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Carlos Fausto Os Indios antes do Brasil 4 edigao ZAHAR Coppi © 200, Caos Fas orig em ©2010 a "fc a Err Sumario wives si 200s. Rok ce ses sth 3 Sean tro Taxios ox dircivos reservados. Introducéo 7 ssn ot pata, ines wore (La 9810085" Uma visio continental 9 A.sombra do Inca 16 ree : Sob as aleas montanhas, a natureza 22 Gack eed ane © noss0 Nilo 30 ium con No reino dos caciques 36 Vint deel Deb A vitzea ma historia 42 Corps Tp eon Eis Gis id, Fortes entre canais 51 Ines: Magn aes Blas A terceira margem 60 = As margens do mar 68 _init Nc di i Apindce 82 | ra rd ses do nt Cat ur, — 4 -| Cronologia 84 Alek Ride Juco Za 210, z Refertncias¢ fonts 87 Sugestdes de leitura 94 Agradecimentos 93 su aid et — Ses ere, ee Somes Tans ot p64) Credits dos iustracdes Mopes Max | Adipado de Handle f South Ameen In, Buln of he Bana of Ameren Ema Si sino Tnstution, 1943, v5; per Napa Apacto de ing Howse, Te Tn New Hine Yale Unity Pr, 1930 Mapa 3 Bai do io Amazonas ‘Maps 4. Adapado de Mil Heckeaberger in Adato No- 25 (rp) out mare do Oren Ras ei Ne Financ ampli das Earn 1 Map 5 Ac de ecortacia do cena Maa 6 Espansto thine don Gua Tian (squndo Bache, 969) adem 8 isrogses 1 Un com dono ex Ato Forte, Maj Z,Nloce no so ia, Ao Rio Negra, Foes de Teador Kock-Grinbeng 1908 3: Ritual ier no Ako Xingu Foto do seo, 198 Bgl de Jui Five (187, deed Vig loaf de Alzane Rodigus Rei §; Yt ares de un lds sevane moro das Mos. Foo 4 Helmut Sick dada de 1040 Argue Mae oe {lio Alan 0) paicand bd. Comis p Ee da Jide Autoasdo Urcunaean Passe ea. Dequah 7- lator, flame de lingua guaran Foto do sung, 1989 File Bra. Ft de Hain rena, 1986 ke Muse do Taco Introdugao fimagine-se nas Améticas no momento de sua “desc pera’ Imagine-se um membro da expedigzo de Or lombo deixado, em 1492, nailha de Hspunila: lnc. Bie ae, tazido a continent, vt reve tempo de conhecer a América do Sul, de pontaa ponea, Cabral aportar por aqui. © que tere ving Useiam os Indios? Quants eram? Come se rganina ‘Yam? Como eram suas aldeia? Quem eram seus chefeg specials religiosos? Como conduziam a quertne gultrvam a pas? Estas sf algumas das pergurtas que este livro pretende enfrenta. A tuefa no & fii, pois voc, leitor, se aqui esteve antes de Cabral nio nos deixou nenhum escrito, Pag Sptbecer os indios antes do Brasil tems que econ ihendtncias omecidas pla arquoolgia paling. jis istrica, conhecer as desrigdeslogads plot ce fonizadores © missionétos dos séculos XV ¢ xvi e seudar as populagoesindigenas contemporincas, Mac an Anim examos em terreno seguro, As dress wp ‘is colocam obstcalosconsiderivcs& aquoloy Ossolsdedos eas ntempérie natarsisdesrem boa porte dos regio da presenca humana. Tudo, ee peda trabalhadacacrimica via p:0s505 madeira, pala, ests de alimentos preservan-se mal. Ademais Morea densa econde 2 maior porgo ds sos ‘eupados pr historcament. Hi vasas reas do con- Cinenteqiesto nda hoje ser igotado panto de vista arquolégico. "Tampouco podemos espera respostas soguas da Linge, pois etamos lange de esporar as ares de dlsrgfo, compara eclasifiagso ds linguasind- genas queso isis reconstruc hisric. Quanto fos enttos dos primeitoséulos a olonizaso, além ke lncunares,devem sr lidos com cuidado.E preciso incerprect-loscideamente, pois nles mistram- 08 amedos eos descjos dos conguixadores, que busca descobrie our, caequiar os gents, ocupar tn “Scravia os mavos.Ademals, nen texto baseado tim petmanéncia prolongs eee os natvos pode ser ontderado fora do context colonial —o Brasil de ‘Anchit, ao menos nitro mais mesmo daqucle de Cabra Por fim, devemos considerar 0 qe os grups ind- genascontemporineos podem nos diet sobre as pulages do pasado, Seré que os sicemas socopoli- ‘cose cosmologiasaruas guardam alguma semelhanga. fom aqueles existentes na época da conquista? Em ‘matéria de demografia e geografia as dessemethangas so notéveis: hoje hd possivelmente 1/20 da populacgo indigena de entio, ea calha dos grandes rias €0 litoral ‘enconeram-se reocupados por pessoas que no se ide tificam como indios, Pr ourro lado, 0 encapsulamento dos povos nativasem um estado nacional esua insergio nna economia de mercado travem conseqiéncias dantes ausentes.Toclavia sugiro que a etnologia pode fornecer lum olhar ciico s ineerpretagSes hist6ricas € arqueo- Fgicas. Para isso, no entanto, deve-se explorar um plino de continuidades entre 0 passado e o presente {que nem sempre é evidente. Tudo somado, é possival dier que vivernos em uma itha de conhecimento rodeada por um oceano de ig hnorincia. Sabemos menos do que deveriamos, mas felizmente ainda podemos saber mai. Para avangar feumpre fizer as perguntas certss Uma visio continental Antes de focalizarmos algumas repides da América do Sul, é preciso ter uma visio geral do continence. Hi huss razdes para isso, Os sistemas sociais indigenas fexistcntes is vésperas da conquista no estavam isola los, mas articulados local e regionalmente. Ao que tudo indica, vases redes comerciais uniam dreas povos distantes. Movimentos em uma parte produ- iam efeitos em outea, por vezes a quilémetros de sae distancia, O comércio,a guerra eas migragies aticu- lavam as populagSesindigenas do passado de um modo ‘mais intenso do que observamos hoje ‘Uma visgo continental também necesséria porque muitos dos modelos sobre a pré-histéria ea histériado continence foram forjados a partir de uma oposicio centre a terrasaltas as baisas. De um lado, a grande formacio montanhosa andina, que se ergue paralela& costa do Pacifico; de outro, todo o resto a leste (mas principalmente, a floresta tropical). Oposigio entre terrenos dridos e mantanhosos, grandes escarpas,vales- sis e costas secas, ¢ uma floresta nxuriant, verde, densa ¢ timida, Nessis matas, porém, nio floresceu uma civiliagio capaz de cultivar intensivamente 0 solo, domestica animais, dominar a metalurgia ¢ co- nnhecer os ardis do poder; so contri fi na aspereza andina que se erguew tm império, cujos wagos ficaram smarcados em pedra ¢ metal Dat advém uma questio recorrente: por que nas ‘erras baixas no se desenvolveram sociedades politca- mente centralizadas, estratificadas utbanas como nos Andes? A indagagio ronda como um espectro a antro- pologia deste continence, refleindo uma visio que é contemporinea 3 prépria “descoberta’ do Nove Mun- do, Osindios do Brasil foram logo caracteizados como gente sem religio, sem justiga e sem estado — uma idéia que, elaborada pela filesofia politica, servin de base ao imaginsrio sobre o homem natural eo estado s10- de natureea. No século XIX, outtas dicotomias soma- Tams & oposgfo ene naturale civil — parentesco ers politica, sangue versus testi, staus venus operato —, constizuindo um core ene socidades lorganzadas por lagos de parentesco (mais “natuas”) feauelasestruturadas segundo vineulos politicos mais oxi, Esa dicoromia exe na base das hipsesese quests fobre a América do Sul as véspers da conguisa, O nas influente modelo continental foi proposto pelo AantropSlogo norte americana Julian Steward, na déca- dda de 1940, quando da publcagio dos cinco volumes Ado Handbook of South American Indians (Guia dos Indios sul-americanos, efeido dag parafreneecomo si). Para ongnizar a divesdade das culturas do onrinente, Steward propds dasifc-las em quawo grandes pos, hirarguizados em fungio do nivel de omplexidade. A tpologiaembora utilzand um con Juno de racosvarados, fundava-seem umaassocasio iia ete ccologis, modo de produsio c organiza- {i0 sociopoliriea. A esestipos coresponderia wma Aistrbuigio geogrfica devrminada, conforme se ve fo maps 1 No estito inferior, temos os chamados povos mar- sis, um conjunco hetrogtneo de sociedades defni- ths por posutrem uma tecnologia desubsisténcia mu twcudimencare por earccrem deinstiuiges politics, Seriam predominamemente cagadores-coletores n6- ‘restate en pnd es mari Ass gore ‘etc anes ang ctor we oa to aso se Trades, vivendo em pequenos bandos e retirande seu ustento em ambientesindspitos. Fsses povosescariam Koncentcados em txts reas de campos abertos, embora un concigbes climdticas bastante diversas: 0 Cone 0 Chaco ¢ o Brasil Cental. “Acima dos marginas, reams as tsbos da floresta pical. Estas viveriam em aldeias mais permanentes, im dispersas no terrtério, Congregatiam um nic ero maior de pessoas do que os bandos marginals, Wpacas 2 agricultura de queima ecoivarae 8 explorasso Ale recursos aquiticos, mas carecsriam de insctuigdes Popriamente politcas. O principio organizacional fontinuaria a ser @ parentesco — no haveria poder Politico ou rligioso destacado, e © panorama social feria dominado por um nociveligualitarismo. S Hsles desse tipo estaiam dispersas pela maior parte do ontinente, ocupando quase toda a Amazbnia, a costa io Brasil e das Guianas ¢ os Andes meridionais. 1Na regio circuncaribenha ¢ nos Andes serentio: Mis, aparcceria um outro tipo de formacio social, faracterizada por um desenvolvimento iniial de cen Klizagso pollticee religiosa estratificago em classes intensficagio econdmica. Embora apreseneassem Tecnologia e cultura material semelhantes as das eibos a floresta topical, Seward considerava que esas so- iledadestnham ulrapassadoo nivel de orgnizagio Hocil bascado apenas em gos de sanguer grupos Findados em categoria de parentesc, ida € sexo ae cdavam lugar a classes sociaise& especalizacio ocupae ional. © poder ¢ a religiio institucionalizavam se, ‘evando ao aparecimento de chefés supremos,sacerdo. ‘es, templos eidolos. O igualitarismo da Floresta cedia lugar & hierarquia e ao poder Por fim, no topo da classficacio enconeramos a ivilizagio que se desenvolveu nos Andes Centrais¢ na costa do Pactfico ¢ que teve como ponto culminante o império inca — uma experiéncia expansionista que durou cetea de cem anos antes de ruir com a chegada dos espanksis. Fopulagées densa, sistemas intensivon de produgio agricola, criagio extensiva de animes, apatelho estatal desenvolvido com formas sofisticaday de administracto pablicae extragio de wibutos, esta. tileagto social, especializacéo e desenvolvimento de ‘écnicas como a metalurgia cudo isso fara do mundo andino uma excegio fente as outras sociedades do Essa clasiicagio quadripartte dos povos da Amé rica do Sul esté na base de uma tipologia geral dos sxtigios de desenvolvimento saciopolitico, proposta Por Elman Service em 1962, Service designow tas sstigios bando, ribo, cacicado e estado, consagrando uma Seqiéncia evolutiva até hoje influente na anquco- logia. © modelo do HSAl acabou, assim, refiaseado ¢ seneralizado na literatura posterior A discussio sobre a paisagem etnogedf ‘ente no momento da conquisafoidominada poressa do conti oe Hipologia cvolucionist, realizada & sombra do estado, A propria casiticagto de Steward fora, na verdade, oncebida de cima para baixo. O império Inca, como pice do desenvolvimentono continente, acabou por nie os demais tipos por carénca, evando & care. izasso dos povos das tetas baixas pela negatva ss0, estringiram-se os problemasa seremenfict tos pela arqueologia a duas perguntas bisias: serd le todos os povos das cerras baixa, de fat, nido ham aquilo que os incas tinham? E por que no 7 Gomo ninguém diria que houve alhures sociedades Ho complexas como nos Andes Centrais, a primeira uestio deslocou-se para o tipo seguince, oseacicados, Aisim. clase raduziu em: serd que 9 existiram socie thes estratiticadas e hierarquizadas de tipo cacicado Bit torno do mar do Caribe e no norte dos Andes? Ou ieriamos reencontri-las, ao contedrio do que pense W Steward, em ourras regides do continente? Nisco side uma das polémicas mais éspera da arqueologia Aimericanista contemporinea, dividindo aqueles que Bim e os que defendem a existéncia de cacicados na Amazonia pré-conguisa Um dos pontos nevrilgicos refere-se & demogratia, Ditmas especificamente densidade demogrifica. Nos Midlelos de Service e de Steward, a cada uima das Formas organizacionais corresponde um limiar demo- Uilic, pois e supe que o desenvolvimento instita- “18 cionaléuma respstaadaptativa ao crescimento pop lacional A medida que a populagio aumenca ¢ se dens, novos mecanismaos de integra organiza toxnanse ncesiis pars produ disibuir recur sos. garanir a par interna e a defisa exten. Esse proceso implica a progesva difreniago social ¢ politica: oigultarsm antes prvalecene cede logar {estatifcago ea dvisio ente dominantesedomina- dos. © motor de rodo ese proceso éo incemento popolaconal. Dest prssuposto sgiram as princiais Fipdtess para responder egunds perguntacolocada acima sob porqué de os pov ds tera ais no terem 0 ques incstnkam. Como se poderia espera, as respostas acabaram por focalizar os fatores que te riam prevenido o crescimento demo ‘como a Amavénia. ‘Antes, porém, de chegarmos &florestae suas ras, vejamos © que, afinal de contas, os incastinham que 9s outros no tinham. A sombra do Inca Nio houve nada em toda a Amética do Sul que se ‘compare ao desenvalvimento ocotrda nos Andes. Em 1500, 0 império inca estendia-se por cerca de 4.300km, desde que éhoje a feonteita sul da Colom. bia até 0 rio Maule, no Chile, Aexpansio comesara no se XIV, ¢ em menos de cem anos a elite incaica puira controlar um vastoterittio habieado pos, 10 milldes de pessoas. © inmpériaestava divi uritoral ¢ administeatvamente em quatto can- gue por sua vee dividiam-se em provincias. Cada i possufa um comandante; cada provincia, um dor. sss poscos eram ocupados por membros rena inca, escolhides pelo imperador, © Sapan ‘Anivel provincial, aviachefes clasificados hie @iticamente de acordo com o niimero de cass ou (unidades de triburagio) sob sua responsabil- ‘A addninstracio do estado nfo era sustentada pelo nto de impostos cm dinheiro ou produtos, mas traballbo. Cada rego inha suastereas dvididas em pores: para o Inca, para religitoe para o uso da lagio, Os homens adultos tinham que cultivar, fe parce do ano, os campos do estado, além de em outros servigos adicionais (como servi © cio ¢ trabalhar nas minas ou nas construgoes ilies). Em cada regio, o governo mantinha dois posits (um para © produto dos campos do Inca e no para os a religito) havia também armazéns na ial das provinciase outros em Cuzco, o centro do is ‘Os armaeéns srviam pata sustentar a nobre- ipsservidoresdo estado, os sacendotes funcionétios os temples, os tabalhadores a servigo do governo, © Teicito « os arteséos especializados, ber como para “7 promover efimdnias pals, Além ds recursos ag tila estado tinha hegemonia na ciao de Ihamas e alpacas Aperadacomplexdade da administra do imp si ho hava ect. Uilinava-se o gpa um sisters bande em codas com ngs que Fanclonavam come reas maeménico para servidores do estado, cua fang em memoria recontr as histras, mits e ensoscatacics, Para a comsnicagio administra, Cla sea wansmisso oral de mensagens: 20 longo das via principas, em intervalosregulres, hava um pow com joven comedotes, que etabeleiam uma Enis de informagio ene as provincias e Cuzco. O certo era ecorado por uma rede deetradss, 18 Tando crea de erina mil qulémetos. As dus pri igus vias aavessavarn 0 impétio de norte a sal — tins ao longo da costa, ota plo panto —¢, junto om estadas menore,igavam todos 0 seus nces ‘imagem dascstrads erga hrigos earmaréns com provses, permitindo 0 deslocimenco de grande mimeo de pessoas. “Tal erganizasio permit n20 apenas a expansio do inpétio omo sua relativauniiacio. Um dos problemas cencrais paraa cite inca era administrar uma popula- ‘gio muito diversa. Ap6s conquistar Un einer © (errr, o estado promovia uma ampla ragio,Faris-seum levantamento da opografia. rss da regio erealizava-se um censo demo- partir da, reiscribuia-se a populacio local, mse terra, escolhi-se uma capital provincial fava-se uma nova administragio em moldes GAcohian-se08chees lca que se submeres mando-os em funcionéros, ¢levavamvse los para seem educados em Cuzco, Desgnava- overnador, proveniente da nobreza, para a e€ enviavam-se colonos e administradores de provincias para instalar © nove sistema edise- fo quechua, a lingua franca do impétio. fsa estrutura que eaiu nas méos de Francisco joe de um punhado de espanhdis no ftiico ano $92. As rzdes de sua dereocada si viras, © cabe estar duas. Alguns autores sugerem que, na he 1520, availa j hava sido introduzida ese pelo impétio, causando danos em Cuzco © Ploviiciss. A se julgse pela grandera dos danos doy por events varilicosposteriores, registrados Eronisasespanhis, a morealdade pode te alean- p acsa das dezenase aré eentenas de milhares de tas, As epidemias teriam, assim, abert 0 camino Piratro anos ares de ee colocar 0s pés no altipla- ‘Asdoencas nao eriam apenas 2frado a populagto impévio em gral, masimposto umaalta penta sobre Tobreza inca, marando inclusive o Inca, Hiuayna Capac. Sua morte repent levou a uma feror disputa pelo poder ¢& guerra civil © sucesso legtimo era Huascar, filho de Huayna Capac com sua prépria ema fruro de um lidimo casamento incestuoso real. Mas havia Ataualpa,filho ddo Inca com uma esposa secundaria. Ele governava (Quito, tinha participada das campanhas militares de seu pai no Equador e estava juno a ele no leico de morte. Contestanda os direitos de seu meio-irmio, Aahualpa sustentava que o pai, ances de falecer, havia decidido dividiro império, conferindo-Ihe soberania sobre a parte setentional. Se resultasse apenas dos desejos ¢ capacidades de Atahualpa, a rivalidade pela sucesso nao teria prosperado, Porém ela vinka ingre- dientes estruturais profundos. ‘A razio escrucural atende pelo nome de heranga dividida, um sistema de transmissio de bens e dieitos implantado pelo imperador Pachakuri (1438-1471), ue fora 0 motor das conquistas. Segundo essa regra, quem herdava o poder nio tina legado material (Quando da morte do Inca, um de seus filhosassumia 4 chefia do estado. Recebia 0 direito de govern declarar gueras, Fiera paz, cobrarimpostos, mas no recebia qualquer propricdade material. Tudo © que pertencera a0 Inca morto passava para seus outros descendentes em linha masculina, que formavam um grupo socal corporado denominado pana. Eleseram responsiveis pela preservagio da mimia do Inca e pela +20. mig desu culto. Parasermos fis concep @ Inct morro, representado por sua mimi, A possuir os bens e ser servide por seus pit da heranca dividida significava que tudo 0 fara ca administracso anterior — obras € j= safam da esfera do estado, A cada suces- iso comerar tudo de novo: o rei recém-che tins alternativa sendo ampliar os limites do ®, eonquistando novos povos e novas teras. No alo século XV1, 0s Incas mortosjé detinham o Ailinhao das terms ¢ nfo havia mais para onde ir sem corre riscos insuportiveis, Eno Ai nccessidade de expansio, o império jé era dlemais ¢ administeava uma populasso diversa |panacas dos res mortes formavam verdadeiros bs dentro do estado, enfraquecendo o poder do falimentando a svalidade no interior da elite. A jva para Huascar mancer sus lideranga seria, fo, reformar o sistema e enfrentar as cortes dos ortos. Nao foi capaz de fazé-lo, Por volta de 0, adlisputa pelo trono resultou em guerra civil. O ipitiosedividiu em combare. Atabualpa vencet, mas Tevou. Pizarro e seus homens atalbaram-no em jaca, quand estava a caminho de Cuzco. Cap. memo, receberam um yasto resgate em metal elos0e, 20 cabo de alguns meses, oexecutaram. Era ae ‘fim da trajeéria expansionista de uma populacio que ‘conquistara @ mundo andino. [Nao cabe aqui recuperar a histéria dessa expansto. ‘Cumpre notarapenas que os incas nfo construfram um clos maiores impérios de seu tempo a partie do nada. les o izeram sobe erlhas antes exploradas por outros ppovos, em particular em dois dos grandes centros inradiadores do desenvolvimento cultural na rego: 0 alkiplano meridional, em tornodo lago Titicaca — hoje na Bolivia —e a costa norte do Peru, Nessas eas, hi indicagdes arqueoldgicas da presenga de sociedades centralzadas eestratifcadas desde 1500 a.C. Muitos autores empregim o cermo cacicado para caracterizs- Jas em certos caso, falam em reinos, estades, e mesmo ivilizagio ow império. A despeito das incerteas de qualquer reconstituicio arqueol6gicae das improptie- clades das caregoriastipoldgicas,o certo € que na regido andina e na costa do Pacific asistimos 20 descnvolv- mento de formas sociopoliticas cujos paralelos com coutras regides da América do Sul sio dificeis de se estabelecer Sob as altas montanhas, a natureza A sombra monumental do Inca obscureceu durante muito tempo a floresta tropical. Julgada ao revés, por aquilo que nio tina, ela tendeu a ser vista como um fe Indspto. Os Andes ea costa da Putco, il, surgiam como o principal, sno tnico, Binvensao cultural no continente: lugar de ddomesicaio de planase animais, da ma- Kerimica, do uso do metal, de um sistema eado no trio scerdoe-tmploidolo, da politica eda esratfcago soca de Steward conseruu-se em acordo com profundamentecarazada na corlhcira m plonisis. Segundo esa visio oimpétio inca Wa fonteica intransponsvel a lest, ali onde uma Floresta malsie pergoss, povoada por Hager de costumes animalecos. Tl versio da entre eras alts © sua verteme otenal foi da partic de uma visto natva, anterior 3 spanhola, que esultou das facassadas de expansio inca sobee a mata tropical. Os iperiis, acostumados a percorrer grandes ev em esradas bem providase a lutarem campo jy definhavam e morriam na vegetagio cera, mse adocciam, passavam foe cram alvo fc Betas cereias dos guerezos da Borst 1D Incas, e depois os espanhdis, consrutram uma entre, de um lao, formagées plenamente do ahipleno ¢, de outto, aqucas quase ms” das teas baixas. A ores seit, asim, ada negativamente is artes da civilizastoe posi jenteaos poderes migicosdlo xamanismo, oscilan- 2 doentreo natural eo sobrenatural. Aculturaeo estado civil, por sua ver ficariam reservados etrasaltss. Foi esa a imagem que Steward trouxe para dentro das, ciénciassociais. Extremamente diftndida, cla nos fe. Jgnorar que, desde um periodo remota, recuando tal e230 VI milénio aC, havia uma interagdo importante entre costa do Pacifico, os Andes ea floresta tropicals fe que essa interagio se fez também no sentido oeste- lest, como difusio de iéias etéenicas dos Andes para a flores Foram necessirias algumas décadas de pesquisas para que essa visio comecasse a mudar, Até 0s anos 1970 cla foi dominange na anropologia do continent. Para isso constibusram decisivamente os trabalhos da arquedloga norteamericana Betty Meggers, cujo liv de siatesee divulgagao chama-se,significatvamente, Amazonia: Man and Culture in & Counterfeit Paradise [Amazinia: a ilusio de um parasol. Ao mito do Ef ‘Dontdo, da floresta como ut repositério desconhecido de vida eriquezas, Meggers contrapdsa imagem de um inferno verde, cuja pobreza em recursos natura im- poria limites estritos ao desenvolvimento das culeuras Esposando um estrto determinismo ambiental, a aurora propés que a baisa fertildade do solo teria Jmpedido tanto o crescimento ¢ 0 adensamento popt- Jacional quanto a fixagio em um mesmo local, resu tando dal uma exstencia mével e uma ocupagio espar~ 22 os. Ambas as caractriticas teria de- ta giacio dos povor da foresta tropical abo. mi umans na Amazdnia em 1500 d.C. Tsai, daqucla descrta pelos exslogos Inais de quatrocentos anos depois do jnasfo. Se vocé, lito, ivesse de fato antes de Cabral pudesse pasar pela talvo-conduro, encontraria entéo popula p expressive relativamente isladss, viven- cas de pequeno porte ¢ praticando uma i itinerantebaseada na mandioca, fmrasescavacies que Meggers seus colabo- Feilzaram nos anos 1950 60 pareciam con- Apes de que a flores tropical éo habit Sia de sociodades simples, iguaiiriase de ort, Assim, completava-so aciocinio: nbs os 0 que os incas nha porque o incre f ddessamento populacional nas tras baizas febarrado na pobreza de cursos nacurais, oque © desenvolvimento de formas sociopolitcas formadores ¢ na calha principal liford Evans e Berry Meggets,jé I época, escavaram em duas dreas que apresen- 125+ tam regstros arqueolégicos indicativos de complexif cago socal (entendida,nessecontexto, como processo de intensificaséo econdmica, diferenciagio social centralizagio politica): bacia do rio Napo, um form dor do Solimoes que nasce na corileira equatoriana ceailha de Maras na foz do Amazonas. ‘Ailha, com uma drea de quase 50 mil km”, é arqueologicamente conhecida por grandes tesos, que ‘ocoreem em sua porcio centso-oriental, Os tes0s so atestos artificial construldos em campos inundives, com fins habitacionais, cerimonisis elou funeréios cevam-se de 3.4 20m acima da arual planice, tendo ‘em média 7m de altura. Comegaram a surgir no século 1’ dC. parecem ter sido erguidos em estigios sces- sivos atéo século XII-XIV. A maioriapossui de 1a 3ha, _mas chegam a ter dimens6es bem maiores,«m partic lars stiosarqueolégicosformades por um sistema de iris tesos (como o de Camutins, que poss ma drea ‘em rorno de 50ha), ‘Anna Roosevelt, que coordenow um grande projeto arqucol6gico na repo nos anos 1980, sugereque sobre ‘os sitios maiores erguiame vlas de I a5 mil habitan- tes, chegando a 10 mil onde havia miltiplos areeros aniculados entre si — uma escala que seria, definitiva- ‘mente, urbana. Sua estimativa para a populagio coral na drea ¢ de 100 8 200 mil pessoas, correspondendo 2 uma densidade de 5 a 10 habicantes por km’. Estes +26. ,dlever ser dos com cuidado, pois ler seo: tess foram ocupados simnul- mpre para fins habicacionais, fs aceros, porém, que chamam a logos. Hi a magnifica cerimica Tefinamenta e sofisicagio no cém e0 na Amazénia indigena (em- ‘uta cerimicas pré-coloniais, como julcurs Santarém). Os tesos contém se encontra cerimica polictdmica inelho, preto e brance),ticamente deco- fafismos pintados ow incisos,além de api io felevo com representagbes de homens € psa dle maior dimensio sio urnas fune- Het esqueletas bem preservados. A inter- inificado desse complexo mortaitio & stay Sequer sabemos quaisindividuos exam fem urnas. Haveria uma distingio entre as iris de uma lite easdegentedo comut, {sexo €8 dade do morco os fatores determi- Tsaria 0 sepultamento em belos ‘eerimica associado a um culto aos (tal qual oconhecemosnos Andes, taro na Amazbnia indigena hoje) aque pesquisas fueuras venham af wer tai questes, parte daquele mun Ser para sempre inacessvel, pois 05 yn gpeiia es dos tesos desapareceram antes more sae aque pudessem ser observadas. Nio hd quaisquer regis: {tos histéricos sobre os povos que Id viveram. Para 2 ‘maioria dos autores, o colapso da cultura marajoara cocorrew antes da conquista, pois no hi asociasao entre of aterros ¢ objesos europeus, nem datagbes pposeriores a0 século XIV, Betty Meggers e Clifford Evans, que realizaram pesquisas arqucolégicas em Marajé na década de 50, apostavam que a decadéncia (manifestada pela simpli ficacia estilitica da cerimica encontrada nos estratos superiors das escavagées) teria ocorrido por causa dos limites impostos 0 desenvolvimento cultural pelo am- bicateamaz6nico. Como explicit, porém, 0 surgimen to da culeuta marsjoara, onde se encontram registros que 0s arquedlogos costumam associar a sociedades centralizadas eestratificadas? A resposta de Meggers ¢ Brans foi postular a migragio de uma populagio su- bbandina, que se assentara na for. do Amazonas nos séculos1V-V d.C, jdotada de um padrio civilizacional clevado, Ela nfo ze desenvolvera nas planicies inunds- ‘eis, onde vieejam as gramineas e os mosquitos, mas chegara pronta, perfita em seu esplendor. Contudo, segita o argumento, assim como uma culturase desen- valve em condigdes favorives, eambém regrde se 0 meio Ihe for desfavorivel: a partir do século X1, come: satla, entio, « declinio dos Marajoara. Implacivel, @ natureza amszdnica teria determinado a involugio dae ques intrusos afeios is nascentes geladas. ot Bs hs eso as ists, hoje, acetam esta hiptese mic fo, porque existem indicios de que a fica na ilha desenvolveu-se in loco: Max fntes um local de invencio do que de fl Segundo, porque as datagbes mais ica policrdmica na Amazdnia ocortem proximas aos Andes: portant, se arma difusio (e nfo desenvolvimentos js seria mais rzoivel supor que esta se pars ese. Teeeiro, porque 4 teoria da i explica como uma sociedade demoge mente robusta poderia ter resist du {sgclos em um ambience supostamente tio {Tquarto, porquesimpliicago estilistca nao jamente regresso cultural, podendo fe uma producio em maior scala. ida nos reserva varios enigmas. Nao sabe- kemplo, qual tempo deconstrucio decada eros Teriam sido cles rapidamenteergudos, Piizagio de eabalho em larga escala, ou se in lentamente, a0 longo dos séculos, como os us dolitoral? Desconhecemos também os mo- jeulagio entre os diferentes esos ese exitiam, les, centios poitico-cerimoniais. Sobrecudo, fbscuros quais foram os processos histércos eminaram o apogeu ea queda dos Marajoara. fecras aixas da América do Sul, hé outros alm de Mara, de uma rte cerimicasofis- 129 icada (como aquelas encontradas a0 longo do io ‘Amazonas e de seus formadores) € de sociedades que onstrajram extensos sistemas de aterros (COmO €Ht lanes de Mojos, na Bolivias no cridngulo de Apure, tno Orinoco; ott no ltoral das Guianas). Seadmisiemos que a enstncia deste tipo de obra e/ou de cerdmics Faricalarmenterefnada podem apontar para socied aes mais sedencirias, cencralizadas © hierdrquicas do que aqueas carcreriicas da chamada “eure da loresta eopical”, entZo os modelos de Steward e de “Meggets necssitam ser revsts. 0 nosso Nilo ‘A virnea é calcanhar-de-aquiles daqueles que defen- “Tom a existéneia de uma imitagao ambiental estrita na ‘Amazénia. Os primis eriticos de Betty Megas, ame Robert Carneiro e Donald Lathrap, logo apont fam a regifo como um desmentido &generalidade do tnodelo. Ali nfo haveria nem limitagao & prod: Spglcola cs fxago terstrial, nem eseasser de prow aera (am dos fatoresconsideradoslimitantesao exe ‘SImento e adensamento demogréfico na cert firme), 7m sentido eno, denominase vreaa plane sonal “am te que ocr 10 longo da ca do io Amazons a ctptas de stun pincpis ales (€ também A es Oring), Ese pani chamada alia porgue 5 IB ie €fomadn pl dept, sempre renova, de +30 hos as 00 oust iin ida de que a Amazdnia central Plo de desenvolvimento cultural io de plantas edo sistema produ- Imandioca amarg, local do desensl- indstria cerimica de esilos De sua vic, Go ica quanto a populacio sempre crescent, teriam jgatsrias que iriam powoar a Amética Ilo de Lathrap basevarse na ida de flo entre um ambiente rico eao mesmo fncionaia como uma especie decom popula eculra para ours teas 40 crescimento demogpifco, posibili inca de recuse, provocaia compe- parte da populacio seria obrigada a consigo as realizagées culturais da sent para regidesditanes, Dropunha uma visio akemativa sobre a Pcl, ivertendo o ola “andes céntrio™ Steward. A Amszbnia — pelo menos a Papesto rrmporado pelo ro. © Amazonas € um mene rc ao wr mata deporte, ps oc a i den en igi lene rodindo ae args cetepando DE ise Cocaae ope es repens made 95% do trio re aan, por demas pent, fon da dente de wos anaes ds repo. ne ‘vicaea — aparecia como um lugar fétl e crate, ‘pio mais como um ambiente esterilizante. Entre 0 mito do inferno verde e 0 do H Dorado, ele prefers 0 segundo. Algumas de suas idéas, que pareciam im plausveis nos anos 1970, hoje nam sustentacio. 4 descobert dos estos ceramicos mais antigos das Amé- eas no baixo Amazonas, na regito de Santarém, vio reforgaraidéia de que a rea possa ter sido um polo de inwengao ¢irradiagio culeural. Datada pela equipe de “Anna Roosevelt, a cerimica remonta a oito milénios, endo cerea de 1a 1,5 mil anos mais antiga do que aquelas encontradas no norte da Colbmbia (San Jain to) ena costa do Equador (Valdivia) ‘Ainda que essa inovagées nfo tenham ocorride na Amazénia central, e stm mais ajusante,a visto posiiva ide Lathrap parece hoje dominar a reflexao arqueol6gh fea Amazonas, com suas cheias € vazantes, conver tea-se em nosso grande Nilo, como ji sugeiao jesutta Cristobal de Acuiia, em 1641: *Se o Nilo tiga 0 me- lor da Aftica ecundando-a com sua corrente—o rio das Amazonas banba teinos mais extensos, fertliza ‘mais planiies,sustenta mais homens e aumenta com suas éguas aceanos mais caudalosos. “Hoje, tende-sea pensar como Acufi. As estimativas demogrificasparaa virzea do Amazonas, por exemplo, salkaram dos 130 mil habicantes propostos por Steward para 1,5 milhibes de pessoas (quase 15 habi/km*), se gundo célculo de Denevan. O retorno da visio do paraiso, contudo, 6 se tornou hegeménico a partir dos 2 Jabs as 00 as tha Roosevelt, nas décadas de 1980 € fo paradigna de Meggers comegou a fea dar lugar a wma nova imagem da sta, Roosevelt renovou os méto- sarqueolégicasna América do Sul jo pesquisas na bacia do Orinoco eno Sua influéncia é hoje notivele ultca- ids arqucologia, constituindo-se tam- yma pata etno-hisroriadores e etndlo- 6 profundo sobre a concstualizagio \igenas do passado e do presente Ag efeito liberador de seus trabalhos para feglonal, a autora permancce presa 208 ‘do modelo anterior. Compartlhando © mo ccoldgico de Meggers, discorda desea iPotencial co ambiente amazénico, em par- oeante aos solos aluviis da virzea (mas ty relagio a diversidade pedoldgica ¢ ecold- flo). Roosevelt sustenta que as planicies ecenes, como as de E, Moran, apontam a Wedixingur discos ecossisemas as macioce fe tcta ime, conforme 0 sol vogtagso © Mtenager, As ivesigngSespedoliicas indica, por Moai vaabiade nu composio «frida dos ies do que se imgiar, sl da recoéncia de Inhas da charade "tena peta do Indio", solo Mong de egon da sida humans, alts snundéves dx margens do Orinoco edo Amazonas 3) saan iar, propicaramo deserasimentods rane se eioplficascomplexas. Sua ipGtese inc tered em pesquisa no Orinoro, era de qu 2100 dusiodo caltiv do miho (am geo rica em proteinas) sre nduido a um note crescimento © adenst mento populacional na itz. ‘rao a hipétese de mudanga reenolgiea 250 tenia side confiemada por sia pesqusn em Mari ten po alter aa frmulacto sobre a Kira auearal amardnica. Segundo cla a pare do PNET aaj amtes da crass mofcaBesnasatves seed onanizago das sciedades da vérzen comes sare a ovorer, com os segues ingredientes: IN ra go demogrdico,intensifiaso da producso, SP rect da produ aresanal exens das oes ae cis eataifcago sca e cxeaizaso pols Fe procewo era lvado a0 surgimento de grandes vgs complexos em rorn0 de 1000 dC. cubs racine ve extenderiam por dezenas de milhares ion abvgando populages de ros milbares de P= ware lfeadas mas vezes sab o comand de fate supremo, sas sciedades scrim bein tepansinisas com una organiza soc) hieeérgu arvana por wiburos por uma economiaisens apan de prods ceca ments em excl Fa para provar ea hips que Rooseel ralzo8 © 4 cstigasio arqueoldgica nos tesos mara jpenas parte dos resultados publicados, € que ainda nio hé evdencias aras de que Teopstrutoras dos acerros se adequavam a Resta saber 0 que suas escavagies em ppoderio nos dizer. indam visbes opostas sobre as socie- ta tropical anes da conquista, Meg- J se assemelham por atribuirem 20 fem especial 2 ferilidade do solo, um ina histéria cultural amazdnica, Seus Jnquadram em wma mesma perspectiva Roosevelt no questiona a classficagio Uy apenas reorganiza as dreas culrurais em azendo a vérzea amazbnica “subi got dos cacicados, Sustento, 20 cont preciso desconstruir a tipologia stewar- i mais Gil que cla possa ter sido, Nossas ‘dovem visar& reconstrusio dos processos ricos que, em tuma escala local e regional, fam a diversas formas de complexficas inente. uefa, accnologiapode fornecerinstrumentos Jana imerpreragio dos regstosarquecl6 tlo, muitos emdlogosehistoriadores, nota vessos 20 determinismo ecoldgico, adocam of reflexio « nova imagem da Amaz6nia pro- post por Roosevelt. Hi hoje, come no passid vm ion hiato entre a dscplinas: sem compreender Shares da pesquisa arqucoldgica, os eendlogos hist Tiare cendem a adorar sua vulgatae ulin come po de Fundo para seus eseudos. Ts if ore com eavadelo de Meggers ¢ pode vir a ocorter agora com ode Roosevelt ‘© conceito de cacicado esté na ordem do dia. Part cemendermos melhor seu significado, precsarem0s re sar ke Anilhas, onde voe? eto, fo abandonado em 1492. No reino dos eaciques Quando Cristovéo Colombo aportou nz América thas precimente nas Antihas,enconerout dens aoa, ocupada por uma populaso de lingua area rihecida como Taino, Esse povo, que seria disimado ton poueasdcadas por epidemias emaustrtos den rina seus chefs kasik —termo a partir do qual capanksis criaram 0 nelogismo cacctsgo pas desig tur uma provincia subordinada a um “eacque’, Por Tanto, ecicado & a rigor 0 sistema politico tino. fulaven ingles para cacao ¢ chim «foi wliads pela primeira wer como categoria pliner 199°, por Kalervo Ober, em ui aig sobre ipo de sera 236+ jen do Sul Central, © autor as estruturas politcas da regio em H homogéness, cibos segmencadas, dos politcamente, esados de tipo ado ¢ impérios teocriticos, chicfloms uma definicio politi terizdos por um sistema de chefia lexistfncia de um chefe supremo, com. Aistritos e as aldeias governados por kamente subordinados. Ao contririo Jporém. no existtiacoxpo de funcion’- ivos, nem exército permanente. O che- fla poder legal para resolver dispucas lens € provisses em caso de guerta. A fa estraifcada com distingio entre a no- dh por chefes, seus parentes e os grandes Bens 0 xe os ces de 0 modelo desse tipo de formacto, Ober “Taino. fste povo dominava as Antilhas, com porte le Cuba das ilhas préximas costa ‘Ao chegatem a Hispaniola (hoje Haiti ¢ Dominicana) ¢ Porto Rico, os curopeus im aldeias permanentes, habitadas por 1 a2 fiormadas por 20 a 50 casa dispostas em raga central, onde se erguiaaresidéncia ‘Alan dessa estrurura pablica, exstiam uma a Gr nan ts norris sen coletva para dangas cma quadea par 9% ae en um esporte até hoje pratcado pov alguns grupos indigenas no ea do Mato Grosso, Brasil pun as ecaieas dnp as aig ATT) oranadasindisios governades eaciquelocal penn of distitos alias, por $8 NT ra ry aricados regionals sida qe de Fone pen clara, Hava dus dss de peso (izaino ¢ opera) asada pos europens 8 norow © °° —arvve,eapecivamente, as no @stiam CTT armen uavam adomos de ou « PINEENE! Cede miscara humana come simbolo de SAN ‘Quando um caique mora suas muh podiam ser rai ias com ee, asin como se priMcPak OF 2 ates rs 0 st Os obbres eccbiam visitas sentados em ‘decorados, por veres com inerust We os espanhdis logo associaram sos I-A tcligizo giravaem torno de divin- Teei, tezmo que se aplicava também ique os representavam. Estes eram fm material variado e podiam cam os em grandes pedras. Anualmente Tiqual para os 2eeé do chefe da aldeia. ing nio diferia daquela da flores produtos, mas sim em suas técnica plantados em monticulos de Lm de Hecircunferéncia, construides atficial- fpaluvial. Excelentes canociros, 08 Taino to do rico ambiente marinho © fluvial, Fem pequenos animals no interior das tivas demogréficas para as Ancilhas no Fonquist so varias. William Denevan popula de 1 milko de pessoas em (cerca de 13 halk) e 2 miles para as pido no capitulo sobre os ‘Taino do HSA, Irving Rouse, que Kalervo Oberg propés hiafom. Assim como 0 ermo “cacigue” ado pelos conguistadores para designa fndigena do continene também oconcsito fextrapolou sua regido de orger. Ele foi peo discurso antropoldgico para designat 2. ormaybessosopolas ae PORUEN Th centro de poder sprtocal, mas m0 atado, Uma cargo pon tia que Steward ANSE singe ier da lors opie” daanels ‘dos povos ci ccuncaribenlos ‘apis os rbalhos de Elman Service ¢ Marshall sah na dada de 0, oaks gaara mu Soh ooo mundo contemporaine, aquele das ce jedaces conauistadas 20 POSES “de expansio 0 ‘oefal europa. A eaeeoria PAS” da América qu ee para a olingsia do sul dat setor wpa a pein sind oe modelo para 0: drquedlogos aque oud ciedades antgas des © He outras egies do globo: C8 ono asi» Mina caegoria abeta, sips as mals ese, exje Soke cares=ssSen CO rete deo va cain de ‘Consequenrement ore inci anqucal6eices das OTN Fndicatvas da 2 Stel de um caccado so a vasiadas: dif cas ene assests qUE PONT para wept de ump censto eRional PS pilblicas que ¢e vere enailzagio de walho eatesivosalteragoes mropoggaia ue sndiquer Senie agyicolas env0l ee abalho intensivosfeensas ‘amano ds hhabiagées, 08 ede sepultamento na loa wrens de prestigio ou as CSUN do sitio 4° poner para estat casio social artesanato reinado} Ge expreseespeciliza te seupacionals grande aa 2a Bios as 90 st i extics que evidence um rede intgagio suprlocal. Pot lees so enconuados et Het sempe so ocr comand 2 hagas em wermos de comple ina arc dif. Tampouco hi ram dees egitosipliqae Greta qu dee que tira: nada Rum constr, ceca ri peas por sociedad cent is, tors vitor deses elementos Ges es de ages socopo- Jearacter{sticas. i. Maes nique que alg dren em Made encase no past. Mrenos, porn par no inerpet Min molde solic, paradoralmente FT ives modos de ieras0, 0- Bin siamo reels para eds, que nem miei fa imagem da Europe. Adsog0 ie pesarmos toda a América do Sel pens avira — em outa esalac nivel de We S6 assim daremos conta dos processos Hnegracio c inerdependéncia, que deve iro continence, Com freqiéncia, confu- sale davse © tipo com as formayhes sociopolticg 88 ed ura bare intransponitel eDEe ‘Andes ¢ toes bainas, entse 0 Caribe € 2 OS tropical, © ere yc os chamados bandos margins, Dov" cre exgunan 20 conic, como es ONS foes lacionavam €#¢ conse ueuamente esas eelagBes. st ee ominuarngs nossa Wage pars ao ‘Ammons, passemos os olhos nas informafocs os cronistas sobre a varZE A vavzea na historia el reconsruira pusagem da irene fifi coloizagi com base ns cris 7 pce Ost ao deals" Paes vesase fram exctivos em épocts AAS tenis dapnos apenas de rele Je 15 Peediges ealadat,respctamenss CO wal rey a cxniea de Fk Guat de Cae ae paranns dic 2 conbntoda do so NAP. dee ge com Hoga de Francoco OSI we eas de membros da exeisio Pa de sa rope et paring 0 Fee, Pas Ua ace aquelas dos const Seen tr ey 0D ten 2 came say Mauro de Hei (1662), Same 2 ps 1s 4 00 BRS ap oc coi ars Ie Joto Betendorf (1698) — exisre um Bymacio de mais de setenta anos. Ouro joio do ergo, pos hé passagens Fancasiosas, como as referéncias a0 reino has ou a0 Eldorado de riqueras infinitas. bem seu conjunto as cronicas ornecem Fes interessantes sabre os povos da wirzea logar, que havia uma Hescontinua 20 longo do Amazonas: trechos leas se sucediam cram entremeados Por Ibiadas. As aldeias,Iocaizadas canto nas snargens como nas ih, varavam em tamanko ¢ el mnimero de habitagdes. Algumas tinham dimensie onsiderdves, contando com iniimeras casas alinhacl fo longo do tio — hi referencias, por exemple povoads que se esteniam por cerca de 7k sbriga Re uma numerosa populagio, Nio existem desctis dletathadas do plano das aldeias, mas sabemos qi lgumas possuiam estrucuas pblicas, possivelmend de carer politico-cerimonial. Hd referéncias a pag ‘com “oratérios”€ “cass de adoragio" contendo pars] ernia ritual, que of efonista interpretaram com cevidencia de uma religo iddlarae sacrificial “Aserdnicas também chamam aatengéo paraariqued a dos recursos naturals e para a fareura de produto tgrlcolis, Falam da abundéncia de pescado, pexesol ¢ rartarugas (as quai eram conservadas aos milharcd fam lagoachos arificiais,localzados junto & habit (es). HEE mengBes a rogasextensas © & uma copiost producio derilh¢ manda, alimentos dos quis of Europes precisavam se prover para seguir vagem. En nuitos casos, surpreende a capacidade dos incios em fornecer grande quantidade de comida a uma num rosa tropa ‘Nem sempre, porém, a interagio era pactfica. Ad relagbes com os natives sio marcadas, desde o inicio, pes toca e pea viléncia. Os cronitas, em especial of Ghinhentstas, dscrevem a violénca empregada pelos {tomar portoscsaquear povoados. ls recorrem a todo seu aparato bélico ores: flotilhas com centenss de ‘empavesadas; guerreiros portando peine-boi e propulsores de dards; Tangadas das barrancas do rio. A ivilégio da relacdo entre europeus relatam a exiscéncia da guerra Higenas ¢ descrevem aldeias cercadas Petbnicas do Amazonas forecem, em gi da vrca com os seguintesingre- bundants, grandes populasoes re dos de menses consderives estu- m fungi poiico-crimonal capac- io de numerosos guerctose exs- io social entre diferentes povoaos far enta0, a organiaacio sciopoiica Gonhecemos a resposta de Roosevelt omplexs, com estruura politica cen- panizago socal hierequica sustentada de ributos e por uma economia agscola rk qu as Fontes eno histricasofee- Silbsios para el afiemacio? fs pela pesenca — ou nfo — de unida- as ce carter regional, A etratura de Fogo do rio suger aos cronistas uma organiza testa defini 8 qual les denomind ores pron. Esta conexpondes 0% ‘exten 119 we ensamere parma, sepa de OO! provincil oa poim deaidiada. Aa oem 2 rmatcad Per também pot ausencia de guetta EH presen Se cea exer, «pas cerns Tingua, 2st je ecoleura mater Zn, organiza Traps peoplico das” poowing cotiadol ‘Antonio Porto procure ‘Gisento das fonts vasa impressio 20 se ler os ea rigs € de que oft de scemarizagio econde que principal aque clade exnogrifica ( tha) correspondia 2 catcgorit 2 Se aceitarmot orl em agua comespondtns co a realidad] a aces coed gal 62 8 SE de til venidades sociopotiicas Serf ve SE corganizavam Ne" sent, sb o comsando d& 1m cAI principal Sue eeinava sob chefs Toei ‘haveria um sister es ponra eretcuarwnindo dierent comunidad} arrnean vinta? Sec = NY sunidad Hinge uur, ov des de ere Aa Mester pode ser reapondide exclusivamente Pell cronies areas, no suponko que Houvet ica ne vzeaamaxbnce. Maio Fret tai porous Pam en afiema qu 46 Jos rs v0 was snados por principsis de akdeis, enquancoo governo dos “Araguize Kemais valence se mostra, ras man- emido”. }é na for do rio Negro | Sque € come 0 Rei’, sob cujo Jo diversas nagbes, vivendo no ance, Também os Cambeba teiar fy todos obedecem com grandissima le Heriarte 20 “rei do rio Negto” quo complexa & a questio dos cack hocadura daquee rio era um ponte Heomérci pré-colombiano, poispesmitia Gas principais ras ligando a bacia do {Orinoco £ plausvel supor que ali fose, Kentro importante de poder. Além dist, Pnistbricas no baixo tio Negro parecer xbes considerdveis: investigages pel jnadas por Michael Heckenboerger Eduat- HaesPeerson em Agutuba, cere 40m Fn indcam que este sito tem uma dtea Kade 3km por 300m). Embora permancsa re como interprecar grandes sitios aque Trpazinia — ora pensados como produto Hcupagées sucesivas ort com TEPESE Sa ‘ando uma extensac duradoura ocupagio—, Agucuba contrasta fortemente com o$ sitios, dezenas de vezes menores, estudados por Neves no rio Uaupés, um afluence do alto curso do tio Negro; estes se asseme tam em dimensioasaldeias tukano descritas no sé lo xx. Por sua ver, a sugesto de uma relagdo hicrérquica entre povos a jusante © a montante tem paraclos ‘contemporineos no alto rio Negro, onde hi um site ‘ma de ineerdependéncia regional formado por povos ‘ukano, arawak e maku, articulado pelo comério, asamento e rituais. O sistema comportarelagbes tanto simétricas, como assimétrieas. Reconhece-se, por ‘exemplo, uma hierarqui interna aos grupos de descen déncia, que se express idealmente na disposicio das ‘malocas 20 longo do tio: os de status superior habitam a jusanee de seus “irméos mais novos’, considerados inferiores. No entanto, a relasio entre grupos de des. ccendéncia diferentes funda-se em um prinefpio simé ttico de alianga matrimonial, e nio admite hieraequia Segundo Eduardo Neves, esse sistema mulkgenica ¢ ‘ultilingistco jf existia& épaca da conquista. Caso se estucurasse de maneira semelhante, épossvel que luma mesma concepeio hierdrquica legitimasse a posi- $0 daquels que, entao, ocupavam a for do rio Negro. Porém hi que se perguntar sea existéncia de grandes Povoudos ede uma populacio maior alterava a relasso ‘entre simetria ¢ assimetria no sistema. Seri que os a. ia com dena ai tin lgat, Ate Fork, Neo, 803 Observe 8 ings, Age Kt 998 Bul nest no Ato Xingu as Mores aaa dt 1240. vendo neonse ele bey da ua no sont FOI lies ara Ne me dita un propo de dices ama ra Noten su2 mio i : mula i ess Rips vod sea ems 7. tor, falar de en fg 4 aria pega, coms (5 antigas Tupiant. ‘ado eb iaiado cm ra. sare tb gules feos de uaa, Adi Ape eva Patar PA), 1580, para ual ier. io Sto Tourengo O18 povos a jusante efetivamente dominavam aquees a Taontante (€ qual seriam, entio, os mecanismos € © contetido dessa dominagio}? Ov teriamos um sistema igualmente aberto € fluido, sem centros regionais de poder, em que cada localidade consteula umn né de tuma rede tecida pelo comeétcio, ocasamento ea guetta? sas questoes referem-se as relagdes colerivas de dependéncia entre comunidades domsinantes domi nadas, e também aquelas entre chefes © chefiados Precisamos entender quais as formas de legitimagio do poder e de controle sobre 0 outro na auséncia de propriedade da tere, de etruturascentalizdas para armazenamento de alimentos efou de meios de pags reno. © que poderia significar extrair ributos ou controlar 0 trabalho alheio no contexto amazénio? “Alguns autores sugerem que, no pasado, havia uma istingéo entre nobres, comuns eescravos. “Escravo” é tum termo empregado com frequéncia pelos cronistas para caracerizar os cativos de guerra; a categorizagio respondia a intereses bem priticos: as "topas de res- fate’ s6 podiam escravizar os Indios que jd fossem fescravos. Actiia descreve como os portugueses que viajavam de Quito a Belém quiseram fizer uma entrada pelo rio Negro, devido "as noticias acerea dos muitos Gscravos que possulam os nativos no interior deste rio” Se nfo os levassem, “setiam considerados homens de poucavalia, pos, endo passado por tants e diferentes fnagées, e encontrado tantos escravos, voltavam de <0 ios varias". Havia, pois, bons motives para os con- {quistadores vetem um escravo em cada esquina. ‘Mas significa iso que no havia formas de subordi- nagio envolvendo trabalho? No quese refer aos cativos de guerra, rudo indica que ou eram “adotados" pelas familias de seus caprores, ngressando na rede de obri sgagbes de parentesco, ou ram executados ritualmente, les nio serviam como simples forga de trabalho, nem como propriedade ou riquezaalienvel — o que expi- ‘aria a ambigtidade que emerge quando passam a ser ineorporados ao escambo com os eolonizadores. Nas palavias de Acufa: “os esravos que estes Aguas fom- ‘guns capruram em suas batalhas servem-se para tudo 0 cde que hajam mister, cobrando-thes tanta afeigio que axé comem com eles no mesmo prato. Sugetit-lhes que fs vendam é coisa a que resister muito.” O eativeiro indigena tinha um significado diferente da escraviddo ccuropéia ¢ aponcava para outro tipo de organizagio socioeconémica, em qucasassimetraseram traduzidas ‘em relages de parentesco. Hleriarte conta que os Tapi- ‘namby, ao chegarem a ilha de Tupinambarana, vassa- Joram seus naturaise “como eemposecasaram uns. com fos outros ese emparentarant ‘Conceiaalzar as relagBes assimétricas de domina- co elou dependéncia é um dos desafios basios para pensar o problema do poder na Amardnia, Hiere- {quia e simbose,violéncia eadocio também caracteri- daram sistemas aativos dscrics historicamente em +50 cuts egies das tras bias, Asim, por exeplo ous Epiiguano eos Chané, no sudest da Bolivia, aa esos Guaykaru eos Gua no Chaco —oves oer qs jamais se suger ua esrnar eal de poder: Fee de dena a vires, Espero ter mosualo que ascot ofo mais complicadas do que parece Jedd ers para fim, ne pa EB asad da vie estar organiza em grandes see aes pls hirarqtadas, secalmente cat Trea fundadasem um modo de producto inens- ea pose de Roosecl ainda aguarda confirma Go, Novas pesqutes deveo modifica comples- Fran poise rato antes de wins “projrio «mo Fadel com base na eur sletva ds xia dos toe Xtc x0, do que de uma ierpretagso do regio arqcoldgio- Fortes entre canais Nessa discussio sobre a virzea, fala-se muito sobre poco, Em dois senidos rimeio, a evidnciss Epcos 80 sina esas Segundo, vires cor Ssponde a umma pequenafraio da Amazbaia¢ a.uma forgo ainda menor das tras baias da Américe do Sul, Campre perguntar, pois, © que se passava em sutras paragens — nos intrfdvi da flores densa, ose nos expos do cero, avait do Chaco, at poteer melons deca temper n Cone lic Inflmens,fo poo aul var de was cos des Hi pega em andamento ma mare dk embor fom invested rater foe amen, Quand nor fas da marge do prnips lhl i Ascomin, lene ects tnqesoamerte decoy pro ji, Datndafces naitagee tida engicl tar configugis ci nates no momento econ apna Alnda gue os povor dara fe se ora sen derma elena grupos contemperincst Tee pequn comunidades ley, ramen om coon sch ne oti, cage ¢ pea, © de modo igual © (eevee alto com or tals desamens opus como ve ten com seqlend ellis importantes ucore deco. Felzmene, algun trbalhos recente 20 sul da Amantnia vito frncendo dads que conoboram ‘também: complex nova imagem do peso Préconquit. A vantagem deves trabalho pes Shildade de porta ua concinudeds ear a populsfo pr hinria ea cntmporines, pei Undo maior Ingato ence solo argue fi. Ino permite modula ov grandes eqmas de +82. incerpretagio arqueoldgica, cornando-os mais sen- siveis& diversidade cultural eas trajecrias histéricas cexpecifias ‘Uma das dreas em questio éa dos formadores do rio Xingu, uum dos principais afluentes meridionais do Amazonas, cujas cabeceiras encontram-se no planaleo central brasileiro. Afconstiuiu-se um sistema multée nico ¢ mulilingiistico, culturalmente homogéneo, ‘composta arualmente por cerca de 3 mil indios, dis persos em mais de uma dezena de adeias, de 10 grupos distintos. De lingua kare, temos os Kuikuro, Kalapa- Jo, Nahukwa e Matipus da familia arawalk, os Waurd, ‘Mehinaku e Yawalapii; do tronco cup, 0s Kamayurs Aweti¢ finalmente, os Teumai, cua lingua € consi- dlerada isolada. Esses grupos de fala e origem diversas scabaram por constevir um modus vivendi comum, constituindo um conjunco multilocal incemamente pactfco,aticulado por rtusis, erocas de bens de valor ce relagdes matrimoniais ‘Uma das questbes importance para se comprender o sistema xinguano ¢ como e quando ele se formou, Emlinhas getis, sua histria cultural, econstrufda por Michael Heckenberger, éa sguinte. O momento ini- cial é a chegada, no final do primero milénio (€ 900 .C), de uma populagio de lingua arawak, um Fito ‘marcado pelo aparccimento ds primeims aldeias cit- calares na regio e ce uma cerAmica similar aquela hoje pproduzida pelos Waurd e Mchinaku. Por volta de 1400 “st ee “Fo tS pr na rent Kons DT) ne ae cs ar acess es ies 1520s ‘AC,, ocorre uma mudanga de esala as aldcis desse periodo tem érea de 20a 50ha e so circundads por tanes estrucuras defensivas — fosos com crea de Om de larguta e 1 a 3m de profundidade, que se cstendem por 2km em tomo dasteadehabitasao. Hoje Seoonhecem quince sitios com tal sistema de defesa no ‘Alto Xingu, mas é provdvel que existam outros ainda ho descritos. Ess eltios pré-histricos estavam ligax ddos por meio de caminhos bem definidos, sugerindo info apenas contemporaneidade de ecupasio, como ne sos ANTES Bo MASH também uma inceragio social intensa entre 26 vlas forsificads. “Tal padrio de intergio assemelha-se 20 que O° enggrafosobservaram na regio a parts do seulo XX. ‘Kerala, contudo, € outa. Algumas aldelas do séeulo Xv eran quase dex vezes makores do que as aruais (3 Gus abvigam nee 100400 habicantes) a populate focal e regional conea-se-a, poi na casa dos milhares PS uma prejegio que no condiz com os modelos de ‘Seward ede Meggets, Em cermos demogrificas,o Alto Xingu ds vspers da conguita parece mais proximo “duvitze amazénica no mesmo periodo do que desta prdpriasiaagio concemporines. vhs forifcagSes, por sua ver, sugerem no apenas a ‘existencia de guerra em larga escala, mas tumbém uma incerago regional ampla, pois, 20 que tudo indice dean xingvanas nfo estavam em guerra entre si, De sve vinka, neo, tl ameaca? Talver Fossem povos tnenos sedentivios € mais guerteros, como os Tupi © dele, buscando enter na drenagem dos formadores do Xingu, Pel menos uma populagio, no entano, cris conseguido ingrssar ese estabelecer na segifo, entre oo deals XV e XVI: em rorno da enorme lagoa de Tafanuna, Heekenberger localizou pequens sitios no forificados, com estrucuras circulates em sei terior, que podem ser ideneificadas como moradias. A emethanga formal com as casas dos povos karibe das Guiana, bem como o fo de Tafununs sr recons- cidamente testo tradicional das povos kare do Xingu, sugere que ess pequenas lias foram aberas pelos ancestss doe Kuo, Kalaplo, Matpu e Ne bre, antes de adotuem nna nova eufusa¢ ame tora forma aldet que os aproximariam dos povos awa dando inicio formago do sstema mul co cmulilingiiico do Alto Xingu No séclo XV, a lds forticadasdesaparccem, posivelmente em conseqdéncia do impaco da con abt opin. A regio tlre tenn ido poupada de expeiges de apresamento de esravosatéum priodo taro (as novicias de entradas de banderas na srk datam do incio do séeulo XVI); contudo, os efios lobais da colonizagio se fzeram sent anes dso, em particular por meio da depopulasto causa por ep dlemias. H nese quad de randformaptesprofndas «que o sistema cultural xinguano se consolidaeabsorve novos grupos que adentram a drenagern dos frmado fs, provaelmenta partie de meadas do scl XV “al formato socal foi dacumencada pel primeira ver pelo alemio Kar von den Scien, que iderou expedi- es cientics rei ern 1884 1887 [As pesquisa no Alto Xingu reservam-nos algumas ligées. A primeira é de que a colonizagio, apesar de toda violéncia e diseupgéo, no exchuiu processes de econstrusio recriagio cultural conduzides pelos po- +86 ‘os indigenas. E um erro comum erer que histéria da conquista reptesenta, para os indios, uma sucessio Jinear de perdas em vidas, terrae distintividade culeu- ral, A cultura xinguana — que apareceré para a nagfo brasileira nos anos 1940 como sfmboto de uma tradi- io esitica, original ¢ intocada — é, a0 inverso, 0 resultado ce uma histéria de coneatose mudansas, que tem inicio no séeulo X d.C. e continua até hoje ‘Qutra lsso importante diz espeito caractetiagio cecolégica e social da Amaznia. O Alto Xingu encon- tra-sea milhares de quilémetros da vérzea em sentido cestrto; nos modelos tradicionais, a regido inere-se na rasta imprecisa categoria de terra firme, na qual se csperaria encontrar populagées pequenas ¢ disperss, relativamente méveis e polticamenteindiferenciadas, sistema xinguano, contudo, ndo se adequa a essas previsdes, Em primeico lugar, ele € marcado por um sedentarismo consistent, baseado na horticutura de mandioca e na pesca. A abundancia de recursos aqu- ticos na regido, associada & grande produtividade da mandioca na tera firme, tornou possivel a adogio de uma vida sedentéria por uma populagéo bastante n= rmerosa, como evidenciam as aldeias fortficadas dos séculos XV e XVI. Em segundo lugar, « articulagio supralocal que hoje catacterizao Alto Xingu parece ter sido um elemento central também no passido, apon- tando para uma interacio social muito mais ampla © ose intensa do queaquela suger pela imagem tradicional de populagées isoladas em contato esporédico. Por Fim, sistema politico xinguano é atravessado por uma Ideologiahierérquica, baseada na distingio ent junio- res eseniores eno reconhecimento de inhas de ehefa © percencimento a esss linhas & herdado pelo lado Paterna efow mateo e publicamente mareado pela transmisséo de nomes ¢ por rituas eriticos na vida de ‘um individuo — homens mulheres com seatus de chefe tém, por exemplo, urn sepultamento diferencia. do € a6 cles sio comemorados na festa do Kwarup. Além disso, apenas aqueles que descendem de chefes podem almejar posigdes de destaque politico, Esse modelo de chefiae distingdo social, contucdo, ‘nio implica a existéncia de um centro politico tinico ‘no Alto Xingu. A hierarquia combina-se a uma notivel suronomia politica das aldeias, néo havendo ineegra- 0 vertical entre as comunidades locais — assimettia intema e simetra externa so principios complemen res de uma mesma configuracio social. Ainda no ‘emos dados para dizer se asim era no tempo das Aldeiasfortficadas ou se, 20 contritio teria existida ‘uma estrurura hierirquica com diferentes niveis de abrangéncia (ou, ainda, uma confederacio de aldeias, com insticucionalizasio de uma esfera politica interco ‘munitiria, de cal modo que pudéssemos falar em uma provincia xinguana com um centro deciséxo). Asaf de Fnoedanedo eRe pond ns esx cei parts qs pose perigee desenvalvente deat fous olga Shae yao agin aemen que dre cpl imalaamens sca singsato, do pret pl cose, un gue rca et Compreder «inns compen ease ecb, rion lsc etn aie pen i de pete ign nem dtp ¢ cera enue longa dri. Coro nao Heo tenberessgunas dus canine togunat— bier elonlddseennsimo carota inns pom ina gop Thon rok ces pea done fee ince o Ato Rio Nago — onde, come oe able etm nea dnp, Pegi angi sti “Oak Xingu surge, enfim, como uma combinacio de mana ¢ cote que poe ve Bde pp fe pn dina fo t-oeo e tenalnce logs diego sapaca agen as antropologia contemporinea livrou-seripido demais clas estuturas, assim como no pasado havia feito com a historia. Sobre as esteuuras, pode-se dizer © mesmo que sobre as bruxas pode no secret nels, pero que lat ‘ay, las bay, A terceira margem Consinuemos nossa viagem em diregio ao cerado que fo sul ea leste limita floresta amazbnica. O contraste tnere os ambientes & marcante. A mata étericério da Sombra e das tonalidadessutss a vegetagio intrincada tcolhe @ olhar microscspico € s6 a audigio vara os Timites do verde. Nos campos do cerrado, 20 invers0, predomina a vastido; o olhar ¢capeurado pea suces- Fro de condtios grandiosos: as cores no horizonte, a ‘hava vindo de longe, o contrasteentreo eéu€ 0 chao. Neste ambiente de vegetagio rasteira ¢ arbustiva, 05 povos de lingua macro-é fizeram sua morada pine pal. [No HSAl, os Jé encontram-se clasificados como smanginas, ao lado dos habitantes do Chaco ¢ daqueles do extrema sul do consinente (ver mapa 1). Segundo Steward, estes povos localizavam-se 8s margens das reas ccologicamente mais ricas © representavam 0 tstigio mais baixo do desenvolvimento cultural na “América do Sal. A escassez de recursos natura, aliads ‘uma tecnologia rudimentary, limitaia 0 tamanho © & ‘composigio das unidades politica, bem como. desen- ‘olvimento institucional, © protéripo dessa categoria {ram os grupos capadores-coletores, que, dividides em pequenos bandos estrururados pelo parentesco leva~ am uma vida ndmade. Contudo, poucos dos margi- thas do HSAL adequavam-se com perfeigio a ese imax +60 gem. Na verdad categoria servi par bra codes Becks povos qu fo se encazavarn bem a casi cago proposta. ape re de rid crab Em stat rm oe og <6 © erro de Steward nio resultou, porém, apenas de seus prestupostos teéricos; no caso dos Jé do Brasil centto-oriental, ele foi afetado pela mesma miopia que o fez lera floresta tropical com lentes andinas, Steward {rouxe para sua antropologia um imaginitio indigena « clonal de longo prazo; desta fit, no aqele do Jmpério inca dos espanhdis, mas o dos Tupinambé e dos portugueses. Os Tupi-Guarani do litoral chama- ‘vam os povos do setio de Tapuia eos descreviam como gente barbara, desprovida de aldeia, agriculeuracanoa, rede ecerfmica (justamente os wragos que iriam definir (0s marginals). ssa antiga imagem de ‘primicvidade” e “margina- lidade” dos Jé no resistin, porém, as investgagoes ceinolégica realizadas a partir dos anos 1920, Os te bualhos pioneiros de Curt Nimuendaju e Claude Lévi- Sctauss transformaram essa imagem secular sobre © sertio, Os Jé deixaram de ser vistos como cagacores nnémades para serem descrtos como praticantes de ‘uma sofistcada economia bimodal, que combina pe- todos de dispersio com outros de agregagio em gran- des aldeias,estrutuadasinternamente por um conjun- to de metades cerimoniais, por grupos etiios ¢ por segmentosresidencais. Essa esrutura no apenas per- rmitiria a teunifo de uma populagio numerosa em um mesmo local, como tomacl-fa necessria para opleno fancionamento insttitucional, +02. ‘Acategoria marginal foi a mas infliz da monumen- tal empreitada de Julian Steward. Uma andlise cuida- Tdosa dos maceriais digponiveis 3 época sobre os poves enuro-braslcizos e chaquenhos teria posto em jogo © reabougo clasificatdrio do HSA; por isso, Seward se permiin alguma ambiglidade, flando em formas transicionais entre afloresta eo certado, Em unt lio posterior, o Je aparecem em um capitulo dedieado $ floresta topical, a segfo que hes corresponde tendo ‘como titulo: “AS terras alts do lete brasileiro: cagado- res cbletores que setomnaram agrcultores”. A horticul- tara seia uma aquisigao recente dos é, provavelmente iimportada das écas de loresa topical: cesta impor- ago explicaria os desenvolvimentos institucionais, também recentes, desses povos. Steward via © cerrado como um ambiente ainda mais improdutiyo que a florsta ¢, portanto, como repostério de caleuras marginalizadas. Os campos tram peéprios aos pequenos bandas mévels sem cul- Woe sem cultura. Cairne cerrado era descer um degra vraescala evolutiva do continence. As pesquisas arqueo~ Tégieas ecentes, comeudo, indica que, muito antes da congquista,& pasagem sociocultural do cerrado ne tra mais esta. Para comesar, a horticultura af parece temontat hé alguns milénios, podendo rer sido prati- fada ances mesmo do aparecimento da cerimica, em forno de 500 a.C, A cerimica primeva, conhecida tomo Una, domina a pré-istéria do centro-oeste até 63+ ‘6 século 1X, quando comes ase substirulda por ourras tradigbes,assaciadas 20 surgimento de aldeias circu fares, [Esse sibito aparecimenco de assentamentos em for- ma de anel, a partir de 800 d.C., esti provavelmente asociado a0 ingresso de novos contingentes popula conais na érea, Nao se pode descartar, porém, que sua cemergéncia tenba resultado de um desenvolvimento local, produto da interaglo entre duas eraigbes dite rentes: uma autdetone ¢ outra migrant Seja qual for sua origem, as aldeiasaneliformes passaréo a dominar ‘ocenatio do cerrado, ¢ aparecerfo cerca de um século depois, como vimos, na zona transicional do Alto ‘Xingu. Hoje, conhecem-se mais de 150 sitios arqueo- 1égicos no Brasil cencral cassficados como assenta- rmentos anelaes. “Tis sitios foram associados a duaseadigdes cerimi- cas distneas, Aracu ¢ Uru, que seriam produros de migragées ¢influéncias diversas. Costume conside- sar que a primeira renha origer no nordeste brasileiro, tervtério tradicional dos grupos macro-jé, enquanto @ segunda seria provenience da Amazbnia. Aldeias cireu- lates araru ocortem no Bra cencral entre 800 1500 <4.C., em particular nas regides das cabeceiras dos rios “Tocantins ¢ Paranafba, A maioria delas estéassencada cm florestas de galerias e associada a0 cultivo de milho ce batata-doce; em média, possuem uma dimensio de +64 cetca de 7ha, com um diimetro pouco menot que 300m (a maior aldeia conhecida chega a ter mais de 20ha com um diimetzo de 500m). Jas aldeias ura so menor: sua drea média & de menos de 4h, para um ddidmetro de 230m, Metade delas esti Localizada nos ‘campos do cerrado e 0 principal produco agricola parece te sido a mandioca, Osftios urn enconteam-se ft ocste dos aratu e ocorrem até uma data mais tarda Esse quadro, na verdade, é mais complexo ¢ com- porta varagSes locas e tempor, inclusive intenas fos sitios (hd, por exemple, presenca de cerimica mpi- suarani em assentamentos bastante heterogéncos © tispersos). De qualquer modo, no momento da con- ‘quia a regio cra dominada por povos que viviam erm adcias cirulares, compostas por um 2 trésanéis de ‘casas envolvendo uma praga central (Provavelmente ‘com funcio poltico-cerimonia), na qual poderia ow info exist uma estrurura «specifica, como uma c3si- Esas aldeias possuiam dimensdes superiores as das atuais, ¢ pode-se sugerir que abrigassem entre 800 2,000 pessoas (um niimero consideravelmente maior do queo sugerido por Steward para os marginas: ent: 50 ¢ 150 pessoas). Se recortermos as informagdeshis- ‘rieas, encontraremos referencias a aldeias jé com 1,5 ml pessoas — datadas do incio do séulo XX, quando cles} softiam os efeitos devastadores das epidemias de vatiola CContudo,devemos ter cuidado ao associat os povos {que constuiram as aldeias pré-histércas aos grupos {digenas hoje habtando a mesma regio. E provivel que a8 grandes alias aratu tenbam sido a morada de povos de lingua macros final, a morologiae loca Tago dos asencamentes, bem como o culivo de milho cbatata, so tacos dos Jé que, historcaments, hrabitam o Brasil cento-oiental. Noentanto, a tradi- Go certmica ara parece te desaparecido antes mes- to da conguista; Robrahn Gonder sugere que esi {eeariaseesgorando em rorno dos culos X21, quando 4 eerdmica una comes ase tomar hegemOnica € se txpandir para leste. Hé descontinuidades ecnolégico esti importantes no periodo préhisrco, indi- ‘ando procesos de mudanga de redefiniio de fron- ‘cis socioculuras 'No period pés-conquist, sais process exto asso cial 05 efeitos dacolonzago.Irild Wastencon- frou uma rupturanaindseacerdmicae nos atlas Iicos no suceste do estado do Mato Gross, entre os séeulo XVII e XVI — wma mudanga que ela associa & tcupagio da dea pelos Bororo. Nao precisamos spor, fo entanto, que fo fesulte de um simples proceso tmigratério, pois a constiuigio dos Bororo tal qual os ‘conhecemos etnograficamente pode ter sido o produto cde uma fusio de diferentes grupos e cadig6es culurais {mn loco. Este € mais um exemplo sugestivo do caréter inio-linear dos processs histérico-culturais pés-con- +65. quista: um dos povossocioldgica e cosmologicamente this complexos das terras baixas tetia emergido, en {quanto grupo étnica distnto, no perfode colonia. Tndependence do grau de continuidade entre o pas- saudo eo presente entre os habitantes das aldeias urv € trata € 08 povos descritos etnogaficamente, preciso rmarcar que os Jé do Brasil central apresentam uma ‘comnplexidade institucional e politica sem paralelos na oresea ropica, ¢ que tal estrucura est intimamente associada 3 morfologia alded — uma morfologia que fe manceve inalterada na regio pelos itimos 1,200 ‘anos. Tal complexidade, néo prevsea no esquema e- icional da ecologia culcural (com seus pacotes de travos associados aos ambients), representa terceira sargem do rio tipolégico do HSA, Os [rene o que ddevera estar separado: io méveis e possuem grandes aldeias; a tecnologia de subsistfnca é simples mas 0s fadornos corporas so elaborados; no hi chefs supre- ‘mos, embora haja uma economia politica do prestigios thd um desenvolvimento notivel de insicuigdes comu- nitriase eerimoniais, porde estas tendem a ser basi- amente ndo-hierdrquicas (ainda que encontremos as simetras em virias parte do sistema). Em suma, as formas de complexificagio social ‘no Brasil centro-oriental, descritas etnograficamen- te, excapam aos modelos tradicionais de desenvol- vimento sociopolitico (como aquele da sucessio andos-tribos-cacicados-estado). Assim também pa- +87 rece ter sido em tempos pré-coloniais: desde 0 sé- culo IX &.C,, a repo viu-se ocupada por sociedades {que, com uma tecnologia simples e uma organizagio Social provavelmente complexa, habieavam grandes aldeias anclares, interlgadas entre si eunindo uma populacio muito superior, como nova Was, squela dos povos do Neolitico em outras pares do mundo. “Tis fatos devem nos levar a pensar o pasado do continente de um modo menos linear ¢ esquemé tico, As vésperas da conquista este era um cont rente que acolhia diversas formas de articulagio focial, econdmica ¢ politica, em escalas local ¢ re~ gional E. para esta diversidade ¢ essas escalas que fos modelos arqueolégicos devem estar voleados, As margens do mar ‘Chegamos a ilkima etapa desta viagem pré-cabralina Depois de subir os Andes edescer 0 Amazonas alean- ‘amos a nascentes do Xingu e, de If fomos 20 cerrado. ‘Agora é pegar o caminho do mar e esperar as naus porcugueses, Ante, porém, € preciso conhecerolitoral, que de norte a sul era habitado por uma populagso bastante homogénea em tetmos linghisticos e cultu- rais. Estamos entrando no mundo tupi-guarani, um mundo sobre o qual temas informagbes histricas € alguns dados arqueoldgicos sistemdticos. 68 Quando os porrugueses aqui chegaram, encontra- ram esses indios dispersos 20 longo da costa com tamificagies profundas pelo o inteios, sempre acom- ppanhando o vale dos ros. Elesevitavam as regides mais frida, assim como as altasalticudes, onde o elma é mais fro, preferindo as matas pluviais ropicais ou eopicais. Dominavam a faixaltorinea, com exce- «Go de alguns pontos — como o estuario do Prata, & fox do rio Paraiba, o norte do Espirito Santo, 0 sul da Bahia divisa entre o Cearéeo Maranhio, ondehavia Jntrusées de outros povos, provavelmente macro. ‘Com base em algumas diferengas em lingua ¢ cul- ura, podemos dstinguir dois blocos subdividindo o conjunto tupi-guarani: a0 sul, os Guarani ocuparam ts bacias dos ros Parand, Paraguai, Unuguai eo litoral, ‘desea Lagoa dos Pats até Canandia (SP); 20 norte, os Tupinamb dominavam a costa desde Iguape a, pelo menos, o Ceard,¢ 08 vales dos rios que desiguam no ‘mar. No interiors a fronteirarecairia entre os ros Tete « Paranapanema AA adapragio ao meio era caracteistcamente ama- zbnica, baseada na agriculura de eoivara, na pesca ena ‘aga. Entre 05 Guarani, 0 milho parece ter sido 0 cultivar de base, enquanto os Tapinambé enfatizavam ‘amandioce amarga para preducio de farinha. Excelen- tes canocros, ambos faziam uso intenso dos recursos uviais © mariimos, Explorando ecossistemas ricos € dliversifeados, esses povos alcangaram um patamar 63 demogeéfico clevado, Denevan calcula que na faixa Titorinea viviam cerca de 1 milliio de Tupinamba (Ohab/kmn?}, enquanto Pierre Clastres sugereapresenga de 1,5 milhies de Guarani (Ahab/km") na ea meri ‘ional. Estas estimativas, muitas veces superiores que fas admieidas por Steward, devem ser vistas com cat- ‘elas falkarn-nos trabalos mais dealhados dedemogra- fa istérica, bem como 0 cotejo sistemstico com in- Formagdes arquealdgicas "A despeito das incereras, as erdnicas da época dei sxam claro que as populagies eram muito maiores do “que as hoje encontradas na Amazbnia, Os dados sobre { nimero de indios aldeados em misses jesuticas na Bahia ou no Patagval; sobre 0 nimero de aldcias cexisentes em tomo da bafa de Guanabara ou na ilha ‘do Maranhio; sobre onimero de Guarani eseravizados pelos bandeirantes ou de Tupinambé mobilizaos em Speragdes de guerra sugerem uma outta escala demo- tifica, mais prdxima das estimativas recentes que ddaquelas de Steward. ‘A taxa de depopulacso durante os dois primeiros séculos da colonizacio foi brural. As guerra, as expe- digbes para captura de escraos e, principalmente, a8 cpidemias ea fome dizimaram 0s Tupi-Guarani. Em 1562, por exemplo, uma epidemia consumis em er meses, cerca de 30 mil indios na Baia de Todos os Santos, No ano seguinte, varfola completou o servigo, rmatando de 10 « 12 indios por dia; um vergo da 270+ populagioaldeada pelos estas sucumbis, Er 1564, ‘cio, por fim, a “fome geal”, pois nada se plantara nos dno: anteriores. Ao findar a década de 1580, Anchieta tonstarava: “A gente que de 20 anos a esta parte & fasta nesta Bala, parece cous, que nto se podecret” “A mesma historia repeiu-se ao longo de toda a. costa ce nas matas do sul, Em 1594, 0s oficais espanhéis fscreviam a Sua Majestade, desde Assungio, dando conta de que “los indios {Guarani} que servian a esta Ghadad esein menoscabados, porque no hay nila déci- mma parte de los que debera haber, por vévias casas y enfermedades, y también por los abusos de os espaiio- lex” A depopulagio no entorno das cidades conduia 1 um eirul vicioso: a escasez de mao-de-obra nativa nas redonderasintersificavae interiorizava as expedi- ber de apresamento de escraves — 0 que, por seu furmo, expunha ainda mais as populagocsindigenas a0 ‘morticinio pela armas e pelas epidemias. “Aug recentemente, acreditava-se que os Tupi-Guars ni ceriam chegado costa pouco anes da conquista— ‘bina expansio rida recente poderaexpicar tants femelhanga cultural ¢ linglistica em ama populaséo ‘Gispersa em to amplo terrtério, As datagBes arqueo Iégheas de cerimica associada a08 Tupi-Guarani con- ‘do, vieram desmentir essa hip6tese. Existem vias dlelas que remontam ao século X d.C. sendo as mais anvigas do século 1 d.C. Na regifo guarani, clas “encontram nos rios Urugusi, Ival e Parsnapanemas na ns rea cupinambé, no baito rio Tieté ¢no liroralfurni- thinda que seja necesirio ter cuidado a0 atrbuir uma inddstia oleira 8 presenga de uma populagio Cultural Tingsticamente diferenciada, as datagdes Srquoldgicas — mvitas delas compondo seqienchs Gq alcangam os tempos hisricos — indicum que os antepassados dos Tupinambs ¢ dos Guarani omega tama ocupar 0 sul € 0 sudeste brasileiros muito antes ds cheguda de Cabral. Cumpre assim, forma outa hipstese para explcar a homogeneneidade enconcrada cen a bacia do Prata ea fox do Amazonas. Talver a shave dessa questo seja a continuiade da acupagio € ‘ intensidade da interagio, embora ainda néo se posse dlewartar queaexpansio para nordeste se deu préximo A conguista “A afirmagdo tem conseqiéncias Fortes para a diseus- sao sobre as roras que os proco-Tupi-Guarani criam percortido desde a Amaz6nia até o Brasil meridional Hoje hi duas hipdresesconcorrentes: a primeira, mais ddifandida, sugere que cles deixaram seu centro de origem na Amazdaia,(provavelmente entre as bacias doin Madeira e Tapajés),atingiram o rio Paraguai e, ‘partir dat, ocuparam a flresasubsropical eo ioral de aul para norte. A segunda hipétest, proposta por Jost Brochado, com base na anise de formas e extilos ‘cerimicos ¢ na grotocronologia, inverte 0 sentido do estocamento proto-tupinambs: ao invés de rumarem m: igragiestopinarb © guaran segundo Brochado (1984) So Ng ona aparsopits dos Gur « Taina eget bs) esa sine Gs MN) para o sul via Madeira-Guapore, eles teriam descido 0 [Rmazonas atésua for, expandindo-se, em seguida, pela faixa costciea em sentido oeste-leste, depois ores até terem sua expansio barrada pelos Guarani em $0 Paulo. Fae “teotia da ping” foi recentemente defendida por Francisco Noeli. Ele no nos oferece, porém, vaformagies arqueolégicas decisvas. Conrinuam fal- .1. tando dades sobre a costa entre o Amazonas ¢ 0 Rio Grandedo Norte, assim como novas datagbes no litoral notdestino. A tinica novidade & a accitagio de datas muito antgas para a cetimica atribusda as proto-Tur pinambé no litoral do Rio de Jancto, 0 que cutiosa- mente yai de encontto 4 hip6rese que Noeli defend ‘Caso essas datas sejam confirmadas © se estabelega Jnequivocamente 0 pertencimento dessa cerimica 8 subsradigio tupinambs, fica diffi ere que tenha ha- vido uma expansio de norte para sul (a mio set que recuemos muio a cronologia desse movimento). Emboraoassunto este longe de sr resolvido, pelas cevidencias atuais parece mais plausivel que os proto- Tpinambé tenham avancado de sul para norte, O centto de dispersio pode tr sido a bacia do tio Tieté ‘deonde teriam se iradiado para olitoral, concentran= tdo-se por alguns séculosem uma faixarestrtaentre So Paulo-e 0 sul do Espirito Santo, antes de iniciarem a conquist,relativamente rida, da costa nordest. Tal hripdtese, em acordo com as datagoes dsponiveis hoje, permite explicar a homogencidade culeral ingtisi- {a dos Tupi-Guarani no momento da conquista € 0 porque de os cronistas filarem em uma ocupacio ecente da costa (as teferncias sSo a Bahia, Maranhio ¢ Pard), Devemos, contudo, manter as barbas de mo- Tho, & espera de novas evidéncias arqueolégicas. Tndependente de como chegaram, 0 fato é que © tiroral era dos Tupinambé ¢ des Guarani quando The Brasil foi descoberto, Estes dois blocos, contudo, nfo formavam duas grandes unidades pottcas egionais ‘estavam divididos, nas palavras dos cronistas, em viriss 6es", “casas, “geragbes” ou “parcialidades’,algu- mas aliadas ener si, outtasinimisadas até a morte Para os Guarani, entre outras designagbes, aparecem ade Carijé ou Cario em Assungo ena costa ail Mbyasi no caminho que ligava estas dreas; Tobat, (Guarambaré cat no Parand-Paraguai; Tapenasbacias cdo Uruguai e médio Parand; Chiriguano na Bolivia. Para os Tupinambé temos Tupiniquim no litoral e pl alto paulistas, spiito Sanco esul da Bahia: Tupinam- ba (em sentido resttto) no vale do Paratha, na costa do norte de Sio Paulo a Cabo Frio e do Recéneavo baiano 4 for do Sio Francis; Caeté, daf até a Paraba, ¢ Poriguat no Cearé, entre outros termos. No séclo VIL, 0s eronista alam dos Tupinambé no Maranao, Pari eilha de Tupinambarana, afirmando serem mi- srantesfgindo 3s conquistasnoliroral. [Essa dstibuigdo das "nagSes” sobre o teritério no <éuma representagao acurada da morfologiasociopol tica nativa, Assim como na discussio sobre as provin- cias da virzea,o problema consiste em saber sede Fato hhavia unidades sociais dicrera para além da aldeia — ce, em caso afimacivo, qual suz naturera. As aldeias tupinambé eram compostas por um mimero varidvel ddemalocas (em gerl, de 48) dispostasircegularmen- te em coino de um pétio central, abrigando uma 15 populagio de 500 a 2 mil pessoas. A distincia entre os grupos locals vaiava em fancio das condighes ecol6- sgicas e politicas de cada regio: hava dreas de grande oncentrago— como a hala de Guanabara, o Recén- ‘avo biaiano, a idha de Sao Luis do Maranho — € foutras menos densas. A variabilidade deveria ser a rege c por sso é perigoso projetardadosde uma regio para ura ‘Vriasaldeias igadas por lgos de consangtinidade ‘ealianga mantinham rclagbes pacficas entre si, parte cipando de rtuais comuns, reunindo-se para expedi (fes guerreiras de grande pore, auxiliando-se na defesa do territdria. As aldeias aliadas formavary micleos de interagio mais densa, nexos politicos, no interior desses conjuntos maiotes, designados na literatura como Ta- piniquim, Tupinamb, Temomino e assim por diante ‘A realidade desses macroblocos populacionais, cont do, € incera, Néo sabemos como se distinguiam uns dos outtos, nem como mantinham uma identidade ccomum. Qual eta, por exemplo, 2 ligagio com um decerminado teritério? Qual a relagdo entre 0s Tupi rnambé do Rio de Janeiro ¢ da Bahia, ou entre os “Tupiniquim de So Paulo e do Espirito Santo? ‘As informagies dos cronistas no nos permitem csclarecer estas quest6es, Pimeiro, porque muitas ve- es So inconsistentes; segundo, porque muitas das ddesignagSes empregadas ndo eram autodenominagéecs (Cacté, por exemplo, quer dizer “mata de verdade”, € 116. “Tabajara, “osdo outrolado"} por Fim, hi poucos dados sobre diferengas interétncas, snais diaeriticos de iden- tidade e distingbes dialetais, pois os cronistas preferi- ram enfatizar @ unidade de costume e lingua, Sabe-se, fo entanto, que ess denominagées no designavam provincias politicas verticalmente organizadas. As frontciraseram Muidas, euso de um process histrico em andamento, no qual se definiam e redefiniam as aliangas. Aldeiasaliadas formavam conjuntos multico; muniticios, como nés de uma rede sem centro: nao cxistia um niiclo regional, politico-cerimonial, onde residise um chefe ou sacerdote supremo; os grandes ‘amis tupi-guarani, conhecidos como kant ow karai- (ba, no exerciam uma forga centrfpeta—cram cles que circular pela era, dealdeiaem ldea proeizando ceurando “Tampouco hava chfes com poder supraocl. A esertuta da chefiaerato dfs fragmenta quanto fas unas soca. Hava aldcias com um 6 chefe outrasem quecada maloca nha um principal: um ales pderia ganhar presi ese fier ouvir masque os outros, Em tempos de par porém, eam equipoten tes eas deities poltcas era omadas cleivamente pelos homens adultos. E posse que entre os Guarani 2 situagio foe algo diferent; alguns conistasespa- nis o» descreveran como diviidos em provincias Submeridas un caciqde principal e denominaram agegados de dias com occas. Contd, minha ” impressi, a despeito da posibilidade de maior cer- torialzagio © centralizacio poltico-eligiosa na érea iné de que a gente de Castela tinha mania de jas ¢ cacicados, projetando reinos por onde quer que andasse. ‘Nao havia regia mecinica de sucessto. Emborafi- thos de chefe tivessem maiores chances dese tornarem principais, 0 aceso lideranga ¢ seu execicio depen- ftiam do longo processo de constituigao das unidades domésticas, das esratégias matrimoniais e das virtudes pessoas do individuo.O status era conquistado, 80 Aibutdo; era preciso ser capazde articular uma paren- {ela fore, se temido e respeitado como guertiro eset como of grandes xamés, um orador eficz. Alguns prinipastinham fama renome que utrapassavam os Timites de sua aldeia, Estes exerciam grande liderangs em operagoesbéicas,aticulando viios grupos lets. Para ae tet uma idéia do contingenee numérico que podlia ser mobilizdo, hd relatos de combatesarmados Po tioral envolvendo mais de mil gueteiros de cada fado (Jean de Léry, por exemplo, narra umm confronte nas praias carioas, entre os Maracas Tupinambs tno qual 6 ests iltimes somariar 4 mil homens) Si0 ‘Comuns as referencias a flcilhas de guerra com 50 a 200 canoas, cada qual transporindo de 20 2 25 pes- soas, Ainda que a atitmética de “golpe de vist” dos ‘conguistadores fosse muitoimprecisa,écertoquehavia agges bélicas em larga escala +78. ‘A organizagio € 08 objetivos, porém, niio eram de ‘um exéicito comum. Os cronistasafirmam que 0 avo immediato da guerra nfo ea nem a conquista de tersité= Flo, nem o butim (no esquecamos, porém, que os “Tupi-Guarani provavelmente expulsaramm, incorpora- tamou macaram 0s grupos que habitavam previamente 6 livoral e que, poreanto, @ expansio envolvew, sim, ‘conguista bela), Seja como for, © moror explicivo da fuera era a vinganga ¢ seu objetivo, a capeura de prsionciros — cujo destino era nao a escravidio, mas ‘8 morte ea devoragio em praga publica, ‘A execugo ritual podia tardar viios meses. Nesse intervalo,o cativo vivia na casa de seu captor, que Ihe cedia ima ou filha como esposa; sua condigio s6 se alterava is vésperas da execusio, quando era reinimi- ‘zado ¢ submetida a um rito de captara, Por fim, era motto e devorado. A execugio era um momento priv Tegiado de articulagSo das aldcias em nexos sociis rsiores eestava ligada a concepgbes sobre o prestigio, aareprodugio humana e o destino péstumo, Todos os ‘ronistas chamam atengSo para a centralidade da guer- ta c da antropofigia ritual entre os Tupinambé, © ‘mvitos delesressalcam a ambivaléncia dos indios com 1 eeansformasio dos cativos em bens aliendveis 90 ‘comécio de escravos europeu. 'A guerra €0 ritual canibal eram dispositivos erucais ‘na articulagfo dos conjuntos multicomunitéris eupi- rnambé, ocupando uma posigio que, em ourros siste- +73 mas nativos, caberia cirulaggo de bens de prestigio e uulidades. Nao ha evidéncias de que as aldeastupi- nnambfiessem pare de extensasredes de oa, como ‘corra na Amazbaiasetentinal apes da rquera de informagGeshistics, hd apenas algumas referencias sobee um escambo silencioso com povos do sertio, envolvendo as famosis pedras verdes (para confecio de tembetis) e penas (para confegto de adornos) Inexistiam mecanismos politicos de acomodasio, como 0s descrtos para 0 Alto Xingu ¢ o Alto Rio Negro apazes de atcular povos de dferentes linguas e-culturas em um mesmo sistema de interdependéncia regional. Tampouco hava formas veticais de inegra 0 politica, apesar dea esala demogrifca dos con- juntos multicomunittios ser provavelmente superior 2.10 mil pessoas. O que sobresaie merece explicasio no aso upi-guaraniéaenorme iagmentasao em ua populasio tao homogénea. A guerra nao conduzia 4 subjugagfo,escravizacio oud exago de ributospor tuma elite cada ver mais podeross, que erguia monu- ‘mentos consgrando seu préptio poder; a0 contriro, produzia um movimento cenertfigo, volado literal mente parao consumo de nimigos — nao desuaforga de trabalho, mas de suas eapacidadessubjetivas sendo que tudo que dees resava eran bens imateriis Os Tupinambs colocam, enim, novas dfculdades para 0s modelos geais de evolugiosaciopoliica, Hid uma eontinuidade nocivel entre os Tupi do passado © os do presente, tinda que estes Wltimos representem apenas uma fragio daquees. E como tivésemos uma cstrucura fractal a replicar sempre a mesma forma em diferentes escala, O que teria faltado, entao, 20s Tupi- rnambs para se erguerem além do “nivel wibal”, com tal contingente demogrifico ¢ explorando ecossstemas to ricos? Para uns, faltou-lhes tempo; para outros, sobrou-lhes espaga: uma maior densidad populacio- nal ¢ circunserigio ecoldgica teriam posto a evolugion «em movimento, Para outros, ainda, eles nutrtiam um hhorrorao estado — horror que seria materializado na figura dos grandes xamis, os karaiba, que lideraram ovimentos proféticos. ‘Mas nao se pode dizer oque teria ocorrido no Fosse a conquista, De todo modo, 0 surgimento de central :agio politica e integraco regional vertcalizada exgi ria uma mudanga substantiva de concepoGes, priticas ‘eestruturas entre os Tupinambse os Guarani do séeulo XVI, Mudangas radicals, contudo, acontecer, Por iso, limito-me a um conselho final: se até aqui voc! no foi devorado, nem perdeu a cabesa, aproveite ‘edescansedbeira-mar. A praia Gboa eo verdo promete. ois meses depois do carnaval, cudo vai mudar. Afvem Cabral inventaro Brasil, ‘Apendice Clessifieagdo de algumas linguas indigenas ra | tup-Guarant tant | ren = ae — TO u —| \isee |e nto costo [eont et ose Tomes feces ett Xaroira inten are rans Sa Cronologia Referencias eronoldgices aproximadas Abascadas em escavagbes € datagées arqueotogicas) ‘gp00-as00 2. Mais antgas evidéncas de ocupasso hue mana da Amazonia, a regio de Santarém sata. Mais antigacerimica do consinente,enconcrada ra mesma regio vnpo-3500 9€. Complexos cerimicos aparecem na costa ‘do Equador e norte da Colombia ‘500-1000 2¢. Primeito complexo cestmico de Marajéy Conecido come fase Ananatubs oo ac. Surge a primera wadigio cxrimica do Brasil neal coniecida como Una ‘00-500 4¢, Cerca asociada aos povos rupiguarant aparece no sul do Brasil 440-400 dC, Os atrzosnailha de Mara comecam a ser ‘rps; erimicapoicromica mais anciga da Amana feorte na mesma regio no dc. Aldeias circulars comesam a dominar a past gem do Brasil central soo dc, Surgem aldeas circulars na ego dos frmado- resda vio Xingu 100-1400 dC. A sociedade dos aterros marsoars dest- parece 1400-1500 4. Grandes aldciasforificadas sio construt- das no Alto Xingu 1438 é¢, Inicio da expansio do Impétio Inc (Gegundo a histéra oral) Data histricas 1492 Criseivio Colombo chega as Antihas. Primero ‘contato com 08 Taino ton Pedro Alvares Cabral chega ao litoral da Bahia Primeiro contaco com os Tupinambs 1519 Hemén Cortés inicia a conquista do Mésico © do Império Asteca 1529 Apds a moree de Huayna Capac inicia-se a guesta civil €0 Império Inca comega a aie 192 Inicio da conquista do Peru. Francisco Pizaro apri- sina Atahualpa em Cajamarca 1541-1542 Pelaprimeira ver uma expedio curopéia des c# 0 Amazonas, desde o rio Napo a€ a foz. A jomnada é Aescrita por frei Gaspar de Carvajal 1549, Chegam ao Brasil o primeirs jsuftas, com a oo mitiva do primeiro governador geral, Tomé de Souza 1560-1561 Nova expedio desce o Amazonas, sob 0 co- mando de Pedro de Ursua 1563 Epidemia de vafola assola a Bahia 85 1616 Apés expulsaem os fianceses do Maranhio, os portuguese fundam Belém do Pardeiniciam a conquista sda Amazin 1621 Trrompe em Sio Luts e atinge o Paré a primeira cpidemia de varola de que se tem noticia na Amaz6nia Referéncias e fontes * “Uma visio continental” basia-seem Julian H. Ste- ward, antropélogo norte-americano que organizos os cinco volumes do Handbook of South American Indians [HHSAN), publicado pelo Bureau of American Ethology (Washington: Smithsonian Institution) entwe 1946 1949, A reeréncia « Elman Service deve-se a vu liveo Primitive Social Organization: An Evolutionary Pepecive (Nova Yorke Random House, 1962). ‘© °A sombra do Inca” bascia-se em “Inca culture a the ‘ime of the Spanish conquest”, apitalo de John H, Rowe ‘no volume 2 do HSAI, e no livro de Geofiey W. Conrad ceArthue A. Demarest, Religion and Empine: The Dynamics of Aasec and Inca Expansionion (Carabridge: Cambridge UP, 1984). As estimativas demogréfcassioretiradas de William Denevan (org), The Native Pypulasion ofthe Annericas in 1492 (Madison: The University of Madison Press, 1992), ‘Sob as alas montankas, natura” erata do imagind- rio sobre as culruras da floresta topical, divulgedo pelo LHSAlepelas trabalhoe de Betty Meggerse Clifford Evans, ‘aa de arqueslogos que coordenaram 0 Programa Na-

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