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LYNN HUNT A NOVA HISTORIA CULTURAL TRADUCAO JEFFERSON Luis CAMARGO Martins Fontes SGo Paulo 1995 A HISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT PATRICIA O'BRIEN De minha parte, prefiro utilizar (mais do que conten tar) 08 escritores que aprecio. O sinico tributo vilido «a um pensamento como o de Nietasche consiste exat mente em usilo, deformaclo, fazélo gemer e protestar. E, se algum critico disser que nao sox fiel a Nietesche, iss0 absolucamente nao triporta®. Em 1961, Michel Foucault publicou sua primeira obra importante, uma historia da loucura no periodo que com- preende desde o século XVI até o XVIIL. Histoire de la folie manteve-se @ margem soe pate da nova histé Gial, Nem marxista, nem ligada a escola dos Annales 5 ® Michel Foucault, ““Entretien sur le prison: le livre et sa méthode” (com J. J. Brochier), Magazine littéraive 101 (junho de 1975): 33 34 A NOVA HISTORIA CULTURAL Ultimo quarto de século a obra de Foucault tem sido alter- nadamente louvada e atacada pelos historiadores — e, em ambos os casos, quase sempre mal compreendida. O corpo do texto de Foucault raramente foi apreendido como aqui- lo que de fato é: um modelo alternativo para a escrita da vhistoria da cultura, um modelo que incorpora uma critica fundamental da andlise marxista e dos Annales, bem como da propria historia social. Na década que se seguiu & Segunda Guerra Mundial, uma geragao de jovens historiadores franceses deu um passo a fren- te, com novos programas e novas preocupagdes. Muitos de- les, comunistas por ideologia e marxistas por formacao, en- fatizavam as estruturas econdmicas € sociais em busca de um modelo histérico compativel com seus compromissos poli- ticos. Tanto a escola dos Annales quanto os militantes mar- xistas respondiam as necessidades do pés-guerra por uma his- téria fundamentada em preocupagdes de natureza sdcio- econdmica. Em 1958, trés anos antes do aparecimento da His. toire de la folie, foi publicada a influente obra de Albert So- boul, Les Sans-culottes en Tan II, e, em 1956, Fernand Brau- del, o autor de La Méditerranée, assumia a lideranga e a edi- tora da revista Annales. Esses gigantes encabecaram uma con- quista da histéria social que, nos Uiltimos trinta anos, impés- se a. um ptblico internacional. Nas décadas de 1970 e 1980, as desavengas, os conflitos e as guerras entre Os historiado- res marxistas e os da escola dos Annales obscureceram suas concepgées & preocupagdes comuns!. Nos tltimos anos, os estudos baseados na analise de clas- se desgastaram-se sob a torrente de ataques por parte dos historiadores dos Annales e de outras tendéncias. Por sua vez, a historia das mentalités questionou os pressupostos de T André Burguiére, "Annales (Ecole des)’, em Dictionnaire des sciences his roviques. org, André Burguiere (Paris, 1986), pp. 4652 A HISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 35 primazia social e econdmica € ameaga destruir, desde den- tro, 0 paradigma dos Annales. Gragas @ obra de historiado- res dos Ultimos vinte e cinco anos, dep -nos atualmente com o de de uma histor! “ya cultura que nem pode ser com 0 Ces: a da cultura que neh FE reduzida a um produto das transforma Ses economicas € sociais, nem retornar a im modo de ideias desvinculado das, mesmas. Sem 0 dominio estrutural do paradigma dos An- nales e a certeza analitica de classe, os historiadores estado experimentando novas teorias € novos modelos que pouco devem 4s disciplinas da ciéncia social. A historia social levou- nos ao limiar de uma nova historia da cultura na qual, no fim das contas, a sociedade talvez 920 55°F mordial ea cultura talvez nao seja derivativa. O resul tado é um perio- do de confusio, ¢ talvez de crise, devido @ ascensio ¢ que da dos paradigmas. Os historiadores sociais rém demorado a reconhecer “a desintegragao geral dacrenga numa interdis- ciplinaridade coerentemente unificada’”?. O medo mais am- plamente difundido, mesmo entre aqueles que praticam @ nova historia cultural, é de que essa historia da cultura pos- marxista e pos-Annales possa afundar no relativismo, na ir relevancia, no gosto pelas coisas antigas € no niilismo poli- tico, ao rejeitar visdes de mundo que j& ndo convencem, nem despertam interesse. A controxertida-obra de Foucault eleva-se como uma abordagem alt i a ‘ Seguin- do por um caminho diferente, Foucault questionou © pr prio princip1o oe em toda a historia social: ode que a propria socie! fade constitui a realidade a ser estudada. Mui- tos de nos deixaram-se influenciar por uma ou outra das historias de Foucault, sem perceber a dimensio de seu rom- Tyan Hen : . Dyan Hunt, “French History in the Last Twenty Years: The Rise : Eall of the Anmales Paradigm”. Journal of Contemporary History 21 (1986): 2 36 A NOVA HISTORIA CULTURAL pimento com os modelos sécio-histéricos>. Talvez seja ver- dade que as obras de Foucault respondam aos “‘problemas atualmente dbvios” que infestam a histéria social e econémica’. Se assim for, entio um exame mais amplo dos desafios colocados por Foucault aos historiadores deve ter algo a nos dizer sobre o impasse ou as encruzilhadas da his- toria da cultura, bem como sobre a contribuigio da obra de Foucault para a escrita da historia. Ao examinar a contribuigéo de Foucault para a nova historia cultural, este capitulo aborda trés preocupacdes fun- damentais: (1) a relagdo entre Foucault e os membros da profissao historica, e sua aceitag4o por parte destes iltimos;_ (2) as conquistas e os fracassos de Foucault enquanto histo- riador — se, em termos de los, pesquisa ¢ interesses, ele atuou ou nao no ambito da disciplina; ¢ (3) a influéncia de Foucault sobre a escrita da histdria ¢ as perspectivas de sobrevivéncia dessa influéncia, Ao entender a diregio e 0 desenvolvimento da obra de Foucault como histéria geral, minha posigio é a de um historiador que, diante da mes- ma, indaga quanto ela é util, influente e informativa, no sen- tido de conceituar e desenvolver os problemas histéricos. A reagao dos historiadores a Michel Foucault tem sido conflitante e problematica. Na Franga e nos Estados Uni- dos, a profissio tem demorado a reconhecer como um de seus membros alguém que nao teve formagio na disciplina historica>. Da parte de Foucault, sua rejei¢do da historia positivista, sua linguagem codificada ¢ obscura ¢ sua re- 3. A abordagem e as descobertas de Foucault em Discipline and Punish in- fluenciaram fortemente meu proprio trabalho sobre a con{luéncia entre prisio ¢ cultura: ver Patricia O'Brien, The Promise of Punishment: Prisons in the Nineteenth Century France (Princeton, N.J., 1982), 4. Hunt, “French History in the Last Twenty Years”, p. 222. 5. A formagio filosofica e psicopatologica de Foucault sio discutidas por Alan Sheridan, Michel Foucault: The Will to Trieth (Londres, 1980), pp. L8. _ arrogante persisténcia em ser mal compreendido: “Nao me A HISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 37 jeigao aos criticos como “‘espiritos menores”’, “‘burocratas "e policiais’’® em nada contribui para transpor o abismo en- ‘tre ele e os historiadores académicos, A sua énfase no cara ter inovador de sua prépria contribuicao veio somar-se u perguntem quem sou e nao me pecam que continue sendo o mesmo””. Diante da critica mordaz, defendia-se com a irreverente negativa de sempre: “Nao sou um historiador profissional — mas ninguém é perfeito’’8. Pouco antes de morrer, Foucault definiu sua obra como “‘estudos de ‘his- téria’ em raz4o dos dominios que aborda e das referéncias as quais recorre; mas”, insistia ele, ‘‘ndo constituem a obra de um ‘historiador’”?. Allan Megill descreve os estagios da reagao dos histo- riadores 4 obra de Foucault como partindo do que ele cha- ma de “‘ndo-recepg4o”’ para uma fragil e limitada “‘assimila- gio”, depois de um periodo intermediario de “confronta- gh0""!°. Apesar de Robert Mandrou e Fernand Braudel te- rem reagido positivamente 4 Histoire de la folie, em 1962, Foucault atravessou a década de 1960 praticamente ignora- do pelos historiadores. Nesse periodo, porém, sua aceita- g4o fora da profissio histérica estava em franca ascensio, segundo compilagées extrafdas por Megill do /ndice de Ci- tagées das Ciéncias Sociais e do Indice de Citagées das Artes e Humanidades. Os historiadores que aparecem nas me- 6. Michel Foucault, The Order of Things: An Archacology of the Htaman Sciences (Nova lorque, 1973), p. xiv; e tdem, The Archaeology of Knowledge, traduzido pa- rao inglés por A. M. Sheridan Smith (Nova lorque, 1972), p. 17 7. Foucault, Archaeology of Knowledge, p. 17. 8. Em Ira Allen Chapel, Universidade de Vermont, 27 de outubro de 1982, citado em Allan Megill, “The Reception of Foucault by Historians”, Journal of the History of Ideas 48 (1987): 117 9. Michel Foucault, The History of Sexuality, vol. 2: The Use of Pleasure, tra- duzido para o inglés por Robert Hurley (Nova lorque, 1985), p. 9. 10. Megill, “Reception of Foucault”, p. 125. 38 A NOVA HISTORIA CULTURAL lhores posigGes dessas pesquisas encontram-se, significati- vamente, ‘as margens, quando no inteiramente fora da dis- ciplina ‘genérica’ da histéria”!!, Nenhum dos seis historia- dores mais citados, inclusive o proprio Foucault, pertencia aum departamento académico ou instituto de histéria; ne- nhum deles tinha “qualquer proximidade com a corrente principal dos estudos sécio-politicos’’!2. A marginalidade de Foucault enquanto historiador deu lugar, na década de 1970, a um relutante reconhecimento dos aspectos historicos de sua obra, embora aqueles que en- contraram semelhangas entre a abordagem de Foucault e as suas proprias nao tenham percebido, muitas vezes, a in- tengao da obra dele. Para os historiadores das mentalités, por or exemplo, o estudo da loucura realizado por Foucault evocava as inteng es de Febvre na na década de 1930. E os his- toriadores de esquerda viram as historias de } de Foucault acer- ca da clinica, do asilo e da prisio como criticas institucto- nais indicativas do desenvolvimento do controle. social, A identificagao de elementos comuns num programa $Oc10- hist6rico compartilhado por Foucault significava que as apa- rentes incoeréncias e contradig6es de outros aspectos de sua obra eram consideradas como falhas de Foucault. Sua obra_ tem sido valorizada por seus “insights locais’’!*, mas esses insights ajustavam-se a0 programa existente da histéria so- cial. Nos pontos em que deixavam de : ajustar- se, a respon- sabilidade recaia sobre ‘Foucault. 40, por Megill, do termo generico, em vez de convencional, ¢ Gcilem sis eamdio ¢Eagrapa cn suas conotagdes de consumo (:bid., p. 119) 12, Ibid, p. 120. Os outros cinco historiadores sio Erwin Panofsky, historia da arte; Ernst Gomibrich, histéria da arte; Frances Yates, histria intelectual /histé+ ria da arte: Thomas S. Kuhn, historia da ciéncia; Mircea Eliade, historia da religio. 13. As interpretagdes equivocadas da obra de Foucault séo bem abordadas por Jacques Revel, “Foucault, Michel, 1926-1984", em Dictionnaire des sciences hustorigues, org. Burguiére, pp. 299-92. 14. Hunt, “French History in the Last Twenty Years”, p. 219. A HISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 39 Em seu ensaio “L’Historien et le philosophe”, Jacques Léonard, um historiador social da medicina francesa do sé- culo XIX, como que zombando de si mesmo, contrastou Fou- cault com “‘o historiador’’, um tipo que, ‘‘para ser compe- tente, deve passar muito tempo respirando a poeira dos ma- nuscritos, envelhecer nos repositérios dos arquivos departa- mentais e travar uma batalha com os ratos, numa disputa por guloseimas nos séraos das reitorias”. Foucault claramente nao se comportava como um mordiscador de fatos envelhe- cido e coberto de poeira. Pelo contrario, como nos diz Léo- nard, era “um cavaleiro barbaro” a galopar pelos dominios histéricos, irresponsavelmente a vontade em suas histérias de prisées, medicina, hospitais, em sua esmerada e meticu- losa pesquisa. Foucault era criticado por sua desatengao a cro- nologia, seus descuidos, suas minimizacGes e€ seus exageros. Os historiadores de uma vasta gama de temas — 0 trabalho, os militares, a educacio, a_medicina — seriam ~fapazes, asseguravam-nos, de ordenar uma série de “fatos concretos” contra a tese da normalizagio | maciga de Foucault. Léonard falava por muitos historiadores inquietos com a falta de or- todoxia da obra de Foucault. Mesmo assim concluiu, nessa introdugao a um debate de historiadores com Foucault, que “Foucault é de fato um historiador, e um historiador de ori-_ ginalidade incontestavel, a quem nos interessa ouvir Se ele fol Jonge demais enquanto “um filosofo que veio.dissemi- nar suas sementes no campo dos historiadores, ...sua auda- pall , condescendeu Le onard, Foucault entendeu a —— a ‘perk respadta ao elogio condenatério de Léonard merece ser mencionada com 15, Jacques Léonard, “L’Historien et le philosophe. A propos de: Surveiller et punirs naissance de [2 prison", em L Impossible prison, org. Michelle Perrot (Pa- ris, 1989). pp. 10, 12-13, 16, 9, 17 40 A NOVA HISTORIA CULTURAL algum detalhe, pois constitui, a um sé tempo, uma autojus- tificativa de Foucault enquanto historiador e uma observa- g40 mordaz sobre a condigao da escrita histérica. A “‘L’His- torien et le philosophe’’, Foucault contrapds seu titulo que faz lembrar o de uma fabula: “La Poussiére et le nuage”’. Concordava com Léonard em que o historiador “‘estereo- Upico” tem inumeras tarefas ingratas: 0 virtuoso cavaleiro da exatidio (‘Nao tenho muitas idéias, mas pelo menos o que digo ¢ verdadeiro"); o médico de informagdes inexauriveis (""Vocé nada disse sobre essa ou aquela coisa, ou mes- mo sobre aquilo que conheso e vocé certamente ignora”); a gran- de testemunha da Realidade ("Nada de sistemas grandiosos, ape- nas a vida, a vida real, com todas as suas riquezas contraditorias”); 0 inconsolivel erudito que chora sobre seu pedacinho de terra que acabou de ser saqueado pelos barbaros: exatamente como se, de- pois de Atila, a relva nunca mais voltasse a crescer. Esse é 0 Foucault se divertindo, como um Atila, com o ter- reno histérico devastado que deixa em sua esteira. E essa a sua resposta irada a “‘poeira” dos ‘‘pequenos fatos verda- deiros” da histéria, confrontada com a “nuvem” agitada por suas “grandes idéias vagas1° . Ao arremeter contra a_ estreiteza, ¢ mesquinhez ea dos historiadores, éle nao é um barbaro, mas um reform dor af a pedir por algo melhor e mais grandioso. E nés, a exemplo de Léonard, per- cebemos a ousadia e ouvimos 0 grito de guerra, Os criticos insistiram, e continuam a insistir, que em sua obra Foucault pretendia minar a legitimidade da histd- ria, e de todas as disciplinas, como excludentes e limitado- ras do conhecimento. Por nao utilizar os “‘critérios habi- tuais de erudigio histérica”, Foucault é, como observa Michel Foucault, “La Poussiére et le nuage”, em L Impossible prison, org Perrot, p. 29. HISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 41 Megill, “‘antidisciplinar, uma pessoa 4 margem de todas as iplinas, colhendo delas apenas com o objetivo de mina- . Megill conclui que “‘embora ele nao seja da disciplina, importante para ela’’!7; Outros, como Jacques Revel, re- nhecem a contribuigio de Foucault a histéria como mar- . Revel afirma que “‘a obra que talvez tenha marcado profundamente os historiadores franceses desde a dé- da de 1960 nao é a de seus pares, mas sim a de um fildso- , Michel Foucault’’!8, Os historiadores menos dispostos a aceita-lo apontam sem-vacilar as deficiéncias de Foucault, a falta de método, © menosprezo pelos dados, a obscuridade filoséfica, a lin- agem singular, as simplificagdes excessivas ¢ as abstragGes, que para eles refletem a falta de validade histdrica da obra _ de Foucault. Os historiadores propensos a admitir que Fou- cault estava escrevendo historia véem-na como ma histd- ia, por demais genérica, insubstancial e mecanica. Nao ad- miram, portanto, as irritadas negativas de Foucault, nem sua irreverente confissio de que “‘ninguém é perfeito”. E posstvel quea concepgao de Foucault do discurso his- torico, e de seu proprio engajamento neste, fosse mais aberta e fluida — ainda que complexa — e menos destrutiva e cor- rosiva do que se alegava. Como observou Foucault em L’Or- - dre du discours: “Na fertilidade de um autor, na multiplici- dade dos comentarios e no desenvolvimento de uma disci- plina, tendemos a ver infinitos recursos disponiveis para a criagio do discurso. Talvez assim seja, mas, mesmo assim, sio principios de coergao, e talvez seja impossivel avaliar seu papel positivo e multiplicador sem primeiro levar em conta 0 seu papel restritivo e coercitivo’!’, Seja como for, Reception of Foucaul’s pp. 133-34 18. Revel, “Foucault”, p. 290 19. Michel Foucault, The Discorerse on Language (Nova lorque, 1971). p. 224 42 A NOVA HISTORIA CULTURAL alguns historiadores optaram por repudiar Foucault como um mau historiador, ou como um nio-historiador. Os cri- ticos mais favordveis optaram por consideré-lo como algo além de um historiador, situado 4 margem e dando uma con- tribuiggo marginal. E quase certo que o proprio Foucault se via como um marginal, mas um marginal que pretendia reformular pro- fundamente a disciplina que o excluia. Em sua aula inaugu- ral no Collége de France, Foucault implicitamente apresen- tou a ““grandiosidade” de sua propria obra através de uma discussio da contribuigio de Gregor Mendel 3 biologia. Nes- se momento de seu maximo reconhecimento institucional, Foucault preferiu identificar-se com um marginal, um obs- curo monge austriaco cujas contribuigdes para a sua disci- plina permaneceram ignoradas até depois de sua morte. “Mendel foi um verdadeiro colosso, tanto assim que aciéncia nao podia sequer referir-se a ele adequadamente”. Sua grande descoberta dos principios basicos da genética nao cabiam na ciéncia de seu tempo: “Ali estava um novo objeto que exigia novas ferramentas conceituais e novos fundamentos tedricos. Mendel falava a verdade, mas nao estava dans le vrai (dentro da verdade) do discurso biolégico contem- poraneo... Uma mudanga radical de escala e a utilizagao de uma classe inteiramente nova de objetos na biologia se fi- zeram necessarias, antes que Mendel pudesse entrar para a verdade e suas proposiges parecessem, na maior parte, exa- tas’”?0, Foucault ja havia explicado a natureza de suas pro- prias e semelhantes preocupagées: “O que estamos vendo, entao, é o surgimento de todo um campo de questées, al- gumas delas j4 conhecidas, através das quais essa nova for- ma de histéria esta tentando desenvolver sua propria teo- 20. ibid. A HISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 43 ria. ...Meu propésito é revelar os principios e as conseqiién- cias de uma transformagao autdéctone que esta ocorrendo no campo do conhecimento histérico’’?!. A obra de Foucault negava a marginalizagio, embora le e seus criticos tenham-no relegado a uma posi¢3o mar- ginal. Examinemos alguns argumentos contrarios. Ao criar eu proprio titulo para a cadeira que, em 1970, lhe foi ofe- ecida no prestigioso Collége de France, Foucault optou por *Cadeira de Histéria dos Sistemas de Pensamento”. Alega- a pretender distanciar-se de obras anteriores como The Or- ler of Things e The Archaeology of Knowledge, ao mesmo empo em que aprofundava seu compromisso com a inda- exuality?*. Essas obras sao historias autoproclamadas. Con- udo, nao sio produtos “genéricos” da disciplina historica. Em suas historias (bem como em suas obras histéricas, mais dificeis de serem rotuladas), Foucault estava tentando ‘omper _com_as convencées da disciplina, extrapolar seus Jimites. Havia pouco de famili seu_desprendimento das-coergdes, seu questionamento dos métodos, a mensu- agao daquilo que ele chamou de “mutagées” da histéria, a forma como ele fizera em The Order of Things. Foucault, porém, era sempre honesto e consistente (a despeito das afir- agGes em contrario de seus criticos) ao identificar o que havia de errado nos “‘principios reguladores” da tradicio- ‘al historia das idéias. Ao abandonar a causa e efeito e a unidade amorfa de algum grande processo evolutivo, se- ja ele vagamente homogéneo ou rigidamente hierarquiza- lo”’”, ele o fez em busca de formas, e nao de novas estru- 21. Foucault, Archaeology of Knowledge, pp. 22. Hubert L. Dreyfus e Paul Rabinow, Mrchel Foucault: Beyond Structiens and Hermeneutics (Chicago, 1982), p. viii. 44 A NOVA HISTORIA CULTURAL turas. “‘O objetivo foi, na verdade, estabelecer aquelas di- versas séries convergentes, e as vezes divergentes, mas nun- ca auténomas, que nos permitem circunscrever o locus de um evento, os limites de sua fluidez e as condigdes de sua ocorréncia’’3, Em vez de consciéncia e continuidades, a substancia da nova histéria social, a nova histéria cultural de Foucault revidava com descontinuidades, grupos de ni 56es, séries, discursos. Seu empreendimento era fundamen- talmente_metodaldgico. Nio obstante, os desafios metodoldgicos de Foucault abragaram um dos mais tradicionais objetivos da histéria: suas obras completas representam uma nova histéria da ci- vilizagao ocidental. Como historiador profundamente com- prometido com o presente, ele explicou em The Order of Things que pretendia revelar os estratos histéricos de sua propria cultura, Antes e depois, suas obras constituem uma surpreendente anilise da civilizacdo ocidental em termos de normalizagio e disciplina. Através de sua periodizagio, ba- seada nas rupturas do Renascimento e nas eras classica e mo- derna, se ele nao esta produzindo uma-histéria_toral, esta entéo produzindo uma histéria geral. Como explicou em The Arehscolaay of Knowledge, a-histéria-total simbolizava a reconciliagao da forma geral de uma civilizacao, as “leis que sdo responsaveis pela coesio” de todos os fendmenos de um periodo, De acordo com a historia roral, as estrutu- ras econdmicas, as instituigdes e os costumes, as atitudes Mentais € 0 comportamento politico s sao todos regidos pe- la mesma rede de cau lidade, por * ‘uma t emesma his- toricidade”. A histéria-geral rejeita a totalidade tanto dos marxistas quanto dos historiadores dos Annales, nao em fa- vor da pluralidade, mas em favor de i interagdes, correlages 23. Foucault, Discourse on Language, p. 230. em nossa A HISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 45 e e predominancia “Uma na descrigao total retine todos os fe- _nomenos ao redor de um tinico centro — um principio, um significado, uma visio de mundo, ul nfiguracao gel uma histéria geral, ao: contrario, “mobilizaria 0 espago da dispersio”’*. Esse espaco recém-mobilizado é uma tela repleta de cor- pos — corpos em hospitais, em clinicas, em asilos e em pri- sdes. Foucault formulou seu préprio objetivo como sendo o de “criar uma historia dos diferentes modos pelos quais, Itura, 68 seres humanos sio transformados em sujeitos” (0 grifo é meu)’. Numa obra anterior, ele des- creveu esse objetivo de um modo bastante diverso, como a tentativa de “restabelecer os varios sistemas de sujeiga0””6. Fernand Braudel, o principal representante dos Annales nas décadas de 1960 e 1970, ele proprio tentando descobrir um novo modo de ver a histéria, nao demorou a perceber a amplitude e a ambigao do empreendimento de Foucault. Em sua avaliagdo para a Annales, Braudel reconheceu Mad- ness and Civilization como uma tentativa de remontar aos “misteriosos caminhos das estruturas mentais da civiliza- g4o”7. Lynn Hunt situa Foucault ao lado de dois outros his- toriadores profissionalmente marginais, Philippe Aries e Nor- bert Elias — segundo ele, historiadores do processo civiliza- torio. Como Lucien Febvre, estudaram “‘tendéncias de lon- go alcance na alteragdo da estrutura da psique’”’8. Ao exa- minar a cultura ocidental em termos de valores e comporta- mento internos, Foucault, como_historiador_dos “‘siste- 24. Foucault, Archaeology of Knowledge, pp. 9-10. 25. Dreyfus e Rabinow, Michel Foucault, p. 208. 26. Michel Foucauk, “Nietzsche, Genealogy, History”, em Language, Counter Memory, Practice, org. Donald Bouchard (Ithaca, N.L., 1977), p. 148 27. Nota de Fernand Braudel 4 resenha de Robert ‘Mandrou, ‘ “Trois clés pour comprendre la folie 4 l’époque classique”, Annales, E.S.C. 17 (1962): 771-72. 28. Hunt, “French History in the Last Twenty Years”, p. 217. ., tico de uma classe (a burguesia) ou de uma elite domi 46 A NOVA HISTORIA CULTURAL mas de pensamento”, difere amplam: outros histo- riadores das mentalités, que tem por enfoque a comunida- de, a familia e 0 individuo, No cerne da histdria da civilizacdo ocidental de Fou- | cault encontra-se o principio organizador do poder. A cul- | tura é estudada através de tecnologias de poder — nao atra- | vés das classes, do progresso ou do carater indémito do es- _ Pirito humano”’. O poder nio pode ser apreendido pelo estudo do conflito, da luta e da resisténcia, a ng.ser em suas manifestagdes mais restritas. O poder nao é caracteris- te, nem ‘pode ser atribuido a uma delas. Para Foucault, o poder é uma estratégia atribuivel a fungdes (disposigées, ma- nobras, taticas, técnicas). O poder néo se origina nem na politica, nem na economia, e nao é ali que se encontram suas bases. O poder existe como “uma rede infinitamente lexa de ‘micropoderes’, de relagdes de poder que per- meiam todos os aspectos da vida social”*°. O poder nao sé reprime, mas também cria. Dentre todos esses aspectos, 0 mais polémico de todos é a constatagao de que o poder ¢ria a verdade e, portanto, a sua prdpria legitimagio. Cabe aos “historiadores identificar essa produgao da verdade como_uma fungao do poder. Coerente com esse ponto de vista, Foucault negou que © poder fosse o poder do Estado. Afirmou indmeras vezes nao ter qualquer teoria, ou “esquema’’, do Estado. O mentos (rowages, como na maquinaria). No debate com os “Parece, em retrospecto, que uma anilise do poder era o componente ausente tanto na Anmales quanto nos paradigmas marxistas" (ibid., p. 221). Hunt também vé, na obra de Elias, um desenvolvimento do tema do poder — do poder das elites definidoras de valores. 30. Sheridan, Michel Foucault, p. 139; Patricia O'Brien, “Crime and Punish- ment as Historical Problem”, Journal of Social History 11 (1978); 313. A HISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 47 historiadores em L ‘Impossible prison, ele relacionou as per- -guntas com as quais os historiadores “‘irritados” o bombar- dearam: ““O que é que voeé esta fazendo com 0 Estado? Que teoria vocé esta nos oferecendo? Vocé negligencia 0 papel do Estado, dizem alguns, ¢ o vé por toda a parte, dizem outros”. Foucault acreditava que seu problema com 9s his- toriadores, marxistas ou n3o-marxistas, quanto a essa ques- tio, era “a auséncia de um esquema. Nada que se asseme- Ihe & um esquema com e como 0 ciclo malthusiano, ou como a oposigao | ciedade civil e Estado: nenhum s garantido, explicita ou implicitamente, as tranq ilas opera- cées dos historiadores nos ultimos cingiienta anos”’. Ele des- prezava a seguranga desses esquemas: seu “Jogo”, dizia-nos ele, era “diferente”. “Fazer historia a partir da ‘objetifica- g40” desses elementos que os historiadores consideram co- mo dados objetivos (a objetificagdo de objetividades, ouso dizer) significa sair do circulo no interior do qual gostaria de me movimentar’*!. Para entrar no circulo de F It, nao se pode reco- nhecer nada como dado. “Nada. homem — nem mes- ~é suficientemente estavel para servir de base para o reconhecimento de si mesmo ou a compreen- sio dos outros homens’. A propria nogao de homem” é uma “invengo recente” da cultura européia a partir do [ século XVP3. O Estado, 0 corpo, a sociedade, 0 sexo, a al- \ ma e a economia nao sao objet | “Meu tema geral nao ea sociedade, mas sim o discurso ver- ' dadeiro/falso: permitam-se dizer que é a formagio correla- “Table ronde du 20 mai 1978", em L Impossible prison, org. 31. Foucaul Perrot, pp. 34, 35 . 3). Foucault, “Nietesche, Genealogy, History”, p. 153. 33. Foucault, The Order of Things, p. 386 48 A NOVA HISTORIA CULTURAL | tade dominios, de objetos e de discursos verificaveis e fal- | sificaveis que Ihes so atribuiveis; o que me interessa nao | é simplesmente essa formacio, mas os efeitos da realidade | que sao a ela associados”}4, Esse ultimo trecho é interessante por inumeras razées. Em primeiro | estudo do poder de des da formagao discursiv, que regem as r | : | dor configurar (discurso), Em vez d | dos objetos’”’, nao aj | io relagees de \ | tribuigao e a interacao das dife ugar, revelaa Posicao central do discurso no cault, Ao procurar as uniformida- Foucault referiu-se a “normas” jo discurso. A unidade, a dis- ren¢as permitem ao historia elagdes basicas a psicologia, a economia, a gramatica e a me- | dicina como parte da mesma formagao cobrir, por exemplo, como a criminalidade podia tornar-se objeto do discurso Psiquiatrico, Foucault absteve-se de mos- trar como era realmente a criminalidade no século XIX (e, conseqtientemente, de procurar uma realidade extrinseca ao enas como grupos discursiva. Ao des- 1ss0, viu o discurso como “‘a ordenagdo_ de signos, mas co- O compromisso fundamental de Foucault com esse mé- todo enquanto meio de estudar o poder foi explicitamente admitido ao longo de toda sua obra. Ele rais para o estudo do poder: nao est como uma forma de repressao, udar_o poder ap nao reduzir 0 poder a uma criou preceitos ge- as conseqiiéncia da legislacao e da estrutura social>6, Foucault situava o poder de modo que do: (1) nunca se | Coextensivo com 0 corpo social” mo pudesse ser estuda- esta fora do poder; nao existem limites nem periferias, assim como nao existe um centro: “o_poder é 34. Foucault, “Table ronde", p. 55, 35. Foucault, Ay 36. Arnold I. Davidson, al Critical Reader, or; rchaeology of 8. David C. Hoy (Nova lorque, ; (2) “as relagdes de poder ‘nowledge, pp. 48-49. “Archaeology, Genealogy, Ethics", em Foucault: 1986), pp. 2 HISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 49 -entrelacadas a outros tipos de relagGes (produgao, aren a ilia, sexualidade)” e podem ser estudadas on 9 seus discursos; (3) as relagdes de poder sio intel igadas ¢ n condigées gerais de dominagao, estratégica mais ou menos coe renite e unitaria”. Historicamente, as relagdes de porter por jem servir, e de fato servem, aos interesses econdmicos, ine interesses nao podem ser considerados primarios: aia lasses é preservada, mas “rejeitada como a ratiaipara® we icio do poder’”. O historiador deve procurar “nos 5 issores’” — nos sentimentos, no amor na_ cons: | ciéncia, no instinto — os intersticios do poder Oe = de uma proposta de estudar as origens das mentalités, mt cep¢des de mundo ou dos sentimentos associados a “ ak = veis de sistemas sociais econdmicos. oO objetivo de ‘o1 cat no era compativel com os paradigmas Scio: histo os minantes, a despeito dos insights locais e das similari < 5 Foucault nao procurava a evolugio ou a recorréncia. te, odo dele consistia, basicamente, em isolar_as.diferensas Fr ecuiar as invers6es. Chamou seu método de “genealéat co” edeus seu proprio significado an termo. que foi buscar er Nietzsche. “A genealogia ¢ sinzenta, meticulosa ¢ pac s mente documental. Deve regisrarasingularidade dos <5" tos fora de qualquer finalidade monétona’ ‘ A net oe = sistia ele, nao pode ser aleatéria. Exige erudigao. a ail - gista/historiador busca 0 comego, nao a origem. wet . cault, essa era uma disting3o fundamental. As origens 1Mp. i i i Jma genealo- i os implicam diferencas. Um: cam cauusas; os comegos Imp! e a some gia, portanto, “‘vai cultivar os detalhes e acidente que acon panham todos os comegos Fr Michel Fo ! ad Other Wr 37, Michel Foucault, Power/Knowledge: Selected iniertaees ak Other 1972-1977, org. Colin Gordon (Nova lorque, 1980), pp. 43, h "38, Foucault, “Nietzsche, Genealogy, History”, pp. 139, 50 A NOVA HISTORIA CULTURAL Como funcionava, na pratica, 0 método genealdgico? Foucault usou reiteradamente o recurso da justaposigao para introduzir e sustentar suas historias. Nao se tratava de um mero recurso literario, mas de um instrumento para minar OS pressupostos progressistas sobre a transformagio. Em Dis- cipline and Punish, oferece-se ao leitor 0 terrivel espetaculo da evisceragio e do esquartejamento do regicida Damiens. Essa descrigdo é acompanhada por uma lista extremamente minuciosa dos afazeres didrios de um prisioneiro do século XIX, igualmente brutal em sua monotonia. Foucault expli- cou sua adaptacao do método de Nietzsche quatro anos an- tes da publicagao de Discipline and Punish: “[O genealogis- ta] deve ser capaz de identificar Os eventos histéricos, seus solavancos, suas surpresas, suas vitorias instaveis e suas in- tragaveis derrotas — a base de todos os comegos, atavismos e hereditariedades’”™. O método parece en anosamente simples: identificar e justapor aierenta SE acs das ma- nifestagdes de poder que permeiam todas as relagGes sociais, O poder é um fendméno complexo que desafia os pressu- Postos positivistas. O método de Foucault Permite-nos per- {ceber de que modo funcionam as sociedades. Estudar.o po- {dee através do discurso também nos permite percebe 0- :Mento em que sdo introduzidas novas tecnologias de poder. Esses aspectos da obra de Foucault sio imediatamente aparentes em seu estudo do “nascimento da priséo”’. Fou- cault nao via os métodos punitivos como meras conseqiién- cias das estruturas sociais (e, por extensio, ndo associava os novos miétodos de punicio a transformagées nos sistemas sdcio-econdmicos)*. Em sua busca de uma matriz comum 39. Ibid., pp. 144-45, $0, Outros historiadores contemporineos das prisdes basearam seus estudos das modificagées do sistema penal nas mudancas da estrutura social Ver Michel Ignatieff, A Just Measure of Pain: The Penitentiary m the Industrial Revolution, 1750-1850 (Nova Torque, 1978); e Michelle Perrot, “1848. Revolutions et prisons”, em Ltmpossible prison, org. Perrot, pp. 277-312 312 = 4. HISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 31 -histéria do direito penal e nas ciéncias socials, Foucault scobriu algo novo, uma ruptura: a introdugao da feo ja corpo/mente na arena da justiga penal. Son ssause, d 40 do conhecimento cientifico_na_pratica jud =e ‘Oprio corpo se tornou o foco de um novo tipo de rela o de poder. Essa mudan¢a cor eu_parale ito, e essas mudangas fo- im interligadas pela forma estratégica de normalizagao. O ema de Foucault é a tecnologia do corpo € de como esta se transformou com a metamorfose dos métodos punitivos na era moderna. Ao fazer a pergunta que faz, a0 descentra- lizar nosso entendimento da puni¢ao como peers ao ira-la do ambito das interpretagdes liberais € marxistas, on “cault foi capaz de substituir a repressio pelo pee normalizagio — talvez um conceito mais satis! Sri P explicar um sistema (de funcionamento) permancn a : Trata-se de um métod nio de uma teoria con . buig&o de Foucault para a escrita da historia nfo éa “ score social. Como demonstrou o paradigma dos Anna les, uma teoria de transformagao social no se faz necessiria para ume -metodologia consistente. Através do seu estudo do pode ~ ber/cultura, Foucault contribuiu, no entanto, com uma me todologia. Nao obstante, prevalece a afirmagio oe es ie muito forte, de que Foucault ndo tinha método al gum: impossivel imaginar 0 ‘método’ de Foucault, que pave de é 0 antimétodo de Nietzsche e do Heidegger tard : Ou, como diz Hunt: “Aquilo que nao rem uma lena a poral na pratica discursiva nado pode prover 3 we sols e permanente do método historico”. anes ° Processo pelo qual “‘as ciéncias humanas... devem ser historic 41. Megill, “Reception of Foucault”, p. 134. 52 A NOVA HISTORIA CULTURAL desconstrufdas como produto de “microtecnologias de po- der’ contingentes” constitui, em si, um método*2. Em seus piores momentos, o método efetuou “uma mera intersec- ¢ao de coisas e palavras”, talvez de concep¢o brilhante, mas executada de forma pouco convincente. Em geral, Foucault era mais claro que seus criticos quanto as limitagées de sua obra: “Gostaria de mostrar que_o discurso nio é uma te: nue superficie de contato, ou de confrontacao, entre uma | realidade e uma linguagem (langue), Por mais ténues que os contatos §s vezes pudessem ser, Foucault procurou-os em todos os tipos de textos — me- morias de desajustados, didrios, tratados politicos, cépias de projetos arquitetdnicos, registros criminais, relatorios mé- dicos —, aplicando principios consistentes de andlise em bus- ca dos momentos de inversao do discurso, em busca dos eventos enquanto loci de conflitos em que as praticas so- ais foram transformadas*. E, para cada discurso, texto ou evento, ele colocava as mesmas perguntas Onde esté 0 po - der ness conhecimento? De que modo esse conhecimento complementa a tecnologia do poder?43- Com a historiadora Arlette Farge, Foucault voltou sua atengao para um corpo de documentos bem estudados pe- los historiadores, as lettres de cachet do Antigo Regime*®, e impés seu préprio método ao projeto*”. Anteriormente entendidas como indicadores do sistema monarquico repres- Sor € injusto, essas ordens sumarias de prisdo agora davam 42. Hunt, “French History in the Last Twenty Years”, p. 218, 43. Foucault, Archaeology of Knowledge, p. 48. 44. Charles C. Lemert © Garth Gillan, Michel Foucault: Social Theory avid Transgression (Nova lorque, 1982), p. 132 45. Essas questdes sio discutidas em ibid., p. 136. 46. Arlette Farge ¢ Michel Foucault (orgs.}, Le Desordve des familles. Lettres de cachet des archives de la Bastille au XVIlle siscle (Paris, 1982 47. Arlette Farge, “Travailler avec Michel Foucault”, Le Debat, n° 41 (1986) 164.67 ISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 53 se filhos, maridos e mulheres. Para Foucault ¢ Far- poder de repressio e criagio nas relagées ios eve origem no Estado, Suas novas leituras desses o- ntos necessarlamente transformaram nossa aoe 5 da “‘politica”’ da vida familiar as vésperas da Revol ae cesa e da confluéncia de cultura e politica nos tex Ao inverter as preocupagées dos historiadores comes rres de cachet, Foucault fez com que os contornos ae s do poder desabassem em direcdo ao Se uumentos de Estado para negar a centralidade do i Tendo em vista um objetivo semelhante, mre presentou” as memédrias de um parricida, Pierre “e eas de um hermafrodita, Herculine Barbin, some ae s individuais de normalizacio no século XIX*. Os © rsos médicos, legais e politicos foram submetidos aos mee os métodos de inversio e ao mesmo epiedemee oe gult nao hesitou em nos fazer acompanhar o de P C utador do examinador médico em sua descrigao i or s40s internos de Barbin. Foucault, porém, éo sees us a ausente do livro, com pouco mais de uma pene 7 * fo para introduzir néo as memorias de Bar in, m se elatorios*’. No caso de Riviere, Foucault ier ar nes Emma distancia: “SO a sua beleza ja constitui uma justifica E suficiente para ele hoje”. cn pices enszios interpretativos (mencionados como Nowa) de Foucault ¢ seus alunos de seminario, es no pe meiro texto sobre o parricida, foram excluidos do 3) ” er, 48. Michel Foucault (org,), /, Baer Ravi a ng Slay phreed My Moher, 2 other: A Case of Parvicide in the Nineteent ad Boe a Jellinek (Nova lorque, 1973); e adem (org), Herculine Berbin dite Alexina B. (Paris, 1978). , '49. Foucault, Herculine Barbin, pp. 131-32. 30, Foucault, Pterve Riviéve, p. 199 54 A NOVA HISTORIA CULTURAL do hermafrodita. Por qué? Poderiamos supor que, ao exi- mir de andlise memérias como as de Riviére e Barbin, Fou- cault atribufa ao documento uma autenticidade que existia em algum lugar fora da relagao de poder>!, Parece tratar- se de uma incoeréncia metodolégica. Como Foucault ex- plicou: “Era muito diffcil para nds falar dele sem envolvé- lo num dos discursos. ...Se 0 tivéssemos feito, deveriamos té-lo inserido na relagao de poder cujo esforco redutivo de- sej4vamos mostrar, ¢ nés mesmos terfamos caido na arma- dilha armada por ele’’52. No caso do diario de Herculine Barbin e dos comentérios médicos, legais e jornalisticos que envolvem o seu suicidio, Foucault permitiu a insergao de documentos que arcam com todo o peso interpretativo. O comentarista nao se interpée, a ndo ser como presenga or- ganizadora. O relato termina ndo coma informagio do sui- cidio de Herculine, mas com a certidao de nascimento alte- rada de Barbin, que mudou de nome e Sexo, para que ficasse vegistrado por escrito, vinte e dois anos depois de seu nasci- mento. Como comentarista de uma disciplina diferente volta- da para as Intengées de Foucault, David Carroll reconhece, Resse status especial atribuido As memérias de Barbin e a textos semelhantes, que “serviram de armas contra os pos- tulados de consciéncia, razao, transcendéncia, continuida- de, totalidade, dialética, subjetividade, autoria etc., testemu- nhando, por sua mera existéncia, os efeitos redutivos e coer- civos dos sistemas de Pensamento organizados segundo es- ses conceitos’’. O que poderia, portanto, ser caracterizado como uma antimetodologia ou uma contradic¢4o metodo- ldgica, acaba sendo, em si mesmo, fundamental para a er{- 31. O'Brien, “Crime and Punishment”, p. 314, 52. Foucault, Prerre Riviere, p. xiii ur oF HISTORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT a que Foucault faz da historia e constitui “estratégias dis- sivas alternativas’’>>. = QO método de Foucault tentou nio tomar nada por ga ntido. Q: estionou a periddizagio tradicional dy istorias nacionais. Nao obstaiite, Sta propria faci- fidade como historiador tinha raizes num pais, a Franga, num periodo, do século XVII ao XIX. Embora os histo- adores sociais tenham censurado Foucault por seu meto- lo genealdgico, que era muito aleatério e pouco consisten- ,, ele estava sempre pronto a defender um método que per- loava os descuidos. Por exemplo, em resposta a uma acu- agao de que havia negligenciado uma legislagao significa sobre a pena de morte em 1832, crucial para o entendi- mento das transformagées das praticas penais, Foucault res: pondeu que o desenvolvimento de praticas de fiscalizacao as escolas do século XVIII “‘parecia mais importante que : . Nesse caso, seus criticos nado percebe- m 0 ponto fundamental de sua tentativa, que ceftamente do era situar 0 nascimento da prisao nos atos legislativos. Ppressupostos e enredou o discurso igdes e na economia, em vez de uni lo, o problema relativo ao que incluir ar seu trabalho e a Titicos, . eee os pressupostos sobressai espe- cialmente em seu Ultimo projeto, The History of Sexuality. No segundo volume, Foucault admitiu que sua gened gia ~ “jria distanciar-me muito de meu projeto original’’55, Co- mo disse Allan Megill, “Foucault nfo tem exatamente uma Foucault, Lyotard, Der Ml, P: Poussiere™, p. 56 A NOVA HISTORIA CULTURAL ‘posi¢io’, mas um grande numero de posigdes sucessivas. «Nao existe nada que impega Foucault de tomar uma no- ..va diregdo no futuro’’6, E ai que reside, sem diivida, abe- 2 leza de um método, de qualquer método. Foucault on - a nha uma teoria fixa ou-uma posicio imutave com relacio <» a8.quais todas as coisas podiam ser medidas. Ao considerar xualidade e sua promessa d satisfagio do eun ges, mas, a0 contrario, opressdes de uma tradicao crista O préprio-sexo, distinto da sexualidade, tornou-se um roe duto do discurso, nao ‘‘a coisa em si’’. Essa analise é a assombrosa inversdo que tem por objetivo realgar, através das diferencas, a transformagio dos discursos. , Todos os trés volumes de The History of Sexuality care- cem do rigor metodolégico das primeiras obras de Foucault especialmente de Discipline and Punish. Na verdade, ele aid gara num campo no qual nao era especialista. ‘No sou nem helena nem ans. Mas pareseusme qu, ede asse bas lado, paciéncia, modéstia e atengio & tare, seria possivel adquirir uma familiaridade suficiente com os anti- BOS Lextos gregos e romanos; ou seja, uma familiaridade que me permitisse — de acordo com uma pratica sem divida fundamental para a filosofia ocidental — examinar tanto a diferenga que nos mantém afastados de um modo de pensar no qual identificamos 36. Megill, “Reception of Foucault”, pp. 25: 37, Foucault, The Use of Pleasure, pp. 45 * No terceiro volume, Roma significou sisdo entre a Gré ani ea ignificou uma transis3o entre a Grécia RIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCA ULT 57 origens do nosso proprio pensamento, quanto a proximidade e subsiste a despeito dessa distancia que nunca nos cansamos de 38 quais forem os problemas das tiltimas obras de Fou- = elas nao sio o resultado de um compromisso fracas- ‘com seu método histérico®. Na busca de “solavan- Be “‘surpresas” que o fez remontar a séculos de cultura ental, ele foi sempre 0 genealogista em a¢ao, 0 “genea- sta do homem de desejo’’®. - E, no entanto, o que ha de novo aqui? Em 1975, Gilles Jeuze viu na obra de Foucault “uma revolugio tedrica @ltada nio apenas para as teorias burguesas do Estado, mas mbem para a conceps4o marxista do poder © sua relagao mo Estado E como se, finalmente, tivesse surgido algu- a coisa desde Marx. ...Foucault nao se da por satisfeito 6m a afirmacio de que ¢ preciso repensar determinadas ias; ele nem mesmo diz tal coisa, ele a faz, e isso propde vas coordenadas para a pratica’’®!. A nds cabe agora per- uintar: j4 que n4o temos uma revolugio tedrica em Fou- ult, teremos novas coordenadas para a pratica? Foucault abandonou estruturas por formas ¢ fungdes e, a0 fazé-lo livrou-se das confortaveis amarras positivistas da escrita historica. Muitos, dentre nds, j4 ha algum tempo iém sido impelidos a libertar-se dessas amarras. Aqueles que tém uma consciéncia do turbilhao (entre os quais Foucault se incluia), atribuem-no 4 sublevagio intelectual provo- cada pelos acontecimentos politicos do pés-guerra (1956 zo descritas por Mark Poster, “The Tyranny 60. Foucault, The Use of Ph 61 Gilles Deleuze, “Ecrivain non: un nouveau cartog n® 343 (1975): 1212. 58 A NOVA HISTORIA CULTURAL € 1968 so marcos na cronologia das conturbagées) e as contra- digées disciplinares internas, inclusive os desafios da histéria in- terdisciplinar e os efeitos solapadores da historia das mentalités A principal Preocupagao de Foucault, compartilhada por muitos historiadores sociais do pés-guerra, foi a formag3o cultural. E ai que se encontraa grande promessa de sua obra — a promessa de integragdo na historia da cultura. O po- der/saber é uma faceta fo poder/cultura. A fragmentagio. segmentagao ¢ “‘capilaridade” da obra dos historiadores cul turais pds-marxistas contemporaneos — aqueles que estu- dam mulheres, pequenas cidades, tribunais, familias, pris6es adultério, odores, epidemias, o welfare state e congéneres _— podem acomodar-se no universo de Foucault, no qual as tecnologias de poder esto enraizadas em multiplas insti- tuigdes seriais, e no qual os temas, 0 sexo, os individuos, a alma e a propria cultura ocidental sio vistos através de rupturas nos discursos. — a : 0 estudo da cultura realizado por Foucault é uma his- toria com comegos, mas sem causas. Em vez da monocau- sa, ou causa primeira, Foucault nos deu um jogo sem cau- sas. E um universo de rupturas e pausas, mas, mesmo as sim, um universo. Ele nao foi nenhum anarquista pos- estruturalista® Seu jogo tem regras e um objeto. Mas sera que esse jogo pode ser jogado por mais de uma pessoa? O método de Foucault é imitavel? Até o momento, apenas al- guns poucos historiadores podem ser considerados — e con- sideram a si proprios — seguidores da orientacdo de Foucault®. Uma das contribuigdes reconhecidas de Fou- essa para que predomine a harmonia" (Proph eger, Foxcas 63. Me Dernda (Berkeley ¢ Los An Reception of Foucault". ORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 59 adotada por varios dos novos historiadores culturais, jfra-se na importancia que ele atribuiu a linguagem/dis- quanto meio de apreender as transformagoes. A Tin- discurso teve o seu maior impacto no estudo das uigdes, em especial o asilo e a prisio, mas ainda con- 0 potencial para aplicagdes mais gerais. a Franga formaram-se grupos para refletir sobre ques- ortemente influenciadas pela obra de Foucault. Recen- inte Michelle Perrot, uma historiadora simpatica 4s ten- as de Foucault (ainda que nao uma foucaultiana), pre- com Robert Badinter, na Ecole des Hautes Etudes en ces Sociales, um grande seminario sobre “‘a prisdo na ira Republica”. Foucault foi a presenga ausente. Obras tes sobre temas ndo-institucionais tém mostrado uma rosa influéncia da metodologia de Foucault: L ‘Etat pro- ce, de Frangois Ewald, por exemplo, e Le Miasme et nguille, de Alain Corbin®*. Sao historias profundamen- iferentes quanto 4 tematica, embora ambos os autores jam preocupados com a anilise do discurso (sobre 0 wel- state, o odor) em relag3o a outros aspectos da vida so- —a politica, a cultura, a economia € as instituigdes so- is de longa duragio. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, bem como na Fran- os historiadores tém, igualmente, se defrontado com os afios epistemoldgicos de Foucault. David Rothman, Ro- bert Nye e Andrew Scull estudaram um ou outro aspecto loucura, dos desajustes ou da historia institucional. Uma ova geracao de historiadores e pés-graduandos, familiari- dos com a obra de Foucault e criticos com relagao aos adigmas existentes, est4o engajados na criag3o de um novo ‘ois Ewald, L Etat providence (Paris, 1986); ¢ Alain Corbin, Le (Paris, 1982); tradugdo inglesa The Foul and the Fragrant: Odor. ‘on (Cambridge, Mass., 1986). 60 A NOVA HISTORIA CULTURAL tipo de histéria. O futuro da histéria foucaultiana est sen- do decidido em seminirios de pos-graduagao dos trés pai- ses. Essas reservas institucionais oferecem um ténue elo de ligagdo entre as historias de Foucault e a disciplina histéri- ca. Contudo, ainda nao esta absolutamente claro quanto a obra de Foucault sera importante para forjar uma nova pra- tica historica. A influéncia de Foucault é hoje mais freqiientemente identificada com uma série de temas, e nio com um méto- do. Sua obra sobre desajustados, leprosos, parricidas, her- mafroditas e monstros tem inspirado estudos que alguns cri- tcos consideram relativamente excéntricos e marginais. Es- crevendo no New York Review of Books em 1981, Ian Hac- king identificou “palavras fundamentais na obra de Fou- cault... Trabalho, Linguagem, Vida, Loucura, Masturbacio, Medicina, Militares, Nietzsche, Prisio, Psiquiatria, Quixo- te, Sade e Sexo. Nao nos deixemos nem atrair, nem repelir Por essa relagao adolescente de temas’, Mas nao havia na- da de adolescente nas intengdes de Foucault. Ele procurou minar os pressupostos de ma disciplina que ainda circuns- creve em guetos as historias de mulheres, homossexuais e minorias, discipl dos casos, ainda entende o p om o deuma naga classe. Em- bora Foucault fosse cego ao.género enquanto categoria ana- litica, seu método de estudar o poder através do discurso constitui uma grande promessa para a atuacio nessa Area. No sentido restrito dos adeptos atuais, e no sentido mais amplo do impacto sobre os pressupostos, a histdria foucaul- uana parece uma pratica isolada. Muito se tem escrito so- bre Foucault, sobre sua incoeréncia e falta de teori Alguns Hacking, “The Archaeology of Foucault", em For org. Hor, p. 27, ORIA DA CULTURA DE MICHEL FOUCAULT 61 4s criticaram Foucault por ter deixado os atores be s fora de sua histéria do poder®®. Cones. seri deiro afirmar que os biageneticistas que desco! rican ploraram o DNA nio estavam preocupados, em aad 19, com a atuagao humana e com as agdes pumanas viduais. Tal acusacdo, poreém, seria de uma o| ve " - cia. E, de fato, em outro sentido seria falsa. . ude 6digo genético dos seres Se ral pode nfo incompativel com o estudo da individualida embors “estudo possa, com 0 passar do tempo, trans oe ruir o que anteriormente se entendia por indivi le Da mesma forma, pode-se observar peas sua ee ofisica do poder”, Foucault estava construindo ume ria da cultura que explicava como se constituiam a itos, ainda que ele nao estivesse alec eS preoc Pe com a atua¢io humana — para ele, tratava-se de uma q\ i vante. : ae via a si proprio como um “mercador “ ins mentos, um inventor de receitas, um carder 0 {unca afirmou ser um tedrico ou um criador de — : Gnica maneira de testar a utilidade de um méto oe ‘er usélo. Para estudar as histérias do poder, Foucault nee dou Nietzsche segundo as suas necessidades. — wai ja historia, talvez a melhor utilizagao aor le Foucault esteja ndo em tentar cones uma feorsonee Secale impor rigidos limites eS “leformar sua obra, fazé-la gemer e pro- E testar. . . er Alan Sheridan afirma, categoricamente, que nao sé P mar- “de ser ‘foucaultiano’ do mesmo modo que se pode ser ™ @6. O'Brien, “Crime and Punishment”, pp. 514-15. 67. Sheridan, Michel Foucaule, p. 224 62 A NOVA HISTORIA CULTURAL xista ou freudiano”, o que, sem diivida nenhuma, é verdadeiross, Contudo, Foucault deixou um importante Je- gado para a reavaliagdo da historia. Nao como um saquea- dor barbaro ou transgressor de sistemas, mas mais como Gregor Mendel, que concebeu leis de hereditariedade atra- vés de seu trabalho com ervilhas e experimentos com hi- bridos, Foucault reformulou a compreensio histé ica mui- to mais através da pratica que da teoria. Em sua tentativa de reescrever a historia da civilizagao ocidental, Michel Fou- cault desafiou-nos a questionar nossos Pressupostos e legou- Nos o método e os instrumentos de andlise Para a escrita de uma histéria da cultura nova e politica.

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