa mds MASTRE (1957). p115. "Ahisérs € pole exermental quer der, tnicabos e como mafic, cem volums de Trois especiatasevaporam-se dante deus aca expiaca da mesa or acl pics, cn stems pode ser admtdo se nSo lor croiriomat ou menos prov de Faosbem comprovados: MAISTRE (19571. 150. 1» AgudBERUN 1991.13. Na nesnapasages de Masrefaro elgi 3s qualidade nats 29 Teme ators te ec nao pode domanarcuenshar“A wineracnce as cls € sae i goremar E hao nie apende nas academia. Nesum grande miniso, de Super + Rice amar se acdou da fsa ou db matemaia. Oni das clencks nits toma Inporshlaqels ura fora de ganado alent nat = MAISTRE (1936), 187 Embora em seus textos se relerisse a5 vezes a “homens” "espécie humana”, ele néo partilhava da crenca universalista dos re- Yolucionirios, cujo corolirio politico era a tentativa de constituir leis, hhommas e valores aplicdveis a todos os homens. No seu modo de entender, as diferencas separando os grupos humanos eram tais que tomavam quimérica a proposta de raté-los como iguais ns esséncia. ‘Outro elemento das teorias iluministas radicalmente citicado por de Maistre 60 contratualismo. O pensador saboiano considerava absurda a hipétese das organizacées sociais terem se originado de contratos estabelecendo ligacées dos individuos entre si e com © Estado, Ele defendia, 20 contririo, que os homens sempre viveram em sociedade, movidos pela forca inexorével da necessidade de prote¢io fe seguranca propiciadas pelo grupo. Além disso, segundo acreditava, a vida em sociedade foi estabelecida por Deus no momento primor- dial da criagio, mais uma razo para recusar 0 contratualismo, eWvado que € de uma crenca naturalist. Joseph de Maistre também atacava com viruléncia © otimis- ‘mo iluminista a respeito dos homens, considerados em sua esséncia bons, ctenca que dava sustentacao a tese da viabilidade da liberdade e da possibilidade do constante aperfeicoamento da sociedade. Na sua visio de mundo, inspirada na tradicio judaico-crista, o homem é, no seu amago, mau e pecador. E a origem do problema seria encon= trada, naturalmente, no pecado original ("O pecado original, que tudo ‘explica, e sem o qual nada pode ser explicado, repete-se lamentavel- mente a cada instante do tempo -"). Desde a expulsio do paraiso, os descendentes de Adao vi- ham cartegando a macula do primeiro crime e, desgracadamente, ‘vinham viendo em pecado até entio, incapazes de superar sua natt- tera ma. Dafa necessidade da constante severidade e punicao divi nas, para putgar o pecado e a maldade inerentes 20s homens, princi- palmente através da guerra ("Culpaveis mortals, e infelizes, porque nds somos culpados! nds 6 cue tornamos necessarios todos os males fisicos, sobretudo a guerra .””) De Maistre ironizava o “bom selvagem” de Rousseau, dizende {que aquelas criaturas eram © opesto do imaginado pelo fildsofo de Genebra, mis e pecadoras (como poderia ser bom um antropofa: 02). Se os homens de uma maneira geral eram seres decaidos, o: selvagens se constituiam nos mais degenerados entre todos, nos mai: atingidos pela célera divina (‘Entdo, se a sociedade ¢ to antiga quant ‘o homem, logo o selvagem s6 € e 6 pode ser um homem degradadk e punido™). MASTRE (19571. 87, SMASTRE(19571,070. MASTRE (19571, 64 Diferentemente de Rousseau, de Maistre nao considerava os selvagens uma mostra do que poderiam ter sido os civilizados na ‘rigem, Em sua acepcdo a sociedade original era superior, quase pet- feita, ¢ tudo 0 que veio depois trouxe a marca da decadéncia e da degeneracio resultante do pecado. A partir desta visio nostalgica e reaciondtia, idealizadora de uma “era de our” situada nas origens, dentre as socledades existentes no mundo modemo os sehagens estavam mais distantes da civlizacdo primordial, e portanto eram 0 grupo mais degradado. A tefutacio dos valores principais do idedrio iluminista resu tou na defesa de uma filosofia politica baseada na recusa a inovacsio € mudanca revolucionétia, em outras palavras, na manutencio de cordem existente e na desvalorizacao dos preceitos liberals. Se 0 ho- ‘mem é por definicdo mau e criminoso seria absurdo e perigoso con- ferir-he liberdade para conduzir seu destino. Conseqiientemente, sa liberdade é inviavel, os homens devem ser conduzides por forcas supetiores, numa combinago de coercio {forca) e submissio esponténea, Numa passagem célebre, de Maistre fala da importancia do camrasco para a manutencao da ordem social: E contudo, tods grandezs, todo poder, toda subordinacio re- ‘pousa no carrasco: ele & 0 horror e 0 vinculo di associaczo ‘humana. Excluf éo mundo este aisterioso agente; em um segun- 0,2 ordem data lugar a0 Caos, 05 tomes cairto, a sociedsde desaparecer* © amor extremado a ordem e 0 pessimismo radical em rela~ ‘¢0 a0 ser humano levaram de Maistre a um enfoque verdadeiramen- te sinisiro sobre o mundo social’. No entanto, ele nao supunha que a coercio fisica fosse suficiente para debelar as forcas da desordem, Fazia-se também necessaria a presenca da religiéo, cuja forca espiritu- al conuiibuta para acalmar os apetites naturais dos homens, levando- 0s a viverem em comunidade e contiolando suas tendencias destrutivas. Nenhum Estado seria forte o suficiente para governar milhdes de homens *..a menos que ele seja auxiliado pela religiso ou pela escraviddo, ou por uma e outra’?# Na opinido de J. de Maistre a religiso fornecia o principal “cimento” da ordem. Ela se constitufa no elemento que, atuando no “espitito” e nas mentes dos homens, conduzia-os a aceitar resignada- mente a realidade social e as agruras da vida. Desviando as atencdes do plano natural para o plano transcendente do divino, a lereja dava 5 Apu ERUN (1991, 102 *8 fm ctr oct, defend 3 Inquscto: “Em prime zat nto hi nada mals iso, dowo € ‘countvel que os rand bunais espantdis (.)ndo pode have no univeso nada mais ‘alma, mais cicurspeto, ras burane por ratueza que o wiunal da Ingusiczo (1. MABTRE (S71 pee MATE (19571208, sossego is almas e evitava que as frustracSes explodissem em questionamentos ¢ desordens. Daf advém a maior fonte de rancor contra os iluministas, dle- vvido ao papel por eles desempenhado na luta contra a religiao cato- lica.|. de Maistre considerava escandalosa a conduta dos philosophes, ue, utlizando as armas do ceticismo e da ironiz, e agindo como celerados e coléricos, empreenderam uma guerra mortal contra a verdadeira Igreja. E 2 pregacio nefasta teria causado considerivel estrago jd na primeire metade do século XVIIl,espalnando suas idéias {mpias por vastos espacos, desde as cabanas a0s palécios”. Tal flo~ sofia teria experimentado um processo de répida degradacao, pas- sando de mero sistema de pensamento, no inicio, a compld e, final- mente, tomara-se uma vasta conjuracio que varreu a Europa com seu corolétio de revolucao, desordem e guerra Observando atentamente a cbra de Joseph de Maistre en- ccontramos fortes indicios de uma possibilidade rica em significado: o autor parecia amar mais a ordein*® que a religido propriamenne dita, embora fosse capaz de ir a extremos para protegé-la de seus inimi- 20s. Em detemminados momentos, de Maistre passa a impressdo de defender dogmaticamente a lgreia Catslica principalmente por er- xergar nela o remédio de maior eficécia contra a desordem revoluci- ‘onaria, deixando para segundo plano a crenca religiosa. Citarei duas passagens que podem sustentar 0 argumento. No liv Considérations sur la France tia umn vecho bastante interessante onde de Maistre afirma estar se dirigindo a todo tipo de pessoa, tanto aos crentes quanto aos céticos. No fundo, diz ele, nao importa se as idéias religiosas seiam objeto de riso ou veneracdo. O importante é reconhecer que, verdadeiras oui falsas, elas formam a base de todas as instituigées duraveis?”, © outro trecho causa maior impacto. Comentando o cariter maligno do protestantismo, de Maistre chega a afirmar que oislamismno 10 paganismo sio menos nefastos: “O maometanismo, 0 proprio paganismo teriam feito politicamente menos mal se tivessem substi- De Malste amb sabia manera oni. Aportoua pacar stcSo auc invids das ‘amadassuperons(habtanes dos alicios avs detaram enpagar pels novidiesineec {Wal sem perceerorisc pra seus interes estpldamente eles abacaramo igo antes se receberogolpe moral. MAISTRE (19571 75. "Una Tindade encontanaabra de oseoh de Malte um incest ene 2s neces de “dem” “nidade Ni ono da autora. a nldae eta esstcla da dem prin (50 aimtada por de Mais, que lmenarao fat de mundo modem er mpideanbas “0 plto do nal € um eptto de dst, de wens. Atwalinente 9 al don, do est “omempiso.A dso tenons vn fos 3p na hunanidad, na nd, no pene soclalrompido em unidaestoladasrevda aqueda, mals {una ez epedda da hunadace’;“Quant) mals exaninamoso knives mals os senmo: {entadonaoretar que oma vem de um cea iexpchel Cisio,¢ 0 etna a0 bet ‘eponde de uma fora conla que Nos Inpel sem css ata una certs unde” echor Le sores de Saat Perersbouetadados ela utral TRNDADE 1978} p0:98-100. MAISTRE|I956), p72. tuido 0 cristianismo com sua espécie de dogmas e de [é; porque si0 religiSes, coisa que o protestantismo ndo é”.%° ‘Como € possivel a um cristdo preferir crengas ndo-cristas a0 «tistianismo reformado? E como pode um catélico fiel admit, ainda que hipoteticamente, a possibilidade de serem falsos os fundamen- tos de sua religiio? Parece-me razoavel sugerir que tal pensador cato- lico no deveria ser muito convicto. Ele preferia 0 maometano infiel a0 protestante cristéo por acreditar que o primeiro sustentava a or- dem, enquanto 0 segundo tinha originado a desordem no mundo modemo. ‘Alguns autores destacam a influéncia sobre de Maistre dos ideais franco-macons, que o teriam transformado num cristo pouco ‘oxtodoxo, com "sua paixdo por detectar na Biblia doutrinas esotéricas, sugestoes ¢ insinuacOes ocultas e intexpretagdes visionatias ~".*! De ‘qualquer modo, independentemente de quais tenham sido suas reais conviccdes no terreno religioso, em de Maistie ndo encontramos © tedlogo catélico interesszdo nos pormenores da doutrina e preocu- pado em atacar 0s erros cometidos contra a “verdadeira” interpreta- (G20 dos dogmas cristaos. No pensaclor saboiano temos um homem preocupado essencialmente com a politica, a quem a religido cat6li- ca interessa e deve ser preservada acima de tudo por seu papel poli- tico de mantenedora da ordem. Partindo desta compreensio sobre a centralidade do papel politico da Igreja no combate a revclucdo, de Maistre chegou s suas formulacoes polemicas sobre o papadlo. Na obra Du Pape desenvolve a proposta de conferir a instituicio papal 0 poder de arbitrar os conflitos europeus. No quadro de uma Europa convulsionada por guerras e revolugdes o Papa poderia funcionar como autoridade coesionadora superior, acima dos governos e interesses locals. Utili- zando-se d2 autoridade conferida pelo prestigio religioso, o detentor do trono de S. Pedro teria condicdes de evilar os riscos de novas desordens, mediando as disputas intra e inter-estados, harmonizan- do 05 interesses das diferentes nacdes ¢ dos grupos integrantes de cada nacio™ Paradoxalmente, embora enxergasse na revolucdo um evento totalmente maligno, de Maistre a considerava necessiria e, sob ce'- tos aspectos, uti, Encarava a historia sob a dtica providencialista, quer dizer, os acontecimentos seriam conduzidos pela providéncia divina, que em sua infinita sabedoria levava os homens para um des- > MAISTRE (19571 pl BERLIN (1991) 9.3. SSTRNDADE( (970) ppt10-114.Eiuerescart caewar que necesita dena fercaesibadra ina Eumpapv-napoleonica fo perebid pelos andes Estados No entato, como ea nivel polkiamenteacetaraabitagem papal devdo 5 dferencs repos investiam na dplomaca (em scoroscomo 1“Santa Aun. tino j tagado", Neste sentido, a revolucao tambem obedeceria aos designios ocultos da providencia. Primeitamente, e acima de tudo, a revolucdo significava uma punigao ao pecado, um sofrimento intenso imposto por Deus para purgar o mal presente nas sociedades humanas. O pessimismo e a compreensio do homem como pecador eterno levaram de Maistre a elaborar um olhar sombiio sobre a natureza do mundo. A presenca Constante do mal tornaria necessaria a punicao divina, de modo que a terra estaria sempre a clamar por guerra, sangue e morte, até a extincao do mal, Dentro da filosofia da hisiéria de Joseph de Maistre a revolu- do era somente mais um capitulo da trajetéria de degradacio & softimento dos homens desde a queda", ainda que ceramente cons- itufsse seu episodio mais terivel. Os infelizes lideres da revolucao acha- vam estar conduzindo, enquanto na verdade eram conduzidos pelos acontecimentos e pela providencia em direcio a seu destino tragico: ( pripuios celerados que parecem conduzir a revolucao s0 en- {ram em cena como meros instrumentos:e a partir do momento ‘que eb ema prevensio de dominsla, ombam de maneta inst a Eni, quanto maisse observ os pesonagens apsrentemente mais atizosda revolucsa, mals se encontr neles qualquer coisa de pas- sivo ede mecnico Nto seria dems repetic 130 s30 os homens. deforma alguma. que diigema revolucso, 6. evolucto que utliza (os homens. Dizse muito bem quando se diz que ea se conduz “soz. Esta rae significa que nunca 2 Dvindade se mosrou de ‘maneia to cara em nenkum acontecinento humano. Se ea en _prega os mstumenios mas ws, €que ely pune para regenerar”” Mesmo implicando em desgracas horriveis a rerolucdo trazia a marca da necessidade, por seus efeitos purificadores. Passado al- gum tempo, acreditava de Maistre, 0 processo revolucionario se es- gotaria e a ordem seria finalmente restaurada sobre os escombros deixados pelo cataclismo. E, acima de tudo, quando se revelassem os planos tacados pela providéncia, 0 resultado final seria 0 contrério do buscado pelos radicais. Ao inves de destruir 0 Cristianismo uni- versal e a Monarauia, os esforcos dos revolucionarios redundariam na sua exaltacio. As duas instituicdes sagradas emergiriam do caos 0 quc ht de malsadniriecl na crdom wives dos coe 2 actodosserstiressob a So ‘dhina ements actos ee ager mesmo fmpo valisarimente enecesadamete des resmene arm o que deslan, nas som poke conariarosplanos era Cada um dests sees ‘aps cinta de tna ler de nied, cjo daneto varia ae gost do geomet creme, ‘ge abe expand extn cower ou dg a vortade, am ster aa rte MAISTRE ios ni79 Na verdade, somos tentados 2 acediar que a revolt policanio psa de um obito Ssecundito do rand plane que desenoa dunt de nscon mesa erie MAISIRE (i361 pat, HRMASTEE (987) p38, restauradas ¢ fortalecidas pela provacao experimentada naqueles anos turbulentos. Sinteticamente. estes so alguns dos aspectos mais importan- tes do pensamento de Joseph de Maistre Nao admira que ele tenha se tornado uma das principais referéncias da “teac3o” e da “contra- revolucao", sero apontado, juntamente com Louis de Bonald, como pilar do ideario restaurador dominante nas primeiras décadas do século XIX. De fato, sua obra trouxe inspiracdo para os conseivado- tes, que se armaram dos argumentos contratios & revolucio e favoré- vveis 4 ordem tradicional fomecidos por de Maistre para a luta polit co-ideolégica contra os radicais. No entanto, seu trabalho é mais rico € complexo do que sugerem as versoes simplificadas presentes em muitos manuais. All- 4s, 0 esteredtipo j comeca com o processo de criacio da dupla Maistre-Bonald, que oblitera a influéncia de outros autores impor- tantes do século XIX integrantes do campo conservador. Alguns as- pectos do pensamento de Joseph de Maistre o tornam mais que um simples fitsofo reacionario, embora no geral ele 0 fosse (reacionario, ndo simples). Comecemos por destacar a presenca, em algumas partes da obra, de lampejos de acurada perspicacia politica, aliada a notével sen- sibiidade na observacao das organizacbes sociais. Gostaria de chamar atengdo, de inicio, para uma passagem especialmente interessante, onde de Maistre demonstra uma compreensao profunda da natureza da po- litica e do comportamento politico dos homens:” Ele compara o gover- no a religido, pois a existéncia de ambos dependeria da utilizacao de dogmas, de mistérios e de ministos?* Democritico ou nio, isto nao faria diferenca, 0 Estado dependeria da fé politica dos indviduios para se rmanter, 0 que remeteria 8 ordem do simbélico. Discordando das convicGes racionaiistas € individualistas do iluminismo, o autor empreende uma analise perspicaz sobre as posi- ‘GSes dos seres humanos diante da politica e do Estado. Nao seria a afirmacao da individualidade o deseio mais forte, mas 0 contritio, a diluicdo dos caracteres individuals no vasto campo da coletividade Na realidade, entre os seres humanos a vontade de ser parte de uma cordem coletiva sobrepujava os anseios individualistas. Pode-se dizer > pode-se car como exenplo DROZ, canes Europ Restrain yRevolcisn (005-1048) Madi Siglo 90. 1994 38 278i cacdocompea:"O fovero uma edad reg: le tem seus dopmay, ses nists Seu miniscossaniguil-loousubmet-1o ao exame de adaindviduo, 6a mesma coi; cle sé vive pela arsonadona, quer cz pla epoca que um stnbolo. A pmeranecessdade {do homer 6 que sa ado oscetefe cae a ere dupl apo & aie ela we nul sedis na aro maclona fi detansformsr neste ndvidaal uma exsténcla commun, como tmrio queseprecpta no Oceana econinua extindo na masa 63s igus, assem nome € Ssemreaidade sat” MAISTRE (1987) 9152-153. Ea ele cerument esuvajogindo com o deploseatido da plow: minitro pode ser © ‘onider davai ou dost. que 0s insights de Joseph de Maistre sobre a “sacralidade da pol ea “psicologia das massas” (termos cunhados posteriormente) ante- ciparam estudos desenvotvidos pelas ciéncias sociais no atual seculo. De maneira geral, a postura critica do autor frente as teorias, dos philosophes - motivada essencialmente por conviccées politica, dige-se de passagem - levou-o a perceber suas falhas ¢ debilidades. Com efeito, racionalismo puro, abstracoes abusivas e fé ingénua na ‘déncia e no progresso levaram a interpretacdes nao totalmente pre~ sas sobre as estruturas do mundo social. No que diz respeito a politica, por exemplo, as visdes do ser humano como um ator emi- rentemente racional se demonstraram insuficientes. Pesquisas recen- tes das ciéncias sociais tem revelado a importancia de elementos como f6, tradicdo, simbologia e mitologia para uma avaliacao mais, adequada dos fendmenos politicos. Neste sentido, é preciso reconhecer, as reflexdes dos conser- vadores trouxeram uma expressiva contribuigo para a andlise da realidade social. Porém, se os phiosophes cometiam exageros, de Maistre por seu turno opunha-lhes um pessimismo quanto a capa dade humana de governar seu destino e transformar 0 mundo igual- mente exagerado. Se hoje aceitamos como parcialmente validos al- ‘guns de seus argumentos, isto ndo altera 0 fato de que suas idéias festavam comprometidas com a defesa dogmética da tradigao na luta contra as forcas da modernidade. ‘A perspicicia do saboiano também se revelou na avallacio que empreendeu sobre o fututo da Revolucdo Francesa. Enquanto muitos vaticinavam a estabilidade e a irreversibilidade das mudancas revoluclonérias, em particular do experimento republicano, de Maistre previu 0 esgotamento do impulso do “carro revolucionéric", seguido do retomo 3 monarquia. Como vimos, ele tinha fé que a providencia divina havia tracado a restauracZo da ordem. Mas, para o plano celestial se cfetvarfazin-se necesséria a a¢io’livremente escrava’ cos homens cuias lutas, vontades ¢ iciossincrasias lentamente iriam descortinando 0 ca- minho estabelecido pelos designtos providenciais. A derrocada da Republica se originarla de um processo natu- ral de perda de entusiasmo na obra revolucionaria, Dirigindo-se aos céticos que duvidavam das possibilidades da restauracdo devido 4 paixdo republicana demonstrada pelo povo francés, de Maistre afir- rma: 0 entusiasmo e 0 fanatismo ndo sao estados durdveis. A excita- (cao em grau elevado fatiga a natureza humana, de sore que nao € razodvel supor que um povo possa desejar apaixonadamente alguma coisa por muito tempo. Ao contrério, uma vez passedo 0 acesso de febre, o abatimento, a apatia e a indiferenca tomam o lugar do entu- siasmo e da paixdo. Além disso, muitos individuos que demonstra- vam preferir a republica a monarquia, no fundo prefeririam o sossego a tranaiilidade 2 repiblica, ou seja, estariam propensos a abdica’ de suas comvicgbes politicas em troca da estabilidade”. Em linhas gerais as avaliacdes do autor se revelaram acuradas. Evidentemente suas previsoes nao poderiam antecipar com preciso (0 desenrolar do futuro. Por exemplo, ele nao previu o advento do fenémeno napolednico. Porém, de fto ocoreu 0 esgotamento do entusiasmo revolucionério, que permitiu a Napoledo destruir a rept- blica sem encontrar maior resistencia de parte do povo francés. ‘Outro aspecto interessante do pensamento maistreano mere- ‘ce destaque: apesar das posturas reaciondtias e dogmiticas contra a revolucio ele cultvava também um lado pragmitico, que implicava ‘numa faceta de transigénca e flexibilidade. De Maistre defendeu em SseUS textos uma contra-tevolugdo a menos traumética possivel, evi- tando medidas extremadas no restabelecimento da ordem anterior, No caso dos “bens nacionais’, por exemplo, sugeria cautela aos futu- ros lideres da restauracao. Devia-se evitar tentativas de retorno 2 con- figuracio fundiaria anterior, sob pena de causar novos confltos € dificultar 2 estabilizacio da monarquia restaurada. ‘Advogou igual opini3o moderada no caso das punicOes 20s lideres da revolugio. A contra-revolucio deveria se abster de piomo- ver grandes expurgos e vingancas (‘A anarquia precisa da vinganca; ‘ordem a exclui de forma severa™®), nio oferecendo motivo para ‘exaltacao dos espiritos, Aperias aos implicados no regicidio deveria aber a aplicacio da pena capita, limitando-se assim as execucdes a poucas dezenas de pessoas. De Maistre guardava uma relagio ambigua com a “contra- revolucdo”. Certamente ele se considerava parte do movimento con- tra-revolucionirio, mas as reservas e criticas por ele expressadas dirigidas especialmente 20s “emigrados") sugerem que tinha uma ‘posigo particular sobre © toma, muitas vezes nao partihando das posturas do grupo. A propria expresso “contra-revolucio" nio era de seu intelto agrado, pois para muitos significara uma aco revolt iondria oposta, ou seja, que os partidatios da antiga ordem se uti zariam dos métodos violentos utilizados pelos radicals para galgarem 0 poder. Para de Maistre a contra-revolucio nao poderia lancar mao dos instrumentos usados pelos revolucionarios. Em sua visio, trata- ‘va-se de um combate entre vicio e virtude e as forcas do bem ficariam conspurcadas se adotassem os meios viciosos e corruptos dos tevo- uctonirios. Para fazer a revolucio fora necessirio derrubar a religi3o, ‘ultajar a moral, Violar a propriedade e cometer todo tipo de crimes. Tal obra diabolica fora empreendida por uma legigo de homens vis, representando uma reunido de vicios jamais vista até entao. > Resales que esas inform as pic em 1796. HAITRE (1736) p26 SOMAISTE (936) 16 No momento da restauracio da ordem, a0 contrério, o Rei convocaria em seu auxilio a religido e todas as virtudes, notadamente a justica e a misericérdia, restabelecendo a justica calma e patemal tipica do poder legttimo. E os homens virtuosos seriam colocados nos postos onde set trabalho pudesse ser ut". E neste sentido que se situa a famosa frase de Joseph de Maistre". orestabelecimento da Monarauia,a chamada contra-revo- Juco, nao sera de modo algum uma revalicio contréria, mas 0 con- tidrio da revolucdo". A restaura¢io no precisaria do recurso & vio~ lena, ela seria uma “comocdo doce”. Assim, os métodos da contra~ revolucao nio deveriam ser confundidos com os revolucionarios, € estavam errados os defensores radicais da velha ordem, disposios a tudo fazer pela vitria do projeto restaurador. Entre os tltimos se destacavam os emigrades, nomalmente ‘grupo mais propenso as acSes extremas. De Maistre criicou a exaltacto desta ala contia-revolucionétia, que chegou ao ponto de conspirar juntamente com as monarquias vizinhas & Franca pela derrota da revolucio. Chamou a calma tals homens impacientes € insensatos, incapazes de perceber os riscos envolvidos em suas confabulacoes. Desconheciam a natureza humana ao acteditar que as poténcias vizi- rnhas combateriam exclusivamente por idéias, sem interesses mat ais. A restauracio advinds de tal quadro seria nefasta, pois implicaria no enfraquecimento do Estado e no envilecimento da monarquia fran ‘esa. Estariam 0s contra-revolucionitlos dispostos a restabelecer a ‘ordem ao preco do desmembramento do temitorio frances? Saberiam eles realmente o significado da palavra “ordem’?* De Maistre acreditava, ao contririo,- e esta opiniao certamen- te deve ter espantado seus aliados - que a posicio correta naquele momento era torcer pelo sucesso do esforco de guerra empreendido pelos revolucionirios. Ainda que os considerasse celerados ¢ perigo- 508 inimigos da ordem, na sa visao 05 revolucionstios estariam ‘encamando temporariamente os interesses do Estado frances. Traba- Ihar por sua derrota militar significava comprometer a integridade da Franca. Nosso autor chegou mesmo a fazer votos pelo sucesso da Franca revoluciondria em suas guerras extemas, pois desta forma pals seria fortalecido € seu teritério provavelmente diiatado. Como: suas previsoes politicas e sua fé na acao da providencia o levavam a ter como certa a restauracao, de Maistre esperava que 0 engrandect- ‘mento da Franca conquistado pelos revolucionarios acabaria por be- “¢MAISTRE (950) 9 134 “SY4AISTRE (936) 165, “OE possvelquepane dl anda demonscada por de Mate advess decal police Tet Stesforcae sm pinar equndvo dew retawasto “doce” emoderda visa 2clmor of fecses quanta Se coneaiteeat da vol di mena MMAAISTRE (19361, 9.3638, neficiar futuramente & prépria monarquia, aumentando-Ihe o poder € agloria. Efetivamente, nao se pode rotular as posicdes de J. de Maistre acerca da revolucao como as de um reacionirio tipico. Veja-se © ‘caso dos jacobinos: mais do que simples pragmatismo, o olhar maistreano sobre os pattidarios de Robespierre as vezes adquire conotacSes de admiracio e mesmo fascinio ("Eentretanto, nesta guerra tio cruel, t30 desastresa, quantos pontos de vista interessantes! ‘como se passa sucessivamente da tristeza admiracao!"*5). Fascinava ade Maistre a capacidade demonstrada pelos jacobinos de mobili zat a5 massas populares francesas: excitadas através de imagens € dliscursos revolucionarios elas eram levadas a combaterferozmente 0 inimigo extemo em nome de ideais, tornando-se um exército formi- davel*6, Ele parece invejar esse poder e desejar que a monarquia tivesse tal forga de sedugéo. Também eram pouco ortodoxas algumas formulagoes rmaistreanas sobre religido. Retomando argumentacio desenvolvida piginas atrds, le parecia apreciar a lgreja mais por valorizar sua im- portincia como sustentéculo da ordem e menos por conviccdo cato- ca. Quanto 4 monarquia, igualmente esposava idéias pouco condi- zentes com a imagem de um reacionario fandtico. Considerando a diversidade de povos existentes no mundo, admitia que em alguns ‘casos fosse apropriado aceltar organizag6es politicas distintas da monarquia. A melhor forma de govemo setia aquela que garantsse ‘ao povo em questio a estabilidade das instituic6es (sempre a ordem ‘em primeiro), ¢ em alguns casos a democracia poderia ser adequada. No entanto,de Maistre achava que a democracia tendia a ser efémera (CEm geral, todos os govemos democriticos nao sao mais que mete- ‘Fos passageiros, cujo brilho exclui a dura¢ao"), potencialmente ces- pética ("Mas de todos os monarcas,o mais duro, o mais despético, 0 mais intolerivel, é 0 monarca povo"™”) e somente em situacdes muito raras reuniriam-se as condicSes para torni-la vidvel. No geral, o siste- ma mondrquico seria superior, pois se constituia na forma mais favo- ravel a durabilidade e 8 manutencdo da ordem. Escrevendo sob o impacto das grandes tragédias do século XX alguns analistas da obra maistreana “temaram contra a maré” da interpretacio clissica, questionando as opinides correntes sobre as, idéias do saboiano. E. Gioran e |. Berlin, por exemple, criticaram a SMALE (1938). 034. “5 0g hema de Rabespere poderia ter cossequio esse prod [a ita da Fanca ‘Sobre a Coalzo | se monsto de fo, ero de sangusesuceso, esse tev fenomieno {Citot a0 mesmo tempo tm horrvecasigoinpost aos fanceses © Unico meio de sar» anes, Ee ino os rancor Svslndsenditecu eu coractes,elouuocnt-cx camo ‘anguedos pauls sé cuelutassem comolnsanoseesmagasem todo cs inimigos” BERLIN (1991). ppt22-125 “AIST (1957), 151 caracterizacao de Joseph de Maistre como sendo apenas um profeta do passado, um homem de idéias retrogradas a ser esquecido ou, quando muito, anatematizado como inspirador da restauracao monérquico-catélica-feudal ‘Ambos tentaram estabelecer lacos de afinidade entre de Maistre e as ideologies nazi-fascistas contemporineas, negando que as Idéias maistreanas tvessem perdido interesse para a atualidade. Mas 0 que em Cioran nao passa de sugestao®, em Berlin é uma postura afimmativa associada a andlise cuidadosa. Para 0 fildsofo radi- cado na Inglaterra, de Maistre pode ser considerado muito préximo das bases do ideatio fascista, como deixa claro no titulo do estudo dedicado 20 autor de Les soirées de Saint-Petersbourg: “Joseph de Maistre e as origens do fascismo”. Para Berlin, a flosofia maistreana se destaca do reacionarismo tradicional (inclusive do proprio de Bonald), na medida em que apre- senta elementos dificilmente enquadraveis no modelo classico embasado na defesa da monarquia e religido. Suas idéias representa- vam “algo 20 mesmo tempo muito mais antigo e muito mais novo - algo que, de maneira concomitante, faz eco as vozes faniticas da Inquisicdo e se constitui nos primeiros indicios do fascismo militante e anti-racional dos tempos modernos™. Berlin destaca alguns pon- tos que tomnam de Maistre proximo aos seguidores de Hitler, entre outros: a postura critica frente 4 ciéncia e a razdo, notadamente a dentincia da potencialidade subversiva do conhecimento; a compre- nso do mundo como violento por esséncia, bem comoa defesa do caréter necessério de tal violéncia; a afirmacdo dos valores coletivos ‘em contraposicdo ao liberalism e ao individualismo, responsabilizados pela dissolucao do organismo social. ‘© argumento esposado por Berlin tem fundamento. Efetiva- mente, hd vinculos de afinidade aproximando a obra maistreana do fascismo. Acima de tudo, me parece que os fascistas aprenderam e utiizaram eficazmente os ensinamentos sobre a natureza do com- portamento politico dos homens - sua necessidade de representar ‘Por ylta do ln do sao pasa, no age da uso eral ea poss drs 20 no de ‘hamlets do pasad de conider-loumarcasno ofendmene aberrant Mas, ‘Souma epoca bem mae dedi, cabomoe qa le Snow pla pro fa de tesido ur “monsi e ae precsomente race facet odosa ce suas dourinas qa le ive. oe ele Gatun” CIORAN, EM relsce In MAITRE Joseph de Texts hols or pa EM. GORANI. ‘Monaco Eatons ov Recher, 1957.9 “Se ee presse alguns dis convalsces cue iar ‘yt Eaops de no reve acl de que smos vita Masa aducdad dane poecae ‘no deve no ater serce ce vsta seus mits nem 2 atalidade do tetico da orem e SHlosdadeo ia, e dress do 2 cance de ser mais cenhecide, cea sido. lspeador de Todas as toras ce ood poli,o pn 2 proce dod es despetst0s den seul, Op. Cit ps. rR (9911 9124 "Sob uma forma mas stnplese sem dda muito mals ce, nas em cortedo precsarente ‘como fo pregado por De Mase, tudo so ez no cre detodis as doutrnas oul” BERLN (77) 9.10, vivenciar © politico através da f8, do sagrado e da paixio -, embora provavelmente tenham sido apresentados a tais idéias por autores mals modernos, como Gustave Le Bon, por exemplo. O nazi-fascismo é, sem diivida, herdeiro de todas as correntes intelectuais do século XIX que se colocaram em luta contra 0 iluminismo. Nao ha por que estranhar 0 fato de existirem pontos de

Vous aimerez peut-être aussi