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CAPITULO IV COLONIALISMO E REVOLUCAQ: FANON ENCONTRA BOURDIEU ‘Aauilo que Fanon diz no corresponde &realidade. E at pe rigos feze ot arslinos areata nas cous que le afi, Isso ria entret-los com utoplase uses. Ea acho que ‘esses homens [Sarre ¢ Fanon) contribulam para wansformat a Argélia sguilo que oa se torov, porque eles conan est Flas para eldadosargelinos que, wis ves, desconbecent se priprio pts mais do que o francés que fla sobre ele; coms, 08 srglinos conserva lubes upicn € comple- ‘ements eases acerca da Agi...) Os tetor de Fanon 6 de Sante sio assustadores por sva irresponsabilidade. £ preciso ser megalomaniaco para pentar gue pode dizer ‘aot cota som sonido, Perse Bourdive! O espectro que rondava Bourdieu A postura de Bourdieu perante 0 marxismo torna-se mais € mais hostil & me: dlida que vamos de Mar para Gramsci e de Gramsci para Fanon, Bourdieu Linke profundo respeito pelo brilhantismo ¢ discernimento de Kat! Marx ¢, decerto, como eu mesmo afirmei no capftulo I, sua sociologia pode ser vista como a extenso da economia politica marxiana para dentro do campo da cultura: ela foi uma economia politica da cultura. E embora Bourdieu proce- lor russe se distanciar de Antonio Gramsci — com suas nogées de hegemenia, de consentimento, de consciéncia, de ideologia e, sobretudo, sua concepgao do intelectual orginico —, pode-se detectar mesmo af algum resquicio de simpa- tia e respeito — como quando Bourdieu usa as ideias de Gramsci contra 0 Partido Comunista Francés, por exemplo, ‘Fé quando chegamos a Frantz Fanon, acabou-se a simpatia — como pode- ‘mos ver pela citagao acima, retirada de uma entrevista com James Le Sueur, Bourdieu cita Fanon até mais raramente que Gramsci, mas, quando 0 faz, & sempre com veneno na lingua: “Bu desejava me desvencithar, sobretudo, da especulagiio. E 2quela época [anos 1960], os trabalhos de Frantz Fanon, espe- cialmente Os condenados da Terra?, eram a sltima palavra; e eles s6 me im- pressionaraim por serem falsos ¢ petigosos™. Desse modo, o difloge que estou prestes « entabutlar aqui pode nunca ter ocorrido, entretanto, é importante re- constitu-o. E devemos deixar que Fanon responda a Bourdieu A antipatia de Bourdieu por Fanon — embora no conste que Fanon tenha sequer encon ado Bourdieu — talvez.seja profunda porque ambos viveram na, Argélia na mesma época, porém, frequentando universos separados: o primei- ro, atuando como pesquisador distanciado e simpstico &éificil situagao colo- nial, procurou resgatar a dignidade do colonizado ao escavar 2 verdade da sua vida; © 0 seguado, como psiquiatra da Martinica formado na Franga, lidou diretamente com vitimas de violéncia em ambos os lados da clivagem colonial (Oprimeiro era ligado & universidade e aventurou-se nas comunidades argelinas tomadas como campos de pesquisa empitica, enquanto 0 segundo trabalhou em um hospital psiquidtrico antes de se comprometer com @ movimento pela rtagio nacional. Para usar novamente os termos de Gramsci, como primei- +9 aproximagio, pode-se dizer que Bourdieu foi um intelectual tradicional, enguanto Fanon foi um intelectual orginico, Como ainda veremos, essas foram 1s concepgbes de intelectual que cada qual defendeu em seus trabalhos, muito cmbora, inevitavelmente, suas préprias prétieas enquanto intelectusis fossem algo mais complexas. Os trabalhos mais conhecidos de Bourdieu sobre a Argélia — Esboro de uma teoria da prética (1972) ¢ sua subsequente transformagio n°A ldgica da ratica (1980}* — foram escritos muito tempo depois de ele ter deixado a Argélia © de 0 pats ter safdo do contexto colonial. O povo cabila” que ele os (© povo cabs. Os berberes sto povos nas que habtam extenss repies do Szaré edo note da Arica (Marrocos, Arg, Tanisia, Lda ¢ Egito) Dente les, encontr argues © os cabs. (N60) 108 CoLomALisno & nevoLUGAO: FANON ExCONTEA BOURDIEU tudou nesses atados densamente te6ricos vivia em um cosmo sem tempo nem contexto hist6rico. Em contrase, seus trabalhos menos conbecidos c redigidos enguanto ele ainda estava na Agia ou logo apés isso concentram o foco mais diretamente nos efeitos do colonilisino — como vemos em A soclologia da Argélia (1958), Trabalho e rabathadores na Argéliat @ O desenraizamente? Esses textos so menos teGricos e, no lugar disso, lidar com a problematica dda modernizagdo no préprio contexto da ordem colonial argelina. So esses primeiros rabalhos que nds devemos comparar¢ contrastar com Os condena dios da Terr de Frantz Fanon, Porque, se 0 projeto de Bourdicu era & recons- trugio da teoria da modemnizagio, a meta de Fenon era a reconstrugéo do mar- xismo.A seguir, eu tentarei mostrar que a teoria de Fanon sobre 0 colonialismo «© a revolugiio pode ser vista como ume adaptago gramsciana a0 contexto colonial — esse Gramsci cujo trabalho (até onde se sab) Fanon jamais eu Cruzando os mesmos caminhos Fanon e Bourdieu estiveram na Argélia na mesma época, durante o agrava- mento dos conflitos pela libertagdo nacional (1954-1962). Bourdieu chegou ‘Argélia em 1954 para cumprir 0 servigo militar, apds o qual, ee se viu enval- vido com os destinos daquele povo e daquele pats, Ble optou por permanecer, lecionando na Universidade de Argel, indo da filosofia para a etnologia c a sociologia, mergulhando em um programs de pesquisas sobre todas as facetas a vida popular argelina. Cruzando as zonas de guerra, ele se tomou cronista « testemunha presencial das envolventes lutas anticoloniais — até que sua presenga ali se tomasse politicamente ingustentvel. Ble foi obrigado a deixar © pais em 1960 e, apés isso, retomnou & Franga pars ingressar na carreira de sociélogo —carreira marcada de maneira indelével por suas experiéncias na Argélia. Vindo da Franga, onde havia completado recentemente o bacharelado em psiquiatria e medicina, Fanon chegou & Argélia em 1953 — um ano antes que Bourdieu, Lé, ele seria nomeado diretor do hospital psiquistrico Blida-Joinvil: le; foi por intermédio dos pacientes que ele conheceu os traumas e horrores. do colonialismo, Cutiosamente, Fanon também fez viagens de campo a0s ca: bilas, explorande sua vida social ¢ mental in loco. Envolvido na guerra pela libertagzo nacional, Fanon foi expulso da Argélia em 1956, indo primeizamen- {e para a Tunfsia, onde prosseguiu com seus trabathos em psiquiatria; e poste- riormente para a capital de Gana, onde se tornou embsixadoritinerante da FLN 109 [vente pela Libertagdo Nacional Arglina] em vros pases Jo norte e este «a Attica, Fanon morreu de leucemia em 1961, pouco antes de a Arglia com 4uistar sua independéncia, mas nfo antes de ele mesmo concluir Os condena dlos da Terra ~ a biblia des htas pel libertageo colonial ao redor do mundo. Pode-se dizer que tanto Fanon como Bourdieu estavam bem preparados para desenvolverinterpretages originais sobre seu periodo argelin, Bourdieu crescene se cri em umm pequeno povoado no Béam, ond seu pa se elevou de eampones artendatatio a funciontio dos correics. Foi seu brilhantismo acadtmico o que the abru as ports para a Ecole Normale Superiéure. Fanon cxescen ese criow na Martini, no seio de uma fami croulae aspizante & classe media, Ele ingtessou no Exército Voluntério Francés om 1943 e, depois 4a guerra, estudou om Lyon, Ambos os autores tiveram amargas experiéacias de marginalizasto na Franca 0 primer, com bese na classe, que Bourdieu alude em seu Bsboso de autoandiise © o segundo, com base na raga, que Fanon expe no seu eslebre trabalho Pele negra, mdscaras brancas” Portas, cles estavam bem equipads para reconhecer as sbominveisexclusées¢optes- Bes que jaiams na essEncia do colonialismo — muito embora suas origens énieasenacionas fossem coloct-1os em posigdes bastante diferentes na onde colonial. Mesmo assim, a forraagio académica deles devia se ajustar a0 novo meio. Ambos eonvergiram para sociologia o primeiro a partir do filosofia, que Bourdieu acuseva de estar afastada demais do estudo das experiéncias és vida eal © segundo, a paris da psig, que Fanon dizi ter cbiculdades para compreenderanatureza esiruturlesstica da opressio colonial. Além disso, suas sociologies convergiram também na medida em que ambos maativeram certo interese na psicologia como companiicira necessviae insepardvel éa pesquisa sociolégica— fto expresso tanto na nebulosa nogo de habitus em Bourdieu como na influéncia de psiquistria lacaniana em Fanon, A convergéncia das teorias acerca do colonialismo e sua capitulagao Dadas as distintas imers6es desses autores no contexto da Argélia colonial, poder-se-ia esperar que Bourdieu — 0 sociélogo francés que se manteve na Argélia depois do servigo militar — ¢ Fanon — o psiquiatra mectinicano que 4ié havia sido vitima de racismo na Franga — adotassem posturas diferentes ‘com respeito a situaglo colonial, Tal expectativa de divergéncia éintensificada 0 {COLONIALISM & REVOLUGKO: FANON ENCO¥TRA BoURDIEU quando consideramos o derradeiro veredicto de Bourdieu sobre as obras de Fanon, como sendo “especulativas”, “imesponsaveis”, “perigosfssimas”. $6 se pode ficar surpreso, portanto, com of incriveis paralelos entre suas abordagens da estrutura do colonialismo, da guerra civil anticolonial e da queda da ordem colonial, Para convenc®-Ios da fantdstica convergéncia entre esses autores, eu procurarei citar largamente dois textos seus, ambos escritos em 1961, ou seja, ‘um ano antes da independéncia da Argélia, a saber, o artigo “Revolugzo dentro da revolugio"” escrito por Bourdieu ¢ anexado ao livro Os argelinas": ¢ Os condenados da Terra, escrito por Fanon, Podemos entéo comegar com 0 préprio significado do colonialismo que Bourdieu e Fanon viam como um sistema de dominagio em que o que preva- lece € a violéncia, Sobre isso, Bourdieu escreveu: Em poucas palavras, quando conduzido por sua propria légica interna, o sistema colonial tende a desenvolver todas as consequéncias implicitas no moiment dx sua oumagao:« completa separagdo das castas socials. A revolugie violent ea repressio pela violencia austamtse com perfeigo & coeréacia Iogica do sistema, (.] Com efei= (0,2 guetrarevetou com claeeza o verdadeito fundamento da ordem colonial: arelagio spoiada na forea bruts que permite A casta dominante manter sig inferior, asta dominads numa A linguagem usada por Fanon € mais provocativa, porém, seu sentido é 0 ‘mesmo: “Seu primeiro eucontto se deu sob o signo da violencia; e sua coabi- tagio — melhor dizendo, a exploragao do colonizado pelo colonizador — foi levada a cabo com o grande auxilio de bombas e baionetas”, Tanto para Fanor ‘como para Bourdieu, a situagio colonial significava no apenas dominacdo, mas também separaglo, ou, melhor dizendo, segregagdo —~ uma segregagzo {que no admaitia compromisso ou permissividade: ‘A zona habitada pelos colonizados nunca é « mesma zona habitada pels coloniza ores. Essas das reas se optem, mas nlo em fungéo de uma unidade superior. Regi dos por uma Iégica puramente arstoélic, elas obedecem a0 principio da exclusio ecfproca, em que nfo I conciliago possvel: um des lados € excessivo" Os paralelos entre as duas descrigGes da situag&o colonial ecoam nas con- sideragdes feitas por eles da experiéncia subjetiva do eolonizado, EntZo, citan do como exemplo, Bourdieu escreve que “respeito edignidade” slo as primei- ras demandas dos individuos dominados, porque eles tém experimentado © uw ‘colonialismo na forma “da humilhasaoe da alienaeo™®. Da mesma maueira, Fanon esereve que 0 colonialismo “desumaniza 0 native; ot falando ser r0-

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