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Copiesa Revisor Josiane de Fat Rodrigues Aden ‘Niuza Mari Beatrie Marches SP Papirus, 1989, cp -301 306.4 S72 89.0479 923 ISBN 85-308.0044-3 DIREITOS RESERVADOS PARA A LINGUA PORTUGUESA: OM. Rc indice Capitulo T © etndlogo entre nés . Capitulo It “Primitivos” e Capitulo IIT Relogios e maq jas @ vapor ‘apitulo 1V Os niveis de autenticidade Capitulo V A arte ¢ 0 grupo 53 ou dos seres humanos, manifestacao de autoridade de alguns homens sobre outros homens e sobre riquezas. G. C. — Controle da autoridade. C. LS. — Controle, da autoridade ¢ meio de controle. Seguimos um itinerario muito tortuoso, partimos do problema do progresso e conduzimo-lo ao da capitalizacao ou da totalizacao do saber. Isso mesmo s6 nos pareceu possivel a partir do momento em que a escrita existe, ¢ a escrita, nos Parece, est associada de modo permanente, em suas origens, a sociedades que so fundadas na exploragao do homem pelo homem. Desde entao, o problema do progresso se complica; ele nao comporta uma mas duas dimensdes: Pois, se foi necessario, para estabelecer seu império sobre a natureza, que o homem subjugasse 0 homem e tratasse uma Parte da humanidade como um objeto, nao é mais possivel responder de forma simples ¢ nao-equivoca as questées que suscitem a nogao de progresso. 26 111 RELOGIOS E MAQUINAS A VAPOR Georges CHARBONNIER. — Claude Lévi-Strauss, gostaria de pedir-the para prosseguir hoje com a comparacao entre as sociedades primitivas e as sociedades modernas. Retomo a questa que havia colocado no iiltimo programa, a fim de destacar aquilo que, em iiltima andlise, diferencia profundamente umas das outras. Claude LEvi-STRAUSS. — Volto a sua questao inicial: Qual ¢ a diferenga profunda? Creio que é necessirio partir dessa nogio, que pode, alids, concretizar-se sob formas extremamente diversas, de sociedades que sto fundadas na exploragio de uma parte do corpo social por uma outra parte, ou muitas sociedades — desculpo-me por empregar termos modernos e que nao tém muito sentido neste contexto — mas, enfim, sociedades que tém um caréter democratico, € que seriam as que chamamos de primitivas. Em suma, as sociedades parecem-se um pouco com maquinas, ¢ sabemos que existem dois tipos delas: as méquinas mecanicas e as termodinamicas. As primeiras so as que utilizam a energia que Ihes foi fornecida inicialmente ¢ que, se fossem bem construidas, se nao houvesse nenhum atrito e aquecimento, poderiam teoricamente funcionar de maneira indefinida com essa energia inicial. Enquanto que as maquinas termodindmicas, como a maquina a vapor, funcionam devido a uma diferenca de temperatura entre suas partes, entre a caldeira e 0 condensador; elas produz trabalho enorme, muito mais que as outras, mas vao consumindo sua eneigia € destruindo-a progressivamente. Eu diria que as sociedades que 0 etndlogo estuda, comparadas a nossa grande, as nossas grandes sociedades modernas, sio um pouco como sociedades “‘frias’* em relagdo as sociedades “quentes’”, como relégios em relacao as maquinas a vapor. Sao sociedades que produzem pouquissima desordem, que os fisicos chamam de “‘entropia’””, e que tém a tendéncia de manter-se indefinidamente em seu estado inicial, o que explica, aliés, que parecam-nos sociedades sem historia e sem progresso. Nossas sociedades nao sao somente as que fazem um grande uso da maquina a vapor; do ponto de vista de sua estrutura, parecem-se com maquinas a vapor: utilizam para seu funcionamento diferencas de potencial, que se encontram realizadas por diferentes formas de hierarquia social, quer se chamem escravidao, servidao, on quer se trate de uma divisio em classes, isso nao tem importancia fundamental quando olhamos as coisas de forma tanto longinqua quanto com uma perspectiva largamente Panoramica. Tais sociedades conseguem promover um desequilibrio em seu seio, que usam para produzir, ao mesmo tempo, muito mais ordem — temos sociedades a maquinismo, — ¢ também muito mais desordem, muito mais entropia, sobre o plano das relagdes entre os homens G. C.— A questo imediata éesta: Quais sao as conseqiiéncias, para 0 individuo, do desequilibrio utilizado e qual é 0 valor da palavra “‘desigualdade”’ no interior de uma sociedade primitiva e no interior de uma sociedade contempordnea? C. L.-S. — E uma diferenca muito consideravel. Eu nao queria generalizar, porque assim que tentasse formular essa diferenga em termos um pouco amplos, poderiam opor-me excesdes. E claro, atrés do que chamamos “sociedades Primitivas’’, ha todo tipo de formas de organizacao social, © ‘nunca repetirei suficientemente que duas sociedades Primitivas podem diferir entre si tanto quanto cada uma { delas difere da nossa. Houve sociedades primitivas de castas. A india, que no € uma sociedade “primitiva’ dado que conheceu a escrita, nao € certamente a nica sociedade desse tipo. jTodavia, a grande diferenca de conjunto é que as sociedades primitivas esforcam-se, de modo consciente ou inconsciente, para evitar entre seus membros essa clivagem que permitit ou favoreceu o impulso da civilizacao ocidental. E uma das melhores provas parece-me poder set encontrada em sua organizacdo politica. Ha um grande mimero de sociedades primitivas — nao direi todas, mas podemos encontra-las has regides mais diferentes do mundo — onde vemos um esbogo de sociedade politica e de governo, seja popular, seja representativo, pois as decisdes ai sao tomadas pelo conjunto da populacao reunida em um grande conselho, ou pelos notaveis, chefes de clas ou sacerdotes, chefes teligiosos. Nessas sociedades delibera-se ¢ vota-se. Mas os Votos s6 sao validos em caso de unanimidade. Parece crer-se que, se existissem no momento de uma decisdo importante € na menor fragdo que se queira da sociedade sentimentos de amargura tais como os pertinentes 4 posi¢ao de vencido €m uma consulta eleitoral, esses sentimentos, a ma vontade, a tristeza de nao ter sido seguido, agiriam com uma poténcia quase magica para comprometer o resultado obtido. E alias a razdo pela qual, em certas sociedades — penso em exemplos oceanicos — quando uma decisio importante deve ser tomada, primeiro — na véspera ou na antevéspera — organiza-se um tipo de combate ritual, no decorrer do qual todas as velhas querelas so liquidadas em combates mais ou menos simulados, onde algumas vezes, alias, ha feridos — se bem que haja um esforco para limitar 08 riscos. A sociedade comega, portanto, por purgar-se de todos os motivos de desavencas, e € somente depois que o grupo, refrescado, rejuvenescido, tendo eliminado seus desentendimentos, esté em posigdo de tomar uma decisio que podera ser unani comum, ¢ de manifestar assim a boa vontade G. Co Dito de outra forma, se compreendo bem, hé um estado de unanimidade que nao depende da decisdor Chine um estado de unanimidade que vai ser aplicado & deciséo a ser tomada C. L.-S. — E isso, um estado de unanimi lade que é Considerado como indispensével para que o grupo se perpetue 8 gue dno: Quer dizer, se me permite levar em consideracao N3o-t minoria; a sociedade tenta perpetuar-se como un A@légio) onde todas engrenagens _participam “ParnOniosamente da mesma atividade, e n&o comb ae em seu seio um antagonism: do drgao de refrigeracao a G. C. — Em tudo 0 as idéias de Rousseau. que vocé diz, parece-me ver despontar SHO 3}. C.L.-S. — Por que nao? 2 8 / Wy g C. L.°S. ~ Mas é claro! Rousseau nao conhecia os exemplos retin due Porque os problemas que atingem a rite Politica dos povos primitivos s6 foram abordados tardiamente, &.18 sua época ndo se dispunham de elementos de informacao Suficientes. Apesar disso, Rousseau viu admiravelmont qu um ato de unanimidade é a condigao tedrica da existéncia 32 de uma sociedade, cujo principio populagdes muito humildes souberam colocar metodicamente em pritica. A grande dificuldade em Rousseau aparece no momento em que ele tenta passar dessa regra de unanimidade, que é fundada no direito, & pratica do escritinio majoritirio, G. C. — E uma unanimidade de aceitacdo, para Rousseau. alieno minha liberdade para participar da soberanidade. C.L.-S. — Certo. A vontade geral néo é, para ele, a vontade da totalidade, ou da maioria da populacdo, expressa em ocasides particulares; é a decisdo latente e continua através da qual cada individuo aceita existit enquanto membro de um grupo. G. C. — E isso. Nao somos undnimes para decidir: somos undnimes para obedecer a decisto tomada, Parece-me que Zndo estamos muito longe do estado que vocé acabou de definir c. Ls. stou inteiramente de acordo. Creio que “Rousseau, no Contrato Social — dado que é no Contrato Social que pensamos neste momento — formulou a idéia mais profunda ¢ a mais suscetivel de ser generalizada, quer dizer, verificada em um grande niimero de sociedades, do —due podem ser a organizagao politica ¢ as condicdes tedricas Ue toda organizacao politica possivel AguiogeD G.C. — S6 que estamos muito longe de nossas formas sociais. E se penso no que disse hd pouco do nosso tipo de Sociedade, que tem necessidade de diferenga de potencial para funcionar, concluo que a democracia é esiritamente indispensdvel ao funcionamento da miquina, se a sociedade deve conservar essa diferenca, se ela quer viver, por conseguinte toda democracia é impossivel C. LS. — Ai vocé me leva a um territério que nao é exatamente 0 do etndlogo, pois mie pede para raciocinar nao sobre esses pequenos reldgios — defini dessa maneira as ‘sociedades primitivas — mas, ao contrario, sobre as maquinas a vapor colossais que sao as sociedades fantemporaneas. Mas creio que mesmo assim, sem it até 0 fim, poder O que eu dizia pode se resumir da seguinte maneira: ae doniedades que chamamos primitivas, até certo ponto, podem ser consideradas como sistemas sem entropia, og com entropia extremamente fraca, funcionando com uma grecie de zero absoluto de temperatura — nao a temperatura do fisico mas a temperatura “histérica”; & lige que exprimimos dizendo que essas sociedades nao tém historia Pending et Conseguinte, manifestam no plano mais alto fenOmenos de ordem mecanica que levam vantagen ene Sobre fendmenos estatisticos. E surpreendente que os i logos esto mais A vontade — as ceeras Ge Parentesco e do casamento, as trocas econdmicas, G5 itOs € Os mitos — possam freqiientemente ser concebidos Sobre © modelo de pequenos mecanismos funcionande de modo bem regular € cumprindo certos ciclos, a maquina passando sucessivamente por varios estados antes de retornar 40 ponto inicial e recomecar seu percurso, Nao seria portanto necessdrio distinguir sociedades Sem histéria’”” de sociedades “‘com historia”, Com efeito, todas as sociedades humanas tam uma historia, igualmente longa para cada uma, dado que essa historia remonta as origens da espécie. Mas, enquanto as sociedades ditas Primitivas banham-se em um fluido histérico ao qual 34 ROTM Pes Uma sociedade é simultaneamente uma maquina, eo trabalho nee piffabrica entropia. Mas enquanto considerada como um motor, “SS fabrica ordem. Esse aspecto — ordem e desordem esforcam-se para permanecer impermeaveis, nossas sociedades interiorizam, se posso dizer assim, a histria, para fazer dela 0 motor de seu desenvolvimento, E agora.volto questao que vocé colocou no inicio, isto é: Em que medida esta diferenca é irreduti Com efeito, toda sociedade implica os dois aspectos. que fornece essa maquina. Enquanto maquina a vapor, ) corresponde, em nossa lingua, a duas maneiras de olhar uma civilizacdo: de uma parte, a cultura, de outra parte, a sociedade; a cultura designa 0 conjunto das relagdes que, em uma dada forma de civilizacao, os homens mantém com © mundo, ¢ a sociedadeesigna‘tmais particularmente as relagdes que os omens mantém entre si. A cultura fabrica organizagao: cultivamos a terra, construimos casas, Produzimos objetos manufaturados... G. C. — Por conseguinte, a sociedade é separada do mundo. C. L.-S. — Ela é, mas continua com ele em uma relagao de complementaridade. Nao é menos surpreendente que Gobineau — que foi o primeiro a perceber esse elemento de entropia, essa desordem, que é um fator concomitante do progresso, ¢ caracteriza essencialmente a sociedade — o tenha “‘naturalmente”’, de qualquer forma, situado to longe quanto possivel da cultura, mais distante do que deveria; colocou-o na natureza, no nivel de diferencas raciais. Ele tinha, portanto, claramente concebido a oposi¢ao, mas, como tinha sido o primeiro a aperceber-se, deu-lhe uma amplitude consideravel demais. Nesse caso podemos dizer que um dominio social qualquer — se chamamos uma sociedade de um dominio a5 rica entrapia-ou desordem, como sociedad (€ Gue Tabrica ordem, como cultura tess Telagaoinversa Ham parece-me, traduz a diferenea dntre os que chamamec Primitivos e 0s civilizados. Os primitivos fabricam pouca ordem em sua cultura, Nés os chamamos hoje de povos subdesenvolvidos. Mas| fabricam pouca entropia em sua socied €ssas sociedades sao igualitarias, de ti pela regra de unanii Ao contrario, os ci cultura, como nos obras da civilizagao, em sua sociedade: conflitos sociais, as coisas contra as quais vimos © ‘grande problema da civilizacao foi, portanto, | com a ean’ Separacio. Vimos essa separacdio estabelecer og Formac ta¥iddo, depois com a servidao e em sewuide pela formacao de um proletariado y Mas, como a luta operaria tende, em certa medida, de ala" © nivel, nossa sociedade teve de partir om busca de novos niveis diferenciais, com o colonialismo, com as Politicas ditas imperialistas, isto é, procurar constantemente, sempre proviséria, como em uma mé a imobilidade, porque a fonte tris se aquece ea fonte quente vé sua temperatura abaixar. ‘As separagdes diferenciais tendem portanto a igualar-se, mnie a Vez foi necessario recrid-tas: quando isea se tornou mais dificil dentro do grupo social, realizaram se combinacdes 36 mais complexas, como os exemplos que foram dados pelos ‘impérios coloniais Vocé, me diria entao: E inevitavel? £ irreversivel? Poderia conceber-se que, para nossas sociedades, o prosresso € a realizagdo de uma justiga social maior devam cones €m uma transferéncia de entropia da sociedade para a cultura Parece que enuncio alguma coisa muito abstrata e, apesar isso, somente repito Saint-Simon: que o problema ¢ 08 ) tempos modernos é Passar do governo dos homens a administracao das coisas. ““Governo dos homens’ é sociedade (¢ entropia crescente); “administragao das coisas” ¢ cultura (€ criacao de uma ordem sempre mais rica e complexa). Apesar disso, entre as sociedades justas do futuro ¢ as sociedades que 0 etndlogo estuda subsistiré sempre uma diferenca, quase uma oposi¢ao. Elas trabalhariam sem | divida a uma temperatura muito proxima do zero da historia, mas umas no plano da sociedade, outras no plano da cultura | Eiisto que exprimimos, ou percebemos de maneira confusa, quando dizemos que a civilizacao industrial é desumanizante

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